Antes de mais nada, vamos esclarecer uma dúvida muito
comum: existe ou não, de fato, casamento homoafetivo no Brasil? Para responder a essa simples pergunta, precisamos voltar em 2011. Naquele ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu que pessoas do mesmo sexo poderiam, sim, constituir uma família. Mas, até aquele momento, casais LGBTQI+ não possuíam nenhum direito referente ao casamento homoafetivo. Ou seja, não era exatamente um casamento, já que a lei vigente entendia que a constituição de uma família se dava apenas por casais formados por homens e mulheres. É importante salientar, aliás, que o reconhecimento do STF se deu através de muita luta social das partes interessadas. Uma grande conquista para a comunidade. Com a decisão, finalmente pessoas do mesmo sexo ganharam o direito de viver, a princípio, em regime de união estável. Mas, mesmo com a obrigatoriedade, cartórios por todo o país negavam o reconhecimento legítimo do regime, porque alegavam a falta de uma regulamentação oficial. É importante salientar, aliás, que o reconhecimento do STF se deu através de muita luta social das partes interessadas. Uma grande conquista para a comunidade. Com a decisão, finalmente pessoas do mesmo sexo ganharam o direito de viver, a princípio, em regime de união estável. Mas, mesmo com a obrigatoriedade, cartórios por todo o país negavam o reconhecimento legítimo do regime, porque alegavam a falta de uma regulamentação oficial. Foi então que em 14 de maio de 2013, através da Resolução 175, publicada pelo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o casamento homoafetivo passou a valer no Brasil.
AVANÇOS NOS DIREITOS
Perante a Justiça, casamentos hétero ou homoafetivos não diferem. Se acaso algum cartório se recusar em aplicar as regras estabelecidas pela resolução do CNJ, os casais podem levar o caso ao conhecimento do juiz corregedor competente para que ele determine o cumprimento da medida. Nessa hora, é importante ter a orientação de um advogado de família, que saberá como proceder corretamente. A autoridade que se negar a celebrar ou converter a união estável homoafetiva em casamento pode sofrer um processo administrativo, uma vez que estará desrespeitando uma ordem superior. Depois que casais homossexuais conquistaram o direito de se casar, passaram a usufruir de mecanismos legais que antes eram de exclusividade dos casais heterossexuais. Sendo assim, casais com pessoas do mesmo sexo têm todos os direitos e obrigações previstos em lei e firmadas no contrato, como a partilha de bens, herança de parte do patrimônio do cônjuge em caso de morte, participação em plano de saúde e pensão alimentícia, por exemplo. 3) O QUE AINDA NÃO MUDOU? Apesar de grandes avanços e das conquistas dos últimos anos, o direito ao casamento igualitário no Brasil ainda não garante- se em lei, apenas pela Justiça. Ou seja, no país, ainda não há nenhuma lei federal capaz de garantir direitos à comunidade LGBTQI+. Nesse meio tempo, em junho de 2019, o STF decidiu enquadrar homofobia e transfobia no crime de racismo até Congresso aprovar lei sobre o tema. Por ora, pouco foi feito. 4) O QUE É PRECISO PARA REALIZAR UM CASAMENTO HOMOAFETIVO? O casamento homoafetivo tem as regras de maneira idêntica as de um casamento heterossexual. Para dar entrada no casamento, o casal e duas testemunhas maiores de 18 anos podem comparecer ao Cartório de Registro Civil da sua região. A orientação, no entanto, é ir entre 30 e 90 dias antes da data prevista para a cerimônia. Essa antecedência é necessária para que seja realizada a habilitação para o casamento. Cabe lembrar que, caso haja impedimento do cartório em reconhecer a união, recomenda-se o auxílio de um profissional de Direito da Família. Nessa hora, é o advogado a pessoa mais preparada para lidar com as burocracias e possíveis problemas durante o processo. Os documentos necessários de cada membro do casal são: RG; CPF; Certidão de nascimento original; Comprovante de residência – água, luz ou telefone fixo (no nome da pessoa ou dos pais); Testemunhas devem ser alfabetizadas e levar o documento de identidade original e atualizado. Obs.: O RG e o CPF podem ser substituídos pela Carteira Nacional de Habilitação (CNH), contato que esteja na validade. Se um dos noivos for divorciado, deverá ser apresentar a Certidão de Casamento atualizada, com o registro do divórcio. Mas se um dos dois for já for viúvo, deverá apresentar a Certidão de Casamento e a Certidão de Óbito do cônjuge, atualizadas. A taxa de lavratura de assento de casamento é paga na ocasião e varia de estado para estado. O procedimento e documentos para converter a união estável em casamento são os mesmos, porém em alguns locais a cerimônia não é realizada. 5) O DIREITO AO CASAMENTO HOMOAFETIVO PODE SER REVERTIDO? A Justiça garante o direito do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Essa decisão só reverte-se caso o Congresso aprove uma lei que proíba o casamento homoafetivo. Mas, mesmo que crie-se essa lei, a jurisprudência e os acordos e tratados internacionais de direitos humanos derrubariam com facilidade a decisão. 6) QUANDO O CASAMENTO HOMOAFETIVO VAI VIRAR LEI? Há um projeto de lei (nº 612/2011), da senadora Marta Suplicy, que muda o Código Civil, retirando menções de gênero em relação ao casamento e à união estável. Para que o projeto de lei vire lei, é necessária a aprovação tanto do Congresso quanto do Senado, além da sanção do presidente do país.