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RESUMO: Este trabalho trata da teoria criminológica da subcultura delinquente tendo como
objeto de estudo os adolescentes autores de atos infracionais. Considerando que um dos
problemas que mais afetam os centros urbanos é a violência, profissionais de diferentes áreas
buscam analisar a sua origem, suas causas, seu desenvolvimento, de forma que essa análise
contribua na elaboração de estratégias eficientes na reversão da criminalidade. Nesses casos
de violência, muito se fala da participação de adolescentes em atos delituosos. A adolescência
é marcada por uma fase de conflitos e de formação da identidade. Nela, as convicções da
infância começam a se diluir e o indivíduo passa a desacreditar de seus valores e dos valores
pregados por uma cultura dominante. Tais mudanças e descrença contribuem para a
construção de sua identidade, e de certa forma, justificam atitudes subculturais. A subcultura
diverge de uma cultura dominante, e o adolescente ao não se ver identificado, incluído nos
valores desta, encontra na ação delituosa a sua inclusão, a possibilidade de criar os seus
valores e de se ver pertencente a um grupo. Tendo como base, a Psicologia para o
entendimento do que vem a ser a adolescência, este artigo se propõe a uma análise teórica da
subcultura delinquente, consagrada na literatura criminológica de Albert Cohen, Delinquent
Boys, e ainda, considerando as contribuições feitas por David Matza e Gresham M. Sykes a
essa teoria, serão abordadas as técnicas de neutralização que racionalizam ou justificam o
comportamento desviante.
1. INTRODUÇÃO
1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Fronteiras e Direitos Humanos da Universidade Federal da
Grande Dourados (UFGD).
2
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Fronteiras e Direitos Humanos da Universidade Federal da
Grande Dourados (UFGD).
situação social ou econômica, religião ou qualquer diferença cultural, e que deveria ter para si
a atenção prioritária de todos.
O ECA considera que crianças e adolescentes são pessoas em situação peculiar de
desenvolvimento, e ao tê-las nessa condição, considera que a transgressão cometida pelos
mesmos não pode ser caracterizada como crime, e utiliza-se da expressão “ato infracional”.,
observa que o adolescente como pessoa em processo de desenvolvimento “precisa ser
cuidado, protegido, ainda que responsabilizado”. Cabe-lhe, em tais casos, medida
socioeducativa, cujo objetivo é menos a punição e mais a tentativa de reinserção social, o
fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
Diariamente, a imprensa veicula notícias relatando o envolvimento de adolescentes
com o mundo do crime. Ao procurar demonstrar que esses adolescentes em conflito com a lei,
são portadores de direitos que devem ser protegidos e efetivados na sua integralidade, a
reprovação e a indisposição encontram lugar comum na sociedade, e todos os possíveis
adjetivos estigmatizantes sobre o jovem infrator são apresentados: desregrado, violento,
revoltado, problemático, perigoso, entre outros. Esses jovens, vistos como potenciais
agressores e criminosos, quase sempre aparecem como possível ameaça à ordem pública, caso
não sejam contidos por medidas moralizadoras e punitivas, e produzem medo na sociedade,
que se vê vítima nessa relação.
A adolescência, uma fase do desenvolvimento humano difícil de ser compreendida
pelos adultos, especialmente quando envolve o descumprimento das normas convencionadas
na cultura dominante, é o objeto deste estudo. Sendo considerada uma fase intermediária entre
a infância e a vida adulta, é vista como um período marcado por conflitos, incertezas, medos,
tensões, comportamentos inconstantes, dificuldades com a autoaceitação e com a aceitação do
outro.
Nessa fase, quando a personalidade e a identidade do indivíduo encontram-se em
formação, o conhecimento dos diversos aspectos que circundam o desenvolvimento humano
do adolescente é importante para a análise dos fenômenos psicossociais relacionados à prática
do ato infracional. Este artigo, portanto, propõe-se a um estudo sobre a subcultura delinquente
juvenil, fazendo um diálogo com a Psicologia, para um melhor entendimento de quem é esse
adolescente, e quais os enfrentamentos vividos por ele quando praticante de uma subcultura
da delinquência.
2. ADOLESCÊNCIA
Pfromm Netto (1974, p. 143), considera que o desenvolvimento intelectual não deve
ser considerado apenas como um desenvolvimento cognitivo. Ele está relacionado com todos
os demais aspectos do desenvolvimento (físico, social, emocional etc.), porém, considerando
o papel da escola no estímulo a esse desenvolvimento na criança e no adolescente, deve ela
contribuir para que o jovem tenha informações, aprenda princípios, leis, teorias, desenvolva o
seu raciocínio lógico, sua capacidade criadora, sempre o respeitando na sua totalidade.
Silverman (1965 apud PFROMM NETTO, 1974, p. 177), ao fazer uma revisão da
literatura norte-americana sobre inteligência e pobreza cultural, concluiu que não há
diferenças inatas na capacidade de aprendizagem entre crianças pobres e crianças de classe
média, mas sim consequências de privação ambiental ou social, isto é, a sua capacidade de
aprender somente se realizará de forma plena se a criança puder contar com condições
ambientais adequadas, tanto no lar quanto na escola.
2.4. DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL
3. A SUBCULTURA DELINQUENTE
De acordo com Sykes e Matza (2008, p. 4-5), essas técnicas de neutralização podem
serem descritas da seguinte forma: a) exclusão da própria responsabilidade, quando o
delinquente se vê arrastado pelas circunstâncias, deixando de figurar no papel ativo e dessa
forma se desvia de um ataque direto ao sistema normativo dominante. As ações do
delinquente se dão por motivos externos e estão além do seu controle, tais como a falta de
afeto dos pais, as más companhias, o viver em favelas etc., no entanto, tais interpretações não
se tratam de idiossincrasia pelo delinquente, mas de construções culturais; b) negação do dano
ao interpretar que suas ações, apesar de proibidas, não são imorais ou danosas; c) negação de
uma vítima, tendo em vista que esta é interpretada pelo delinquente como alguém que merece
aquele tratamento, e portanto o ato representa uma punição justa; d) condenação dos que
condenam, nesse caso seria um ataque àqueles que tem a tarefa de fazer cumprir ou expressar
as normas da cultura dominante, dirigido à polícia, aos professores, aos pais, enfim, àqueles
que fazem parte das instâncias de controle social e que obedecem a lei geral e condenam o
comportamento delinquente hipocritamente; e) apelo a lealdade aos seus superiores, ou
companheiros, já que o infrator esteve imerso no dilema entre respeitar a norma da cultura
dominante ou trair as normas de sua subcultura, do seu grupo, e nesse caso, viu-se obrigado a
sacrificar as exigências da maioria da sociedade a fim de defender as demandas do seu grupo
de irmãos sociais.
Sá (2001, p. 14.), ao tratar da privação emocional considera que ela se caracteriza por
um “déficit” de comprometimento nas relações primárias, nas relações estruturantes da
criança com a família, com as figuras parentais ou, mais especificamente, com a mãe,
resultando em “feridas psíquicas”. A capacidade do indivíduo de solucionar os momentos
difíceis ao longo de sua vida dependerá da gravidade dessas feridas.
De acordo com Calligaris (2000, p. 40-41), existe uma parceria entre adolescência e
delinquência uma vez que o adolescente, por não se ver integrado e reconhecido no pacto
social, buscará esse reconhecimento fora dele, ou seja, buscará um pacto alternativo. Nesse
caso, o autor considera que se a criança tem uma boa estrutura familiar, com pais
acompanhando o seu desenvolvimento físico, social, emocional, escolar, dificilmente ela
buscará valores subculturais na delinquência. Entretanto, se ela não encontra dentro da
família, da escola, do ambiente social onde vive os valores necessários para sentir-se segura,
ela sofrerá um forte apelo para o seu envolvimento como o mundo do crime.
4. CONCLUSÃO
3. Bibliografia
BLOSS, Peter. Adolescência: uma interpretação psicanalítica. Trad. Waltensir Dutra. São
Paulo: Martins Fontes, 1994.
SÁ, Albino Augusto de. Delinquência infanto-juvenil como uma das formas de solução da
privação emocional. Psicologia: Teoria e Prática, 2001, vol. 3, ed. 1, p. 13-22.
SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011.
SYKES, Gresham M'Cready; MATZA, David. Técnicas de Neutralización: una teoría de la
delincuencia. Caderno CRH, Salvador, 2008, vol. 21, n.52, Jan./Apr.
WINNICOTT, Donald Woods. Privação e Delinquência. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
ZALUAR, Alba. Para não dizer que não falei de samba, os enigmas da violência no Brasil. In:
Schwartz, L. (org.). História da vida privada. São Paulo, Cia. das Letras, v. IV, 1998.