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ITALO

BRASILEIRO

NEIO S
A
D EA V BIENTA
M IS
@toma ai um poema
NEIO S
VA
D EA M BIENTA
IS
Editor-Chefe
Jéssica Iancoski

Projeto Gráfico e Editorial


Toma Aí Um Poema

Revisão
Thas Geraldi

Diagramação
Monique Sandrielly

Capa
Jéssica IancoskiJé

B823

2 Brasileiro, Italo
Devaneios Ambientais / Italo
Brasileiro. – Curitiba: Eu-i, 2022.
78 p.; 14 X 21 cm
ISBN 978-65-85009-21-8
1. Poesia. 2. Literatura brasileira. I.
Brasileiro, Italo. II. Título.

CDD 869.91
CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
ELABORADA PELA BIBLIOTECÁRIA JANAINA RAMOS – CRB-8/9166

1ª edição, 1ª impressão

Editora Eu-i.
Selo Toma Aí Um Poema
Curitiba — Paraná
www.tomaaiumpoema.com.br
@tomaaiumpoema

© Italo Brasileiro, 2022


NEIO S
A
D EA VM BIENTA IS
ITALO 3

BRASILEIRO

2022
@tomaaiumpoema
4
Notas

Os sonhos são possíveis.


Escrevi “Devaneios Ambientais” rodando por Ilhéus,
Vitória da Conquista, Brasília, Piatã, Porções, Alter do 5
Chão. Foi escrito mais da metade entre 4 e 6 horas
da manhã. Fiquei 10 dias sem internet para fluir as
primeiras ideias. Pensei em desistir dele uma centena
de vezes e muitos textos minha versão atual escreveria
de outra forma, mas minha versão do futuro precisa se
lembrar como foi o começo.
NEIO S
VA
D EA M BIENTA IS
6

Estamos ficando sem tempo, o mundo anda acelerado, não


respiramos, não nos conhecemos, apenas deslizamos os dedos
para cima ou para direita. Os noticiários falam de mudanças
climáticas que transformarão completamente o destino
da humanidade. Os bilionários desejam colonizar outros
planetas e ainda não conseguimos superar a colonização do
nosso país.

Onde estamos indo com tanta pressa?

Tenho muitos devaneios sobre nossa existência, sobre como


caminhamos e para onde vamos. Se tudo que temos e somos
vem do meio ambiente, porque ignoramos a sua preservação?
A Amazônia não sendo o pulmão do mundo, justificaria suas
queimadas e destruição? O que estamos nos tornando nessa
pequena passagem aqui na Terra?
Quando era pequeno sonhava em conhecer a Amazônia.
Quando cresci, conheci através da poesia um pequeno
fragmento. Quando era pequeno desejava salvar o mundo.
Quando cresci, resolvi unir ciência, arte e cultura para
provocar um despertar.

Quando for velho, espero ter construído um espaço em que


os três dancem em seus ritmos e se unam em melodia.

Quando eu me for, espero ter plantado mais árvores e te


ajudado a construir um mundo onde os diferentes não são
destruídos e o poder é em prol do pluri e não dos iguais.

A natureza é vida, cria e recria.

E aqui em palavras e sentimentos os devaneios ambientais


criam forma, textura e contexto,
Ganhando voz em um mundo que não se entende natureza,
mas que ainda há tempo de se perceber. 7
Efêmero

—Você é o amor da minha vida todinhaaaa!


Disse o efemeróptera, inseto que só vive 24 horas.

9
Nascente

Flua de dentro para fora e me permita


percorrer pelo seu longo corpo,
permita-me te tocar, para que assim eu possa me sentir,
enquanto deleito e refresco-me de sua alma.
Eu tanto te desejo que protegerei a sua margem,
destruirei quem tentar te destruir e me saciarei de prazer
quando você fluir em mim.

De longe, escuto os seus sussurros viajando pelo vento,


acelero meus passos ao seu encontro.
Estou sedento de ti a ponto de me afogar em seu corpo
Você arranca de mim o ar,
10 enquanto mergulho em sua profundeza.

Quanto mais te saboreio, mais você flui em mim


O seu sabor é um refrigério à alma,
Talvez você não consiga me saciar, porque quanto mais te
tenho, mais te quero, a ponto de meu corpo enrugar
de prazer por ti.

Os seus ciclos me fazem te desejar ainda mais


nos períodos de seca,
Suspiro ao me recordar de suas ressurreições, cheia de
vontade de viver, tornando tudo ainda mais intenso, mais
forte e às vezes até mais violento!
Como eu te desejo fluindo em mim, a ponto de desejar me
afogar de prazer por você.
Amor Demais

Ele diz que ama demais e por isso precisa ter por perto
usa até jaulas para que a liberdade não te permita voar
Ele bate e diz que é carinho
Ele reclama quando você faz as coisas do seu jeito
Te priva de ver seus amigos e familiares
A sua vida é uma prisão que nem se pode chamar de domiciliar
porque você bem sabe que ali não é seu lar
Você grita, esperneia, tenta se comunicar de todas as formas
mas os vizinhos pensam que esse é o seu jeito de amar

Que amor doentio é esse que depois de maltratar


tenta amenizar te dando comida, acessórios e tira até fotos
para te “valorizar”,
ele quer você para se exibir.
Nas rodas de conversas com os amigos mostra fotos e
vídeos que nem permissão você deu para serem vistos
Se ele puder te vender fará
Se ele conseguir te aprisionar, dopar e te mandar para outro país 11
para abusarem e se aproveitarem de você, ele fará

Onde está essa tal de liberdade?


Ele não se satisfaz só com você
quer outros e outras para alimentar seu ego
ter mais para mostrar pros amigos
ter mais para maltratar e abusar
e o que se pode fazer ?
alguns dizem denúncia,
mas como eu, Canário-da-Terra,
vou denunciar, se tudo que grito e falo
parece apenas sussurros que alimentam
o prazer do homem
Seja na zona rural, na cidade ou em órgãos públicos
eles sabem que é errado e mesmo assim nada fazem
Até quando vou perder amigos, família e minha casa
por conta do tráfico de animais silvestres?

O que mais desejo no final de tudo é apenas cantar


Casinha de taipa

De longe avistava uma casinha isolada de taipa


caminhava até lá e aos poucos tudo se transformava
ia em sua direção, e o pé de jaca que outrora estava lá
aos poucos se desfazia até nada restar
caminhava e nessa casa isolada eu não chegava
as mudanças pequenas como brotos,
se tornavam grandes árvores
o chão para lá era de terra e ao poucos virava de cascalho,
granito até ser asfaltada
eu caminhava e o tempo voava,
dia e noite em um instante chegava
ao respirar o ar sabia que mais quente tudo ficava
me hidratei antes de ir até à casa de taipa
pois sabia que ia suar no meio da estrada
mas não imaginei que na metade do caminho
tudo não seria nada

12 A casa era pequena, com duas janelas e uma porta


casa que ao longo do caminho saiu de branco
para amarelo barro
a casa que no começo era isolada, passou ter companhia
outras casas simples como aquela e
também cheias de alegria

quem morou lá, mudou


o tempo foi capaz de transformar a todos e
não apenas o lugar
foi capaz de transformar a jovem em mãe, em avó
a casa que um dia era de taipa,
durante o caminho também mudou
outrora tinha parede de barro que a chuva lavou
outrora tinha parede de concreto
que nem a tempestade levou
Infância

Uma infância possível


na qual brincar era diversão
saíamos cedo pra trabalhar na roça
mas podíamos passar a noite inteira brincando
que o maior problema seria a canseira ao levantar
brincávamos de bola pela rua e soltávamos pipa por aí
de vez em quando dava confusão
mas depois de uns murros todo mundo ainda era irmão
hoje você não pode vacilar
porque qualquer um pode te matar

brincar de bicicleta era luxo


mas era um luxo arriscado
empinar a bicicleta te tornava uma lenda
se sua cara no chão jogava
como pode ser tão boa,
uma infância que pouca gente ainda vive ?
13
o feijão e a farinha nunca faltou
às vezes não tinha mistura, mas não era problema
corríamos no quintal do vizinho
e uns ovos de galinha pegávamos
o pé de goiaba nem era mais dele
qualquer vacilo pegávamos e íamos merendar
fazíamos a festa mesmo sem bolo ou confetes
mas era uma loucura quando nos denunciavam
porque sabíamos que a surra nos esperava

Andávamos descalço sem medo do perigo


mas tínhamos cuidado quando sentíamos o cheiro de jaca
porque talvez uma cobra pico-de-jaca no esperava
o pé era todo lascado, cortes e arranhões já faziam parte de nós
se tu cortasse o pé pegava um pedaço de folha e colocava
por cima que logo sarava
ou pior, se fosse muito profundo,
você poderia jogar até pó de café
nunca morremos, mas nem todos têm seus pés inteiros
O Senhor

Andando por aí me deparei com um senhor, que disse que o


mar um dia tudo ia levar. Me contou de um passado distante
onde todo lugar foi coberto pela água e que tudo um dia
poderia voltar. Ele convidou para segui-lo e de longe mostrou
o mar, contou que no tempo de menino não dava para ver
nada além do mato fechado e disse sobre como o povo tem
derrubado a floresta para poder plantar e construir casas, que
nem sequer vão morar. Falou de aves que eram difíceis de
avistar e que por conta das queimadas e derrubadas, estão
vagando de lá para cá. Disse que no tempo de menino não era
como hoje, onde o povo morre de trabalhar e não deixa nem
à terra descansar. Na época dele, era trabalho duro, acordava
às 4 da manhã, para dar comida às galinhas e trabalhava até
o sol se pôr, porém, 7 horas da noite estava indo dormir, já
que logo cedo iria levantar. De tempos em tempos, depois
de plantar e colher, deixavam a terra descansar por um
ano e todos iam festejar. Descansavam mais tempo do que
14 qualquer um consegue imaginar.
Ainda nostálgico me contou, sobre como corriam até o rio pra
se banhar e até banho de argila conseguiam tomar. Ninguém
tinha medo de cobra, porque perto ela não aparecia, mas se
assobiasse, à noite, debaixo da cama ela ia te pegar. Era uma
época boa onde nada era tão duro e os calos nas mãos eram
sinais de que tinham o que comer.
As pessoas hoje trabalham em prol de papel com valor e se
matam de trabalhar para se aposentar e descansar quando estão
perto de morrer, em vez de viver a vida ao longo do caminho.
Os jovens hoje não têm cicatrizes e que histórias vão contar?
vão inventar histórias ou contar de suas tretas no Twitter?
como vamos viver sem vivências e histórias pra falar?
Antigamente se tinha fé e hoje todo mundo só sabe duvidar.
Se esquecem que nem tudo tem como se explicar até porque
como é que a cigarra sabe que vai chover se, nem faculdade
alguma ela fez
não são só os doutores que sabem
existe muita sabedoria nos contos populares!
Mas afinal, o que é “Viver a Natureza”?

É sentir de verdade
Desde respirar
Até pisar na grama molhada logo cedo
É permitir que todos os seus sentidos se conectem com o
15
seu eu mais primitivo!
É chegar próximo da natureza e então perceber que
também a somos
É enxergar além dos olhos naturais e compreender até
mesmo o sobrenatural
aMar

Largaria meu mundo para viver no seu


Seria mais intenso do que a vida já me deu
Há tanto amor que causa dor
Como posso te amar e não ter

Como eu sendo humano fui me apaixonar pelo Mar


Sabendo que poderia mergulhar e me afogar
Talvez por esse amor valha a pena
Quem sabe as brânquias comecem a surgir
Quem sabe eu seja um tritão que precise mergulhar
E me perder no aMar
16

Talvez só haja amor sem sufoco


pleno e leve com sabor de quero mais,
quero mais mergulhar ainda mais,
conhecer suas profundezas e sentir os seus desejos,
saber dos medos e te proteger, da acidez dos mares
permitir viver como nunca viveu e experimentar o amor
que há em nós
você é a prova viva
o seu ser me iluminou
talvez seja o sol que refletiu na sua pele
com o seu jeito cativante de ser
nos permitiu se envolver
Chuvinha

no meio da mata tudo pode mudar


de uma hora pra outra a chuva pode te pegar
as plantas agradecem e os animais se escondem
se for um bicho que voa pode ficar com as asas encharcadas
e não conseguir mais voar
se for um sapo, de longe, vai ouvir os coaxos que parecem
gritos de alegria
“choveu, choveu, choveu, saiam todos daí e venham comigo
celebrar, mais um dia da vida tenho e talvez eu vá até acasalar”
verão é marcado por calor e também por amor
muitos animais nascem agora e celebram a vida com chuvas
do sul da Bahia 17
tem lugar que fica seco e nem de perto chove fino
e os bichos que dependem da água vão tratar de hibernar
para quando o inverno vier com tudo, procriar
Diversidade

A natureza é diversa
tem bicho comprido e bicho esmiuçado
tem árvore gorda e árvore espaçada
tem ave que voa e tem ave que só sabe ciscar
tem rato que come escorpião e tem escorpião que come rato
tem de tudo na natureza
muita beleza pra um único ser
até porque, se juntar tudo, forma apenas o corpo da Mãe
18
Natureza.
As pessoas se acham especiais e não conseguem perceber a
importância da diversidade
ela garante a sobrevivência e uma maior resistência,
como as pessoas querem que tudo seja branco se até
mesmo as nuvens são diversas.
Existem nuvens Cumulus, Stratus, Cirrus,
Nimbostratus,Stratocumulus e mais algumas, mas não
adianta ser falado se você não for buscar saber o que são.
A diversidade é real, porém, a ignorância reina, quando a
curiosidade morre.
RespirAR

Respire e o sinta
Respire e o perceba
Respire e o veja fluindo

Sinta-o
em seu corpo trazendo vida

O ar passeia pelas folhas


19
demonstrando seu poder e carinho
As folhas graciosamente o agradecem
Vampiros

“Ainda não sei o que ou como escrever sobre mosquitos


Mas eles não são tão pragas que não possam virar poesias
Como vou falar de algo que todo mundo quer matar
Eles são importantes para o sapo se alimentar
Queria escrever algo tão belo e profundo
Que quem terminasse de ler daria aos mosquitos o mundo
Como fazer para que eles não morram
Se vivem que nem vampiros nos sugando sem respeito
Nem um jantar nos pagou e já vem nos chupar daquele jeito
Não sei ainda como escrever sobre os mosquitos
Mas quem sabe um dia eles não virem poesias”

Seis meses se passaram desde que escrevi este texto e ainda


me pergunto como escrever poesias sobre os mosquitos. Eles
não são tão pragas que não possam virar poesias. Existem
mais de três mil e quinhentas espécies de mosquitos na Terra
e apenas 6% das fêmeas transmitem doenças e nos sugam
20 como grandes vampiros. Os outros 96% estão vivendo
livremente, polinizando a natureza ou comendo frutinhas,
garantindo que ainda exista vida, mesmo com o ser humano
tentando acabar com qualquer possibilidade dela.
Se da noite para o dia houvesse uma extinção de todos os
mosquitos, provavelmente teríamos a extinção de muitas
outras espécies, porque por menor que seja o animal, ele está
relacionado a outras centenas de espécies, que necessitam
direta ou indiretamente dele. Há quem acredite até no fim
do cacau, se houver o fim dos mosquitos, porque eles são
polinizadores diretos do cacaueiro. Imagine sua vida sem
aquele chocolate nos dias de grande bad ou no Dia dos
Namorados e Páscoa.
Os mosquitos provavelmente surgiram no Jurássico, onde
os dinossauros aterrorizavam e dominavam a Terra, eles
possuem dois pares de asas e por isso são classificados como
dípteros. A fêmea tem uma probóscide alongada, ou seja, um
canudinho na boca, capaz de perfurar e sugar, não sendo
de plástico é incapaz de matar uma tartaruga e as fêmeas
também podem ter um anestésico em sua saliva e por isso,
muitas vezes, nem sentimos a picada.
Os mosquitos são curiosos, impedem que o ser humano
desmate grandes áreas de vegetação por conta de
serem incômodos para os moradores, eles são grandes
sobreviventes e, por fim, sem eles não comeríamos
chocolate e seríamos muito mais tristes do que já somos.

21
Gênesis

No princípio não havia nada


e o nada passou a ser tudo
a luz foi revelando as pequenas coisas
havendo beleza em um mar repleto de compostos orgânicos.

A atmosfera que do nada passou ser tudo, era outra,


diferente de tudo que conhecemos
uma só faísca poderia causar uma explosão,
mas mesmo assim por similaridades foram ocorrendo associações.
O inevitável aconteceu e a vida surgiu,
de uma forma mais simplória
até chegarmos onde chegamos.
Alguns acreditam que foi há milhões de anos, outros
acreditam que tudo surgiu em uma semana, mas talvez
ambos estejam errados ou ambos estejam certos, afinal, o
que é o tempo senão uma criação do homem?

22 A luz invadiu a Terra, as águas se acalmaram,


a vida começou a surgir.
De pouco em pouco o que conhecemos
foi aparecendo e desaparecendo.
Onde foram parar os grandes dinossauros ? Onde foram
parar os mamutes e as preguiças gigantes? O tempo não
poupa nada e ninguém ou será que poupa?

Alguns pesquisadores estimam que o organismo mais antigo


da Terra ainda vivo, tem entre 50 a 80 mil anos. É os Pando,
uma colônia clonal de espécies do Populus tremuloides que
vivem em Utah–EUA. Respire profundamente e se permita
viajar no tempo, permita se imaginar em um período remoto
da civilização humana, onde não se tinha internet, não se
tinha geladeira, não se tinha nem a escrita, éramos tão
primitivos em alguns aspectos, mas já éramos devastadores
onde chegávamos.
A mãe de 80 mil anos atrás já avisava para seu filho não
esquecer a pele de mastodonte porque estaria fazendo frio
ou a palmeira para se proteger da chuva. O tiozão primitivo já
fazia a piada do pavê ou pacumê, o povo ficava zoando quem
esperava o peixe cozinhar ao invés de comer cru. O tempo
voa, mas ainda somos os mesmos, como os nossos pais.

No final, tudo e todos são perfeitos, mesmo com seus


defeitos, porém nem todos conseguem apreciar a beleza do
mundo, ou pior, estão cegos pela ganância de ter mais e ser
menos.

Do princípio ao fim, as estrelas nasceram, cresceram,


morreram e ainda estamos vendo os seus reflexos, que
viajam a milhares de anos-luz daqui. Em uma fração
de segundo, toda a vida surgiu na Terra, adaptou-se ao
ambiente e foram selecionados pelo meio, restando apenas
os adaptados e não os mais fortes ou inteligentes.
Não se esqueça que no princípio, não havia nada e o nada
passou a ser tudo, podendo haver grandes mudanças em
sua vida em frações de segundo.

23
Receita da vida

Em um mundo onde muitos querem vender o


segredo da vida
te apresento e não te vendo um verdadeiro segredo:

um pouco de chuva,
um bocado de terra,
uma pitada de ar,
Sol a gosto,

Misture tudo e encontrará vida até em uma poça seca.


Misture tudo, espere o tempo de crescimento e verás o
24
surgimento da vida,
verás o broto germinar,
espere crescer um pouco mais e verás florescer,
Se esperar tempo suficiente, essa forma de vida será capaz
de formar uma nova vida com apenas:

um pouco de chuva,
um bocado de terra,
uma pitada de ar
e Sol a gosto.

E mesmo quando a vida aparentar não a ter, espere um


pouco e observe mais de perto, verás a vida surgindo
novamente de uma outra forma, com um pouco de chuva,
um bocado de terra...
Silêncio Barulhento

Amo o silêncio barulhento da mata


Você mal acorda e a natureza com alegria
te saúda um bom dia.
É o bem-te-vi gritando a todos que te viu bem
É os periquitos voando em bando, gritando a todos
“o dia nasceu e já tô morrendo de fome”, saindo de dois em dois
para encontrar alimento,
com seu jeito meio histérico, contribuindo
para o barulho silencioso da mata

Sapos coaxando
Grilos cricrilando 25
É o silêncio barulhento que exibe parte da beleza da natureza
Até mesmo aquelas moscas gigantes que fazem barulho e
te mordem, fazem parte da orquestra harmônica natural
De onde longe você escuta as batidas que parece que vão
derrubar uma árvore a pedradas, mas é apenas o pica-pau
em busca de seu alimento e tornando ainda mais a mata
silenciosamente barulhenta
Se tu parar por um segundo e observar com cautela,
poderá ouvir o barulho do
mar ou do rio que lentamente se espalha por aí
contribuindo com o silêncio
barulhento natural
Pare por outro segundo e se permita ouvir, não com os
ouvidos, mas com o todo corpo e alma. Perceberá que o
silêncio barulhento tem muito a te ensinar
Aposemáticos e mimetizadores

Você sabe o que são animais aposemáticos ?


é a maneira com que muitos animais terrestres usam
para se defender
apresentam uma coloração bem forte
seja um azul-turquesa ou vermelho sangue
seja amarelo ou laranja, isso não importa
é de chamar atenção e colocar bicho grande em alerta
com medo de morrer de intoxicação

Existem diferentes formas de sobreviver na natureza


escolha sua arma e vá para essa guerra lutar
e não se esqueça que talvez o melhor ataque seja a defesa

O tempo passa e as células mudam


alguns animais conseguem até imitar animais aposemáticos
para se proteger
são chamados de mimetizadores, capazes de copiar e colar
26 as cores chamativas em seu corpo e bicho grande distraído
com medo de morrer, nem de longe vai querer se mexer

Do alto da árvore, ele está lá observando


vendo as presas passando devagar
mal sabem elas que o perigo correndo para perto delas está
ele observa cada movimento com muita cautela
esperando a hora certa para que seu bote seja certeiro
porém ele não tem o dia inteiro
se prepara para voar e a toda velocidade
se lança até na presa encostar
o dia não foi para caça e, por fim, o falcão vai se alimentar

No solo se encontra os cupins


trabalham dia e noite para construir seus castelos
e ficarem protegidos contra possíveis predadores
se alimentam de madeira e
precisam de um protista para ajudar na digestão
porque não quebram a celulose e
sem os protistas poderia dar indigestão
Os seus castelos são altamente tecnológicos,
têm túneis para todos os lados,
entradas e saídas de emergência, porque ninguém sabe a
hora certa que uma catástrofe animal pode aparecer
até porque o tamanduá não avisa quando vai chegar
ele meio que veio como um ladrão
não avisa a hora e invade sem pé nem mão
vai empurrando a língua no cupinzeiro dizimando uma nação

27
Abióticos vivos

Na escola se aprende que existem organismo vivos e


organismos sem vida
uns são chamados de bióticos e outros abióticos
queria que você pensasse sobre
que tipo de vida é essa que se tanto falam
porque de onde eu venho o rio tem mais vida
do que podem imaginar

O rio é sagrado e também é o sangue da floresta,


começa fluir em uma nascente e de córrego em córrego
irriga toda a terra que há por lá

A nascente parece um broto de uma flor


começa pequeno em um único lugar
aos poucos vai desabrochando e ganhando mais vida
conforme vai crescendo
chama atenção por sua beleza e atrai animais que de lá
28 tiram seus recursos para viver

O rio é tão vivo que ganha diferentes formas por onde


passa é capaz de moldar completamente o lugar.
Ele pode ganhar força com as correntezas, pode perder
força com as represas, pode secar ou alagar, mas ainda está
vivo de uma forma diferente em cada lugar

Ele pode ser meio filósofo, pois de coisas profundas e rasas


compreende bem e sabe que as épocas do ano são para
fazê-lo amadurecer e aos poucos se adaptar
Como pode afirmar que o rio não é vida se sagrado ele é?
Ele traz vida para quem mora nele, ao seu redor ou até
mesmo quem anda km para o encontrar.
Como um organismo sem vida é capaz de viver?

Se todos os rios do mundo um dia morrer, quero ver


pessoas que se dizem entendidas, dizer que não tem vida
se a Natureza é Mãe, então os rios são o seu sangue
que irriga e dá vida.
Longe de casa

Tem dias que não escrevo e que não sinto a natureza, estou
preso e confinado dentro de casa, ando de um lado para o
outro e as palavras fogem de mim, pois fugi da natureza.
Abro o computador e busco por natureza, admiro e sinto
falta, mas não tenho como vivê-la por mais um instante. 29
Sinto que o fôlego tem faltado, sinto que nem todos
conseguem mais respirar na selva de pedra e até mesmo quem
vive próximo, o descaso do governo impossibilita de respirar.
Não somos meros passageiros nesse grande ecossistema,
somos parte ativa e agentes transformadores do bem se
assim quisermos.
Ladeira

Caminhando pela cidade não se tem muita dificuldade


Seus maiores problemas são o pessoal do “ó o chip da claro,
da vivo, da tim e da oi” e entregador de panfleto
Se tu pensar na floresta, as dificuldade que se tem, faz
qualquer menino metido a sabido
Ficar de bico calado e respeitar os véi

Andando por aí para chegar em um rio


Ouvi canto de aves que rapidamente voavam
De longe você escuta a madeira estalar
É ela falando que está na hora de se renovar

Formigas correndo para lá e pra cá


E o vento cantando ao tocar nas árvores e gramas
Se queres chegar em um rio,
saiba que muito você precisará andar
Começa uma caminhada normal sem tanta dificuldade
30 E aos poucos os caminhos vão se fechando e ladeiras e
mais ladeiras vão aparecendo sem nem te avisar
Caminha, caminha, caminha e, de repente,
você só queria a sua caminha
O chão é irregular, se não se cuidar um tombo vai tomar
Se prestar bem atenção, encontrará pegadas no chão
Pode ser de um cachorro se tiver unhas e se for só a palma do pé
possa ser um gato ou talvez até uma onça
A natureza não se importa com o quanto você vai andar
Até porque as aves sabem voar e
os animais correm de quatro pés

Depois de andar e andar parecendo que o rio


você nunca iria encontrar
A mata te surpreende e do nada ele está lá
Pronto para te refrescar e também te relaxar
Água gelada como você nunca viu
É o encanto da floresta que
mesmo sem geladeira faz o rio gelar
E mesmo que não pareça existe um ar condicionado
espalhado por lá
Para descer todo santo ajuda e para subir você falta morrer
Se arrepende por um instante por ter ido para lá
Mas quando se lembra da vista toda ladeira faz valer a pena
O lugar era tão belo que nem uma foto seria capaz de te mostrar
O sol iluminando a água e refletindo o céu
As árvores floridas de jamelão deixando tudo arroxeado por lá
Que bela vista de tirar o ar

31
Oceanos

Como um planeta chamado Terra,


tem mais área com água do que com terra ?
32
Como sabemos tão pouco sobre os oceanos?
Se são eles que produzem a maior parte do ar que respiramos
e trouxe a origem da vida a esse planeta.
Como podemos conhecer mais do espaço
do que dos oceanos?
A preguiça tem pressa

Me falaram de uma tal cidade que não dorme, só trabalham


e até se sentem orgulhosos por isso
Corre para aqui e corre para ali,
não param um segundo
e ninguém pode sequer sorrir,
dizem ainda que nem amor existe por lá
Vou te falar sobre velocidade com eficiência
não essa correria cheia de pressa para chegar
e que nunca chega, porque não existe destino,
só trabalho pelo caminho

Você conhece um bicho chamado beija-flor?


ele voa mais ligeiro que um carro
e não para em casa o dia inteiro
usa seu tempo com eficiência
indo de flor em flor se alimentar
e de pouco em pouco as flores eles ajuda polinizar
correm o dia todo, mas sempre sabem onde querem chegar 33

E a tal da formiga-cortadeira
que um só formigueiro consegue
despelar uma árvore por inteira
Elas são fazendeiras, mas não produzem leite
criam uns fungos para se alimentarem
e correm de um lado para o outro pensando
em guardar para o inverno,
antes que ocorra algum desespero

O falcão-peregrino voa tão rápido que mata a presa de susto


são 320 km por hora em um voo fatal, foram milhares de anos
até o ser humano conseguir um meio de transporte tão
rápido quanto, mas para que tanta velocidade para o
homem, se nem ao menos ele sabe onde é que quer chegar?
Piatã -10°

Tento avistar o sol, mas é em vão,


as neblinas tomam conta de toda a região
o frio invade o corpo e a chuva congela a alma
a Natureza manda em tudo, não adianta lutar contra,
pois ela vencerá.

Precisamos criar mecanismos para sobreviver, pois somos


macacos pelados, desprovidos de pelos para nos aquecer.
O frio faz entender que em toda jornada de sobrevivência,
existe uma necessidade de olhar além do comum, para que
se possa entender quais caminhos precisam ser percorridos.

Somos tão fracos, não temos garras, não temos bicos, nem
dentes afiados para rasgar a presa ou quebrar os ossos,
somos fracos, o frio poderia simplesmente nos remover da
equação, se tornando X = 0 de humanos.

34 Vencemos grandes predadores e pequenos parasitas,


contrariando todas as expectativas da natureza, fomos
capazes de sobreviver. Talvez por isso tentamos dominar
tudo e todos. A conquista pelo espaço no mundo animal
foi através de muita dor e perda e por isso nos sentimos
superiores, pois quebramos a barreira do instinto e fomos
para o raciocínio. Fomos capazes de dominar o fogo, fomos
capazes de dominar os metais e ainda por cima dominar e
controlar quase todas as espécies de organismos já descritas.
Lutamos pela sobrevivência de nossa espécie e no frio
percebo: somos os mais medrosos que há na natureza e
utilizamos da força para destruir a vida. Os adultos de nossa
espécie são como os seus filhotes, que não sabem muito
sobre o mundo, mas utilizam da violência, do grito e do choro
para conseguir o que desejam.

Na natureza, quando há um desequilíbrio ecológico, uma


espécie tende a crescer exponencialmente até chegar um
ponto em que se torna insustentável sua sobrevivência e
há um grande declínio populacional, porém isso segue as
regras do jogo criado pela Mãe Natureza e não as regras do
capitalismo que tem como o objetivo ganho e lucro.
Após a ideia do ganho e lucro, quebramos as regras e já
poderíamos descrever uma subespécie do Homo sapiens, que
seria o Homo sapiens destrucción. O homem que sabe que
destrói.

Somos conscientes de que caminhamos para o fim do


mundo. Os astecas, cristãos, hindus, judeus, vikings e mais
uma galera soube que o fim do mundo se aproximava, mas
precisamos refletir sobre qual fim do mundo se trata, pois a
nossa espécie será extinta, mas será que todas serão? Afinal,
criamos mecanismos artificiais para sobreviver, enquanto a
própria natureza cria os elementos essenciais para o tempo
necessário de uma espécie aqui.
Enquanto pensamos em ganhar e lucrar e se esquecemos
que nada se cria e tudo se transforma, que o mundo natural
é de compartilhar e não de ganhar lucrar, enquanto corremos
desesperadamente para conquistar novos planetas e não
cuidamos do que vivemos, enquanto não entendermos 35
que a natureza tem seus mecanismos de seleção e cedo
ou tarde pagaremos o preço alto de nosso impacto ou se
simplesmente ignorarmos que sem a mudança seremos
extintos e estaremos apressando a caminhada para o nosso
eterno mundo de lembranças esquecidas da vida.
Ó mero humano…

Preservação vai além da poesia.


Cientistas são artistas que descobrem o mundo, mas não são
poetas que romantizam a vida.
Você, como um animal até então denominado racional, precisa
entender que é para a sobrevivência de nossa espécie, cuidar
do meio ambiente e não para a sobrevivência das espécies.

Ó mero humano com o ego inflado... Saiba você que existem


espécies que vivem na Terra desde a época dos dinossauros
e sobreviveram a grandes eras de extinção, mas nós, seres
vulneráveis à natureza, não estaremos por aqui por muito
tempo, já que estamos criando condições inviáveis de vida
para a sobrevivência e achamos bonito todos os esforços do
homem ir para outro planeta, mas esquecemos que para cada
homo sapiens que chega em Marte, milhões irão padecer aqui.
Saiba você! Que não és tão especial assim, que serás
selecionado para ir embora e deixar tudo aqui.
36
Seremos esquecidos na eternidade e não haverá nem
registros de que existimos, pois tudo será levado ao abismo.
Preservação vem de tentar manter o que há, para que
menos impactos ecológicos aconteçam e mais em harmonia
a natureza se mantenha, porém, a falta de harmonia é
semelhante há uma festa para qual foram convidados apenas
20 pessoas, mas chegam 600 convidados e não há como
satisfazer a todas. Logo os mais adaptados se beneficiam e os
demais vão padecer, a princípio, parece bom quando você é
favorecido, porém uma hora irá faltar para todos, pois não há
equilíbrio e até mesmo o anfitrião da festa que proporcionou
tal experiência irá sofrer as consequências, mesmo que ele
não saiba os resultados de seus atos.
Planeta Vermelho

A Terra sangrou,
perdemos vida,
perdemos a casa.

O que outrora era chamado de Planeta Azul,


está coberto de sangue e cinzas
Os oceanos passaram a ser depósito de plásticos e
os rios de agrotóxico
As florestas viraram lenha e o sertão deserto.

Essa busca desenfreada de conseguir ir para Marte, tem 37


tornado o nosso planeta, que um dia foi azul, em vermelho.
Ano após ano, mais espécies são extintas, sendo o Homo
sapiens culpado por interferir em todos os ambientes.
Vivemos na sexta era da extinção, onde nem os mais
adaptados serão capazes de sobreviver, pois a espécie
destruidora tem atacado ao ambiente e não predado um ser.

O então sonhado Apocalipse, está a um passo de acontecer.


A humanidade tem juntado todos os esforços para chegar
no planeta vermelho, onde não haverá água, não haverá
fotossíntese, não haverá vida, apenas o vermelho do sangue,
do ferro envelhecido e o grande barulho silencioso da morte.
Futuro da nação

— Mãe, que bicho é esse?


— Essa é a capivara, o maior roedor do mundo, vivia à margem
dos rios comendo grama, um animal dócil, todo mundo tinha
figurinha delas pra mandar por mensagem.
— E esse, que bicho é?
— Esse, minha filha, foi um dos que mais trouxe felicidade
para o povo da minha época, eles apareciam em todos os
vídeos, fizeram todas as músicas que você imaginar na
versão do canto deles. Ele comia de tudo, de inseto a outros
pássaros. Seu peito era amarelado e tinha uma listra branca
na cara.
— Esse eu lembro qual o nome, é o lobo-guaraná, né?
— Lobo-guará, minha filha. Ele era o maior canídeo da América
do Sul. Quando a sua avó morava no interior, jurava de pé
junto que já tinha visto lobisomem e eu sempre falava que
não era possível. Quando eu tinha nove anos e anunciaram o
dinheiro de papel de 200 reais, lá estava o lobo-guará, e sua
38 avó falou que aquele era o lobisomem que ela tinha visto, vê
se pode.
— Esse é bem diferentão, que bicho é esse?
— Esse era o peixe-boi-da-amazônia.
— Como assim peixe-boi? Se é peixe, não é boi!
— Calma que explico. Os peixes-bois eram mamíferos
aquáticos, da família dos sirênios, só comiam plantas e por
muito tempo confundiram eles com sereias.
— Sereias?
— Sim, sereias, tudo isso por conta de seu canto.
— Ahhh, entendi…O povo de sua época é estranho...
— Mãe! Mãe! Mãe! Como tudo acabou?
— O início de tudo, minha filha, foi por volta de 1500,
quando os invasores chegaram por aqui e roubaram tudo
que conseguiram. Depois de terem desmatado grandes áreas
para roubar a madeira, levar os bichos e pedras preciosas,
começaram a plantar cana-de-açúcar, depois café, desmataram
mais áreas para produzirem leite e quando foram dar conta,
florestas como a Amazônia estavam sendo financiadas pelo
pessoal da agricultura, da pecuária e do governo, para serem
desmatadas e queimadas. O Pantanal mesmo foi incendiado
por fazendeiros, para que pudessem ter mais área de pasto.
Depois que os governantes entenderam que poderiam ficar
mais ricos vendendo terras de preservação para empresas
internacionais de minério, criaram diversas brechas nas leis,
facilitando os acessos, então fomos perdendo cada vez mais
natureza. Expulsaram os indígenas de suas terras, fizeram
barragens para gerar energia com hidrelétricas ou para
explorar minério, mudando assim o curso dos rios e tornando
tóxica a área. De maior país de biodiversidade do mundo,
passamos a ser o país com mais extinção em massa.
— E as pessoas não faziam nada ?
— As pessoas só queriam saber de ver dancinhas e postar
textão na internet, elas preferiam ignorar o conhecimento a
se tornarem agentes responsáveis de transformação, sendo
parte de um plano bem-arquitetado dos líderes desse país,
que priorizavam a ignorância ao saber, porque assim, seriam
mais fáceis de manipular e de chegar onde queriam. Então
limitaram ainda mais a educação. Falaram que era interessante
estudantes que não sabem muita coisa do mundo, decidirem 39
quais matérias iriam fazer, sendo deixado a história,
sociologia e a filosofia de lado, tornando-os incapazes de
questionarem o sistema, no qual nos levou até onde estamos
hoje. Presas em um contêiner no subsolo para sobreviver às
altas temperaturas que estão lá fora, fora o ar seco, poluído
e com uma grande variedade de bactérias, fungos e vírus
que surgiram com a morte de todos os animais. E em breve,
minha filha, será o nosso fim.
Pantanal 2020

O que é o amor para você?


Para Camões “O amor é fogo que arde sem se ver”
Para os cristãos “O amor é fogo consumidor”,
Para outros, fogo é fogo e amor é amor.
Para mim, o amor é saudade

Eu ainda me lembro do dia em que acordei desesperado,


estavam todos gritando e agonizando, era de todos os
cantos, eu não sabia bem o que era, mas de longe eu ouvia
uma voz ficando mais fraca até não conseguir ouvir mais.
Estava mais quente do que qualquer época do ano, uma
grande neblina cinza tomava conta de tudo e quase não
dava para enxergar.
O ar começou a faltar, eu tentei acordar meu irmão, chamei
e ele não respondeu, o balancei e ele nem se moveu,
mandei parar de brincar comigo e nada aconteceu
O calor aumentava e mais desesperado eu ficava
40 Comecei a gritar: ACORDA! ACORDA! ACORDA!, mas ele
não respondia, eu o balançava vorazmente e não adiantava.
Desesperadamente gritava SOCORRO! SOCORRO!
SOCORRO! e ninguém me ouvia, ninguém me ouvia…
ninguém me ouvia
O calor se aproximava e eu nada podia fazer.

Nesse dia eu perdi minha casa e minha vida se foi junto aos
que se foram
Já faz tanto desde que tudo aconteceu e ainda assim acordo
desesperado no meio da noite lembrando dos gritos de todos
Para mim, o fogo é destruição, o fogo é dor, o fogo é morte,
o fogo é solidão.
Para mim o amor é saudade.
Ara ararauna
Roystonea oleracea

— Oie, tudo bem? Isso mesmo, você aí embaixo, look me, look
me.
— Qual o seu nome?

— Me chamo, Roystonea oleracea, mas todos me conhecem
como Palmeira Imperial e pros mais chegados, sou a
Palmeirinha. Faço parte da realeza entre as plantas. Tenho
quase 40 metros de altura. Posso viver várias décadas e
talvez até séculos.
— Você gosta de histórias? Eu sou cheia delas, vivi algumas
coisas aqui de morrer de amor e também vi coisas que
arrancam de mim o sono. São muitas histórias....
— Por onde eu posso começar?

Alguns anos atrás, na primavera, dois jovens chegaram aqui


perto, me olhando de baixo para cima e depois se encarando
de uma forma tão apaixonada, coisa que nunca tinha visto,
eles se aproximaram lentamente e se beijaram. O tempo 41
parou, parecendo que uma revoada de borboletas estava se
aproximando. Eles estavam felizes, pareciam que iam flutuar
e me alcançar.
Começaram a me visitar uma vez a cada nova fase da lua e
no outono aconteceu uma coisa bem diferente, eu tentei ver
o que ele tinha na mão, mas não consegui, ela chorava muito
depois que ele colocara algo em sua mão, nunca vi alguém
chorar dessa forma, ela não estava triste, estava feliz, muito
feliz, tão feliz que flutuaram lentamente até meus cachos,
onde pude sentir um pouco do amor.
No verão, quando se aproximaram, ela estava diferente,
estava com uma barriguinha. Ele olhava para a barriga da
mesma forma que havia olhado para ela na primavera. Um
olhar demorado, capaz de parar o tempo com uma grande
revoada de borboletas dançando entre eles. Era radiante…
Eu estava tão apegada a eles… Todas às vezes que apareciam,
me olhavam como se estivessem tentando falar comigo,
eu simplesmente os amava, ficava aqui, paradinha, com os
ventos balançando meus cachos, ouvindo-os e apreciando
cada momento ao lado deles. Até que, em época de lua
cheia, eles não voltaram mais, fiquei morrendo de saudade,
me perguntando se havia feito alguma coisa errada, será que
estavam incomodados comigo?
Na primavera seguinte, eu entendi o que havia acontecido,
eles tinham tido uma sementinha e ela já havia germinado.
A plantinha deles era muito fofa, cheia de cachinhos que
nem eu, eles eram pequeninhos e bem enroladinho. Os dois
estavam abatidos, parecendo que tinham dormido pouco,
mas ao mesmo tempo estavam tão felizes. Só de lembrar
desse dia me emociono.
Depois desse dia, só os vi umas cinco primaveras depois.
Quando apareceram novamente, a sementinha já estava bem
grandinha, corria para lá e pra cá, pulava em qualquer poça
d’água, flutuando de alegria.
Em um dia ensolarado desses, ela me abraçou de um jeitinho
meigo e cheio de muito amor, até que seus pais me abraçaram
também, parecia até uma despedida...
Depois de algum tempo, percebi que realmente era uma
42 despedida, não os vi mais. Eu os esperei na primavera, no
verão, outono, no inverno e nada. O ciclo se repetiu por
tanto tempo que perdi as contas. Em meu floema percorria
saudade, eu não conseguia os esquecer.
Em uma manhã fria de inverno, um casal de senhores se
aproximou e me olhou, de uma forma diferente. Com olhares
frios e congelantes, senti uma faísca de amor. Eram eles...
O tempo mostrava os sinais em seus corpos. Os cabelos
estavam embranquecidos, as mãos enrugadas e seus olhos
cansados, mas ainda possuíam o mesmo olhar daquela
primeira primavera que eu os conheci. Eu estava saltitante
naquele momento, mesmo enraizado em meu lugar.
Depois de tanto tempo sem os ver, queria saber tudo que
havia acontecido, queria ouvir suas histórias, chorar com
suas tristezas, em meu floema só transbordava alegria. Onde
será que estava a plantinha deles?
Eles começaram a me visitar todos os dias, e em alguns
ele a abraçava e em outros eles choravam, parecendo até
sua plantinha quando havia caído, naquele primavera. Eu
continuava a me perguntar onde a plantinha poderia estar.
Lembro de um dia chuvoso do outono, em que a moça, já
senhora, apareceu com uma bela roupa preta, mas estava
sozinha, seus olhos enrugados não paravam de sair fluídos,
ela chorava muito. A chuva caia em seu corpo e ela nem se
importava. Os seus olhos direcionados a mim, repletos de dor,
me deixaram despedaçada. Ela trazia dois potes metálicos,
bonitos, e colocou-os perto de mim, cada um deles tinha
uma pintura, uma dele enquanto era jovem e a outra de sua
plantinha. Ela olhava para mim e soluçava…
Mesmo aqui enraizada por vários ciclos de estação, percebo
que o tempo passou. As borboletas não revoaram, os
pássaros não mais cantaram e os grilos deixaram de cricrilar.
Cada olhar, cada história, cada sensação, fazem parte da
Palmeirinha que me tornei, sinto que por mais algum tempo,
estarei aqui, carregando as histórias dos outros, que o tempo
foi capaz de levar. Em meu floema corre saudade.
Meu floema corre saudade.

43
Vagas lembranças

Hoje é um daqueles dias em que você acorda já querendo


que o fim chegue, é um daqueles dias em que você sabe que
nada que faça mudará a situação.
Já virou rotina e isso me deixa despedaçada. Me sinto
fragmentada, me sinto desnorteada, me sinto a pior coisa do
mundo com uma culpa inexplicável.

Lembro-me de minha vida antes que tudo isso começasse. Eu


era tão inocente, tão cheia de vida, vivia em harmonia com
tudo, de forma que hoje sou incapaz de explicar, porém havia
paz, porém tudo mudou.

Eles chegaram de viagem, estavam exaustos, mas pareciam boas


pessoas, trouxeram até presentes para meus filhos. Os recebi
da melhor forma possível, dei comida, abrigo, arrumei um lugar
para repousar depois da longa viagem de barco que fizeram.

44 Depois que acordaram nos contaram de suas terras e falaram


de seu rei e de seu Pai, tentaram até nos ensinar coisas
diferentes como uma tal de catequização. Tudo ia tão bem.
Quem poderia imaginar que o pior estava a nos esperar,
quem poderia imaginar? Eles pareciam tão bons...

Aos poucos começaram a mostrar quem eram de verdade e


o pior aconteceu...
Me cercaram! Eu não tinha a quem pedir socorro, já era
tarde da noite. Eu gritava, esperneava, me movia de todas
as formas possíveis, eu estava desesperada. Tentei correr,
mas me cercaram, eles eram muitos e então me seguraram.
Estava presa sem conseguir me mover, cortaram minhas
roupas vermelhas, me seguraram, eles eram muitos…. um por
um veio e me despedaçou, tirando a minha inocência de um
novo mundo. Quando terminaram, eu morri pela primeira
vez. Meu sangue vermelho tingiria suas vestes, meu corpo se
tornaria mobília. Me amarraram e não satisfeitos comigo me
fizeram ver o pior...
Correram atrás de meus filhos e eles lutaram para defender o
nosso povo e pereceram… Foram chicoteados, esquartejados
e queimados. Minhas filhas foram espancadas, estupradas,
sendo arrancadas suas inocências, sendo destruídas assim
como fui. Depois de usarem e abusarem, as descartaram,
uma a uma foi morta e eu morri pela segunda vez.

Não tenho mais forças para lutar, estou morrendo, estou


sendo desintegrada
Já faz tempo que me sinto assim, toda vez que acontece sinto
que estou sendo desfeita.

Mesmo eu tentando dormir, não consigo, os barulhos e os


gritos ecoam nos meus pensamentos e acordo cansada. É
como se estivessem sendo arrancando diariamente partes
de mim, é como se eu estivesse em um lugar no qual me
torturam arrancando pedaço por pedaço, removendo meu
sangue para fazer experimentos, que é como se eu fosse
só um objeto, o qual pode ser usado e abusado ou como se
passassem rodovias por dentro de mim, sendo eu cortada 45
de fora a fora vendo os meu atropelados enquanto tentam
voltar para casa.
Meu corpo está sendo violado, meu corpo está sendo
abusado, onde está aquilo de “Meu corpo minhas regras” ?
Isso não existe ! Isso não existe! Isso não existe! Pelo menos
não para mim.
Mata Atlântica

Onca panthera

No crepúsculo me despeço, sem nem olhar para trás.

Foram três dias viajando, estava ansioso para conhecer suas


rosetas, eu podia sentir seus feromônios a quilômetros.
Quanto mais próximo ficava, mais forte eu te sentia. O seu
perfume era inconfundível, invadia minha alma, aumentava
minha frequência cardíaca e aos poucos me desnorteava.

No começo estávamos meio sem graça, você esturrava


pedindo para me afastar, seu mundo havia acabado de virar
um caos e só desejava solidão e companhia, assim como, a
minha meses atrás.

Me lembro vagamente na infância, minha mãe falando que


um dia encontraria alguém, um dia para poder deixar filhotes
46 no mundo, continuando assim o propósito da mãe natureza,
mas depois de tudo que havia acontecido, já estava
desacreditado.

Desmataram a Mata Atlântica


Plantaram boi no Cerrado
Tacaram fogo no Pantanal
Venderam a Amazônia
e a Caatinga…? Virou deserto

Não havia mais terra para poder morar, porque um tal de


marco temporal havia sido instaurado, dando liberdade
aos monstros do agro é tech, agro é pop, agro é tudo, para
destruir tudo sem nem pensar. Removeram nossas terras e
nos expulsaram. Ouvi boatos que nossos amigos que também
moravam por lá, haviam sido expulsos e foram obrigados a
esquecer todos os seus costumes, para então serem aceitos
em um lugar com árvores que não dá para escalar e sem ar
limpo percorrendo por lá, os rios saiam de canos e tinha
um cheiro forte de algo tóxico que em grande quantidade
poderia os matar.

Era para ser algo apenas casual, onde nossos corpos se


tocariam e os filhotes gerados continuariam o propósito
de trazer vida ao mundo, havendo um equilíbrio no mundo
natural e espiritual, mas não foi isso que aconteceu.

Depois de percorrer dezenas de quilômetros, pude


te encontrar e por alguns segundos te satisfazer, mas
percebi que o seu desejo era semelhante ao meu. Era
novamente ter um lugar para poder chamar de lar.

47
PANDEMIA

O mundo colapsou mais uma vez,


mais uma vez tudo teve que parar
da última vez que tive que manifestar
centenas de milhares de gatos e ratos deixaram de existir

Como vocês ainda são tão ignorantes de perceber que o


grande problema não é os outros e sim, você
Aglomeram todos que vocês consideram inferiores e extraem
o máximo que podem,
“do nada” uma gripe deixa de ser gripe e passa ser gripe da
vaca louca ou gripe aviária.
Confinam os gados, as aves, os porcos e os humanos em
condições insalubres por considerá-los indignos da vida.
Os colocando bem longe de tudo e de todos e diariamente
centenas de cadáveres são abatidos, pelos açougueiros que
são financiados pelos fazendeiros e pelos responsáveis por
uma tal segurança que só privilegia uma minoria.
48
O mundo parou e centenas de milhares morreram por alguns
serem tão egoístas e tudo o que importa é apenas a economia,
que não é boa desde a revolução industrial, onde muitos têm
nada e poucos têm o mundo.
A Terra gritou mais uma vez “Acabou! Acabou! Acabou!” é hora
de pausar e quem sabe recomeçar, é hora de se reconectar
com um “eu” mais natural. Quem escutou e ouviu o clamor da
Terra começou suas mudanças internas e consequentemente
transformou as externas.

Somos animais sociais e talvez ao longo da história tenhamos


esquecidos e por isso nos achamos tão superiores, cheio
de nós e esquecemos que não somos nada, além de
moléculas que se aglomeram e que no fim voltam a ser pó.
Nosso amor era como um cacto
Não precisava de muitos cuidados
Mas ainda assim deixei morrer 49
Harpia harpyja

De longe avistei uma grande sombra,


todos correram para se esconder,
era a majestade chegando à terra para se alimentar
O gavião-real com seus mais de dois metros de envergadura
demonstrando sua soberania ao sobrevoar sobre o pantanal,
mata atlântica e amazônia, colocando e impondo respeito a
qualquer louco que o queira enfrentar

Harpia harpyja

50 Harpia, mãe dos ventos, deusa da tempestade


rogai por nós que aqui vivemos sem ter esperança
os monstros estão governando esse país
destruindo a natureza que por tanto tempo nos permitiu ser feliz
os rios estão envenenados e as florestas são queimadas
estamos sendo extintos e tudo isso em prol de coisas que
os ventos levarão ao esquecimento
os cientistas se esforçam diariamente para tentar nos ajudar,
lutando para nos preservar
desenvolvendo pesquisas e metodologias inovadoras para mitigar
o que os descasos das políticas ambientais tendem a nos impactar
Harpia, mãe dos ventos, deusa da tempestade
rogais por nós, que aqui vivemos ser ter esperança
Phaethornis margarettae Ruschi, 1972

Era final de tarde, depois de um longo voo,


estava voltando para casa, quando te avistei
Não sei se foram as cores ou os seus olhos,
não sei se foi o canto ou a luz refletindo em seu corpo
eu realmente não sei, apenas sei que naquele final de tarde,
quando o sol refletia sobre seu corpo, eu me apaixonei,
perdidamente, desesperadamente, loucamente
Eu sabia que você seria o amor da minha vida
que buscaria alimento para você, enquanto estivesse
incubando o nosso filhote
que eu teria que cantar como nunca cantei e te cortejar até
você me aceitar
talvez eu tivesse até que regurgitar para te impressionar,
mas no momento em que te vi,
soube que seríamos felizes

O mundo anda tão diferente do que já foi um dia


os rios estão secando e os amontoados de pedra estão alagando 51
tem faltado comida e em todo canto que olho tem soja ou cana
as sagradas árvores têm sido arrancadas e amontoadas
e pelo visto nada do que foi será para sempre como foi um dia
Eu clamo diariamente a Tupã para que ele não se esqueça
de nós e sempre me questiono do porque ter criado uma
outra espécie que envenena os rios e desmata as florestas,
me pergunto até quando iremos morrer para que eles
amontoem ainda mais pedras e plantem ainda mais soja e cana
até quando iremos perecer para que eles percebam que se
não cuidarem daqui, ninguém mais irá sobreviver

Eu me aproximei de você de uma forma tímida e sem saber


se você iria querer me ouvir cantar,
Você me olhando e perguntando se estava bem e pedindo
para se acalmar
Isso só me fez ficar ainda mais nervoso, mas ainda assim
não deixei de tentar impressionar,
cantei tudo que tinha que cantar, voei de amores até o céu
antes mesmo de você me notar
“Escolhas mudam o destino” C.K.M.

E se os asteroides com água não tivessem chegado à Terra?


E se os dinossauros não tivessem sido extintos?
E se a Terra fosse plana?
E se o homem não tivesse aprendido a domesticar os grãos?
E se ... ?

Em universos paralelos nem existimos


Em universos paralelos à incidência do Sol é tão forte que
toda água dos corpos ferveria, em outros, a incidência do
Sol é tão baixa que o sangue congelaria, em outros lugares
não haveria algas para produzir oxigênio, em outros, teriam
52 tantas plantas, algas e cianobactérias que o excesso de O2
(oxigênio) nos intoxicaria.

Talvez o Deus, o Acaso, o Universo, o Caos ou sei lá como


você prefira chamar, tenha possibilitado a nossa existência
ou apenas seja sorte.

As escolhas mudam o destino, mesmo que não sejamos


destinados e vivamos em mero caos entrópico.

Queria ter te amado da mesma forma que me amou,


promovendo abrigo, alimentação e salvação, enquanto meu
egoísmo me tornava cego, sendo incapaz de antever o que
por tanto tempo fui alertado que iria acontecer.
Canção do Extermínio

Minha terra tinha palmeiras


Onde cantava o Sabiá,
As aves, já não mais gorjeiam,
Pois foram extintas, por lá.

Nossos rios envenenados,


Nossas florestas desmatadas,
Nosso Cerrado virou pasto,
Nossa flora virou soja.

Cismo à noite, por não mais encontrar


Os vaga-lumes vagando de lá para cá
Será que foi o agrotóxico
Ou a poluição luminosa?

Minha terra tem horrores,


Onde traficantes da biodiversidade vivem a prosperar
E pesquisadores vivem a mendigar 53
Indústria da destruição enriquecendo
Financiando todo entretenimento
Cismo à noite, por lembrar
Que muito será extinto se não mudar.
Minha terra tinha palmeiras,
Onde cantava o Sabiá.

Não permita Deus que eu reviva,


Sem que eu aprenda a conservar
Sem que acabe com os horrores
Que destroem tudo para lucrar;
Se puder, Deus, preserve as palmeiras,
Onde cantavam os Sabiás.
Metamorfose

Não aceito quem sou. Passei a vida inteira ouvindo que


deveria ser diferente do que sempre fui.
Todos estão aguardando o momento em que serei mais do
que sou, mas talvez eu não queira ou não consiga.
Estou com medo, preocupado, ando de um lado para o
outro apenas me alimentando, porque é a única coisa que
ainda me dá prazer.
Meus pais me abandonaram e sei que faz parte do meu
processo de mudança, mas preciso ainda me entender, até
estar pronto para florescer.
Por que não posso ser quem sou? Por que preciso mudar para
me adequar aos padrões de cor, textura, tamanho, peso?
Sinto tanto medo de tentar, de não conseguir mudar, que
isso me paralisa impedindo de me transformar.
Eu já me odiei tanto por ser como sou, por não estar nos
padrões, agora estou aprendendo a me amar como sou, me
aceitar, mesmo que por tanto tempo tenha me odiado
54 é difícil se aceitar porque desde muito cedo ouvimos as
críticas e olhares julgadores.
Quando eu era apenas um ovo, todos tinham tanta
expectativa, vim a esse mundo sendo diferente do que
todos desejavam, mas eu vim e aqui estou, porém, sinto que
eles preferem não me enxergar,
Hoje consigo entender que só poderei metamorfosear se
antes aprender a me amar.
Só poderei virar borboleta se me aceitar como lagarta.
Sou diferente de tudo e todos, mas antes de ser o que
deveria, preciso aceitar quem fui e o que sou.
Me alimentarei o suficiente para empupar e então um dia
alcançarei o máximo de meu potencial, poderei voar e me
libertar de todos os preconceitos que um dia tiveram e que
também tive, viajarei pelos campos e bosques para apreciar
o que por tanto tempo o medo me negava, me impedindo
de viver e também ser o que sou.
Ainda não estou 100% pronto para a metamorfose, mas
sinto que esse dia está perto,
em breve voarei com meus antepassados e poderei celebrar
a vida como um todo.
Crisálida

“Estado intermediário entre o de lagarta e o de borboleta”

Já faz tanto tempo que minha vida começou que lembro


vagamente de quem fui.

Faz tão pouco tempo que me tornei o que sou que nem
preciso me recordar, pois ainda sinto a transformação pulsar.

Ainda não sou o que deveria, mas já sou o que preciso.

As preocupações do amanhã e as lembranças do ontem não


me permitiam empupar. Como posso me transformar sem
desapegar?

Tempo, hábitos, companhias, é necessário distanciamento


ainda que provisório, para que assim eu possa me encontrar,
talvez este seja o grande momento.
55
Se há um tempo em que posso buscar a auto compreensão
é no tempo em que estou, pois, já me alimente, já vivi,
cresci, só me falta permitir que a crisálida aconteça e assim
ser melhor do que já fui.

A vida seguirá seu ritmo natural de novas transformações


nesse novo tempo, talvez seja preciso voar para compreender
os diferentes ambientes e entender diferentes seres, talvez
assim consiga ajudar a outros a também empupar.

O que houve no meio do caminho? O que aconteceu até


chegarmos aqui?

Um convite à auto compreensão em um tempo de solidão está


sendo feito. Pare, pense, escute, sinta, aceite, viva e mude. Seja!
Nem tudo que parece é
Girassol não é uma flor
Caju não é fruta
56 Morcego voa, mas não é ave
Galinha tem asa, mas não voa
Não é tempo de pensar no futuro,
e sim mudar o presente
para que tenhamos um futuro;
tudo será dizimado em menos de um século
se não mudarmos agora.

É tempo de repensar
é tempo de recriar 57
tempo de restaurar
tempo de renascer
e tempo de restruturar o mundo,
antes que cheguemos ao fim
Somos como ondas do mar batendo nas rochas
e os pedaços são corpos em construção e desconstrução

58
Fúria de um beija-flor

Como a fúria de um beija-flor, você veio me visitar,


me encontrou meio perdido e desesperançoso para o amor
Você me enxergou, me beijou, me tocou, me fez acreditar
que ainda poderia haver amor.
Você logo afirmou que não iria procriar e que a mãe
natureza tinha te designado outra função, de flor em
flor você iria ajudar a polinizar, mas não iria se envolver 59
tão completamente que faria você se perder.
Você se perdeu, se encontrou, se reencontrou
e em cada caminho que observo, te encontro,
mas não me despeço
Com sua fúria doce e suave conquistou e resgatou o amor,
mas para quê?
Você chegou, pousou, morou e partiu sem dizer adeus.
O seu voo é etéreo, mas seu amor é efêmero.
Taxidermia

Sinto o cheiro doce e suave da morte


Enquanto descapelo seu corpo e o moldo como desejo
Apunhalo seu dorso com o bisturi, que te penetra e corta.
Junto ao seu sangue, o bisturi arranca um pouco de mim
60 misturando-se com o sangue que outrora havia vida,
outrora passou ser objeto de exibição
toda vida é importante, porém toda morte é necessária,
a sua mais ainda, porque agora por moldar como desejo
sinto o cheiro doce e suave da morte
onde a podridão invade minh’ alma e me acorrenta a ti,
pelo preço de violar o sagrado cadáver da terra
te recrio ao lhe dar vida através de novas histórias.
Oceano

Estou mais quente do que deveria


estou mais ácido do que já fui
meu corpo se encontra com milhares de microplásticos que
apenas envenenam quem os encontra
sou água com plástico, mais plástico que água 61
sigo sendo destruído diariamente
Microplástico, oceano, não sei
Amazônia

Amazônia quente e úmida


encontro seu corpo na densa noite
que me cobre a alma.

Seus olhos lunares e seu corpo solar


me desprende de quem sou
e guia meus caminhos até o seu portal.
62
Me encontro enquanto serpente
e te encontro enquanto árvore
Somos induzidos a produzir
vida, nem que seja a nossa.

O caos, perigo e abrigo


são estimulantes para o divino
você tem cheiro, textura, sabor
os seus sentidos me fazem sentir
sentir que há muita vida há se viver
enquanto me perco na
grandiosa Amazônia que é você.
Didelphimorphia

Fui levado em um marsúpio


por tanto tempo que devo me reiterar
para que eu te carregue para todos os lugares.
Você me ensinou a não desistir quando o escorpião me picar
e aproveitar de seu veneno para me alimentar.
Farei da cobra-coral mantimento, enquanto inibo seu veneno.
Sou odiado por ser quem sou e
não é sempre que libero meu odor.
63
Não deveria ser assim, só estou tentando me proteger, enquanto
tento salvar meus filhotes em um marsúpio
que por tanto tempo me carregou e
me livrou de tanto perigo e dor.
Cegueira Botânica

Quem não é visto não é lembrado


e ainda sendo visto
sou esquecido e deixado de lado
Para você somos todos iguais,
ignoram quem somos e como somos
por se acharem ou acharem os outros superiores
mal sabendo que sem nós, não haveria outros
Podemos ser frondosas, florosas, graniformes
64 podemos ser aquáticas, terrestres e às vezes até
nós reproduzimos durante os voos aéreos
Eu sou vida, eu tanto curo, quanto elimino
Sou ramo, raízes, folhas, caules, frutos
Sou o que sou e apenas sou
Mas você me ignora e remove a minha existência
só mostrando a sua decadência enquanto
humano por se achar tão superior e no final
irá virar adubo para me alimentar
como foram seus pais.
Bicho-preguiça

Eu me encontro em total solidão


minha única companhia é a microbiota que habita entre
meus pelos
O mundo ainda não sabe bem o que sou
já me confundiram com primatas
e nem imaginam que sou parente do tamanduá e do tatu
Eu encanto a todos que me encontram e me observam
Porém, sou solitário e permaneço vivo a tanto tempo assim
que já nem sei o que é ter companhia.
Eu te olho, tu me encontra, passa, eu fico
Eu me despeço e às vezes você olha para trás, geralmente não.
Me encontro em silêncio a maior parte do tempo, meus
pensamentos.
gritam de forma agitada, mas não posso ser enxergado por
quem apenas olha
e nem posso gritar porque serei ignorado.
Eu carrego em mim a força de meus antepassados, que
povoaram regiões 65
difíceis, mas criaram o seu mundo a partir do caos.
Às vezes o silêncio causa dor, a solidão causa pavor, a
ausência quem sou.
Eu nem lembro mais o que é ter família, vou vivendo de
encontros esporádicos, para seguir com o objetivo de
existência, mas nada
com apego, apenas com a dor da solidão
Acho que estou bem, mesmo que o mundo tenha mudado,
ainda poderei me refugiar em uma árvore e repousar minha
mente fugaz.
Chamado

O homem se autodeclarou dono do mundo, tentou dominar


a fauna e a flora, destruindo tudo aquilo que não podia ter.
Misturando elementos e se tornando deuses, misturando
seres e os chamando de demônios. Homem que veio da
terra, se autodeclarou dono da Terra.
O tráfico de animais silvestres é o terceiro maior do mundo,
perdendo para o de drogas e de armas. Como a nossa fauna
pode ser comparada a algo tão ruim? Invadimos o seu habitat
e o destruímos quando eles se aproximam. Para onde vai o
gambá se ele não tem mais onde morar?
De uma forma ou outra, sinto que a natureza tem tentado
nos dar um sinal de que estamos longe de mais do que
deveríamos ser.
A cada ano que passa mais epidemias e catástrofes ambientais
surgem e poderíamos até dizer que surgem de forma
misteriosa, mas estaríamos sendo injustos com os mistérios
da vida e nos retirando da culpa. Nosso contato com o meio
66 ambiente de forma descontrolada traz ao mundo, impactos
que não somos capazes nem de perceber ou preferimos
ignorar melhor do que ter que encarar a realidade a qual nos
obrigaria a mudar.
Os mecanismos biológicos de autorregulação ambiental
talvez não sirvam para controlar o ser humano. Aprendemos
a domesticar animais, plantas, bactérias e até manipular vírus.
Aprendemos a reproduzir espécies que consideramos mais
eficientes, aprendemos a recombinar partes de organismos
para melhor eficácia, sabemos até clonar indivíduos, e,
talvez por isso nos sintamos superiores ao ponto de nos
autodeclararmos donos do mundo.
Somos apenas poeira cósmica com sinapses nervosas,
aprendemos a manipular a natureza, mas no fim teremos o
mesmo destino dos dinossauros, que assim como do nada
surgiram, não foram capazes de acompanhar as tendências e
foram extintos, deixando apenas suas primas galinhas.
A natureza está tentando se comunicar conosco, mostrando
novas formas de se viver em harmonia, mas ainda não
aprendemos o que são as coisas importantes dessa vida.
Plantamos para vender, para então comprar o que comer,
caçamos para poder vender e ter tecnologias caras para
caçar. Passamos a vida toda correndo atrás de coisas que
o tempo pode levar, enquanto esquecemos que o essencial
está em nós.
Amor é uma ação e não um sentimento, para sobrevivermos
precisamos de mais amor, se não, haverá apenas o fim. Fim
da nossa espécie, porque a natureza encontrará formas de
sobreviver.
Precisamos educar os de nossa espécie para preservar
as outras. Nos autodeclaramos homens que sabem que
sabem, agimos como se nada soubéssemos. Precisamos
educar a nossa espécie para preservar, mostrar que antes de
chegarmos já havia vida ali.
A educação precisa ser mais dissipada para que todas as
pessoas compreendam a importância de nossa natureza.
Natureza que também é mãe. Dá à luz todos os dias e chora a
todo momento por perder uma de suas criaturas com a nossa
destruição.
É preciso educar para conservar, é preciso educar para 67
compreender, é preciso educar para sobreviver.
Sofro em silêncio a sua ausência
como um sapo que hiberna para sobreviver
Tenho me retirado, por não querer mais sofrer
Não quero amar mais, porque te amei sem dizer
68 E agora sofro sem falar
Sua companhia era tudo que meu corpo desejava,
enquanto minha mente queria sua poesia
Sofro em silêncio a sua ausência
como o vento que grita na madrugada
Você é fonte de meus desejos
seu olhar faminto me devora
seu corpo fervente me deixa em transe
seu prazer é meu sossego

Seu corpo vira caminho


minha língua automóvel
faço paradas
em pedágios de prazer
69
Como animal feroz em abate
você morde e arranha
porém não fujo
fico e me prendo a ti

Sinto suas garras de rapinante


dilacerando minha carne
enquanto uivo de prazer a ti
me permitindo ser o animal carnal que sou
Caminhos

Todos os caminhos nos levam para o mesmo lugar


Siga o leito do rio e em seu destino chegará
Não importa se você for pela direita ou pela esquerda
todos os caminhos te levarão ao mesmo lugar
paro e penso qual o lugar que estamos seguindo
se realmente há um destino
o mundo está colapsando, as geleiras estão derretendo
os animais estão sendo extintos, os rios estão secando e
qual caminho devo seguir, se todos nos levarão ao mesmo lugar?

Quando penso que evoluímos a ponto de cogitar ir para


Marte em 2030
de que a ficção se mistura com a realidade, fico pensando se
não estamos nos aproximando do nosso fim.
Quase todos os filmes sobre o futuro retratam um mundo
caótico, mas não mudamos o presente para evitar tais
atrocidades, continuamos correndo atrás de novas
70 tecnologias, sem nem mesmo entender como os organismos
são extremamente high tech, capazes de nos fazer amadurecer.

Uma planta é capaz de se comunicar, sentir e até proteger


suas amigas e familiares, liberando feromônios para avisar
que o predador está a atacar
Algumas formigas aprenderam a domesticar fungos e os
nutrem com folhas, para poder fazer crescer e depois se
alimentar, as aranhas sabem onde tá o sul tecendo suas teias
sem um Waze para orientar, teias essas que são cinco vezes
mais fortes que aço.
Temos tanto a aprender com e sobre a natureza, mas todos
os caminhos nos levarão ao mesmo destino.

Todos os caminhos nos levam para o mesmo lugar


só é preciso seguir o leito do rio e em seu destino chegará
Não importa se você for pela direita ou pela esquerda
todos caminhos te levarão ao mesmo lugar.
Outros Olhares

FIM 71
AGRADECIMENTOS

Vocês já ouviram falar da filosofia, Ubuntu? A palavra Ubuntu


vem dos idiomas zulu e xhosa do sul, sendo uma filosofia
africana que retrata a coletividade e harmonia entre natureza,
divindade e humanidade. Eu sou porque nós somos. É uma
filosofia de movimento, onde não dá para viver isolado do
mundo, porque nossos mundos convergem, sendo o que
somos porque SOMOS. Devaneios Ambientais surge a partir
de um coletivo de apoiadores, e incentivadores, de amigos
e amores e sou grato a todos que passaram por mim nesses
processos.

Meus primeiros agradecimentos vão para as mulheres da


minha vida. Minha mãe Marcia, minha irmã Janine, minha vó
Lúcia e Xica, por terem enfrentado grandes anos e labutas
em minha vida.

Agradeço também a Vincius, tia Rizomar, Tio Antonio e Ester


72 por terem me acolhido e permitido que parte dos meus
sonhos pudessem ser desenvolvidos.

A todos que apoiaram esse sonho, minha eterna gratidão,


que possamos nos encontrar entre as pausas e devaneios
dessa vida e que os sonhos continuem nos nutrindo e que a
esperança não se vá, antes mesmo de tentarmos. Obrigado!

Adeilma Cruz Brito, Agda Alves da Rocha, Alice Paula Britto


Azevedo Militão de Oliveira, Aline Guimarães Novais, Aline
Liberato, Ana Clara Barbosa Santana, Ana de Jesus Santos,
Ana e Luíza Donato, Ana Jullie Veiga Fernandes, Ana Laura
dos Santos, Ana Paula Gusmão Oliveira, Andrea Karla
Almeida dos Santos, Barbara Ramos Pinheiro, Brenda Batista
da Silveira, Carla Állyssa de Lima Silva dos Santos, Carlos
Daniel de Sousa Rocha, Dâmaris Beatriz Soares de Oliveira
Lima, Deivson Araújo Brandão, Denis Duarte Bezerra, Denis
Scaramussa, Gabriel Porto Lemos, Gabriela Lotaif, Gabrielle
Vilas Boas Nunes e Guido, Horrana Quetile Santos Pinto,
Igor Pereira Ribeiro Muniz, Jaqueline dos Santos Cardoso,
Jessica Alves dos Santos, Jéssica Francisca Santos da Silva,
Joana Cibele Rosa Silva, Joelia da Silva Santos, Júlia Alves
Cerqueira, Karina Santos Benigno, Laís Alves Rocha, Letícia
de Queiroz Magalhães Sousa, Liliane Oraggio, Lívia Oliveira
Lima Barbosa, Luiza Sartório, Luma Mar Sousa Felício, Márcia
Aparecida Brasileiro, Maria Beatriz Santana de Oliveira,
Maria Eduarda Brito Santos Amorim, Marina Bastos Miranda
Aragão, Matheus Santos dos Anjos, Mônica Reis de Farias,
Paulo José Oliveira de Souza, Priscila da Silva Rodrigues,
Ramona Gabriela Azevedo Nascimento, Renata de Camargo,
Rodrigo e Ellen Miranda Paes, Samily Rodrigues Santos Silva,
Taise Sousa Sobrinho, Tâmara Sousa Sobrinho, Tania Carvalho
Dias Ralstom, Thais Azevedo Reis, Valesca Kailane Dias de
Almeida Santos, Vanessa Tigre Almeida Chaves, Vinicius
Pinheiro Ribeiro e Vítor De Oliveira Campos.

73
— Desejo te devorar até que nossas almas se toquem,
mesmo que por um segundo. 75
Disse a louva-deus fêmea que era poeta
PERMITA QUE AS PALAVRAS FLUAM EM VOCÊ,
TENTE ESCREVER ALGO AQUI EMBAIXO

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Composto em fontes active & lato e impresso


em papel pólen 90 g/m², em outubro de 2022.
Devaneios Ambientais é fruto da combinação perfeita entre
biólogo, poeta e educador que é seu autor. Provocando
a imaginação de quem o lê, Italo Brasileiro faz beleza com
palavras que permitem vivências em natureza, desde onde
quer que se esteja. Sobre fauna, flora e humanidade, com uma
pitada de política e humor, o livro deleita quem entende o
devanear que só a natureza permite.

— GABRIELA LOTAIF

Poético, necessário e lírico. Devaneios Ambientais provoca


um misto de emoções em cada verso e experimentamos a
melancolia, o amor, o sarcasmo e bom humor.

— ALICE AZEVEDO

Será que é possível morar nessas palavras?


É perfeito como suas palavras trazem à tona os sentimentos,
como se fossemos nós mesmos a viver a história. É de uma
inteligência gigante a junção perfeita entre ciência e arte,
trazendo em quem ler o desejo de não ficar parado e deixar
passar. Tenho vontade de me enterrar em todos os textos,
conhecer a nossa natureza e seus sentimentos.

— JULIA ALVES

Italo conseguiu despertar o que há de mais bonito dentro


do meu ser, sua maneira de abordar a poesia vinculada ao
ambientalismo de forma tão leve e tão impactante ao mesmo
tempo, me leva a reflexões sobre a forma de ver e tratar o
planeta. Suas palavras trazem esperança de dias melhores. Sua
poesia é luz em meio a tanta escuridão.

- ADÊ BRITO

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