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Abdulremane Inusso

Ancha Chomar
Charmila Anastácio Elija
Juvenal Talhada
Maria Amélia João Fernando Cheia
Pita Mamudo Amimo

Princípios do Direito de Família

Universidade Rovuma
Nampula
2023
Abdulremane Inusso
Ancha Chomar
Charmila Anastácio Elija
Juvenal Talhada
Maria Amélia João Fernando Cheia
Pita Mamudo Amimo

Princípios do Direito de Família


(Licenciatura em Direito)

Trabalho a ser apresentado a Faculdade de Direito,


como requisito para avaliação, na cadeira de
Direito de Família, Curso de Licenciatura em
Direito, 3º Ano, I Semestre, regime Laboral,
leccionado pelo Docente,
Prof. Dr. Melquisedec Muapala, Advogado

Universidade Rovuma
Nampula
2023
Índice
Nota Introdutória ............................................................................................................................. 3

1.1. Da contextualização do direito de família e conceito de família ......................................... 4

1.2. Princípios do Direito de Família .......................................................................................... 5

Considerações finais ....................................................................................................................... 9

Referências bibliográfica .............................................................................................................. 10


3

Nota Introdutória
O grupo vem através deste trabalho que nos propusemos a pesquisar e desenvolver os princípios
do Direito de Família, procurando um estudo completo, buscando a Legislação, a opinião de
diversos autores sobre o assunto e reunindo-as, com o objectivo de ampliarmos nosso
conhecimento sobre o tema, bem com nossa visão sobre o Direito de família.

Ora, um dos principais elementos caracterizadores dos princípios do direito de família e


individualizadores, é o casamento, ou ainda, o casamento como instituição.

Nesta perspectiva, pretende-se nas linhas que se seguem aflorar, o valor jurídico social da família
no âmbito do registo civil, devendo abarcar o desenvolvimento de relações sociais assentes no
respeito pela dignidade da pessoa humana, matrimónio e protegidos, e o próprio Estado consagra
o principio de que o casamento se baseia no livre consentimento.

Em termos de estrutura, encontra-se dividido em três partes a destacar: i) a contextualização do


direito de família e conceito de família; ii) o casamento como sendo uma instituição que garante
a prossecução dos objectivos da família e, por último, iii) personalidade e dignidade da pessoa
humana como factor da existência.
1. PRINCÍPIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA

1.1. Da contextualização do direito de família e conceito de família


Nos termos da Constituição da República, aprovado sob égide da Lei nº 1/2018 de 12 de Junho
(CRM), no seu artigo 2º, nº 4 constituem princípios constitucionais e fundamentais “as nomas
constitucionais prevalecem sobre todas as restantes normas do ordenamento jurídico”. Assim, os
princípios do direito de família, por sua vez, “o Estado reconhece os vários sistemas normativos
de resolução conflitos que coexistem na sociedade moçambicana, na medida em que não
contrariem os valores e os princípios fundamentais da Constituição” ( art. 4 da CRM).

Por força disto, o dicionário jurídico de professor Washington dos Santos (2001)1, Clóvis
Beviláqua2 ensina-nos que o Direito de Família “é o complexo das normas que regulam a
celebração do casamento, sua validade e os efeitos que dele resultam, as relações pessoais e
económicas da sociedade conjugal, a dissolução desta, as relações entre pais e filhos, o vínculo
de parentesco e os institutos complementares da tutela, da curatela e da ausência”.

Etimologicamente, originou-se a palavra “família” do latim família, e significava “grupo


doméstico” ou o conjunto das propriedades de alguém, isso incluía os escravos e os servos.
Família deriva de “famulus” ou “famuli” no plural, e significava “Servo ou escravo doméstico3”.

António Houaiss4 observa que “princípio” tem diversas acepções, dentre elas, destacam-se: o
primeiro momento da existência (de algo), ou de uma acção ou processo; começo, início;
proposição elementar e fundamental que serve de base a uma ordem de conhecimentos”.

1
SANTOS, Washington dos. S337 Dicionário jurídico brasileiro - Belo Horizonte, 2001, p. 79.
2
BEVILÁQUA, Clóvis. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil comentado. 11. ed. Rio de Janeiro: Francisco
Alves, 1986, v. 1.
3
Disponível em: https://www.gramatica.net.br/etimologia-de-familia/, recuperado em 15-05-2023 às 03h06 da
manhã
4
HOUAISS, António. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objectiva, 2004. São acepções do
termo “princípio”:
1) O primeiro momento da existência (de algo), ou de uma acção ou processo; começo, início
2) O que serve de base a alguma coisa; causa primeira, raiz, razão
3) Ditame moral; regra, lei, preceito
4) Dito ou provérbio que estabelece norma ou regra
5) Proposição elementar e fundamental que serve de base a uma ordem de conhecimentos
6) Proposição lógica fundamental sobre a qual se apoia o raciocínio
5

A respeito da noção de princípios, diz Ruy Samuel Espíndola que estes designam: “a
estruturação de um sistema de ideais, pensamentos ou normas por uma ideia mestra, por um
pensamento chave, por uma baliza normativa, donde todas as demais ideias, pensamentos ou
normas derivam, se reconduzem e/ou se subordinam5”.

O direito de família é, de todos os ramos do direito, o mais intimamente ligado a própria vida,
uma vez que, de modo geral, as pessoas provêm de um organismo familiar e a ele conservam-se
vinculadas durante a sua existência, mesmo que venham a constituir nova família pelo casamento
ou pela união estável.

1.2. Princípios do Direito de Família


Antes de tudo importa evidenciar os princípios gerais do direito, portanto, norteiam todo o
ordenamento jurídico. Não obstante, cada ramo do Direito possui seus princípios específicos e no
âmbito deste tema que o grupo escolheu cabe a nós, neste trabalho, destacar os princípios do
Direito de Família.

Assim, os princípios do direito de família de acordo com a professora Maria Helena Diniz6,
enumera sete (7) princípios:

 Princípio do “ratio” do matrimónio e da união estável (o qual se refere à autonomia e à


afeição);

Este princípio do matrimónio e da união estável a que professora refere, no nosso ordenamento
(moçambicano) encontra respaldo Constitucional (art. 119 e ss.), bem ainda, na lei subjectiva, a

7) Fonte ou causa de uma acção


8) Proposição filosófica que serve de fundamento a uma dedução
9) Livro que contém noções básicas e elementares de alguma matéria, ciência etc.; elementos
10) Instrução, educação; opiniões, convicções.
5
2 ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Conceito de princípios constitucionais: elementos teóricos param uma formulação
dogmática constitucionalmente adequada. 2. ed. Rev., actual. e ampliada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. P.
53.
6
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Direito de Família. 22. ed. Rev. E actual., de acordo com
a Reforma do CPC. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 5, p. 18-22.
Lei da Família (LF) arts. 8, 18 e ss. Também este princípio é reconhecido na Declaração
Universal dos Direito Humanos7, no seu art. 16, nºs:

1. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família, sem
restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da sua
dissolução, ambos têm direitos iguais.

2. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros esposos.

3. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e do


Estado.

Já o professor Jorge Miranda, por sua vez alega que todos têm o direito de contrair casamento em
condições de igualdade. O que não significa que o direito à celebração do casamento seja um
direito absoluto, ilimitado. Pelo contrário, o seu exercício admite restrições, desde logo, as
expressamente elencadas no artigo 16.º da DUDH: a idade núbil e o consentimento livre e pleno.
É interessante salientar que o preceito em análise não faz alusão à proibição do incesto, mesmo
sendo este tradicional e universalmente proibido8.

No ordenamento jurídico moçambicano, o direito à celebração do casamento encontra-se


constitucionalmente consagrado no n.º 4 do artigo 119. A CRM remete para a lei civil ou seja a
Lei da Família (arts. 17, 26 e ss.) definição dos requisitos do casamento. Assim, compete ao
legislador ordinário estabelecer não apenas a idade núbil, mas também os demais impedimentos
matrimoniais9. Além disso, da própria garantia institucional do casamento resultam certos limites
(proibição da poligamia, proibição do incesto).

 Princípio da igualdade jurídica dos cônjuges e dos companheiros;


 Princípio da igualdade jurídica de todos os filhos (o qual engloba o melhor interesse da
criança);
 Princípio do pluralismo familiar; e) Princípio da consagração do poder familiar;
 Princípio da liberdade (o qual também engloba a autonomia);

7
Declaração Universal dos Direitos Humanos, adoptada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas
(resolução 217 A III) em 10 de Dezembro 1948.
8
Jorge Miranda, A Declaração Universal e os Pactos Internacionais de Direitos do Homem, Lisboa, Petrony, 1976.
9
Impedimentos esses, contudo, que só serão lícitos quando justificados por interesses públicos fundamentais.
7

 Princípio do respeito da dignidade da pessoa humana.

Para este autor Rodrigo da Cunha Pereira10, sugere os seguintes princípios:

 Princípio da dignidade humana;


 Princípio da monogamia;
 Princípio do melhor interesse da criança/adolescente;
 Princípio da igualdade e respeito às diferenças;
 Princípio da autonomia e da menor intervenção estatal;
 Princípio da pluralidade de formas de família e
 Princípio da afectividade.

Importa ressaltar que todos os princípios acima referidos se conectam, em maior ou menor grau,
com os direitos da personalidade.

1.3.. Personalidade e dignidade da pessoa humana

A pessoa é a destinatária da tutela dos direitos da personalidade. Nesse sentido, aponta


Rabindranath V. A. Capelo de Sousa11: “pessoa é homem, que este constitui necessariamente o
fundo básico da emergência da tutela geral de personalidade e que, mesmo de um ponto de vista
jurídico, é dele que deve partir o pensar jurídico da tutela geral de personalidade, é nele que se
deverá basear a juridicidade e o sentido de uma tal tutela e será para ele que se preordenará a
regulamentação jurídica da tutela geral de personalidade”.

Por outro lado, Baseado em Kant, afirma Rodrigo da Cunha Pereira que a dignidade é o valor
Intrínseco ao homem, que o diferencia e o faz superior às coisas, tornando-o pessoa. Acerca do
conceito de personalidade, afirma Wanderlei de Paula Barreto12: “tal como a concebemos, a
personalidade ou subjectividade é um título instituído pela ordem jurídica e conferido às
pessoas físicas (a todas) e às pessoas jurídicas que satisfizerem os requisitos legais de sua
constituição e funcionamento. A personalidade, portanto, constitui-se de: capacidade de direito,

10
PEREIRA, Rodrigo da Cunha, op. cit., p. 36-37.
11
SOUSA, Rabindranath V. A. Capelo de. O direito geral de personalidade. Coimbra: Coimbra
Editora, 1995. p. 15.
12
BARRETO, Wanderlei de Paula. In; ARRUDA ALVIM; ARRUDA ALVIM, Thereza (Coord.). Comentários ao
Código Civil Brasileiro, parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2005. V. 1, p. 38-39.
capacidade de fato e de um património (material e moral). Integram o património moral os
chamados direitos imateriais ou direitos da personalidade”
9

Considerações finais
Chegados a este ponto e visto de todo, vale ressaltar que várias correntes e teorias foram
lançadas a fim de estabelecer a natureza jurídica dos princípios do direito de família.
Actualmente, entretanto, prevalece aquela que considera a dignidade da pessoa humana ligado
aos direitos da personalidade, pois, constitui o conjunto de faculdades e de direitos que dão ao
ser humano a aptidão para constituir a família sendo como elemento fundamental e a base de
toda a família,

Dentre os princípios constam, o matrimónio e da união estável, a igualdade jurídica dos cônjuges
e dos companheiros e de todo os filhos, e, no âmbito da celebração do matrimónio, para além
processo de sucessão após o falecimento.

Mais ainda, no estudo dos princípios do direito de família, destacam-se os aspectos público e
individual. O primeiro tem origem no facto de que o Estado reconhece e protege, nos termos da
lei, para além disso cada ramo do direito possui seus princípios específicos, aliás já se disse, com
acerto “todo aquele que é o ramo do Direito envolvem normas e toda norma é obrigatória”, não
existe norma que não é obrigatória.
Referências bibliográfica
Legislação

o REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei nº 1/2018 de 12 de Junho, Lei da Revisão


Pontual da Constituição da República de Moçambique, in Boletim da República, I Série
número 115 de 12 de Junho de 2018. REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição
da República de Moçambique actualizada em 2018, in Boletim da República, I Série n°
115 de 12 de Junho de 2018.
o REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei 22/2019 de 11 de Dezembro que aprova a lei da
família.
o Código Civil de Moçambique aprovado em 1966, com respectivas adaptações de 1976, 4ª
Edição, Escolar Editora, Maputo;

Manuais e Livros

o SANTOS, Washington dos. S337 Dicionário jurídico brasileiro - Belo Horizonte, 2001,
p. 79.
o BEVILÁQUA, Clóvis. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil comentado. 11. ed.
Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1986, v. 1.
o Disponível em: https://www.gramatica.net.br/etimologia-de-familia/, recuperado em 15-
05-2023 às 03h06 da manhã
o HOUAISS, António. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro:
Objectiva, 2004. São acepções do termo “princípio”:
o 2 ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Conceito de princípios constitucionais: elementos teóricos
param uma formulação dogmática constitucionalmente adequada. 2. ed. Rev., actual. e
ampliada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. P. 53.
o DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Direito de Família. 22. ed. Rev.
E actual., de acordo com a Reforma do CPC. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 5, p. 18-22.
o Declaração Universal dos Direitos Humanos, adoptada e proclamada pela Assembleia
Geral das Nações Unidas (resolução 217 A III) em 10 de Dezembro 1948.
o Jorge Miranda, A Declaração Universal e os Pactos Internacionais de Direitos do
Homem, Lisboa, Petrony, 1976.
11

o Impedimentos esses, contudo, que só serão lícitos quando justificados por interesses
públicos fundamentais.
o PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Princípios fundamentais norteadores do Direito
o de Família. Belo Horizonte: Del Rey, 2006.
o SOUSA, Rabindranath V. A. Capelo de. O direito geral de personalidade. Coimbra:
Coimbra
o Editora, 1995. p. 15.
o BARRETO, Wanderlei de Paula. In; ARRUDA ALVIM; ARRUDA ALVIM, Thereza
(Coord.). Comentários ao Código Civil Brasileiro, parte geral. Rio de Janeiro: Forense,
2005. V. 1, p. 38-39.

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