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Aspectos jurídicos

Na atualidade, as questões LGBT têm ganhado grande destaque e o âmbito


jurídico – que possui como uma de suas funções a regulamentação das normas sociais e
das relações entre os seres humanos– precisa acompanhar essa evolução dos debates na
sociedade. A passos lentos, a comunidade LGBT vem ganhando representação e
reconhecimento quanto à sua identidade, a Anistia Internacional passou a considerar
como violação dos direitos humanos a proibição da homossexualidade desde 1991, ou
seja, apenas à 25 anos atrás, contudo, com algumas conquistas por vez, a igualdade
almejada será alcançada.

 Legalidade no casamento entre homossexuais


O casamento igualitário ou homoafetivo no Brasil foi normatizado 2013, quando
o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) emitiu uma resolução determinando que todos os
cartórios do País realizassem casamentos entre pessoas do mesmo sexo. A decisão,
contudo, não tem a mesma força do que uma lei e pode ser contestada por juízes, que
diante da ausência de lei federal autorizando o casamento entre pessoas do mesmo sexo
e considerando que o Código Civil coloca expressamente que casamento é uma relação
entre um homem e uma mulher, dificultam o processo.
No caso de pessoas trans, se a mesma tenha conseguido fazer a retificação de
gênero e mudança de nome em seus documentos, pode casar normalmente, caso não
tenha, a resolução do CNJ diz: “É vedada às autoridades competentes a recusa de
habilitação, celebração de casamento civil ou de conversão de união estável em
casamento entre pessoas de mesmo sexo”.
Quanto às uniões estáveis, essas ocorrem com mais facilidade e há mais tempo
no território nacional, tendo o primeiro registro oficial em cartório no ano de 2003, no
estado de São Paulo.
Muitos juízes se fundamentam no art. 3º, IV, da Carta Magna, que preconiza o
princípio da igualdade e que é hierarquicamente superior para aceitar a união estável e o
casamento independentemente da orientação sexual. No Tribunal Fluminense (RJ), no
Tribunal de Justiça Gaúcho (RS), entre outros tribunais brasileiros, há consensos sobre
formas de julgamento quanto à união estável entre homossexuais, onde os juízes se
baseiam na analogia, nos costumes e nos princípios gerais do Direito para validarem
suas decisões de apoio à união.
O casamento homoafetivo também pode acontecer por analogia à união estável,
segundo o Supremo Tribunal Federal (STF), que em 2011 reconheceu o casamento
entre pessoas do mesmo sexo no Brasil como entidade familiar, garantindo direitos
como herança e comunhão parcial de bens a casais do mesmo sexo. A analogia
acontecia de acordo com a lei 9.278 de 1996, que disciplina a união estável, esta dispõe
em seu artigo 8º: "Os conviventes poderão, de comum acordo e a qualquer tempo,
requerer a conversão da união estável em casamento, por requerimento ao Oficial do
Registro Civil da Circunscrição de seu domicílio".
Existem correntes que consideram o casamento uma instituição semelhante à
união estável, contudo, muitos acreditam que pessoas com a orientação homossexual
não devem ter suas relações avaliadas apenas no campo do direito obrigacional, mas sim
no Direito de Família, com a aceitação do respectivo casamento, já que não se unem, em
regra, exclusivamente por feições econômicas, mas sim por afeto, emoção e sentimento.

 Criminalização da homofobia e da transfobia


No Brasil, o número de mortes LGBT motivadas por homofobia é assustador,
segundo a GGB (dado de 2013) acontece uma morte a cada 28 horas, contudo, ainda
assim não há lei que criminalize tais atos. A luta pela criminalização da homofobia não
consiste em criar uma norma singular com suas formas de punição específicas, pois a
homofobia pode estar presente em vários tipos penais já existentes; o intuito dos
projetos de lei que criminalizam a homofobia é alterar um ou mais tipos penais
acrescentando-lhes, seja como elementar, causa de aumento de pena ou qualificadora, a
motivação por preconceito de identidade ou orientação sexual.
Atualmente, enquanto não há aprovação de um projeto de lei que os represente,
os direitos das pessoas homossexuais e transexuais – em relação à violência, seja ela
física ou psicológica– são fundamentados na CF/88, a qual tem como principal objetivo
a promoção do bem de todos sem preconceito de sexo (art. 3°, IV), bem como veda a
discriminação (art. 5°, caput) por qualquer natureza.

 Mudança de sexo e uso do nome social por pessoas travestis e


transexuais
A transexualidade e a travestilidade, são fenômenos que desafiam convenções
sociais, que muitas vezes são pautadas em ideais heteronormativos. Esses fenômenos
envolvem o corpo, a identidade e o gênero, tornando seu debate bastante complexo. Sua
complexidade atinge várias polêmicas e controvérsias, inclusive discussões acerca da
imagem corporal e identificação; e da nomenclatura adotada nos manuais de transtornos
mentais, que consideram o fenômeno como “transtorno de identidade de gênero”,
reduzindo o tema ao aspecto patológico.
Ingo Wolfgang Sarlet diz que “temos por dignidade da pessoa humana a
qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo
respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste
sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que asseguram a pessoa
tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe
garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar
e promover sua participação ativa e co-responsável nos destinos da própria existência
e da vida em comunhão com os demais seres humanos”. Sendo assim, a partir do
fundamento da CF/88 que garante a dignidade da pessoa humana e levando em conta
o sofrimento psíquico vivenciado pelo transexual por estar em uma condição física que
não condiz com sua realidade psicológica, faz-se necessária a mudança.
Para que a cirurgia de adequação do sexo anatômico ao sexo psicológico seja
realizada, é necessário que se faça um diagnóstico extremamente criterioso por uma
equipe que envolve psiquiatras, psicólogos, endocrinologistas, ginecologistas e
cirurgiões. Normalmente exige-se um período de pelo menos dois anos como um
período de teste, em que o indivíduo é submetido a tratamento hormonais e aconselhado
a viver como se fosse do sexo oposto, para se ter certeza de que se trata de um
transexual. Só assim será permitida a realização da cirurgia.
A Resolução CFM Nº 1.652/02, regula a cirurgia de mudança de sexo, autorizou
que hospitais públicos e privados, independentemente da atividade de pesquisa,
procedam à cirurgia de transgenitalização e/ou procedimentos complementares sobre
gônadas e caracteres sexuais secundários, como tratamento dos casos de transexualismo.
Em agosto de 2007, o TRF da 4ª Região em Porto Alegre, em sede de ação civil
pública, determinou ao S.U.S. que realizasse cirurgias de mudança de sexo. A Justiça
Federal deu prazo de 30 dias para que o SUS incluísse na sua lista de procedimentos
cirúrgicos tal cirurgia. A decisão abrangia todo o território nacional e, em caso de
descumprimento, o SUS teria que pagar multa diária de R$ 10 mil reais, no entanto,
logo em dezembro do mesmo ano, a Presidente do STF, Ministra Hellen Gracie,
suspendeu a obrigatoriedade do SUS de realizar a cirurgia de mudança de sexo, pois em
recurso interposto pela União foi argumentado que esses procedimentos poderiam
causar um rombo nos cofres públicos.

Segundo Maria de Fátima Freire de Sá, o pedido de alteração do prenome do


transexual após a cirurgia não possui fundamento legal, havendo inúmeros julgados que
negam provimento ao pedido de alteração do registro, argumentando que há ainda
prevalência do sexo biológico sobre o psíquico, o que justifica aplicar o princípio da
imutabilidade do nome da pessoa. Tal princípio, previsto no artigo 58 da Lei n.º
6.015/73, disciplina que “o prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua
substituição por apelidos públicos notórios”.

Hoje, a doutrina e a jurisprudência não vêm utilizando como regra absoluta o


artigo 58 da Lei mencionada. Pelo contrário, é possível perceber que os Tribunais
brasileiros têm autorizado a alteração do prenome no registro civil desde que a pessoa
tenha se submetido à cirurgia de mudança de sexo.
Quanto aos travestis que não se submeteram à mudança de sexo, existe a
possibilidade de utilizarem um nome social, que está sendo permitido aos poucos em
diversos locais. Uma resolução da Secretaria de Direitos Humanos foi publicada
no Diário Oficial da União no ano passado (2015), assegurando aos cidadãos trans e
travestis o uso do nome social nas salas de aula, respeitando a identidade de gênero. O
Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) deve aprovar até o próximo
mês uma resolução que permitirá a médicos travestis e transexuais do estado usarem o
nome social no exercício da profissão (Agosto – 2016). Entre outras conquistas, que
ajudam a fortalecer o reconhecimento da comunidade LGBT, bem como sua
identidade.
Dignidade da pessoa humana e a mudança de sexo. Disponível em:
<http://goo.gl/5z4w8l>. Acesso em 13 de Agosto de 2016.

Dignidade da pessoa humana e cirurgia de mudança de sexo: uma questão jurídica


e médico-cirúrgica. Disponível em: <https://goo.gl/9OFMju>. Acesso em 13 de
Agosto de 2016.

O transexual e as repercussões jurídicas da mudança de sexo. Disponível em:


<http://goo.gl/zD2Pif>. Acesso em 13 de Agosto de 2016.

Transexualidade/travestilidade na literatura brasileira: sentidos e significados.


Disponível em: <http://goo.gl/XKhfmp>. Acesso em 13 de Agosto de 2016.

Médicos travestis e transexuais vão poder usar nome social em São Paulo.
Disponível em: <http://goo.gl/axjmt5>. Acesso em 15 de Agosto de 2016.

Nome social é maior conquista para transexuais e travestis. Disponível em:


<http://goo.gl/se0S8f>. Acesso em 15 de Agosto de 2016.

Uma morte LGBT acontece a cada 28 horas motivada por homofobia. Disponível
em: <http://goo.gl/TqwwSZ>. Acesso em 13 de Agosto de 2016.

Fundamentos em prol da Criminalização da Homofobia e da Transfobia.


Disponível em: <https://goo.gl/8OiPaj>. Acesso em 13 de Agosto de 2016.

A Criminalização da Homofobia: uma pauta atual. Disponível em:


<https://goo.gl/8OiPaj>. Acesso em 13 de Agosto de 2016.

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