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Sombras do passado: O despertar do cavaleiro

amaldiçoado

Nasci de uma humilde família em Korvos, um pequeno vilarejo ao sul do


grande reino de Ragnar. Minha mãe ficava em casa e meu pai cuidava de
ovelhas com a ajuda de meus irmãos mais velhos, exceto um, Thakhuminus,
que foi para o reino de Ragnar para tentar tornar-se um cavaleiro real. Ele e eu
erámos muito próximos, com sua partida minha infância ficou solitária. Apesar
disso, toda noite meu pai contava algum ensinamento ou provérbio para mim
a fim de que eu me sentisse mais conformado. Uma noite, enquanto
observávamos as estrelas no céu, ele me contou sobre a história do elfo
Eudariun, que surgiu dos céus em um asteroide. Ele viveu no vilarejo de Korvos
por duas gerações humanas após ser acolhido pela minha linhagem. Sempre
sorridente, ajudava todas as pessoas de lá, era considerado mandado por um
deus para trazer paz ao mundo. Porém, o que parecia ser a salvação, se
transformou numa chacina.
Meu tetravô sobreviveu para que a história do elfo chegasse a mim naquela
noite com detalhes sobre o sangue, os gritos, a destruição das famílias e do
silêncio doloroso após todo o terror. Meu pai repetia a história como se ele
mesmo tivesse visto o sangue refletido nas estrelas, pois seu tom de voz me
transmitiu preocupação sobre o paradeiro do elfo, e ela permaneceu em
minha memória por anos.
Quando fiz 15 anos, decidi que não desejava ser um pastor como meu pai,
queria ser importante para o mundo de forma defensora e não passiva, quis
fazer como meu irmão e me tornar um cavaleiro de Ragnar. Enviei cartas para
Thakhuminus, que me clareou a cabeça ao dizer que se eu quisesse me tornar
um cavaleiro, precisava agir como um. Então treinei todos os dias com uma
espada, feita pelo ferreiro do vilarejo, até os meus 18 anos quando eu
finalmente estava pronto para partir. Fui em direção de Ragnar carregando
apenas a benção de meus pais e a comida preparada carinhosamente por
minha mãe.
Fui roubado por ladrões no caminho na cidade Peixe-Bolha, me esfaquearam e
me deixaram largado no pântano. Fiquei horrorizado, meus olhos se encheram
de lágrimas, meu último pensamento antes de apagar totalmente foi de que
esse seria meu fim. Sem saber quanto tempo se passou, acordei em uma
casinha no meio do nada, sozinho e sem ferimentos aparentes. Não havia
respostas ou alguém para eu perguntar o que tinha acontecido, então
continuei meu caminho rumo a Ragnar. Sem comida e roupas, fui obrigado a
conseguir um trabalho como ajudante de um velho chamado Érebo, era um
trabalho simples, eu limpava os peixes que ele pescava e vendia no mercado e
com os trocados que recebia, esperava conseguir me estabelecer com dinheiro
e comida para seguir viagem.
Érebo era um velho estranho, ele era bonzinho demais, sempre sorrindo.
Faltavam algumas moedas de ouro para eu comprar tudo que precisava para ir
para Ragnar, não podia desistir. Estava vendendo os últimos peixes, quando a
mesma gangue apareceu. O velho não estava comigo, não queria deixar que
levassem os peixes e o meu dinheiro, então tentei revidar. Eles eram em cinco
então é claro que eu fui roubado e surrado novamente. Me deixaram no chão,
imóvel. Logo depois o velho apareceu e me ajudou a levantar. Me colocou na
carroça e me levou até sua casa. Era o mesmo lugar onde acordei da última
vez. O Velho quem me salvou afinal. Me explicou que aquela gangue se
chamava fu masayoshi e era famosa por assassinar e roubar todos que
passavam pelo caminho deles e que eu tinha sorte de estar vivo. Antigamente,
os membros da Fu eram caridosos membros da comunidade, mas algo
aconteceu com cada um, como se tivessem sidos tomados pelo caos. Contou
sobre ter me encontrado e trazido para sua humilde casa. Agora eu estava sem
nada, precisava trabalhar novamente para continuar minha jornada, pelo
menos o tempo não era problema, já que o Érebo iria para a cidade grande
comprar equipamentos de pesca e me deixou ficar na casa dele enquanto
estava fora.
Mandava cartas sempre para meus pais, até um momento em que as cartas
haviam parado de chegar. Não conseguia mais dormir a noite, passava-as
chorando, com saudade de casa e de meus pais, principalmente agora. Estava
transportando a carroça com os peixes quando um homem, com queimaduras
por todo corpo, lágrimas nos olhos e tropeçando nas próprias pernas, gritou
“KORVOS!!! FOI UM MASSACRE!!! Parei o que estava fazendo e corri até ele
“Do que está falando???sou de Korvos, Me... Meus pais estão lá!!! Nisso, ele
não aguentava mais ficar de pé, caiu no chão, segurou meu ombro forte e deu
seu último suspiro dizendo "Garoto, sinto muito". Tudo ficou mais lento, no
momento em que tocou meu ombro, pude ver o vilarejo em chamas, os gritos
das mulheres e crianças, mas principalmente, um ser de cabelos longos e
pretos, ensanguentado, segurando cabeças decepadas em cada mão, rindo.
Era Eudariun. Não consegui me conter, cai de joelho, e em prantos gritei tanto
que minha garganta estourou, apaguei.

Acordei, virou rotina, parecia que aquele velho me observara, novamente


estava em sua casa no pântano. Fiquei na cama durante semanas, sem
conseguir dizer uma palavra. Eu não era mais o mesmo. O velho viu meu
estado e tentou me animar, pois sabia que eu queria ir para Ragnar e me
tornar um cavaleiro, por isso disse que poderia me ajudar e que se escutasse
ele, eu seria o cavaleiro mais jovem de Ragnar. Meus pais não iriam querer que
eu desistisse, então aceitei a proposta dele, mas não sabia que sofreria tanto.
O olhar do elfo mudou completamente, uma sombra verde tomou meu corpo,
não conseguia respirar e sentia como se estivesse queimando por dentro.
Quando tudo acabou, várias sombras apareceram em minha frente, sombras
iguais a mim, porém, atrás das sombras estava Eudariun. As sombras entraram
pela minha boca e senti um imenso poder dentro de mim, mas principalmente
uma vontade de causar o caos. Com isso, Eudariun desapareceu e surgiu em
minha cabeça todas suas memórias até esse momento, vi que ele foi
corrompido e que realmente não era mal. Na verdade ele foi enviado pela
deusa da alegria para salvar todas as raças de uma ameaça que estava por vir,
mas o deus do caos Ylabel, sabendo dos planos de Sylvia, inverteu a situação
para os realmente puros, incluindo Eudariun, que nunca mais foi o mesmo. Foi
ele quem fundou os Fu Masayashi, foi ele quem mandou me atacar. No final
ele só queria brincar com minha vida, me testar para ver até onde minha
bondade e senso de justiça iriam. Só havia ódio e destruição em sua cabeça, o
que causou tudo que ouvi e presenciei até agora e realmente, de alguma
forma, eu entendia ele e tudo o que fez, não sei o porquê, apenas parecia o
certo em minha cabeça. Já recuperado, fui em direção a Ragnar, porém minha
cabeça estava tão distorcida que não sabia, mas distinguir o certo e o errado,
era como se as memórias de Eudariun tivessem se fundido em mim, me
tornando um só com os pensamentos intrusivos dele. Seu poder dentro de
mim estava ficando mais forte, acabei por roubar alguns homens que
passavam no caminho a cidade grande, o que foi o suficiente para me manter
até chegar a Ragnar.

O dia do teste para me tornar um cavaleiro finalmente chegou. Ragnar era


exatamente como Thakhuminus descreveu em suas cartas, com várias raças,
muitas delas que nunca havia visto na vida. Chegando no teste, percebi que se
parecia com um torneio, todos da cidade vão anualmente ver a convocação do
novo cavaleiro. Basicamente ele seria composto de 3 etapas, sendo elas,
manuseio de armas leves, pesadas e as eliminatórias. Com minha nova
habilidade passei facilmente pelo manuseio de armas e venci a final das
eliminatórias, contudo, ainda não havia acabado. O último teste, o teste
surpresa, seria batalhar contra um dos cavaleiros reais. Quando entramos em
campo de batalha, vi que se tratava de meu irmão, fiquei feliz em vê-lo e poder
ter a honra de desafiá-lo. Nunca esquecerei o que aconteceu a seguir.
Eudariun, que havia ficado ausente durante todo o teste, aproveitou este
momento. Sombras apareceram em minha frente, meus olhos brilhavam, não
demorou muito para que o caos me tomasse e com sangue nos olhos
assassinei a sangue frio meu irmão favorito, que sempre foi minha maior
inspiração e só estava lá para ficar perto dele novamente. Passei com êxito e
me tornei um cavaleiro. TUDO EM VÃO. Meus pais e meus irmãos, minha
família, todos mortos! Me entreguei ao senso destrutivo de Eudariun.

Ele passou a me controlar para conseguir causar o máximo de mortes,


deixando esposas viúvas, filhos órfãos, famílias com diversas sequelas, tudo
isso sem deixar suspeitas. Anos se passaram e continuei sendo um fantoche
daquele elfo, que me forçou a me tornar o carrasco da prisão de Morky. Lá
havia tanto ladrão de migalhas, quanto pessoas que cometeram crimes
pesados, como os meus. Depois de muito tempo sendo controlado, percebi
que havia algumas brechas em que Eudariun não podia me controlar e meus
verdadeiros sentimentos transbordavam em mim, brechas essas que ocorriam
pelo fato dele estar ocupado destruindo algumas vidas. Fiz amizade com um
dos presos, Ur, um mago que foi preso injustamente. Ele era muito carismático
e nos momentos em que eu estava sã, pude ouvir grandes histórias suas, me
lembrava Thakhuminus. Ele me fez ter vontade de viver novamente e lutar
pela minha vida, me deu uma saída.

Bolamos um plano para ele tirar minha maldição, pois foi ele quem a criou,
mas foi usada por pessoas mal-intencionadas. Consegui tirá-lo de lá com a
chave mestra que roubei da sala do guardião das chaves, depois de tantos
roubos em nome de Eudariun, aquilo foi fichinha. Saímos ilesos de lá e Ur
conseguiu reverter minha maldição, porém, ela era tão forte que não saiu
totalmente, havendo resquícios daquele elfo em mim. Ur, como alguém
procurado, precisou mudar a aparência e se transformou em um humano
como eu e então partimos em direção a Korph. Ur estava cansado, só queria
viver pacificamente em algum vilarejo, vendendo poções e itens que ele fazia e
encontrava por aí. Eu decidi ir com ele pois não tinha mais para onde ir e ele
era o único laço que eu havia criado há anos. Ficamos por Korph, conseguimos
nos dar bem nas vendas e compramos uma taverna também. Apesar de
restarem partes de Eudariun em mim, encontrei um modo de me acalmar
quando surtava. Esse modo era caçando na floresta. Toda hora que não estava
são, pegava minha rapieira e saia para roubar alguns turistas de Korph(eu
como não sou bobo nem nada, usava uma roupa que cobria meu rosto para
não ser identificado)

Tudo andava bem, até que recebi uma carta com códigos que somente eu e
minha família sabíamos, que foram passados de geração em geração. Não é
possível, THAKHUMINUS ESTÁ VIVO!!!

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