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DIREITO DE FAMÍLIA
Trabalho da disciplina
Princípios Gerais do Direito de Família e o Matrimônio
Tutora: Prof. Tania Marcia Kale
João Pessoa - PB
2021
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NOVOS PRINCÍPIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA BRASILEIRO
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analisado propõe alguns exemplos desta hermenêutica, tais como: o entendimento
do Superior Tribunal de Justiça no sentido de considerar o imóvel de pessoa solteira
como bem de família; a tendência doutrinária e jurisprudencial de relativização ou
mitigação da culpa nas ações de separação judicial e, por fim, as decisões que
condenam os pais a pagar indenização aos filhos em caso de abandono afetivo.
Atendo-se ao primeiro caso, relacionado as decisões que consideram como
bem de família os imóveis habitados por pessoas solteiras, convém destacar que
esta modalidade de bem, conforme as disposições da Lei nº 8.009/1990, recebe
proteção estatal no sentido de ser impenhorável e de não responder por qualquer
dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, desde que
contraída pelo casal ou seus filhos que sejam os proprietários e neste imóvel
residam. Contudo, tendo em vista que o princípio da dignidade da pessoa humana
visa garantir a proteção do indivíduo propriamente dito e não de um grupo específico
de pessoas, os tribunais passaram a decidir pela ampliação do conceito de bem de
família, transmitindo a proteção legal para os imóveis de propriedade e resididos por
pessoas que não compõem um agrupamento familiar.
De acordo com a jurisprudência, deve-se reconhecer a aplicabilidade do
instituto em razão da intenção principal dele ser a proteção de um direito
fundamental da pessoa humana, que é o direito à moradia. O argumento pode ser
visualizado no trecho proferido pelo STJ no seguinte julgado:
A interpretação teleológica do Art. 1º, da Lei 8.009 /90, revela que a norma
não se limita ao resguardo da família. Seu escopo definitivo é a proteção
de um direito fundamental da pessoa humana: o direito à moradia. Se
assim ocorre, não faz sentido proteger quem vive em grupo e abandonar o
indivíduo que sofre o mais doloroso dos sentimentos: a solidão.
Como foi possível verificar, apesar de uma pessoa solteira não constituir aos
moldes da lei uma entidade familiar como as demais que decorrem do casamento
união estável ou família monoparental, ainda assim o tribunal ponderou a aplicação
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dos princípios e ampliou o conceito de bem de família para o local que seja
residência da pessoa natural, visando assegurar o mínimo existencial para sua
dignidade.
Decisão semelhante foi a proferida pela 4ª turma do STJ no reconhecimento
e provimento do Recurso Especial nº 420086 SP 2002/0028728-4, seguindo o voto
do relator Ministro Ruy Rosado de Aguiar que afirmou ser impenhorável o imóvel
residencial de pessoa solteira ou viúva, reconhecendo o imóvel em questão como
bem de família, mediante observância de interpretação extensiva da Lei 8.009/90 à
luz das garantias constitucionais.
Em decorrência dos julgamentos reiterados no mesmo sentido, o próprio
STJ consolidou a Súmula 364, pacificando o entendimento de que “o conceito de
impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente a
pessoas solteiras, separadas e viúvas”, uma vez que a interpretação da regra da
impenhorabilidade deste tipo de bem deve visar a manutenção da moradia, a
subsistência e o respeito à dignidade da pessoa humana, não existindo óbice para
igual proteção dos bens nos casos em que as pessoas solteiras, separadas ou
viúvas tenham por fim o exercício destes direitos.
Diante das exposições realizadas, é possível aferir que o movimento de
incidência da Constituição Federal de 1988 é intenso e capaz de provocar
alterações significativas na interpretação e aplicação das demais legislações, uma
vez que o referido diploma abarca princípios de alta relevância social e jurídica.
Além disso, cabe ressaltar a importância da atuação judicial na aplicação destes
direitos, mesmo que por interpretações extensivas de princípio, uma vez as
garantias individuais não podem ser diminuídas ou feridas em razão da omissão
legislativa. Assim, seria necessário que estas questões tão incidentes na práxis
também pudessem ser devidamente regulamentadas, evitando o acúmulo
processual nos tribunais e, garantindo, de pleno direito, as prerrogativas inerentes
ao direito de família.