Você está na página 1de 20

PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

MÓDULO: DIREITO DE FAMÍLIA I

TEMA: UNIÃO ESTÁVEL. CARACTERIZAÇÃO. CONTRATO DE UNIÃO


ESTÁVEL. EFEITOS . FAMÍLIAS SIMULTÂNEAS.

Introdução
A união estável sempre foi reconhecida como um fato jurídico e no
mundo contemporâneo assume um papel relevante como entidade
familiar na sociedade brasileira.
A primeira norma a tratar do assunto foi o Decreto-lei 7.036/1944, que
reconheceu a companheira como beneficiária da indenização no caso
de acidente de trabalho de que foi vítima o companheiro.
A Constituição Federal de 1988 veio efetivamente reconhecer, no seu
art. 226, § 3.º, a união estável, nos seguintes termos: “para efeito de
proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a
mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar a sua conversão
em casamento”.
Definição
O Prof. Rodrigo da Cunha Pereira nos dá um conceito de união estável,
como sendo, “a relação afetivo-amorosa entre um homem e uma
mulher, não adulterina e não incestuosa, com estabilidade e

durabilidade, vivendo sob o mesmo teto ou não, constituindo família


sem vínculo do casamento civil”1.
Já para Álvaro Villaça de Azevedo, a união estável é: “A convivência
não adulterina nem incestuosa, duradoura, pública e contínua, de um
homem e de uma mulher, sem vínculo matrimonial, convivendo como
se casados fossem, sob o mesmo teto ou não, constituindo, assim,
sua família de fato”. 2
Complementada pela posição de Francisco Eduardo Orciole Pires e
Albuquerque Pizzolante, que dizem ser “meio legítimo
de constituição de entidade familiar, havida, nos termos estudados,
por aqueles que não tenham impedimentos referentes à sua união,
com efeito de constituição de família”.3

União estável. Caracterização


O Código Civil, em seu artigo 1.723 estabeleceu “É reconhecida como
entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher,
configurada na convivência pública, contínua e duradoura e
estabelecida com o objetivo de constituição de família”.
Assim sendo, entre os elementos fundamentais para o
reconhecimento da união estável são: estabilidade, continuidade da
relação, publicidade, objetivo de constituição de família.
Cumpre ressaltar que o artigo não menciona prazo mínimo de
convivência como critério para caracterização desta entidade familiar,
abandonando de vez o que dispunha a Lei nº 8.791/94.

1
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito das Famílias, 2ª ed. Ed. Forense, 2020.
2
Azevedo, Álvaro Villaça. União Estável, artigo publicado na revista advogado nº 58, AASP, São
Paulo, Março/2000.
3
Pizzolante, Francisco Eduardo Orciole Pires e Albuquerque. União Estável no sistema jurídio
brasileiro. São Paulo: Atlas, 1999.

A união estável é, também, a convivência pública, contínua e


duradoura.
Para Rolf Madaleno: “Dentre os pressupostos de configuração da
união estável está a convivência pública, no sentido de,
preferencialmente morarem juntos, mantendo vida em comum, em
comunhão plena, como para o casamento registra igual exigência o
artigo 1.511 do Código Civil, sob o mesmo teto, à semelhança do
matrimônio, onde a coabitação é dever expresso do casamento,
conforme artigo 1.566, inciso II, do Código Civil, salvo justificadas
exceções”.4
A continuidade da convivência também reflete a sua estabilidade e
seriedade.
A união estável é aquela moldada à semelhança do casamento, na
qual os conviventes têm a indubitável intenção de constituir família.
Por conta disso, devem ser descartadas da configuração de união
estável as hipóteses de simples namoro.
Em seu artigo 1.724, o novo Código Civil estabelece que as relações
entre os companheiros devem se pautar pelos deveres de lealdade,
respeito, assistência, de guarda, sustento e educação dos filhos.
A regulamentação sobre os deveres das relações pessoais entre
companheiros vem tipificada no art. 1.724 do Código Civil, e prevê os
deveres de lealdade, respeito e assistência, guarda, sustento e
educação dos filhos.
De acordo com Euclides de Oliveira se “comparado ao texto do
art. 2º da Lei 9.278/96, nota-se que o CC acrescenta o dever de

4
MADALENO, Rolf. Manual de direito de família / Rolf Madaleno. – 4. ed. – Rio de Janeiro:
Forense, 2022.

“lealdade” entre os companheiros, mantidos os demais deveres


constantes dessa lei” 5.
A lealdade vai além do compromisso de fidelidade afetiva, abrange
um amplo dever de respeito e de consideração devida mutuamente
entre os companheiros, no propósito de perpetuarem a sua relação
afetiva.

Por contrato de convivência na união estável a doutrina de Francisco


José Cahali entende como sendo “o instrumento pelo qual os sujeitos
de uma união estável promovem regulamentações quanto aos
reflexos da relação, que serão tratadas adiante quando analisado o
conteúdo das disposições contratuais entre os conviventes” 6.

Sua finalidade se resume em tratar os assuntos pertinentes às


relações patrimoniais entre as partes que vivem em união estável.
A previsão para realização deste contrato, estipulada no § 2º, do
art. 5º da Lei nº 9.278/96, foi mantida pelo Código Civil de 2002, em
seu artigo 1.725.

Sobre esta matéria, esclarece Rodrigo da Cunha Pereira: “Indagava-


se, com o advento da Lei n. 8.971/94, se era possível estabelecer tais
pactos. Devemos pensar que se as pessoas são livres para
estabelecer pacto antenupcial, da mesma forma, e por analogia,
poderão também preestabelecer os rumos da economia e patrimônio

5
OLIVEIRA, Euclides Benedito de. União estável: do concubinato ao casamento: antes e depois
do novo código civil. São Paulo: Método, 2003.
6
Cahali, Francisco José. Contrato de convivência na união estável. São Paulo: Saraiva, 2002.

dessas relações, sem com isso afrontar a referida Lei. Se há essa


liberdade para fazê-lo no casamento, da mesma forma poderá haver
também para as relações estáveis. Ademais, a Lei n. 9.278, de 16 de
maio de 1996, respondeu de vez essa questão. Mesmo tendo sido
vetados os arts. 3º e 4º, que tratava especificamente de registro de
contratos entre os sujeitos de uma união estável, não há nenhuma
proibição de fazê-lo” 7.

Ao contrário, o art. 5º dessa Lei, em seu caput e § 2º, previu a


estipulação de contratos escritos, até mesmo para estabelecer
disposições contrárias a ela.

Entretanto, cumpre ressaltar que a simples celebração de um contrato


de convivência, não é suficiente para caracterização da união estável.
Para explicitar melhor o tema, ensina Francisco José Cahali:
“Que o contrato de convivência não possui, porém, força para criar a
união estável, e, assim, tem a sua eficácia condicionada a
caracterização, pelas circunstâncias fáticas, da entidade familiar em
razão do comportamento das partes. Vale dizer, a união estável
apresenta-se como condicio juris ao pacto, de tal sorte que, se nela
inexistir, a convenção não produz os efeitos nela projetados” 8.

A eleição de um regime patrimonial, através do contrato de


convivência, define as regras entre o casal, reduzindo as possibilidades
de conflitos e aumentando o seu nível de resolução.

7
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Concubinato e União estável. 9º ed. Saraiva, 2016.
8
CAHALI, Francisco José. Contrato de convivência na união estável. São Paulo: Saraiva, 2002.

É válido relatar que esta modalidade de contrato não exige muitas


formalidades quanto à sua celebração. A única exigência legal é de
que o contrato seja escrito.
No contrato de convivência os companheiros podem dispor de tudo,
desde que não contrariando as normas legais.
Sobretudo, em se tratando de um contrato, como tal deverá observar
as regras e princípios gerais dos contratos para que gere os seus
legais e jurídicos efeitos.
Para o prof. Francisco José Cahali, "além das regras gerais de validade
dos atos jurídicos, por ser uma contratação específica com fim
determinado (regulamentação contratual dos efeitos decorrentes da
união estável), o contrato de convivência submete-se a elementos
essenciais próprios, especialmente considerados que a caracterização
da relação representada requisito essencial de eficácia do pacto" 9.

Nesse sentido o entendimento de Maria Berenice Dias:


“O contrato obrigatoriamente terá efeito retroativo, em relação à exis-
tência da união estável, o que não retroage é o regime de bens quan-
do é eleito outro regime que não seja o da comunhão parcial de bens.
Não há possibilidade de ser atribuído efeito retroativo a regime de
bens mais restritivo, por afrontar direitos já adquiridos. Ou seja, sem
contrato, o regime é da comunhão parcial. Descabido eleger o regime
de separação, desde o início da união".10
É aplicável a união estável as regras da comunhão parcial de bens,
sendo que a jurisprudência reconhece a impossibilidade dos efeitos
retroativos .

9
Ibidem.
10
DIAS, Maria Berenice, Manual de Direito das Famílias. 2021

Para Newton Carvalho: “Famílias paralelas ou simultâneas são as


constituídas por dois ou mais núcleos familiares, com um de seus
membros comuns a ambas, podendo existir tanto no casamento como
na união estável. Portanto, encampando foi nesta família o
concubinato, antigo concubinato impuro” 11.
As famílias simultâneas podem ser conceituadas como composições
familiares, onde o indivíduo demonstra o seu afeto para uma ou mais
pessoas.
Portanto, nas famílias paralelas há dois ou mais núcleos familiares,
com um membro comum. Por isso mesmo rotulada também de
entidades familiares simultâneas. No poliamorismo há ocorrência de
relação afetiva entre todos os seus membros, formando tão somente
uma única célula familiar.
No Brasil vige e sempre vigeu o princípio da monogamia para a as
entidades familiares formadas pelos laços do casamento.
Para Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka: “Os núcleos
concorrentes das famílias simultâneas podem ser representados
através de duas uniões estáveis ou de um casamento e uma união
estável, mas nunca com dois casamentos, o que é tipificado como
crime de bigamia pelo art. 235 do Código Penal”.12

Note-se que os filhos das uniões paralelas não poderão ser


prejudicados, posto a Constituição já ter, no ano de 1988,

11
CARVALHO, Newton Teixeira. https://domtotal.com/artigo/7462/2018/05/sucessao-nas-familias-
simultaneas-paralelas-e-nas-unioes-poliafetivas/
12
HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes; TARTUCE, Flávio. FAMÍLIAS PARALELAS.
VISÃO ATUALIZADA. Revista Pensamento Jurídico, São Paulo, vol. 13, n. 2, jul./dez. 2019.

estabelecido a total igualdade entre eles, tenham eles nascido durante


a constância do matrimônio ou não.

Especialmente na pensão por morte, boa parte dos tribunais tem o


entendimento de que, onde existe o casamento e não houve separação
de fato ou de direito, tem se atribuído o benefício previdenciário apenas
para a relação formal, alegando que o outro relacionamento não possui
intenção de constituir família.13

Renata Miranda Goecks e Vitor Hugo Oltramari defendem o


reconhecimento oficial das uniões paralelas desenvolvidas dentro do
princípio da boa-fé e afirmam que descabe ao Estado negar a realidade
e pretender que a concomitância de relações seja algo distante do
Direito de Família. Ana Carolina Brochardo Teixeira e Renata de Lima
Rodrigues admitem por igual as relações paralelas, conquanto elas
cumpram, reciprocamente, funções familiares na vida uma das outras,
porque o princípio da monogamia, historicamente, está atrelado aos
mandamentos da segurança jurídica e tutela prioritária do patrimônio,
fatores que ficaram em segundo plano no ordenamento brasileiro, que,
na atualidade, prioriza a realização direta da dignidade humana.14

Ressalte-se que na união estável paralela ao casamento sempre


faltarão ao conjunto afetivo os requisitos da fidelidade e da
exclusividade na coabitação.

13
TRF-3 – ApCiv: 00087679520114039999 SP, Relator: DESEMBARGADORA FEDERAL INÊS
VIRGÍNIA, Data de Julgamento: 24/06/2019, SÉTIMA TURMA, Data de Publicação: e-DJF3
Judicial 1 DATA:04/07/2019
14
TEIXEIRA, Ana Carolina Brochardo; RODRIGUES, Renata de Lima. O direito das famílias entre
a norma e a realidade. São Paulo: Atlas, 2010. p. 137.

Além disso, o Supremo Tribunal Federal, na Repercussão Geral 529,


decidiu por maioria, nos termos do voto do relator Ministro Alexandre
de Moraes, vencidos os Ministros Edson Fachin, Roberto Barroso,
Rosa Weber, Cármen Lúcia e Marco Aurélio, negar provimento ao
recurso extraordinário e fixar a seguinte tese: “A preexistência de
casamento ou de união estável de um dos conviventes, ressalvada a
exceção do artigo 1.723, § 1°, do Código Civil, impede o
reconhecimento de novo vínculo referente ao mesmo período, inclusive
para fins previdenciários, em virtude da consagração do dever de
fidelidade e da monogamia pelo ordenamento jurídico brasileiro”.

Constituição Federal – principal artigo: 226, §3º.


Código Civil –arts. 1.511,1. 521 inciso VI, 1.639, 1.723 a 1.727, 1.790
inciso III, 1829, inciso III e 1838.
Resolução 175 CNJ

PROCESSO
REsp 1916031 / MG
RECURSO ESPECIAL
2021/0009736-8
RELATOR(A)
Ministra NANCY ANDRIGHI (1118)
ÓRGÃO JULGADOR
T3 - TERCEIRA TURMA
DATA DO JULGAMENTO

03/05/2022
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 05/05/2022
EMENTA
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DE FAMÍLIA. AÇÃO DE RE-
CONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁ-
VEL CUMULADA COM PARTILHA. OMISSÃO E ERRO DE FATO.
INOCORRÊNCIA. ERRO DE FATO QUE, AINDA QUE EXISTENTE,
NÃO FOI DECISIVO AO RESULTADO DO JULGAMENTO. ACÓRDÃO
SUSTENTADO EM OUTROS FATOS E PROVAS. ALEGADA UNIÃO
ESTÁVEL PARALELA AO CASAMENTO. PARTILHA NO FORMATO
DE TRIAÇÃO. INADMISSIBILIDADE. RECONHECIMENTO DA UNIÃO
ESTÁVEL QUE PRESSUPÕE AUSÊNCIA DE IMPEDIMENTO AO
CASAMENTO OU SEPARAÇÃO DE FATO. PARTICULARIDADE DA
HIPÓTESE. RELAÇÃO INICIADA ANTES DO CASAMENTO DO PRE-
TENSO CONVIVENTE COM TERCEIRA PESSOA E QUE PROSSE-
GUIU NA CONSTÂNCIA DO MATRIMÔNIO. PERÍODO ANTERIOR
AO CASAMENTO. UNIÃO ESTÁVEL RECONHECIDA. PARTILHA
NOS MOLDES DA SÚMULA 380/STF, EXIGINDO-SE PROVA DO ES-
FORÇO COMUM. PERÍODO POSTERIOR AO CASAMENTO.
TRANSMUDAÇÃO JURÍDICA EM CONCUBINATO IMPURO. SOCIE-
DADE DE FATO CONFIGURADA. REPERCUSSÃO PATRIMONIAL
RESOLVIDA SOB A ÓTICA DO DIREITO OBRIGACIONAL. PARTILHA
NOS MOLDES DA SÚMULA 380/STF, TAMBÉM EXIGIDA A PROVA
DO ESFORÇO COMUM. CIRCUNSTÂNCIAS NÃO APURADAS PE-
LAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. REMESSA DAS PARTES À FASE
DE LIQUIDAÇÃO. POSSIBILIDADE.
1- Ação proposta em 16/05/2016. Recurso especial interposto em
03/02/2020 e atribuído à Relatora em 03/02/2021.

2- Os propósitos do recurso especial consistem em definir se: (i) houve


erro de fato ou omissão relevante no acórdão recorrido; (ii) se, na hipó-
tese de união estável em que um dos conviventes é casado com ter-
ceiro (união estável concomitante ao casamento), é admissível a parti-
lha no formato de triação.
3- Conquanto o acórdão recorrido realmente não tenha examinado o
alegado erro de fato, não há que se falar em omissão na hipótese em
que o erro de fato, ainda que reconhecido como existente, não é deci-
sivo para o resultado do julgamento, uma vez que o acórdão recorrido
está assentado também em outros fatos e provas e o fato erroneamen-
te considerado não foi determinante para a conclusão obtida. Prece-
dentes.
4- É inadmissível o reconhecimento de união estável concomitante ao
casamento, na medida em que àquela pressupõe a ausência de impe-
dimentos para o casamento ou, ao menos, a existência de separação
de fato, de modo que à simultaneidade de relações, nessa hipótese,
dá-se o nome de concubinato. Precedentes.
5- Na hipótese em exame, há a particularidade de que a relação que se
pretende seja reconhecida como união estável teve início anteriormen-
te ao casamento do pretenso convivente com terceira pessoa e pros-
seguiu por 25 anos, já na constância desse matrimônio.
6- No período compreendido entre o início da relação e a celebração
do matrimônio entre o convivente e terceira pessoa, não há óbice para
que seja reconhecida a existência da união estável, cuja partilha, por
se tratar de união iniciada e dissolvida antes da Lei nº 9.278/96, deverá
observar a existência de prova do esforço direto e indireto na aquisição
do patrimônio amealhado, nos termos da Súmula 380/STF e de prece-
dente desta Corte.
7- No que se refere ao período posterior à celebração do matrimônio,

aquela união estável se transmudou juridicamente em um concubinato


impuro, mantido entre as partes por 25 anos, na constância da qual ad-
veio prole e que era de ciência inequívoca de todos os envolvidos, de
modo que há a equiparação à sociedade de fato e a repercussão pa-
trimonial dessa sociedade deve ser solvida pelo direito obrigacional, de
modo que também nesse período haverá a possibilidade de partilha
desde que haja a prova do esforço comum na construção patrimonial,
nos termos da Súmula 380/STF.
8- Ausente menção, pelas instâncias ordinárias, acerca da existência
de provas da participação direta ou indireta da recorrente na constru-
ção do patrimônio, sobre quais bens existiriam provas da participação e
sobre quais bens comporão a meação da recorrida, impõe-se a remes-
sa das partes à fase de liquidação, ocasião em que essas questões de
fato poderão ser adequadamente apuradas.
9- Recurso especial conhecido e parcialmente provido, a fim de julgar
parcialmente procedente o pedido para: (i) reconhecer a existência
de união estável entre 1986 e 26/05/1989; (ii) reconhecer a existência
de relação concubinária impura e sociedade de fato entre 26/05/1989 e
2014, devendo a partilha, em ambos os períodos e a ser realizada em
liquidação de sentença, observar a necessidade de prova do esforço
comum para a aquisição do patrimônio e respeitar a meação da recor-
rida, invertendo-se a sucumbência.

PROCESSO
REsp 1963885 / MG
RECURSO ESPECIAL
2021/0243045-2
RELATOR(A)
Ministra NANCY ANDRIGHI (1118)

ÓRGÃO JULGADOR
T3 - TERCEIRA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
03/05/2022
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 05/05/2022
EMENTA
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DE FAMÍLIA. AÇÃO PRINCI-
PAL DE ALIMENTOS, RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO
DE UNIÃO ESTÁVEL E PARTILHA DE BENS. AÇÃO DE OPOSIÇÃO.
PRETENSÃO DE RECONHECIMENTO DA PROPRIEDADE SOBRE
IMÓVEL QUE SE PRETENDE SEJA PARTILHADO ENTRE OS CON-
VIVENTES. PEDIDO DE IMISSÃO NA POSSE. POSSIBILIDADE. DE-
CORRÊNCIA LÓGICA DO ACOLHIMENTO DO PEDIDO FORMULA-
DO NA OPOSIÇÃO. INEXISTÊNCIA DE DISCUSSÃO SOBRE DIREI-
TO POSSESSÓRIO, A SER TRATADA EM AÇÃO AUTÔNOMA. IN-
TERVENÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. INTERESSE DE INCAPAZ.
INOCORRÊNCIA. MERO INTERESSE INDIRETO OU MEDIATO DO
INCAPAZ QUE NÃO É LEGITIMADO A FIGURAR COMO PARTE OU
INTERVENIENTE NO PROCESSO. DISCUSSÃO RESTRITA À PAR-
TILHA DE BENS ENTRE OS GENITORES. AUSÊNCIA DE DIREITO
PRÓPRIO DO INCAPAZ. SENTENCIAMENTO DA OPOSIÇÃO PRE-
VIAMENTE E EM SEPARADO DA AÇÃO PRINCIPAL. POSSIBILIDA-
DE. AUSÊNCIA DE RISCO DE DECISÕES CONFLIANTES. DESNE-
CESSIDADE DA PRÁTICA DE ATOS PROCESSUAIS CONJUNTOS.
INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO DA FAMÍLIA. NECESSIDADE DE EXA-
ME DE DIREITO LOCAL. SÚMULA 280/STF. DIREITO DE RETEN-
ÇÃO DA COISA POR BENFEITORIAS. MATÉRIA NÃO SUSCITA NA
CONTESTAÇÃO À OPOSIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE EXAME.

PRECLUSÃO. QUESTÃO A SER EXAMINADA EM AÇÃO PRÓPRIA.


GRATUIDADE JUDICIÁRIA. DEFERIMENTO À LUZ DOS FATOS E
PROVAS DA CAUSA. IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME.
1- Ação proposta em 10/04/2018. Recurso especial interposto em
15/04/2021 e atribuído à Relatora em 31/08/2021.
2- Os propósitos recursais consistem em definir: (i) se haveria impedi-
mento à oposição na hipótese em que o opoente pleiteia a imissão na
posse no imóvel que é objeto da controvérsia; (ii) se seria necessária a
intervenção do Ministério Público na hipótese em que reside incapaz no
imóvel em disputa na oposição; (iii) se seria admissível o julgamento da
oposição antecipadamente e em sentença distinta da que seria proferi-
da na ação principal; (iv) se o juízo da vara de família seria competente
para apreciar a oposição proposta incidentalmente à ação principal de
alimentos, reconhecimento e extinção de união estável e partilha de
bens; (v) se seria admissível, na hipótese, o exercício do direito de re-
tenção pela oposta; (vi) se estão presentes os requisitos para a con-
cessão do benefício da gratuidade judiciária à opoente.
3- Se o pedido formulação na oposição é de reconhecimento da propri-
edade de bem imóvel sobre o qual controvertem as partes na ação de
partilha originária, não há óbice procedimental ao acolhimento do pedi-
do de imissão na posse, também formulado na oposição, que está
compreendido no pedido principal, atende à regra do art. 682 do
CPC/15 e é uma decorrência lógica da procedência do pedido de reco-
nhecimento da propriedade sobre o bem imóvel, de modo que eventual
debate sobre direitos possessórios sobre o bem deverá ocorrer em
ação própria.
4- Para que haja a necessária intervenção do Ministério Público, nos
termos do art. 178, II, do CPC/15, não basta que apenas interesses in-
diretos ou mediatos do incapaz sejam potencialmente atingidos, na

medida em que deve o incapaz, além de ser parte ou interveniente do


processo, ser também potencialmente interessado em razão de direito
próprio, mas não em virtude de direito alegadamente existente de seus
genitores.
5- Conquanto seja desejável pelo sistema processual que a oposição e
a ação originária sejam sentenciadas conjuntamente, a teor do art. 685
do CPC/15, não há óbice para que a oposição, que é prejudicial à ação
principal, seja julgada em primeiro lugar, em sentença autônoma, es-
pecialmente na hipótese em que não exista risco de prolação de deci-
sões conflitantes ou na qual não haja a necessidade de prática de atos
processuais conjuntos.
6- É inviável o recurso especial que versa sobre competência quando,
para o exame da transgressão da lei federal, for necessário o prévio
exame das regras existentes em lei de organização judiciária do res-
pectivo Estado, que se consubstanciam em direito local apto a atrair a
incidência da Súmula 280/STF. Precedentes.
7- Não arguido o direito de retenção da coisa por benfeitorias no mo-
mento da contestação, descabe o exame da matéria em momento pos-
terior em virtude da ocorrência de preclusão, sem prejuízo de a matéria
vir a ser objeto de ação própria. Precedente.
8- Estabelecido pelo acórdão recorrido, a partir de determinadas pre-
missas fáticas fixadas diante da prova produzida, que a parte preenche
os requisitos para concessão do benefício da gratuidade judiciária,
descabe o reexame da matéria em recurso especial diante do óbice da
Súmula 7/STJ.
9- Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, não
provido, com majoração de honorários.

PROCESSO
EDcl no AgInt no REsp 1951698 / RS
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO INTERNO NO RE-
CURSO ESPECIAL
2021/0238653-9
RELATOR(A)
Ministro FRANCISCO FALCÃO (1116)
ÓRGÃO JULGADOR
T2 - SEGUNDA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
11/04/2022
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 18/04/2022
EMENTA
PROCESSO CIVIL. DIREITO PREVIDENCIÁRIO. AÇÃO DECLARA-
TÓRIA E CONDENATÓRIA. RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁ-
VEL E INCLUSÃO DA AUTORA COMO BENEFICIÁRIA DE PENSÃO
POR ÓBITO. RECURSO ESPECIAL. DIVERGÊNCIA NÃO COMPRO-
VADA. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO PRECISA DO DISPOSITIVO DE
LEI OBJETO DE DIVERGÊNCIA. SÚMULA N. 284 DO STF. AGRAVO
INTERNO. DECISÃO MANTIDA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.
INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO.
I - Na origem, trata-se de ação declaratória e condenatória, ajuizada
contra o Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul -
IPERGS, objetivando a declaração de existência de união estável e a
inclusão da autora como beneficiária de pensão por óbito do ex-
companheiro. A sentença julgou o feito extinto por ilegitimidade passiva
em relação ao pedido declaratório e, por prescrição, em relação à pre-
tensão condenatória. No Tribunal a quo, foi negado provimento ao re-

curso. O recurso especial foi inadmitido no STJ, e o agravo interno in-


terposto dessa decisão, improvido.
II - Segundo o art. 1.022 do Código de Processo Civil de 2015, os em-
bargos de declaração são cabíveis para esclarecer obscuridade;
eliminar contradição; suprir omissão de ponto ou questão sobre as
quais o juiz devia pronunciar-se de ofício ou a requerimento; e/ou corri-
gir erro material.
III - Conforme entendimento pacífico desta Corte: "O julgador não está
obrigado a responder a todas as questões suscitadas pelas partes,
quando já tenha encontrado motivo suficiente para proferir a decisão. A
prescrição trazida pelo art. 489 do CPC/2015 veio confirmar a jurispru-
dência já sedimentada pelo Colendo Superior Tribunal de Justiça, sen-
do dever do julgador apenas enfrentar as questões capazes de infirmar
a conclusão adotada na decisão recorrida." (EDcl no MS n. 21.315/DF,
relatora Ministra Diva Malerbi (Desembargadora convocada TRF 3ª
Região), Primeira Seção, julgado em 8/6/2016, DJe 15/6/2016).
IV - Não há que se falar em deficiência de fundamentação da decisão
que, a partir da análise dos argumentos da peça recursal de agravo in-
terno - identificados e detalhados no relatório - conclui, de maneira fun-
damentada, que "as alegações apresentadas não são suficientes para
infirmar a conclusão alcançada, que deve ser mantida por seus pró-
prios fundamentos" (fl. 1.350).
V - Quanto às alegações de suficiência da demonstração do dissídio, o
acórdão afirmou ainda que (fl. 1.351): "Da análise do recurso especial,
observa-se que o recorrente não aponta qual o dispositivo infraconsti-
tucional objeto de interpretação divergente pelos julgados em confron-
to, desbordando da previsão contida no art. 105, III, c, da CRFB, o que
impede a apreciação dessa parcela recursal pelo Superior Tribunal de
Justiça."

VI - Note-se que, se o recurso é inapto ao conhecimento, a falta de


exame da matéria de fundo - mérito do dissídio - impossibilita a própria
existência de omissão quanto a esta matéria. Nesse sentido:
EDcl nos EDcl no AgInt no RE nos EDcl no AgInt no REsp n.
1.337.262/RJ, relator Ministro Humberto Martins, Corte Especial, julga-
do em 21/3/2018, DJe 5/4/2018; EDcl no AgRg no AREsp n.
174.304/PR, relator Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira
Turma, julgado em 10/4/2018, DJe 23/4/2018; EDcl no AgInt no REsp
n. 1.487.963/RS, relator Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, jul-
gado em 24/10/2017, DJe 7/11/2017.
VII - A pretensão de reformar o julgado não se coaduna com as hipóte-
ses de omissão, contradição, obscuridade ou erro material contidas no
art. 1.022 do CPC/2015, razão pela qual inviável o seu exame em em-
bargos de declaração. Nesse sentido: EDcl nos EAREsp n.
166.402/PE, relator Ministro Luis Felipe Salomão, Corte Especial, jul-
gado em 15/3/2017, DJe 29/3/2017; EDcl na Rcl n. 8.826/RJ, relator
Ministro João Otávio De Noronha, Corte Especial, julgado em
15/2/2017, DJe 15/3/2017.
VIII - Cumpre ressaltar que os aclaratórios não se prestam ao reexame
de questões já analisadas com o nítido intuito de promover efeitos mo-
dificativos ao recurso. No caso dos autos, não há omissão de ponto ou
questão sobre as quais o juiz, de ofício ou a requerimento, devia pro-
nunciar-se, considerando que a decisão apreciou as teses relevantes
para o deslinde do caso e fundamentou sua conclusão.
IX - Embargos de declaração rejeitados.

- LOBO, Paulo Luiz Netto . Famílias. 11ª ed. São Paulo. Saraiva, 2021
MADALENO, Rolf. Manual de direito de família – 4. ed. – Rio de Janei-
ro: Forense, 2022.

- MALUF, Carlos Alberto Dabus. Curso de Direito de Família. Sarai-


va.2018.

- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e Su-


cessões. São Paulo, Ed. Saraiva. 2018.

- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Divórcio. São Paulo, 5º Ed. Saraiva.


2016.

.
- CORREIA, Flavia Cristina Jerônimo. A união estável e seus reflexos
na partilha de bens.
https://ibdfam.org.br/artigos/1167/+Uni%C3%A3o+est%C3%A1vel+e+s
eus+reflexos+na+partilha+de+bens. Acesso em 09/05/2022

- GOMES, Eva Lucia Braga Fontes. Da conversão da união estável em


casamento e suas circunstâncias: https://silveiradias.adv.br/da-
conversao-de-uniao-estavel-em-casamento-e-suas-circunstancias/.
Acesso em 09/05/2022

- SANTOS, Daniele Fabiane Lucas dos. Quais são os direitos na união


estável? https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/11885/Quais-sao-
os-direitos-na-uniao-estavel. Acesso em 09/05/2022

- SANTOS, Laisa. É namoro ou União Estável?


https://schiefler.adv.br/e-namoro-ou-uniao-estavel/. Acesso em
09/05/2022

Após a leitura deste material e o acompanhamento das videoaulas


ministradas pelo(s) professor(es), finalize o seu aprendizado efetuando
a atividade autoinstrucional, disponível na área do aluno, no menu
plataforma de atividades no link “provas e atividades”. O gabarito será
visualizado, conforme a programação do cronograma da disciplina.

Você também pode gostar