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1 Atuação do psicólogo e o CNJ

A regulação da vida humana em sociedade é realizada pelo direito objetivo, em


que regras sociais definem a conduta de pessoas com a finalidade de garantir
a paz social.
Nesse campo de atuação, a atividade do psicológico é de suma importância, já
que poderá atuar nas fases pré-processual, processual, e nas questões ligadas à
cidadania dentro dos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania –
CEJUSCs, criados pela Resolução CNJ n. 125/2010 do Conselho Nacional de
Justiça, como mencionado do art.10 (CNJ, 2010):
Art. 10. Cada unidade dos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania deverá
obrigatoriamente abranger setor de solução de conflitos pré-processual, de solução de
conflitos processual e de cidadania.

Os CEJUSCs são unidades do Poder Judiciário às quais compete,


preferencialmente:
A realização das sessões e audiências de conciliação e de mediação a cargo de
conciliadores e mediadores.
O atendimento e a orientação aos cidadãos que possuem dúvidas e questões
jurídicas (CNJ, 2010).
Devem possuir, também, ao menos um servidor com dedicação exclusiva,
capacitado em métodos consensuais de solução de conflitos, para triagem e
encaminhamento adequado de casos (CNJ, 2010).
Esse profissional também deverá atuar diretamente dentro das demandas
judiciais em curso (processos de divórcio, guarda de filhos, alienação parental e
alegações de abuso sexual, por exemplo) através de técnicas que compõem a
avaliação do comportamento do ser humano.
Todavia, poderá estar impedido ou suspeito em determinada demanda judicial
devido a interesses na causa, conforme reza o Código de Processo Civil. Esse
impedimento é a arguição definitiva, a qual proíbe o perito de atuar no processo;
já, a suspeição é uma causa temporária, devido a motivos previstos em lei.

1.1 A função do laudo ou parecer do psicólogo


jurídico e suas etapas
O objetivo básico do serviço de Psicologia é o de elaborar um esboço o mais
fidedigno possível acerca da situação das pessoas envolvidas, definido através de
um laudo fundamentado dotado de características psicológicas de cada caso,
onde serão observadas situações (relação de pessoas e bens) e fatos (ocorrência
de situações) visando o respeito à sua dignidade.
Denise Maria Perissini da Silva (2016) coloca que não há uma uniformidade
quanto ao termo do documento escrito apresentado aos autos:
[...] pode ser laudo, relatório, parecer (no caso das Varas da Infância e da Juventude). O
importante aqui é que o laudo deve responder ao questionamento do juiz. Contudo, a
Resolução CFP nº 07/2003 (que substituiu a Resolução CFP nº 17/2002) institui o Manual
de Elaboração de Documentos produzidos pelo psicólogo, a partir de avaliações
psicológicas. Nesse Manual, estão definidos os conceitos de laudo, os critérios éticos e
técnicos para sua apresentação, e até mesmo um modelo obrigatório desse documento
para ser juntado aos autos (SILVA, 2016, p. 330).

2 Os documentos expedidos pelos


psicológicos: Resolução do CFP nº
6, de 29 de março de 2019
A Resolução do CFP nº 6, de 29 de março de 2019, a qual institui regras para a
elaboração de documentos escritos produzidos pela(o) psicóloga(o) no exercício
profissional e revoga a Resolução CFP nº 15/1996, a Resolução CFP nº 07/2003 e
a Resolução CFP nº 04/2019, define os documentos a serem expedidos pelos
psicólogos: Declaração; Atestado Psicológico; Relatório (Psicológico;
Multiprofissional); Laudo Psicológico; Parecer Psicológico.
Clique nas abas abaixo para conhecê-los.
Declaração: A declaração é um documento que responde a questões
especificas, como os dias e horários em que o paciente foi atendido.

Atestado psicológico: O atestado advém do processo de avaliação psicológica


e define situações ou condições do estado psicológico do paciente.

Laudo e relatório psicológico: O laudo se diferencia do relatório psicológico.


O primeiro nasce de um processo de avaliação psicológica oriundo de uma
demanda específica; já o segundo (art. 11) não envolve o referido processo de
avaliação.
O referido laudo deverá possuir as seguintes etapas: identificação; descrição da
demanda; procedimento; análise; e a conclusão.
Parecer psicológico: O parecer psicológico é um documento que contém a
visão do parecerista, devidamente fundamentada de determinada demanda
apresentada. Este não advém de uma avaliação ou intervenção realizada pelo
subscritor do documento.
3 O psicólogo jurídico e sua atuação
dentro do direito de família
O psicólogo jurídico tem como missão trabalhar os conflitos
familiares existentes entre as famílias que poderão estarem juntas ou não,
observando o lado comportamental das partes envolvidas.
Deverá utilizar seu olhar clínico para entender as diversas situações ocorridas e
garantir uma vida digna entre as pessoas que estão litigando ou em situação de.

3.1 A família: ontem e hoje


A família tradicional, constituída de duas pessoas heterossexuais – um homem e
uma mulher – unidos com a finalidade de procriação, perdeu espaço para
a família contemporânea, unida através do afeto, troca de amparo e
responsabilidade, que por vezes, não é constituída por laços sanguíneos.
Sérgio Resende de Barros (2002) ressalta que o afeto é "[...] especial, representado
pelo sentimento de duas pessoas que se afeiçoam pelo convívio diuturno, em
virtude de uma origem comum ou em razão de um destino comum, que conjuga
suas vidas tão intimamente, que as torna cônjuges quanto aos meios e aos fins
de sua afeição, até mesmo gerando efeitos patrimoniais" (BARROS, 2002, p. 8).
Assim, há um novo perfil da família diferentemente do que se previa no Texto
Constitucional, que são as chamadas famílias plurais, cujo modelo diverge dos
descritos abaixo.
• Casamento: Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção
do Estado.
§ 1º O casamento é civil e gratuito a celebração (BRASIL, 1988).
• União estável: Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial
proteção do Estado.
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável
entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar
sua conversão em casamento (BRASIL, 1988).
• Família monoparental, representada pela comunidade formada por
qualquer um dos pais com seus descendentes: Art. 226. A família, base da
sociedade, tem especial proteção do Estado.
§ 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada
por qualquer dos pais e seus descendentes (BRASIL, 1988).
• União homoafetiva como entidade familiar: Resolução CONSELHO
NACIONAL DE JUSTIÇA – CNJ nº 175, de 14.05.2013 – D.J.: 15.05.2013.
Dispõe sobre a habilitação, celebração de casamento civil, ou de
conversão de união estável em casamento, entre pessoas de mesmo
sexo.

Essa Resolução fundamenta-se “nos acórdãos prolatados em julgamento da


ADPF 132/RJ e da ADI 4277/DF”, pelos quais o Supremo Tribunal Federal
“reconheceu a inconstitucionalidade de distinção de tratamento legal às uniões
estáveis constituídas por pessoas de mesmo sexo”, e no “julgamento do RESP
1.183.378/RS”, pelo qual o Superior Tribunal de Justiça “decidiu inexistir óbices
legais à celebração de casamento entre pessoas de mesmo sexo” (CNJ, 2013).
É necessário ampliar a lente para que se perceba os condicionantes históricos e
psicossociais correlatos a tais demandas, como os enumerados por Oliveira e
Brito (2016):
• As novas configurações familiares.
• A complexidade dos seus relacionamentos.
• As características do desenvolvimento infanto-juvenil.
• A crise das autoridades.
• O exercício da parentalidade.
• O surgimento de novas violências.
• Entre outros fenômenos pertinentes ao campo da Psicologia.

Assim, possíveis danos subjetivos, dificuldade existencial ou prejuízo emocional,


são questões a serem analisadas pelo psicólogo jurídico, que é apto para o estudo
do comportamento humano à luz do Direito.

3.2 Casos possíveis de atuação do psicológico


jurídico dentro das famílias
A atuação dos psicólogos jurídicos se dá na análise, mediação e parecer sobre os
comportamentos das partes envolvidas.
A Lei nº 13.257 (BRASIL, 2016), que dispõe sobre as políticas públicas para
a primeira infância, definiu que a as mulheres gestantes ou com filhos de até 12
anos incompletos (e para o homem, caso seja o único responsável pelos cuidados,
com o filho de até 12 anos) poderão cumprir a pena preventiva em regime
domiciliar.
É necessário ponderar que a necessidade e os benefícios advindos dos cuidados
maternos em relação a crianças de tão tenra idade são indiscutíveis (STJ, HC
469.848, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca).
Vejamos as decisões do STF/STJ, em sede de Habeas Corpus coletivo, que tem
como fundamentação o princípio da dignidade humana e a conversão da pena.
Em relação ao caso concreto, há duas decisões que avaliam a conduta da
paciente:
Decisão A: o Min. Rogerio Schietti Cruz se posicionou em relação à paciente, que
estava de posse de drogas, tinha um filho e está esperando outro, não
autorizando sua conversão.

Decisão B: decisão do STJ (HC 426.526) baseada no pronunciamento do STF, que não
autorizou que a paciente tenha a conversão do regime aceita, já que mantinha uma
“boca de fumo” ligada ao comando Vermelho, ações que poderiam pôr em risco seus
filhos.

3.3 Pátrio poder ou poder familiar e sua perda


O comportamento humano é lastreado pelo poder, já que ele poderá atingir
vários leques dentro da construção do modo de viver em sociedade. Esse poder
poderá influenciar ações e possibilitar respostas adequadas para que se evite o
imprevisível, sendo, assim, visto como uma antecipação deste. Caso necessário,
haverá a perda do poder familiar.
Todavia, para que aconteça ou não a perda do poder familiar, o psicólogo
deverá equalizar ações dos pais, avaliando se houve maus-tratos, abusos e não
cumprimento dos direitos básicos da criança ou do adolescente.
A destituição do poder familiar, ou seja, da competência parental, ocorre através
de um laudo e é um momento drástico na relação entre pais e filhos.
Em relação a esse poder, o art. 23 do ECA incorpora dois dispositivos da Lei da
primeira infância, definindo, assim, que a perda (decretação) definitiva do poder
familiar só poderá ocorrer após a condenação criminal transitada em julgado,
salvo na hipótese de condenação por crime doloso, sujeito à pena de reclusão,
contra o próprio filho.
O laudo fundamentado deverá demonstrar que há razões para uma possível
destituição do referido poder, conforme entendimento do juiz competente.

3.4 Casos de interdição


Através da interdição, busca-se a declaração da incapacidade de determinada
pessoa dentro de sua vida civil com a nomeação de um curador que se torna
o responsável por essa pessoa, aos moldes do art. 1.767 do Código Civil, a qual
poderá ser composta pelo pai, mãe ou tutor, pelo cônjuge ou algum parente
próximo (linha colateral) ou, ainda, pelo órgão do Ministério Público. Não há
interdição de menores.
O laudo do psicólogo jurídico deverá conter o histórico detalhado da situação
que embasa o pedido, os espaços possíveis de liberdade da pessoa interditada,
em quais ele deverá ser guiado, e a garantia de dignidade da pessoa, já que esta
terá tolhida a sua liberdade de expressão, de movimentação e de decisão.

3.5 Separação e divórcio


Os conflitos entre as pessoas poderão macular o sistema familiar, influenciando
na relação afetiva que poderá culminar na separação e no divórcio do casal.
É impossível a identificação objetiva do culpado pelo insucesso do casamento –
como se tivesse sido praticado um ato ilícito –, a menos que se pretendesse, por
absurdo, fixar um padrão médio de performance sexual, ou um padrão ideal de
fidelidade, cujo não atendimento pudesse ser considerado como ilícito
(TEPENDINO, 1999, p. 379).
Assim, a função primordial do psicólogo jurídico será a análise da influência no
comportamento dos sujeitos dentro da família, devendo apresentar em seu laudo
a realidade psicológica das partes, que contribuirá na decisão do juiz do processo
em curso.
Os conflitos entre as partes podem envolver inúmeras questões, entre as quais
estão: financeira/patrimonial, status dentro da relação, princípios e valores,
ordem afetiva, e relações interpessoais.

3.6 Guarda dos filhos


Nos processos de separação e divórcio, poderão surgir questões da disputa da
guarda de filhos ou apenas a indicação de quem será responsável pela guarda.
Há vários tipos de guarda, tais como:
• Guarda compartilhada: Compartilhamento da guarda jurídica.
• Guarda alternada: Exercício de guarda que será formada através da
alternância entre seus genitores.
Entre as questões que deverão ser observadas durante esse processo de guarda,
estão a diversidade religiosa dos pais e a diversidade relativa a emoções.
Assim, é importante uma avaliação da equipe multidisciplinar do juízo para
parecer sobre tal situação. Oliveira e Brito (2016, p. 43) colocam:
[...] onde serão observados aspectos condicionantes históricos e psicossociais correlatos
a tais demandas, inclui-se como as novas configurações familiares, a complexidade dos
seus relacionamentos, as características do desenvolvimento infanto-juvenil, a crise das
autoridades, o exercício da parentalidade, o surgimento de novas violências, dentre
outros fenômenos pertinentes ao campo da Psicologia.
Durante o processo, o casal será alertado dos riscos da separação, bem como as
consequências desse processo. Todavia, a mediação não ocorrendo será enviado
o laudo ao juiz com essa informação.

3.7 Regulamentação de visitas


A regulamentação das visitas será realizada pelo juiz no curso do processo de
separação ou divórcio, observando o laudo pericial.

4 A psicologia jurídica nas questões


da criança e do adolescente
Crianças e adolescentes são dotados de direitos especiais devido a sua
vulnerabilidade, assim, necessitam de proteção para possibilitar seu
desenvolvimento completo. Entretanto, não tem sido garantido o acesso a
benefícios sociais e à legislação necessária, já que existem leis contraditórias e
oportunistas, elaboradas na contramão dos interesses das benéficas.
Denise Maria Perissini da Silva (2016) conceitua vulnerável:
Na definição do vocábulo “vulnerável” entenda-se aquele que pode ser ferido física ou
moralmente e bem assim no seu âmbito econômico. Os grupos vulneráveis não se
confundem com as minorias, porque os primeiros podem se constituir em um grande
contingente numérico, como as mulheres, as crianças e os idosos, embora todos se
identifiquem como vítimas da intolerância e da discriminação. A vulnerabilidade é um
traço universal de alguns grupos de pessoas existentes na sociedade e destinatários de
especial proteção, justificando-se o tratamento diferenciado em razão das suas
condições políticas, sociais e culturais. A vulnerabilidade, no entanto, não se confunde
com a hipossuficiência, pois esta está vinculada à pobreza e só legitima alguns
tratamentos diferenciados, porque nem toda pessoa vulnerável tem dificuldades
econômicas e sociais, que pudesse ser classificada como pobre. A vulnerabilidade é
inerente à existência da pessoa, seja ela hiper ou hipossuficiente, tendo em conta que a
existência ou ausência de lastro econômico e financeiro não impede que, em dado
momento, qualquer indivíduo possa estar vulnerável e assim ser ferido ou ofendido em
sua integridade física ou psicológica (SILVA, 2016, p. 112).

Essa vulnerabilidade poderá produzir violências que poderão gerar demandas


na saúde, educação, entre outras áreas, devido a abusos serem observados pelos
psicológicos, entre os quais, estão:
• Abusos físicos (lesões corporais).
• Abusos comportamentais (comportamento de crianças).
• Comportamento agressivo (decorrente de abuso sexual).
• Comportamento pseudomaduro (comportamentos aparentes).
Essas violências poderão ser exemplificadas no quadro abaixo.

A vitimização, que é a prática de violência contra a criança, é dividida em: física


(negligência referente a cuidados na alimentação e higiene, e maus-tratos),
psicológica (negligência afetiva e rejeição ativa), e/ou sexual.
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou, em novembro de 2010 a
Resolução nº 33, que sugere aos Tribunais “a criação de serviços especializados
para a escuta de crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência nos
processos judiciais”. São parâmetros: depoimento especial (sala especial para
depoimento pessoal de crianças e adolescentes suspeitos de sofrer abuso sexual)
e entrevista cognitiva forense (quantidade e qualidade de informações).
Todavia, “o entrevistador deve estar atento para não sugestionar seu paciente
sobre os acontecimentos que lhe ocorreram, pois corre o risco de estar
implantando falsas memórias” (PERGHER; STEIN, 2005, p. 23).
O psicólogo deverá se ater não somente ao depoimento da criança ou do
adolescente que noticia o abuso sexual, já que este poderá realizar uma falsa
denúncia que poderá envolver e prejudicar todos(as) que estão envolvidos(as);
devem ser aplicadas as técnicas para avaliação da situação.
Assim, o psicólogo jurídico, ao atuar e acompanhar esses procedimentos, deverá
analisar a situação e orientar crianças e adolescentes, quando em contato com
tais acontecimentos, sem interferir em suas declarações, devendo, quando
necessário, encaminhá-los a uma instituição de proteção e amparo para garantir
sua integridade física, emocional e psíquica.

4.1 Medidas socioeducativas


Gilbert Romer Soares e Delza Ferreira Mendes (2016) salientam que a falta de
afeto poderá desenvolver comportamentos não aceitos pela sociedade:
Pode-se evidenciar que a falta de afeto e atenção de seus cuidadores pode ter influência
para que adolescentes desenvolva comportamentos não aceito pela sociedade e as
autoridades, a influência do grupo, a agressão doméstica, antecedentes familiares que
fazem uso de produtos químicos e baixa autoestima, a falta de incentivo para os estudos,
desempenho escolar insuficiente; o desejo de ser livre conjugada com o empenho de
buscar a efetivação do crescimento pessoal, a procura de satisfazer seus desejos de
consumo a qualquer custo e o espírito de aventura; a rebeldia tem anexa à dependência
a gratificações, têm sido referidas como fatores de risco precipitando o desenvolvimento
de comportamentos inadequados, ou seja, antissocial no convívio com a sociedade e
que são precárias as explicações sobre os fatores protetores que possam esclarecer os
motivos de jovens que fazem parte desse grupo de risco (SOARES; MENDES, 2016, p.
136).

Essa atitude poderá causar a estes(as) medidas protetivas, as quais buscam


garantir às crianças e aos adolescentes condições de seu desenvolvimento em
sociedade, quando há violação ou simples ameaça de violação de seus direitos.
Essas medidas estão expostas no art. 98 do ECA.
O(a) menor infrator poderá cumprir essas medidas através do regime meio
aberto (liberdade assistida através de prestação de serviços) ou da privação de
liberdade (não há liberdade).
A função do psicólogo será contribuir para que os programas onde a criança ou
o adolescente estejam inseridos(as) preservem as relações interpessoais e o
convívio, tanto individual como social, dos(as) que estão em cumprimento da
respectiva medida.

4.2 Adoção e atuação do psicólogo jurídico


A criança ou o adolescente, quando em situação de risco, deverá ser encaminhada
a uma instituição de proteção e amparo para garantir sua integridade física,
emocional e psíquica, podendo, assim, ser adotada.
O perfil dos(as) adotantes deve ter intuito de configurar uma futura relação
familiar satisfatória, já que crianças e adolescentes são vulneráveis e necessitam
de atenção especial em suas ações e pensamentos.
O processo de habilitação para a adoção perpassa pelas três seguintes etapas:
• O pedido de inscrição.
• A participação no curso de preparação.
• O estudo psicossocial.
Essa atuação é baseada pela Lei nº 12.010, de 3 de agosto de 2009 (BRASIL, 2009).
O estudo psicossocial é realizado pelo psicólogo jurídico através de exames que
têm como base procedimentos de diagnóstico e prognóstico que visam avaliar
as partes e dar base ao juiz para decidir sobre a adoção, ao qual é apresentado
um laudo ou parecer sobre a avaliação psicológica.

A colocação numa família substituta advém de três possibilidades: tutela, guarda


e adoção. Clicando abaixo você encontra detalhes sobre essas possibilidades e
também sobre a questão do abrigamento.
• Guarda e tutela: A guarda jurídica advém de uma decisão judicial
amparada nos arts. 33 a 35 do ECA, onde pretende-se regularizar uma
situação que já estava acontecendo.

A transferência poderá ocorrer devido a razões financeiras, culturais, ao não


reconhecimento da paternidade ou gravidez não desejada, entre outras
situações.

Uma vez transitada em julgada, a decisão que concede a tutela poderá


ser revista a qualquer tempo, sendo referente à responsabilidade da pessoa
capaz sobre a incapaz.

A função do psicólogo é entender os aspectos pessoais do tutor, seus valores


morais e éticos e, com essas informações, analisar a situação.

• Abrigamento/desabrigamento: O serviço de abrigamento, segundo o


ECA, é uma medida provisória e excepcional, que visa à retirada da
pessoa que se encontra em vulnerabilidade social, colocando-a em local
que dê condições de melhoria dessa situação.

A função da entrevista do psicólogo é escutar e avaliar a situação que está


acontecendo, analisando, assim, os motivos e a necessidade (ou não) de
abrigamento para o bem-estar dos(as) envolvidos(as).
No caso do desabrigamento, o psicólogo deverá acompanhar a readaptação da
criança ou do adolescente a familiares, verificando as condições para tanto e,
caso necessário, a inclusão destes(as) no seio de uma família substituta.

5 Sanções disciplinares, criminais e


civis na atuação do psicólogo
jurídico
O perito que atuará no processo deverá seguir as determinações contidas
nos manuais determinados pelas Resoluções da CFP e do CNJ, sob pena de
processo disciplinar (sanção administrativa) e afastamento de suas funções, bem
como responsabilidade civil (Vara Cível – ação de indenização por danos morais)
e criminal (Vara Criminal – crime de falsa perícia).
O psicólogo não poderá:
• Funcionar como perito, em relação pessoal ou profissional com o cliente.
• Violar o sigilo por quaisquer meios.
• Utilizar-se de meios e práticas não reconhecidos cientificamente.
• Fazer afirmações taxativas com base nas declarações de outrem, com
finalidade de prejudicar a pessoa que está assessorando.

Dentro dos processos judiciais, deverá seguir as determinações do juiz e se ater


às mesmas, avaliando as demandas e emitindo o competente laudo ou parecer
pleiteado.

5.1 Sanções disciplinares na atuação do


psicólogo jurídico
O psicológico deverá agir com a ética, levando em conta tanto as mudanças da
consciência humana como as obrigações sociais do ser humano. Havendo
transgressão desses fatores, o profissional irá responder a processo
administrativo, com ampla defesa e o contraditório, podendo ser sancionado com
base no art. 21 do CEPP:
Art. 21 – As transgressões dos preceitos deste Código constituem infração disciplinar
com a aplicação das seguintes penalidades, na forma dos dispositivos legais ou
regimentais:

a) Advertência;

b) Multa;
c) Censura pública;
d) Suspensão do exercício profissional, por até 30 (trinta) dias, ad referendum do
Conselho Federal de Psicologia;

e) Cassação do exercício profissional, ad referendum do Conselho Federal de Psicologia


(CFP, 2012)

Por outro lado, há necessidade de se diferenciar o erro, fraude, simulação ou


omissão do dolo profissional quando o perito for induzido a tal situação por seu
cliente. Um exemplo é simular um estado mental ou o comportamento de uma
pessoa na busca de um laudo que o favoreça.
Caso venha a ser convocado para prestar esclarecimentos, deverá seguir as
determinações e princípios éticos e respeitar o sigilo profissional, prestando as
devidas informações, observando o previsto no Código de Ética Profissional do
Psicólogo – CEPP: “Art. 9º – É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a
fim de proteger, por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos
ou organizações, a que tenha acesso no exercício profissional” (CFP, 2012).
Esse profissional, estando agente da administração pública ou serventuário do
Poder Judiciário, além de um possível processo junto ao CFP, responderá pelo ato
através de um processo disciplinar administrativo onde atua.
O referido processo (inquérito administrativo - instrução, defesa e relatório - e
julgamento) é um instrumento legal de apuração de delitos, possibilitando, ao
autor que cometera o desvio de conduta, a apuração de suas infrações funcionais
e aplicação das penalidades em que incorreu.
A punição poderá ser de uma simples advertência até a sua demissão do cargo
público, se for estável, ou destituição de cargo em comissão.

5.2 Os crimes praticados do psicólogo jurídico


em sua atuação profissional: corrupção e do
dolo profissional
A sanção cabível nas varas criminais está prevista na legislação criminal, onde o
psicólogo jurídico, por exemplo, poderá incorrer em corrupção ativa ou passiva
do perito.
A corrupção ativa é a prevista no art. 333 do Código Penal, que é a prática,
omissão ou atrasar o ato de ofício; já a corrupção passiva, prevista no art. 317 do
mesmo diploma legal, consiste em solicitar ou receber vantagem indevida ou
aceitar promessa de vantagem.
Importante mencionar como a corrupção passiva acontece segundo do STJ.
Acompanhe no quadro abaixo.
A corrupção, ativa ou passiva, poderá ser produzida quando o psicólogo praticar
um ato ou receber vantagem indevida para realizar, por exemplo, uma falsa
perícia.
A falsa perícia nasce do dolo profissional, sendo praticada pelo profissional que
estiver na qualidade jurídica relativa à sua função típica, ou seja, será o sujeito
ativo do crime. O crime terá como elementos subjetivos: fazer afirmação falsa,
negar a verdade, ou calar a verdade.
A falsa perícia traz consigo uma fraude processual que nasce de um laudo falso,
que é elaborado visando prejudicar o andamento processual e comprometer a
decisão judicial. O crime a ser praticado somente pode ser cometido por
testemunha, perito, tradutor, contador ou intérprete, segundo o art. 342 do
Código Penal.
Vejamos abaixo o HC (parte) Rel. Juiz Convocado Márcio Mesquita, indicando
que o Inquérito Policial servirá para averiguação dos indícios de autoria do crime
passível de ação penal competente.
5.3 Os danos causados pelo psicólogo jurídico
durante a sua atuação profissional:
responsabilidade civil
A responsabilidade civil de um psicólogo jurídico advém da agressão a um
interesse jurídico em virtude do descumprimento de uma norma jurídica ou do
contrato ou não, o qual será responsabilizado por sua: conduta durante a
elaboração do laudo ou parecer; nexo de causalidade e o dano ou prejuízo; agir
com negligência (falta de precaução ou cuidado), imprudência (falta de cautela
ou com conduta duvidosa) ou imperícia (falta de conhecimento técnico ou
competência para o exercício da profissão), respondendo, assim, por danos
materiais e morais que der causa.
Havendo ato ilícito, o dano e o nexo causal, surge o dever de indenizar os danos
morais causados. Vejamos abaixo a decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande
do Sul (suprimido o número do processo por determinação legal).

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