Você está na página 1de 216

Pós-Graduação em Direito de Família e Sucessões

Prof. Rodrigo Cunha


Discplina: Direito das Sucessões

Tema: Princípios Fundamentais do Direito de Família

Indicação de leitura prévia

1) ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Tradução Virgílio Afonso da Silva. 2ª edição, pg 85 à
176. Distinção regras e princípios.

2) PEREIRA. Rodrigo da Cunha. Princípios fundamentais norteadores do Direito de Família. 3ª edição.


Saraiva: São Paulo, 20126
3) . Dicionário de Direito de Família e Sucessões ilustrado. 2ª
edição. São Paulo: Saraiva, 2018.
4) . Direito das Famílias. 3ªedição. São Paulo: Forense. 2022.
4) LÔBO, Paulo Luiz Netto. Princípio jurídico da afetividade na filiação. In: II Congresso Brasileiro de Direito de
Família. Belo Horizonte: Instituto Brasileiro de Direito de Família – IBDFAM, 2000.
Conferência Magna: Princípio da solidariedade familiar. In: Anais do VI Congresso
Brasileiro de Direito de Família, realizado em Belo Horizonte. Rio de Janeiro: IBDFAM/Lumen Juris, 2007, p. 1 e
10.

Leitura complementar

1) FACHIN, Luiz Edson. Direito de família: elementos críticos à luz do novoCódigo Civil brasileiro. Rio
de Janeiro: Renovar, 2003.
2) HIRONAKA, Giselda. Famílias paralelas. Revista IBDFAM: Famílias eSucessões. Belo Horizonte: IBDFAM,
2014.
3) KANT, Immanuel. Princípios metafísicos da doutrina do direito. Trad.Joãozinho Beckenkamp. São
Paulo: Martins Fontes, 2014.
4) LÔBO, Paulo Luiz Netto. Conferência Magna – Princípio da Solidariedade
Familiar. In: Anais do VI Congresso Brasileiro de Direito de Família, Rio deJaneiro: IBDFAM – Lumen
Juris, 2008.
5) LÔBO, Paulo Luiz Netto. Entidades familiares constitucionalizadas: para além do numerus clausus. In:
PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord.). Família e cidadania – o novo CCB e a vacatio legis, Belo Horizonte:
IBDFAM – Del Rey, 2002.
6) LÔBO, Paulo Luiz Netto. Direito civil: famílias. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2021.
7) BODIN DE MORAES, Maria Celina. A família democrática. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord.). Anais
do V Congresso Brasileiro de Direito de Família – Família e Dignidade Humana. São Paulo: IOB Thomson,
2006.
8) BODIN DE MORAES, Maria Celina. Danos morais em família? Conjugalidade, parentalidade e
responsabilidade civil. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha; PEREIRA, Tânia da Silva (Coord.). A ética da
convivência familiar: sua efetividade no cotidiano dos tribunais. Rio de Janeiro: Forense, 2005.
9) DIAS, Maria Berenice. Diversidade sexual e direito homoafetivo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.
10) DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 14. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2021.

PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO DE FAMÍLIA E DAS SUCESSÕES

MÓDULO: DIREITO DAS SUCESSÕES

TEMA: PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO DE FAMÍLIA

A palavra princípio significa começo, ponto de partida. No direito, seu


significado é de causa, fundamento, ou seja, a razão que justifica
porque as coisas são da forma que são.
A base principiológica é o sustento do ordenamento jurídico, pois os
princípios são os alicerces que traçam regras ou preceitos para toda a
espécie de operação jurídica.
Para Rolf Madaleno: “Os princípios gerais de Direito
integram a maioria dos sistemas jurídicos e no Brasil sua
reafirmação tem sido constantemente observada diante da
tendência de constitucionalização do Direito Civil e
notadamente do Direito de Família”1.
Para Carlos Roberto Gonçalves:
“O Direito de Família é o mais humano de todos os ramos
do direito e em razão disto, e também pelo sentido
ideológico e histórico de exclusões, é necessário pensá-lo
atualmente com a ajuda e pelo ângulo dos direitos

1
MADALENO, Rolf. Direito de Família.11 ed, Forense, 2021.

humanos, cuja base e ingredientes estão diretamente


relacionados à noção de cidadania” 2.
Já Paulo Lobo resume “os princípios jurídicos aplicáveis ao
Direito de Família em princípios fundamentais, que são os
princípios da dignidade humana e da igualdade, o princípio
da liberdade, o princípio da afetividade, o princípio da
convivência familiar e o princípio do melhor interesse da
criança”.3
Os princípios podem ser expressos ou não, podendo ser extraídos do
contexto da norma jurídica. Observa Suzana Oliveira Marques serem
os princípios fontes primárias do Direito, estando ao lado da lei e
4
tendo vinculação obrigatória.
A Carta Magna colaciona diversos princípios, muitos deles
expressos, outros, engajados no espírito da Constituição, e vários
deles endereçados ao Direito de Família.

Da Afetividade
Flávio Tartuce afirma que “o afeto é apontado, atualmente,
como o principal fundamento das relações familiares.
Mesmo não constando a palavra afeto no Texto Maior como

2
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Direito das Sucessões. Vol. 06. Ed. 15ª.
São Paulo. Saraiva: 2020.
3
LÔBO, Paulo. Direito Civil, Famílias. 11º ed. Saraiva, 2021.
4
MARQUES, Suzana Oliveira. Princípios do Direito de Família e guarda dos filhos. Belo Horizonte,
Del Rey, 2009.

um direito fundamental, é possível dizer que ele decorre da


valorização constante da dignidade humana” 5.
O princípio da afetividade está estampado na Constituição Federal de
1988, mais precisamente em seus artigos 226 §4º, 227, caput, § 5º c/c
§ 6º, os quais preveem, respectivamente, o reconhecimento da
comunidade composta pelos pais e seus ascendentes, incluindo-se aí
os filhos adotivos, como sendo uma entidade familiar
constitucionalmente protegida, da mesma forma que a família; o direito
à convivência familiar como prioridade absoluta da criança e do
adolescente; o instituto jurídico da adoção, como escolha afetiva,
vedando qualquer tipo de discriminação a essa espécie de filiação; e a
igualdade absoluta de direitos entre os filhos, independentemente de
sua origem.
Afirma Lôbo:
“Projetou-se, no campo jurídico-constitucional, a afirmação
da natureza da família como grupo social fundado
essencialmente nos laços de afetividade, tendo em vista que
consagra a família como unidade de relações de afeto, após
o desaparecimento da família patriarcal, que desempenhava
funções procracionais, econômicas, religiosas e políticas” 6.
Outrossim, entende-se que o princípio da afetividade deve reger todas
as relações familiares, haja vista o conceito atual de família não mais
se restringir à filiação biológica, dando, pois, lugar à filiação sócio
afetiva, que é aquela caracterizada essencialmente pelo afeto existente
entre pai e filho.

5
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. 11º ed. São Paulo: Método, 2021.
6
LÔBO, Paulo Luis Netto. Anais do VI Congresso Brasileiro de Direito de Família. Belo
Horizonte.IBDFAM/Lumen Juris, 2007.

Além do mais, através da apreciação dos artigos supracitados,


pressente-se que a própria Constituição Federal de 1988 atribuiu,
explicitamente, a este princípio um valor incomensurável, de sorte que
proporcionou reconhecimento legal e jurídico às relações de
parentesco consubstanciadas no princípio jurídico da afetividade, ao
passo que proporcionou a gradual mitigação da supremacia do vínculo
genético.
O Código Civil também faz referências distinguindo a paternidade e
genética, privilegiando a filiação socioafetiva. O art. 1.593 reconhece o
parentesco resultante de consanguinidade ou outra origem e o art.
1.596 do CC iguala, adotando o princípio constitucional, os filhos
havidos por consanguinidade ou por adoção.
Assim, o princípio da afetividade apesar de não expresso, se encontra
implícito na legislação infraconstitucional, como norma generalíssima a
orientar o direito de família.
Princípio da Igualdade entre os cônjuges
O fundamento jurídico da dignidade da pessoa humana tem uma das
suas maiores sustentações no princípio da igualdade formal e
substancial, impedindo que ocorra qualquer tratamento discriminatório
entre os gêneros sexuais.

Segundo Rolf Madaleno: No Direito de Família, a revolução


surgida com o advento da nossa Constituição Federal de
1988 retirou da sua gênese o caráter autoritário da
prevalência da função masculina quando tratou de eliminar

as relações de subordinação até então existentes entre os


integrantes do grupo familiar7.

A revolução ocorrida no Direito de Família com a CF provocou


profundas incursões no terreno da proteção da união estável, nas
ideias de igualdade dos filhos e cônjuges, com olhar voltado para a
facilitação e não limitação do divórcio.

Segundo Tauã Rangel:


“Igualmente, ruíram instituições tradicionais que vigoravam,
notadamente a chefia masculina da célula familiar e o pátrio
poder, como também a exclusiva administração do acervo
patrimonial exclusivamente pelo cônjuge varão. Ademais,
em outro viés, a mulher passou a gozar de
responsabilidades, compartilhando com o homem ônus que,
outrora, estavam a ele relacionados, passando a participar
das decisões familiares, bem assim contribuir
monetariamente para a mantença da família, quando ela
exerce uma atividade remunerada” 8.

Assim, pelo princípio da isonomia entre os cônjuges objetivam


estabelecer uma relação afetiva horizontal, sem que haja a
subordinação da mulher em relação ao homem, como acontecia no
passado.

7
MADALENO, Rolf. Direito de Família. 11 ed, Forense, 2021.
8
RANGEL, Tauã Lima Verdani. https://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/artigo/3306/o-principio-
isonomia-entre-os-conjugescompanheiros-substancializacao-abandono-ao-modelo-tradicional-
patrimonialista-constituicao-republica-1988. Acesso em 27/01/2022

Não mais subsiste, com efeito, a visão de que a entidade familiar era
hierarquizada, tendo a figura masculina como o detentor das tomadas
de decisão, incumbindo ao cônjuge virago tão somente cumpri-las, sem
questionar ou mesmo opinar.

Carlos Alberto Bittar diz ser consequência inicial da isonomia


conjugal a eliminação de todas as normas de tratamento
diferenciado entre o marido e a mulher; assim como
cederam lugar com a Carta da República instituições de
odiosa tradição sociojurídica, como a chefia masculina da
família, a corriqueira administração pelo homem dos bens
conjugais e a sua exclusiva representação familiar. Em
contrapartida a mulher assume novas responsabilidades,
precisando dividir com o marido ônus que só a ele estavam
relacionados, como o de participar de decisões familiares e
de contribuir financeiramente para a manutenção da família
quando ela exerce uma atividade remunerada.9

Trata-se, com efeito, do refulgir de um novo horizonte, no qual se


privilegia a igualdade entre os gêneros, não mais prosperando a
distinção, afeta ao modelo patriarcal-patrimonialista adotado durante a
vigência do Estatuto de 1916, concernente ao gênero, no qual o
homem exercia papel proeminente na tomada de decisões, no que se
refere à célula familiar. Após a promulgação da Constituição de 1988, é
denotável a adoção de uma ótica harmoniosa com os novos valores

9
BITAR, Carlos Alberto. Os novos rumos do Direito de Família. In O Direito de Família e a
Constituição de 1988. São Paulo, Saraiva, 1990.

abraçados pela sociedade, no qual a mulher passa a desempenhar


papel maciço nos arranjos familiares, sendo, por vezes, responsável
pela manutenção e chefia da entidade.

Há uma urgência em se estimular uma cultura apoiada na observância


dos critérios constitucionais de proteção aos direitos humanos das
mulheres, mirando a execução dos avanços constitucionais já
alcançados, que evidenciam um ponto de vista democrático e
igualitário em relação aos gêneros.
Segundo Anderson Freitas:
“O grande desafio é conferir plena força normativa à
Constituição pelos Três Poderes. Ao Poder Legislativo, a
limpeza da ordem jurídica brasileira, dos resquícios de
legislações ainda discriminatórias quanto às mulheres,
garantindo assim a equidade de gênero. Ao Poder
Executivo, a formulação e a implementação de políticas
públicas voltadas ao respeito aos direitos humanos das
mulheres. E por fim, ao Poder Judiciário, a criação de uma
jurisprudência igualitária traçada nos valores
democratizantes e igualitários da Constituição de 1988” 10.

Da Dignidade da Pessoa Humana no Direito de Família


Há previsão legal quanto ao referido princípio no art. 1.º, inciso III da
Constituição Federal, bem como no art. 227 também da Constituição
Federal.

10
FREITAS, Anderson. Igualdade de gênero. https://artigojuridico.com.br/2017/09/04/igualdade-de-
genero/ Acesso em 27/01/2022.

Maria Berenice Dias nos ensina:


“É o maior fundante do Estado Democrático de Direito,
sendo afirmado já no primeiro da Constituição Federal. A
dignidade da pessoa humana encontra na família o solo
apropriado para florescer. A ordem constitucional dá-lhe
especial proteção independentemente de sua origem. A
multiplicação das entidades familiares preserva e
desenvolve as qualidades mais relevantes entre os
familiares – o afeto, a solidariedade, a união, o respeito, a
confiança, o amor, o projeto de vida em comum, permitindo
o pleno desenvolvimento pessoal e social de cada partícipe
com base em ideais pluralistas, solidaristas, democráticos e
humanistas” 11.
Segundo o Prof. Rodrigo da Cunha Pereira:
“É um dos esteios de sustentação dos ordenamentos
jurídicos contemporâneos e funciona como o vértice do
Estado democrático de Direito. Não é mais possível pensar
em direitos desatrelados da ideia e conceito de dignidade.
Por isto a dignidade é o pressuposto da ideia de Justiça” 12.
A dignidade da pessoa humana hoje incide sobre uma infinidade de
situações é deste princípio que se irradia os demais princípios da
liberdade, autonomia privada, cidadania, igualdade e solidariedade.
O princípio da dignidade da pessoa humana não representa apenas um
limite a atuação do Estado, mas constitui também um norte para a sua
ação positiva. O Estado não tem apenas o dever de abster-se de

11
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias 14.ª edição. São Paulo: Editora
Juspodivm. 2020.
12
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e Sucessões. São Paulo, Ed.
Saraiva. 2017.

praticar atos que atentem contra a dignidade humana, mas também


deve promover essa dignidade através de condutas ativas, garantindo
o mínimo existencial para cada ser humano.
Assim, o direito das famílias está ligado ao princípio da dignidade da
pessoa humana, aos direitos humanos, pois este princípio significa
igualdade para todas as entidades familiares.
A dignidade da pessoa humana encontra na família o solo apropriado
para florescer. A ordem constitucional dá-lhe especial proteção
independentemente de sua origem. A multiplicação das entidades
familiares preserva e desenvolve as qualidades mais relevantes entre
os familiares – o afeto, a solidariedade, a união, o respeito, a confiança,
o amor, o projeto de vida comum -, permitindo o pleno desenvolvimento
pessoal e social de cada indivíduo.
O Prof. Rodrigo da Cunha Pereira ressalta que “a dignidade
é um macroprincípio sob o qual estão contidos e irradiam
outros princípios essenciais, entre eles a igualdade e a
alteridade” 13.

Entretanto, o grande obstáculo encontrado hoje é justamente manter


estruturada a família o direito busca dar a segurança jurídica
necessária a esta, para que se mantenha e busque o desenvolvimento
pessoal e social de cada indivíduo.
Assim, o que se busca na prática é que todas as famílias tenham iguais
condições de criar seus filhos, dando a estes educação, alimentação,
moradia de qualidade que propiciem um crescimento saudável e com
qualidade, pois hoje o grande problema que também nos deparamos,

13
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Princípios fundamentais norteadores do direito de família. 3º ed.
São Paulo, Saraiva, 2016.

que de certa forma esta correlacionado com o problema mencionado


acima é justamente a desigualdade social que não só leva famílias a
ruína como também deixa desamparadas milhares de crianças devido
a vulnerabilidade e fragilidade destas que sem uma educação e
parâmetros de ética e moral entram para a vida do crime, das drogas
acabando com toda uma geração.
Portanto, a dignidade da pessoa humana sendo uma qualidade
intrínseca e indissociável de todo e qualquer ser humano deve ser
preservada e garantida no direito de família já que a destruição de um
implicaria a destruição de outro.
Segundo Berenice Dias “o respeito e proteção a dignidade
da pessoa humana (de cada uma delas e de todas as
pessoas) constituem (ou, ao menos, assim o deveriam) em
meta permanente da humanidade, do Estado e do direito”14.

É o que se busca hoje no direito de família que este possa não só


proteger o instituto da família, mas também que a família
tenha efetivamente sua dignidade no dia a dia garantida perante os
demais institutos da sociedade buscando assim uma igualdade real na
construção de uma sociedade mais justa e solidária.
De acordo com o art. 230 da CF, têm a família, a sociedade e o Estado
o dever também de amparar as pessoas idosas, assegurar sua
participação na comunidade, defender sua dignidade e bem-estar e
garantir-lhes o direito à vida.

14
Ibidem p. 63

Princípio da Liberdade

Prevê o art. 1.513 do Código Civil em vigor que "É defeso a qualquer
pessoa de direito público ou direito privado interferir na comunhão de
vida instituída pela família". Trata-se da consagração do princípio da
liberdade ou da não-intervenção na ótica do Direito de Família.

Segundo Flavio Tartuce:


“Por certo que o princípio em questão mantém relação direta
com o princípio da autonomia privada, que também deve
existir no âmbito do Direito de Família. A autonomia privada
é muito bem conceituada por Daniel Sarmento como o poder
que a pessoa tem de auto regulamentar os próprios
interesses” 15.

Retornando ao art. 1.513 do Código Civil em vigor, é importante frisar


que se deve ter muito cuidado na sua leitura. Isso porque, o real
sentido do texto legal é que o Estado ou mesmo um ente privado não
pode intervir coativamente nas relações de família. Entretanto, o
Estado poderá incentivar o controle da natalidade e o planejamento
familiar por meio de políticas públicas.

Vale lembrar, também, que a Constituição Federal de 1988 incentiva


a paternidade responsável e o próprio planejamento familiar, devendo o
Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício
desses direitos, vedada qualquer forma coercitiva por parte de

15
TARTUCE, Flavio. Manual de Direito Civil. 11º ed. São Paulo: Método, 2021.

instituições oficiais e privadas (art. 227, § 7º, da CF/88). Além disso, o


Estado deve assegurar a assistência à família na pessoa de cada um
dos que a integra, criando mecanismos para coibir a violência no
âmbito de suas relações (art. 227, § 8º, da CF/88).

Tudo isso consagra o princípio da não-intervenção. Mas vale lembrar


que esse princípio deve ser lido e ponderado frente a outros princípios,
caso do princípio do melhor interesse da criança.

Para Maria Berenice Dias ensina:


“A liberdade e a igualdade foram os primeiros princípios
reconhecidos como direitos humanos fundamentais, de
modo a garantir o respeito à dignidade da pessoa humana. A
liberdade floresceu na relação familiar e redimensionou o
conteúdo da autoridade parental ao consagrar os laços de
solidariedade entre pais e filhos, bem como a igualdade
entre os cônjuges no exercício conjunto do poder familiar
voltada ao melhor interesse do filho. Em face do primado da
liberdade, é assegurado o direito de constituir uma relação
conjugal, uma união estável hetero ou homossexual. Há a
liberdade de dissolver o casamento e extinguir a união
estável, bem como o direito de recompor novas estruturas
de convívio. A possibilidade de alteração do regime de bens
na vigência do casamento (CC 1.639 § 2.º) sinala que a
liberdade, cada vez mais, vem marcando as relações
familiares. No rol dos direitos da criança, do adolescente e
do jovem, assegurados constitucionalmente, figura o direito
à liberdade (CF 227). Assenta-se neste direito tanto a
necessidade de o adotado, desde os 12 anos de idade,

concordar com a adoção (ECA 45 § 2.º), como a


possibilidade do filho de impugnar o reconhecimento levado
a efeito enquanto era menor de idade (CC 1.614).
Igualmente, o Estatuto da Criança e do Adolescente
consagra como direito fundamental a liberdade de opinião e
de expressão (ECA 16 II) e a liberdade de participar da vida
familiar e comunitária sem discriminação (ECA 16, V)” 16.

Assim, o respeito a liberdade de planejamento da família, fundada na


afeição mútua e no pluralismo, conferem aos seus membros a opção
de constituí-la não apenas pelo casamento, mas também no
reconhecimento da entidade familiar, vedando qualquer tipo de
discriminação pela opção sexual ou modelo de família.

Da Solidariedade Familiar
Segundo o Prof. Rodrigo da Cunha Pereira:
“Vincula-se à ideia de corresponsabilidade, cooperação,
amparo. A solidariedade, antes concebida apenas como
dever moral, compaixão ou virtude, passou a ser entendida
como princípio jurídico após a Constituição da República de
1988, expressamente disposto no art. 3º, I. Este princípio
também está implícito em outros artigos do texto
constitucional, ao impor à sociedade, ao Estado e à família
(como entidade e na pessoa de cada membro), a proteção
da entidade familiar, da criança e do adolescente e do idoso

16
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias .14.ª edição. São Paulo: Editora
Juspodivm. 2020.

(arts. 226,227 e 230 da CF). Com a evolução dos Direitos


Humanos, os direitos individuais passaram a concorrer com
os direitos sociais, nos quais se enquadra o Direito de
Família” 17.
Para Paulo Luiz Netto Lobo:
“O princípio da solidariedade no plano das famílias,
apresenta duas dimensões: a primeira, no âmbito interno
das relações familiares, em razão do respeito recíproco e
dos deveres de cooperação entre seus membros; a
segunda, nas relações do grupo familiar com a comunidade,
com as demais pessoas em com o meio ambiente que vive”
18
.
Já para a Prof.ª Maria Berenice Dias ensina:
“Basta atentar que, em se tratando de crianças e de
adolescentes, é atribuído primeiro à família, depois à
sociedade e finalmente ao Estado o dever de garantir com
absoluta prioridade os direitos inerentes aos cidadãos em
formação (CF 227). Impor aos pais o dever de assistência
aos filhos decorre do princípio da solidariedade (CF 229). O
dever de amparo às pessoas idosas dispõe do mesmo
conteúdo solidário (CF 230). A lei civil igualmente consagra
o princípio da solidariedade ao prever que o casamento

17
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e Sucessões. São Paulo, Ed.
Saraiva. 2017.
18
LÔBO, Paulo Luis Netto. Anais do VI Congresso Brasileiro de Direito de Família. Belo
Horizonte.IBDFAM/Lumen Juris, 2007. P.1-10.

estabelece plena comunhão de vidas (CC 1.511). Também a


obrigação alimentar dispõe deste conteúdo (CC 1.694)” 19.
A pensão alimentícia ganha força no ordenamento jurídico brasileiro
em consequência do comando constitucional de reparação das
desigualdades entre cônjuges ou companheiros, que antes da ruptura
do relacionamento se regiam pela mútua assistência, ao lado de outros
deveres, tais como fidelidade, convivência e respeito recíproco.
Em um contexto de manutenção da solidariedade mesmo após o fim da
união, surge a ideia dos alimentos compensatórios. A finalidade desta
espécie de alimentos é evitar o desequilíbrio econômico em
comparação com o estilo de vida vivenciado pelos cônjuges ao longo
da união.
Trata-se de uma prestação periódica em dinheiro, efetuada por um
cônjuge em favor do outro por ocasião da separação ou do divórcio e
que procura amenizar a ausência dos recursos que eram trazidos pelo
parceiro. A hipótese típica, mas não exclusiva, se apresenta quando o
casal escolheu o regime de separação convencional de bens, em que
não há comunicação de qualquer bem. Com o término da união é
possível que um pleiteie do outro uma verba extra, visando manter o
equilíbrio.
De outra parte, a solidariedade não está somente no plano material,
mas no plano afetivo, que pode ser imposto aos pais em relação aos
filhos.
Para o Prof. Rodrigo da Cunha Pereira:
“Solidariedade como princípio jurídico norteador do Direito
de Família advém da ideia que traduz uma relação de

19
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias .14.ª edição. São Paulo: Editora
Juspodivm. 2020.

corresponsabilidade entre pessoas unidas, inclusive por um


sentimento moral e social de apoio ao outro. Mais que moral,
a solidariedade transforma-se em dever ético de relações
humanizadoras” 20.

A solidariedade se expressa na família, portanto, no auxílio mútuo,


material e moral, na assistência, na proteção e no amparo.
O CC estabelece o dever recíproco de solidariedade entre os parentes,
de prestarem alimentos aos necessitados (art. 1.694); a comunhão de
vidas entre os cônjuges, sustento da família e dever de mútua
assistência (arts 1.511, 1.565, 1.568 e 1.566, III); o dever de lealdade e
assistência entre os companheiros.

Princípio da Monogamia
Pontes de Miranda, lecionando sobre as várias formas de
família, aduz que a monogamia configura-se quando “[…] a
aproximação sexual se faz entre um homem e uma mulher
[…]” 21·.
Já o Prof. Rodrigo da Cunha Pereira ensina sobre a
monogamia. Em verdade, a tem como princípio:
“O princípio da monogamia, embora funcione também como
um ponto-chave das conexões morais das relações
amorosas e conjugais, não é simplesmente uma norma
moral das relações amorosas e conjugais, não é
simplesmente uma norma moral ou moralizante. Sua

20
Ibidem, p. 586.
21
PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de direito de família: direito matrimonial.
In: ALVES, Vilson Rodrigues (Atual.). São Paulo: Bookseller, v. 1,2001.

existência nos ordenamentos jurídicos que o adotam tem a


função de um princípio jurídico ordenador. Ele é um princípio
básico e organizador das relações jurídicas da família no
mundo ocidental” 22.

E mais: a essência da monogamia guarda relação direta com a


sexualidade, segundo os estudos de Freud, eis que “[…] associada à
virgindade da mulher e à ideia de posse e propriedade […]”.
Ainda nos ensina o Prof. Rodrigo da Cunha Pereira: “A
monogamia é forma de organização da família conjugal. A
traição, a infidelidade não significa, necessariamente, a
inobservância da monogamia, que não está atrelada às
relações extraconjugais, mas sim naquela “[…] relação
extraconjugal em que se estabelece uma família simultânea
àquela já existente, seja ela paralela ao casamento, união
23
estável ou a qualquer outro tipo de família conjugal” .
Todavia, tal circunstância não implica, necessariamente, a
promiscuidade.
Paulo Lobo, ao tratar dos princípios constitucionais
aplicáveis ao direito de família, acentua que “o tradicional
princípio da monogamia, presente na cultura judaico-cristã,
perdeu a qualidade de princípio geral ou comum, em virtude
do fim da exclusividade da família matrimonial, no Direito
24
brasileiro” . Contudo, continua a existir como princípio

22
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Princípios fundamentais norteadores do direito de família. 3º ed.
São Paulo, Saraiva, 2016.
23
Ibidem.
24
LÔBO, Paulo. Direito Civil, Famílias. 11º ed. Saraiva, 2021.

específico, mas apenas inerente à família constituída pelo


matrimônio, que pode ser atenuado para a hipótese do
concubinato e dever de prestar alimentos (art. 1.708 do
Código Civil).
Maria Berenice Dias, por sua vez, encerra a questão acerca
da monogamia ser ou não princípio:
“Não se trata de um princípio de direito estatal de família,
mas sim uma regra restrita à proibição de múltiplas relações
matrimonializadas, constituídas sob a chancela do Estado.
Ainda que a lei recrimine de diversas formas quem
descumpre o dever de fidelidade, não há como considerar a
monogamia como um princípio constitucional, até porque a
Constituição não a contempla. Ao contrário, tanto tolera a
traição, que não permite que os filhos se sujeitem a qualquer
discriminação, mesmo quando se trata de prole nascida de
relações adulterinas ou incestuosas. O Estado tem interesse
na mantença da estrutura familiar, a ponto de proclamar que
a família é a base da sociedade. Por isso, a monogamia é
considerada função ordenadora da família” 25.

Ainda, o Estado, ao observar o preceito monogâmico, considera crime


a bigamia, impede as pessoas já casadas ao novo casamento, bem
como a bigamia torna nulo o casamento.

25
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias 14.ª edição. São Paulo: Editora
Juspodivm. 2020.

Princípio do Melhor interesse da Criança e do Adolescente


O Princípio do Melhor Interesse da Criança e do Adolescente está
previsto na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 227, caput, e
no Estatuto da Criança e do Adolescente em seus artigos 4º, caput, e
5º.
O ECA, no parágrafo único do artigo 4º especifica, de forma
meramente exemplificativa, quais as políticas públicas que podem ser
efetivadas, visando alcançar a garantia constitucional de absoluta
prioridade desta parcela da população, enquanto o artigo 6º classifica a
criança e o adolescente como sendo pessoas em desenvolvimento,
que têm garantido, de forma absolutamente prioritária, o seu melhor
interesse.
O referido Princípio do Melhor Interesse da Criança e do Adolescente
possui status de direito fundamental, e, assim sendo, deve ser
necessariamente observado pela sociedade como um todo, incluindo-
se aí o Estado, os pais, a família, enfim, as pessoas em geral.
Gustavo Tepedino, fazendo comentários acerca da ótica
constitucional vigente sobre a filiação, leciona que:
“Após 1988 o critério hermenêutico, sintetizado na fórmula
anglo-saxônica the best of de child, adquiriu, entre nós,
conteúdo normativo específico, informado pela cláusula
geral de tutela da pessoa humana introduzida pelo artigo 1º,
III, da CF/88 e determinado especialmente no artigo 6º da
Lei 8.069/90” 26.

26
TEPEDINO, Gustavo. Cidadania e os direitos de personalidade. Revista da Escola Superior da
Magistratura de Sergipe, Sergipe, n. 3, p. 23-44, 2002.

Atualmente os operadores do direito, ao tratar da filiação, têm que dar


valor ao interesse do menor, devem observar o que realmente é o
melhor para a criança e/ou adolescente, de modo a favorecer sua
realização pessoal, independentemente da relação biológica que tenha
com seus pais, pois muitas vezes eles encontram-se ligados apenas
pelo parentesco sanguíneo, não existindo entre os mesmos qualquer
tipo de ligação afetiva capaz de uni-los verdadeiramente como pais e
filhos.
Ademais, assevera-se que o princípio da proteção integral à criança e
ao adolescente, de maior abrangência, além de ter confirmado a
existência do princípio do melhor interesse da criança e do adolescente
como critério interpretativo, evidenciou sua natureza eminentemente
constitucional, considerando-o como uma cláusula universal que se
revela por meio dos direitos fundamentais da criança e do adolescente
contidos na Constituição Federal de 1988.

Da pluralidade de formas de família


O Prof. Rodrigo da Cunha Pereira salienta que “a Carta
Magna, promulgada em 05 de outubro de 1988, trouxe
consigo um tratamento de forma mais precisa com relação a
família, provocando assim uma verdadeira revolução no
Direito de Família” 27·.

O rol que trata das entidades familiares protegidas na Constituição, não


é um rol taxativo, e sim exemplificativo, com isso ao nosso entender, o

27
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Princípios fundamentais norteadores do direito de família. 3º ed.
São Paulo, Saraiva, 2016.

princípio da dignidade da pessoa humana demanda o reconhecimento


dessas novas entidades familiares.

Há dissolução entre família como fato da natureza e como um fato


cultural, concluindo por essa última vertente. Ela não se constitui
apenas de pai, mãe e filho, mas é antes de uma estruturação psíquica
em cada um de seus membros ocupa um lugar, uma função, sem
estarem necessariamente ligados biologicamente. Desfez-se a ideia de
que a família se constituiu, unicamente, para fins de reprodução e de
legitimidade para o livre exercício da sexualidade.
Segundo Maria Berenice Dias: “com o tempo a sociedade
passou por diversas mudanças tais como, religiosas,
culturais, políticas, e essa ideia fixa de que o casamento era
somente para constituir família, indestrutível, foi se dirimindo,
para que a coletividade se adaptasse a essas mudanças. A
família de hoje é baseada na relação de afeto e não mais no
fator biológico” 28.

As pessoas passaram a viver em uma sociedade mais tolerante e, com


mais liberdade, buscam realizar o sonho de ser felizes sem se sentirem
oprimidas a permanecer em estruturas preestabelecidas e
engessadoras. As novas famílias vêm buscando erguer uma história
em comum, que existe comunhão afetiva. Cada vez mais as pessoas
têm o direito de escolha e podem transitar de uma comunidade de vida
para outra que lhe pareça mais atrativa e gratificante.

28
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias 14.ª edição. São Paulo: Editora
Juspodivm. 2020.

Logo, foram surgindo outras espécies de famílias, tais como as


monoparentais, parental ou anaparental, pluriparental, paralelas ou
simultâneas, homoafetivas, poliafetivas. No entanto, ainda há certo
preconceito e essas novas famílias não são bem vistas pela sociedade
retrograda 29.

Neste sentido, ainda, os adeptos dessa pluralidade familiar defendem


suas opiniões com base nos princípios elencados na Constituição
Federal, tais como o princípio da dignidade da pessoa humana,
princípio da igualdade, princípio da afetividade, princípio da pluralidade
familiar, princípio da afetividade.

O conceito de família, atualmente, é muito distinto ao conceito


estabelecido no século XIX. Assim, de acordo com a redação
do Código Civil de 1916, a família só poderia ser estabelecida através
do casamento. Entretanto, com todas as mudanças sociais que
ocorreram ao longo das últimas décadas, deixou-se de ter um conceito
padrão, biológico, estagnado do que é família.

Paulo Lôbo ressalta que:


“O princípio da pluralidade familiar incide no respeito com as
formas de constituição da família, que não são formadas
mais pelo casamento apenas. Conforme ocorreu outrora no
direito brasileiro, compreendendo recentemente, outras

29
CRUZ, Vanessa Pimentel Barros da; RANGEL, Tauã Lima Verdan. O reconhecimento da
pluralidade da família: o poliamorismo como entidade familiar. In: Boletim Jurídico, Uberaba/MG, a.
13, no 1533. Disponível em: <https://www.boletimjuridico.com.br/ doutrina/artigo/4630/o-
reconhecimento-pluralidade-familia-poliamorismo-como-entidade-familiar Acesso em 27/01/2022

unidades de convivência não contempladas anteriormente,


como a união estável, a família monoparental, as uniões
homoafetivas as uniões concubinárias, dentre outras, desde
que apresentem afetividade, estabilidade e convivência
pública” 30.

Desta feita, o pluralismo familiar é considerado pelo Estado a


possibilidade de vários padrões de família, das mais diversificadas
formas possíveis, ele é de grande importância e tem uma função
relevante na sociedade contemporânea e na formação das novas
famílias.

Princípio da Responsabilidade e da Paternidade Responsável


A Convenção Sobre os Direitos da Criança, de 1989, ratificada pelo
Brasil em 24 de setembro de 1990, dispõe que toda criança terá direito,
na medida do possível, de conhecer seus pais e de ser cuidada por
eles.
Além disso, reza o artigo 226, §7º da Constituição Federal de 1988 que
a família tem especial proteção do estado.
Registre-se que quando a Carta Magna instituiu o princípio em
questão, objetivou, principalmente, resguardar a convivência familiar e,
consequentemente, dar efetividade ao Princípio da Proteção Integral à
Criança, vez que é dever da família, da sociedade e do Estado, com
absoluta prioridade, assegurar à criança e ao adolescente, dentre
outras coisas, a convivência familiar, colocando-os a salvo de toda

30
LÔBO, Paulo. Direito Civil, Famílias. 11º ed. Saraiva, 2021.

forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e


opressão.
Acerca do assunto assevera Thiago José Teixeira Pires:
“O Princípio da Paternidade Responsável significa
responsabilidade e esta começa na concepção e se estende
até que seja necessário e justificável o acompanhamento
dos filhos pelos pais, respeitando-se assim, o mandamento
constitucional do art. 227, que nada mais é do que uma
garantia fundamental” 31.

Assim, a Paternidade Responsável deve ser exercida desde a


concepção do filho, a fim de que o pai, seja ele biológico ou afetivo,
responsabilize-se pelas obrigações e direitos daí advindos. Tal
princípio possui estreita ligação com o princípio da dignidade da
pessoa humana e com o planejamento familiar, o qual deve ser
exercido de forma igualmente responsável.
O referido princípio juntamente com o princípio da dignidade da pessoa
humana, são de grande valia para o Direito de Família atual, haja vista
a necessidade da responsabilidade ser considerada tanto na formação
da família como em sua manutenção.
Ademais, o Princípio da Paternidade Responsável objetiva também: um
planejamento familiar racional e independente, para que os seus
membros possam se desenvolver naturalmente.

31
PIRES, Thiago José Teixeira. Princípio da Paternidade Responsável. Disponível em:
http://www.apmp.com.br/juridico/artigos/docs/2001/1206_andreluiznogueiradacunha>. Acesso em
27/01/2022

Por fim, saliente-se que o princípio em comento foi explicitamente


estatuído pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, mais
precisamente no artigo 27, o qual prevê que: “o reconhecimento do
estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e imprescritível,
podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer
restrição, observado o segredo de justiça”.

Da Igualdade entre os Filhos


Sobre o referido princípio nos fala o Prof. Rodrigo da Cunha
Pereira:
“É o princípio constitucional que estabelece a igualização de
todas as formas de filiação, independentemente da sua
origem: os filhos, havidos ou não da relação do casamento,
ou por doação, terão os mesmos direitos e qualificações,
proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à
filiação (art. 227, parágrafo 6º da CF). Filho é filho e não
comporta nenhuma adjetivação ou classificação, como
acontecia antes da Constituição da República de 1988 com
a discriminação entre legítimos e ilegítimos. Assim, os filhos
biológicos, socioafetivos, adotivos ou de qualquer outra
origem (art. 1.593 CC) tem os mesmos direitos” 32.

O referido princípio também se desdobra em várias regras jurídicas que


traduzem, além da igualdade, o princípio do melhor interesse da
criança e do adolescente, previsto na Lei 8.069/90.
Nas palavras de Rolf Madaleno:

32
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e Sucessões. São Paulo, Ed.
Saraiva. 2017.

“Finalmente, a Carta Federal resgata a dignidade da


descendência brasileira, deixando de classificar filhos pela
maior ou menor pureza das relações sexuais, legais e
afetivas de seus pais, quando então, os filhos eram vistos e
classificados por uma escala social e jurídica direcionada a
discriminar o descendente e a sua inocência, por conta dos
equívocos ou pela cupidez de seus pais” 33.

Destarte, atualmente, segundo o mandamento constitucional só há


duas classes de filhos, aqueles que são filhos e aqueles que não são,
não havendo mais, portanto, qualquer expressão discriminatória
atrelada à filiação, tendo sido os adjetivos legítimos, legitimados,
ilegítimos, incestuosos, adulterinos, naturais, espúrios e adotivos
totalmente abolidos do ordenamento jurídico.
Para Flávio Tartuce: “Isso repercute tanto no campo
patrimonial quanto no pessoal, não sendo admitida qualquer
forma de distinção jurídica, sob as penas da lei. Trata-se,
portanto, na ótica familiar, da primeira e mais importante
especialidade da isonomia constitucional.”

Assim sendo, pode-se afirmar com bastante veemência que não mais
existe qualquer tipo de diferenciação entre os filhos, ou seja, não
importa se eles são advindos ou não do casamento, uma vez que com
a promulgação da Carta Política de 1988 foi reconhecida a família
gerada pelo matrimônio, pela união estável, pela homoafetividade, pela

33
MADALENO, Rolf. Direito de Família: constituição e constatação. [2001?]. Disponível
em: http://www.rolfmadaleno.com.br/site/index.php?option=com_content&task=view&id=26&Itemid
=39>. Acesso em 27/01/2022

adoção e pela sócio-afetividade, quando em seu artigo 226, §4º


estatuiu que: “entende-se, também, como entidade familiar a
comunidade formada por seus pais e seus descendentes”.

Constituição Federal – artigos, 1º III, 3º, I, 226, 227 e 228.


CC – Arts. 1.511, 1.566. I, IV, 1.568, 1.640, 1694 e 1724.

Processo
AgRg no AREsp 1643237 / GO
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
2020/0003216-8
Relator(a)
Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ (1158)
Órgão Julgador
T6 - SEXTA TURMA
Data do Julgamento
21/09/2021
Data da Publicação/Fonte
DJe 29/09/2021
Ementa
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA. VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA
CONTRA A MULHER. RELAÇÃO DE AFETIVIDADE ENTRE RÉU
(GENRO) E VÍTIMA (SOGRA). APLICAÇÃO DA LEI MARIA DA
PENHA. PRESUNÇÃO DE VULNERABILIDADE DA MULHER.

AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.


1. Para os efeitos de incidência da Lei Maria da Penha, o âmbito da
unidade doméstica engloba todo espaço de convívio de pessoas, com
ou
sem vínculo familiar, ainda que esporadicamente agregadas. Ademais,
a família é considerada a união desses indivíduos, que são ou se
consideram aparentados, por laços naturais, afinidade ou vontade
expressa e que o âmbito doméstico e familiar é caracterizado por
qualquer relação íntima de afeto, em que o agressor conviva ou tenha
convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
2. Esta Corte Superior entende ser presumida, pela Lei n.
11.340/2006, a hipossuficiência e a vulnerabilidade da mulher em
contexto de violência doméstica e familiar. É desnecessária,
portanto, a demonstração específica da subjugação feminina para que
seja aplicado o sistema protetivo da Lei Maria da Penha. Isso porque
a organização social brasileira ainda é fundada em um sistema
hierárquico de poder baseado no gênero, situação que o referido
diploma legal busca coibir.
3. Na espécie, a vítima requereu a fixação de medidas protetivas de
urgência em seu favor ante as ameaças perpetradas pelo ora
agravante. A vara especializada em violência doméstica declarou a
ausência de competência para apreciar o pedido, ao argumento de que
os fatos não ocorreram em razão de gênero. Todavia, conforme
consignado pelas instâncias ordinárias, havia vínculo afetivo entre
o suposto agressor e a ofendida, os quais eram genro e sogra um do
outro, e as ameaças haveriam ocorrido em um contexto de brigas
familiares. Assim, deve ser reconhecida a competência do Juizado de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher no caso em exame.
4. Agravo regimental não provido.

Processo
REsp 1930823 / PR
RECURSO ESPECIAL
2020/0182853-4
Relator(a)
Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE (1150)
Órgão Julgador
T3 - TERCEIRA TURMA
Data do Julgamento
10/08/2021
Data da Publicação/Fonte
DJe 16/08/2021
Ementa
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE.
ANULAÇÃO DE
REGISTRO CIVIL. PAI REGISTRAL INDUZIDO A ERRO. AUSÊNCIA
DE
AFETIVIDADE ESTABELECIDA ENTRE PAI E FILHO REGISTRAIS.
PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
1. A controvérsia cinge-se em definir a possibilidade de anulação do
registro de paternidade em virtude da ocorrência de erro de
consentimento e da inexistência de relação socioafetiva entre o
menor e o pai registral.
2. É possível a desconstituição do registro quando a paternidade
registral, em desacordo com a verdade biológica, é efetuada e
declarada por indivíduo que acredita, realmente, ser o pai biológico
desta (incidindo, portanto, em erro), sem estabelecer vínculo de
afetividade com a infante.
3. Não se pode obrigar o pai registral, induzido a erro substancial,

a manter uma relação de afeto, igualmente calcada no vício de


consentimento originário, impondo-lhe os deveres daí advindos, sem
que, voluntária e conscientemente, o queira. A filiação socioafetiva
pressupõe a vontade e a voluntariedade do apontado pai de ser assim
reconhecido juridicamente, circunstância, inequivocamente, ausente
na hipótese dos autos.
4. O singelo argumento de que o relacionamento amoroso do pai
registral e da genitora da criança tenha sido curto e instável não
configura uma presunção de que o reconhecimento da paternidade foi
despojado de erro de consentimento.
5. Recurso especial provido.

Processo
AgInt no CC 175997 / ES
AGRAVO INTERNO NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA
2020/0299395-3
Relator(a)
Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO (1144)
Órgão Julgador
S2 - SEGUNDA SEÇÃO
Data do Julgamento
27/10/2021
Data da Publicação/Fonte
DJe 05/11/2021
Ementa
AGRAVO INTERNO NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA. DIREITO
CIVIL E
PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DE FAMÍLIA. UNIÃO ESTÁVEL,
GUARDA DOS

FILHOS E DIREITO DE VISITA.


1. Agravo interno interposto no curso do conflito de competência
suscitado pelo convivente (ora agravado) para definição do juízo
competente (Comarca de Guarapari - ES - ou Manhuaçu - MG) para
processar e julgar as demandas envolvendo o casal (declaração de
união estável, guarda das filhas e direito de visita).
2. As duas filhas do casal, nascidas em 2013 e 2015, estão na guarda
provisória do convivente na Cidade de Guarapari, desde o rompimento
da união estável.
3. Aplicação dos princípio do melhor interesse da criança, nos
termos do art. 147, I, do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei
nº 8.069/1990), e da Súmula 383/STJ ("A competência para processar
e julgar as ações conexas de interesse de menor é, em princípio, do
foro do domicílio do detentor de sua guarda").
4. Competência fixada no juízo da Comarca de Guarapari, onde
exercida a guarda provisória das filhas pelo convivente. Precedentes
da Segunda Seção.
5. Rejeição da arguição de suspeição do Subprocurador-Geral da
República formulada pela agravante.
6. Manutenção da decisão monocrática agravada, com fixação da
competência no juízo da Comarca de Guarapari.
7. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.
Acórdão
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,
acordam os Ministros da SEGUNDA SEÇÃO do Superior Tribunal de
Justiça, preliminarmente, foi rejeitado o pedido de arguição de
suspeição do Sr. Suprocurador-geral da República.
No mérito, por unanimidade, negar provimento ao agravo interno, nos
termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Os Srs. Ministros Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco Buzzi, Marco


Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro, Luis Felipe Salomão, Raul Araújo e
Antonio Carlos Ferreira votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, a Sra. Ministra Nancy Andrighi.
Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti.

Processo
HC 668918 / MG
HABEAS CORPUS
2021/0158216-5
Relator(a)
Ministro MOURA RIBEIRO (1156)
Órgão Julgador
T3 - TERCEIRA TURMA
Data do Julgamento
26/10/2021
Data da Publicação/Fonte
DJe 28/10/2021
Ementa
"HABEAS CORPUS". MEDIDA PROTETIVA EM FAVOR DE MENOR.
"WRIT"
IMPETRADO CONTRA DECISÃO LIMINAR DE DESEMBARGADOR
RELATOR EM TRIBUNAL SOB A JURISDIÇÃO DO STJ. INCIDÊNCIA,
POR ANALOGIA, DA SÚMULA N. 691 DO STF. INVIABILIDADE.
POSSIBILIDADE DE CONCESSÃO DA ORDEM DE OFÍCIO.
DETERMINAÇÃO JUDICIAL DE ACOLHIMENTO DE CRIANÇA EM
VIRTUDE DE OCORRÊNCIA DA CHAMADA "ADOÇÃO À
BRASILEIRA" E MUDANÇA DELA PARA O EXTERIOR. AUSÊNCIA
DE ÍNDICIOS DE RISCO CONCRETO À INTEGRIDADE FÍSICA E

PSQUÍCA DA MENOR, SEJA NO PAÍS OU FORA DELE. FORMAÇÃO


DE SUFICIENTE VÍNCULO AFETIVO ENTRE ELA E A FAMÍLIA
SUBSTITUTA. PRIMAZIA DO ACOLHIMENTO FAMILIAR EM
DETRIMENTO DACOLOCAÇÃO EM ABRIGO INSTITUCIONAL, NÃO
OBSTANTE OS MEIOS ILEGAIS DE OBTENÇÃO DA GUARDA DA
CRIANÇA. OBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS DA PROTEÇÃO
INTEGRAL E PRIORITÁRIA DA CRIANÇA, PREVISTO NO ECA E NA
CF.
PRECEDENTES DO STJ. PERIGO DE CONTÁGIO PELO
CORONAVÍRUS (COVID-19). ILEGALIDADE DA MANUTENÇÃO,
POR ORA, DA DECISÃO DE ABRIGAMENTO INSTITUCIONAL.
ORDEM CONCECIDA DE OFÍCIO, EM PARTE,
EXCEPCIONALMENTE.
1. A teor da Súmula nº 691 do STF, não se conhece de habeas corpus
impetrado contra decisão liminar de relator proferida em outro writ,
ou impugnando decisão provisória de Desembargador de Tribunal
sujeito a jurisdição do STJ, exceto na hipótese de decisão
teratológica ou manifestamente ilegal. Possibilidade de concessão da
ordem de ofício. Precedentes.
2. Em situações excepcionais, em observância ao princípio da
proteção integral e prioritária da criança e do adolescente previsto
na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente,
mesmo em hipótese de ocorrência da "adoção à brasileira", a
jurisprudência do STJ consolidou-se no sentido da primazia do
acolhimento familiar em detrimento da colação de menor de terna
idade em abrigo institucional.
3. A jurisprudência desta eg. Corte Superior também já decidiu que
não é do melhor interesse da criança o acolhimento temporário em
abrigo, quando não há evidente risco à sua integridade física e

psíquica, com a preservação dos laços afetivos eventualmente


configurados entre a família substituta e o adotado ilegalmente.
Precedentes.
4. O potencial risco de contaminação pelo coronavírus (Covid-19) em
casa de abrigo institucional, também justifica a manutenção de
criança de terna idade com a família substituta.
5. Ordem concedida de ofício, em parte, excepcionalmente.

Processo
REsp 1886554 / DF
RECURSO ESPECIAL
2020/0189444-3
Relator(a)
Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE (1150)
Órgão Julgador
T3 - TERCEIRA TURMA
Data do Julgamento
24/11/2020
Data da Publicação/Fonte
DJe 03/12/2020
Ementa
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE ALIMENTOS. NEGATIVA DE
PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. ALIMENTANTE PRESO.
CIRCUNSTÂNCIA QUE NÃO INFLUENCIA NO DIREITO
FUNDAMENTAL À PERCEPÇÃO DE ALIMENTOS. PECULIARIDADE
A SER APRECIADA NA FIXAÇÃO DO VALOR DA PENSÃO.
POSSIBILIDADE DE O INTERNO EXERCER ATIVIDADE
REMUNERADA. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.

1. Verifica-se que o Tribunal de origem analisou todas as questões


relevantes para a solução da lide de forma fundamentada, não
havendo
falar em negativa de prestação jurisdicional.
2. O direito aos alimentos é um direito social previsto na
CRFB/1988, intimamente ligado à concretização do princípio da
dignidade da pessoa humana. Assim, a finalidade social e existencial
da obrigação alimentícia a torna um instrumento para concretização
da vida digna e a submete a um regime jurídico diferenciado,
orientado por normas de ordem pública.
3. Os alimentos devidos pelos pais aos filhos menores decorrem do
poder familiar, de modo que o nascimento do filho faz surgir para os
pais o dever de garantir a subsistência de sua prole, cuidando-se de
uma obrigação personalíssima.
4. Não se pode afastar o direito fundamental do menor à percepção
dos alimentos ao argumento de que o alimentante não teria condições
de arcar com a dívida, sendo ônus exclusivo do devedor comprovar a
insuficiência de recursos financeiros. Ademais, ainda que de forma
mais restrita, o fato de o alimentante estar preso não impede que
ele exerça atividade remunerada.
5. O reconhecimento da obrigação alimentar do genitor é necessário
até mesmo para que haja uma futura e eventual condenação de outros
parentes ao pagamento da verba, com base no princípio da
solidariedade social e familiar, haja vista a existência de uma
ordem vocativa obrigatória.
6. Recurso especial desprovido.

Processo
HDE 4289 / EX
HOMOLOGAÇÃO DE DECISÃO ESTRANGEIRA
2020/0171831-5
Relator(a)
Ministro RAUL ARAÚJO (1143)
Órgão Julgador
CE - CORTE ESPECIAL
Data do Julgamento
18/08/2021
Data da Publicação/Fonte
DJe 23/08/2021
Ementa
PROCESSUAL CIVIL. HOMOLOGAÇÃO DE DECISÃO
ESTRANGEIRA. ALIMENTOS.FILHO MENOR. CUMPRIMENTO DOS
REQUISITOS. DEFERIMENTO DA HOMOLOGAÇÃO.
1. É devida a homologação da sentença estrangeira dispondo sobre
alimentos, porquanto atendidos os requisitos previstos nos arts. 963
e 964 do CPC de 2015, 216-C e 216-D do RISTJ, bem como
constatada a
ausência de ofensa à soberania nacional, à dignidade da pessoa
humana e à ordem pública (CPC/2015, art. 963, VI; LINDB, art. 17;
RISTJ, art. 216-F).
2. Inviável analisar, no pedido homologatório de decisão
estrangeira, alegações trazidas em contestação, quanto à excessiva
onerosidade da pensão alimentícia imposta na sentença alienígena e à
ausência de condição financeira atual do ora requerido, a
impossibilitar o cumprimento da obrigação de pagar, bem como o
pedido de revisão da pensão estabelecida pela Justiça Austríaca.

3. A homologação de decisão estrangeira é ato meramente formal, por


meio do qual esta Corte exerce tão somente um juízo de delibação,
não adentrando o mérito da disputa original, tampouco averiguando
eventual injustiça do decisum alienígena. A homologação tem como
única e exclusiva finalidade transportar para o ordenamento pátrio,
se cumpridos todos os requisitos formais exigidos pela legislação
brasileira, a decisão prolatada no exterior, nos exatos termos em
que proferida.
4. Pedido de homologação da decisão estrangeira deferido. Sem
fixação de honorários advocatícios sucumbenciais, na conformidade da
fundamentação.

RECURSO ESPECIAL. DIREITO DE FAMÍLIA. DISSOLUÇÃO DE


UNIÃO ESTÁVEL. ALIMENTOS PROVISÓRIOS À EX-
COMPANHEIRA. FALECIMENTO DO ALIMENTANTE NO CURSO DO
PROCESSO. OBRIGAÇÃO PERSONALÍSSIMA. IMPOSSIBILIDADE
DE TRANSMISSÃO AOS HERDEIROS DO "DE CUJUS" OU AO SEU
ESPÓLIO.
1. A obrigação de prestar alimentos, por ter natureza
personalíssima, extingue-se com o óbito do alimentante, cabendo ao
espólio recolher, tão somente, eventuais débitos não quitados pelo
devedor quando em vida, ressalvada a irrepetibilidade das
importâncias percebidas pela alimentada (REsp n.º 1354693/S, Rel. p/
o acórdão o Ministro Antônio Carlos Ferreira, Segunda Seção, julgado
em 26/11/2014 DJe 20/02/2015).
2. Excepcionalmente e desde que o alimentado seja herdeiro do
falecido, é admitida a transmissão da obrigação alimentar ao
espólio, enquanto perdurar o inventário e nos limites da herança.
3. Possibilidade de ser pleiteada pela alimentanda ajuda alimentar

de outros herdeiros ou demais parentes com base no dever de


solidariedade decorrente da relação de parentesco, conforme
preceitua o art. 1.694, do Código Civil, ou, ainda, de postular a
sua habilitação no inventário e lá requerer a antecipação de
recursos eventualmente necessários para a sua subsistência até
ultimada a partilha, advindos da sua meação.
4. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.

- CARVALHO, Dimas Messias de. Direito das Famílias. 8º ed. Saraiva,


2020.

- DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias 14.ª edição.


São Paulo: Editora Juspodivm. 2020.

- GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Pamplona. Manual


de Direito Civil. 6ª Edição. São Paulo: Editora Saraiva. 2022.

- GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro – Direito das


Sucessões. Vol. 06. 15ª ed. São Paulo. Saraiva: 2020.

- MADALENO, Rolf. Direito de Família.11 ed, Forense, 2021.

- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e


Sucessões. São Paulo, Ed. Saraiva. 2017.

- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Princípios fundamentais norteadores


do direito de família. 3º ed. São Paulo, Saraiva, 2016.

- TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. 11º ed. São Paulo: Método,
2021.

- DELLANI, Diorgenes André. Princípios do Direito de Família.


https://diorgenes.jusbrasil.com.br/artigos/112183566/principios-do-
direito-de-familia.
Acesso em 27/01/2022

- FERREIRA, Oswaldo Moreira.Os principais princípios


contemporâneos norteadores do Direito de Família.
https://www.boletimjuridico.com.br/artigos/direito-civil-familia-e-
sucessoes/4543/os-principais-principios-contemporaneos-norteadores-
direito-familia
Acesso em 27/01/2022

- FREIRE, Kaique. Princípios Norteadores do Direito de Família.


https://kaiquefreire3.jusbrasil.com.br/artigos/323429513/resumo-
principios-norteadores-do-direito-de-familia
Acesso em 27/01/2022

- LOPES, Renan Kfouri. Monogamia e Dever de Fidelidade. Princípio e


Diferenças.
http://www.rkladvocacia.com/monogamia-e-dever-de-fidelidade-
principio-e-diferencas/
Acesso em 27/01/2022

- MADALENO, Rolf. Princípios jurídico regentes da família.


http://genjuridico.com.br/2020/12/08/principios-juridicos-regentes-da-
familia/
Acesso em 27/01/2022

- MENEGASSO, Luana Sparssa. Princípios do Direito de Família.


https://jus.com.br/artigos/75871/principios-do-direito-de-familia
Acesso em 27/01/2022

- MELLO, Edson Teixeira de. Princípios constitucionais do Direito de


Família. https://jus.com.br/artigos/9093/principios-constitucionais-do-
direito-de-familia.
Acesso em 27/01/2022

- MULLER, Meri. Princípios Constitucionais da Família


https://jus.com.br/artigos/60547/principios-constitucionais-da-familia
Acesso em 27/01/2022

- SILVA, Manoel de Almeida e. O Direito de Família e os princípios


constitucionais no enfoque jurídico atual.
https://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=9621
Acesso em 27/01/2022

- SILVA, Daniel Vinicius Ferreira da. Princípios Norteadores do Direito


de Família.
https://jus.com.br/artigos/56132/principios-norteadores-do-direito-de-
familia#:~:text=Os%20princ%C3%ADpios%20do%20direito%20de,do%
20pluralismo%20familiar%2C%20o%20princ%C3%ADpio
Acesso em 27/01/2022

- TARTUCE, Flavio. Novos princípios do Direito de Família Brasileiro.


https://ibdfam.org.br/index.php/artigos/308/Novos+princ%c3%adpios+d
o+Direito+de+Fam%c3%adlia+Brasileiro+(1)
Acesso em 27/01/2022

Após a leitura deste material e o acompanhamento das videoaulas


ministradas pelo(s) professor(es), finalize o seu aprendizado efetuando
a atividade autoinstrucional, disponível na área do aluno, no menu
plataforma de atividades no link “provas e atividades”. O gabarito será
visualizado, conforme a programação do cronograma da disciplina.

PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO DE FAMÍLIA E DAS SUCESSÕES

MÓDULO: DIREITO DAS SUCESSÕES

TEMA: INVENTÁRIO E PARTILHA JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL. ASPECTOS


PRÁTICOS E TRIBUTÁRIOS

No mundo contemporâneo, o inventário passou a ter grande


importância, por ser o procedimento através do qual haverá a efetiva
descrição dos bens, direitos e obrigações, transferidos a favor dos
herdeiros por força da abertura da sucessão.

É o instrumento processual em que serão, em regra, decididas todas


as questões de interesse do espólio. Através do fenômeno
da saisine (art. 1.784 do CC), os herdeiros recebem a herança no
estado de indivisão em que se encontra (art. 1.791, parágrafo único, do
CC).

Após a satisfação do fisco e o pagamento das dívidas do falecido


ocorrerá a a partilha de bens, em que serão definidos e apartados os
bens que irão caber aos sucessores hereditários do falecido.

Pode ser efetuado o inventário judicial quando não há concordância


entre os herdeiros e o inventário extrajudicial em que todos os
interessados estão de acordo e dividem os bens, direitos e se cumprem
as obrigações que compõem o acervo hereditário por meio de escritura
pública.

Conceito de Inventário
Conforme o Prof. Rodrigo da Cunha Pereira:
“Do latim inventarium, relação de bens. Em sentido amplo é o balanço,
enumeração e descriminação minuciosa de bens e coisas. Na
terminologia jurídica do Direito Sucessório indica o procedimento pelo
qual se faz a descrição pormenorizada dos bens da herança, para
possibilitar o recolhimento de tributos, pagamento de credores, e por
fim, a partilha. É um procedimento declaratório que pode ser feito na
via judicial ou extrajudicial quando todos os herdeiros forem capazes e
concordes, e não houver testamento. Neste caso é feito mediante
escritura pública” 1.
O inventário é o procedimento pelo qual se define quais bens integram
o acervo hereditário e qual quinhão pertencerá a cada herdeiro. Assim,
o inventário é a simples enumeração e descrição dos bens e das
obrigações que integram a herança. Todos os direitos, bens e
obrigações serão incluídos no inventário, integrando o monte-mor.
Depois, separar-se-á o que pertencia ao "de cujus" e distribuirá entre
os herdeiros, separando aquilo que pertence ao cônjuge supérstite.
Sendo assim, inventário é a descrição minuciosa de todos os bens,
obrigações e dívidas ativas deixadas pelo "de cujus". É o procedimento
a que discriminará os bens pertencentes ao acervo hereditário e
indicará os herdeiros e legatários do "de cujus", estabelecendo o
quinhão pertencente a cada um.
Maria Berenice Dias nos ensina:

1
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e Sucessões Ilustrado. São Paulo,
Saraiva, 2017.

“A partilha é o ponto culminante da liquidação da herança, na medida


em que põe termo ao estado transitório do espólio, através da entrega
do acervo individualizado a cada herdeiro, na proporção do respectivo
quinhão. Esta é a fase final do processo de inventário, na qual se
promove a divisão oficial do patrimônio líquido identificado durante o
inventário, encerrando-se a comunhão sobre a universalidade dos bens
da herança. Por meio da partilha, se identifica a parcela de bens
destinada a cada herdeiro. As quotas ideais se tornam reais. Passa-se
do estado de comunhão pro indiviso ao estado de quotas
completamente separadas pro diviso. A partilha é
2
simplesmente declarativa, e não atributiva de direitos” .

Segundo o Prof. Euclides de Oliveira: “É pelo procedimento de


inventário e partilha que se formaliza a transmissão do de cujus aos
seus sucessores” 3.
Uma das consequências da morte da pessoa natural é a abertura da
sucessão com a transmissão dos bens deixados os herdeiros legítimos
e testamentários. A transmissão da posse e da propriedade dos bens
deixados pelo "de cujus" ocorre no momento da morte, em razão do
princípio da "saisine" previsto no artigo 1.784, do Código Civil. Quando
existirem vários herdeiros, forma-se um condomínio com todos os
bens, sendo que cada um será proprietário de uma fração ideal.
Carlos Roberto Gonçalves ensina a partilha como:
“Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros
legítimos e testamentários (CC, art. 1.784), malgrado os bens imóveis

2
DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. 7ª Ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2021.
3
OLIVEIRA, Euclides de. AMORIM, Sebastião. Inventário e Partilha. Teoria e Prática. 24º ed.
Saraiva, 2016.

permaneçam ainda em nome do de cujus no Registro de Imóveis. É


necessário, então, proceder-se ao inventario, isto e, a relação,
descrição e avaliação dos bens deixados, e a subsequente partilha,
expedindo-se o respectivo formal” 4.
Porém, mesmo que a transmissão da propriedade dos bens ocorra com
a morte, indispensável o procedimento do inventário e partilha. A
herança é uma universalidade de bens, e o espólio é a massa indivisa
desses bens, que pode ser parte no processo. Entretanto, para que
exista, é necessário que o "de cujus" tenha deixado herdeiros
conhecidos, legítimos ou testamentários. O espólio é representado pelo
inventariante, exceto se for dativo, sendo que neste caso será
representado por todos os herdeiros. Enquanto não houver
inventariante, o espólio será representado pelo administrador provisório
(pessoa que estiver com a posse dos bens).

Administrador provisório
Aberta a sucessão hereditária com a morte da pessoa física ou natural,
até que seja aberto o inventário e o inventariante preste o compromisso
de gerir os bens que compõem o espólio, faz-se necessária que a
administração da herança, em juízo ou fora dele, o que se realiza por
meio de determinada pessoa, a qual a lei e a doutrina, denominam
de administrador provisório (art. 1.797 do CC e art. 613 do CPC).

Na lição de Mario Roberto Carvalho de Faria, “ entre a abertura da


sucessão e a nomeação do inventariante, pode ocorrer um lapso
temporal por certos motivos como, por exemplo, o de existir testamento

4
Gonçalves, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume VII : direito das sucessões.— 18 ed.
São Paulo : Saraiva. 2020.

a ser cumprido, em que a herança não pode ficar sem um


administrador “5.

Segundo Francisco José Cahali, “o período em que o administrador


provisório exerce suas funções, ao menos em tese, é um curto
momento, de menor significado, pois com a instauração do processo
de inventário já se busca a nomeação do inventariante a quem
compete a administração da herança “6.

Com efeito, os deveres do administrador provisório estão previstos no


art. 614 do Código de Processo Civil, sendo que até o compromisso do
inventariante, deve representar ativa e passivamente o espólio.

Inventário e Partilha Judicial. Aspectos Práticos


A ação destinada a fracionar o patrimônio do “de cujus” é
o Inventário, que vem disciplinado nos artigos 610 e seguintes do
Código de Processo Civil. Ressalva-se que também há possibilidade
da sucessão ser processada pelo rito de Arrolamento, criado pelo
legislador com o objetivo de empregar celeridade às sucessões em
que haja somente herdeiros capazes e, ao mesmo tempo, acordo
quanto à partilha. É necessário consignar que a sucessão por
inventário ou por arrolamento é tratada por grande parte do judiciário
da mesma maneira, isto é, na prática, não existe diferenciação no
tratamento das duas ações supra citadas.

5
FARIA, Mario Roberto Carvalho de. Direito das sucessões: teoria e prática. 8. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2017.
6
CAHALI, Francisco José, Direito das sucessões. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

Comunicado o óbito ao juízo, este nomeará inventariante de acordo


com o artigo 617 do Código de Processo Civil, que deverá prestar
compromisso pessoalmente ou por procurador com poderes
especiais, em 5 dias, incumbindo ao mesmo a administração dos
bens do espólio até a partilha, assim como prestar as primeiras e
últimas declarações, elencar os herdeiros, defender o espólio ativa e
passivamente, exibir documentos e prestar contas de sua
administração.
O juiz determinará, também, que nos 20 dias subsequentes ao
compromisso, o inventariante preste as primeiras declarações, que
são o nome e qualificação completa do autor da herança, o nome e
qualificação completa dos herdeiros e do cônjuge supérstite (se
houver), a qualidade dos herdeiros e grau de parentesco com o
inventariante. Deverá apresentar também a relação completa dos
bens imóveis com a respectiva certidão de matrícula em nome do “de
cujus”, documentos de automóveis, informação de saldo bancário
bem como quaisquer outros bens titularizados pelo falecido (a). As
certidões negativas também serão necessárias.
Os herdeiros e o cônjuge supérstite podem ser representados pelo
mesmo advogado, o que além de facilitar o inventário, emprega
celeridade ao procedimento.
Apresentadas as declarações, o juízo ordenará a citação dos
herdeiros e cônjuge, caso ainda não estejam representados por
advogado nos autos e, na sequência, encaminhará os autos para o
próximo passo, que é a manifestação da fazenda pública.
Conforme Ivo Ferreira:
“Conferido o plano de partilha, se estiver correto, a contadoria
informará o juízo que nada tem a opor ao prosseguimento do feito. O
próximo passo é a apresentação das últimas declarações que, via de

regra, serão iguais as primeiras, ressalvada a realização de venda de


algum bem constante do acervo para pagamento de tributo ou coisa
parecida. Se o espólio restou intocado durante a tramitação, o
inventariante deverá informar nos autos que nada tem a retificar às
primeiras declarações” 7.

A chancela judicial derradeira ao processo de inventário leva o nome


de homologação de partilha, sentença definitiva pela qual o juiz atribui
aos herdeiros os respectivos quinhões.
Após o trânsito em julgado da decisão que homologou a partilha, é
expedido documento chamado formal de partilha, que tem por
finalidade emprestar concretude ao comando judicial, ou seja, os bens
imóveis só poderão ser transferidos para titularidade dos herdeiros
com o respectivo registro do formal junto ao Cartório de Registro de
Imóveis local; os bens móveis que dependem de autorização judicial
para transferência (tais como carros e motos) prescindirão de alvará,
que terá sua expedição determinada no ato da homologação da
partilha.
Sobre o inventário judicial José Miguel Garcia Medina ensina:
“No curso do processo de inventário ou arrolamento surgem questões
incidentais a serem decididas pelo juiz. A questão de direito ou
pertinente a fatos sejam objeto apenas de prova documental será
decidida no curso do próprio processo (art. 612 do CPC/2015). Pode-
se, no entanto, depender de produção de prova distinta da documental

7
FERREIRA, Ivo. Passo a passo no processo de Inventário.
https://ivo333.jusbrasil.com.br/artigos/239702729/passo-a-passo-do-procedimento-de-inventario
Acesso em 15/02/2022

(p. ex., a filiação de um dos herdeiros poderá ser contestada por outro
herdeiro, e a resolução de tal questão depender de prova pericial).
Nesse caso, diz a lei, a resolução da questão será remetida "para as
vias ordinárias" (art. 612 do CPC/2015), o que "significa,
essencialmente, que o juiz deve processar o incidente pelos meios
ordinários, em apartado dos autos do inventário".8

O inventário negativo tem como finalidade comprovar a inexistência de


patrimônio transmitido pelo de cujus. O inventário negativo também
constitui um meio de prova para o fato jurídico negativo e será
essencial para o exercício de determinadas pretensões. O art. 1.523, I,
do CC/2002 estabelece causa específica para suspensão do novo
casamento em relação ao cônjuge sobrevivente, enquanto não for
realizado o inventário e a partilha dos bens. O inventário, ainda que
negativo, deverá ser realizado para a eliminação dessa causa
suspensiva.9

Arrolamento
Segundo Donizetti: “O arrolamento sumário é a forma abreviada de
inventário-partilha nos casos de concordância de todos os herdeiros,
desde que maiores e capazes, não importando o valor dos bens, se
diminuto ou grandioso, nem a sua natureza. Basta que os interessados
(meeiros, herdeiros e legatários) elejam essa espécie de procedimento,

8
MEDINA, José Miguel Garcia. Direito Processual Civil Moderno. 2 ed. São Paulo: Revistas dos
Tribunais. 2016.
9
Ibidem.

constituindo procurador, e apresentando, para homologação, a partilha


amigável ”10·.

Além da concentração de atos processuais, o arrolamento sumário é


marcado pela supressão de algumas fases ou atos do inventário
tradicional, como a lavratura de quaisquer termos e a avaliação dos
bens inventariados, que somente terá lugar caso algum credor do
espólio se insurja contra a estimativa feita pelos herdeiros.
Questiona-se, atualmente, a subsistência do arrolamento sumário no
ordenamento jurídico, haja vista que os herdeiros maiores, capazes e
concordes poderão procurar a via administrativa. Todavia, sempre que
não parecer conveniente sob algum ponto de vista a realização do
inventário pela via administrativa, as partes podem se valer do
arrolamento sumário, visto que é um procedimento célere em se
comparando com o procedimento do inventário.

O arrolamento é assim uma forma simplificada do inventário judicial ou


mesmo apenas da partilha amigável. Dá-se esse nome porque o
procedimento se inicia com uma petição em que o (s) autor (es), que é
(são) herdeiro (s), já faz um rol (daí “arrolamento”) dos bens, do(s)
herdeiro(s), do inventariante escolhido e, no caso de partilha amigável,
até mesmo os quinhões pretendidos por cada herdeiro já são
indicados. Ou seja, eliminam-se várias fases do inventário judicial
comum.11

10
DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. 20. ed. São Paulo: Atlas, 2017,
p. 833.
11
REIS, Nazareno Cesar Moreira. Inventário e Partilha. https://jus.com.br/artigos/68607/inventario-
e-partilha Acesso em 15/02/2022

A forma mais simples de arrolamento é a partilha amigável. A partilha


amigável pode ser solicitada diretamente ao juiz, se for entre pessoas
capazes (arts. 659 do CPC). O juiz, se não verificar nenhum vício
formal, homologará de plano a partilha por sentença. Transitada em
julgado a sentença de homologação de partilha ou de adjudicação (em
caso de herdeiro único), será lavrado o formal de partilha ou elaborada
a carta de adjudicação e, em seguida, serão expedidos os alvarás
referentes aos bens e às rendas por ele abrangidos, intimando-se o
fisco para lançamento administrativo do imposto de transmissão e de
outros tributos porventura incidentes, conforme dispuser a legislação
tributária (art. 659, §2º do CPC).
No inventário por arrolamento sumário, os herdeiros requererão a
abertura do inventário em petição da qual constará (art. 660 do CPC): I
- requerimento ao juiz da nomeação do inventariante que
designarem; II – declaração da condição de herdeiros e os bens do
espólio, observado o disposto no art. 630; III - atribuirão valor aos bens
do espólio, para fins de partilha. Não há termos de declaração. O
procedimento vai direto para a fase de partilha judicial.
Não se fará avaliação de bens nos autos do inventário, até porque fica
a cargo da Administração Tributária lançar e cobrar o tributo pelos
meios próprios (art. 662 do CPC).
Quando o valor dos bens do espólio for igual ou inferior a 1.000 (mil)
salários-mínimos, o inventário processar-se-á na forma de arrolamento
(art. 664 do CPC) — que poderá ser o sumário se as partes estiverem
de acordo sobre o nome do inventariante.
Nesse caso, cabe ao inventariante nomeado (lembre-se que, no
arrolamento sumário, as partes já indicam o inventariante),
independentemente de assinatura de termo de compromisso,
apresentar, com suas declarações, a atribuição de valor aos bens do

espólio e o plano da partilha. Havendo impugnação dos valores


estimados para os bens, o juiz nomeará avaliador, que oferecerá o
laudo em 10 dias. Apresentado o laudo, o juiz, em audiência que
designar, deliberará sobre a partilha, decidindo de plano todas as
reclamações e mandando pagar as dívidas não impugnadas (art. 664,
§2º do CPC)

Inventário e Partilha Extrajudicial. Aspectos práticos.


Aberta a sucessão, os bens transferem-se como um todo unitário aos
sucessores, nos termos do art. 1.791 do CC, sendo que com o
inventário e a partilha ocorrerá a divisão por quinhões a cada herdeiro.
Antes da Lei 11.441/2007 (derrogada pelo CPC) os inventários se
processavam somente em âmbito judicial e não cabia ao notário o
exercício da função de operacionalizar a transmissão mortis causa.

A rigor, o inventário administrativo, ou extrajudicial, é aquele feito


perante o tabelião de notas de livre escolha das partes interessadas,
por meio do qual se apura o ativo e o passivo da herança deixada pelo
falecido, com o fito de partilhar o patrimônio líquido em favor dos
herdeiros.
Segundo o Prof. Vitor Frederico kümpel:
“Com a entrada em vigor da referida Lei, os inventários passaram a ser
processados nas vias judicial e extrajudicial, o que foi mantido pelo
atual Código de Processo Civil. Dessa forma, todo o procedimento, de
apuração do patrimônio líquido deixado pelo falecido e a partilha aos
herdeiros é feito em Juízo ou mediante escritura pública, desde que,

nesta última hipótese, as partes sejam maiores e capazes, bem como


inexista testamento deixado pelo falecido” 12.

O Prof. Rodrigo da Cunha Pereira nos ensina sobre inventário


extrajudicial:
“É o inventário feito pela via administrativa, ou extrajudicial, isto é, feito
em Cartório de Notas. Esta modalidade simplificada de inventário foi
introduzida pela Lei 11.441/07 e só pode ser feita quando não há
menores, divergência entre herdeiros ou testamento” 13·.
O atual CPC prevê no art 610 § 1o e § 2o, o regime jurídico aplicado ao
inventário administrativo, estabelecendo que as partes deverão ser
capazes e concordes, sendo que o inventário e a partilha poderão ser
feitos por escritura pública, a qual constituirá documento hábil para
qualquer ato de registro, bem como para levantamento de importância
depositada em instituições financeiras.

Além disso, o § 2o estabelece que o tabelião somente lavrará a


escritura pública se todas as partes interessadas estiverem assistidas
por advogado ou por defensor público.

O Prof. Christiano Cassetari, explica:


O objetivo da Lei 11.441/2007, ao proibir o inventário quando existir
interessado incapaz, deve-se ao fato da necessária intervenção do
Ministério Público. Esta conclusão, no nosso sentir, também vale para

12
KÜMPEL, Vitor Frederico et al. Tratado Notarial e Registral. Tabelionato de Notas – 3, 1º edição.
São Paulo. Editora YK, 2017,p.912.
5 PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e Sucessões Ilustrado. São Paulo,
Saraiva, 2017.

o caso de a viúva estar grávida do falecido, já que, segundo o Código


Civil, o nascituro tem os seus direitos protegidos desde o momento da
concepção. Assim, como o nascituro teria, neste caso, direito
sucessório, caso venha a nascer com vida, por ser ele incapaz
impossível seria adotar o procedimento extrajudicial (...).14

Cesar Fiúza assim se manifestou sobre o tema:

“Segundo o art. 610 do CPC, o inventário e a partilha poder-se-ão


processar por escritura pública, lavrada no cartório de notas, desde que
todos os herdeiros sejam capazes e concordes, ou seja, desde que não
haja conflito entre eles, e desde que não haja testamento.

Neste caso, pagos os tributos e lavrada a escritura, os bens serão


repartidos entre os herdeiros. Com relação aos imóveis e demais bens
sujeitos a registro, como automóveis, a escritura constituirá título hábil
para a transferência junto ao órgão registral (cartório de imóveis,
Detran etc.) “15.

Conforme o Prof. Euclides de Oliveira:


“A possibilidade de acertamento voluntário da partilha é restrita ao
arrolamento sumário e à partilha extrajudicial (art. 1.031 do CPC),
embora também admissível por conversão no processo de inventário
litigioso em amigável. Para tanto, conforme já anotado, exige-se a
capacidade das partes e a transigência expressa, já que o

14
CASSETARI, Christiano. Separação, Divórcio e Inventário por Escritura pública – Teoria e
Prática. São Paulo: Método, 7º ed, 2015, p 150.
15
FIÙZA, Cesar. Direito Civil Curso Completo. Ed. RT, 2º ed. 2015.

procedimento, nessas circunstâncias, torna-se bem próximo


do administrativo, satisfazendo-se com simples ato homologatório do
juízo. Havendo menores ou incapazes, o acordo das partes dependerá
da manifestação do Ministério Público, como órgão fiscalizador” 16.

A escritura de inventário e partilhe se mostra facultativa, ante a


possibilidade de se submeter ao Judiciário, ainda que presentes os
requisitos para o ato notarial.

Natureza Jurídica
A escritura pública de inventário e partilha se funda na ausência de
litigiosidade entre os interessados, mas o notário não tem livre arbítrio
para redigir escrituras em situações não previstas pelo ordenamento
jurídico.

Assim, a atividade no notário nessa situação é a administração pública


dos direitos privados, devendo observar os requisitos de
admissibilidade.

A pretensão dos herdeiros de inventariar e partilhar é a de declarar um


direito previamente existente.

Competência notarial
O atual CPC estabelece o foro do domicílio do autor da herança como
o competente para o inventário.

16
OLIVEIRA, Euclides de. AMORIM, Sebastião. Inventário e Partilha. Teoria e Prática. 24º ed.
Saraiva, 2016.

Conforme o Prof. Vitor Frederico kümpel:


“Diversamente, o inventário extrajudicial exclui a aplicabilidade das
regras processuais de competência, ante a fixação da atribuição
notarial estar preconizada pela Lei 8.935/1994, que é lei especial e cujo
art. 8º consagra o princípio da plena liberdade de escolha pelas partes
da figura do tabelião” 17.
Conforme o art. 9º da referida Lei: “O tabelião de notas não poderá
praticar atos de seu ofício fora do Município para o qual recebeu
delegação”.

Dessa forma, há impedimento ao notário de extrapolar os limites


territoriais para o qual recebeu delegação e lavrar escrituras fora de
seu âmbito territorial.

Segundo o Prof. Euclides de Oliveira:


“Além disso, a competência restringe-se aos bens situados no território
nacional, sendo que os bens localizados no exterior não podem ser
inventariados e partilhados por escritura pública, exceto se houver
convenção internacional que aceite o inventário e a partilha sobre os
bens imóveis situados nos países signatários” 18.

17
KÜMPEL, Vitor Frederico et al. Tratado Notarial e Registral. Tabelionato de Notas – 3, 1º edição.
São Paulo. Editora YK, 2017,p.915.
18
Ibidem,p. 40.

Pressupostos

Capacidade das partes


O art. 610 § 1o do CPC exige a plena capacidade civil do cônjuge ou
companheiro, herdeiros e respectivos cônjuges.

Também não há óbice para a via extrajudicial se o herdeiro for


emancipado, de acordo com o parágrafo único do art 5º do CC.

As partes e interessados deverão assinar a escritura pública. Se algum


dos herdeiros não souber ou não puder assinar outra pessoa assinará
por ele, a seu rogo, aplicando os requisitos do art 215 do CC.

Cônjuge do herdeiro
Os cônjuges dos herdeiros deverão participar do ato notarial
concordando e assinando, quando houver renúncia ou algum tipo de
partilha que importe em transmissão de bens.

Tal requisito funda-se nas regras referente ao consentimento conjugal


para os atos de disposição de imóveis previsto no art. 1.647, I do CC,
considerando que, com a abertura da sucessão os bens que integram o
patrimônio do falecido se formam como bem indivisível, situação que
perdura até a efetivação da partilha. Excetua-se a hipótese quanto aos
casamentos sob o regime da separação total convencional, bem como
quanto ao regime da participação final dos aquestos.

Assistência de advogado
Estende-se ao inventário extrajudicial a regra especial de intervenção e
participação obrigatória do advogado, ainda que o mesmo seja patrono
comum de todas as partes envolvidas (parágrafo 2º do art. 610 do
CPC).

Conforme o Prof. Vitor Frederico kümpel:


“A finalidade é atribuir a este profissional a função de assessoramento
e orientação ao casal (art. 1º da Lei 8.906/1994), com a prestação de
esclarecimentos e dúvidas de caráter público. Não se trata de mero
coadjuvante do ato, com apenas a presença física; deve ter
participação efetiva, respondendo civil, criminal e profissionalmente
pelo exercício da função” 19.

Concordância das partes


A concordância das partes é pressuposto necessário e indispensável,
sem o qual ficará o notário impedido de lavrar o ato notarial.
O consenso, manifestado com a assinatura expressa no livro notarial
refere-se aos cálculos, avaliações, bens arrolados e respectiva partilha,
bem como demais cláusulas inseridas no ato notarial.
Caso uma das partes não souber ou não puder assinar, uma outra
pessoa assinará a rogo, colhendo a digital, preferencialmente do
polegar direito.

19
KÜMPEL, Vitor Frederico et al. Tratado Notarial e Registral. Tabelionato de Notas – 3, 1º
edição. São Paulo. Editora YK, 2017

Inventário Extrajudicial e Testamento


Até o ano de 2016, no Estado de São Paulo a existência de testamento
era impedimento para que o inventário pudesse ser feito de forma
extrajudicial, ainda que todos os herdeiros fossem capazes e
estivessem de acordo com a partilha.
Buscando tornar o serviço aos interessados mais eficaz e direcionar ao
Judiciário aquilo que é realmente pertinente, a saber, dirimir conflitos,
os juízes da Família e Sucessões do Fórum João Mendes
Junior fizeram novo requerimento à Corregedoria-Geral da Justiça de
São Paulo para que, sendo todos os interessados capazes e
concordes, mesmo no caso da existência de testamento, o inventário e
a partilha pudessem ser feitos por escritura pública.
Ao analisar o pedido, a CGJ-SP, por meio do Provimento CGJ 37/2016,
reviu o seu parecer de maio de 2014 e se posicionou favoravelmente
ao pedido, ou seja, decidiu que, "após registrado judicialmente o
testamento e sendo todos os interessados capazes e concordes com
os seus termos, não havendo conflito de interesses, é possível que se
faça o inventário extrajudicial".

O provimento, em sintonia com a Lei 11.441/07, que já havia concedido


a possibilidade de iniciar o inventário e a partilha por escritura pública,
estimula a desjudicialização dos procedimentos, traz maior celeridade à
sucessão e desburocratiza os procedimentos.
Vale ressaltar que o procedimento para inventário judicial ainda será
mantido quando existir discordância entre os herdeiros ou a presença
de beneficiários menores de idade ou incapazes. Porém, competirá ao
juiz a análise de validade do testamento, por meio da abertura, registro
e conseguinte “cumpra-se”.

Em harmonia com a mudança de entendimento por parte do Judiciário


de São Paulo, outros estados manifestaram-se na mesma direção,
como é o caso da Corregedoria da Justiça do Paraná, que, por meio do
Ofício-circular 155/2018, também garantiu a possibilidade de, após o
cumprimento do testamento por via judicial, ser feito o inventário de
forma extrajudicial.
O novo caminho jurídico, como já mencionado, além de tornar mais
eficaz o serviço prestado aos herdeiros e contribuir para a agilidade na
finalização do procedimento de inventário em um momento tão sensível
à vida familiar, possibilita ao Judiciário centrar suas forças em casos
realmente necessários, como quando há conflito entre as partes.
Em novembro de 2019, a 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça
decidiu que um inventário pode transcorrer por via extrajudicial mesmo
quando houver testamento. O relator do caso, ministro Luis Felipe
Salomão, ressaltou que “ os interessados são maiores de idade,
capazes, estão em plena concordância e devidamente acompanhados
por advogados. A turma foi unânime ao acompanhar o voto do relator”
20
.
O caso chegou ao STJ após o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro
julgar pela impossibilidade do inventário por via administrativa, já que a
existência de testamento leva ao artigo 610 do Novo Código de
Processo Civil, de 2015, que dispõe: “Havendo testamento ou
interessado incapaz, proceder-se-á ao inventário judicial.”
O mesmo artigo 610 no Novo CPC, em seu § 1°, afirma que o
inventário e a partilha poderão ser feitos por escritura pública sempre

20
IBDFAM
http://www.ibdfam.org.br/noticias/7084/STJ+admite+invent%C3%A1rio+extrajudicial+mesmo+com
+testamento Acesso em 15/02/2022.

que os herdeiros forem capazes e concordes. Assim, só o fato de


existir testamento não pode impedir que o inventário siga pela via
administrativa, sob pena de violação de princípios caros à Justiça,
como a efetividade da tutela jurisdicional e a duração razoável do
processo.

Inventário extrajudicial com filhos menores de idade


Na Comarca de Taubaté, um homem conseguiu autorização do Poder
Judiciário de São Paulo para a realização de inventário extrajudicial
mesmo com filhos menores de idade.
Conforme a sentença da 2ª Vara da Família e das Sucessões, da
Comarca de Taubaté, a partilha será estabelecida de forma ideal, sem
nenhum tipo de alteração do pagamento dos quinhões hereditários,
não havendo risco de prejuízo aos menores envolvidos.
Para Thomas Nosh Gonçalves “a despeito de ter menores, o
extrajudicial tem sim a competência e capacidade para instrumentalizar
esses atos. O que ocorre é a “deflagração de uma ação jurisdicional na
qual o juiz verifica e permite a lavratura, desde que seja igualitária a
partilha e o pagamento, e que não haja nenhum tipo de reposição ou
alteração, conforme o princípio da saisine”21.
No Acre, por meio da publicação da Portaria 5914-12 de 8 de setembro
de 2021, já se admite a realização de inventário extrajudicial, em
tabelionato de notas, quando houver herdeiros interessados incapazes.
No próprio considerando da Portaria, foi mencionado o teor doutrinário
dos autores, José Luiz Germano, José Renato Nalini e Thomas Nosch

21
IBDFAM
ibdfam.org.br/noticias/9215/Justiça+de+São+Paulo+autoriza+inventário+extrajudicial+mesmo+com
+filhos+menores+de+idade#:~:text=Atualmente%2C%20não%20é%20possível%20realizar,incapa
zes%20ou%20conflito%20de%20interesses. Acesso em 15/02/2022.

Gonçalves. Aqui já evoluindo a intervenção judicial jurisdicional prévia,


para intervenção judicial administrativa, devendo ser apresentada
minuta previamente submetida à aprovação da vara, antecedida do
MP, visando a devida proteção dos incapazes – com uma verdadeira
natureza de pedido de providência.22

O juiz de Direito Marcio Mendes Picolo, de Leme/SP também autorizou


a realização extrajudicial de um inventário, mesmo havendo filhos
menores de idade.23
Com a autorização, o representante pode assinar escritura pública de
inventário e partilha, com a ressalva de que devem estar satisfeitas as
demais exigências legais, junto ao Tabelião de Notas da Cachoeira de
Emas, na cidade de Pirassununga.24
Certamente com tais decisões caminhamos para a estruturar ainda
mais a desjudicialização em matéria de sucessões.

Aspectos Tributários
O processo de inventário e partilha deve ser aberto nos 60 dias
subsequentes à sucessão. Por abertura da sucessão entenda-se a
data do óbito, já que a partir do momento da morte os bens são
transferidos aos herdeiros necessários, todavia, necessitando-se de
inventário para formalizar a transmissão.

O prazo de 60 dias pode ser prorrogado pelo juiz de ofício ou a


requerimento da parte. A desatenção ao prazo importa em multa

22
Ibidem.
23
Processo: 1002882-02.2021.8.26.0318
24
Ibidem.

sobre o valor do imposto aplicável à espécie que é o Imposto de


Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD). Se o inventário for
aberto após 60 e antes de decorridos 180 dias do óbito, a multa será
de 10% sobre o valor do imposto. Ultrapassados os 180 dias a multa
equivalerá a 20% do valor do imposto.
O legislador atribuiu ao inventário judicial um caráter de urgência,
fixando no artigo 611 do CPC o prazo de dois meses para a sua
instauração. Evidentemente este prazo não é prescricional, no entanto,
se não for cumprido, poderá a fazenda pública estadual (SEF) fixar
multa, relacionada com o imposto causa mortis, conforme
entendimento consolidado pelo STF no enunciado de Súmula 542.
O enunciado apenas confirma a possibilidade dos Estados, dentro dos
limites de sua competência legislativa no âmbito tributário (artigo 155, I,
da Constituição), fixarem multa para inibir a inércia dos sucessores,
que por não ajuizarem o procedimento de inventário, impossibilitariam
a apuração e arrecadação do ITCMD.
De acordo com Maria Berenice Dias:
“O ITCMD é de competência dos Estados e do Distrito Federal (CF 155
I). Já o Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis – ITBI é
de competência municipal e incide sobre a transferência onerosa de
direitos reais sobre imóveis (CF 156 II). Tem como fato gerador a
transmissão da propriedade ou do domínio de bens imóveis (CTN 35 I),
exceto os direitos reais de garantia (CTN 35 II). Não só a transmissão,
também a cessão de tais direitos gera o mesmo imposto (CTN 35 III). A
base de cálculo é o valor venal do imóvel, isto é, o valor de mercado
quando da abertura da sucessão” 25.

25
DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. 7ª Ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2021.

A progressividade tributária do ITCMD não se incompatibiliza com o


princípio da capacidade contributiva, consagrada constitucionalmente
(CF 145 § 1.º).

O fato gerador do imposto causa mortis não é a morte, mas a


transferência do acervo sucessório em face da morte do titular dos
bens. Incide tanto sobre a herança transmitida aos herdeiros como
sobre os bens deixados por testamento. Ocorrem tantos fatos
geradores quantos forem os herdeiros ou legatários (CTN 35 parágrafo
único). A responsabilidade pelo pagamento do imposto não é do
espólio nem do inventariante, mas é de cada um dos herdeiros sobre o
quinhão recebido.

Incide sobre todo o acervo sucessório, a integralidade


do patrimônio do de cujus. O conceito de patrimônio é ativo menos
passivo. Assim, o imposto tem como base de incidência somente o
saldo patrimonial positivo. Afinal, são os bens remanescentes que se
transmitem aos herdeiros, e exclusivamente sobre estes é que deve
incidir a tributação.

Para que o processo do inventário seja finalizado e oficializado no


cartório, é preciso pagar o Imposto de Transmissão Causa Mortis e
Doações (ITCMD), imposto estadual cuja alíquota varia de estado
para estado, podendo chegar a até 8%.
O inventariante, com o auxílio do advogado ou tabelião, deve
preencher a declaração do ITCMD no site da Secretaria da Fazenda
do seu estado. O documento funciona como um resumo dos bens
deixados, dos herdeiros envolvidos e dos valores a serem pagos.

Por isso, nesta fase, a divisão de bens já deve ter sido acordada com
a família, os registros e certidões negativas devem ter sido
providenciados, e as informações sobre os herdeiros e a partilha
devem ter sido reunidas.
O imposto é calculado sobre o valor venal dos bens. Por isso, no
preenchimento da declaração do ITCMD são informados os valores
de mercado de cada bem. No caso dos imóveis, por exemplo, o valor
informado é aquele que aparece no carnê do IPTU.
Após preenchida a declaração, o sistema emite uma guia de
recolhimento do imposto para cada herdeiro, já com o valor que cada
um deve pagar.
No que concerne ao pagamento de ITCMD quando de um inventário
judicial, cabe ressaltar que a Fazenda Pública Estadual desde logo se
manifesta no processo, normalmente após apresentadas as primeiras
declarações, isto é, uma das primeiras petições na ação de inventário,
onde descreve-se os herdeiros, a pessoa falecida, seus bens e seus
respectivos valores, conforme preceitua o art. 629 do CPC.

Caso a Fazenda Pública não concorde com os valores dos bens


apresentados pelos herdeiros, mesmo que, por exemplo, em havendo
bens imóveis, tenham sido valorados com base no valor venal do
IPTU, lhe é possível pedir uma avaliação judicial do patrimônio, por
perito técnico.

Código Civil – artigos 1.991 a 2.027.


Código de Processo Civil – artigos 610 a 673.
Lei 8.906/94

Lei 11.441/07 (derrogada pelo CPC)


Res 35 do CNJ
Lei 8.935/94
Prov 56/2016
Proc CGJSP 37/2016
CF 35 e 145, 155 e156

Processo
AgInt nos EDcl no AREsp 1832714 / SP
AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
2021/0031085-4
Relator(a)
Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE (1150)
Órgão Julgador
T3 - TERCEIRA TURMA
Data do Julgamento
13/12/2021
Data da Publicação/Fonte
DJe 15/12/2021
Ementa
AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO.
INVENTÁRIO. VALORES DEPOSITADOS EM PLANO DE
PREVIDÊNCIA PRIVADA (VGBL). DISPENSA DE COLAÇÃO.
NATUREZA DE SEGURO DE VIDA. ACÓRDÃO DIVERGENTE DA
JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. A DECISÃO PROFERIDA NO

JUÍZO PRÉVIO DE ADMISSIBILIDADE NÃO VINCULA ESTA CORTE.


AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.
1. Nos termos da jurisprudência desta Corte, o Plano de Previdência
Privada (VGBL), mantido pelo falecido, tem natureza jurídica de
contrato de seguro de vida e não pode ser enquadrado como herança,
inexistindo motivo para determinar a colação dos valores nele
depositados.
2. A decisão proferida no juízo prévio de admissibilidade não
vincula esta Corte, motivo pelo qual é desnecessária a justificação
da não incidência dos óbices apontados naquela decisão.
3. Razões recursais insuficientes para a revisão do julgado.
4. Agravo interno desprovido.

Processo
AgInt no AREsp 1871565 / RJ
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
2021/0114613-8
Relator(a)
Ministro HERMAN BENJAMIN (1132)
Órgão Julgador
T2 - SEGUNDA TURMA
Data do Julgamento
13/12/2021
Data da Publicação/Fonte
DJe 17/12/2021
Ementa
PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. INVENTÁRIO. IMPOSTO DE
TRANSMISSÃO CAUSA MORTIS E DOAÇÃO. TRIBUNAL DE
ORIGEM, DECIDIU A DEMANDA COM BASE NOS PRINCÍPIOS DO

NÃO CONFISCO, DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA E DA


HERANÇA. APRECIAÇÃO PELO STJ. INVIABILIDADE.
1. Hipótese em que a Corte de origem assentou (e-STJ, fl. 32):
"(...) a jurisprudência vem caminhando no sentido de que, em casos
como o dos autos, em que as ações sofrem grande desvalorização
entre
a data da abertura da sucessão e a data da emissão da guia de
pagamento do imposto, deve ser dada uma interpretação à legislação
tributária em conformidade com a Constituição, sob pena de restarem
feridos os princípios do não confisco, da capacidade contributiva e
do direito à herança. Veja-se, no presente caso, que na data da
abertura da sucessão (31/07/2008) as 3.810 ações valiam R$ 442.546,
78 (fls. 36, Anexos 1), sendo que na data da sobrepartilha
(28/12/2018) já estavam desvalorizadas, valendo R$ 33.223,20 (fls.
40, Anexos 1). Exigir dos herdeiros o pagamento de imposto de
transmissão no importe de R$ 19.472,06 (fls. 39, Anexos 1) para o
recebimento de ações que totalizam pouco mais de R$ 30.000,00 fere
os princípios constitucionais citados".
2. O acórdão recorrido dirimiu a controvérsia com fundamento nos
princípios constitucionais do não confisco, da capacidade
contributiva e do direito à herança, o que afasta a competência do
STJ para a apreciação da matéria trazida nos presentes autos, pois
de cunho eminentemente constitucional, cabendo, tão somente, ao
STF
o exame de eventual ofensa. Precedentes: AgRg no AREsp
171.371/MS,
Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, DJe
19/9/2014; AgRg no AREsp 537.171/MG, Rel. Ministro Sérgio Kukina,
Primeira Turma, DJe 16/9/2014.

3. O manejo do Recurso Especial reclama violação ao texto


infraconstitucional federal, sendo defeso ao Superior Tribunal de
Justiça reexaminar a aplicação de legislação local, conforme o
verbete sumular 280/STF.
4. Agravo Interno não provido.

Processo
AgInt no AREsp 1449622 / SP
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
2019/0040818-4
Relator(a)
Ministro RAUL ARAÚJO (1143)
Órgão Julgador
T4 - QUARTA TURMA
Data do Julgamento
22/11/2021
Data da Publicação/Fonte
DJe 30/11/2021
Ementa
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
AGRAVO DE INSTRUMENTO. INVENTÁRIO. PARTILHA. QUESTÃO
DE ALTA INDAGAÇÃO NÃO EVIDENCIADA. ALTERAÇÃO.
NECESSIDADE DE REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-
PROBATÓRIA.SÚMULA 7 DO STJ. AGRAVO DESPROVIDO.
1. Esta Corte Superior de Justiça manifesta-se no sentido de que
"cabe ao juízo do inventário decidir, nos termos do art. 984 do CPC,
'todas as questões de direito e também as questões de fato, quando
este se achar provado por documento, só remetendo para os meios
ordinários as que demandarem alta indagação ou dependerem de

outras
provas', entendidas como de 'alta indagação' aquelas questões que
não puderem ser provadas nos autos do inventário" (REsp
450.951/DF,
Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
23/3/2010, DJe de 12/4/2010).
2. O Tribunal de Justiça, com arrimo no acervo fático-probatório,
concluiu pela ineficácia do negócio jurídico praticado por parte dos
herdeiros, declarando a inexistência de questão de alta indagação
apta a suspender a tramitação do feito. A pretensão de modificar tal
entendimento demandaria o revolvimento do acervo fático-probatório,
o que faz incidir o óbice da Súmula 7/STJ.
3. É inviável também conhecer da alegada divergência interpretativa,
pois a incidência da Súmula 7 do STJ na questão controversa
apresentada é, por consequência, óbice para a análise do apontado
dissídio, o que impede o conhecimento do recurso pela alínea c do
permissivo constitucional.
4. Agravo interno desprovido.

- CARVALHO, Luiz Paulo Vieira de . Direito das sucessões – 4. ed. –


São Paulo: Atlas, 2019.

- GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso


de Direito Civil - direito das sucessões. 6ª edição. Saraiva: São Paulo,
2019.

- GOMES, Orlando. Sucessões. 17ª ed. São Paulo: Forense, 2019.


- GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. V. 7. Direito das


Sucessões. 19ª ed. São Paulo: Saraiva, 2021.

- KÜMPEL, Vitor Frederico et al. Tratado Notarial e Registral.


Tabelionato de Notas – 3, 1º edição. São Paulo. Editora YK, 2017.

- LOBO, Paulo. Sucessões, 7º ed. Saraiva, 2021.

- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e


Sucessões. São Paulo, Ed. Saraiva. 2017.

- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Princípios fundamentais norteadores


do direito de família. 3º ed. São Paulo, Saraiva, 2016.

- VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. V. 7. Direito das Sucessões.


19ª ed. São Paulo: Atlas, 2019.

- DELGADO, Mario Luiz. Sucessão testamentária e


inventário extrajudicial. Disponível em:
https://marioluizdelgado.com/2014/04/11/sucessao-testamentaria-e-
inventario-extrajudicial/. Acesso em 15/02/2022

- FERREIRA, Jaqueline Badra. Inventário Judicial e Inventário Judicial


https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/10450/Inventario-
extrajudicial-e-inventario-judicial. Acesso em 15/02/2022

- NASCIMENTO, Gisele. Judicial ou Extrajudicial.


https://www.migalhas.com.br/depeso/291961/judicial-ou-extrajudicial
Acesso em 15/02/2022

- MISQUIATI, Débora. Inventário, Separação e Divórcio Extrajudiciais:


O impacto do novo Código de Processo Civil. 2015.
http://www.notariado.org.br/index.php?pG=X19leGliZV9ub3RpY2lhcw=
=&in=NTUxNA. Acesso em 15/02/2022

- NUNES, Dierle. Fisco pode multar herdeiros por demora em iniciar o


processo de inventário. https://www.conjur.com.br/2018-jun-02/opiniao-
fisco-multar-herdeiros-demora-iniciar-inventario. Acesso em 15/02/2022

- OLIVEIRA, Rodrigo Correia da Costa. O inventário extrajudicial e o


seu processamento – breves considerações. http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=
9379. Acesso em 15/02/2022

- OLIVEIRA, Carlos Elias de. A dispensa de inventário e o pagamento


direto. https://www.conjur.com.br/2021-fev-01/direito-civil-atual-
dispensa-inventario-pagamento-direto-parte. Acesso em 15/02/2022

- REIS, Nazareno Cesar Moreira. Inventário e Partilha.


https://jus.com.br/artigos/68607/inventario-e-partilha. Acesso em
15/02/2022

- TARTUCE, Fernanda. Atos extrajudiciais cartoriais no NCPC.


http://www.fernandatartuce.com.br/wp-content/uploads/2016/12/Atos-
extrajudiciais-cartoriais-no-NCPC.pdf. Acesso em 15/02/2022

- SOLIMENE FILHO, Mário. É possível fazer inventário extrajudicial


havendo testamento? https://jus.com.br/artigos/71769/e-possivel-fazer-
inventario-extrajudicial-havendo-testamento. Acesso em 15/02/2022

- VELOSO, Zeno. Separação, extinção de união estável, divórcio,


inventário e partilha consensuais, de acordo com o novo CPC. Acesso
em 31/01/2018. http://www.irib.org.br/files/obra/Artigo-BIR-Zeno-
Veloso-Goiania-Regional.pdf. Acesso em 15/02/2022

Após a leitura deste material e o acompanhamento das videoaulas


ministradas pelo(s) professor(es), finalize o seu aprendizado efetuando
a atividade autoinstrucional, disponível na área do aluno, no menu
plataforma de atividades no link “provas e atividades”. O gabarito será
visualizado, conforme a programação do cronograma da disciplina.

PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO DE FAMÍLIA E DAS SUCESSÕES

MÓDULO: DIREITO DAS SUCESSÕES

TEMA: PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

O planejamento sucessório visa a organização prévia e cuidadosa da


transferência do patrimônio aos herdeiros e pode proporcionar uma
sucessão mais eficaz.
O acúmulo de patrimônio e a busca para se evitar um inventário com
ostensiva intervenção estatal são fatores que vêm estimulando a
fronteira do direito das sucessões.
Para tanto, são diversos os instrumentos que vêm sendo utilizados
para a estruturação do programa pessoal de sucessão, os quais, além
do conhecido testamento, podem tocar constituição de sociedades,
provisão de seguros, instituição de direitos reais, entre outros.
Assim, o planejamento sucessório é utilizado como instrumento
preventivo e eficiente, para evitar conflitos entre herdeiros, bem como
para almejar uma distribuição da herança conforme a vontade do
morto, prestigiando a sua autonomia privada.

Conceito
Para Daniele Chaves Teixeira é "o instrumento jurídico que
permite a adoção de uma estratégia voltada para a

transferência eficaz e eficiente do patrimônio de uma


1
pessoa após a sua morte”.
Assim, podemos conceituar o planejamento sucessório como um
conjunto de atos que visa a operar a transferência e a manutenção
organizada e estável do patrimônio do disponente em favor dos seus
sucessores.
Conforme o Prof. Rodrigo Pereira da Cunha:
“Planejar é estabelecer um plano, isto é, um programa a ser
cumprido em um determinado período. Planejamento
sucessório é a organização feita pelo titular da futura
herança com vistas à distribuição e destinação de seus bens
para depois da sua morte. Assim, pode-se evitar o
inventário, se respeitada a legítima e o incômodo dos bens
condominiais”. 2
Conforme a Prof.ª Daniele Chaves Teixeira: “A lei sucessória
não oferece solução satisfatória para muitas das situações
familiares hoje existentes e sua observância em alguns
casos pode gerar injustiças e mesmo desamparo para
algumas pessoas”. 3
Continua ainda Daniele Chaves Teixeira:
“O testamento não mais atende por si só a vontade do
testador, em virtude dos requisitos de forma e conteúdo que
lhe são impostas. Diante da multiplicidade de demandas da

1
TEIXEIRA, Daniele. Noções prévias do direito das sucessões. Sociedade, funcionalização e
planejamento sucessório. In: Arquitetura do planejamento sucessório. Belo Horizonte: Fórum,
2018. p. 35.
2
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e Sucessões. São Paulo, Ed.
Saraiva. 2017.
3
TEIXEIRA, Daniele Chaves. Planejamento Sucessório. Pressupostos e Limites. 2º ed. Editora
Fórum, 2019.

sociedade atual, confrontam-se a vontade do legislador,


apegado a fórmulas antigas e a autonomia privada, que
exige cada vez maior respeito e espaço. Nesse cenário o
planejamento sucessório emerge como solução para o
gerenciamento da transmissão do patrimônio, de modo a
melhor atender os interesses de seus titulares e seus
sucessores”.4
É corrente a afirmação de que o planejamento sucessório pretende
evitar disputas entre herdeiros, na maioria das vezes muito próximos,
de maneira que é também uma afirmação do valor da família.
Planejamento sucessório é assim o processo pelo qual a família cria
instrumentos e parâmetros que irão permitir a manutenção, de forma
perene do patrimônio adquirido, evitando o pagamento de impostos
abusivos.
Já para Maria Berenice Dias:
“O planejamento patrimonial tem um roteiro de organização
patrimonial permanente. Está integrado por várias áreas de
atuação, como o planejamento fiscal e tributário com vistas a
reduzir o impacto fiscal sobre a gestão do
patrimônio. Passou a se chamar de planejamento sucessório
a adoção de uma série de providências visando preservar a
autonomia da vontade e prevenir conflitos futuros”. 5

O primordial é o ato de planejar, ou seja, a elaboração de um plano


para a transmissão futura do acervo patrimonial. Entretanto,
ocasionalmente, o planejamento sucessório pode não ser muito bem

4
Ibidem.
5
DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. 7ª Ed. São Paulo: Ed. Juspodivm, 2021.

executado, resultando em uma inadequação entre os fins almejados e


os meios utilizados e, por conseguinte, o indesejado conflito entre os
herdeiros. A acurada observação das peculiaridades do caso concreto
é fundamental para o seu sucesso, até mesmo porque os aspectos
subjetivos podem ser relevantes e, inclusive, decisivos, como o afeto
por determinada pessoa ou mesmo a confiança de que aquele outro
parente terá a capacidade para bem gerir e dar continuidade aos
negócios da família.
Rolf Madaleno conceitua assim conceitua o planejamento
sucessório: “Compreende um conjunto de projeções
realizadas em vida, para serem cumpridas como
manifestação de um querer especial, sobrevindo a morte do
idealizador, sendo então cumprida a sua vontade, em
sintonia com os seus antecipados desígnios tudo com vista
ao bem comum de seus herdeiros, construindo um ambiente
de pacífica transição da titularidade da herança, contribuindo
o planejamento da sucessão para a melhor perenização do
acervo do espólio”. 6

O planejamento sucessório deve ser efetuado nos limites legais,


respeitando a legítima e a sua intangibilidade. O principal limite ao
planejamento sucessório, além dos requisitos gerais de validade de
todo e qualquer ato jurídico, a serem compulsoriamente observados,
juntamente com as balizas da ordem pública, é a existência de
herdeiros necessários por parte do autor da herança e,
consequentemente, autor do próprio planejamento.

6
MADALENO, Rolf. Revista IBDFAM: Família e Sucessões. Belo Horizonte: IBDFAM 2014. V 1 p
12.

O desafio que se coloca, nessa perspectiva, é a utilização desse


instrumento, levando-se em conta a restrição da legítima que não pode
ser ignorada, sob pena de configurar fraude à lei ou mesmo abuso de
direito.
Só assim o planejamento será capaz de trazer uma razoável segurança
jurídica para o autor da herança e seus herdeiros, prevenindo e
evitando conflitos futuros.

Formas de Planejamento Sucessório

A primeira etapa de um planejamento sucessório bem executado é a


realização criteriosa de um diagnóstico da situação familiar,
patrimonial, legal e tributária dos envolvidos. Deve ser levado em
conta, por exemplo, a quantidade de imóveis; a existência de ativos
financeiros; o regime de bens do casamento; os negócios da família,
e, também qual a participação dos filhos nos negócios.
Segundo Augusto Assumpção:
“Planejar a sucessão patrimonial pode aumentar em muito
as chances de sobrevivência da atividade empresarial da
família. Por exemplo, na hipótese de um dos filhos ter
dedicado sua vida profissional à sociedade familiar, tendo
acompanhado seu pai ou mãe na gestão dos negócios,
poderia ele ser aquinhoado com ações ordinárias, com
poder de voto e gestão da sociedade, enquanto seu irmão,
que se dedicara à atividade não relacionada ao ambiente
empresarial, receberia ações preferenciais, aquelas com
direito a receber os dividendos da sociedade empresária,
mas sem, contudo, poder influenciar em sua gestão. Com
esta solução exemplificativa, se preservaria o direito

patrimonial dos dois herdeiros, salvaguardando as


melhores chances de sucesso da atividade empresarial
familiar” 7.

Além das modalidades clássicas, há outras possibilidades de o titular


do patrimônio definir a partilha de seus bens: doações entre cônjuges e
companheiros, a depender do regime de bens não se comunicam (CC
1.659 I e 1.674); doações com cláusula de reversão (CC 547) e doação
com reserva de usufruto (CC 1.390); imposição das cláusulas
restritivas de direito como a incomunicabilidade, impenhorabilidade e
inalienabilidade sobre a legítima dos herdeiros necessários, dos
herdeiros testamentários e dos legatários (CC 1.911); instituição
de bem de família por testamento sobre um terço do patrimônio líquido
existente ao tempo da instituição (CC 1.711); nomeação de tutor a
filhos menores (CC 1.634 IV e 1.729). Fora disso, pode haver a
instituição de beneficiário de seguro de vida (CC 791).

Para Flavio Tartuce: “Alguns dos instrumentos de


planejamento sucessório merecem ser destacados, a
saber: a) escolha por um ou outro regime de bens no
casamento ou na união estável, até além do rol previsto no
Código Civil (regime atípico misto) e com previsões
específicas; b) constituição de sociedades, caso
das holdings familiares, para a administração e até partilha

7
ASSUMPÇÃO, Augusto. O planejamento sucessório e seus benefícios.
https://augustoassumpcao.jusbrasil.com.br/artigos/339762581/o-planejamento-sucessorio-e-seus-
beneficios
Acesso em 26/02/2022.

de bens no futuro; c) formação de negócios jurídicos


especiais, como acontece no trust, analisado em textos
seguintes a este; c) realização de atos de disposição de
vida, como doações – com ou reserva de usufruto –, e post
mortem, caso de testamentos, inclusive com as cláusulas
restritivas de incomunicabilidade, impenhorabilidade e
inalienabilidade; d) efetivação de partilhas em vida e de
cessões de quotas hereditárias após o
falecimento; e) celebrações prévias de contratos onerosos,
como de compra e venda e cessão de quotas, dentro das
possibilidades jurídicas do sistema; f) eventual inclusão de
negócios jurídicos processuais nos instrumentos de muitos
desses mecanismos; g) pacto parassocial, como se dá em
acordos antecipados de acionistas ou sócios; e h)
contratação de previdências privadas abertas, seguros de
8
vida e fundos de investimento”.

Também questões aparentemente não patrimoniais têm reflexos


sucessórios, como o reconhecimento de filho (CC 1.609 III),
o perdão do herdeiro indigno (CC 1.818) e a deserdação do herdeiro
necessário (CC 1.964).

8
TARTUCE, Flavio.Planejamento sucessório. O que é isso? - Parte 01
https://www.migalhas.com.br/FamiliaeSucessoes/104,MI290190,101048-
Planejamento+sucessorio+O+que+e+isso+Parte+I
Acesso em 26/02/2022

Instrumentos do planejamento sucessório

Testamento

O testamento, na sua condição de manifestação de última vontade pela


qual um indivíduo dispõe, para depois da morte, do todo ou de parte de
seus bens, é um importante instrumento de planejamento sucessório.
Segundo Orlando Gomes:
“A partilha por testamento não levanta objeções e realiza-se
com a intenção de prevenir discórdia, conforme estudado no
tópico acima. Porém, sua eficácia não é imediata, uma vez
que nenhum direito é transferido ao herdeiro enquanto o
testador estiver vivo. Na hipótese de pré-morte do filho os
bens passam aos descendentes, e, se não os tem, divide-se
entre os sobreviventes”. 9

O testamento é o ato personalíssimo e revogável pelo qual alguém,


de conformidade com a lei, não só dispõe, para depois de sua morte,
no todo ou em parte do seu patrimônio. (CC, art. 1.857, caput).

O testamento é o principal e mais difundido veículo jurídico para quem


busca realizar sua vontade após a morte. Através dele podem-se
nomear herdeiros ou legatários; instituir rendas ou alimentos,
temporários ou vitalícios; determinar a quem se deseja destinar
determinados bens e portanto interferir na partilha. Em suma, as
possibilidades de utilização do testamento são extensas e, acima de

9
GOMES, Orlando. Sucessões. 17º ed. Forense , 2019.

tudo, flexíveis, o que confere a este instrumento aplicabilidade nas


mais diversas necessidades e arquiteturas sucessórias.

De qualquer forma, não se pode negar que o testamento é um dos


pontos mais relevantes do direito privado, pois é nele que se revela
com maior amplitude a autonomia da vontade privada.

Doação e Usufruto

As doações feitas em vida, como antecipação da legítima dos herdeiros


também representa um adequado instrumento de planejamento
sucessório.

A partilha por ato inter vivos, ou partilha em vida, é feita pelo pai ou
qualquer ascendente, por escritura pública ou testamento, não
podendo prejudicar a legítima dos herdeiros necessários.

A doação em vida, em contraponto ao testamento que somente


produz efeito após a morte do doador, é o meio por excelência para
se antecipar a transmissão patrimonial, evitando assim a necessidade
de abertura de inventário após a morte do autor do patrimônio. Pode o
doador, por liberalidade, transferir qualquer bem ou direito seu para
outra pessoa, por instrumento particular ou escritura pública, sendo a
aceitação do donatário, tácita ou expressa, condição necessária para
se concretizar a mudança de titularidade.

A doação pode ser acompanhada de encargos, conforme prevê o


artigo 553 do Código Civil.

A partilha-doação é tida como uma sucessão antecipada, pois é uma


maneira de antecipar alguns bens aos herdeiros que somente o
receberiam após a morte do autor da herança. As mesmas regras de
vocação hereditária, herdeiros necessários e legítima, devem ser
observados.
Segundo Tartuce:
“Na partilha deve se preservar o mínimo para que o
estipulante viva com dignidade. Tal preceito se fundamenta
no artigo 548 do Código Civil de 2002 que estabelece ser
“nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou
renda suficiente para a subsistência do doador”.10

Para Maria Helena Diniz:


“Essa forma de partilha facilita a fase de liquidação do
inventário no processo de partilha, “homologando-se a
vontade do testador que propôs uma divisão legal e
razoável”, obedecendo, sempre, ao disposto no artigo 2.014
do Código Civil que prevê que “pode o testador indicar os
bens e valores que devem compor os quinhões hereditários,
deliberando ele próprio a partilha, que prevalecerá, salvo se
o valor dos bens não corresponder às quotas
11
estabelecidas” .

10
TARTUCE, Flavio. Direito Civil: Direito das Sucessões. 7 ed. São Paulo: Método, 2014.p 615
11
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil: Direito das Sucessões. 35 ed. São Paulo: Saraiva,
2021.

Como forma de planejamento sucessório, o autor da herança realiza a


doação de todos os seus bens aos herdeiros, mantendo-se a igualdade
de quinhões e a proteção da legítima.
Para Tartuce: “Nestes casos, é comum a reserva para o
doador do usufruto dos bens, que será extinto quando da
sua morte, consolidando a propriedade plena em favor dos
herdeiros antes donatários” 12·.

O artigo 2.017 traz uma importante recomendação sobre o tema “no


partilhar os bens, observar-se-á, quanto ao seu valor, natureza e
qualidade, a maior igualdade possível”. Trata-se do princípio da
igualdade da partilha, regramento importantíssimo para o instituto em
estudo.
Segundo Orlando Gomes:
“A partilha-doação deve obedecer a forma prescrita para a
doação, devendo ser feita por escritura publica se partilhado
bens imóveis, podendo ser feita por escritura particular, se
bem móvel. Além disso, o regime de comunhão de bens
impede a partilha-doação por um só dos cônjuges, pois
nenhum deles tem a propriedade exclusiva sobre os bens,
mas nada impede que seja feito de forma conjunta, ou seja,
repartam seus bens entre os filhos em um mesmo ato” 13.

Através das cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade e


incomunicabilidade, juntas ou individualizadas, pode-se garantir que
estes não deixem o patrimônio do donatário. Os efeitos são os

12
Ibidem, p 616
13
GOMES, Orlando. Sucessões. 17 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019.

mesmos passíveis de obtenção pela utilização destas cláusulas em


estipulação testamentária. Importante notar que a cláusula de
inalienabilidade, mais ampla em seus efeitos, implica em
impenhorabilidade e incomunicabilidade.

Conforme Fábio Silva: “A cláusula de incomunicabilidade


possui função diversa, porém com o objetivo semelhante:
proteger o patrimônio familiar. A doação gravada com essa
restrição tem como desígnio não permitir a
comunicabilidade dos direitos dos bens doados a terceiros,
especificamente ao cônjuge de seu herdeiro”.14

Carlos Roberto Gonçalves (2015, p. 217) assinala:


”A cláusula de incomunicabilidade constitui uma eficiente
proteção ao herdeiro, sem que, por outro lado, colida com
qualquer interesse geral. O exemplo mais comum é do pai
cuja filha se casa pelo regime de comunhão de bens. Para
evitar que, com a separação, os bens por ela trazidos
sejam divididos com marido não confiável, ou que com a
morte deste os mesmos bens sejam partilhados com os
seus próprios herdeiros, o genitor impõe a
incomunicabilidade da legítima, impedindo o
estabelecimento da comunhão”.15

14
SILVA, Fábio Pereira da. ROSSI, Alexandre Alves. Holding familiar: visão jurídica do
planejamento
societário, sucessório e tributário,2. ed. São Paulo: Trevisan Editora, 2017.
15
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, 15ª ed. Saraiva, 2021.

No que tange à cláusula de inalienabilidade , relaciona-se ao ato que


o bem doado não pode ser alienado pelo donatário enquanto
permanecer a restrição imposta pelo doador.

Temos que é comum a inclusão da cláusula de inalienabilidade ,


especialmente nos meandros do planejamento sucessório com base
na constituição de uma holding familiar, uma vez que a restrição
protege o patrimônio da família de interferências de terceiros
estranhos a esse vínculo.

Vale destacar que a cláusula de inalienabilidade automatica-mente


implica a impenhorabilidade do bem (art. 1.911 do Código Civil). A
intenção do legislador foi oferecer efetividade à cláusula de
inalienabilidade, pois restaria sem efeito caso o bem pudesse ser
penhorado e, consequentemente, expropriado de seu beneficiário.

Segundo Fábio Silva: “De toda forma, é possível gravar o


bem com cláusula de impenhorabilidade, embora isso seja
desnecessário no caso de já prevista a cláusula de
inalienabilidade. Especificamente no caso de uma empresa
holding, o objetivo é impedir que as quotas doadas aos
herdeiros venham a sofrer penhora em razão de suas
dívidas ou mesmo ser oferecidas espontaneamente à
penhora por parte dos donatários”.16

16
SILVA, Fábio Pereira da. ROSSI, Alexandre Alves. Holding familiar: visão jurídica do
planejamento
societário, sucessório e tributário,2. ed. São Paulo: Trevisan Editora, 2017.

Pode, ainda, o doador reter para si alguns direitos. O mais difundido e


utilizado é a retenção do usufruto. Com esta medida, pode-se
transferir a nua-propriedade antecipadamente, com todos os
benefícios já discutidos, garantindo ao doador, contudo, o uso, gozo e
fruição vitalícios do bem. Outra útil estipulação é a cláusula de
reversão, que determina que os bens doados voltem ao patrimônio do
doador, caso este sobreviva ao donatário.

Contudo, existem algumas restrições ao poder de doar em vida. A


principal delas é a de não poder, no momento da liberalidade, exceder
o que se poderia dispor em testamento. Visam-se com isso preservar
a legítima dos herdeiros necessários. Outra restrição importante tem
como objetivo salvaguardar a instituição do casamento e a família: a
doação feita por cônjuge adúltero ao seu cúmplice é anulável.

Por fim, convém mencionar que “a doação de ascendentes a


descendentes, ou de um cônjuge a outro, importa adiantamento do
que lhes cabe por herança.” Sendo certo que pode o doador, no
instrumento de doação ou em seu testamento, dispensar da colação
as doações realizadas, bastando determinar que saiam de sua parte
disponível, contando que não a excedam.17

A dispensa da colação de liberalidade que saia da meação disponível


só poderá ser feita pelo próprio doador, expressamente, no
testamento ou no título constitutivo (escritura pública, se imóvel o bem

17
ASSUMPÇÃO, Augusto. O planejamento sucessório e seus benefícios.
https://augustoassumpcao.jusbrasil.com.br/artigos/339762581/o-planejamento-sucessorio-e-seus-
beneficios Acesso em 26/02/2022.

doado, ou instrumento particular, se móvel) da liberalidade. Logo, não


terá validade se efetivada em outro documento ou se feita oralmente.

Holding Familiar

O planejamento sucessório é um mecanismo jurídico que permite


estabelecer a sucessão patrimonial inter vivos, contendo restrições que
propiciará a não dilapidação de patrimônio. A ferramenta utilizada para
esse procedimento de sucessão é a constituição de uma sociedade
empresária, a qual é denominada Holding Patrimonial.
Vale ressaltar que após a integralização dos bens para a Holding
Patrimonial os patriarcas terão total controle e gestão sobre a
sociedade e seu patrimônio, porquanto serão instituídos na sociedade
como usufrutuários e administradores, não havendo qualquer validade
algum ato praticado, que envolva a sociedade sem as suas anuências.
As quotas da empresa serão doadas para os herdeiros com cláusulas
restritivas de inalienabilidade, impenhorabilidade, incomunicabilidade e
reversão.
Para Fábio Silva: “Tampouco é seguro assumir que, durante
eventual processo de inventário, a unidade familiar se
manterá a salvo de desavenças em relação à divisão de
bens, que poderão, igualmente, colocar em risco a saúde
financeira da empresa. Não é incomum que algum herdeiro
particular demonstre insatisfação e discordância quanto aos

termos do inventário, desencadeando discussões


intermináveis junto ao judiciário”.18

Sendo assim, a constituição de uma Holding Patrimonial visa propiciar


a divisão patrimônio ainda em vida, evitando a dilapidação após morte
do patriarca, reduzindo os custos tributários e os desgastes que o
processo de inventário causaria ao grupo familiar.
“Por definição, holding é qualquer empresa criada com
intuito de controlar outras companhias ou certo patrimônio.
Em sua forma pura, a holding não irá realizar qualquer tipo
de operação, apenas gerenciará as empresas controladas,
determinando as políticas operativas e, eventualmente,
patrocinando todo o financiamento necessário para
operacionalizá-las. A criação da holding auxilia a
estruturação empresarial, transformando as várias empresas
de uma família em um só grupo econômico, o que implicará
um melhor controle e planejamento empresarial, com o
consequente aumento de produção” .19

Conforme o Prof. Rodrigo Pereira da Cunha:


“É muito comum inserir no planejamento sucessório a
constituição de empresas familiares, por meio de uma
holding familiar, cujos sócios são parentes e na maioria das
vezes descendentes do presidente do grupo empresarial.

18
SILVA, Fábio Pereira da. ROSSI, Alexandre Alves. Holding familiar: visão jurídica do
planejamento
societário, sucessório e tributário,2. ed. São Paulo: Trevisan Editora, 2017.
19
Planejamento Sucessório e holding familiar. http://jus.com.br/artigos/23837/planejamento-
sucessorio-e-holding-familiar-patrimonial#ixzz2w1rU2mFi.Acesso em 26/02/2022.

Todo o patrimônio do grupo acaba se concentrando nesta


empresa. Aí faz-se a cessão de quotas ou ações aos
herdeiros, na forma mais adequada para cada um,
atendendo à realidade daquela família. O empreendedor,
geralmente, reserva em seu favor usufruto vitalício dessas
quotas ou ações e assim continua administrando
integralmente seu patrimônio mobiliário e imobiliário”. 20

Tornou-se também comum a associação de planejamento sucessório à


hipótese de criação e estruturação de uma holding familiar, que se
anuncia no mercado como solução eficiente para demandas de
diferentes ordens, notadamente a maximização da redução dos custos
da transmissão patrimonial causa mortis. Isso porque a criação e
estruturação de uma holding pode ser um caminho viável a beneficiar
os envolvidos, apesar de não ser o único caminho possível e, em
muitos casos, nem sequer ser a melhor opção disponível.

Para Gladston Mamede holding pode ser uma sociedade


simples, com registro em Cartório de Registro de Pessoas
Jurídicas, ou uma sociedade empresária, registrada na Junta
Comercial, podendo adotar qualquer tipo societário, excluída
a sociedade cooperativa, por suas particularidades legais e
filosóficas. A escolha da natureza e do tipo societário deve
ser feita considerando as particularidades de cada família,
seu patrimônio, seus negócios. É uma escolha estratégica,

20
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e Sucessões. São Paulo, Ed.
Saraiva. 2017.

embora orientada por aspectos técnicos que devem ser


dominados pelo consultor”21.

Os sócios de uma holding podem ser pessoas físicas ou pessoas


jurídicas (sociedades simples ou empresárias, associações ou
fundações), não sendo raro haver outra ou outras sociedades de
participação

Na holding poderá ser colocado, ativos financeiros (dinheiro e


aplicações financeiras), participações societárias em empresas e bens
imobiliários. Poderá determinar regras de gestão dos negócios da
família. A partilha pode ser feita em vida, com a doação das
cotas/ações com usufruto do doador e manutenção deste como
administrador dos negócios.
Daniele Chaves Teixeira nos ensina “ A holding se trata de
uma medida preventiva e econômica, com o objetivo de ser
processada a antecipação da legítima, o controlador doará
aos herdeiros as suas quotas da holding, destacando em
contrato a cláusula de usufruto vitalício em favor do doador,
além das cláusulas de impenhorabilidade,
incomunicabilidade e inalienabilidade. Importante destacar
que poderá ser atribuído poderes de voto ao herdeiro mais
conhecedor dos negócios da empresa, como forma de
prevenção da continuidade idônea dos negócios da
família”.22

21
MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro: sociedades simples e empresárias. 7. ed.
São Paulo: Atlas, 2015, v. 2.
22
TEIXEIRA, Daniele Chaves. Planejamento Sucessório. Pressupostos e Limites. 2º ed. Editora
Fórum, 2019.

Continua ainda Daniele Chaves Teixeira “Por meio do


planejamento sucessório, os patriarcas planejam o futuro do
patrimônio da família e a continuidade dos negócios
empresariais, tendo como principais vantagens: proteção do
patrimônio contra interferência de terceiros; escolha do
herdeiro mais capacitado para dar continuidade à
administração da empresa familiar; ausência de conflitos no
momento da sucessão, especial aquela que decorre da
morte de um dos patriarcas, e dos custos decorrentes do
processo de inventário; planejamento do pagamento dos
tributos advindos da sucessão; e a não necessidade de
realizar condomínio de bens e alienação de um bem de
família para pagamento de impostos e custos processuais”.
23

Na estruturação pelo sistema de holding, se o patrimônio for transferido


para as empresas subsidiárias e, posteriormente, as quotas ou ações
da holding forem doadas aos herdeiros, haverá incidência de ITCMD
nesse ato de transferência.24
Encarando-se a questão por outro enfoque, a incorporação do
patrimônio à pessoa jurídica poderá trazer benefício fiscal de outras
ordens. O exemplo mais simples é o do patrimônio familiar constituído
por imóveis que estão destinados à locação. Nessa hipótese, dentro do
contexto da legislação vigente, haveria benefício em relação ao

23
Ibidem.
24
VISCARDI, Diego. Holding Patrimonial. As vantagens Tributárias e o planejamento sucessório.
https://jus.com.br/artigos/50096/holding-patrimonial-as-vantagens-tributarias-e-o-planejamento-
sucessorio
Acesso em 26/02/2022.

Imposto de Renda se os imóveis fossem transferidos a uma pessoa


jurídica, sem ignorar, no entanto, que esse custo também deve ser
mensurado, vez que a constituição e administração de uma pessoa
jurídica também têm custos.25
Outro ponto que merece uma reflexão crítica é a inafastabilidade dos
regimes de bens em decorrência da estruturação da holding familiar,
haja vista que o direito patrimonial dos cônjuges (artigos 1.639 a 1.688
do Código Civil) decorrente do regime de bens adotado pelos nubentes
não é afastado pela constituição de estruturas empresariais.
Não se pode privar o cônjuge de sua meação se o regime de bens
assim estabelece ou de sua concorrência sucessória (artigos 1.829 e
1.836 do Código Civil) em razão da simples transferência de patrimônio
para uma pessoa jurídica, constituída por um dos cônjuges, na
constância do casamento.
Nesse contexto, o procedimento de alteração do regime de bens (artigo
1.639, parágrafo 2º do Código Civil e artigo 734 do Código de Processo
Civil) é solução que tem se mostrado eficaz na prática, a fim de
restabelecer os critérios de comunicabilidade patrimonial ou mesmo de
concorrência sucessória, e só poderá ocorrer mediante autorização
judicial precedida de pedido formulado por ambos os cônjuges.
Assim sendo , o planejamento sucessório pode ser utilizado para
garantir a continuidade de uma empresa ou negócio familiar (sucessão
empresarial); como mecanismo de elisão fiscal (por meio de um
planejamento tributário estratégico); ou para organizar de forma mais

25
SILVA, Fábio Pereira da. ROSSI, Alexandre Alves. Holding familiar: visão jurídica do
planejamento
societário, sucessório e tributário,2. ed. São Paulo: Trevisan Editora, 2017.

satisfatória a transferência dos bens de acordo com os interesses da


família. 26

Código Civil – artigos 1.659 I e 1.674; 1.390; 1.911; 1.711; 1.634 IV e


1.729; 791; 1.506; 1.609 III; 1.818; 1.964.

Processo
AgInt no REsp 1790940 / SP
AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL
2017/0290544-0
Relator(a)
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO (1140)
Órgão Julgador
T4 - QUARTA TURMA
Data do Julgamento
11/05/2020
Data da Publicação/Fonte
DJe 13/05/2020
Ementa
AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO
DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE GRAVAMES DE USUFRUTO E

26
TEIXEIRA, Daniele Chaves. Planejamento Sucessório. Pressupostos e Limites. 2º ed. Editora
Fórum, 2019.

INCOMUNICABILIDADE. ALIENAÇÃO DE COTAS SOCIAIS SEM


OUTORGA CONJUGAL.
1. Tanto sob a égide do Código Civil de 1916 (vigente à época da
alienação das cotas ao irmão do ex-cônjuge) quanto do codex de 2002,
a outorga conjugal somente era exigida em caso de alienação,
hipoteca ou ônus real de bens imóveis, ou de doação (que não seja
remuneratória ou que envolva contraprestação de pequeno valor).
2. No caso concreto, a transferência onerosa de cotas da sociedade
familiar não se enquadra nem na norma do artigo 235 do Código Civil
de 1916 nem no artigo 1.647 do Código Civil de 2002, tendo em vista
que se trata de bem móvel (nos termos do artigo 83, III, do Código
Civil), e que não houve doação, mas alienação por montante que teria
sido revertido em benefício da sociedade conjugal, motivo pelo qual
não há falar em anulabilidade. Precedentes.
3. No tocante ao cabimento ou não de meação de cotas doadas em
agosto de 2003 ao recorrente por seus pais, dispõe o artigo 1.659,
inciso I, do Código Civil de 2002 que estão excluídos do regime de
comunhão parcial os bens que sobrevierem ao matrimônio por doação
ou
sucessão ou os sub-rogados em seu lugar.
4. Agravo interno não provido.

Processo
REsp 1651270 / SP
RECURSO ESPECIAL
2017/0020627-7
Relator(a)
Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA (1147)
Órgão Julgador

T3 - TERCEIRA TURMA
Data do Julgamento
19/10/2021
Data da Publicação/Fonte
DJe 21/10/2021
Ementa
RECURSO ESPECIAL. DOAÇÃO. USUFRUTO VITALÍCIO.
AUSÊNCIA DE EXERCÍCIO.DIVÓRCIO. ABANDONO DO IMÓVEL.
EXPLORAÇÃO DO IMÓVEL. GESTÃO UNILATERAL.
POSSIBILIDADE. DECADÊNCIA. ART. 205 DO CÓDIGO CIVIL DE
2002. SOBREPARTILHA. DESCABIMENTO.
1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência
do Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs
2 e 3/STJ).
2. O bem doado aos netos com cláusula de usufruto aos pais não
pode
ser objeto de partilha em virtude do divórcio, tendo em vista o
domínio pertencer aos nus-proprietários.
3. A vitaliciedade não significa que o usufruto seja eternizado,
pois, consoante o artigo 1.410, inciso VIII do Código Civil, o não
uso ou fruição do bem é causa de sua extinção.
4. O termo inicial do prazo decadencial de 10 (dez) anos para o
exercício do direito é a data em que o usufrutuário poderia
exercê-lo, motivo pelo qual está fulminado, porquanto já escoado o
lapso temporal.
5. A sobrepartilha é utilizada especificamente nas ações de
divórcio, nos casos em que a separação e a divisão dos bens do casal
já foram devidamente concluídas, porém uma das partes descobre que
a

outra possuía bens que não foram partilhados, o que não é o caso dos
autos.
6. Recurso especial provido.

Processo
REsp 1631278 / PR
RECURSO ESPECIAL
2016/0265893-1
Relator(a)
Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO (1144)
Órgão Julgador
T3 - TERCEIRA TURMA
Data do Julgamento
19/03/2019
Data da Publicação/Fonte
DJe 29/03/2019
RMDCPC vol. 90 p. 126
RSTJ vol. 254 p. 625
Ementa
RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. DOAÇÃO. HERDEIROS
NECESSÁRIOS. ANTECIPAÇÃO DE LEGÍTIMA. CLÁUSULA DE
INALIENABILIDADE E USUFRUTO. MORTE DOS DOADORES.
1. Controvérsia acerca da possibilidade de cancelamento de
cláusula de inalienabilidade instituída pelos pais em relação ao imóvel
doado aos filhos.
2. A doação do genitor para os filhos e a instituição de cláusula de
inalienabilidade, por representar adiantamento de legítima, deve ser
interpretada na linha do que prescreve o art. 1.848 do CCB,
exigindo-se justa causa notadamente para a instituição da

restrição ao direito de propriedade.


3. Possibilidade de cancelamento da cláusula de inalienabilidade
após a morte dos doadores, passadas quase duas décadas do ato
de
liberalidade, em face da ausência de justa causa para a sua
manutenção.
4. Interpretação do art. 1.848 do Código Civil à luz do princípio da
função social da propriedade.
5. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.

Processo
AgInt no AREsp 1806412 / PR
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
2020/0332548-7
Relator(a)
Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA (1147)
Órgão Julgador
T3 - TERCEIRA TURMA
Data do Julgamento
14/02/2022
Data da Publicação/Fonte
DJe 22/02/2022
Ementa
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
EXECUÇÃO DE CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO. BEM DE
FAMÍLIA. IMPENHORABILIDADE. GARANTIA HIPOTECÁRIA.
EMPRÉSTIMO. EMPRESA FAMILIAR. BENEFÍCIO DA ENTIDADE
FAMILIAR. REEXAME. SÚMULAS NºS 5 E 7/STJ. ÔNUS DA PROVA.
DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA Nº 284/STF.

1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência


do Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs
2 e 3/STJ).
2. É possível a penhora do único imóvel residencial quando dado em
garantia de dívida contraída por empresa familiar, salvo se provado
que o ato de disposição não beneficiou a família.
3. Na hipótese, rever a conclusão do tribunal local, no sentido de
que o empréstimo contraído por empresa familiar se reverteu em
benefício da família, esbarra no óbice da Súmula nº 7/STJ.
4. Considera-se deficiente de fundamentação o recurso especial que
não indica com clareza e precisão os dispositivos legais
supostamente violados pelo acórdão recorrido, circunstância que
atrai a incidência, por analogia, da Súmula nº 284 do Supremo
Tribunal Federal.
5 . Agravo interno a que se nega provimento.

Processo
AgInt no AREsp 1659253 / SP
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
2020/0026819-7
Relator(a)
Ministro RAUL ARAÚJO (1143)
Órgão Julgador
T4 - QUARTA TURMA
Data do Julgamento
07/12/2021
Data da Publicação/Fonte
DJe 17/12/2021
Ementa

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM


RECURSO
ESPECIAL. EXECUÇÃO. DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA INVERSA. FUNDAMENTAÇÃO
OPORTUNA E ADEQUADA. VÍCIOS DOS ARTS. 489 E 1.022 DO
CPC. INEXISTÊNCIA. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO
(SÚMULA 211/STJ). CITAÇÃO PRÉVIA E POSTERGAÇÃO.
HARMONIA DE ENTENDIMENTO
(SÚMULA 83/STJ). REEXAME DE FATOS E PROVAS (SÚMULA
7/STJ). AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.
1. Inexiste vício de fundamentação ou violação do art. 1.022 do CPC,
porquanto as questões submetidas à Corte Estadual foram suficiente e
adequadamente delineadas, com abordagem integral do tema e
fundamentação compatível.
2. A despeito da oposição de embargos de declaração, o eg. Tribunal
de Justiça não emitiu nenhum juízo de valor acerca dos dispositivos
legais indicados como violados (CC, arts. 158, 159, 161, 171 e 177;
CPC, arts. 238, 239, 240, § 2°, 269, 373 e 485), uma vez que se
limitou a apreciar a questão da desconsideração da personalidade
jurídica à luz do art. 50 do CC e seus requisitos legais, bem como
das regras processuais então vigentes. Desse modo, falta ao recurso
especial o indispensável prequestionamento, atraindo a incidência da
Súmula 211/STJ quanto às demais teses recursais.
3. A aplicação do instituto da desconsideração da personalidade
jurídica, na vigência do CPC/73, possibilitava a postergação da
citação, sem dispensá-la. Precedentes.
4. Na hipótese, o v. acórdão recorrido descreve toda a dinâmica das
constituições e alterações societárias notadamente direcionadas a
proteger o patrimônio dos devedores, desviando-o e reservando-o aos

futuros sucessores legítimos, afastando-o do alcance dos credores.


Compreendeu, assim, a Corte de origem serem tais práticas utilização
abusiva da personalidade jurídica, apta a atender aos requisitos
legais para desconsideração da personalidade jurídica, na
conformidade do art. 50 do CC.
5. É justamente para corrigir esses desvios de finalidade na
concreta utilização de institutos lícitos e legítimos que se
concebeu o instituto da desconsideração da personalidade jurídica,
valendo, no ponto, a transcrição da lição de Rolf Madaleno, a
propósito do tema de planejamento sucessório: "A desconsideração
da
personalidade jurídica tutela o princípio da boa-fé e não se
compadece com o uso de formas jurídicas, quando mascaram o
propósito
de elidir legítimas obrigações" (Planejamento sucessório. Revista
IBDFAM: Famílias e Sucessões, 2014, p. 210).
6. Agravo interno desprovido.

- DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões, 7ª Ed. rev. atual. São
Paulo: Ed. Juspodivm, 2021.

- GOMES, Orlando. Sucessões. 17ª ed. Forense , 2019.

- MAMEDE, Gladston; MAMEDE, Eduarda Cotta. Planejamento


Sucessório: introdução à arquitetura estratégica – patrimonial e
empresarial – com vistas à sucessão causa mortis. São Paulo: Atlas,
2015.

- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e


Sucessões. São Paulo, Ed. Saraiva. 2017.

- PINHEIRO, Jorge Duarte. O Direito das Sucessões Contemporâneo.


2ª ed. Lisboa: AAFDL Editora, 2017.

-TARTUCE, Flávio. Direito Civil – Vol.6 – Direito das Sucessões. 7ª Ed.


São Paulo: Editora Método, 2014.

-TEIXEIRA, Daniele Chaves. Planejamento Sucessório. Pressupostos e


Limites. 2ª ed. Editora Fórum, 2019.

-TEIXEIRA, Daniele Chaves. Coordenadora. Arquitetura do


Planejamento Sucessório, Tomos I e II, 2 ed. Editora Fórum, 2020.

ASSUMPÇÃO, Augusto. O planejamento sucessório e seus


benefícios.
https://augustoassumpcao.jusbrasil.com.br/artigos/339762581/o-
planejamento-sucessorio-e-seus-beneficios
Acesso em 26/02/2022.

AZEVEDO, Liz Christante Pinheiro. A importância do planejamento


sucessório em tempos de crise.
http://www.blbbrasil.com.br/artigos/planejamento-sucessorio/
Acesso em 26/02/2022.

BRIGAGÃO, Gustavo. Planejamento sucessório se beneficia das


regras de imunidade do ITBI. Disponível em:
http://www.conjur.com.br/2014-ago-13/consultor-tributario-
planejamento-sucessorio-beneficia-regras-itbi
Acesso em 26/02/2022.

BIS, Fábio L. A empresa classificada como holding e o planejamento


sucessório.
http://www.ceisebr.com/conteudo/a-empresa-classificada-como-
holding-e-o-planejamento-sucessorio.html
Acesso em 25/02/2022.

CAMINADA, Isabel. O planejamento sucessório e as vantagens


dessa estratégia jurídica quando da sucessão patrimonial.
https://jus.com.br/artigos/68690/planejamento-sucessorio-as-
vantagens-dessa-estrategia-juridica-quando-da-sucessao-
patrimonial
Acesso em 26/02/2022.

CARAMASCHI, Débora. A doação como forma de planejamento


sucessório.
https://dcaramaschi.jusbrasil.com.br/artigos/368682872/a-doacao-
como-forma-de-planejamento-sucessorio
Acesso em 26/02/2022.

DELGADO, Mário Luis. Planejamento sucessório como instrumento


da prevenção de litígios.

https://www.conjur.com.br/2018-ago-26/processo-familiar-
planejamento-sucessorio-instrumento-prevencao-litigios
Acesso em 26/02/2022.

ESTEVES, Bruno Crepaldi. Planejamento sucessório e proteção


patrimonial.
http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI272799,41046-
Planejamento+sucessorio+e+protecao+patrimonial
Acesso em 26/02/2022

OLIVEIRA, Moisés M. Planejamento Sucesório e a estruturação do


patrimônio em Holding familiar.
https://www.conjur.com.br/2018-mai-15/moises-oliveira-
planejamento-sucessorio-holding-familiar
Acesso em 26/02/2022

TARTUCE, Flavio. Planejamento sucessório. O que é isso? - Parte


01
https://www.migalhas.com.br/FamiliaeSucessoes/104,MI290190,101
048-Planejamento+sucessorio+O+que+e+isso+Parte+I
Acesso em 26/02/2022

TEIXEIRA, Daniele Chaves. BUCAR, Daniel. As armadilhas do


planejamento sucessório.
https://www.conjur.com.br/2020-jul-17/bucar-teixeira-armadilhas-
planejamento-sucessorio
Acesso em 26/02/2022.

VISCARDI, Diego. Holding Patrimonial. As vantagens Tributárias


e o Planejamento Sucessório.
https://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=12303
Acesso em 26/02/2022

Após a leitura deste material e o acompanhamento das videoaulas


ministradas pelo(s) professor(es), finalize o seu aprendizado efetuando
a atividade autoinstrucional, disponível na área do aluno, no menu
plataforma de atividades no link “provas e atividades”. O gabarito será
visualizado, conforme a programação do cronograma da disciplina.

PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

MÓDULO: DIREITO DAS SUCESSÕES

TEMA: SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA E A TEORIA DOS NEGÓCIOS


JURÍDICOS. TESTAMENTOS EM GERAL. AS CLÁUSULAS PATRIMONIAIS E
NÃO PATRIMONIAIS DOS TESTAMENTOS, REGRAS INTERPRETATIVAS,
PERMISSIVAS E PROIBITIVAS.

A sucessão testamentária é aquela que decorre de testamento de


disposição de última vontade. Devem-se então observar as disposições
testamentárias e atribuir a herança às pessoas indicadas pelo de cujus.

Além da sucessão legítima, que se dá por força de lei, existe também,


a sucessão testamentária, que se dá por ato de última vontade do
testador.

Na atualidade, essa forma de sucessão continua a existir em todas as


legislações, embora no Brasil não exista a tradição de efetuar o
testamento.

Conceito
Para o Prof. Rodrigo Pereira da Cunha:
“Do latim testamentum, de testari. É o ato jurídico, solene, revogável,
unilateral e personalíssimo, pelo qual alguém, em plena capacidade e
de livre e espontânea vontade, dispõe sobre sua última vontade acerca
de questões patrimoniais ou não patrimoniais, para ser cumprida

depois de sua morte (arts. 1.857 e segs CCB) Revogável porque


testamento posterior automaticamente revoga o anterior naquilo que o
contraria, quando não o revoga expressamente; e personalíssimo, vez
que somente pode emanar, exclusivamente da vontade do testador,
indelegável e diretamente, não se admitindo sua manifestação via
procurador. A capacidade para testar se dá a partir dos 16 anos de
idade (art. 1.860 CCB)” 1.

Para Carlos Alberto Dabus Maluf: “Assim, testamento pode ser


entendido como o negócio jurídico unilateral e gratuito, de natureza
solene, essencialmente revogável, pelo qual alguém dispõe dos bens
para depois de sua morte, ou determina a própria vontade sobre a
situação dos filhos e outros atos de última vontade, que não poderão,
porém, influir na legítima dos herdeiros necessários”2.

Sucessão testamentária e a teoria dos negócios jurídicos

A sucessão pode ser estipulada como uma maneira de transmissão


de bens em razão da morte de uma pessoa, denominada de cujus.

Temos duas espécies de sucessão causa mortis:

1. Sucessão legítima, sendo que os bens do de cujus terão o destino


estabelecido no artigo 1.829 do CC.

1
CUNHA, Rodrigo Pereira da. Dicionário de Direito de Familia e Sucessões Ilustrado. São Paulo.
Saraiva. 2.017.
2
MALUF, Carlos Alberto Dabus. MALUF, Adriana Caldas do Rego Freitas Dabus . Curso de direito
das sucessões - 3. ed. - São Paulo : Saraiva Educação, 2021.

2. Sucessão testamentária, onde os bens do falecido terão o destino


estabelecido disposição de última vontade.

Assim, o testador poderá só dispor da totalidade de seus bens , na


hipótese de haver herdeiros necessários, nos termos do art. 1.845 do
Código Civil.

O prazo para impugnar o testamento será de cinco anos, contados da


data do seu registro. Referido prazo é decadencial.

Considere o testamento como sendo, de acordo com Tartuce: “um


negócio jurídico unilateral, personalíssimo e revogável, pelo qual o
testador faz disposições de caráter patrimonial ou não, para depois de
sua morte” 3.

Ainda de acordo com Tartuce: “O testamento existe (plano da


existência), é válido, se atendidas as formalidades legais (plano da
validade), mas não é eficaz, pois somente o será após a morte do
testador (plano da eficácia)” 4,

Capacidade testamentária

No que diz respeito a capacidade testamentária, aduz a doutrinadora


Maria Helena Diniz: “a capacidade testamentária ativa é condição da
validade jurídica do ato de ultima vontade, pois para fazer testamento é

3
TARTUCE, Flávio. Direito Civil Vol. 6. 8ªEd. São Paulo: Atlas, 2015.
4
Ibidem.

preciso que o testador seja capaz. Essa capacidade de testar é a regra


geral, e a incapacidade, a exceção”5.
Assim, podemos conceituar a capacidade testamentária como o
conjunto de condições necessárias para que alguém possa dispor de
seu patrimônio ou determinar providências de caráter pessoal, por meio
de testamento, ou, ainda, ser por este beneficiado.
Ressalte-se que o testador deve reunir algumas condições para a
elaboração do testamento e também há a capacidade da pessoa em
ser beneficiada pelo testamento, recolhendo, assim, os bens que lhe
foram designados.
Nessa seara, a doutrinadora Maria Helena Diniz nos ensina: “estes são
os únicos casos de incapacidade testamentária ativa. Idade avançada,
analfabetismo (CC, artigo 1865); surdez (CC, artigo 1866); cegueira
(CC, artigo 1867); enfermidade grave não inibem o individuo de testar”
6
.
Testamenteiro

O testamenteiro é o indicado pelo testador para cumprir com a sua


disposição de última vontade. O seu papel primordial é fazer com que
o testamento seja cumprido.em papel fundamental para fazer cumprir
o testamento.
De acordo com Silvio Rodrigues, “é uma instituição autônoma, com
características próprias, que não se confunde com o mandato nem
com outros institutos, apesar de algumas semelhanças”7.

5
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro,v.6. Direito das Sucessões. 17º Ed. São
Paulo:Saraiva, 2003.
6
Ibidem.
7
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil, 20º ed, Saraiva, 2007.

Poderá o testador nomear mais de um representante para atuarem


em conjunto ou separadamente de maneira sucessiva.
Características do testamento

O testamento é ato personalíssimo e feito pelo próprio testador sem a


interferência de terceiros.

Conforme nos ensina o Ilustre Professor Zeno Veloso:


“Nada impede, todavia, que um terceiro (um advogado, um tabelião ou
outra pessoa) redija, a pedido do testador e seguindo sua orientação,
uma minuta de testamento, ou acompanhe e assessore o testador,
quando da elaboração, desde que se trate de uma participação
desinteressada, honesta e normal, sem nenhuma interferência no
conteúdo da vontade do testador”8.

Trata-se de um negócio jurídico unilateral , considerando que o


testador declara sua vontade para que seja cumprida após sua morte.

Segundo João José da Silva Valeriano:


“Ato solene, pois é ato que possui forma prescrita em lei. Só terá
validade se forem observadas todas as formalidades essenciais
prescritas na lei (ad solemnitatem). Não podem elas ser postergadas,
sob pena de nulidade do ato. Excetua-se o testamento nuncupativo (de
viva voz) admissível somente como espécie de testamento militar
(Código Civil, art. 1.896)” 9.

8
VELOSO, Zeno. Comentários ao Código Civil, v.21.p. 30
9
SILVA, João José Valeriano da . A sucessão testamentária no Direito Civil Brasileiro.

Modalidades de Testamento

Há duas modalidades de testamentos: os ordinários e os especiais.

Testamentos Ordinários

Os testamentos ordinários são: o público, o cerrado e o particular.

Testamento Público

O testamento efetuado em Cartório e lavrado pelo tabelião denomina-


se público, em livro de notas, de conformidade com as declarações do
testador, somente em língua nacional, perante o mesmo tabelião, ou
substituto, e na presença de duas testemunhas idôneas ou
desimpedidas; conforme definição do professor Jorge Fujita10.

O art. 1864 do CC menciona sobre os requisitos essenciais do


testamento público.

Deve o tabelião, testador e testemunhas assinar o documento. Se o


testador, não souber assinar ou por algum motivo estiver
impossibilitado, o oficial declarará o fato e designará uma das
testemunhas para assinar pelo testador.

10
FUGITA, Jorge Shiguemitsu Fujita, Curso de direito civil, Direito das sucessões, p. 135.

Testamento Cerrado

O testamento cerrado, também conhecido por testamento fechado,


secreto ou místico, é aquele escrito à mão ou por processo mecânico,
em língua nacional ou estrangeira, pelo próprio testador.

Os nos artigos 1.868 a 1875, do CC estabelecem os requisitos


essenciais do testamento cerrado, o que poderá acarretar a nulidade
caso não sejam observados.

Segundo Paulo Lobo:


“Por ser um documento particular, o testamento cerrado poderá ser
escrito em língua nacional ou estrangeira, pelo próprio testador, ou por
outrem, a seu rogo, conforme o artigo 1.871 do Código Civil. Poderá
ser escrito ainda, por testador surdo-mudo, contanto este escreva
integralmente seu testamento, e o assine de próprio punho, efetuando
a entrega do testamento ao tabelião, perante as duas testemunhas,
escrevendo ainda, na face externa do papel ou do envoltório, que
aquele é o seu testamento, cuja aprovação lhe pede” 11.

O testamento cerrado possui muitas antagens em relação ao


testamento público, consiste no fato de manter segredo a declaração
de vontade do testador, pois em regra só este conhece o seu teor.

O nosso CPC , nos artigos 735 a 737, regula a abertura, o registro e o


cumprimento do testamento cerrado.

11
LÔBO, Paulo. Direito Civil: Sucessões. São Paulo: Saraiva, 2016.

Testamento Particular

Conforme assinala Silvio Rodrigues, "esse testamento, ainda mais


facilmente que o cerrado, é suscetível de se extraviar, porque,
contrariamente ao que ocorre com aquele, de sua existência não há
qualquer registro em ofício público, e ela só será atestada pela
memória das testemunhas. Mas se o testamento não for encontrado,
obviamente não pode ser cumprido, ainda que todas as testemunhas
confirmarem o fato de sua elaboração e atestem qual o seu
conteúdo”12.

No art. 1.876 do CC, constam os seus requisitos.

Não é necessário que o testador insira a data no instrumento, não


podendo este ser então considerado um requisito essencial para sua
validade, ao contrário de outros sistemas.

No testamento particular, mais que nos outros, exige-se que todas as


testemunhas estejam presentes e juntas desde o início até o fim do ato.
O Código Civil exige a presença de pelo menos três testemunhas, de
modo que, não sendo fixo este número, as testemunhas poderão ser
quatro, cinco ou mais. Entretanto, aos olhos da lei, três testemunhas
são o número considerado essencial à validade do instrumento

12
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil- Volume 7- Direito das Sucessões. São Paulo, 26ª Edição,
2003- Editora Saraiva.

Testamentos Especiais

São formas especiais de testamento: o testamento marítimo, o


testamento aeronáutico e o testamento militar.

Segundo Gonçalves:
“O testamento militar na forma pública é aquele elaborado pelo
comandante que atuará como tabelião, estando em serviço da tropa,
ou oficial de saúde, diretor de hospital, em que estiver o testador
recolhido sob tratamento. Devendo ser lavrado na presença de duas
testemunhas e assinado por elas e pelo testador, ou por três
testemunhas, se o testador não puder assinar, ou não souber assinar,
13
caso em que assinará por ele uma das testemunhas” .

O testamento militar na forma cerrada é aquele escrito pelo testador e


apresentado ao auditor ou oficial de patente que lhe faça às vezes
neste posto, na presença de duas testemunhas.

Continua Gonçalves:
“Já o testamento militar de forma nuncupativa é o feito de viva voz
perante duas testemunhas, por pessoas empenhadas em combate ou
feridas. Pressupõe que o testador esteja exposto, em qualquer caso, a
risco de vida, e impossibilitado de se utilizar da escrita. Ao final da
guerra ou convalescendo o testador, cessaram as razões e acabaram
os motivos que a lei prevê para o testamento especial, realizado in
articulo mortis” 14.

13
GONÇALVES, Carlos Roberto, Direito civil brasileiro, Saraiva, 2019.
14
Ibidem.

O testamento marítimo é aquele realizado em viagem fluvial, lacustre


ou em alto-mar, a bordo de navio nacional, mercante – de transporte de
coisas ou pessoas – ou de guerra.
Este deve ser feito pelo testador perante o comandante, na presença
de duas testemunhas, por forma que corresponda ao testamento
público ou ao cerrado, como prevê o art. 1.888 do Código Civil;

Testamento vital

De acordo com a Profª Maria Berenice Dias:


“Testamento vital é o documento que contém disposições sobre a
assistência médica a ser prestada a paciente terminal,
enquanto diretivas antecipadas são disposições sobre tratamentos
médicos em geral, dos quais o paciente pode se recuperar ou
não. Também se distingue o consentimento informado, como a
manifestação dos pacientes capazes, em oposição às chamadas
diretivas antecipadas a serem levadas a efeito quanto aos pacientes
incapazes”15.

Considere a possibilidade de reconhecer no denominado testamento


vital um ato jurídico stricto sensu e não um testamento.

15
DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. 4ª Ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2016.

Testamento vital e dignidade do paciente terminal

Testamento vital é disposição de última vontade, mas para ser


cumprida antes da morte, ou melhor, nos momentos que antecedem à
morte.

Este testamento é um documento devidamente assinado, em que os


interessados, juridicamente capazes, declaram quais os tratamentos
médicos que aceitam ou rejeitam receber, o que deverá ser obedecido
nos casos futuros em que se encontrem em situação que os
impossibilitem de manifestarem as suas vontades, como por exemplo,
o que ocorre com uma pessoa que está em coma, produzindo efeitos
antes da morte da pessoa.
Esse tipo de testamento já está elencado na legislação de muitos
países, porém, o Brasil ainda não fez qualquer legislação sobre o tema
a fim de regularizar esse tipo de testamento.
Para Paulo Lobo: "Mediante ato expresso, público ou particular, a
pessoa declara que não deseja o prolongamento artificial de sua vida,
dependente de aparelhos, remédios ou nutrição forçada, ou que, em
situações em que venha a perder consciência de modo prolongado,
seus negócios sejam geridos por determinada pessoa e segundo
determinadas instruções" 16.

Conforme Tartuce:
“O conteúdo do que se denomina como testamento vital ou biológico
visa, assim, a proteger a dignidade do paciente terminal, dentro da
ideia do binômio beneficência/não maleficência, sendo o art. 15 do

16
LÔBO, Paulo. Direito Civil: Sucessões. São Paulo: Saraiva, 2016, P.254.

Código Civil o suporte legal para a viabilidade do que se propõe pelo


instituto. Mais do que isso, há uma proteção indireta da dignidade dos
familiares do paciente terminal, que também sofrem com todos os
males e as dores pelas quais passa a pessoa amada e querida. Nesse
sentido, pode-se falar em solidariedade familiar, estribada na proteção
constitucional da solidariedade social, nos termos do art. 3.o, I, da
Constituição Federal de 1988” 17.

Testamento Ético

Com base nos ensinamentos do Prof. Rodrigo Pereira da Cunha:


“Expressão utilizada no Direito Americano – Ethical Will – para designar
o testamento em que se transmite aos familiares ou outros herdeiros,
valores menos patrimoniais e mais morais, espirituais, conselhos
condutas ou experiências que sirvam de reflexão a quem se destina.
Tais disposições não patrimoniais geralmente se referem à nomeação
de tutor, reconhecimento de paternidade biológica e socioafetiva,
administração dos bens dos filhos menores, cumprir determinados
compromissos, etc.” 18.

Continua ainda o Prof. Rodrigo Pereira da Cunha:

“Assemelha-se ao codicilo (artigo 1.881, CCB), mas se diferencia dele


por trazer consigo e em sua essência um conteúdo imaterial, de
transmissão de valores morais e éticos. Tais disposições podem,

17
TARTUCE, Flávio. Direito Civil Vol. 6. 8ªEd. São Paulo: Atlas, 2015.
18
CUNHA, Rodrigo Pereira da. Dicionário de Direito de Familia e Sucessões Ilustrado. São Paulo.
Saraiva. 2.015.p 677

obviamente, constar em quaisquer outras formas testamentárias,


inclusive em conjunto com outras disposições de última vontade”.19

Disposições testamentárias. Regras interpretativas, proibitivas e


permissivas

Disposições testamentárias

Também chamado de Cláusulas Testamentárias. São as disposições


do conteúdo patrimonial contidas num testamento, ou seja, são os
benefícios econômicos depois da morte, devem ser interpretadas
autônoma e independentemente a última vontade do testador.20

Regras interpretativas. CC, 1.899, 1.902 e parágrafo único, 1.904 a


1.908.

As regras interpretativas, por meio das quais o legislador procurou


suprir a vontade do testador, prevalecem somente se essa vontade não
estiver expressa de maneira clara e compreensível.

Regras permissivas. CC, 1.897 e 1.911

Conforme Maria Berenice Dias:


“A lei assegura plena liberdade a todas as pessoas de disporem, do
jeito que quiserem, da totalidade de seu patrimônio por meio de

19
Ibidem.
20
SILVA, João José Valeriano da . A sucessão testamentária no Direito Civil Brasileiro.
.

testamento. O limite é a existência de herdeiros necessários (CC


1.845): descendentes, ascendentes e cônjuge. A estes a lei garante
a metade do acervo hereditário, fração chamada de legítima. Sobre
os bens reservados aos herdeiros necessários é limitada a liberdade
do testador. Pode impor algumas cláusulas restritivas (CC 1.848) e
distribuir os bens a serem a eles atribuídos (CC 2.014)”21.

Sobre a parte disponível o testador pode quase tudo: eleger os


herdeiros que desejar, inclusive, pessoas não nascidas e pessoas
jurídicas a serem constituídas sob a forma de fundação (CC 1.799);
deixar aos herdeiros a totalidade ou fração do seu patrimônio e aos
legatários bens certos e determinados. Também tem a faculdade de
impor condições, cláusulas e encargos aos beneficiários (CC 1.897).

Conforme o art. 1.897 do CC, a “A nomeação de herdeiro, ou legatário,


pode fazer-se pura e simplesmente, sob condição, para certo fim ou
modo, ou por certo motivo”.

Segundo Maria Berenice Dias: “Para que se admitam cláusulas


restritivas sobre a legítima, é necessário que haja justa causa,
declarada em testamento, pelo testador.” Como justa causa, entende-
se o motivo suficientemente forte para autorizar a restrição. Trata-se de
conceito aberto, cujos contornos mais exatos são proferidos pela
jurisprudência e pela análise do caso concreto. Por isso, deve o
testador ser claro e específico quanto à delimitação de suas razões.
Afinal, a menção a fatos genéricos ou superficiais levaram à ineficácia

21
DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. 4ª Ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2016.

das cláusulas restritivas Poderá esta vir a ser discutida pelos


interessados, via judicial, quando da abertura do testamento”22.

O art. 1.911 do CC dispõe sobre a cláusula de inalienabilidade, que


imposta aos bens por ato de liberalidade, implica impenhorabilidade e
incomunicabilidade.

Zeno Veloso ensina:


“Estabelecida a inalienabilidade, este artigo, para qualquer dos casos,
resolve que a cláusula de inalienabilidade importa impenhorabilidade e
incomunicabilidade, assunto que foi objeto de acesa contenda na
doutrina brasileira e que a jurisprudência assentou na forma regulada
neste artigo.”23.

Regras proibitivas. CC, 1.898, 1.900, 1.903 e 1.909

Conforme Jarbas Silva, temos as seguintes regras proibitivas quanto as


disposições testamentárias: “Cláusula a Termo, não pode testar a
Termo; Cláusula conjuntiva, seja ela recíproca, simultânea ou
correspectiva; Cláusula derrogatória, impede a revogação do
testamento; Vedação de Cláusula Captatória, ou seja, a captação de
alguma vantagem, pois restringe a liberdade de testar; Cláusula com
nomeação de pessoa indeterminada ou indeterminável; Cláusula
transferindo a terceiro a indicação do beneficiário ou do objeto do
testamento, o testamento é um ato personalíssimo, exceção

22
Ibidem.
23
VELOSO, Zeno. Comentários ao Código Civil. Coord. Antônio Junqueira de Azevedo. Capítulo
4. 1ª edição. São Paulo: Saraiva, 2003. V.21

art. 1901, CC e cláusula nomeando pessoas incapazes para receber


cotas testamentárias”24.

São regras impostas que estabelecem uma proibição. A consequência


da inserção destas cláusulas é a nulidade das mesmas.

Cláusulas patrimoniais e não patrimoniais dos testamentos

O testamento pode conter disposições patrimoniais e não patrimoniais,


podendo dispor de determinados bens.

Poderá ser prescrito o cumprimento de determinadas obrigações; no


que se refere à estipulação em favor de terceiro; assinalar cláusulas
restritivas.

O art. 1.911 do CC menciona que a cláusula de inalienabilidade,


implica impenhorabilidade e incomunicabilidade.

Se as cláusulas de inalienabilidade forem inseridas a venda do bem


torna-se prejudicada.

A doutrinadora Maria Berenice Dias aponta entendimento de que esta


cláusula de impenhorabilidade “é de questionável conteúdo ético, pois
consiste em blindar o herdeiro. Ao fim e ao cabo, visa protegê-lo de

24
SILVA, Jarbas. Resumo de Sucessões testamentárias.
https://jarbassilvagomes.jusbrasil.com.br/modelos-pecas/381762685/resumo-de-sucessoes-
testamentarias. Acesso em 04/03/2022.

seus credores. Impedida a penhora dos bens recebidos por herança,


desonera o herdeiro de responder por seus débitos”25.
Para Gonçalves: Muito se discute sobre os frutos e rendimentos dos
bens gravados com cláusulas de impenhorabilidade, em relação a suas
características ou as possibilidades dessa extensão, como nos
assevera Carlos Roberto Gonçalves: “Os frutos e rendimentos
caracterizam-se pela sua alienabilidade, pois se destinam à satisfação
das necessidades do titular da coisa. Desse modo, a cláusula de
inalienabilidade imposta a esta não os atinge” 26.
Essa cláusula é um tanto quanto egoísta por parte do autor da herança,
que, de certa forma, não quer ver o patrimônio que ele próprio
construiu ser compartilhado com outra família. Na maioria das vezes
essa cláusula é imposta pelo testador devido ao fato de não ter boa
convivência com sua nora ou genro, da mesma forma é o entendimento
de Carlos Roberto Gonçalves27.

Código Civil – artigos 1.845 a 1990


Resolução nº 1995/12

PROCESSO

25
DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. 4ª Ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2016.
26
GONÇALVES, Carlos Roberto, Direito civil brasileiro, Saraiva, 2019.
27
Ibidem.

AgInt no REsp 1957776 / RJ


AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL
2021/0278625-5
RELATOR(A)
Ministra NANCY ANDRIGHI (1118)
ÓRGÃO JULGADOR
T3 - TERCEIRA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
14/02/2022
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 16/02/2022
EMENTA
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.
AÇÃO DE ANULAÇÃO DE TESTAMENTO. EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE.
NÃO OCORRÊNCIA. DIREITO REAL DE HABITAÇÃO. VIÚVA.
PATRIMÔNIO. INEXISTÊNCIA DE OUTROS BENS. IRRELEVÂNCIA.
1. Ausentes os vícios do art. 1.022 do CPC, rejeitam-se os embargos
de declaração.
2. A jurisprudência do STJ que é no sentido de que o direito real de
habitação, assegurado ao companheiro e ao cônjuge sobrevivente,
pelo art. 7º da Lei 9287/96, incide, relativamente ao imóvel em que
residia o casal, ainda que haja mais de um imóvel residencial a
inventariar.
3. O objetivo da lei é permitir que o cônjuge sobrevivente permaneça
no mesmo imóvel familiar que residia ao tempo da abertura da
sucessão como forma, não apenas de concretizar o direito
constitucional à moradia, mas também por razões de ordem
humanitária e social, já que não se pode negar a existência de vínculo

afetivo e psicológico estabelecido pelos cônjuges com o imóvel em


que, no transcurso de sua convivência, constituíram não somente
residência, mas um lar. (REsp 1582178/RJ, TERCEIRA TURMA,
julgado em 11/09/2018, DJe 14/09/2018). Precedentes.
4. Agravo interno não provido.

PROCESSO
AgInt no AREsp 1813380 / RJ
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
2020/0345189-8
RELATOR(A)
Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE (1150)
ÓRGÃO JULGADOR
T3 - TERCEIRA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
16/08/2021
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 19/08/2021
EMENTA
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
AGRAVO DE INSTRUMENTO. 1. ALEGAÇÃO DE FATO NOVO APÓS
A INTERPOSIÇÃO DO AGRAVO INTERNO. INOVAÇÃO RECURSAL.
INADMISSIBILIDADE. APRECIAÇÃO DE MATÉRIA PROBATÓRIA.
SÚMULA N. 7/STJ. 2. DIREITO DE SUCESSÃO. ART. 1.790 DO
CC/2002. INCONSTITUCIONALIDADE DECLARADA PELA SUPREMA
CORTE. INCIDÊNCIA DO ART. 1.829 DO CC/2002 AO CASAMENTO
E À UNIÃO ESTÁVEL. EQUIPARAÇÃO. AUSÊNCIA DE
ASCENDENTES E DESCENDENTES DO DE CUJUS.
COMPANHEIRA. TOTALIDADE DA HERANÇA. PRECEDENTES. 3.

AUSÊNCIA DE BENS DEIXADOS PARA OS AGRAVANTES


NO TESTAMENTO. REVISÃO. SÚMULA 7/STJ. 4. AGRAVO
DESPROVIDO.
1. Acerca do alegado fato novo noticiado pelos agravantes na petição
apresentada após a interposição do agravo interno, além de tratar-se
de inadmissível inovação recursal, tampouco seria dado a este Tribunal
deliberar, em primeira mão, sobre o seu conteúdo, haja vista envolver
discussão sobre matéria probatória, o que lhe é vedado na via recursal
especial, conforme assentado na Súmula n. 7/STJ.
2. Conforme entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal no
julgamento do RE 878.694/MG (Tema 809 de Repercussão Geral), é
inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e
companheiros, devendo ser aplicado em ambos os casos o regime do
art. 1.829 do CC/2002.
2.1. Na hipótese, inexistindo descendentes e ascendentes, a sucessão
se dará por inteiro ao cônjuge ou companheiro sobrevivente,
afastando-se, assim, a participação de colaterais do de cujus no
inventário.
3. Modificar o entendimento do Tribunal local acerca do fato de que,
no testamento, o falecido não manifestou a vontade de deixar
quaisquer bens para os ora agravantes, somente seria possível com o
reexame de matéria fático-probatória, o que é inviável devido ao óbice
da Súmula 7/STJ.
4. Agravo interno desprovido.

PROCESSO
REsp 1918421 / SP
RECURSO ESPECIAL
2021/0024251-6

RELATOR(A)
Ministro MARCO BUZZI (1149)
RELATOR(A) P/ ACÓRDÃO
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO (1140)
ÓRGÃO JULGADOR
T4 - QUARTA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
08/06/2021
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 26/08/2021
RSTJ vol. 263 p. 830
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. INEXISTÊNCIA DE NEGATIVA DE
PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE DE
OFENSA A ATOS NORMATIVOS INTERNA CORPORIS.
REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA. REGULAMENTAÇÃO. ATOS
NORMATIVOS E ADMINISTRATIVOS. PREVALÊNCIA DA
TRANSPARÊNCIA E CONSENTIMENTO EXPRESSO ACERCA DOS
PROCEDIMENTOS. EMBRIÕES EXCEDENTÁRIOS. POSSIBILIDADE
DE IMPLANTAÇÃO, DOAÇÃO, DESCARTE E PESQUISA. LEI DE
BIOSSEGURANÇA. REPRODUÇÃO ASSISTIDA POST MORTEM.
POSSIBILIDADE. AUTORIZAÇÃO EXPRESSA E
FORMAL. TESTAMENTO OU DOCUMENTO ANÁLOGO.
PLANEJAMENTO FAMILIAR. AUTONOMIA E LIBERDADE PESSOAL.
1. A negativa de prestação jurisdicional não se configura quando todos
os aspectos relevantes para o correto julgamento da causa são
considerados pelo órgão julgador, estabelecendo-se, de modo claro e
fundamentado, a compreensão firmada, ainda que em sentido diferente
do desejado pelos recorrentes.

2. Nos termos do entendimento do STJ, é inviável, em recurso


especial, a verificação de ofensa/aplicação equivocada de atos
normativos interna corporis, tais como regimentos internos, por não
estarem compreendidos no conceito de tratado ou lei federal,
consoante a alínea "a" do inciso III do art. 105 da CF/1988.
3. No que diz respeito à regulamentação de procedimentos e técnicas
de reprodução assistida, o Brasil adota um sistema permissivo
composto por atos normativos e administrativos que condicionam seu
uso ao respeito a princípios éticos e constitucionais. Do acervo
regulatório destaca-se a Resolução n. 2.168/2017 do Conselho Federal
de Medicina, que impõe a prevalência da transparência, do
conhecimento e do consentimento da equipe médica, doadores e
receptores do material genético em todas as ações necessárias à
concretização da reprodução assistida, desde a formação e coleta dos
gametas e embriões, à sua criopreservação e seu destino.
4. Quanto ao destino dos embriões excedentários, a Lei da
Biossegurança (Lei n. 11.105/2005) dispõe que poderão ser
implantados no útero para gestação, podendo, ainda, ser doados ou
descartados. Dispõe, ademais, que, garantido o consentimento dos
genitores, é permitido utilizar células-tronco embrionárias obtidas da
fertilização in vitro para fins de pesquisa e terapia.
5. Especificamente quanto à reprodução assistida post mortem, a
Resolução CFM n. 2.168/2017, prevê sua possibilidade, mas sob a
condição inafastável da existência de autorização prévia específica
do(a) falecido(a) para o uso do material biológico criopreservado, nos
termos da legislação vigente.
6. Da mesma forma, o Provimento CNJ n. 63 (art. 17, § 2º) estabelece
que, na reprodução assistida post mortem, além de outros documentos
que especifica, deverá ser apresentado termo de autorização prévia

específica do falecido ou falecida para uso do material biológico


preservado, lavrado por instrumento público ou particular com firma
reconhecida.
7. O Enunciado n. 633 do CJF (VIII Jornada de Direito Civil) prevê a
possibilidade de utilização da técnica de reprodução assistida póstuma
por meio da maternidade de substituição, condicionada, sempre, ao
expresso consentimento manifestado em vida pela esposa ou
companheira.
8. O Planejamento Familiar, de origem governamental,
constitucionalmente previsto (art. 196, § 7º e art. 226), possui natureza
promocional, e não coercitiva, com fundamento nos princípios da
dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, e consiste
na viabilização de utilização de recursos educacionais e científicos,
bem como na garantia de acesso igualitário a informações, métodos e
técnicas de regulação da fecundidade.
9. O princípio da autonomia da vontade, corolário do direito de
liberdade, é preceito orientador da execução do Planejamento Familiar,
revelando-se, em uma de suas vertentes, um ato consciente do casal e
do indivíduo de escolher entre ter ou não filhos, o número, o
espaçamento e a oportunidade de tê-los, de acordo com seus planos e
expectativas.
10. Na reprodução assistida, a liberdade pessoal é valor fundamental e
a faculdade que toda pessoa possui de autodeterminar-se fisicamente,
sem nenhuma subserviência à vontade de outro sujeito de direito.
11. O CC/2002 (art. 1.597) define como relativa a paternidade dos
filhos de pessoas casadas entre si, e, nessa extensão, atribui tal
condição à situação em que os filhos são gerados com a utilização de
embriões excedentários, decorrentes de concepção homóloga,
omitindo-se, contudo, quanto à forma legalmente prevista para

utilização do material genético post mortem.


12. A decisão de autorizar a utilização de embriões consiste em
disposição post mortem, que, para além dos efeitos patrimoniais,
sucessórios, relaciona-se intrinsecamente à personalidade e dignidade
dos seres humanos envolvidos, genitor e os que seriam concebidos,
atraindo, portanto, a imperativa obediência à forma expressa e
incontestável, alcançada por meio do testamento ou instrumento que o
valha em formalidade e garantia.
13. A declaração posta em contrato padrão de prestação de serviços
de reprodução humana é instrumento absolutamente inadequado para
legitimar a implantação post mortem de embriões excedentários, cuja
autorização, expressa e específica, haverá de ser efetivada
por testamento ou por documento análogo.
14. Recursos especiais providos.

PROCESSO
AgInt no AREsp 1686380 / GO
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
2020/0076419-6
RELATOR(A)
Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE (1150)
ÓRGÃO JULGADOR
T3 - TERCEIRA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
01/03/2021
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 03/03/2021
EMENTA

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO


ANULATÓRIA DE TESTAMENTO. CERCEAMENTO DE DEFESA.
NÃO OCORRÊNCIA. REVISÃO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ.
AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO AOS FUNDAMENTOS DA
SENTENÇA. INOBSERVÂNCIA AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE
RECURSAL. ACÓRDÃO EM HARMONIA COM A JURISPRUDÊNCIA
DO STJ. SÚMULA 83 DESTE TRIBUNAL. AGRAVO DESPROVIDO.
1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido
de que não configura cerceamento de defesa o julgamento da causa
sem a produção da prova solicitada pela parte quando considerada
inútil ou meramente protelatória.
2. A desconstituição do entendimento alcançado pelas instâncias
ordinárias, a fim de se concluir pela imprescindibilidade da produção de
prova testemunhal, demandaria o revolvimento de fatos e provas, o que
esbarra no enunciado n. 7 da Súmula desta Corte.
3. Nos termos da atual jurisprudência do STJ, ?embora a mera
reprodução da petição inicial nas razões da apelação não enseje, por si
só, afronta ao princípio da dialeticidade, se a parte não impugna os
fundamentos da sentença, não há como conhecer da apelação, por
descumprimento do art. 1.010, II, do CPC/15? (AgInt no AREsp
1.650.576/SP, Rel. Ministro Marco Buzzi, Quarta Turma, julgado em
28/9/2020, DJe 1º/10/2020). Incidência do enunciado n. 83 da Súmula
do STJ.
4. Agravo interno desprovido.

- DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões, 7ª Ed. rev. atual. São
Paulo: Ed. Juspodivm, 2021.

- GOMES, Orlando. Sucessões. 17ª ed. Forense , 2019.

- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e


Sucessões. São Paulo, Ed. Saraiva. 2017.

- PINHEIRO, Jorge Duarte. O Direito das Sucessões Contemporâneo.


2ª ed. Lisboa: AAFDL Editora, 2017.

- NEVARES, Ana Luiza Maria. Direito das Sucessões. Problemas e


Tendências. Ed. Foco, 2022.

-TARTUCE, Flávio. Direito Civil – Vol.6 – Direito das Sucessões. 7ª Ed.


São Paulo: Editora Método, 2014.

-TEIXEIRA, Daniele Chaves. Coordenadora. Arquitetura do


Planejamento Sucessório, Tomos I e II, 2 ed. Editora Fórum, 2020.

-ARRAES, Kelly Yohana. Quais são os tipos de Testamento


https://jacocoelho.com.br/artigos/quais-sao-os-tipos-testamento/
Acesso em 04/03/2022.

-CARVALHO, Newton Teixeira. Testamento e Codicilo.


http://domtotal.com/artigo.php?artId=6466
Acesso em 04/03/2022.

-FORLIN, Arthur Corbo, A hermeneutica e as regras de interpretação


dos testamentos
https://forlin.jusbrasil.com.br/artigos/153408276/a-hermeneutica-e-as-
regras-interpretativas-dos-testamentos
Acesso em 04/03/2022.

-GOMES, Jarbas Silva. Resumo de Sucessões Testamentárias.


https://jus.com.br/artigos/51979/resumo-de-sucessoes-testamentarias
Acesso em 04/03/2022.

-OLIVEIRA, Camila. Inovações acerca do Testamento. Inventário no


NCPC.
https://milaoliver94.jusbrasil.com.br/artigos/409319857/inovacoes-
acerca-do-testamento-inventario-no-ncpc
Acesso em 04/03/2022.

-PACHIONI, Neusa Lourenço. Sucessão Testamentária. In Direito Net


https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/6185/Sucessao-
testamentaria
Acesso em 04/03/2022.

- PAULA, Maria Fernanda Guimarães de . Sucessão testamentária no


Brasil.
https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/10375/Sucessao-
testamentaria-no-Brasil
Acesso em 04/03/2022.

- PINHEIRO, Livia Lima. Instituição Testamentária Brasileira


https://ibdfam.org.br/artigos/1659/Institui%C3%A7%C3%A3o+testamen
t%C3%A1ria+brasileira
Acesso em 04/03/2022

Após a leitura deste material e o acompanhamento das videoaulas


ministradas pelo(s) professor(es), finalize o seu aprendizado efetuando
a atividade autoinstrucional, disponível na área do aluno, no menu
plataforma de atividades no link “provas e atividades”. O gabarito será
visualizado, conforme a programação do cronograma da disciplina.

PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO DE FAMÍLIA E DAS SUCESSÕES

MÓDULO: DIREITO DAS SUCESSÕES

TEMA: SUCESSÃO LEGÍTIMA. CONCEITOS E PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS.


ACEITAÇÃO E RENÚNCIA. ASPECTOS GERAIS DAS CLASSES DE
HERDEIROS DESCENDENTES, ASCENDENTES E COLATERAIS. CESSÃO DE
DIREITOS HEREDITÁRIOS.

Para Fernandes “Suceder significa substituir, vir depois, do


latim succedere, na sucessão se verifica a substituição do titular de
direitos, obrigações, bens. Há, assim, uma mudança na titularidade de
uma relação jurídica, sendo certo que o Direito das Sucessões regula a
destinação do patrimônio do de cujus (de cujus sucessione agitur). Eis
o sentido estrito do vocábulo "sucessão" para o direito”1

Conforme Francisco José Cahali: ‘‘Sucessão, na acepção da palavra,


em sentido amplo indica a passagem, a transferência de um direito de
uma pessoa para outra. A relação jurídica inicialmente formada por
determinados titulares passa, pela sucessão, a outros” 2.
A nossa CF estabeleceu entre os direitos e garantias fundamentais,
a sucessão hereditária (CF, art. 5.º, XXX: “é garantido o direito de

1
FERNANDES, Francisco. Dicionário Brasileiro GLOBO. 39 ª edição – São Paulo : Globo – 1995.
2
CAHALI, Francisco José e HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Direito das
Sucessões. 5º ed. RT.2014.

herança”), como é consagrado o direito de propriedade (CF, art. 5.º,


XXII).

Sobre o tema nos ensina o Prof. Rodrigo da Cunha Pereira: “Em


acepção estrita, a sucessão causa mortis trata da transmissão do
patrimônio de um indivíduo, bens e direitos, aos seus herdeiros devido
ao seu falecimento – sucessão hereditária ou causa mortis” 3.
Já para Silvio Rodrigues:
“Não admitida a transmissão hereditária, falta ao indivíduo incentivo
para amealhar e conservar a riqueza, sendo provável que consagre
os últimos anos de sua vida a esbanjar um patrimônio que não pode
deixar aos seus entes queridos. Tal comportamento representa
prejuízo para a sociedade. Ademais, raramente a lei deixaria de ser
burlada, pois, através de doações, ou de liberalidades simuladas em
negócios onerosos, o titular tentaria transmitir seu patrimônio a seus
herdeiros”4.

De outra parte, verificamos a importante função social


desempenhada pela possibilidade de transmissão causa mortis, pois
valoriza a propriedade e o interesse individual na formação e avanço
patrimonial.

O nosso CC, nos arts. 1.784 a 2.027 dividiu o direito das sucessões
em quatro partes, a saber: sucessão em geral, sucessão legítima,
sucessão testamentária e inventário e partilha.

3
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e Sucessões Ilustrado. São Paulo.
Ed. Saraiva. 2017.
4
RODRIGUES, Silvio. Direito civil – Direito das sucessões. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 1997. vol.
7.

A sucessão pode ser caracterizada como legítima, uma vez que o


patrimônio do de cujus é conferido aos seus herdeiros, conforme os
critérios estabelecidos na lei.

Conforme o Prof. Rodrigo da Cunha Pereira: “É o mesmo que


sucessão legal ou hereditária. É aquela que se dá por força de lei, ou
seja, não havendo testamento, a sucessão se fará de acordo com a
ordem da vocação hereditária estabelecida em lei (arts 1.790 e 1.829
do CC)” 5.

Ainda segundo o Prof. Rodrigo da Cunha Pereira: “A sucessão legítima


se contrapõe a testamentária. Tanto na sucessão legítima quanto na
testamentária , quando houver herdeiros necessários, a metade da
herança deve ser destinada a eles. Esta parte indisponível da herança
é chamada de legítima” 6.
Para Paulo Lobo:
“ A sucessão legítima ou legal é a que se dá em observância à ordem
de vocação sob critérios estabelecidos na legislação”7.
Adquire-se a herança com a abertura da sucessão, o que ocorre por
força de Lei.

5
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e Sucessões Ilustrado. São Paulo.
Ed. Saraiva. 2017.
6
Idem.
7
LOBO, Paulo. Sucessões, Volume 6, 7º ed, Saraiva, 2021.

Desta forma, nos termos do art. 1.784 do CC aberta a sucessão a


herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e
testamentários.
Conforme Francisco José Cahali: “O falecido é denominado de
cujus e é qualificado como autor da herança. Quem recebe ou
adquire os bens é o herdeiro ou sucessor. Já a universalidade das
relações jurídicas deixadas pelo falecido, enquanto não promovida a
partilha aos sucessores é qualificada como herança” 8.

Assim, podemos definir o quinhão hereditário como a parte da


herança destinada ao sucessor.

A legislação no art. 1829 do CC prevê a ordem de sucessão (ou


ordem de vocação hereditária).

Assim, podemos definir o inventário como processo judicial pelo qual


se promove a transmissão da herança, sendo que há o procedimento
mais simples de arrolamento.

Também há a possibilidade de ser efetuado o inventário e a partilha


de bens deixados pela pessoa falecida de forma extrajudicial e por
escritura pública, perante o notário, desde que todos os envolvidos
sejam civilmente capazes e concordes, nos termos do art 610 § 1º do
CPC.

8
CAHALI, Francisco José e HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Direito das
Sucessões. 5º ed. RT.2014.

Conforme Francisco José Cahali:


“Ao tratar de direito das sucessões, direcionam-se as normas legais
principalmente à destinação do patrimônio deixado pela pessoa
falecida, indicando seus herdeiros (sucessão legítima), às regras
pertinentes à nomeação de sucessores, por disposições de última
vontade, com as respectivas formalidades e restrições (sucessão
testamentária), e à forma com que se dará essa transmissão” 9.

A sucessão é identificada por classes, na qual uma classe de


herdeiros exclui a outra. Em caso de herdeiros da mesma classe, os
parentes mais próximos excluem os mais remotos, exceto se o título
hereditário for idêntico.10
Cumpre ressaltar, que o acervo hereditário poderá ser composto por
bens imóveis, como móveis e qualquer outra relação jurídica de direitos
e obrigações. (cf. art. 1.206, CC).

Maria Berenice Dias nos ensina: “A sucessão legítima também é


chamada de ab intestato, por não existir testamento. Na ausência de
manifestação de vontade do falecido, seus bens são transmitidos a
quem o legislador indica como herdeiro” 11.
Com efeito, quando o de cujus não deixa testamento, que ele faz é
atribuir plena legitimidade sucessória às pessoas indicadas pelo
legislador.

9
Ibidem.
10
SILVEIRA, Vladmir. https://www.migalhas.com.br/depeso/275791/a-sucessao-da-legitima
11
DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. 7ª ed. – São Paulo: Ed. Juspodivm, 2021.

Giovanni Ettore Nanni explica que “[…] é indubitável que o direito


hereditário encontra sua razão na preservação dos laços familiares e
na tutela da propriedade privada, assim também de sua função social,
que, aliás, é prevista na Constituição Federal (art. 5º, XXIII)“12.
Na esteira desse entendimento, aludido autor afirma que os princípios
norteadores do direito das sucessões são a dignidade da pessoa
humana, a autonomia privada, a igualdade e a boa-fé.13
A dignidade da pessoa humana é um dos fundamentos da República
Federativa do Brasil, previsto no art. 1º, III, da CF, do que decorre que
a pessoa é o valor fundamental e a fonte máxima de proteção do
ordenamento jurídico.
Destaca Ettore Nanni que o princípio da dignidade da pessoa humana,
em razão de sua abrangência, aplica-se ao direito das sucessões e
menciona, como exemplo da incidência nessa área, a questão dos
bens gravados com a cláusula de inalienabilidade, “quando não existe
patrimônio disponível para se operar a sub-rogação do vínculo“14.
De outra parte, a legítima dos herdeiros necessários, não poderá ser
objeto de testamento (art. 1.857, § 1º, do CC) ou doação (art. 549 do
CC).
Já o art. 426 do CC: “Não pode ser objeto de contrato a herança de
pessoa viva” estabelece restrição .
O princípio da igualdade está estampado no art. 227, § 6º, da CF
garante que “os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por

12
NANNI, Giovanni Ettore. Op. cit., p. 807; GODOY, Claudio Luiz Bueno de. Dos herdeiros
necessários e da gravação da legítima no novo Código Civil, p. 743.
13
Ibidem.
14
Ibidem.

adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer


designações discriminatórias relativas à filiação“.
Por último, Ettore Nanni afirma que o princípio da boa-fé objetiva é
aplicável na sucessão hereditária, por exemplo, em relação aos
institutos da indignidade e da deserdação15.
O art. 1.814 do CC dispõe sobre as hipóteses em que o herdeiro ou
legatório serão excluídos da sucessão por indignidade. Ocorrerá a
deserdação nos mesmos casos previstos para a indignidade, com
acréscimo das situações indicadas nos arts. 1.962 e 1.963 do CC.
A deserdação é feita através de testamento, cabendo ao testador
declarar expressamente a causa da exclusão do herdeiro (art. 1.964 do
CC).

Trata-se de confirmação do herdeiro, pois já com a abertura da


sucessão lhe é deferida a herança. E nesse sentido o art. 1.804, ao
consignar: “Aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão
ao herdeiro, desde a abertura da sucessão”.

Conforme o Prof. Christiano Cassetari:


“A aceitação da herança representa, assim, o ato jurídico unilateral e
necessário pelo qual o herdeiro, que ao tempo da abertura da
sucessão houvera adquirido, ipso iure, a posse e a propriedade dos
bens da herança, confirma sua intenção de receber este acervo que
lhe é transmitido” 16.

15
Ibidem.
16
CASSETTARI, Christiano. Elementos de Direito Civil. 9º ed. São Paulo: Saraiva, 2021.

Para Paulo Lobo:


“A renúncia, em virtude da eficácia retroativa negativa, opera o
apagamento da situação jurídica de herdeiro ou legatário, como se o
renunciante nunca tivesse sido” 17.

Para Tartuce:
“A aceitação da herança é o ato pelo qual o herdeiro ou o legatário
confirma seu desejo de receber a herança ou o legado” 18.

O artigo 1.805 do Código Civil é claro ao dizer que a aceitação da


herança pode se dar por escrito, de forma expressa, ou de forma tácita
pelo exercício de atos próprios da qualidade de herdeiro.
Será expressa a aceitação quando feita por declaração escrita (art.
1.805), por termo nos autos, por escritura pública ou escrito
particular.

Já tácita será a aceitação quando resultar da prática de atos próprios


da qualidade de herdeiro (art. 1.805, 2.ª parte).

Segundo Caio Mário da Silva Pereira:


“A aceitação será presumida quando provocada por algum
interessado (CC, art. 1.807). A lei autoriza a quem tenha interesse
em saber se o herdeiro irá aceitar ou não a herança – por exemplo, o
credor, os coerdeiros, ou o eventual sucessor na falta daquele cuja

17
LOBO, Paulo.Direito Civil. Sucessões, Volume 6, 7º ed, Saraiva, 2021.
18
TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito civil. Direito das Sucessões. 6. ed. rev. e
atual. São Paulo: Método, 2013. v. 6.

deliberação se espera – que requeira a notificação judicial do silente,


reclamando o seu pronunciamento, dentro de prazo razoável, não
superior a trinta dias. Não se manifestando no prazo concedido, ter-
se-á por aceita a qualidade de sucessor, uma vez que a renúncia
não se presume, mas a aceitação sim, pela expressa previsão neste
sentido, sendo dispensado qualquer ato comissivo para se confirmar
a adição da herança através dessa forma” 19.

O artigo 1.806 também do Código Civil exige que seja feita de forma
expressa em instrumento público ou termo judicial. Tanto a aceitação
como a renúncia são atos irrevogáveis, por força do artigo 1.812 do
Código Civil. De igual modo, tanto a aceitação como a renúncia não
podem ser parciais, de acordo com o artigo 1.808 do Código Civil. A lei
preocupou-se com a fraude contra credores, impedindo a renúncia com
o intuito de prejudicar credores.

O art 1.829 do CC estabelece a ordem dos herdeiros legítimos.


Temos assim as seguintes classes de herdeiros:
a) descendentes: filhos, netos, bisnetos, etc., não tem limite, os mais
próximos excluindo os mais remotos;
b) ascendentes: pais, avós, bisavós, sem limite, os mais próximos
excluindo os mais remotos;
c) cônjuge: sendo chamado a suceder junto com os filhos.

19
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense,
1996. vol. 6.

d) colaterais: só até o quarto grau, e os mais próximos (irmãos)


excluem os mais remotos.
e) o Município: o poder público não é herdeiro, ele é chamado diante
da ausência de parentes, a fim de que os bens do falecido não se
deteriorem.

Pelo artigo 1.829 do CC são os filhos e o cônjuge os primeiros a


herdar e em seguida os demais, da seguinte forma:
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente,
salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal,
ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único);
ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver
deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.
De outra parte, na mesma classe os mais próximos excluem os mais
remotos (art. 1.833), então não se chama o neto se existe filho, não
se chama o avô se existe pai, § 1º do 1.836), salvo o direito de
representação.

Conforme Francisco José Cahali:


“A sucessão legítima, que beneficia os herdeiros necessários
(descendentes, ascendentes e cônjuge ou companheiro) e os herdeiros
facultativos (colaterais) é a que decorre da lei e beneficia com a

herança pessoas da família do de cujus e, na falta delas, o Poder


Público (herança vacante)” 20.

Conforme Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka: “A parte da


herança que é reservada exclusivamente aos herdeiros necessários
– parte indisponível – equivale à metade do acervo, deduzidas as
dívidas e as despesas do funeral (CC, art. 1.847) – esta parte
indisponível denomina-se legítima ou reserva” 21.

Para Ana Luiza Maia Nevares:


“Diz a doutrina que o fundamento da legítima está no vínculo familiar e
que o princípio da intangibilidade da quota necessária efetiva a
especial proteção que o Estado dispensa à família, além de concretizar
os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da
solidariedade familiar, na medida em que, segundo Ana Luiza Maia
Nevares, “preconiza uma distribuição compulsória dos bens entre os
membros mais próximos da comunidade familiar, em virtude da morte
de um deles” 22.

Itabaiana de Oliveira se refere aos vínculos “que fazem presumir qual


seria a vontade do de cujus se tivesse disposto de seus bens, pela
afeição e amor que se supõe existirem entre ele e seus conjuntos, e
em que se funda a vontade de beneficiar; porque o homem não tem

20
CAHALI, Francisco José e HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Direito das
Sucessões. 5º ed. RT.2014 .
21
HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Direito das Sucessões brasileiro: disposições
gerais e sucessão legítima.http://www.prolegis.com.br/direito-das-sucess%C3%B5es-brasileiro-
disposi%C3%A7%C3%B5es-gerais-e-sucess%C3%A3o-leg%C3%ADtima/. Acesso em
08/02/2022.
22
NEVARES, Ana Luiza Maia. TEPEDINO, Gustavo. MEIRELES, Rose Melo Vencelau.
Fundamentos do Direito Civil. Direito das Sucessões. Vol VII. Forense, 2020.

objeto mais amado do que os seus filhos, por ser a sua causa eficiente,
nem mais sagrada do que os pais, a quem deve o ser” 23.

No direito brasileiro a legítima dos herdeiros necessários corresponde à


metade ou 50% do valor do patrimônio pertencente ao de cujus.

O testador deve respeitar o valor da legítima dos herdeiros necessários


e assim não possui pela liberdade para dispor da totalidade da
herança.

Com relação a parte disponível da herança, será a metade ideal do


patrimônio que pode ser disposta através de testamento.

O nosso CC menciona em seu artigo 1.793, que “o direito a sucessão


aberta, bem como o quinhão de que disponha o co-herdeiro, pode ser
objeto de cessão por escritura pública”.
Conforme o Prof. Rodrigo da Cunha Pereira:
É a transmissão dos direitos hereditários aos demais herdeiros ou a
terceiro, respeitado o direito de preferência daqueles, antes que se dê
a partilha. A cessão de direito hereditário pode ser feita por escritura
pública e depois levada ao processo de inventário, ou feita diretamente
no processo de inventário, seja judicial ou administrativo (Art. 1.793
CC).24

23
OLIVEIRA, Itabaiana de. Tratado de direito das sucessões. Vol. II. Da sucessão testamentária.
São Paulo: Max Limonad, 1952, p. 625.
24
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e Sucessões Ilustrado. São
Paulo. Ed. Saraiva. 2017.

Para Paulo Lobo:


“O herdeiro pode transferir para outrem a sua parte na herança. Como
a herança é um todo indivisível, segundo as regras do condomínio, até
que se dê a partilha, cada herdeiro é titular de uma parte ideal, desde a
abertura da sucessão.25
Em relação à cessão da herança, a lei permite que o herdeiro que
aceitou a herança, tornando-se a titular daquele patrimônio, ainda que
antes da conclusão do inventário, ceda, a título gratuito ou oneroso,
seus direitos hereditários. Essa cessão pode se dar a outro herdeiro ou
a qualquer outro terceiro. Tudo conforme os artigos 1.793 a 1.795 do
Código Civil.
A transmissão em questão poderá ocorrer por ato inter vivos,
podendo ser gratuita ou onerosa, de todo o quinhão ou apenas de
parte dele, da integralidade do legado, ou de parcela dele. (CC, art.
1.793, § 1.º).

Segundo Paulo Lobo: “ A exigência da Lei atual é exclusivamente para


que a cessão se dê por escritura pública, não se fazendo necessário o
registro público, inclusive imobiliário, para que produza efeitos perante
o espólio, pois o cessionário, ao assumir a posição de herdeiro é
alcançado pela transmissão do domínio e da posse do herdeiro
cedente desde a abertura da sucessão, por força de lei ( saisine ) e não
em razão do registro”26

25
LOBO, Paulo. Sucessões, Volume 6, , Volume 6, 7º ed, Saraiva, 2021.
26
Ibidem.

CF: art. 5º, XXX


CC: arts. 1.784, 1.790, 1.793 a 1.795, 1.813, 1.805, 1.806, 1.808, 1.813
e 1.829,
CPC: 75, 618

Processo
AgInt no AREsp 1794363 / SP
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
2020/0308737-5
Relator(a)
Ministra NANCY ANDRIGHI (1118)
Órgão Julgador
T3 - TERCEIRA TURMA
Data do Julgamento
29/11/2021
Data da Publicação/Fonte
DJe 01/12/2021
Ementa
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO
DE INVENTÁRIO. COLAÇÃO DE BENS. VALOR DOS BENS AO
TEMPO DA
LIBERALIDADE OU AO TEMPO DA ABERTURA DA SUCESSÃO.
ANTINOMIA.
CRITÉRIO DA TEMPORALIDADE. APLICAÇÃO DO CÓDIGO CIVIL

DE 2002.
1. A jurisprudência do STJ é no sentido de que a colação de bens, a
despeito de se relacionar intimamente com a igualdade da legítima
dos herdeiros (questão de direito material), apenas se materializa e
desenvolve na ação de inventário (questão de direito processual).
Desse modo, é o critério de direito intertemporal que deve definir
qual a regra jurídica aplicável. Precedentes.
2. Na hipótese, tendo o autor da herança falecido em fevereiro de
2014, aplica-se a regra do art. 2.004 do CC/02.
3. Agravo interno não provido.

Processo
AgInt no AREsp 1672015 / RJ
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
2020/0048648-9
Relator(a)
Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI (1145)
Órgão Julgador
T4 - QUARTA TURMA
Data do Julgamento
22/03/2021
Data da Publicação/Fonte
DJe 25/03/2021
Ementa
AGRAVO INTERNO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
PROCESSUAL CIVIL.
INVENTÁRIO. HABILITAÇÃO DA VIÚVA. SUCESSÃO LEGÍTIMA.
CONCORRÊNCIA ENTRE CÔNJUGE E DESCENDENTES. SÚMULA
N. 83/STJ.

1. O cônjuge, qualquer que seja o regime de bens adotado pelo casal,


é herdeiro necessário. A exceção prevista no artigo 1.641 do Código
Civil refere-se ao regime de separação legal de bens. Precedentes.
2. Agravo interno a que se nega provimento.

Processo
AgInt nos EDcl no REsp 1933479 / DF
AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO
RECURSO ESPECIAL
2021/0102261-5
Relator(a)
Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE (1150)
Órgão Julgador
T3 - TERCEIRA TURMA
Data do Julgamento
16/11/2021
Data da Publicação/Fonte
DJe 19/11/2021
Ementa
AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO
RECURSO ESPECIAL. PETIÇÃO DE HERANÇA. REPRESENTAÇÃO
DE PAI QUE NÃO INVESTIGOU A SUA MATERNIDADE.
POSSIBILIDADE. CERCEAMENTO DE DEFESA E PRESCRIÇÃO.
INOVAÇÃO RECURSAL. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.
1. O cerceamento de defesa e a prescrição não foram objeto do
recurso especial nem do acórdão recorrido, mostrando-se como
inovação recursal.
2. O entendimento desta Corte é pela possibilidade de a neta, cujo
pai falecido que não buscou o reconhecimento da sua maternidade,

buscar a condição de neta com efeitos também de herança.


3. Agravo interno desprovido.

Processo
REsp 1759652 / SP
RECURSO ESPECIAL
2018/0203243-2
Relator(a)
Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO (1144)
Órgão Julgador
T3 - TERCEIRA TURMA
Data do Julgamento
22/09/2020
Data da Publicação/Fonte
DJe 25/09/2020
Ementa
RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL.
AÇÃO DE
RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL. POST
MORTEM. HERDEIROS COLATERAIS. DETERMINAÇÃO DE
EMENDA DA PETIÇÃO INICIAL PARA A INCLUSÃO DE
LITISCONSORTES NECESSÁRIOS. INCONSTITUCIONALIDADE
DO ART. 1.790 DO CC/2002 RECONHECIDA PELO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL EM SEDE DE REPERCUSSÃO GERAL.
PEDIDO DE RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL.
PRESENÇA DOS PARENTES COLATERAIS. DESNECESSIDADE.
1. Controvérsia em torno da necessidade, ou não, da inclusão dos
herdeiros colaterais no polo passivo de demanda de reconhecimento
e

dissolução de união estável "post mortem" cumulada com pedido de


concessão da totalidade de bens da companheira.
2. Alegação do recorrente de que (a) os herdeiros colaterais não
concorrem na herança em razão da flagrante inconstitucionalidade do
art. 1.790, do Código Civil; (b) os herdeiros colaterais não possuem
interesse direto na formação do convencimento do juízo quanto à
existência da união estável invocada; (c) a legitimidade dos
herdeiros colaterais deve ser discutida nos autos do inventário.
3. O Supremo Tribunal Federal, ao julgar os Recursos Extraordinários
n.º 646721/RS e 878694/MG, ambos com repercussão geral
reconhecida,
fixou a tese de que "é inconstitucional a distinção de regimes
sucessórios entre cônjuges e companheiros prevista no art. 1.790 do
CC/2002, devendo ser aplicado, tanto nas hipóteses de casamento
quanto nas de união estável, o regime do art. 1.829 do CC/2002."
4. Entendimento jurisprudencial, no âmbito do Superior Tribunal de
Justiça, no sentido de que, após o reconhecimento da
inconstitucionalidade da distinção de regimes sucessórios entre
cônjuges e companheiros, os parentes colaterais, tais como irmãos,
tios e sobrinhos, são herdeiros de quarta e última classe na ordem
de vocação hereditária, herdando apenas na ausência de
descendentes,
ascendentes e cônjuge ou companheiro, em virtude da ordem legal de
vocação hereditária.
5. Apesar do interesse dos colaterais no resultado da ação de
reconhecimento e dissolução de união estável, não é suficiente para
a sua qualificação como litisconsortes passivos necessários, pois,
nessa demanda, não há nenhum pedido contra eles formulado.
6. Desnecessidade de inclusão, no polo passivo da demanda de

reconhecimento e dissolução de união estável, dos parentes


colaterais da falecida, pois não possuem relação jurídica de direito
material com o convivente sobrevivente e somente serão reflexamente
atingidos pela decisão proferida nessa demanda.
7. Possibilidade de habilitação voluntária no processo dos parentes
colaterais da falecida como assistentes simples do espólio.
8. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.

Processo
AgInt no REsp 1874610 / MG
AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL
2020/0114145-0
Relator(a)
Ministro RAUL ARAÚJO (1143)
Órgão Julgador
T4 - QUARTA TURMA
Data do Julgamento
11/10/2021
Data da Publicação/Fonte
DJe 17/11/2021
Ementa
PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO
ESPECIAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE INVENTÁRIO.
INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO ART. 1.022 DO CPC/2015.
AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. MATÉRIAS
APRESENTADAS SOMENTE EM SEDE DE EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. SUCESSÃO. UNIÃO ESTÁVEL.
COMUNHÃO PARCIAL DE BENS. INCONSTITUCIONALIDADE DO
ART. 1.790 DO CC. CONCORRÊNCIA DO CÔNJUGE SUPÉRSTITE

COM OS DESCENDENTES DO FALECIDO EM RELAÇÃO AOS BENS


PARTICULARES. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 83/STJ. AGRAVO
DESPROVIDO.
1. Não prospera a alegada ofensa ao art. 1.022 do CPC/2015, pois o
acórdão estadual examinou, de forma fundamentada, os pontos
essenciais ao deslinde da controvérsia, ainda que em sentido
contrário à pretensão da parte recorrente.
2. Fica inviabilizado o conhecimento de tema trazido na petição de
recurso especial, mas não debatido e decidido nas instâncias
ordinárias, porquanto ausente o indispensável prequestionamento.
Aplicação das Súmulas 282 e 356 do STF.
3. A jurisprudência desta Corte não admite o pós-questionamento, que
ocorre quando, em sede de embargos de declaração, são
apresentadas
novas teses na instância a quo.
4.Oeg. Supremo Tribunal Federal, em repercussão geral, assinalou que
"é inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre
cônjuges e companheiros prevista no art. 1.790 do CC/2002, devendo
ser aplicado, tanto nas hipóteses de casamento quanto nas de união
estável, o regime do art. 1.829 do CC/2002" (RE 878.694/MG, Rel.
Min. Roberto Barroso, DJe de 6/2/2018; Tema 809/STF).
5. De acordo com a jurisprudência desta Corte, "nos termos do art.
1.829, I, do Código Civil de 2002, o cônjuge sobrevivente, casado no
regime de comunhão parcial de bens, concorrerá com os
descendentes
do cônjuge falecido somente quando este tiver deixado bens
particulares" (REsp 1.368.123/SP, Rel. p/ acórdão Ministro RAUL
ARAÚJO, DJe de 8/6/2015).
6. Estando a decisão de acordo com a jurisprudência desta Corte, o

recurso especial encontra óbice na Súmula 83/STJ.


7. Agravo interno desprovido.

CASSETTARI, Christiano. Elementos de Direito Civil. 9º ed. São Paulo:


Saraiva, 2021.

DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. 7ª ed. – São Paulo: Ed.
Juspodivm, 2021.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. V. 7. Direito das


Sucessões. 19ª ed. São Paulo: Saraiva, 2021.

LOBO, Paulo. Sucessões, 7º ed. Saraiva, 2021.

NEVARES, Ana Luiza Maia. A Sucessão do Cônjuge e do


Companheiro na Perspectiva do Direito Civil-Constitucional. 2ªed. São
Paulo: Atlas, 2015.

NEVARES, Ana Luiza Maia. TEPEDINO, Gustavo. MEIRELES, Rose


Melo Vencelau. Fundamentos do Direito Civil. Direito das Sucessões.
Vol VII. Forense, 2020.

PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e


Sucessões. São Paulo, Ed. Saraiva. 2017.

PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Princípios fundamentais norteadores do


direito de família. 3º ed. São Paulo, Saraiva, 2016.

TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. 11º ed. São Paulo: Método,
2021.

CARBONARI, Silvia Regina de Assumpção. Existência, validade e


eficácia da cessão de direitos hereditários sobre bem determinado da
herança. https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-civil/existencia-
validade-e-eficacia-da-cessao-de-direitos-hereditarios-sobre-bem-
determinado-da-heranca/ Acesso em 08/02/2021.

CARVALHO, Newton Teixeira. Sucessão Legítima.


http://domtotal.com/artigo/7451/2018/05/sucessao-legitima/. Acesso em
08/02/2021.

DELGADO, Mario Luiz. Chegou a hora de revisitar a legítima dos


descendentes e ascendentes. https://www.conjur.com.br/2018-mai-
13/processo-familiar-preciso-revisitar-legitima-descendentes. Acesso
em 08/02/2021.

GONÇALVES, Valdenice de Cássia. A sucessão testamentária e o


testamento público. https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-171/a-
sucessao-testamentaria-e-o-testamento-publico/. Acesso em
08/02/2021.

MENIN, Márcia Maria. Introdução: Conceito e Hipóteses de Cabimento


de Sucessão Legítima. http://www.direitorp.usp.br/wp-
content/uploads/2014/11/artigo_marcia_maria_menin.pdf. Acesso em
08/02/2021.

NEVARES, Ana Luiza Maia. A importância do contrato na transmissão


hereditária. https://www.migalhas.com.br/coluna/migalhas-
contratuais/325643/a-importancia-do-contrato-na-transmissao-
hereditaria. Acesso em 08/02/2021.

NEVARES, Ana Luiza Maia. A proteção da família no Direito


Sucessório. Necessidade de Revisão?
https://ibdfam.org.br/artigos/1033/A+prote%C3%A7%C3%A3o+da+fam
%C3%ADlia+no+Direito+Sucess%C3%B3rio%3A+necessidade+de+rev
is%C3%A3o%3F. Acesso em 08/02/2021.

RIBEIRO, Fulgêncio. A sucessão legítima.


https://ribeirooliveiraadvogados.jusbrasil.com.br/artigos/114684196/suc
essao-legitima. Acesso em 08/02/2021.

SANTOS, Nicolas Carlos dos. Renúncia a herança.


https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/10376/Renuncia-a-heranca.
Acesso em 08/02/2021.

Após a leitura deste material e o acompanhamento das videoaulas


ministradas pelo(s) professor(es), finalize o seu aprendizado efetuando
a atividade autoinstrucional, disponível na área do aluno, no menu
plataforma de atividades no link “provas e atividades”. O gabarito será
visualizado, conforme a programação do cronograma da disciplina.

PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO DE FAMÍLIA E DAS SUCESSÕES

MÓDULO: DIREITO DAS SUCESSÕES

TEMA: LEGADO.CONCEITO. MODALIDADES E EFEITOS. ANULAÇÃO E


ANULABILIDADE DE CLÁUSULAS TESTAMENTÁRIAS. EXCLUSÃO DE
HERDEIRO. INDIGNIDADE E DESERDAÇÃO.

O nosso CC, em seu art. 1.784 consagrou a figura da saisine, ao


mencionar que com a morte o falecido transfere a herança aos seus
herdeiros legais ou testamentários.

Na sucessão legítima o herdeiro recebe a herança e o legatário bens,


coisas, direitos e valores determinados através do testamento (art.
1.857 do CC).

Desta forma, o herdeiro sucede na totalidade ou numa quota do


patrimônio do falecido e o legatário é o que sucede em bens ou valores
determinados.

Na criação do legado o testador especifica um bem que é recebido pelo


legatário.

Legado - Conceito

Conrado Paulino da Rosa nos dá uma definição sobre o


legado trata-se de "uma liberalidade, a título singular,

realizada mediante testamento ou codicilo, a favor de um


contemplado.” 1

Legado é a disposição testamentária de última vontade que nomeia o


legatário para um bem ou para um conjunto de bens certos e
determinados dentro da herança, não sendo ele um herdeiro. O
testador ou legante tem a liberdade de escolha.

O Legatário tem a certeza do direito que lhe resulta dessa nomeação,


desde a abertura da sucessão.
Assim, bem como pondera Maria Helena Diniz: “... O legado
requer a presença de 3 pessoas: a) o testador (legante),
que é o que outorga o legado; b) o legatário, que adquire
ao legado. Qualquer pessoa, parente ou estranha, natural
ou jurídica, civil ou comercial, pode ser contemplada com o
legado. Como o beneficiário não precisa ser
necessariamente pessoa diversa do herdeiro, se o legado
for distribuído ao herdeiro legitimo denominar-se-á legado
precípuo ou prelegado, reunindo-se numa só pessoa as
qualidades de legatário e herdeiro, de modo que o
prelegatário recebe o prelegado além dos bens que
constituem sua herança, podendo até recebê-lo antes da
partilha, se o disponente assim o determinar; c) o onerado,
sobre quem recai o ônus do legado ou a quem compete
prestar o legado. O testador pode indicar a pessoa que
deverá fazer cumprir o legado. O legatário poderá pedir o

1
ROSA, Conrado Paulino da. Direito de Família Contemporâneo, 7º ed,Ed. Juspodivm, 2020.

legado a todos os herdeiros instituídos, e, não os havendo,


aos legatários, se o disponente não houver indicado aquele
(herdeiro ou legatário) que deverá executá-lo, hipótese em
que todos os herdeiros ou legatários instituídos serão
responsáveis na proporção do que herdarem, uma vez que
não haverá responsabilidade solidária.” 2
O Prof. Rodrigo Pereira da Cunha assim define o legado:
“É um bem ou direito singular e determinado deixado pelo
testador ou codicilante em benefício de alguém. Apesar de
ser parte do acervo patrimonial deixado pelo de cujus, não
se confunde com a herança, pois é um bem singular e
3
determinado e a herança universal e indeterminada.”

Segundo Gagliano: “Trata-se de um bem certo e


determinado (ou, excepcionalmente, determinável), deixado
pelo autor da herança a alguém, denominado legatário, por
manifestação expressa em testamento ou codicilo. O direito
de pedir o legado não se exercerá, enquanto se litigue sobre
a validade do testamento, e, nos legados condicionais, ou a
prazo, enquanto esteja pendente a condição ou o prazo não
se vença.” 4

O legado é assim um instituto exclusivo da sucessão testamentária,


aplicável a uma coisa certa e determinada, como, por exemplo: um

2
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Volume 6, 35º ed, 2021.
3
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e Sucessões Ilustrado. Ed.
Saraiva. 2017.
4
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 7:
direito das sucessões. 6. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.

quadro; o imóvel situado à rua tal; as ações de determinada sociedade


anônima. E o legatário, por consequência, é aquele que, sendo
herdeiro ou não, recebe do testador uma coisa ou até mesmo quantia,
certa, determinada, individualizada.

Já Cahali e Hironaka definem o legado como: “... a atribuição


de certo ou certos bens a outrem por meio de testamento e a
título singular. Envolve assim, uma sucessão causa mortis
que produzirá efeitos apenas com o falecimento do
testador.” 5

Desta forma, o legado recebe tratamento jurídico próprio e pode ser


gravado com restrições, podendo o testador impor condições ou
encargos para o seu recebimento.

Modo de Instituição

Com a morte do autor da herança transmite-se imediatamente a


propriedade, mas não a posse do bem legado, portanto, o legatário tem
que pedi-la, porém os frutos da coisa legada pertencem ao legatário
desde a morte do autor da herança, se não houver condição
suspensiva. Se houver condição suspensiva, a transmissão só ocorrerá
após o adimplemento da condição.

5
CAHALI, Francisco José; HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Direito das Sucessões.
4ª Ed. rev. atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012.

Segundo Conrado Paulino da Rosa: “Pelo princípio


da saisine, a lei considera que, no momento da morte, o
autor da herança transmite seu patrimônio, de forma íntegra,
a seus herdeiros. Noutros termos: o herdeiro obtém a
aquisição e a posse dos bens hereditários no momento da
morte do testador, a saisine (CC, art. 1.784), mas o legatário
deve pedir o seu legado aos herdeiros, direito que surge na
abertura da sucessão, pois não tem, desde então, a posse
da coisa legada.” 6

Ademais, o legatário tem o direito de ação para reivindicar a coisa, no


caso de recusa, por não ter a posse direta da coisa legada com a morte
do legante (art. 1.923 do CC), embora tenha adquirido o domínio e a
posse indireta desde então. Esta é a razão pela qual o legatário pode
“ingressar com medidas acautelatórias para preservação da coisa e de
seus direitos, impedindo a deterioração ou desaparecimento de seus
direitos”, contudo, não pode entrar na posse do legado sob pena de
configurar esbulho contra o espólio e os herdeiros, amparados pelas
ações possessórias.

Modalidades de legado

Legado de alimentos
O testador pode criar em forma de legado o direito ao recebimento de
alimentos. Em nada sendo estipulados os alimentos compreende o
sustento, o remédio, o vestuário, moradia, e sendo menor de idade

6
ROSA, Conrado Paulino da. Direito de Família Contemporâneo, 7º ed,Ed. Juspodivm, 2020.

acrescenta a educação. Trata-se de um benefício vitalício. Alimentos


voluntários – o legatário não tem direito, mas passa a ter por causa do
legado.
Com fundamento no artigo 1.920, o testador poderá deixar ao legatário,
determinado valor para sua subsistência, ou seja, o seu sustento, a
cura, o vestuário e a casa.

Conforme Venosa:
“O legado de alimentos (CC, art. 1.920), instituído em favor
do legatário consiste no provimento de qualquer meio de
subsistência e vivência do alimentando, “abrange o sustento,
a cura, o vestuário e a casa, enquanto o legatário viver, além
da educação, se menor ele for.” 7

Contudo, ao contrário do direito de família, em que se potencializa as


necessidades do alimentando, no legado de alimentos os alimentos
são encarados conforme a vontade do testador e as forças da herança.
Não se afasta, entretanto, a fixação equitativa do quantum pelo juiz,
mediante a aplicação dos princípios do direito de família, bem como, a
possibilidade de concessão do legado em testilha in natura (por
exemplo, o fornecimento de hospedagem ou entrega de produtos
alimentícios). Impõe assinalar que os alimentos testamentários gozam
de inalienabilidade e impenhorabilidade, salvo se o beneficiário já
possuir condições plenas de subsistência independentemente do
legado, que passa a ostentar a condição de renda, e não de alimentos.
Na hipótese de o testador não fixar quanta este será determinado pelo
magistrado.

7
VENOSA, Sílvio Salvo. Direito Civil: Família e Sucessões. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2021.

Legado de crédito
O legado de crédito, ou de quitação de dívida, terá eficácia somente
até a importância desta, ou daquele, ao tempo da morte do testador.
Nessa disposição o legado consiste não na entrega de um objeto,
mas sim na entrega de um direito creditício, que o testador possui.
O testador é um credor e deixa seu crédito para o legatário. O
legatário assume posição de credor. Os herdeiros legítimos não têm
responsabilidade sobre o crédito.
De acordo com seu artigo 1.918 do Código Civil Brasileiro de 2002: “O
legado de crédito, ou de quitação de dívida, terá eficácia somente até
a importância desta, ou daquele, ao tempo da morte do testador”.
Para Maria Helena Diniz: “O legado de crédito tem por objeto um título
de crédito do qual é devedor terceira pessoa, que é transferido pelo
testador ao legatário, e que, entretanto, somente valerá até a
concorrente quantia do crédito ao tempo da abertura da sucessão.”8

O crédito poderá ser representado por um título executivo, como nota


promissória ou cheque, deverá o herdeiro entregá-lo ao legatário, como
modo de cumprimento da cédula testamentária. Com a entrega do
título, o legatário efetuará a cobrança do crédito.
Não obstante, em tal modalidade de legado, o legatário terá direito aos
juros vencidos desde a morte do testador, ressalvados a possibilidade
do testamento conter disposição em sentido contrário.

8
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Volume 6, 35º ed, 2021.

Legado de usufruto
Acerca de legado de usufruto nos ensina Zeno Veloso:
“O testador pode legar o usufruto, e o beneficiário adquirirá o
direito à posse, uso, administração e de fruir as utilidades e
frutos do bem (arts. 1.390 e 1.394). Se o testador não fixar
tempo, entende-se que o usufruto é vitalício, extinguindo-se,
então, com a morte do usufrutuário (art. 1.490, I).” 9

Segundo Conrado Paulino da Rosa: “Esse legado consiste


na entrega de um direito real alheio cuja propriedade pode
estar ou não deferida a alguém no testamento. Pode por
prazo de validade, mas no silencio do testador, presume-se
vitalício o legado.” 10

A disposição sobre o legado de usufruto que traz o Código Civil


encontra-se no artigo 1.921: “O legado de usufruto, sem fixação de
tempo, entende-se deixado ao legatário por toda a sua vida.”
Não obstante, vale ressaltar que usufruto é o direito real conferido a
determinada pessoa de retirar, em caráter temporário, de coisa alheia,
os frutos e utilidades que ela produz, sem alterar-lhe a substância.
Assim, constata-se que o usufruto não se configura como espécie de
limitação ao direito de propriedade, mas sim à posse direta, que é
concedida a outrem, que poderá desfrutar do bem alheio, dele retirando
os frutos e utilidades.
Vale assinalar que, em se tratando de usufruto, o proprietário da coisa
perde o jus utendi e jus fruendi, que são poderes intrínsecos ao

9
Ibidem.
10
ROSA, Conrado Paulino da. Direito de Família Contemporâneo, 7º ed,Ed. Juspodivm, 2020.

domínio. Todavia, prima-se que o proprietário não perde a substância,


o conteúdo de seu direito, que permanece em sua propriedade. 11

Legado de coisa alheia


Quando, aberta a sucessão, a coisa certa não pertencer ao testador o
legado não terá eficácia, conforme art. 1.912 do CC.

Exceções à regra do artigo 1.912 do CC:


a) Se o bem não pertencia ao testador no momento em que testou,
mas lhe pertencer no momento da abertura da sucessão;
b) Se o testador determinar que o herdeiro, beneficiado no legado,
entregue bem que lhe pertence ao legatário;
c) Caso o legado seja de coisa genérica (aquela determinada apenas
quanto ao seu gênero, qualidade e quantidade), ainda que não exista,
parcial ou totalmente, no patrimônio do testador;

Se o testador se referir a coisa genérica limitada (ex.: legado de 100


cabeças de boi dentre as 500 existentes na fazenda do testador), caso
o gênero “cabeças de boi” não mais existir na fazenda do testador, o
legado será ineficaz, porque a vontade do testador estava limitada pelo
gênero.

Legado que só pertence em parte ao testador


O Prof.Tartuce nos ensina:
“Caso o testador deixe bens ao legatário que apenas em
parte lhe pertençam, por decorrência logica do principio pelo

11
VENOSA, Sílvio Salvo. Direito Civil: Família e Sucessões. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2021.

qual ninguém pode transmitir mais direitos do que possui, o


legado será eficaz quanto aos bens pertencentes ao testador
e parcialmente ineficaz quanto aos demais bens (art. 1.914
do CC). Quanto à̀ parte ineficaz, aplicam-se as regras
expostas no item anterior. Em idêntico sentido, se o testador
legar” bens que existam em quantidade inferior à coisa
legada (art. 1.916 do CC)” 12.

Desta forma, se o testador legar uma coisa que não lhe pertença por
inteiro, o legado vale apenas em relação à parte que lhe pertencer.

Assim, o legado ficará restrito ao “quantum” deixado pelo “ de cujus”,


poius não pode testar a parte que não lhe pertence.

Legado de coisa singular ou de coisa certa


É quando o testador perfeitamente identifica o objeto deixado. É o
legado puro, sendo ele o próprio conceito do que é legado, onde ao
ler o testamento identifica-se bem, de forma clara à vontade do
testador.

A respeito do disposto no art. 1.916, ensina Zeno Veloso:


“A primeira parte deste artigo é repetitiva, ociosa, pois o
preceito já consta no art. 1.912. A segunda parte prevê que
existindo a coisa legada entre os bens do testador, mas em
quantidade inferior à do legado, este será eficaz apenas
quanto à parte existente.” 13

12
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: direito das sucessões. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017.
13
VELOSO, Zeno. Comentários ao Código Civil.

Legado de coisa localizada


Outra espécie de legado, no que concerne ao objeto, é o de coisa
localizada. Ocorre quando, ao invés do testador indicar o bem,
menciona, em sua cédula testamentária, o lugar no qual os bens se
encontram.
Após a morte do testador para que o legado tenha eficácia, como
preceitua o artigo 1.917 do Código Civil, o bem deve ser encontrado no
lugar determinado onde o testador deixou expresso, salvo se, o bem foi
removido transitoriamente.
De acordo com Tartuce:
“Trata-se de interpretação do art. 1.917 da atual codificação,
pela qual o legado de coisa certa que deva encontrar- -se
em determinado lugar só́ terá́ eficácia se nele for achada,
salvo se removida a título transitório.” 14

Legado pelo gênero


Conforme Taís Junqueira:
“Esse legado contraria o seu próprio conceito, uma vez que
não existe uma individualização do objeto, mas sim uma
individualização genérica. Esse legado sempre será
cumprido e no silêncio do testamento a escolha do objeto
tocará ao herdeiro legítimo, escolhendo o meio termo dos
objetos daquele gênero. O testamento poderá indicar um
terceiro, que deverá agir na mesma regra. O testador

Coord.Antônio Junqueira de Azevedo. Capítulo 4. 1ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2003, V.21.
14
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: direito das sucessões. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017.

poderá determinar que o próprio legatário escolha, ficando


ele liberado da escolha pelo meio termo.” 15

Esse legado sacrifica demais os herdeiros legítimos, pois sempre será


cumprido. Se o testador não tiver o bem deixado em legado, os
herdeiros terão que comprar o bem devido.
É possível o terceiro poder ser eleito para escolher o meio termo. Não
é obrigado a escolher. Se negar, o juiz de direito tem que fazer a
escolha. O legatário também pode fazer, mas não este preso ao meio
termo.

Legado de imóvel
Aquele que legar um imóvel lhe ajuntar depois novas aquisições, estas,
ainda que contíguas, não se compreendem no legado, salvo expressa
declaração em contrário do testador.
Não se aplica às benfeitorias necessárias, úteis ou voluptuárias feitas
no prédio legado.
Após o testamento, se houver acréscimo nessa propriedade, que não
se compreende no imóvel legado, mesmo que contíguos, o legado não
compreende as novas aquisições.
Como preceitua o parágrafo único do artigo 1.922 do Código Civil, não
se aplica o caput desse dispositivo às benfeitorias, pois elas tornam-se
acessórias aos imóveis, como parte integrante do imóvel legado, não
importando se as benfeitorias executadas pelo testador foram
necessárias, úteis ou voluptuárias (CC, art. 96), desde que existentes

15
JUNQUEIRA, Tais. Da sucessão testamentária: O legado e suas espécies.
https://taisjunqueira.jusbrasil.com.br/artigos/149596408/da-sucessao-testamentaria-o-legado-e-
suas-especies. Acesso em 17/02/2022.

no tempo da abertura da sucessão. Entretanto, se posteriores a isso,


forem realizadas pelos sucessores, assistirá a estes o direito de
reembolso dos valores despendidos.16
Conforme Luiz Paulo Vieira de Carvalho: “Dispõe o caput do
art. 1922 do Código Civil: “Se aquele que legar um imóvel
lhe ajuntar depois novas aquisições, estas, ainda que
contíguas, não se compreendem no legado, salvo expressa
declaração em contrário do testador.” Pretende assim o
legislador deixar claro que os acréscimos externos, mesmo
contíguos ao imóvel objeto da liberalidade, não se
compreendem no prédio legado, ao contrário daquilo que o
compõe em sentido jurídico, tais como, por exemplo, as
servidões, o usufruto, a habitação que eventualmente
oneram o imóvel ou, em sentido material, as suas partes
integrantes: instalações elétricas, hidráulicas, de esgoto etc.”
17

Efeitos do legado

Pagamento do legado - transmissão da propriedade e da posse do


bem legado
“Desde a abertura da sucessão, com a morte do testador e pelo
princípio da saisine, passa o legatário a ser, de imediato, proprietário
do bem testado (art. 1.784 do CC). A única exceção se dá quando o
bem é legado com condição suspensiva (art. 1.923 do CC). Isso
porque, nos negócios celebrados sob condição suspensiva (aquela que

16
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil v.7: Direito das Sucessões. 26ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
17
CARVALHO, Luiz Paulo Vieira de . Direito das sucessões / . – 4. ed. – São Paulo: Atlas, 2019.

subordina os seus efeitos a um evento futuro e incerto), não há direito


adquirido, mas sim direito eventual (art. 130 do CC).” 18

A saisine é um instituto do Direito das Sucessões, estampado no artigo


1.784 do Código Civil, consistente em uma ficção jurídica que
proporciona aos herdeiros a posse indireta do patrimônio deixado
causa mortis pelo falecido.

Para Conrado Paulino da Rosa: “Assim por transmitir ao


legatário o domínio na abertura da sucessão, pertencem a
ele os frutos desde a morte do testado, observando-se,
portanto, se depende de condição suspensiva, ou de termo
inicia. A coisa será entregue ao legatário tal como se
encontre, se excluindo, portanto, os frutos colhidos antes do
falecimento do autor da herança.” 19

Responsabilidade e pagamento das despesas decorrentes do


legado
Caberá a todos os herdeiros o cumprimento do legado, salvo
disposição específica do testador em sentido diverso (art. 1.934 do
CC). Isso porque, sendo sucessor a título universal, é o herdeiro quem
recebe todo o patrimônio (ativo e passivo) do falecido, e dele deve
destacar o bem legado. Desse modo, cada herdeiro responde
proporcionalmente por seu quinhão pelo legado a ser pago. Caso
inexistam herdeiros e a herança seja toda dividida em legados, os

18
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: direito das sucessões. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017.
p.365.
19
ROSA, Conrado Paulino da. Direito de Família Contemporâneo, 7º ed, Ed. Juspodivm, 2020.

legatários assumirão o dever de entrega dos bens, na proporção do


que herdaram.20

Caducidade dos legados


Caducar, ou caducidade, significa ineficácia ou perda de força. Embora
originariamente feito de forma válida o legado pode deixar de existir por
circunstâncias posteriores, não se confunde todavia com nulidade,
caso em que o testamento nasce inválido.
“A caducidade do legado é a sua ineficácia em razão de
causa superveniente à sua instituição. Havendo
caducidade, o legado, embora feito validamente, perderá a
razão de existir, por circunstâncias posteriores à facção
testamentária, conforme citação de Maria Helena de Diniz.”
21

O testador pode revogar o testamento e consequente legado como e


quando lhe aprouver, tal revogação pode ser total ou parcial. Há uma
exceção, não se pode revogar o reconhecimento de filho, continuando
válido o reconhecimento, mesmo que revogado.
O legado pode caducar também por motivo de ordem subjetiva, ou
seja, quando faltar o beneficiário, neste caso o bem legado volta a
integrar a massa do espólio. Isso posto, serão as causas de expiração
ou perda do legado estão enumeradas no artigo 1.939 do Código Civil.
A caducidade não se confunde com nulidade, pois nesta o testamento
nasce inválido, por inobservância das formalidades legais ou em
razão da incapacidade do agente. Enquanto que a caducidade vem a
ser a ineficácia, por causa ulterior, de disposição testamentária válida.

20
Ibidem , P 371.
21
DINIZ, Maria Helena, Curso de direito civil brasileiro. 36. Ed. São Paulo: Saraiva, 2019.

Anulação e Anulabilidade de Cláusulas Testamentárias


Pontes de Miranda define o testamento como “o ato pelo
qual a vontade de alguém é declarada para o caso de
morte, com eficácia de reconhecer, transmitir ou extinguir
22
direitos.”

Dessa forma, o testamento é um ato pessoal, unilateral, espontâneo e


revogável, que abrange manifestações de cunho pessoal e familiar,
cuidando o testador de reger o exato conteúdo de suas preocupações
pessoais e econômicas. Trata-se da última manifestação de vontade,
com a qual a pessoa determina o destino de seu patrimônio ou de
parte dele para depois de sua morte. Contudo, deve atender as
exigências formais para não correr o risco de ser posteriormente
invalidado.

Para Paulo Luiz Vieira de Carvalho: “ Destarte, interpretar


testamento, é, pois, levar em conta a verdade real do
testador, em primeiro lugar, na observação do sentido lógico
e gramatical de suas palavras, a presumir-se, de início, ter o
declarante exprimido seu pensamento em termos
adequados, sobretudo se contou com a colaboração de um
especialista no texto sucessório ou teve sua vontade
23
aclarada pela redação ou confirmação de um notário.”

22
MIRANDA, Pontes de . Tratado de direito privado, v.59.
23
CARVALHO, Luiz Paulo Vieira de . Direito das sucessões / . – 4. ed. – São Paulo: Atlas, 2019.


A expressão “invalidade” abrange a nulidade e a anulabilidade do


negocio jurídico. Empregada para designar o negócio jurídico que não
produz os efeitos desejados pelas partes, o qual pode ser classificado
pela forma retro mencionada conforme o grau de imperfeição
verificado.

Para Venosa: “O que não pode ser olvidado é que a


nulidade de uma cláusula testamentária, por si só, não
invalida o ato inteiro. Como a finalidade básica do
testamento é dispor de patrimônio após a morte, em se
tratando de disposições não patrimoniais, vimos que estas
têm um tratamento próprio. Há disposições de cunho não
patrimonial que mesmo inseridas em um testamento inválido
ou ineficaz podem gerar seus efeitos particulares, porque é
tida como suficiente a vontade ali manifestada, como, por
exemplo, o reconhecimento de um filho.”24

O negocio nulo (nulidade absoluta) é negocio jurídico praticado com


ofensa a preceitos de ordem publica, é a falta de elemento substancial
ao ato jurídico ( art. 166e 167 do CC).

O negócio anulável (nulidade relativa) é o negocio jurídico que ofende o


interesse particular de pessoa que o legislador buscou proteger. o
negocio anulável pode se tornar válido se suprida a deficiência (art, 171
do CC).

24
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. Família e Sucessões. Vol, 05, 21º ed Atlas, 2021.

Maria Berenice Dias ensina:


“São consideradas anuláveis as disposições testamentárias
elaboradas mediante erro, dolo ou coação (CC 1.909).
Quando essas máculas – e mais o estado de perigo, a lesão
e a fraude contra credores – estão presentes nos atos
jurídicos (CC 138, 145, 151, 156, 157 e 158), ensejam a
desconstituição do ato e não de parte dele, como ocorre no
testamento. A possibilidade de invalidar somente alguma
cláusula testamentária revela, mais uma vez, o esforço da lei
em salvar o testamento. A nulidade de uma ou mais
cláusulas não afeta a higidez das demais disposições.” 25

Venosa explica: “ Como a distinção dos negócios nulos e


anuláveis traz diferenças, os testamentos nulos podem ser
decretados de ofício pelo juiz, podendo a nulidade ser
pleiteada por qualquer interessado e pelo Ministério Público
(art. 168). A anulação do testamento só pode ser pedida por
quem tenha interesse na invalidade do negócio. A nulidade é
de ordem pública; a anulabilidade é deferida no interesse de
determinadas pessoas. O interesse em anular deve ser
aferido no caso concreto. O representante do incapaz tem,
por exemplo, legitimidade para pedir a anulação de ato que
prejudique o representado.” 26

25
DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. 4ª Ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2016.
26
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. Família e Sucessões. Vol, 05, 21º ed Atlas, 2021.

Diz a lei ser nula a disposição testamentária que impõe ao herdeiro o


dever de ele, por testamento, beneficiar o testador ou terceira pessoa.
É o que se chama de condição captatória (CC 1.900 I).

Também é nula cláusula que contempla pessoa incerta que não se


consiga identificar, ou quando é delegada a terceiros a escolha do
herdeiro ou a quantificação do legado. Apesar dessas proibições,
procura a lei salvar alguns desses vícios (CC 1.901). E, ademais, edita
uma série de regras para suprir eventuais omissões do testador, todas
voltadas a prestigiar a validade das disposições testamentárias (CC
1.902 a 1.908).27

Da Nulidade por Incapacidade do Testador

A lei fulmina de nulidade o testamento realizado por menor de 16


anos (art. 1860 CC) e por quem não tenha discernimento para
práticas de atos da vida civil, pois a validade do testamento está
condicionada à higidez mental do testador. A capacidade
testamentária ativa deve ser avaliada conforme a lei vigente na época
em que o testamento foi realizado. A superveniência da capacidade
não invalida o testamento.

Mas, a maioria da doutrina, será nulo o testamento efetuado por quem


não se ache no gozo de suas faculdades mentais. Não tendo havido a
interdição, há de se presumir a capacidade do agente. Porém, pode
ser declarado nulo o testamento, mesmo se a pessoa não for

27
Ibidem.

interditada se ficar provada a insanidade mental do testador no


momento que praticou o ato.
Carlos Roberto Gonçalves afirma que “a lei brasileira não
considera os chamados intervalos lúcidos. Dessa forma, se
declarado incapaz, os atos praticados serão nulos, não
aceitando a lei, a tentativa de demonstrar que no momento
de testar estaria lúcido”.28

Da nulidade pela Ilicitude do objeto ou por sua indeterminação.


É nulo o negócio que tenha objeto ilícito, impossível, indeterminado ou
indeterminável.
Pablo Stolze afirma que “ílicito é o negócio contrário ao
direito, sendo considerado todos aqueles que atentam
contra a moral, os bons costumes, a ordem pública e os
primados da ética. No conceito de licitude está a ideia da
permissão normativa, o que significa dizer que não está
proibido pelo direito e pela moral.” 29

Caso as disposições testamentárias contiverem objetos ilícitos, estes


serão fulminados de nulidade por sua inidoneidade intrínseca. Será
nula também a disposição testamentária que disponha condição
fisicamente impossível, traduzindo-se numa prestação irrealizável. Ex:
a deixa testamentária condicionada a que o beneficiário alçasse vôo,
sendo nula a exigência, e a cláusula será havida como pura e

28
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito das Sucessões. 14º Ed. São
Paulo: Saraiva, 2020.
29
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 7:
direito das sucessões. 6. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.

simples, excluída a condição absurda. Importa informar que há


autores que defendem que toda a cláusula testamentária vinculada à
condição ilícita ou juridicamente impossível será invalidada, pois se o
testador a inseriu, seria porque, na verdade, não tinha vontade de
beneficiar a pessoa indicada.

Exclusão de herdeiros
Exclusão por deserdação
Necessário se faz esclarecer a diferença principal entre indignidade e
deserdação. Aquela tem como fundamentação a vontade presumida, a
vontade do de cujus, visto que não há uma vontade declarada por parte
do testador; já a deserdação só pode fundar-se na vontade expressa
do testador, que declarará em seu testamento, de forma inequívoca,
quem deserda e por que deserda.
Primeiramente faz-se necessário conceituar a deserdação e
assim o faz muito bem Carlos Roberto Gonçalves:
“Deserdação é o ato unilateral pelo qual o testador exclui da
sucessão herdeiro necessário, mediante disposição
testamentária motivada em uma das causas previstas em
lei.” 30
A deserdação segundo o Prof. Rodrigo Pereira da Cunha: “
É a privação, por disposição testamentária, da legítima do
herdeiro necessário, ou seja, é o ato pelo qual o autor da

30
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito das Sucessões. 14º Ed. São
Paulo: Saraiva, 2020.
30
GAGLIANO, Pablo Stolze PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 7:
direito das sucessões. 6. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.

herança retira do herdeiro necessário o exercício do direito


sucessório. ” 31

É aplicável somente às hipóteses de exclusão de herdeiro necessário,


pois para excluir herdeiros não necessário, não é necessário deserda-
los. Conforme Maria Berenice Dias:
“Como ocorre na exclusão do direito sucessório pela
indignidade, em todos os casos que haja testamento
requerendo o reconhecimento de ingrato faz-se necessária a
instauração de ação própria para comprovar que a causa
informada no testamento condiz com alguma das
possibilidades trazidas pela legislação. Outrossim, apesar de
não ser unânime o entendimento, tem-se que os herdeiros
do declarado ingrato têm o direito de representá-lo e receber
o quinhão que lhe era de direito. Por fim, o deserdado pode
ser reabilitado desde que haja expressa manifestação nesse
sentido pelo autor da herança em um novo testamento.” 32

O artigo 1.962 do CC cuida das hipóteses de deserdação dos


descendentes pelos ascendentes.
Por sua vez, o artigo 1.963 prevê hipóteses em que os ascendentes
praticam atos contra os descendentes.
O direito à propositura da ação de deserdação prescreve em 4 anos da
data da abertura da sucessão.

31
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e Sucessões Ilustrado. Ed.
Saraiva. 2017.
32
DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. 4ª Ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2016.

Se o testador efetuar reconciliação com o deserdado deverá revogar a


deserdação.

Exclusão por indignidade


O Prof. Rodrigo Pereira da Cunha nos explica sobre a
indignidade: “É a qualidade de quem pratica indignidade.
Indigno é aquele que afronta a dignidade alheia, isto é,
desrespeita, fere a alma do outro de modo a causar-lhe mal-
estar e constrangimento.” 33

O herdeiro ou legatário poderá ser excluído da sucessão por ato de


indignidade praticado contra o “autor da herança”, como previsto nos
três incisos do CC, 1.814, a pedido de outro herdeiro ou legatário ou de
qualquer interessado, no prazo de 4 anos, a contar da abertura da
sucessão.
34
De acordo com Coelho , “ a exclusão pela indignidade se
aplica a todos os tipos de sucessão (legítima, testamentária
e legatária) e as hipóteses para sua configuração estão
disciplinadas taxativamente (não admitem interpretação
extensiva) no artigo 1.814 do Código Civil, sendo elas:
a) Sucessor que houver sido autor, coautor ou partícipe de homicídio
doloso (intenção), ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão
se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente;

33
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e Sucessões Ilustrado. Ed.
Saraiva. 2017.
34
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil: família, sucessões. 3. ed. São Paulo: Saraiva,
2010.

b) Sucessor que houver acusado caluniosamente em juízo o autor da


herança ou incorrer em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou
companheiro; e,
c) Sucessor que, por violência ou meios fraudulentos, inibir ou obstar o
autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última
vontade.” Segundo Tartuce:
“Para configuração da indignidade por essa hipótese faz-se
necessário o trânsito em julgado da sentença penal que
condene o sucessor pela conduta praticada, sendo que caso
reste configurada sua absolvição na esfera penal pela
inexistência de fato ou autoria, reconhecimento de legítima
defesa, estado de necessidade ou exercício regular de um
direito, a pena pela indignidade na esfera cível também deve
ser afastada.” 35
A exclusão dar-se-á por sentença (CC, 1.815). O efeito será ex tunc.
Admite-se perdão do indigno mediante reabilitação expressa
manifestada pelo ofendido em testamento ou outro ato autêntico. CC,
1.818.
Não há necessidade de condenação criminal, mas a sentença criminal
absolutória por negativa de autoria ou por inexistência do ato impede o
reconhecimento da indignidade no juízo cível.

Código Civil – artigos 138, 145, 151, 156, 157 , 158, 1.390, 1.394,
1.490, 1.784, 1.814 à 1.818, 1.962, 1.963 e 1.901 a 1.940.

35
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: direito das sucessões. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017.

Processo
REsp 1918421 / SP
RECURSO ESPECIAL
2021/0024251-6
Relator(a)
Ministro MARCO BUZZI (1149)
Relator(a) p/ Acórdão
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO (1140)
Órgão Julgador
T4 - QUARTA TURMA
Data do Julgamento
08/06/2021
Data da Publicação/Fonte
DJe 26/08/2021
RSTJ vol. 263 p. 830
Ementa
RECURSO ESPECIAL. INEXISTÊNCIA DE NEGATIVA DE
PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE DE OFENSA A
ATOS
NORMATIVOS INTERNA CORPORIS. REPRODUÇÃO HUMANA
ASSISTIDA.
REGULAMENTAÇÃO. ATOS NORMATIVOS E ADMINISTRATIVOS.
PREVALÊNCIA DA TRANSPARÊNCIA E CONSENTIMENTO
EXPRESSO ACERCA DOS PROCEDIMENTOS. EMBRIÕES
EXCEDENTÁRIOS. POSSIBILIDADE DE IMPLANTAÇÃO, DOAÇÃO,
DESCARTE E PESQUISA. LEI DE BIOSSEGURANÇA.

REPRODUÇÃO ASSISTIDA POST


MORTEM. POSSIBILIDADE. AUTORIZAÇÃO EXPRESSA E FORMAL.
TESTAMENTO OU DOCUMENTO ANÁLOGO. PLANEJAMENTO
FAMILIAR. AUTONOMIA E LIBERDADE PESSOAL.
1. A negativa de prestação jurisdicional não se configura quando
todos os aspectos relevantes para o correto julgamento da causa são
considerados pelo órgão julgador, estabelecendo-se, de modo claro e
fundamentado, a compreensão firmada, ainda que em sentido diferente
do desejado pelos recorrentes.
2. Nos termos do entendimento do STJ, é inviável, em recurso
especial, a verificação de ofensa/aplicação equivocada de atos
normativos interna corporis, tais como regimentos internos, por não
estarem compreendidos no conceito de tratado ou lei federal,
consoante a alínea "a" do inciso III do art. 105 da CF/1988.
3. No que diz respeito à regulamentação de procedimentos e técnicas
de reprodução assistida, o Brasil adota um sistema permissivo
composto por atos normativos e administrativos que condicionam seu
uso ao respeito a princípios éticos e constitucionais. Do acervo
regulatório destaca-se a Resolução n. 2.168/2017 do Conselho Federal
de Medicina, que impõe a prevalência da transparência, do
conhecimento e do consentimento da equipe médica, doadores e
receptores do material genético em todas as ações necessárias à
concretização da reprodução assistida, desde a formação e coleta dos
gametas e embriões, à sua criopreservação e seu destino.
4. Quanto ao destino dos embriões excedentários, a Lei da
Biossegurança (Lei n. 11.105/2005) dispõe que poderão ser
implantados no útero para gestação, podendo, ainda, ser doados ou
descartados. Dispõe, ademais, que, garantido o consentimento dos
genitores, é permitido utilizar células-tronco embrionárias obtidas

da fertilização in vitro para fins de pesquisa e terapia.


5. Especificamente quanto à reprodução assistida post mortem, a
Resolução CFM n. 2.168/2017, prevê sua possibilidade, mas sob a
condição inafastável da existência de autorização prévia específica
do(a) falecido(a) para o uso do material biológico criopreservado,
nos termos da legislação vigente.
6. Da mesma forma, o Provimento CNJ n. 63 (art. 17, § 2º) estabelece
que, na reprodução assistida post mortem, além de outros documentos
que especifica, deverá ser apresentado termo de autorização prévia
específica do falecido ou falecida para uso do material biológico
preservado, lavrado por instrumento público ou particular com firma
reconhecida.
7. O Enunciado n. 633 do CJF (VIII Jornada de Direito Civil) prevê a
possibilidade de utilização da técnica de reprodução assistida
póstuma por meio da maternidade de substituição, condicionada,
sempre, ao expresso consentimento manifestado em vida pela esposa
ou
companheira.
8. O Planejamento Familiar, de origem governamental,
constitucionalmente previsto (art. 196, § 7º e art. 226), possui
natureza promocional, e não coercitiva, com fundamento nos
princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade
responsável, e consiste na viabilização de utilização de recursos
educacionais e científicos, bem como na garantia de acesso
igualitário a informações, métodos e técnicas de regulação da
fecundidade.
9. O princípio da autonomia da vontade, corolário do direito de
liberdade, é preceito orientador da execução do Planejamento
Familiar, revelando-se, em uma de suas vertentes, um ato consciente

do casal e do indivíduo de escolher entre ter ou não filhos, o


número, o espaçamento e a oportunidade de tê-los, de acordo com
seus
planos e expectativas.
10. Na reprodução assistida, a liberdade pessoal é valor fundamental
e a faculdade que toda pessoa possui de autodeterminar-se
fisicamente, sem nenhuma subserviência à vontade de outro sujeito de
direito.
11. O CC/2002 (art. 1.597) define como relativa a paternidade dos
filhos de pessoas casadas entre si, e, nessa extensão, atribui tal
condição à situação em que os filhos são gerados com a utilização de
embriões excedentários, decorrentes de concepção homóloga,
omitindo-se, contudo, quanto à forma legalmente prevista para
utilização do material genético post mortem.
12. A decisão de autorizar a utilização de embriões consiste em
disposição post mortem, que, para além dos efeitos patrimoniais,
sucessórios, relaciona-se intrinsecamente à personalidade e
dignidade dos seres humanos envolvidos, genitor e os que seriam
concebidos, atraindo, portanto, a imperativa obediência à forma
expressa e incontestável, alcançada por meio do testamento ou
instrumento que o valha em formalidade e garantia.
13. A declaração posta em contrato padrão de prestação de serviços
de reprodução humana é instrumento absolutamente inadequado para
legitimar a implantação post mortem de embriões excedentários, cuja
autorização, expressa e específica, haverá de ser efetivada por
testamento ou por documento análogo.
14. Recursos especiais providos.

Processo
AgInt no AREsp 1319735 / RJ
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
2018/0163114-6
Relator(a)
Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA (1146)
Órgão Julgador
T4 - QUARTA TURMA
Data do Julgamento
26/04/2021
Data da Publicação/Fonte
DJe 29/04/2021
Ementa
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL. TESTAMENTO PÚBLICO. REQUISITOS
FORMAL. VONTADE DO TESTADOR. REEXAME DO CONJUNTO
FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. INADMISSIBILIDADE.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 7/STJ. DECISÃO MANTIDA.
1. O recurso especial não comporta exame de questões que impliquem
revolvimento do contexto fático-probatório dos autos (Súmula n. 7 do
STJ).
2. No caso concreto, o Tribunal de origem analisou a prova dos autos
para concluir que o testamento reflete a vontade da testadora.
Alterar tal conclusão demandaria nova análise de matéria fática,
inviável em recurso especial.
3. "Em se tratando de sucessão testamentária, o objetivo a ser
alcançado é a preservação da manifestação de última vontade do
falecido, devendo as formalidades previstas em lei serem examinadas
à luz dessa diretriz máxima, sopesando-se, sempre casuisticamente,

se a ausência de uma delas é suficiente para comprometer a validade


do testamento em confronto com os demais elementos de prova
produzidos, sob pena de ser frustrado o real desejo do testador"
(REsp 1633254/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA
SEÇÃO,
julgado em 11/03/2020, DJe 18/03/2020).
4. Agravo interno a que se nega provimento.

Processo
RMS 65046 / MS
RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA
2020/0296957-0
Relator(a)
Ministra LAURITA VAZ (1120)
Órgão Julgador
T6 - SEXTA TURMA
Data do Julgamento
01/06/2021
Data da Publicação/Fonte
DJe 16/06/2021
Ementa
RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA.
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. PROCESSO DE
APURAÇÃO DE ATO INFRACIONAL. SEGREDO DE JUSTIÇA.
PLEITO DE ACESSO AOS AUTOS. VÍTIMA DO ATO INFRACIONAL.
INSTRUÇÃO DE AÇÃO DE DESERDAÇÃO. INTERESSE JURÍDICO.
FINALIDADE JUSTIFICADA. ART. 144 DO ECA. DIREITO LÍQUIDO E
CERTO. RECURSO ORDINÁRIO PROVIDO.
1. O art. 143 do Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece,

como regra geral, a vedação à divulgação de atos judiciais,


policiais e administrativos que digam respeito à apuração de atos
infracionais. Esta disposição, em primeiro juízo, obsta o acesso de
terceiros aos referidos autos.
2. Todavia, a vedação contida no art. 143 do Estatuto da Criança e
do Adolescente não é absoluta, sendo mitigada, conforme se extrai do
art. 144 deste mesmo diploma normativo, nas hipóteses em que há
interesse jurídico e justificada finalidade no pleito de acesso aos
autos. Nesse caso, presentes interesse e finalidade justificadas,
deverá a autoridade judiciária deferir a extração de cópias ou
certidões dos atos do processo infracional.
3. No caso, a Recorrente comprovou seu interesse jurídico, pois é
mãe da adolescente apontada como infratora e foi vítima do ato
infracional imputado à filha. Ademais, a Recorrente apresentou
finalidade justificada ao pleitear o seu acesso aos autos do
processo de apuração do ato infracional, consignando a utilidade dos
documentos nele produzidos para servirem como provas em ação de
deserdação.
4. Uma vez que o Estatuto da Criança e do Adolescente exige a
justificação da finalidade para a qual se defere o pleito de acesso
aos autos e de extração de cópias do processo de apuração de ato
infracional, é certo que a concessão do pedido está vinculada a esta
finalidade (no caso, instrução de ação de deserdação), não podendo
a Recorrente utilizar os documentos obtidos para finalidade diversa,
sob pena de responsabilização cível e penal.
5. Recurso ordinário provido para conceder a segurança, determinando
ao Juízo da Vara da Infância e da Adolescência de Campo Grande/MS
que permita o acesso da Recorrente aos autos do Processo de
Apuração

de Ato Infracional n. 0020018-05.2018.8.12.0001 e a extração das


cópias dos documentos destinados exclusivamente a instruir ação de
deserdação contra a autora do ato infracional.

Processo
AgInt no AREsp 1210809 / MG
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
2017/0301525-6
Relator(a)
Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO (1144)
Órgão Julgador
T3 - TERCEIRA TURMA
Data do Julgamento
28/10/2019
Data da Publicação/Fonte
DJe 05/11/2019
Ementa
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO. SEGURO DE VIDA.
EXCLUSÃO DE BENEFICIÁRIO/HERDEIRO POR INDIGNIDADE.
HOMICÍDIO. MORTE ACIDENTAL. AUSÊNCIA DE
FUNDAMENTAÇÃO E DE NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. CERCEAMENTO
DE DEFESA. PRODUÇÃO DE PROVA. JULGAMENTO ANTECIPADO
DA LIDE.
INEXISTÊNCIA. REEXAME DE FATOS E PROVAS. SÚMULA Nº
07/STJ.
JULGAMENTO FORA DOS LIMITES DA LIDE. INOCORRÊNCIA.
APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO IURA NOVIT CURIA. EXCLUSÃO DE

BENEFICIÁRIO/HERDEIRO POR INDIGNIDADE. EXISTÊNCIA DE


FUNDAMENTO DO ACÓRDÃO RECORRIDO NÃO ATACADO.
SÚMULA Nº 283 DO STF. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTOS QUE
JUSTIFIQUEM A ALTERAÇÃO DA DECISÃO RECORRIDA. AGRAVO
INTERNO DESPROVIDO.

- CARVALHO, Luiz Paulo Vieira de . Direito das sucessões / . – 4. ed. –


São Paulo: Atlas, 2019.

- DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Volume 6, 35º


ed, 2021.

- GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso


de Direito Civil - direito das sucessões. 6ª edição. Saraiva: São Paulo,
2019.

- GOMES, Orlando. Sucessões. 17ª ed. São Paulo: Forense, 2019.

- GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. V. 7. Direito das


Sucessões. 14ª ed. São Paulo: Saraiva, 2020.

- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e


Sucessões Ilustrado. Ed. Saraiva. 2017.

- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito das Famílias, 2º ed. Forense,


2020.

- ROSA, Conrado Paulino da. Direito de Família Contemporâneo, 7º


ed,Ed. Juspodivm, 2020.

- ROSA, Conrado Paulino da. Inventário e Partilha. Teoria e Prática.


,Ed. Juspodivm, 2021.

- VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. V. 5. Família e Sucessões.


21ª ed. São Paulo: Atlas, 2021.

- ALCÂNTARA, Ana Claudia Santos. Legado no Direito Sucessório


brasileiro: conceito, aspectos, espécies e efeitos.
https://jus.com.br/artigos/62392/legado-no-no-direito-sucessorio-
brasileiro-conceito-aspectos-especies-e-efeitos
Acesso em 17/02/2022.

- BOAS, Renata Vilas. Legado de Alimentos. Uma possibilidade via


testamento.
http://estadodedireito.com.br/legado-de-alimentos-uma-possibilidade-
via-testamento/
Acesso em 17/02/2022.

- CANÁRIO, Pedro. MP poderá pedir exclusão de herdeito a sucessão


por indignidade. 2017.
www.conjur.com.br/2017-dez-08/mp-pedir-exclusao-herdeiro-sucessao-
legitimidade
Acesso em 17/02/2022.

- FERREIRA. Gabriela Nascimento. Causas de exclusão da sucessão


por indignidade. In Direitonet. 2014.
https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8692/Causas-de-exclusao-
da-sucessao-por-indignidade .Acesso em 17/02/2022.

- FERNANDES, Maria Clara Silva. Apontamentos sobre os legados.


https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/52536/apontamentos-
a-respeito-dos-legados. Acesso em 17/02/2022.

- JUNQUEIRA, Tais. Da sucessão testamentária. O legado e suas


espécies.
https://taisjunqueira.jusbrasil.com.br/artigos/149596408/da-sucessao-
testamentaria-o-legado-e-suas-especies. Acesso em 17/02/2022.

- MARQUES, Kerollyn Michelle. Da caducidade do legado.


https://jus.com.br/artigos/50608/da-caducidade-do-legado. Acesso em
17/02/2022.

- MELO, Heloisa Gabrielle de. A eficácia da saisine na herança e no


legado. https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/10308/A-eficacia-
da-Saisine-na-heranca-e-no-legado. Acesso em 17/02/2022.

- RUSSO, Natália. Causas e efeitos da deserdação.


https://jus.com.br/artigos/34174/causas-e-efeitos-da-deserdacao.
Acesso em 17/02/2022.

- SÁ, Giulianna. Exclusão da herança por indignidade e deserdação.


https://giulisa.jusbrasil.com.br/artigos/186912047/exclusao-da-heranca-
por-indignidade-e-deserdacao. Acesso em 17/02/2022.

- SANTANA, Kerlla Juliana Rodrigues de. Do testamento, legado e


codicilo. In jus. com.br .2015. https://jus.com.br/artigos/35916/do-
testamento-legado-e-codicilio. Acesso em 17/02/2022.

Após a leitura deste material e o acompanhamento das videoaulas


ministradas pelo(s) professor(es), finalize o seu aprendizado efetuando
a atividade autoinstrucional, disponível na área do aluno, no menu
plataforma de atividades no link “provas e atividades”. O gabarito será
visualizado, conforme a programação do cronograma da disciplina.

PÓS-GRADUAÇÃO DIREITO DE FAMÍLIA E DAS SUCESSÕES

MÓDULO: DIREITO DAS SUCESSÕES

TEMA: REGISTRO DE IMÓVEIS NO DIREITO DE FAMÍLIA E DAS


SUCESSÕES

O registro de imóveis é uma instituição cuja atribuição legal é dar publi-


cidade aos fatos jurídicos relativos aos bens imóveis em razão do direi-
to real de propriedade imobiliária e dos demais direitos reais que por-
ventura possam recair sobre a propriedade imobiliária e os demais di-
reitos inscritos.

Assim, os atos ou fatos que dizem respeito aos sujeitos figurarão nos
registros sempre que a lei assim obrigar ou autorizar com a finalidade
de lhes dar autenticidade, segurança e eficácia jurídica.

O registro de imóveis inclusive corresponde a uma instituição que ante-


cede a própria instituição do Estado, visto que se norteia pela manu-
tenção da segurança das relações.

O Direito registral ocupa grande importância no Direito de Família e das


Sucessões principalmente no que se refere à divisão patrimonial , prin-
cipalmente nos casos de registro de partilha no divórcio, inventário e
Instituição de bem de Família.

Princípios do Registro Imobiliário

Para Christiano Cassetari: “Os serviços de registro, segundo o art. 1o


da Lei no. 8.935/1994, são serviços de organização técnica e adminis-
trativa e devem garantir a publicidade, a autenticidade, a segurança e a
eficácia dos atos jurídicos. Nesse sentido, a doutrina estabeleceu, ado-
tando como parâmetro a Constituição Federal, a Lei no. 6.015/1973 e a
Lei no. 8.935/1994, que elencam uma série de princípios que devem
amparar os registros imobiliários. São eles: legalidade, titularidade, tipi-
cidade, publicidade, obrigatoriedade, especialidade, instância, cindibili-
dade, continuidade, prioridade, territorialidade e fé pública”. 1

O princípio da obrigatoriedade impõe que se deve registrar todo ato


praticado entre vivos que objetive transferir, modificar, constituir ou ex-
tinguir propriedade ou direito real pertinente a imóveis. Dessa forma, o
registro imobiliário é obrigatório e imprescindível para a eficácia desses
atos. Assim dispõe o art. 1.227 do Código Civil.

O princípio da legalidade traduz a ideia de que todos os atos praticados


pelos registradores estão vinculados às determinações contidas na lei.
Os oficiais ou as partes não podem fazer exigências proibidas pela lei
para efetuar o registro nem deixar de exigir aquilo que a lei obriga.

O princípio da tipicidade também é decorrente da legalidade. Esse


princípio informa que o oficial registrador só pode praticar cada ato con-

1
CASSETARI, Christiano. Registro de Imóveis. 5º ed, Foco, 2021.

forme determinação da legislação. Então, a lei estabelece atos que se-


rão levados a registro e outros que serão averbados.

Para Fernando Ribeiro Souto: “O princípio da publicidade é considera-


do um dos pilares do registro imobiliário, pois é por meio dele que se
garante que os registros se tornem públicos e acessíveis a qualquer
pessoa que tiver interesse. A publicidade possibilita os efeitos declara-
tórios e constitutivos do registro, dá amplo conhecimento aos atos de
registro, garante maior segurança nas relações jurídicas imobiliárias e
permite a expedição de certidões de matrícula dos imóveis. Em decor-
rência da publicidade e do acesso público aos registros, não é permiti-
do que alguém alegue desconhecer os aspectos jurídicos dos imóveis,
como possíveis ônus, por exemplo, penhora e hipoteca”.2

O princípio da instância estabelece que o registrador, com exceção das


anotações e averbações obrigatórias, só pode realizar atos de registro
ou averbação se for solicitado por quem de direito.

Continua Fernando Ribeiro Souto: “ Por sua vez, o princípio da conti-


nuidade determina que todo registro deve se apoiar no registro anterior.
Só é possível efetuar um registro se aquele que figura como outorgante
for o titular do registro anterior. A LPR prevê que, se o imóvel não esti-
ver matriculado ou registrado em nome do outorgante, o oficial exigirá a
prévia matrícula e o registro do título anterior, qualquer que seja a sua
natureza, para manter a continuidade do registro”.3

2
SOUTO, Fernando Ribeiro et al. Registro de imóveis e gestão patrimonial. – Porto Alegre :
SAGAH, 2020.
3
Ibidem.

Forma do Registro

A ação inicial do oficial de registro ocorre quando a parte interessada


apresenta o título perante o serviço de registro de imóveis. Essa apre-
sentação pode ser apenas o exame para fins de cálculo de emolumen-
tos, como também pode deter efeitos de publicidade sem exame pré-
vio.

O interessado visa somente que o título seja examinado para conhecer


as condições em que ele se apresenta e se está apto ou não para ser
levado a registro, averbado ou, então, se necessita de novas providên-
cias para a sua adequação, bem como quanto ao cálculo de emolu-
mentos.

Esse procedimento está amparado pelo art. 12, parágrafo único, da Lei
no. 6.015/1973 (LRP).

Para a situação é distinta quando a parte requer a imediata publicida-


de, cabendo ao título ser prenotado nos termos do art. 182 da Lei no.
6.015/1973 (LRP).

O protocolo do título será o primeiro ato registral efetuado pelo oficial


do registro de imóveis, no qual assegurará ao interessado a prioridade
do título e, portanto, a preferência dos direitos reais de acordo com o
art. 186 da referida lei.

Após a prenotação do título e a observância da ordem estabelecida, ele


passará pelo procedimento de qualificação, momento em que o oficial
verificará os pressupostos de existência, validade e eficácia do negócio

jurídico, assim como os requisitos do título e a necessidade ou não da


abertura de matrícula.

Conforme Christiano Cassetari: A qualificação se apresenta como o


momento mais importante da atuação do registrador público de imó-
veis, considerando que será nesse ato que examinará, estudará e
apreciará as condições para somente então decidir pela registrabilida-
de ou não do título. A função qualificadora é mais que um mero exame
dos elementos extrínsecos e intrínsecos do título, posto que ao realizá-
la o oficial emite um juízo de valor, que pode ser pela admissibilidade
ou não do título. 4

A finalidade principal da função qualificadora é estabelecer certeza, efi-


cácia e segurança jurídica, o que justifica por que essa atuação deve
ser completamente autônoma e independente, sem a menor hipótese
de interferências externas.

Para Melissa de Freitas: “ O registro não é um simples arquivo de títu-


los e documentos, assim como a inscrição registral não é apenas um
ato administrativo. Trata-se de um registro público cuja atribuição con-
siste em tornar públicos os negócios jurídicos decorrentes de relações
jurídicas privadas, de bens do domínio privado e mesmo quando um
dos intervenientes é o Estado não deve prevalecer seu ius imperii, mas
figurar em igualdade com os demais cidadãos, nos limites do ordena-
mento jurídico. Ademais, os atos pratica dos pelo oficial do registro de
imóveis no exercício da função qualificadora encontram afastados de

4
CASSETARI, Christiano. Registro de Imóveis. 5º ed, Foco, 2021.

qualquer controle, pois o Brasil adotou o princípio da unicidade de ju-


risdição, nos termos do art. 5o, XXXV, da Constituição Federal, caben-
do ao Poder Judiciário apreciar qualquer ameaça ou lesão aos direi-
tos”.5

Continua ainda “ Nos termos do art. 198 desse mesmo dispositivo


legal, na hipótese de o apresentante do título solicitar a suscitação de
dúvida, deverá fazê-lo mediante requerimento ao oficial do registro de
imóveis, que anotará à margem da prenotação a ocorrência da dúvida,
certificando no título a sua prenotação e a suscitação de dúvida,
rubricando todas as folhas. Caberá ao oficial elaborar de forma clara e
objetiva as razões da dúvida e, em seguida, dar ciência ao
apresentante, fornecendo-lhe cópia e lhe notificando para que a
impugne perante o juízo competente no prazo de até 15 dias, que será
a vara competente naquela jurisdição. Após a entrega e a respectiva
notificação do apresentante, o oficial deverá remeter ao juízo
competente, mediante carga.”6

De acordo com o art. 172 da Lei no. 6.015/1973 (LRP), no registro de


imóveis serão feitos, nos termos da lei, o registro e a averbação dos
títulos ou atos constitutivos, declaratórios, translativos e extintivos de
direitos reais sobre imóveis reconhecidos em lei, inter vivos ou mortis
causa para a sua constituição, transferência e extinção, para a sua
validade em relação a terceiros ou para a sua disponibilidade

5
DUARTE, Melissa de Freitas. Sistema registral e notarial brasileiro. Porto Alegre: SAGAH, 2018.
6
Ibidem.

Títulos Registráveis em Direito de Família

O registro é sempre sequencial, sendo registráveis todos os atos pre-


vistos no art. 167, I, da Lei de Registros Públicos, bem como outros
previstos em legislação especial. No entanto, nesse caso, ao contrário
da averbação, um ato somente poderá ser registrado se houver previ-
são legal nesse sentido. Além disso, a continuidade do registro deve
ser sempre observada de forma que o registro somente poderá ser fei-
to se o imóvel em questão estiver em nome do outorgante.

O título é o documento público ou particular que atenda a formalidades


legais e que contenha, de forma direta e clara, o ato registrável.

Segundo Loureiro “No dizer de Nuñes Lagos, todo título registrável de-
ve conter um corpo e uma alma. O corpo é o documento dotado de fé
pública (continente), e a alma é o ato ou negócio jurídico nele contido
(conteúdo)”. Regra geral, o título registrável deve ser um documento
público, seja ele administrativo, judicial ou notarial”7.

Na legislação brasileira, o art. 108 do Código Civil determina que a es-


critura pública a é uma formalidade que deve ser cumprida para negó-
cios jurídicos que visem à aquisição, transmissão, modificação e extin-
ção de direitos reais sobre imóveis com valor superior a 30 vezes o
maior salário-mínimo vigente no País.

Conforme Loureiro: “A Lei de Registros Públicos (Lei 6.015/73) é taxa-


tiva quanto aos títulos que podem ter ingresso no registro de imóveis, o

7
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos. Teoria e Prática, Juspodivm, 2021.

que significa que elenca o rol desses títulos de forma fechada, de for-
ma que qualquer outro tipo de documento que não esteja nela previsto
não será considerado hábil a produzir efeitos na serventia imobiliária”.8

O rol dos títulos admitidos a terem ingresso nas serventias imobiliárias


está previsto no art. 221 da Lei 6.015/73 e se inicia com as escrituras
públicas.

Assim, para que seja admitido o ingresso de atos por outros títulos que
não a escritura pública no registro de imóveis, deve haver expressa
previsão legal na Lei, admitindo a sua instrumentalização.

Partilha no divórcio

Haverá partilha somente na hipótese de existência de bens imóveis ou


de bens móveis . Nesse caso, cumpre aos cônjuges apresentar certi-
dão de propriedade dos bens imóveis e os documentos necessários à
comprovação da titularidade dos bens móveis e outros direitos (conta
bancária, poupança etc.) se houver. Havendo bens a serem partilha-
dos, distinguir-se-á o que é do patrimônio individual de cada cônjuge,
se houver, do que é do patrimônio comum do casal conforme o regime
de bens.

A partilha deve, em princípio, ater-se às regras do regime de bens con-


vencionado (comunhão universal, comunhão parcial, separação e par-
ticipação final nos aquestos). Nada impede, porém, que ela seja feita
de forma desigual ou contrarie o regime ajustado desde que demons-

8
Ibidem.

trada ausência de prejuízo ao cônjuge ao qual toca a quota menor do


patrimônio ou que procedeu à eventual doação. Havendo transmissão
de patrimônio individual de um cônjuge ao outro, ou a partilha desigual
do patrimônio comum, deverá ser comprovado o recolhimento do tribu-
to devido sobre fração transferida.

Após a realização do divórcio, seja de forma extrajudicial ou judicial, é


imprescindível que seja efetuado o registro da escritura, na hipótese
de divórcio extrajudicial ou a carta de sentença no caso de judicial.
Para Rolf Madaleno: “Mas, procedida a partilha, a escritura pública do
divórcio consensual constituirá título hábil para o registro imobiliário e
para o registro civil, bem como para levantamento e transferência de
valores existentes em contas-correntes, de investimento e de poupan-
ça, depósitos a prazo e aplicações em instituições financeiras, forma-
lização de transferência de propriedade de bens e direitos junto a ór-
gãos públicos e entidades públicas e privadas, relativos ao objeto do
ato notarial e ao titular dos direitos nela tratados (art. 3º da Resolução
35/2007 do CNJ), constituindo-se a escritura pública de divórcio em
um título hábil para formalizar a transmissão do domínio e para a
promoção dos demais atos necessários à efetivação de usuais trans-
ferências junto a bancos, DETRAN, Junta Comercial, Oficial de Regis-
tro Civil das Pessoas Jurídicas, companhias telefônicas etc.”9

9
MADALENO, Rolf. Direito de Família, Forense, 2021.

Inventário

Quando a sentença de partilha transita em julgado, o herdeiro, além de


receber o seu quinhão individualizado, receberá também o formal de
partilha (art. 655 do CPC; art. 1.027 do CPC/1973).

Para Luiz Paulo Viera de Carvalho: “O Formal de partilha é, com efeito,


o instrumento de formalização da partilha a ser extraído dos autos de
inventário e apresentado perante terceiros, inclusive órgãos públicos e
privados, determinando a transferência dos bens e direitos do falecido
em nome do sucessor”10.

O referido documento deverá ser levado ao Registro de Imóveis quan-


do o quinhão estiver formado com base imobiliária, nos termos do art.
167, inciso I, 25, da Lei 6.015/1973, mesmo porque esse instrumento
permite que os herdeiros e legatários possam registrar e publicizar os
imóveis havidos sucessoriamente em seus respectivos nomes, em
obediência ao princípio da continuidade do registro imobiliário (arts.
195 e 237 da Lei 6.015/1973).67

Continua ainda Luiz Paulo Viera de Carvalho : Não é outra a opinião


da boa doutrina: “Trata-se de título que formaliza a atribuição dominial
dos bens de cada aquinhoado, dele constando o termo de inventariante
e o título hereditário: a avaliação do patrimônio partilhável; o pagamen-
to do quinhão do herdeiro; a prova da satisfação tributária e, por fim, a
sentença, ápice do procedimento inerente ao inventário . Sintetiza Sa-
hione Fadel que o Formal de partilha se consubstancia em translado

10
CARVALHO, Luiz Paulo Vieira de.Direito das sucessões 4. ed. – São Paulo: Atlas, 2019.

‘que atesta e titula a extinção da comunio dividundo pro diviso e atribui,


com força definitiva, a cada quinhoeiro, a sua cota-parte nos bens co-
muns da herança’. [...] Objeto do registro imobiliário são formais de par-
tilha e as sentenças de adjudicação de imóveis (LRP), providência hábil
a publicidade e disponibilidade dos bens assegurada pelo registro”.11

Bem de Família

Segundo o art. 1.711 do CC, podem os cônjuges, ou a entidade


familiar, mediante escritura pública ou testamento, destinar parte de
seu patrimônio para instituir bem de família, desde que não ultrapasse
um terço do patrimônio líquido existente ao tempo da instituição,
mantidas as regras sobre a impenhorabilidade do imóvel residencial
estabelecida em lei especial. O parágrafo único estabelece ainda que o
terceiro poderá instituir bem de família por testamento ou doação,
dependendo a eficácia do ato da aceitação expressa de ambos os
cônjuges beneficiados ou da entidade familiar beneficiada.

Dessa forma, podem os cônjuges e a entidade familiar instituir o bem


de família. O código permitiu a constituição não apenas pela família
tradicional , constituída por marido e mulher , mas também pelo
conceito mais amplo de família hoje existente.

Ademar Fioranelli sustenta ser possível, “citando jurisprudência do


STF, a instituição de bem de família por entidade familiar
independentemente do estado dos integrantes, que podem ser
solteiros, casados ou viúvos. Dessa forma, não importa o estado civil

11
Ibidem.

formal do instituidor, desde que seja para beneficiar a entidade


familiar”.12

Tal direito já se encontra tutelado pela Lei 8.009/90 que por si só


garante o benefício.

Na especie voluntária, a lei exige que a residência seja utilizada pela


família ( art. 1.712 do CC).

Para Christiano Cassetari: “Pode um terceiro instituir bem de família a


favor de cônjuges ou entidade familiar. Chamamos a atenção para o
fato de que a única exigência a mais que se faz nesse caso, segundo o
art. 1711, parágrafo único do CC é que ao contrário do que
normalmente ocorre nas doações ou deixas testamentárias, ambos os
cônjuges beneficiados ou a entidade familiar devem aceitar
13
expressamente a liberalidade”.

Com relação ao procedimento de instituição do bem de família,


encontra-se descrito da Lei 6.015/73, nos artigos 261 e seguintes. O
art. 261 estabelece que , para a inscrição do bem de família, o
instituidor apresentará ao oficial de registroa escritura pública de
instituição para que mande publicá-la na imprensa local e, à falta, na
Capital do Estado ou Território.

Além disso, o art. 1714 do Código Civil estabelece expressamente que


o bem de família se constitui pelo registro de seu título no Registro de
Imóveis. Dessa forma, a necessidade do procedimento judicial prévio

12
FIORANELLI, Ademar. Bem de família no novo Código Civil e o Registro de Imóveis.
13
CASSETARI, Christiano. Registro de Imóveis. 5º ed, Foco, 2021.

de inventário e partilha não afasta a necessidade de aplicação do


procedimento especial previsto pela LRP.

Conforme Christiano Cassetari: A publicação prevista no art. 261 da Lei


6015/73 é necessária, devido ao fato que só pode constituir bem de
família quem não tiver dívidas ou, caso as tenha, a instituição não as
prejudique, sob pena de cometer fraude a credores. Assim a
publicação se faz necessária para que os eventuais credores tenham a
aoportunidade de se manifestar”.14

Recebido o título , nos termos do art. 262 da Lei 6.015/73, se não


ocorrer razão para dúvida, o oficial fará a publicação, em forma de
edital, do qual constarão os itens descritos no referido artigo.

Após a finalização do prazo do edital sem que tenha havido


reclamação, o oficial, segundo o art. 263 da LRP transcreverá a
escritura integralmente no livro 3 e também fará o registro na matrícula
competente.

Lei no. 6.015/1973


Lei 8.009/90
CC 1.711 à 1.722
Lei 8.935/94

14
Ibidem.

PROCESSO
REsp 1792265 / SP
RECURSO ESPECIAL
2018/0317074-1
RELATOR(A)
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO (1140)
ÓRGÃO JULGADOR
T4 - QUARTA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
14/12/2021
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 14/03/2022
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. IMPENHORABILIDADE DO
BEM DE FAMÍLIA. BEM DE FAMÍLIA LEGAL E CONVENCIONAL.
COEXISTÊNCIA E PARTICULARIDADES. BEM DE FAMÍLIA LEGAL.
OBRIGAÇÕES PREEXISTENTES À AQUISIÇÃO DO BEM. BEM DE
FAMÍLIA CONVENCIONAL. OBRIGAÇÕES POSTERIORES À INSTI-
TUIÇÃO.
1. O bem de família legal (Lei n. 8.009/1990) e o convencional (Código
Civil) coexistem no ordenamento jurídico, harmoniosamente. A discipli-
na legal tem como instituidor o próprio Estado e volta-se para o sujei-
to de direito - entidade familiar -, pretendendo resguardar-lhe a digni-
dade por meio da proteção do imóvel que lhe sirva de residência. O
bem de família convencional, decorrente da vontade do instituidor, ob-
jetiva, primordialmente, a proteção do patrimônio contra eventual exe-
cução forçada de dívidas do proprietário do bem.

2. O bem de família legal dispensa a realização de ato jurídico, bas-


tando para sua formalização que o imóvel se destine à residência fami-
liar. Por sua vez, para o voluntário, o Código Civil condiciona a validade
da escolha do imóvel à formalização por escritura pública e à circuns-
tância de que seu valor não ultrapasse 1/3 do patrimônio líquido exis-
tente no momento da afetação.
3. Nos termos da Lei n. 8.009/1990, para que a impenhorabilidade te-
nha validade, além de ser utilizado como residência pela entidade fami-
liar, o imóvel será sempre o de menor valor, caso o beneficiário possua
outros. Já na hipótese convencional, esse requisito é dispensável e o
valor do imóvel é considerado apenas em relação ao patrimônio total
em que inserido o bem.
4. Nas situações em que o sujeito possua mais de um bem imóvel em
que resida, a impenhorabilidade poderá incidir sobre imóvel de maior
valor caso tenha sido instituído, formalmente, como bem de famí-
lia, no Registro de Imóveis (art. 1.711, CC/2002) ou, caso não haja
instituição voluntária formal, automaticamente, a impenhorabilidade re-
cairá sobre o imóvel de menor valor (art. 5°, parágrafo único, da Lei n.
8.009/1990).
5. Para o bem de família instituído nos moldes da Lei n. 8.009/1990, a
proteção conferida pelo instituto alcançará todas as obrigações do de-
vedor indistintamente, ainda que o imóvel tenha sido adquirido no cur-
so de uma demanda executiva. Por sua vez, a impenhorabilidade con-
vencional é relativa, uma vez que o imóvel apenas estará protegido da
execução por dívidas subsequentes à sua constituição, não servindo às
obrigações existentes no momento de seu gravame.
6. Recurso especial não provido.

PROCESSO
AgInt na TutPrv no REsp 1943355 / SP
AGRAVO INTERNO NA TUTELA PROVISÓRIA INCIDENTAL NO RE-
CURSO ESPECIAL
2021/0147833-7
RELATOR(A)
Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO (1144)
ÓRGÃO JULGADOR
T3 - TERCEIRA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
30/08/2021
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 02/09/2021
RSDF vol. 128 p. 48
EMENTA
AGRAVO INTERNO NO PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA NO RE-
CURSO ESPECIAL.EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. PE-
NHORA DE BEM IMÓVEL. ALEGADA IMPENHORABILIDADE.
BEM DE FAMÍLIA. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DO RIS-
CO DE DANO IMEDIATO.
1. Alegada afronta ao art. 851 do CPC que não poderia ser analisada
em sede de r ecurso especial tendo em vista os fundamentos por deve-
ras ligados ao contexto fático probatório da causa, atraindo, à aparên-
cia, o enunciado 7/STJ.
2. Não se revela prova diabólica o reconhecimento da necessida-
de de comprovação da inexistência de propriedade de outros
bens de raiz.
3. A realidade que atualmente desfruta o sistema de registro de imó-
veis é bastante diversa daquela existente nos últimos dez anos, po-

dendo-se obter, nos mais variados registros de imóveis do Brasil, cer-


tidões negativas de propriedade sem sair de casa.
4. Ausente a prova de que o bem seria o único da espécie, é inviável
reconhecer a proteção que a lei a defere ao bem de família .
5. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.

PROCESSO
REsp 1706999 / SP
RECURSO ESPECIAL
2015/0264950-0
RELATOR(A)
Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA (1147)
ÓRGÃO JULGADOR
T3 - TERCEIRA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
23/02/2021
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 01/03/2021
REVPRO vol. 318 p. 540
RMDCPC vol. 101 p. 192
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CI-
VIL. PARTILHA. ANULAÇÃO.
IMÓVEIS. REGISTRO. HERDEIROS. COMUNHÃO UNIVER-
SAL DE BENS. CITAÇÃO. CÔNJUGES. NECESSIDADE. LITISCON-
SÓRCIO NECESSÁRIO.
1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do
Código de Processo Civil de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e
3/STJ).

2. Cinge-se a controvérsia a definir se, em ação anulatória de parti-


lha em que o título de transferência dos imóveis anteriormente recebi-
dos pelos herdeiros já foi levado a registro, os cônjuges dos herdeiros
casados sob o regime de comunhão universal de bens devem integrar
a lide na qualidade de litisconsortes necessários.
3. No caso de a anulação de partilha acarretar a perda de imóvel já
registrado em nome de herdeiro casado sob o regime de comunhão
universal de bens, a citação do cônjuge é indispensável, tratando-
se de hipótese de litisconsórcio necessário.
4. Recurso especial provido.

PROCESSO
REsp 1813862 / SP
RECURSO ESPECIAL
2019/0055975-5
RELATOR(A)
Ministra NANCY ANDRIGHI (1118)
ÓRGÃO JULGADOR
T3 - TERCEIRA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
15/12/2020
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 18/12/2020
EMENTA
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. DIREITO SUCESSÓRIO. OMISSÃO.
INOCORRÊNCIA. QUESTÃO EFETIVAMENTE ENFRENTADA.
PRINCÍPIO DA SAISINE. TRANSFERÊNCIA IMEDIATA DA PROPRI-
EDADE DOS BENS DO FALECIDO AOS HERDEIROS. COPROPRIE-
DADE DO TODO UNITÁRIO INTITULADO HERANÇA. INDIVISIBILI-

DADE E CONDOMÍNIO ATÉ A PARTILHA. INDIVISIBILIDADE APÓS


A PARTILHA. POSSIBILIDADE. BENS PARTILHADOS EM FRAÇÕES
IDEIAIS DOS BENS. COPROPRIEDADE DOS HERDEIROS SOBRE
AS FRAÇÕES IDEIAIS. PRÉVIO REGISTRO DO TÍTULO TRANSLA-
TIVO COMO CONDIÇÃO DA AÇÃO DE DIVISÃO OU EXTINÇÃO DO
CONDOMÍNIO. INADEQUAÇÃO. FINALIDADE DO REGISTRO.
PRODUÇÃO DE EFEITOS EM RELAÇÃO A TERCEIROS E VIABILI-
ZAÇÃO DE ATOS DE DISPOSIÇÃO PELOS HERDEIROS. DISPEN-
SABILIDADE PARA A COMPROVAÇÃO DA PROPRIEDADE DOS
HERDEIROS. APELAÇÃO JULGADA POR FUNDAMENTO DISTINTO
DOS ALEGADOS PELA PARTE. ARGUMENTOS SUSCITADOS PELA
PARTE DESCONSIDERADOS NO ACÓRDÃO E NÃO REITERADOS
NAS CONTRARRAZÕES DO RECURSO ESPECIAL. INOCORRÊN-
CIA DE PREQUESTIONAMENTO. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL
PREJUDICADO.
1- Ação proposta em 12/07/2016. Recurso especial interposto em
11/07/2018 e atribuído à Relatora em 10/04/2019.
2- Os propósitos recursais consistem em definir: (i) se o acórdão recor-
rido possui omissão relevante; (ii) se o registro do título translativo
no registro de imóveis é condição da ação de extinção de condomínio
cumulada com avaliação e alienação judicial de bens ajuizada por her-
deiro após o inventário e partilha de bens do autor da herança.
3- Não há que se falar em omissão ou negativa de prestação jurisdicio-
nal quando o acórdão recorrido se pronuncia sobre a questão contro-
vertida.
4- A propriedade dos bens de propriedade do falecido é imediatamente
transferida aos herdeiros com a abertura da sucessão, na forma do art.
1.784 do CC/2002 e em razão do princípio da saisine, razão pela qual
todos os herdeiros se tornam, a partir desse momento, coproprietários

do todo unitário intitulado herança.


5- Embora a regra do art. 1.791, parágrafo único, do CC/2002, possa
induzir à conclusão de que, após a partilha, não haveria mais que se
falar em indivisibilidade e em condomínio, há hipóteses em que a indi-
visibilidade dos bens permanecerá mesmo após a partilha, na medida
em que é admissível a atribuição aos herdeiros apenas frações ideais
dos bens, caso em que será estabelecido desde logo a copropriedade
dos herdeiros sobre as frações ideais daqueles bens insuscetí-
veis de imediata divisão por ocasião da partilha.
6- Nessa hipótese, o prévio registro do título translativo no Registro
de Imóveis, anotando-se a situação de copropriedade sobre frações
ideais entre os herdeiros e não mais a copropriedade sobre o todo indi-
visível chamado herança, não é condição sine qua non para o ajuiza-
mento de ação de divisão ou de extinção do condomínio por qualquer
deles, especialmente porque a finalidade do registro é a produ-
ção de efeitos em relação a terceiros e a viabilização dos
atos de disposição pelos herdeiros, mas não é indispensável para a
comprovação da propriedade que foi transferida aos herdeiros em ra-
zão da saisine.
7- Consideram-se prequestionados os fundamentos adotados nas ra-
zões de apelação e desprezados no julgamento do respectivo recurso,
desde que, interposto recurso especial, sejam reiterados nas contrarra-
zões da parte vencedora. Precedente da Corte Especial.
8- Na hipótese, o acórdão recorrido, de ofício, extinguiu o processo
sem resolução do mérito por ausência de interesse processual, dei-
xando de examinar os fundamentos deduzidos pelos réus na apelação
e que não foram por eles reiterados nas contrarrazões do recurso es-
pecial, providência que seria indispensável para que se pudesse consi-
derar as matérias prequestionadas ou, ao menos, incluídas no obje-

to de cognição desta Corte.


9- O provimento do recurso especial por um dos fundamentos torna
despiciendo o exame dos demais suscitados pela parte (na hipótese,
divergência jurisprudencial). Precedentes.
10- Recurso especial conhecido e parcialmente provido, a
fim de restabelecer a sentença que julgou procedente os pedi-
dos de extinção de condomínio e de avaliação e alienação judici-
al de bens, inclusive no que tange à sucumbência.

- CASSETARI, Christiano. Registro de Imóveis. 5º ed, Foco, 2021.

- DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família.


35. ed. São Paulo: Saraiva, 2021.

- DUARTE, Melissa de Freitas. Sistema registral e notarial brasileiro.


Porto Alegre: SAGAH, 2018.

- KUMPEL, Vitor Frederico. , Tratado Notarial e Registral: Ofício de


Registro de Imóveis, v.5, tomo II, São Paulo, YK, 2020.

- MARZAGÃO, Silvia Felipe. NEVARES, Ana Luiza Maia. XAVIER,


Marília Pedroso. Coronavírus. Impactos no Direito de Família e
Sucessões.Ed. Foco, 2020.

- SALOMÃO, Marcos, Youtube. Matrículas no Registro de Imóveis


https://www.youtube.com/watch?v=6jR2y10RIkw

- SALOMÃO, Marcos, Youtube. Nulidade e Anulação no Registro de


Imóveis. Transcrição x Matrícula.
https://www.youtube.com/watch?v=iaBAKONYxUQ

- VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. Família e Sucessões, 21ª ,


Atlas, 2021.

- CARLOS, Robson. Bem de Família in depende do Registro de


Imóveis.
https://robbeethoven.jusbrasil.com.br/noticias/149157411/bem-de-
familia-independe-de-registro-no-cartorio-imobiliario. Acesso em
15/03/2021

- COURA, Bernardo Cesar. Formal de Partilha e Aspectos Práticos no


Registro de Imóveis.
https://bernardocesarcoura.jusbrasil.com.br/noticias/191596574/formal-
de-partilha-aspectos-praticos-no-registro-imobiliario. Acesso em
15/03/2021

- GOMES, Emerson Souza. O registro do bem de família em cartório.


https://www.cenajuridica.com.br/2020/07/07/registro-de-bem-de-familia-
em-cartorio/. Acesso em 15/03/2021

- FIORANELLI, Ademar. O bem de família no novo Código Civil e o


Registro de Imóveis. https://www.irib.org.br/obras/bem-de-familia-no-
novo-codigo-civil-e-o-registro-de-imoveis. Acesso em 15/03/2021

- ROSA, Laura Diniz. Formal de Partilha e Aspectos práticos na


qualificação Registral. https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-
civil/formal-de-partilha-aspectos-praticos-na-qualificacao-registral/
Acesso em 15/03/2021

Após a leitura deste material e o acompanhamento das videoaulas


ministradas pelo(s) professor(es), finalize o seu aprendizado efetuando
a atividade autoinstrucional, disponível na área do aluno, no menu
plataforma de atividades no link “provas e atividades”. O gabarito será
visualizado, conforme a programação do cronograma da disciplina.

Você também pode gostar