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MULTIPARENTALIDADE HOMOAFETIVA

Responsável: Antônio Marcos Loureiro da Silva Filho

Olá,

Nesse episódio, abordaremos sobre a multiparentalidade homoafetiva. Não obstante, primeiro


devemos pincelar acerca do instituto da multiparentalidade, de maneira breve!

A multiparentalidade, nada mais é, do que a possibilidade de ter no registro civil a inscrição


de mais de um pai ou mãe, notadamente o pai registral (biológico) e o afetivo, ou seja, a
existência de duas paternidades coexistentes ou somatórias. . Essa filiação socioafetiva, está
concatenada ao princípio da afetividade, do melhor interesse ao menor e, em grosso modo,
vinculado à dignidade da pessoa humana. É ressaltar que não existe hierarquia entre a filiação
consanguínea em detrimento da socioafetiva, isto é, a norma pontifica o tratamento isonômico
entre as partes, uma vez que exercerão direitos e obrigações solidariamente.

Resta rememorar que esse instituto ainda não foi positivado, porém, seguindo os pressupostos
hermenêuticos, o STF referendou a aplicação dele, visto a inegável realidade fática da
sociedade. Portanto, no que concerne à conjugação matrimonial, o pretório excelso, também
chancelou a viabilidade da celebração marital entre casais homólogos, e, de forma expansiva,
dos demais espectros da comunidade LGBTQUIAPN+, haja vista que impera a
constitucionalização do Código Civil, cuja matriz deve ser reforçada, vislumbrando a
possibilidade das de mais famílias, entabuladas a partir do art. 226, da referida Carta, sejam
avalizadas. Por conseguinte, ainda que a Constituição Federal corrobore a celebração do
casamento, atualmente não é a única alternativa de constituição familiar.

Inobstante, resta inferir, portanto, que todos os efeitos jurídicos do casamento, bem como da
união estável, são assegurados aos casais homoafetivos. Logo, a aplicação da resolução
63/2017, do CNJ, busca suprir a omissão do Estado, cujo viés é exemplificar os requisitos
para o registro do infante e/ou infanto-juvenil, no seu caráter plúrimo. Contudo, embora os
cartórios de registros estejam obrigados a respeitar tal resolução, os casais homoparentais ou
advindas de relacionamento póstumo, gestadas através da família reconstituída, enfrentam
óbices intransponíveis na vertente extrajudicial, tendo que provocar o judiciário a fim de
salvaguardar tal direito.

Ademais, a parentalidade é moldada seguindo três critérios compositivos, são eles: o estado
de filiação (tratactus), posse do estado de filho (nominativo) e a valoração do afeto
externamente (reputatio). Além disso, o casal homoafetivo também pode recorrer às técnicas
de reprodução assistida, tendo sido autorizadas de forma expressa pela Resolução 2.121/2015
do Conselho Federal de Medicina, bem como após o nascimento registrar o infante no
Cartório de Registro Civil. Um caso inédito provém do estado do Mato Grosso, tendo em
vista que por meio do Provimento 54/2014 expedido pelo Tribunal de Justiça, estabelece a
dispensa do procedimento judicial, quando se tratar de casos de homoparentalidade.

Por fim, o reconhecimento da multiparentalidade se dá através da inclusão no registro de


nascimento, por sua vez incluindo o patronímico do pai ou mãe sociafetivo e permanecendo o
nome dos pais biológicos, algo impossível na adoção, cuja relação anterior será extinta de
maneira contumaz.

No entendimento da 3° Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, na apelação


n°20130610055492, de 03 de fevereiro de 2016, preleciona que: “o conceito de
multiparentalidade exsurge, pois, como uma opção jurisprudencial em favor do filho que
ostenta o vínculo de afetividade com o pai afetivo e com o pai registral, sem que se tenha de
sobrepor uma paternidade à outra. Não há crédito que possa definir preferência entre as duas
formas de paternidade, sobretudo, quando há vínculo afetivo do menor com o pai registral,
como em relação ao pai biológico”.

Em suma, o reconhecimento da multiparentalidade tece substancial condão referente às


obrigações legais para com o menor, sendo de fulcral relevância e, de maneira célere, citar
algumas implicações de foro cogente, sendo elas: o grau de parentesco alterado; alteração do
prenome dos apelidos de família; prestação alimentar; convivência com o filho em caso de
dissolução do casamento e também com os pais biológico, e não menos importante, a
incidência na sucessão, ao passo que a lei agasalha o tratamento isonômico entre os herdeiros
necessários, sendo estes havidos ou não durante o casamento ou união estável.

Em retrospecto, no que tange a homoparentalidade, pode-se considerar sua caracterização


pelo processo de adoção, sendo autorizada a habilitação de ambos os companheiros, pela
inseminação artificial, em caso de casal formado por duas mulheres, podendo optar pela
utilização do óvulo de quem irá gestar ou o material genético da parceira, e em caso de casal
masculino, tendo a opção de escolher pelo material genético de um dos parceiros, além da
escolha de quem irá gerar a criança, nestes casos a justiça vem admitindo o registro de
nascimento em nome de ambos; ademais há a possibilidade de um dos companheiros possuir
vínculos jurídicos com o filho do outro, sendo este proveniente de relação heterossexual
anterior. Deve-se considerar em todos os casos se o princípio do melhor interesse da criança,
paternidade responsável e planejamento familiar estão sendo observados, para que haja um
ambiente saudável para seu desenvolvimento.

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