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Já está dormindo?
Quero dizer:
Quando voltaremos ao parque deserto?
(Onde)?”
Senhora
Foi sua primeira palavra. Nem sei a razão. Ah, sim, com
meus olhos bem cerrados, entendo. Bem de perto, as roupas de Senhora estão
esfarrapadas. O rosto lustroso na cor e no cheiro passa imediatamente o
contato com rachaduras. Não são necessariamente rugas. Sulcos. Este é o
nome certo. Senhora parece um monumento.
Fica mais forte quanto mais parece ruir. Então,
Senhora fala. Como se transmitisse uma reportagem. Sobre o que estamos
vendo em conjunto naquela hora vazia, como que feita de nada.
Diná Medina Fava
Ah
Ah, pois não –
Isso sim, o motivo de estar contando tudo. Assim de graça,
para esses irmãos tão queridos. Nada tem a ver com uma razão de
fundo. Ou seja, o ganho de alguns cobres (palavra tão antiga, porém
necessária a cada hora que passa).
Do mais miúdo sempre fiz toda uma vida (as conversas com
as Senhoras da Tarde em meu Programa de Variedades, de tudo se
falava, desde corte-e-costura até transtornos de almas, tendo a
presença de psicólogos afamados, juízes de família e até videntes
sem religião)
Até o mais dramático campo da política do Globo, lá estava
Pólen –
Diná Medina Fava fica de repente calada. Transmite
para nós dois ali perto dela um senso de que está petrificada. “Virou
o ovo”, como se diz.
Pólen –
É o que passamos a observar.
A matéria desprendida pelas árvores.
Pólen –
Diná Medina Fava vai ficando lá no fundo do parque.
Uma paisagem tremida, estremecida. Vai ficando borrada, embora
seja firme feito pedra sua presença. Muito viva, por vezes
entrecortada por sua própria fala (ágil em tudo contar).
Ágil de modo a tudo interromper.
LENDAS DA MANHÃ –