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Biografia Negra: Logan Sinclair

Havia um tempo em que se podia acordar numa bela manhã e contemplar os quentes e brilhantes
raios de sol entrando pelas grandes janelas retangulares da cozinha, enquanto se fazia o desjejum com
cereais, pães, geléias e frutas. Havia um tempo em que se podia sair para cavalgar nas tardes de primavera,
passando pela imensidão de flores e grama. Havia um tempo em que era possível dividir os mesmos riachos
e lagos com as raposas e esquilos, nos finais das tardes de verão. Era uma vida bela. Era, de fato, uma vida.
Meu nome é Logan Sinclair. Nascido entre os campos e riachos Ingleses, criado entre camponeses e
pessoas de bem. Mas a história que contarei agora, não tem sido exatamente “um passeio no parque.”
Em 1801, mais precisamente no dia 1º de Janeiro, Inglaterra, Irlanda, País de Gales e Escócia
firmaram o Ato de União, passando assim, a constituírem o Reino Unido. Essa união proporcionou uma
relação comercial maior entre os países e, conseqüentemente, maior avanço tecnológico.
O constante aumento de tecnologia de produção, levou minha família (e várias outras famílias de
renda médio-baixa) a trocarem as manufaturas tradicionais pelo comércio. O Processo ficou tão comum, que
em poucos anos o número de mercadores do Reino Unido, quadruplicou.
Eu sempre ajudei meu pai nos negócios. Comecei aos 10 anos de idade, colhendo maçãs, e aos 14
passei a ajudar na produção de geléias. Não estudava. Não possuíamos recursos para isso.
Quando todo o sistema manufaturado começou a ser substituído pelas indústrias, meu pai e eu
entramos no ramo comercial exportando e importando seda para todo o Reino. Algumas de nossas viagens
levavam semanas, mas a renda era boa. Meu pai cuidava de fechar negócios maiores, enquanto eu
simplesmente ficava feliz em ajudar com as vendas diretas da carroça, na maioria pequenas peças.
Nossas noites de viagem sempre terminavam em um pub, onde bebíamos um pouco demais e
acabávamos dormindo na mesa até sermos acordados pelo atendente e levados para um quarto. Quando
não havia quartos, simplesmente nos deixavam dormir.
Foi em uma dessas noites, quando nossas viagens já não rendiam muito, que meu pai conheceu um
senhor chamado Lockley Bennec. Um senhor de fato. Aparentava seus sessenta e cinco anos e falava com
um ar de experiência. Às vezes chegava a ser um pouco exibicionista quando comentava sobre seus feitos,
mas não pude deixar de notar a sinceridade saindo de seus olhos. Sempre fui muito bom em lidar com
pessoas. Meu avô costumava chamar de “manha de vendedor”. Não é difícil para eu identificar se uma
pessoa diz a verdade, esta feliz, está sendo sincera, está interessada ou não. De qualquer forma, senti
confiança naquele bom senhor, e meu pai também.
Aquele era o ano de 1816 e mercantes apareciam em todos os cantos europeus. A febre tecnológica
aumentava e, cada vez mais, pessoas buscavam meios alternativos para lucrar. O senhor Bennec era uma
dessas pessoas. Ele havia comprado uma pequena frota de barcos mercantes e convenceu meu pai de que,
já que o mercado interno está saturado, exportaremos produtos no mercado externo. Ele dizia que entraria
com os recursos, se meu pai e eu entrássemos com a venda. Ele ficaria com 60% do lucro para pagar taxas
e seus marinheiros e meu pai ficaria com os 40% restantes. Um ótimo negócio.
Assim, passamos dois meses preparando a viagem, e no dia 12 de Outubro de 1816, com 21 anos de
idade, eu fiz a minha primeira viagem de navio, com destino à Índia.
A viagem foi fantástica. Extremamente calma. Nunca eu havia conhecido a vastidão do oceano. Já
brinquei em praias quando mais novo, mas a sensação de liberdade e de proximidade com a natureza não
se comparavam a que eu senti estando cercado por água.
Nunca fui de ter muitos amigos. Sempre fui mais reservado, tirando as situações de barganha. Porém,
havia um marinheiro que realmente conquistou minha amizade: Fletcher Thomaz. Passamos boa parte da
viagem nos divertindo apostando conchas em jogos de dados. As maiores e mais bonitas valiam mais. O
homem era dotado de um senso de humor único, mesmo quando perdia. Jogos à tarde, rum e contos à
noite. Foi assim, até atracarmos em uma vila na Índia, durante a noite.
Removemos a maior parte da carga do barco naquela noite mesmo. Dois marinheiros permaneceram,
enquanto eu, meu pai, Fletcher e mais um rapaz da minha idade levávamos a mercadoria para uma
estalagem.
Não sei por que, mas desde aquela noite, do momento em que pus meus pés em terra firme, tive uma
sensação de que alguém estava me vigiando. Ignorei, estava cansado demais para isso e acabei indo dormir
mais cedo que o normal.
Na manhã seguinte, descobri que a vila em que nos encontrávamos, era na verdade um aglomerado
de vários vilarejos, ligados por uma pequena e curta estrada. Tínhamos apenas 8 dias para as vendas, pois
no 9º partiríamos novamente, então, meu pai decidiu dividir em dois grupos para atendermos melhor toda a
região. Eu e Fletcher pegamos a região norte e leste. Meu pai e o outro rapaz ficaram com o resto, inclusive
o centro.
Durante o dia e boa parte da tarde, eu fazia as vendas. Fletcher me ajudava com a logística e
organização. A noite, armávamos nossas tendas e dormíamos. Também à noite, ficava com a terrível
sensação de que estava sendo observado.
Aquilo só começou a me preocupar na quarta noite. Até então, achava que era por estar em um lugar
novo, desconhecido.
As vendas não foram muito bem no quinto dia. Estávamos acampando no leste e nos preparávamos
para ir dormir. Estava tudo terrivelmente quieto. Foi quando um grito rasgou o ar de uma forma como jamais
ouvira. O grito de uma mulher.
Fletcher e eu nos levantamos e saímos rapidamente da tenda para ver o que acontecia. Vários
corriam freneticamente no vilarejo adiante, porém, não conseguíamos saber do que fugiam. Corremos em
direção ao centro do pequeno vilarejo, e em meio a corpos mutilados (alguns ainda com vida), havia um
enorme tigre.
Ele mordia o pescoço de algum morador local quando nossos olhares se cruzaram. Naquele
momento, de alguma forma, eu soube o que estava me observando.
O tigre largou o pescoço que mordia, urrou e veio em minha direção rapidamente. Eu fiquei
paralisado.
Ele pulou e me derrubou. Fletcher tentou correr, mas no momento em que virou, foi agarrado e teve
seu pescoço dilacerado. Eu rastejei freneticamente, procurando me afastar da cena, mas ele veio para cima
de mim.
Ele estava em cima de mim. Face a face, olho no olho. Por alguma razão, percebi que ele não
respirava. Não mostrava o mínimo sinal de fadiga. Mas o tigre percebeu meu olhar de indagação camuflado
meio à minha face de terror.
Mordendo meu ombro, ele me arrastou até um pequeno bosque próximo à minha tenda. Eu desmaiei
de dor.
Ao acordar, ainda era noite. Pessoas ainda gritavam no vilarejo. E eu não estava sozinho. Havia um
homem ao meu lado. Seus traços indianos não escondiam sua naturalidade. Um local, definitivamente. E ele
estava sentado meio a folhas secas, ao meu lado, escutando a gritaria como sendo a coisa mais normal do
mundo.

“Quando o tigre sente fome, nada fica entre ele e sua presa.” Ele me disse.

Olhei para o vilarejo por um segundo e perguntei:

“Para onde ele foi?”

Não houve resposta.


Ao olhar para onde o homem estava, não havia mais nada. Nesse momento, senti uma mão
extremamente forte segurando minha cabeça e uma dor enorme no pescoço. Tentei gritar, mas o som não
saía. Em alguns segundos, a dor se transformou em um prazer enorme. Uma sensação a qual, nem mesmo
as melhores dançarinas com quem já dormi me deram. Senti todo meu corpo formigar. Perdi todas as
minhas forças em menos de um minuto. Ele me soltou.
Estava caído no chão novamente. Já não estava ouvindo bem; os gritos pareciam sussurros distantes.
Minha vista estava turva. Eu estava sem forças.
O homem se ajoelhou ao meu lado, pegou minha mão e disse:

“Há seres mais poderosos do que você jamais sonhou nesse mundo. Alguns dos quais protegem a
natureza. Eu sinto em você um amor animal, pronto para explodir. Você tem um dom. Eu, Jamul Rhadja, lhe
ofereço a chance de despertar esse dom e caminhar com os soberanos. No entanto, há um porém...”
Ele fez uma pausa. Eu estava muito fraco para perguntar ‘o que’, então ele simplesmente continuou.

“Você jamais poderá caminhar à luz do dia. Isso o matará. E você se alimentará para sempre do
sangue das pessoas que encontrar. Esse é o preço que a humanidade deve pagar pela destruição do meio
natural. Encare isso como um dever. Seu dever, como guardião e amigo da natureza. Você pode optar por
esse caminho, ou perecer aqui e cair para sempre no esquecimento do mundo dos mortais. Qual o seu
caminho?”
Eu pensei por alguns segundos. Não temia a morte, nunca temi. Só não queria que acabasse desse
jeito. Havia tantas coisas que eu gostaria de fazer, tantos lugares que eu gostaria de ver...
Então, consegui sussurrar “quero mais uma chance.”
Jamul mordeu meu pulso. Aquela sensação novamente. Desmaiei.
Logo senti algo em minha boca, gotas, gosto de sangue. Elas desceram pela minha garganta e senti
como se elas me queimavam por dentro. Não estava mais encostado na árvore. Já estava deitado no chão
de terra e folhas secas.
Abri meus olhos e pude ver Jamul me olhando, em pé, lambendo seu pulso. Então, algo começou a
acontecer: senti como se meu órgãos estivessem sendo esmagados um a um, queimava, ardia, doía muito.
Inconscientemente, eu me debatia no chão, até o momento em que a dor começou a diminuir. Minha vista
começou a se apagar, e depois já não havia mais dor. Não via nada. Silêncio.
Então, um ponto de luz se acendeu. Me senti atraído por ele. Aproximei-me e ele aumentou. A medida
que me aproximava, sentia mais calor. Podia ouvir melodias e vozes, e de repente, algo me puxou. Senti
como se estivesse caindo da cama enquanto dormia. O foco de luz se apagou. Meus olhos se abriram.
Eu estava ouvindo, farejando, tocando, sentindo um mundo como eu nunca sentira antes. Eu também
estava incontrolavelmente faminto.

“Levante-se e veja o mundo com seus novos olhos. Olhos de vampiro.”

E assim eu fiz.

“Sinta o cheiro de sangue vindo dos vilarejos.”

Eu sentia.

“Vá e se alimente, eu estarei aqui.”

E eu fui. Em um frenesi incontrolável eu matei. Me alimentei de pessoa após pessoa. Casa após casa.
Vila após vila.
Os aldeões estavam mortos. Os marinheiros, mortos. Meu próprio pai, morto.
Após a matança, a razão veio a mim. Gritei em pânico. Queria chorar, mas as lágrimas não vinham.
Eu era uma besta. Um demônio. Eu deveria ter morrido. Eu estava com ódio.
Vi Jamul se aproximando por entre os corpos na vila central. Corri em sua direção com minhas mãos
em direção ao seu pescoço. Não sabia exatamente porque, mas ele gostou. Rolamos em meio aos
destroços e corpos ensangüentados, e quanto mais eu tentava destruí-lo, mais ele ria, como um cachorro
brincando com seu filhote.
Em um certo ponto ele se levantou e me segurou. Foi extremamente rápido. Mal consegui vê-lo.

“Você não é forte o suficiente para me machucar, meu jovem. Mas um dia será.”
“Você me transformou em um monstro, seu maldito!” Repliquei.
“Monstro? Haha. Monstro são eles!” Apontou para os corpos humanos.
“Cada árvore que eles cortam, cada área incendiada para construções de casas e cada raposa que
caçam por esporte, é um pedaço nosso que morre.”

Ele disse isso com um certo ódio, como se realmente encarava esses fatos como uma ofensa
pessoal.
Percebi então que estávamos sendo rodeados. Um, dois, quatro, seis tigres e tigresas grandes e
fortes. Ele ainda me segurava. Me sentia forte, mas mesmo assim não conseguia abrir seus braços e
escapar.

“Você é um dos nossos agora. Caminhe conosco, cace conosco, viva conosco, e eu lhe ensinarei o
que precisa saber para seguir seu caminho solitariamente, se assim desejar. Do contrário, deixarei você
aqui, a mercê do destino, e tenho certeza que nesse lugar, sozinho você não sobreviverá ao segundo dia.”

Ele tinha razão. Já havia atravessado a porta e não havia nada que eu pudesse fazer para mudar a
situação. Não recebi uma educação acadêmica, mas meus pais me ensinaram a ser sensato. Relaxei, e,
percebendo isso, Jamul me soltou. Os tigres e tigresas que estavam em volta se aproximaram e lamberam
minha mão, um a um, como em um ritual de boas vindas. Me senti levemente confortável.

“E o que faremos agora?” Perguntei.


“Caminhe conosco, e eu lhe ensinarei o que precisa saber sobre sua nova vida.”

E assim foi. Ele me ensinou muitas coisas aquele mês. Como caçar, lugares bons para dormir,
técnicas de sobrevivência, o que nos fere, o que ferimos, me falou sobre as maldições de Caim, os clãs,
nosso clã, me ensinou a lutar e a encarar e usar meus medos como aliados.
No segundo mês, me ensinou sobre as seitas. Me falou da Camarilla: como funciona, suas tradições e
a mais importante dentre elas: a Máscara, que consiste em não revelar minha verdadeira natureza aos que
não sejam ‘do sangue’. Me falou do Sabá. O que acreditam, e o por que são totalmente opostos à Camarilla.
Também me explicou sobre os ‘sem rumo’, como ele disse. Clãs que não pertencem nem à Camarilla, nem
ao Sabá. Dentre esses ‘independentes’ como eu os chamei, é aonde nossa família, os Gangrel, se
encontram. No entanto, é possível encontrar alguns Gangrel filiados à Camarilla e, até mesmo, no Sabá.
No terceiro mês, me explicou sobre nossas habilidades de clã. Que poderes o sangue Gangrel trazia.
Aprendi a entender e controlar esses poderes e alguns outros conhecimentos caíram na minha mão com o
passar dos anos, como a existência dos lupinos e como alguns do nosso clã se relacionam com eles.
Quando eu havia percebido, os anos haviam se tornado décadas.
Em 1913, quase um século caminhando pelas trevas, eu estava em Sarajevo, na Sérvia. Como eu
havia aprendido, a Camarilla, apesar de suas falhas e intrigas internas, era uma boa maneira de se manter
de certa forma ‘seguro’ contra ataques de outros membros. Então, havia me apresentado ao príncipe local.
Tudo estava bem até então.
As coisas começaram a dar problema, quando o príncipe da Camarilla na Bósnia ordenou que eu
assassinasse um príncipe mortal que visitaria o país. Não questionei seus motivos, e nem um outro membro
teve peito o suficiente para tal. Então mandei um de meus servos da época realizar o feito.
O assassinato do príncipe Francisco Ferdinando, do império Austro-Húngaro foi executado com
sucesso. O meu servo, como previsto, foi preso. Porém, consegui soltá-lo alguns dias mais tarde e executa-
lo sem que ninguém soubesse.
O plano foi um sucesso. Ganhei uma posição de renome pela minha atitude perante a Camarilla local.
Na semana seguinte, o império Austro-Húngaro descobriu que meu servo havia sido solto. Então, no
dia 28 de julho de 1914, sentindo-se injustiçado, o império declarou guerra à Sérvia. A primeira guerra
mundial havia começado.
Já matei muitos em toda a minha existência, mas nada se comparou a tamanha selvageria. Foi a pior
guerra de que eu já ouvi falar e, o pior: eu havia ativado o estopim.
Com peso na consciência e buscando um pouco de paz, fui para Portugal. Lá fiquei até o final da
guerra em 1917, quando parti para a Tchecoslováquia, recém formada pela união dos Tchecos com seus
vizinhos, os Eslovacos, remanescentes do império Austro-Húngaro. Parti para lá na esperança de me redimir
com minha própria consciência. Por lá fiquei vinte anos, ajudando no que eu podia para a reconstrução da
região.
Em 1935 eu havia retornado à Inglaterra. Há mais de um século não pisava em terras inglesas e as
coisas haviam mudado consideravelmente. Tomei minha parte dos bens de minha família, que hoje me
rendem um retorno razoável. Por meios legais e utilizando algumas pessoas manipuláveis, obviamente.
Lia-se nos jornais sobre um homem, chamado Adolf Hitler. As notícias diziam que a Alemanha (sob
seu comando) estava investindo altamente na indústria bélica, coisa que o Tratado de Versalhes proibia.
Outro homem com a mesma atitude surgiu nos jornais. Benito Mussolini era seu nome, mas esse armava a
Itália.
Eu estava tenso em 1938. Estava claro o bastante que os povos que perderam a primeira guerra
mundial queriam uma revanche. Infelizmente, os sinais foram ignorados, até que em 1939 os Alemães
invadiram a Polônia.
De imediato, a Inglaterra e França declararam guerra à Alemanha. Eu estava farto de banhos de
sangue por questões idiotas. Parecia que o mundo antigo estava se destruindo. Então, resolvi partir para o
‘novo mundo’ (que, em contextos históricos, já não era tão novo assim). Peguei um navio, e parti para uma
cidade chamada Santos, no Brasil.
Meu português estava péssimo, e descobri que o dialeto de Portugal era motivo de chacota para os
Brasileiros. Esforcei-me para pegar a língua local e o melhor meio que achei, foi ir para o interior. Cheguei na
cidade de Piracicaba em 1940. Apresentei-me para o príncipe local, conhecido apenas por Sir Marques. Um
almofadinha com o qual não quis me envolver muito.
A guerra na Europa havia acabado em 1945, e foi o ano em que Sir Marques deixou o principado de
Piracicaba para cuidar de seus ‘assuntos particulares’. Eu não me importava. Príncipe Jeremy Tyler assumiu
seu lugar.
Durante décadas, meus assuntos se resumiram em: cuidar do meu território pessoal de caça, minha
pequena fazenda com alguns servos, minhas finanças e relações pessoais (quando realmente me
importavam). Participava ocasionalmente das reuniões da Camarilla local, já que não havia muitos assuntos
que me interessassem para serem discutidos.
No entanto, em Janeiro de 2000, as coisas começaram a mudar. A população vampírica havia
aumentado consideravelmente. No início ninguém realmente se importou, até que mortais demais
começaram a desaparecer. A máscara começou a ser quebrada constantemente. Membros mais velhos
estavam comentando sobre uma possível ação Sabá na região. Investigações eram feitas, mas nada se
conseguia. Às vezes, alguns membros desapareciam no processo.
Decidi que as coisas estavam perigosas. Eu, já estando de saco cheio de derramamentos de sangue
por questões fúteis, achei melhor me mudar.
Havia um cara que eu confiava bastante e que sei que também confiava em mim. Chris. Um Toreador
de boas influências e bom caráter, por incrível que pareça. Possuíamos certa ‘aliança’, relacionada à ajuda
mútua: ele me ajudava com alguns recursos e influências extras, e eu o mantinha fora de confusão. Quando
decidi cair fora, lembrei-me de que havia conhecido um irmão de sangue em uma de minhas caçadas, que
residia e ocupava o cargo de Xerife da Camarilla na cidade de Americana. Já tinha um lugar para ir.
Chamei Chris e contei do plano de fuga. Também envolvi alguns outros e organizamos uma incursão
para Americana, com a ajuda da Srta. Sophie, uma Toreadora influente na área de transportes.
Achei que os problemas haviam acabado. Doce ilusão. O principado de Americana havia passado por
maus bocados devido à superlotação e os membros estavam tentando reestruturar o que havia sobrado.
Logo na primeira reunião já saiu o boato de que os caçadores haviam se infiltrado na cidade. Lógico, com o
aumento contínuo de humanos morrendo, era uma questão de tempo para que eles aparecessem. Mas eu
estava cansado de fugir. Dessa vez, resolvi ficar a todo custo.
Hariel Cruz e Espada. Esse era o nome mais sussurado na noite. Devido ao pequeno número de
caçadores trazidos em sua companhia, um a um nossos membros foram sendo caçados. E difícil era
rastrea-los para tentar prever onde agiriam depois.
Comecei a patrulhar a região, principalmente minhas fronteiras pessoais e a de meus poucos aliados
de confiança. Também descobri lupinos habitando a área, e fui designado para patrulhar as fronteiras entre
nosso território e o deles. Precisei de reforços, mas esses nunca chegaram. Chris caiu e Sophie foi logo
atrás.
Um grande amigo meu que havia ficado um pouco a mais em Piracicaba, disse que as coisas
estavam semelhantes por lá e que tentaria sair do país naquela semana. Raphael foi pego em seu refúgio,
antes de terminar de arrumar suas coisas.
Diante ao caos, príncipes da região se reuniram e decidiram silenciar todos os membros, causando a
falsa ilusão de que os caçadores haviam saído vitoriosos. Ainda me pergunto até que ponto isso foi ilusão.
O “silêncio” durou uns dois anos. Com muitos de nós agindo por debaixo dos panos, as baixas
diminuíram. Mas havia dois problemas: Os caçadores não morderam a ísca e, com as paredes derrubadas,
o Sabá finalmente começou a aparecer. Com isso, os caçadores voltaram a fazer o que fazem melhor.
Matar-nos.
Como se os problemas já não fossem o suficiente, alguma coisa deixou os lupinos loucos. Ouvi um
nome. “O Arauto de Hades”. Tremeres diziam que os caçadores estavam por trás. Seja lá do que se tratava,
isso levou os lupinos a nos estraçalhar. Adivinha quem foi jogado para segura-los? Nós, Gangreis.
Xerife Le Van falava que eles comentavam sobre “a guerra final” ou algo assim, mas não sobreviveu
tempo suficiente para realmente enterder do que se tratava.
Eu assumi os membros locais, mas nosso clã estava fraco demais. A Camarilla, de modo geral, estava
totalmente falha.
Em uma atitude desesperada, alguém veio com a idéia de atrair Hariel e seus agregados para o mais
longe possível da região. Não participei da operação (estava ocupado demais mantendo os poucos de nós
que haviam sobrado vivos). Mas sei do resultado final. Alguém, um dos nossos membros de influência, se
aliou ao Sabá e fomos traídos. Houve um massacre e o corpo de Hariel jamais foi encontrado.
A guerra continuou, levando primeiro os mais fracos. Alguns dos mais velhos também caíram, uns
poucos conseguiram fugir para longe. Somente um dos anciões que ficaram e lutaram permaneceu vivo.
Máximus Krácius.
Durante os últimos cinco anos, houve quase nada próximo do que eu possa chamar de organização.
Krácius manteve alguns sob segurança, enquanto eu ajudava a observar a movimentação de quem fosse
necessário. Com algumas pequenas equipes de membros mais novos, conseguíamos, às vezes, prever
alguma coisa.
A situação atual, no entanto, é delicada. Precisamos de mais membros, e Krácius concorda. Não
sabemos quando a próxima bomba pode explodir, mas teremos uma chance. Pequena, mas uma chance.
Para isso, é necessário reestruturação. E para a reestruturação, precisamos de membros. Novos, ou não.
Durante as últimas semanas, vim observando uma mulher. Solteira, 23 anos e formada em biologia.
Pai e mãe mortos em um acidente de carro quando tinha 16 anos. Foi criada pela avó até esta falecer ano
passado.
É uma mulher cuja única paixão na vida é cuidar de um casal recém nascido de tigres no parque
ecológico de Americana. Achei a minha pupila perfeita.
Ela estava indo acampar este fim de semana. Eu a segui até a cidade de Brotas. Ela estava com mais
uma amiga e dois rapazes. Enquanto os rapazes acendiam a fogueira, eu observava as damas conversando
sobre perfume e flores de dentro da pequena mata atrás da área de camping.
Algumas horas se passaram enquanto os quatro, em volta da fogueira, se aqueciam naquela noite de
inverno. Então, a mulher que eu observava declarou que estava indo dormir. Eu aproveitei e,
sorrateiramente, entrei em sua barraca, esperando na penumbra em um dos cantos.
Ela entrou. Nem percebeu minha presença. Deitou-se.
Rapidamente fui para cima dela, tampando sua boca e mordendo seu pescoço. Ela gruniu por alguns
segundos, depois relaxou e desmaiou.
Abri a barraca, e cuidadosamente, a tirei de lá em meus braços. Os outros estavam entretidos demais
com suas conversas em meio a goles. Segui para uma pequena gruta que havia encontrado no dia anterior.
Ao chegar lá, ela estava acordando. Cansada. Impossibilitada de se mover ou falar.
Agora, você já sabe o resto. Neste momento, existem duas portas à sua frente.
Há seres mais poderosos do que você jamais sonhou nesse mundo. Alguns dos quais protegem a
natureza. Eu sinto em você um amor animal, pronto para explodir. Você tem um dom. Eu, Logan Sinclair, lhe
ofereço a chance de despertar esse dom e caminhar com os soberanos. No entanto, há um porém...

Fim

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