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I - INTRODUÇÃO

O trabalho pelo qual nos propusemos tem como o tema central, “A União de Facto como
Forma de constituição de família á Luz do ordenamento jurídico Angolano”, a escolha do
mesmo é motivado por inúmeras razões que podem ser de ordem social, política e
educacional.
A questão social, foca-se principalmente no facto de a maior parte da população Angolana
viver em famílias baseadas em União de Facto, e a impossibilidade do seu
reconhecimento por mútuo acordo ter consequências principalmente para as mulheres que
muitas vezes são deixadas a deriva, muitas vezes com filhos e sem meios de subsistência
após o termo da convivência.
A questão política consiste no facto de o Código da Família no seu Artigo 116.º, permitir
o seu reconhecimento por mútuo acordo, a pedido dos interessados, situação que espera-
se ver resolvida com a aprovação do Decreto Presidencial 36/15, que regulamenta o
reconhecimento da União de Facto por mútuo acordo.
A questão educacional, baseia-se na importância de esclarecer que a União de Facto é
uma fonte das relações familiares e que, o facto de não haver casamento não lhes retira
sua dignidade. A família é a base da Sociedade como preceitua o art.º 35.º da Constituição
CRA.
Sendo a União de Facto uma das formas de constituição de família, pretendemos, ao longo
da pesquisa, mostrar no primeiro capítulo a Evolução da União de Facto, o concubinato
bem como a sua decadência e como se não bastasse a relevância do direito
consuetudinário. No segundo capítulo serão abordadas as principais classificações no que
concerne às relações parentais sócio-afectivas. No terceiro e último capítulo veremos
como vem sistematizada nas respetivas jurisdições e consequentemente, avaliaremos a
proteção jurídica para quem viva em união facto tal como os elementos que a reconheçam.
Anteriormente a forma natural de constituição de família foi sempre a União de Facto,
situação que se inverteu durante a idade média em que a Igreja se encontrava intimamente
ligada ao Estado e toda a união entre um casal que não tivesse como base o casamento
era vista como uma relacção pecaminosa, situação que se inverteu ao longo dos tempos.
Nos últimos tempos notamos que a sociedade angolana, tem optado em constituir família
em União de Facto, assim a formalidade do casamento civil tem sido cada vez mais
preterida. No entanto a maioria das pessoas não sabe diferenciar o que implica viver em
união de facto ou formalizar a união nos termos do casamento civil, sendo assim é preciso
chamar atenção a estas diferenças para que se possam evitar alguns dissabores no futuro
ou enganos por falta de conhecimento.

1.1. PROBLEMÁTICA DA PESQUISA


Neste trabalho, daremos respostas ao seguinte quesito:
 Quais os requisitos para que uma relação possa ser reconhecida e protegida
juridicamente como uma união de facto?

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1.2. OBJECTIVOS DA PESQUISA
1.3. Objectivo Geral
Elaborar com pendor à doutrina e a lei, uma pesquisa que venha contribuir para elucidar
as pessoas, do ponto de vista científico-jurídico, sobre União de Facto como forma de
constituição de família.
1.4. Objectivos específicos
Este trabalho, tem como objectivos específicos abordar o tema, União de Facto como
forma de constituição de família á luz do no ordenamento jurídico angolano sob várias
nuances:
1. Determinar quais os requisitos para que uma relação seja reconhecida juridicamente
como, União de Facto.
2. Elencar os pressupostos legais para o reconhecimento da união de facto
3. Abordar as formas de reconhecimento da União de Facto no Ordenamento jurídico
Angolano.

1.5. HIPÓTESES DA PESQUISA


H1: O reconhecimento da União de Facto produz os mesmos efeitos da celebração do
casamento. A União de Facto em Angola tem categoria constitucional e vem fixada no
artigo 35.º n.º 1 da Constituição da República de Angola, como a par do casamento, uma
forma de constituir família. Nesse caso, como refere Medina (2001, p. 121), o direito a
ter uma família envolve o direito da criança a ver estabelecida a sua filiação.
H2: Os pressupostos legais impostos pelo ordenamento jurídico angolano, para o
reconhecimento da União de Facto são os que estão expressos no artigo. 113.º, n.º 1 do
Código da Família de Angola.

1.6. JUSTIFICATIVA
Através deste tema procura-se elucidar as pessoas sobre a União de Facto como sendo
um tema de grande importância para toda a ciência Jurídica, pois visa elaborar uma
introdução à figura da união de facto, comparando-a ao casamento, explorando as suas
especificidades, a maior ou menor amplitude do reconhecimento de efeitos jurídicos.
Comparamo-la ao casamento, instituto base ao qual a união de facto se pretende
aproximar ou, inversamente, se pretende destacar.
O tema é pertinente, não só para alunos de direito no âmbito do estudo do Direito da
Família, quer consideremos a união de facto como geradora de relações familiares, quer
de relações para-familiares, como para qualquer cidadão que se virá confrontado com a
hipótese de uma eventual opção entre o instituto-regra, o casamento, que transporta
consigo um simbolismo particular, significados vários, concepções religiosas e mesmo
uma concepção de vida familiar determinada; ou a união de facto, uma figura que se tem
vindo a impor na sociedade, que tem vindo a merecer a sua progressiva aceitação.

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1.7. DELIMITAÇÃO DO TEMA
A análise da temática, versa sobre o estudo da união de facto como forma de constituição
de família ã luz do ordenamento jurídico angolano, e objectivamos limitar o campo desta
abordagem na união de facto e seus efeitos no regime jurídico angolano, porque devemos
especificar que o objecto de estudo é os efeitos jurídicos da união de facto.

1.8. METODOLOGIA
A Metodologia de pesquisa aqui utilizada foi a bibliográfica, e por conseguinte, a
principal fonte de colecta desta pesquisa é a leitura, análise e interpretação de livros, e
consulta da legislação vigente.

CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA


1. Evolução histórica da união de facto
A história da humanidade, assim como os estudos antropológicos sobre os povos e
culturas, esclarecem sobre o conceito de União de Facto, como é actualmente e como foi
nos tempos mais remotos. Mostra como foram e são hoje as variadas formas sob as quais
as Uniões de Facto evoluem e modificam-se, assim como são diversas as concepções do
significado social dos laços estabelecidos entre os indivíduos de uma sociedade.
Cronologicamente a figura da União de Facto e a sua aceitação social surgiu com maior
ênfase durante a Revolução Francesa, em face da nova mentalidade gerada pela mesma.
Mas como iremos verificar, a problemática da União de Facto iniciou-se há muitos
séculos atrás. Encontram-se referências sobre o tema em questão, bem antes do tempo do
Império Romano, na sociedade babilónica, como iremos ver, e até mesmo na Bíblia,
perspectiva sobre a qual não nos iremos debruçar. Porém, tais referências traduziam-se
em uniões voluntárias estabelecidas entre homens e mulheres à margem de certos
formalismos ou padrões criados pela sociedade, que nem sempre representavam o mesmo
que o casamento.
Um pouco por todo o lado, atribuem-se efeitos de direito à união de facto, entendida,
geralmente, como a comunhão de vida análoga à dos cônjuges, estabelecida entre duas
pessoas de, normalmente, sexo diferente.
Na obra de Geraldo Almeida encontramos referências da união de facto bem antes do
império romano, contudo, faremos apenas uma breve referência histórica, pois a nossa
maior preocupação num contexto histórico, prende-se em analisar os elementos para o
seu reconhecimento.
A união entre o homem e a mulher sempre existiu. A união livre (direito francês), também
conhecida como união estável (direito brasileiro), ou seja, a união não formalizada ou
casamento de facto, concubinato puro e impuro, não é uma realidade recente,
acompanhou desde sempre a história da humanidade.
No Direito Romano, cujas concepções do casamento e da dissolução da sociedade
conjugal tiveram profundas repercussões na cultura mundial, designavam por affectus ou
affectio maritalis, a intenção do marido de tratar uma mulher com dignidade de esposa.

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Ou seja, elevando-a ao seu nível e associa-la a todos os seus destinos, como se de marido
e mulher se tratassem. Supondo-se, por isso, que existiria entre ambos a convivência e
duração da vida em comum em que compartilhavam bens, ao concretizarem a nível social
aquela intenção. Era esta a assimilação quase completa, feita entre o casamento e o
concubinato com a diferença de que este último não era gerador de algum tipo de vínculo
jurídico. Embora que se afirme que a legalidade do concubinato era reconhecida entre os
romanos.
Na mesma obra de Geraldo Almeida, viu-se que o concubinato foi praticado na sociedade
babilónica. Refere o autor, que tal foi até objecto de atenção no Código de Hammurabi
(séc. XIX a.C.). A família babilónica tinha o casamento monogâmico como base, mas era
permitido o concubinato ou poligamia. Importa referir também que se um cidadão livre
casa-se com uma sacerdotisa, esta poderia oferecer ao marido uma escrava sua para
procriação, no caso de aquela estar impossibilitada. Os filhos daí resultantes tinham
direitos sucessórios, desde que fossem reconhecidos pelo pai. Após a sua morte, a escrava
concubina e os seus filhos seriam libertados.
Um outro procedimento ocorria de uma espécie de legitimação da relação de concubinato
entre a escrava e o seu patrono. Diante de testemunhas e atendendo determinadas
formalidades podia ainda este, declarar a escrava sua esposa atribuindo-lhe direitos
sucessórios.
Paul Veyne, define “concubina como uma mulher com quem um homem, casado ou não,
dormia habitualmente”. A palavra concubina tinha inicialmente, um sentido pejorativo
perante a opinião pública, posteriormente, condescendente para com os casos de
concubinato durável e exclusivo, a maneira de um casamento, e em que apenas a
inferioridade social da mulher impedia o homem de transformar tal ligação em núpcias
legítimas, o concubinato passou a ter relevância paralela ao casamento.
Kaser por sua vez, tem a mesma linha de pensamento que Paul Veyne, e define
concubinato como uma comunidade permanente de vida e de sexo entre homem e mulher,
não reconhecida como matrimónio.
Em suma, concubinato, segundo Geraldo Almeida, não é definido por si. Nenhuma das
noções propostas deve ter-se por suficientemente compreensiva.
Se é certo que no Direito Romano não podiam contrair matrimónio juridicamente válido
as pessoas relativamente às quais não havia connubium, não se pode, contudo, extrair
daqui o raciocínio segundo o qual onde há connubium há casamento e onde não
connubium há concubinato. Muitas situações se verificaram de existência de concubinato,
não obstante a presença de connubium, o que facilmente se compreende tendo em conta
o papel preponderante da affectio maritalis. Ou seja, a falta de manifestação da intenção
do “marido”, da vontade efetiva de contrair matrimónio, em que se traduz a affectio pode
caraterizar uma situação de concubinato não obstante a existência de connubium.
Contudo, a simples ausência de affectio na relação entre um homem e uma mulher não
basta para caraterizar uma situação de concubinato.
No final do Império Romano, já no século IV, com o advento do cristianismo e sob o jugo
dos imperadores cristãos, Rousselle refere que se estabeleceram proibições de uniões
entre pessoas de estatutos diferentes, daí que uma mulher livre que se unisse ao seu

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escravo seria condenada a morte pelo fogo ou receberia vergastadas. Se um cristão se
unisse com uma judia ou vice-versa, e os que se unissem a bárbaros sofreriam as mesmas
sanções penais. Do que era, uma impossibilidade de casamento legítimo e que tornava os
esposos concubinos, tornou-se passível de sanções.
As medidas preconizadas pelos imperadores cristãos com vista a fazer desaparecer as
relações sexuais fora do casamento tornando o concubinato num casamento de grau
inferior não vingaram. Como tal, o concubinato foi extinto, como instituição jurídica, pela
Novela, expedida pelo imperador Leão – o filósofo.
Em sua obra GERALDO Almeida1, nos ensina como a união de facto era importante na
Babilónia, refere o autor que tal foi objecto de atenção no Código de Hammurabi de 2285
a 2242 d.C. A família babilónica tinha o casamento monogâmico como base, mas era
permitido o concubinato2 ou poligamia.
Aquele código de Hammurabi refere que se um cidadão livre awílum4 casar com uma
sacerdotisa naditum, esta poderá oferecer ao marido uma escrava sua para procriação. Os
filhos daí resultantes tinham direitos sucessórios, desde que reconhecidos pelo pai. Após
a sua morte, a escrava concubina e os seus filhos seriam libertados.
O progenitor poderia ainda legitimar formalmente, perante testemunhas, a relação de
concubinato com a escrava, tornando-a sua esposa, e dando direitos sucessórios aos filhos
da concubina6. Outras relações de concubinato estão previstas naquele código com o
intuito de as sancionar, em particular se forem de índole incestuosa (entre pai e filha,
sogro e futura nora, mãe e filho, enteado e madrasta).

1.1. Concubinato no Direito Romano


No Direito Romano, paelex é a palavra mais antiga que designa as relações conjugais fora
do casamento, assumindo outras formas, sinónimas, como palex e pallaca. Seu
significado tem, essencialmente, dois sentidos: lato e restrito. No sentido lato, Paelex
equivale às relações fora do casamento, no sentido restrito, refere-se à relação conjugal
entre homens casados e uma mulher solteira.
Na República romana entraram em uso as palavras concubina e concubinatos, esta última
utilizada para definir qualquer relação não matrimonial. Mais tarde, como se irá verificar,
os imperadores cristãos tentaram extinguir as relações conjugais fora do casamento, pelo
que o concubinato passou a designar um matrimónio de grau inferior.
Contubérnio contubernium caracterizava a relação conjugal entre um homem livre e uma
escrava; entre dois escravos; entre dois libertos, cuja relação houvesse iniciado antes da
alforria.
GERALDO Almeida refere outras distinções tais como: amica, meretrix e scortum que
pertencem à categoria das relações extra matrimonial.
Por sua vez, ALINE Rousselle, entende que existiam pessoas honradas e infames, tal
distinção assenta num critério sexual e de liberdade de costumes, acrescentando que nos
infames se incluíam os que pertenciam ao meio do teatro, do circo e da prostituição. Tal
infâmia interditava o direito ao casamento legítimo e à transmissão hereditária de uma
capacidade cívica completa, ou seja, da cidadania romana.

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O Cristianismo dava importância à pureza das mulheres e admitia o direito romano do
casamento as concubinas eram aceites desde que tivessem tido apenas um homem e de
terem guardado todos os filhos.
Kaser (1999), define concubinato como uma comunidade permanente de vida e de sexo
entre homem e mulher, não reconhecida como matrimónio. Veyne (1989, p. 8), define
“concubina como uma mulher com quem um homem, casado ou não, dormia
habitualmente”.
A palavra concubina tinha inicialmente, um sentido pejorativo perante a opinião pública,
posteriormente, condescendente para com os casos de concubinato durável e exclusivo, a
maneira de um casamento, e em que apenas a inferioridade social da mulher impedia o
homem de transformar tal ligação em núpcias legítimas, o concubinato passou a ter
relevância paralela ao casamento.
Concubinato, segundo Almeida (2012), não é definido por si, nenhuma das noções
propostas deve ter-se por suficientemente compreensiva, se é certo que no Direito
Romano não podiam contrair matrimónio juridicamente válido as pessoas relactivamente
às quais não havia connubium, não se pode, contudo, extrair daqui o raciocínio segundo
o qual onde há connubium há casamento e onde não há connubium há concubinato.
Muitas situações se verificaram de existência de concubinato, não obstante a presença de
connubium, o que facilmente se compreende tendo em conta o papel preponderante da
affectio maritalis. Ou seja, a falta de manifestação da intenção do “marido”, da vontade
efectiva de contrair matrimónio, em que se traduz a affectio pode caraterizar uma situação
de concubinato não obstante a existência de connubium. Contudo, a simples ausência de
affectio na relação entre um homem e uma mulher não basta para caraterizar uma situação
de concubinato. Em Roman paelex é a palavra mais antiga que designa as relações
conjugais fora do casamento.
Naquela República entraram em uso as palavras concubina e concubinatos, esta última
utilizada para definir qualquer relação non matrimonii causa. Eram atribuídos efeitos de
direito não só relactivamente aos filhos nascidos das relações concubinárias, mas também
relactivamente à própria concubina que assumia, por vezes, o título de matrona ou de
materfamilias, podia ser acusada, publicamente, de adultério e, ainda que limitado,
gozava do direito de sucessão mortis causa.
Almeida (1999, p. 117), acrescenta que, outros romanistas definiram o concubinato como
a “relação entre o homem e a mulher na qual não existe connubium”, ou como “a relação
estável entre um homem e uma mulher sem a affectio conjugale ou sem a affectio
maritalis ou sem o honor matrimonii”. Posteriormente, com a vitória do cristianismo, os
imperadores cristãos tentaram extinguir as relações conjugais fora do casamento, pelo
que o concubinato passou a designar um matrimónio de grau inferior ao qual eram
atribuídos efeitos jurídicos.
1.2. Motivos e Decadência do Concubinato
O concubinato não era sempre o substituto de um casamento impossível, nem uma relação
monogâmica. Um homem podia ser casado e ainda assim tomar uma concubina.

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Alguns autores descrevem o sacrifício e as consequências de múltiplas gravidezes para
as mulheres romanas. Estas evitam engravidar, isto é, aprendiam a conter-se, tanto mais
quando pertencessem à alta sociedade, já que os homens não o faziam.
Um marido uxórios tal como o débito conjuga no casamento era perigoso, além de raro,
tão raro como os casais fecundos que o Imperador Augusto exibia para encorajar a
manutenção demográfica das cidades. Pretendia-se que as esposas dessem à luz uma
considerável prole de filhos legítimos, mas sem que manifestassem desejo pelos maridos,
limitando a relação daquelas com estes à procriação.
Considerando tudo isto, PLUTARCO, filósofo convicto de que para alcançar a felicidade
e a paz é necessário refrear paixões, aconselhava que a esposa suportasse que o marido
tivesse relações com uma concubina ou com uma escrava. Na alta sociedade romana, e já
desde a República, as esposas não viam inconveniente nestas relações e, não raras vezes,
escolhiam as concubinas.
PAUL Veyne, diz-nos ainda que, ao contrário das núpcias legítimas, o concubinato não
tem consequências de direito, apenas confere honradez pela sua estabilidade e
monogamia. As crianças que nascessem de um concubinato digno, cuja mãe fosse liberta,
seriam livres. Mas como estas não eram casadas, seriam bastardas, ficariam com o nome
da mãe e herdariam desta e não do pai natural. Mas e se um patrono desposasse em
núpcias legítimas a sua concubina?
Ao contrário de PAUL, ROUSSELLE, diz-nos que Roma tinha criado um direito do
concubinato ou seja, as concubinas tinham obrigações, tal como as esposas, a idade
exigida para uma ligação oficial era de doze anos, e tal deveria se pautar pela fidelidade
obrigatória da mulher concubina, e que restringia a possibilidade de separação por
iniciativa de uma liberta, possibilidade de que a escrava estava privada.
Além disso, as mulheres libertas entravam na cidadania, seriam mulheres honradas
romanas, e podiam transmiti-la aos seus filhos nascidos livres.
Na realidade, além destas famílias compostas pelo homem, concubina e seus filhos,
poderiam existir outras combinações entre um homem, e as suas servidoras.
Considerando que o esclavagismo era muito comum no Império Romano, era vulgar que
da união do senhor com as suas escravas resultassem filhos, que jamais seriam
reconhecidos como tal. Estes poderiam ser educados como benjamins da casa, enquanto
crianças escravas. Poderiam ser libertos mais tarde, sem qualquer justificação. Os filhos
das escravas nesta situação entravam na cidadania.
No final do Império Romano, já no século IV, com o advento do cristianismo e sob o jugo
dos imperadores cristão, se estabeleceram proibições de uniões entre pessoas de estatutos
diferentes. Uma mulher livre que se unisse ao seu escravo seria condenada à morte pelo
fogo ou receberia vergastadas. Se um cristão se unisse com uma judia ou vice-versa, e os
que se unissem a bárbaros sofreriam as mesmas sanções penais. Do que era, uma
impossibilidade de casamento legítimo e que tornava os esposos concubinos, tornou-se
passível de sanções.
A Igreja Cristã não provocou isto, apenas fixava regras de pureza das uniões, por
exemplo, através de recomendações em sermões.

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O Cristianismo dava importância à pureza das mulheres e admitia o direito romano do
casamento. As concubinas eram aceites desde que tivessem tido apenas um homem e de
terem guardado todos os filhos. Os homens deviam mandar embora as suas concubinas e
tomar uma esposa legítima.
O direito do império ratificou assim a ideia de que o concubinato não era honrado e lesava
os direitos da esposa sobre o marido. Simbolizava uma vitória do amor exclusivo e derrota
da protecção das mulheres de condição superior.
Mais tarde, verificou-se uma supressão do concubinato legal. Admitia- se a legitimação
dos filhos nascidos de uma concubina desde que o pai não fosse casado, e durante a
governação do Imperador Constantino proibiu-se a manutenção de uma concubina por
parte de homens casados, a adopção do filho de uma concubina sem autorização e assistiu-
se ainda à restrição de liberalidades às concubinas e aos seus filhos.
Os maridos viram-se obrigados a apoiar-se em relações extra matrimoniais muito
passageiras o que não é concubinato e a terem relações mais frequentes com as suas
esposas. (ROUSSELLE, 1993, p.398).

1.3. Relevância do direito consuetudinário


De acordo com Medina, “o facto de coexistirem no mesmo país diversas etnias com usos
e costumes diferentes, ainda que de um ponto de vista cultural possa ser bastante
enriquecedor, por outro lado, pode tornar-se num elemento desagregador do novo Estado,
suscetível de fazer reavivar o tribalismo, travando o processo necessário à coesão política
da nação”.
Sendo Angola um país com fortes hábitos e costumes achou-se necessário reconhecer o
costume na Constituição da República, no seu art. 7.º “Costume” onde é reconhecida a
legitimidade e força jurídica do costume desde que tal prática não vá contra a Constituição
nem a dignidade da pessoa humana.
Com o reconhecimento do “costume” o legislador angolano abriu comportas permitindo
que cada etnia em Angola celebre os seus costumes consoante os hábitos e costumes
vigentes na sua etnia ou região e sobre tutela das autoridades tradicionais.
A realidade social angolana é caraterizada pela presença maioritária de valores e
referências espirituais da cultura tradicional africana, a que se sobrepõem valores e
referências da cultura ocidental de importação. A tudo isto acresce a influência dinâmica
da globalização cultural universal.
Por força da referida combinação cultural, existem dois grandes tipos de organização
familiar na sociedade angolana: família tradicional e família do tipo europeu. A família
tradicional é em regra extensa, podendo ser poligâmica. Este tipo de organização é
originário e inerente ao sistema cultural tradicional angolano, em todas as suas vertentes
regionais e locais.
Nas famílias estruturadas de acordo com o sistema tradicional, em regra os processos de
casamento, paternidade e de hereditariedade obedecem ao princípio uterino de linhagem.
Segundo os critérios que presidem a este tipo de linhagem, os membros das famílias a

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que pertence cada um dos cônjuges são os que resultam dos laços uterinos anteriores ao
casamento.
A família organizada de acordo com os padrões da cultura europeia constitui o tipo de
família de referência legal em Angola. Como tal, as soluções jurídicas para os factos e
processos familiares que encontramos têm no sistema jurídico romano-germânico e na
visão cristã o seu modelo inspirador.
O estudo do direito costumeiro angolano, assume importância por duas razões
fundamentais: por um lado, possibilita o conhecimento aprofundado do comportamento
social do povo, por outro lado, proporciona o enriquecimento que pode advir de alguns
dos seus princípios. Seria contrariar a verdade, afirmar que o direito costumeiro tenha
deixado de vigorar em Angola, pois, é indesmentível a sua força e persistência não só
pelas suas raízes culturais entranhadas nas comunidades, mais ainda em razão dos
privilégios que ele outorga a certos membros da família que dos mesmos não querem
abdicar.
O direito consuetudinário mesmo dentro de Angola tem varia de região para região,
dependendo do grupo étnico em que se esteja inserido, o direito consuetudinário tem por
vezes aspectos que ferem a dignidade, a liberdade e a decisão da mulher. E por fim, o
direito consuetudinário tem, contudo, aspectos muito dignificantes para a mulher, como
é o caso de condenar severamente a agressão física à mulher e mais severamente se essa
agressão for da cintura para baixo que é a região onde se situa o aparelho reprodutor da
mulher. (MEDINA, 2000).
O direito consuetudinário tem, contudo, aspetos muito dignificantes para a mulher, como
é o caso de condenar severamente a agressão física à mulher e mais severamente se essa
agressão for da cintura para baixo que é a região onde se situa o aparelho reprodutor da
mulher.

CAPÍTULO II – A UNIÃO DE FACTO COMO RELAÇÃO FAMILIAR


2. Evolução da Família
Talvez nenhum elemento social seja tão universal quanto a família, ambiente onde os
indivíduos aprendem a comer, falar, andar, adquirem sua identidade e modos de
comportamento, pois todas as culturas, sejam do passado ou do presente, trazem em seu
conjunto esse organismo. Mostrase, contudo, impossível conceituar a família de forma
universal, perene e absoluta, pois sua estrutura depende directamente da cultura social,
do regime político, do sistema econômico e da religião existentes em um determinado
lugar e tempo. (LOBO, 2004, p. 16).
Em razão disso, sua análise fascina diversos ramos das ciências sociais, como a
antropologia, a sociologia, a psicologia e o próprio direito, sua estrutura está em constante
alteração e é produto da história humana, sujeitando-se a todas as suas evoluções e
revoluções, sendo possível afirmar, contudo, que a família moderna ocidental tem suas
raízes na família medieval, a qual, por sua vez, sofreu directa influência dos romanos e
dos bárbaros. Embora não seja possível precisar quando e como se originou a família, é
certo que, ao longo dos tempos, variaram suas formas, o número de seus membros, os
modos de exercício de autoridade, os direitos e deveres de cada componente.

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Segundo Lobo (2004), não se pode falar em origem da família moderna sem fazer
referência ao direito romano e o primeiro problema encontrado é a ambiguidade da
própria palavra família, que nos textos romanos também era empregada na acepção de
herança, patrimônio e conjunto de escravos além de destinar-se a pessoas ligadas por um
vínculo de parentesco.
A família romana, no direito pré-clássico, era fundada no casamento e rigidamente
patriarcal, gozando de relactiva autonomia em relação ao Estado, que não interferia nas
questões surgidas em seu âmbito, tratadas e decididas pelo pater familias, que possuía
poder de vida e morte sobre os filhos.
A potestas exercida pelo pater familias enfraqueceu no período clássico, em decorrência
da decadência da família proprio iure, da importância progressiva da família natural,
fundada no casamento e no parentesco consanguíneo, e na intervenção maior do Estado,
com a introdução de leis destinadas à regulamentação das relações familiares. Essa
tendência continuou no período pós-clássico, culminando no direito justinianeu com o
triunfo do parentesco cognatício sobre o agnatício abolido, e com a possibilidade de
aquisição de propriedade individual pelos filhos.
Na Grécia antiga, a família era similar à dos romanos, girando em torno do culto aos
ancestrais e também assentada firmemente sobre o casamento.
Com a finalidade de impedir que as famílias se extinguissem e com isso a religião, havia
leis proibindo o celibato e punindo aqueles que não se unissem formalmente, uma vez
que os filhos ilegítimos não poderiam herdar nem dar continuidade ao culto. (LOBO,
2004).
A função da família entre os povos bárbaros não era tão diferente daquela existente em
Roma em seus estágios iniciais. Cuidava-se da unidade básica da sociedade, seja
econômica e socialmente, quanto nos aspectos jurídicos e religioso, as famílias
agregavam-se em grupos, chamados Sippe, aparentemente fundados por um indivíduo de
renome e que duravam algumas gerações, ocupando um território determinado em regime
similar ao dos senhores feudais.
Os bárbaros possuíam um equivalente ao pater familias, o mundium, que detinha
autoridade equiparável, mas com a diferença de que os filhos homens adquiriam
independência com a maioridade.
As transformações sociais e econômicas desses povos resultaram na família medieval
ocidental, com firmes origens nos modelos romano e bárbaro.
Ao final do império romano, os campos europeus eram dominados por grandes latifúndios
com mão-de-obra escrava, situação que se alterou por volta do ano 700, quando foram
substituídos por pequenas fazendas operadas por famílias, inicialmente servos de um
senhor feudal que, posteriormente, passaram a homens livres, a colonização de terras
desconhecidas também contribuiu para que o lar familiar passasse a ser a unidade
econômica básica da agricultura. (LOBO, 2004).
A influência do cristianismo, por sua vez, foi determinante para a formação de um novo
conceito de família, em que se abominava a poligamia e o incesto, firmando-se o
casamento como fonte da família legítima, razão pela qual a Igreja institui regras cada

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vez mais severas sobre impedimentos matrimoniais, por entender o casamento como
sacramento portanto indissolúvel e a única forma admissível perante Deus de manutenção
de relações sexuais, todas as demais relações entre homens e mulheres, estáveis ou não,
deveriam ser desconsideradas.
A presença católica na sociedade contribuiu, ainda, para a redução da influência paterna,
uma vez que se exigia o consentimento de ambos os nubentes para o casamento, bem
como foi determinante no processo de resgate da mulher como pessoa capaz de externar
sua vontade, pois homens e mulheres seriam moralmente iguais perante Deus. Esse
processo já se iniciara no direito romano, uma vez que a celebração do casamento
dependia de expressa manifestação do consentimento feminino, independentemente de se
tratar de casamento cum manu ou sine manu.
Por hoje, a família resulta mais exclusivamente do matrimônio e, com a repersonalização
das relações familiares, deve ser analisada à luz dos laços afectivos entre seus membros,
destina-se, portanto, ao desenvolvimento e à busca da felicidade de cada um de seus
integrantes, pois, é núcleo de construção da identidade do sujeito. (CASABONA, 2004,
p. 383).
Acrescente-se que boa parte das mudanças sofridas no seio da família derivou da própria
alteração da natureza do casamento que, com a Reforma Luterana e a Revolução
Francesa, passaram a interessar directamente ao Estado, operando-se a secularização do
instituto e abrindo-se espaço para o aumento da ingerência estatal em assuntos que antes
eram essencialmente privados ou religiosos, deve-se ressaltar que, embora a família
moderna possua traços similares ao da família natural romana, até o século XVIII o termo
família não se destinava à qualificação do núcleo pai-mãe-filhos e sim daqueles que
viviam em uma mesma casa, incluindo os empregados e escravos, o que significava um
grupo relactivamente grande de pessoas, em geral sem vínculo consanguíneo. (LOBO,
2004).
Com o passar do tempo, tais atribuições foram sendo gradualmente transferidas para o
Estado, a Igreja e o mercado, em consequência, a família sofreu nuclearização
progressiva, bem como houve o enfraquecimento da figura paterna autoritária.
Em primeiro lugar, tinha-se a família patriarcal, atualmente conhecida como família
indivisa, na qual os filhos permaneciam com ou próximos do pai, que continuava a
exercer sua autoridade sobre eles e seus descendentes.
Havia, ainda, a família tronco, em que o pai possuía o controlo sobre a transmissão da
propriedade, atribuída ao filho mais velho que, mesmo casado, permanecia com os pais,
pois herdava o patrimônio paterno e passava a administrá-lo, enquanto o restante da prole
recebia apenas um legado, estabelecendo-se por conta própria. Tal forma de estrutura
familiar existia principalmente na Inglaterra, com suas leis de herança pelo primogênito.
(LOBO, 2004).
Por fim, identificou-se a família instável, própria da classe trabalhadora europeia,
caracterizada pelo autor como egoisticamente individualista, pois colocava acima dos
valores tradicionais a intimidade e os sentimentos de seus membros.

11
Tal estrutura representava uma família formada a cada casamento, ampliada pelo
nascimento de filhos e reduzida pela saída posterior desses do lar comum e formação de
novas famílias, extinguindo-se com o falecimento do casal inicial.
Actualmente, a família é considerada como grupo fundamental da sociedade e ambiente
natural para o crescimento e bem-estar de todos os seus membros, conforme Convenção
Internacional sobre os Direitos da Criança. Por esta razão, reiteramos que sua análise
fascina diversos ramos das ciências sociais, como a antropologia, a sociologia, a
psicologia e o próprio direito
O afecto passa a ser essencial na formação de relações familiares, criando-se o conceito
de parentesco socioafectivo, poder-se-ia reconhecer, portanto, a filiação socioafectiva,
pois o elemento material da filiação não é tão só o vínculo de sangue, mas a expressão
jurídica de uma verdade socioafetiva captada juridicamente na expressão posse de estado
de filho, ou seja, o facto necessário à formação do vínculo de parentesco não é apenas
biológico, mas social, revelado no tratamento dado pelos pais ao “filho” perante o grupo
social e, principalmente, nas esferas psicológica e afectiva. (FACHIN, 2003, p. 24).

2.1. Aspectos sociológicos da família


A família é a célula fundamental da sociedade, pois a ela agrega novos membros; forma
a sua personalidade; transmitem valores essenciais da convivência civil e social, como a
dignidade, a confiança mútua, a liberdade, o diálogo, a solidariedade, a obediência e
respeito à autoridade. Uma família desestruturada é uma ameaça tremenda para a
sociedade.
Atualmente, em Angola a união de facto está constitucionalmente consagrada no artigo
35º, n.º1, da Constituição da República Angolana, como uma das formas legais previstas
para constituir família dispondo deste modo, quem viva em união de facto, especial
proteção do Estado. Porém, esta situação resulta de um quadro diferente, pois o instituto
da união de facto naquele sistema, faz parte da experiência do povo e como tal foi retirado
do direito consuetudinário, que como verificámos, tem grande expressão.
A família influência em medida notável nas escolhas dos indivíduos em muitos âmbitos:
conquistas, carreira profissional, emprego do tempo livre, amizades e relações sociais em
geral, na maioria das vezes desenvolve uma acção social directa através de
empreendimentos familiares, envolvimento na escola, participação em associações,
promoção humana considerando-se que a vida social é algo fundamental à existência e
sobrevivência dos seres humanos enquanto indivíduos, é na família que se dá início ao
processo de socialização, educação e formação para o mundo.
Os grupos familiares caracterizam-se por vínculos biológicos, mas a sua constituição ao
longo da história em todos os agrupamentos humanos não se limitou apenas ao aspecto
da procriação e preservação da espécie, mas tornou-se um fenómeno social.
As famílias são consideradas grupos primários, nos quais as relações entre os indivíduos
são pautadas na subjectividade dos sentimentos entre as pessoas, fato que justifica, muitas
vezes, o amor existente entre pais e filhos adoptivos, logo sem relação consanguínea.

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Assim, os laços que unem os indivíduos em família não se sustem pela lógica da troca,
da conveniência do relacionamento a partir de um cálculo racional como que em um
contrato no mundo dos negócios em que cada parte vê vantagem na relação existente,
constituindo um grupo formal. Ao contrário, a família é um grupo informal, no qual as
pessoas estão ligadas por afecto e afinidade, e que por conta deste sentimento criam
vínculos que garantem a convivência (em um mesmo local de residência, por exemplo),
além da cooperação económica.
Na modernidade tende-se a por de parte a consciência do papel social da família em
detrimento da sua importância privada de carácter afectivo, mas pouca importância na
sociedade e para a sociedade não lhe é assegurada o necessário apoio jurídico, económico,
assistencial e cultural, falta-lhe protecção do estado a mobilidade social cada vez mais
rápida dificulta a aceitação de um relacionamento conjugal definitivo e favorece a
permissividade sexual e as uniões provisórias não legalizadas. Confinadas no privado,
fechada no isolamento afectivo, a relação conjugal acaba por se tornar mais pobre e frágil.
Não sustentado adequadamente no plano económico e cultural, o casal reduz ao mínimo
os novos nascimentos, dando lugar a uma preocupante crise demográfica, principalmente
nos países desenvolvidos.
É necessário redescobrir e valorizar plenamente o papel da família, comunidade
intermediária entre indivíduo e sociedade.
É preciso solicitar sua responsabilidade e apoiar seu compromisso especialmente no
campo educativo e assistencial.
A política deveria voltar-lhe uma atenção privilegiada e servi-la com iniciativas de apoio
e de integração.
Hoje as iniciativas de maior relevo poderiam ter os seguintes conteúdos: tutela da vida e
apoio à maternidade ajuda económica às famílias com filhos, facilidade na aquisição da
casa própria, organização do trabalho que respeite as exigências da vida familiar,
equidade fiscal com base nos encargos familiares, organização da escola de modo que as
famílias tenham efectiva liberdade de escolha e possibilidade de participação,
estruturação dos serviços assistenciais de tal forma que envolva as famílias,
especialmente em relação aos deficientes e idosos.
Valorizar a família significa prevenir muitos males da sociedade. Uma política para a
família é uma política para a liberdade na solidariedade em favor de todos.
Émile Durkheim, considerado um dos propulsores da sociologia francesa, considerava a
família como sendo uma instituição de fulcral importância para a sociedade, e defendia a
supremacia dos interesses da sociedade sobre os interesses individuais, bem como a
supremacia do Estado sobre as famílias.
Como grupo social a família é nas sociedades modernas industriais, a pequena família,
ou seja, normalmente, a família conjugal, constituída pelo cônjuge e pelos filhos menores,
a pequena família apresenta-se outras vezes como “família incompleta” é o caso do
cônjuge viúvo e os filhos, a mãe solteira e o filho natural.

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2.2. A união de facto no ordenamento jurídico angolano de 1916.
O ordenamento jurídico angolano, inspirou-se no português que bebeu do Direito
Romano alguns dos seus fundamentos como por exemplo: O patriarcalismo que foi
reproduzido no Código Civil de 1916. O Código Civil de 1916 regulava a família do
início do século passado, constituída unicamente pelo matrimônio.
Em sua versão original, trazia uma estreita e discriminatória visão da família, limitando-
a ao grupo originário do casamento impedia sua dissolução, fazia distinção entre seus
membros e trazia qualificações discriminatórias às pessoas unidas sem casamento e aos
filhos havidos dessa relação. Esta família, decorrente do casamento, era denominada de
legítima o que estava conforme a lei, composta por marido, mulher e filhos, ou em
algumas situações por ascendentes ou seja, os avós.
O casamento tinha como pressuposto a virgindade da mulher, sendo que o defloramento
desconhecido pelo marido era tido como erro essencial sobre a pessoa (art.º 219 CC/1916)
possibilitando a anulação do casamento (art.º 220 CC/1916).
Os demais núcleos familiares, ou seja, os que não se enquadravam neste perfil, eram
denominados de ilegítimos, o que já demonstra o preconceito atribuído e uma noção
implícita de certo e errado. Assim, aqueles que não se enquadravam no perfil daquele
código, eram tidos como marginalizados e recebiam tratamento diferenciado. Ressalta-se
que nem os filhos eram poupados por esse tipo de discriminação, pois também eram
denominados de legítimos e ilegítimos conforme fossem oriundos ou não do matrimônio.
Com o advento reformista da Constituição de 1991/1992, como bem diz a professora
MEDINA, instaurou-se os princípios fundamentais respeitantes a família bem como a
igualdade entre o homem e a mulher, passando a proteger os membros da família, bem
como a família constituída pelo casamento e a união estável. Consagrou a igualdade entre
os filhos, havidos ou não do casamento, ou por adopção, garantindo-lhe os mesmos
direitos e qualificações.
Podemos notar que o nº 1 do art.º 29º da lei no 23/92 vai reconhecer à família como núcleo
da organização da sociedade e como tal, terá especial protecção do estado, segundo, refere
que quer se funde em casamento ou em união de facto.
Esta é a posição acolhida também pela atual constituição nos termos do art.º 35º nº1,
atribuindo ao estado a obrigação de permitir aos seus cidadãos uma vida familiar estável
ou normal, garantindo deste modo a lei igualdade entre homens e mulheres (no 3 do art.º
35º), conferindo-lhes os mesmos deveres no seio familiar.
Ainda há que salientar, que em nosso direito moderno, não apenas é reconhecido o
casamento e a união estável, como facto constitutivo de uma entidade familiar, mas
também outros modelos de família.
Nesta senda, importa ter-se em conta que o actual código da Família, preocupou-se
reconhecer alguns institutos tirados do direito costumeiros, aproveitando o que de rico
nos ensinou a experiência dos povos africanos, é nesta direcção notória que referimos a
união de facto pela sua preponderância na nossa realidade social.

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Assim sendo, o Direito de Família na atualidade não tem mais por objecto à família
legítima, pois a evolução dos tempos impôs a reconsideração e a ênfase dos aspectos
sociais e afectivos. Como consequência disso a Constituição através do §1), 5) art.º 35,
reconheceu outros modelos de família que não apenas os oriundos da relação de
casamento (como a união estável, o núcleo composto por um dos genitores e seu filho e
os casais que já possuem filhos e unem-se em união estável formando um novo núcleo
familiar), aplicou o princípio da isonomia aos cônjuges, igualando-os, e proibiu qualquer
discriminação de tratamento entre os filhos, pouco importando a sua origem, posição
confirmada pelo Cód. Fam. que prevê, ainda outros modelos de constituição familiar qual
seja pelo parentesco, pelo casamento, pela união de facto, pela adopção e pela afinidade
nos termos do art.º 7 o Cód. Fam.
2.3. Família no Período Colonial e Pós - colonial
A professora Medina, ensina-nos, na sua obra que a estrutura da sociedade colonial no
campo do direito de família estabelecia o princípio da diferença de estatutos jurídicos: de
um lado, o estatuto dos cidadãos de pleno direito (que eram os colonizadores e escassos
«assimilados»); de outro lado, o estatuto do denominados «indígenas». Era assim
aplicado um duplo sistema legal, pois os primeiros cidadãos de pleno direito, estavam
sujeitos às normas de direito escrito privado no que concerne ao direito de família,
enquanto que os segundos, os indígenas, regiam-se pelo direito costumeiro, limitado
embora pelos princípios fundamentais do sistema jurídico vigente.
A verdade, porém, é que no período colonial os princípios de ordem pública vigentes
incidiam principalmente sobre a proteção dos interesses políticos e económicos do
colonizador e, tanto quanto as estruturas familiares não colidissem com aqueles
interesses, foram mantidas intactas, tal como ocorreu com a poligamia, o casamento sem
o consentimento da mulher.
O primeiro Código Civil português, conhecido por Código de Seabra, publicado em 1867
e tornado extensivo às colónias em 1869, mandava relativamente a Angola, ressalvar os
usos e costumes das regedorias, além de mandar aplicar transitoriamente legislação
especial (Decreto de 18 de Novembro de 1869, arts. 3º e 8º).
Com o deflagrar da luta armada de libertação nacional, foi ainda assim mantida a
dualidade de estatutos de direito pessoal, que se passaram a designar como Estatuto do
Direito Escrito e Estatuto dos Usos e Costumes Locais. Daí resultaram várias outras
alterações, não obstante aos agora denominados «vizinhos de regedoria» continuavam a
ser aplicados usos e costumes locais com as devidas limitações.
Com a proclamação da Independência nacional de Angola e a aprovação da primeira Lei
Constitucional, foi instituído um novo sistema jurídico e as normas de carácter
discriminatório contidas no Código Civil passaram a ser consideradas derrogadas por
inconstitucionais. Por via do preceituado no art. 84.º daquela Lei, que norteava quanto à
legislação vigente vinda do sistema jurídico colonial, tinha que se entender como
revogada toda a legislação que contrariasse o processo revolucionário angolano.
Como qualquer outro país saído de uma instabilidade governamental tornava-se urgente
a sua organização. E o campo do direito da família não foi excepção, foram publicadas

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uma série de leis de relevante importância que, em questões fundamentais, vieram alterar
a legislação colonial naquilo que se mostrava mais antagónico à nova realidade angolana.
Entre outras leis sucessivamente aprovadas, destaquemos as seguintes: a Lei n.º 11/85, de
28 de Outubro, que aprovou a Lei do Acto do Casamento e que concedeu unicamente
validade aos casamentos celebrados perante os órgãos do registo civil; a Lei n.º 10/77, de
9 de Abril, que equiparou os direitos e deveres de todos os filhos em relação aos seus
pais, qualquer que seja o estado civil destes, proibiu qualquer referência à qualidade de
filho legítimo ou ilegítimo e decretou a abolição ao termo «incógnito» relactivamente à
situação de paternidade ou de maternidade. (MEDINA, 2000).
2.4. Conceito de União de Facto
Como já fora referido, este tipo de convivência fora da instituição matrimonial era
denominado por concubinato, que não pode ser equiparado à actual união de facto, pelo
menos no que respeita aos moldes em que agora se define, até porque no Direito Romano
o concubinato era reconhecido como forma de convivência conjugal fora do casamento,
e a união de facto é uma opção de vida de muitos casais em detrimento da escolha pelo
casamento, daí que haja um maior interesse por parte do Direito de intervir.
Actualmente várias são as expressões utilizadas em todo o mundo para designar uma
forma de convivência conjugal extramatrimonial. Assim, encontramos nas várias
legislações a referência a união de facto como união estável, parejas de hecho, non marital
cohabitation, famiglia di fatto, union libre, convivência more uxorio, bem como inúmeras
outras que a doutrina quer angolana e estrangeira tem utilizado como expressão
designativa de uma realidade social apreendida pelo Direito. (MEDINA, 2011).
Como dito supra, o Código Civil angolano anteriormente vigente, tal como em vários
sistemas jurídicos, só reconhecia a família estruturada no casamento, porém, importante
realçar que, nos dias de hoje, esta posição se alterou.
O relatório que antecedeu ao projecto do Código de Família dizia a propósito (fls. 11): “a
união de facto é a união entre um homem e uma mulher com o fim de fazerem vida
comum, distinguindo-se do casamento apenas por não haver formalização ou legalização
da união”. E actualmente, aparece estabelecida no art. 112.º, do CFA, em que a “união de
facto consiste no estabelecimento voluntário de vida em comum entre um homem e uma
mulher.”
Pizzolante (1999, p. 186), ensina que “O vocábulo apresenta dois sentidos. O amplo, que
congrega toda e qualquer forma de união sexual livre, e o estrito, a mostrar- se como
união duradoura, a formar a sociedade doméstica de fato, na qual são importantes o ânimo
societário (affectio societatis) e a lealdade concubinária”. (Pizzolante, 1999). Pessoas
ligadas entre si, “é a convivência more uxorio, ou seja, o convívio como se fossem marido
e mulher”.
Ensina Coelho (2008), que a união de facto requer exclusividade, exigida pela vivência
“em condições análogas à dos cônjuges”, visa-se uma “ficção de casamento” para que a
lei lhe atribua relevância jurídica. Para tal é necessário que a relação seja vista, para
aqueles que rodeiam os membros da união de facto e com eles convivam, como uma
relação em tudo semelhante ao casamento, em que as pessoas sejam como tal vista e

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tratadas. Em suma, a união de facto define-se como uma comunhão de habitação, mesa e
leito, sem um vínculo de casamento.
Para Bittencourt (1916, p. 62), a união de facto ou estável, é convivência no mesmo teto
ou em teto diferente, do homem e da mulher, que não estão ligadas pelo matrimónio. Em
conclusão, verificámos que são vários os modos de definir uma união de facto mais que
no fundo se resumem a expressão, união duradoura de um homem e uma mulher como se
fossem casados.
2.5. Casamento e União de Facto
O casamento é uma coisa e a união de facto é outra muitos autores apontam como
principal diferença entre o casamento e a união de facto a falta de forma de celebração da
união de facto em contraposição à solenidade de formalização de vontades patente no
casamento, deste modo, assiste-se no casamento as declarações de vontade que ao ser
expressa abrange todo o seu conteúdo, ou seja, quando duas pessoas declaram aceitar
casar, declaram mais do que isso, declaram que aceitam todo o regime injuntivo
estabelecido na lei.
Aceitam todos os direitos e deveres intrínsecos, ou seja, aceitam todo o regime do
casamento como o conhecemos.
Refere Pitão (2011, p. 39), que podemos mesmo afirmar que a diferença crucial da união
de facto e do casamento “assenta no facto de que este se realiza dentro de um quadro legal
pré-definido nos termos das disposições do Código da família artigo 20.º a propósito da
noção de casamento”, enquanto a união de facto se realiza fora desse quadro legal, e por
este motivo diz-se que a intencionalidade na união de facto não é aferida pela lei, nem
por uma celebração formal da declaração de vontade de duas pessoas que passam a viver
em união de facto.
Na união de facto a intenção é a constituição de uma comunhão plena de vida comum
com outra pessoa assim como no casamento, mais, ao contrário do que sucede no
casamento, em que há uma formalização da vontade de constituição de uma comunhão
de vida em comum, na união de facto não há qualquer formalização de vontades.
Não obstante, ambos têm em comum a existência de uma intencionalidade, no casamento
a intencionalidade de casar tendo em conta tudo aquilo que o casamento comporta, e na
união de facto a intencionalidade de viver em comunhão plena de vida com outra pessoa.
Questão diversa é aferir qual a natureza jurídica da intencionalidade ou das declarações
de vontade em ambas as situações.
No casamento, para alguns autores, aliás de acordo com a própria definição legal de
casamento, o casamento é um acordo de vontades que representa um contrato.
A propósito da contratualidade do casamento, Pereira Coelho considera que o casamento
“já está celebrado mesmo antes da declaração do conservador”, coloca assim a tónica no
consentimento dos cônjuges.
Afasta a tese que considera o casamento como um mero acordo, considerando mesmo
que na lei não tem relevância prática a distinção entre acordo e contrato. (COELHO,
2008).

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Por sua vez, Antunes Varela se inclina para a contratualidade do casamento, afirmando
que a “causa do vínculo matrimonial está na permuta das declarações de vontade emitidas
pelos nubentes (...)”. Por outro lado, refere ainda “a circunstância de o acto jurídico
realizado pelos nubentes poder gerar uma instituição não impede, por conseguinte, que a
fonte da instituição seja um contrato”. (VARELA, 1996).
Medina refere que, o casamento como um negócio jurídico bilateral, onde intervêm duas
vontades, “o acto não se resolve num contrato propriamente dito, pois, as regras que
regulam o direito das obrigações não lhe são aplicáveis.
A regra é que, pela importância dos actos jurídicos familiares, que vão gerar situações de
carácter duradouro, a lei prescreva uma forma solene para a sua prática”. (MEDINA,
2011).
Na união de facto encontramos duas pessoas que decidem viver em comunhão plena de
vida, mais, ao contrário do que sucede no casamento, estas pessoas não declaram esta
vontade perante nenhum ente público, não formalizam esta vontade, ou seja, não dizem.
Esta união, como refere Coelho (2008), “carece de uma exteriorização formal do acto da
sua constituição, resultando na maioria das vezes de um movimento volitivo (expresso ou
não) dos seus membros conducente a um processo de iniciação”. Aos unidos de facto
falta-lhes a exteriorização formal da vontade.
Contudo, Telma Carvalho toma uma posição, com a qual nos compadecemos, ao afirmar
que “não obstante, pensamos que não se pode descurar completamente a existência de
vontade de cada unido de facto em viver em comunhão plena de vida, pode mesmo
afirmar-se que existe um acordo de vontades, que se renova todos os dias” pelo facto de
a declaração de vontade ser como um comportamento de uma pessoa objectivamente
considerado como exteriorização do conteúdo da vontade negocial.
A autora vai ainda mais longe ao afirmar que partindo da ideia do acordo de vontades
entre os conviventes, da declaração de vontades, mesmo que esta declaração nem sempre
seja expressa, aliás, na maioria das vezes pode-se mesmo afirmar que é uma declaração
tácita, o acordo que resulta das declarações de vontade pode ser qualificado como um
contrato.
Telma Carvalho justifica a sua douta posição recorrendo ao princípio geral do direito
civil, que é nada mais que a liberdade contratual, prevista no art. 405.º do CC e ensina-
nos que “a figura do acordo no Direito não tem muita relevância, reconduzindo-se esta
figura, como afirma Pereira Coelho, à figura do contrato”.
Não obstante, ao considerarmos a união de facto como um contrato, estaríamos perante
uma aproximação à natureza jurídica do casamento, embora que mesmo no casamento a
contratualidade não seja um entendimento pacífico na doutrina. (CARVALHO, 2004, p.
231).
Partindo do pressuposto que a declaração de vontade pode ser expressa ou tácita como se
aufere do art. 217.º do Código Civil e verificado que na união de facto não existe uma
exteriorização formal da vontade negocial de que duas pessoas aceitam viver em união
de facto, julgamos que esta diferença, face ao casamento, embora seja relevante, não retira
de todo a legitimidade à união de facto, bem como não podemos estigmatizar uma falta

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de intenção verídica de constituir uma comunhão plena de vida em comum até
obviamente, que se prove o contrário.
Carvalho (1996, p. 233), define a declaração de vontade como “o comportamento de uma
pessoa que, objectivamente considerado, vale como exteriorização do conteúdo da
vontade negocial” e considera ainda que o modo comum de expressão da vontade é a
palavra. Mais, a declaração tácita também releva em termos contratuais, nomeadamente
através do que este autor considera factos concludentes (facta concludentia).
Para que a declaração tácita seja relevante, exige-se apenas um nexo de probabilidade
séria, que permita deduzir a vontade das partes.
Ora, e como refere a autora Telma Carvalho o que os unidos de facto fazem é um acordo
íntimo que não é exteriorizado que não fica registado por documento nem por qualquer
outro meio, eles iniciam as suas vidas habitando a mesma casa, comendo na mesma mesa,
partilhando o mesmo leito. Este acordo tem que se manter durante pelo menos três anos,
que é o prazo exigido para a atribuição de efeitos jurídicos à união de facto.
Conclui dizendo que poderia afirmar-se “que a união de facto é um contrato entre duas
pessoas, que pretendem constituir uma comunhão plena de vida em comum”.
(CARVALHO, 2004). E por último, ainda neste sentido, aparece-nos Castro Mendes, que
no seu manual, permite inferir que a união de facto não se equipara ao casamento,
enquanto contrato. Afirmando que “nada obsta à qualificação da união de facto como uma
relação contratual de facto ou (...) conjunto de relações contratuais de facto (...), embora,
naturalmente, a sua eficácia nunca possa ser equiparada à do contrato de casamento”.
(MENDES, 1990).
O artigo 112.º do Código de Família angolano define a união de facto como o
“estabelecimento voluntário de vida em comum entre um homem e uma mulher”. Neste
conceito estabelece-se, por um lado, o elemento subjectivo da voluntariedade, que é
essencial, e, por outro lado, o elemento objectivo, que é representado pela situação
material de convivência, segundo o modelo matrimonial.
A voluntariedade na união de facto manifesta-se a partir do momento em que ela se inicia,
permanece durante toda a sua duração e termina quando os unidos de facto assim o
pretenderem.
Apesar de em angola considerar-se a união de facto uma relação jurídica familiar, esta é,
contudo, uma relação informal, em que, como refere Medina “os companheiros da união
de facto podem, em qualquer momento, fazer cessar a vida em comum sem necessidade
de recorrer a qualquer decisão judicial, dado tratar-se de uma relação familiar consensual
que também não necessitou de qualquer formalismo no seu início”. (MEDINA, 2011).
Contudo, na ordem jurídica angolana pode ocorrer o seguinte: no caso de os interessados
pretenderem salvaguardar os seus interesses com a “colaboração” do Estado
(patrimoniais, por exemplo) existe a possibilidade de reconhecer-se as uniões de facto; já
quando cessa a união de facto a lei veio permitir que, uma vez verificada judicialmente a
posterior a existência dos pressupostos legais, esse reconhecimento venha a produzir os
vastos efeitos que a lei confere à dissolução do casamento.

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De acordo com MEDINA, no CC, anteriormente vigente, só era reconhecida a família
estruturada no casamento, incidentalmente fazia menção à propósito das então designadas
acções de investigação de paternidade ilegítima e como um dos pressupostos destas
acções, as situações de «concubinato duradouro» e de «convivência marital notória» cujo
conceitos vinham definidos no Artigo1862.º.
A primeira menção da União de Facto, foi feita pela lei 7/80 de 27 de Agosto Lei Sobre
a Adopção e colocação de menores, o Artigo 6.º desta Lei atribuía a União de Facto
estabelecida entre um homem e uma mulher com caracter permanente e exclusivo,
relevância jurídica de casamento, ou seja o homem e a mulher que vivessem em União
de Facto, nas condições previstas na lei tinham a capacidade de proceder a adopção dupla
de um menor.
Actualmente, o Artigo 205.º, do Código da Família mantém esta mesma posição. Foi
publicada a Lei do Sistema de Segurança Social (Lei18/90 de 27 de Outubro e o Decreto
49/91, de 16 de Agosto) a qual atribuía o direito à pensão de sobrevivência ao
companheiro sobrevivo de União de Facto desde que esta estivesse registada.
O diploma legal que regula o instituto da União de Facto é o CF no seu TITULO IV do
CF que compreende os Artigos 112.º à 126.º, sendo a União de Facto uma das fontes de
relações jurídicas familiares à luz do Artigo 7.º. O reconhecimento é feito, portanto, a
pedido de ambos os interessados como consagra o artigo 115.º do Código da Família e é
da competência dos órgãos do registo civil da área de residência respectiva.

2.6. União de Facto e Filiação


A filiação não é um vínculo apenas biológico ou de base natural mais também um vínculo
jurídico e registado, a filiação é um vínculo jurídico, na medida em que não surge do
simples facto de uma pessoa ter gerado outra, sendo necessário o seu reconhecimento na
ordem jurídica. Ora a filiação juridicamente reconhecida nem sempre corresponde à
filiação natural.

É de relevar, neste âmbito, o princípio da não discriminação dos filhos nascidos do


casamento ou fora dele, porém, a igualdade formal não se encontra devidamente
assegurada, pois o assento de nascimento faz menção ao estado civil dos progenitores,
podendo-se averbar ao referido assento o casamento posterior destes. (DIAS, 2007, p.
42).

O Código da Família estabelece que no caso de os progenitores viverem em condições


análogas às dos cônjuges aplica-se ao exercício das responsabilidades parentais o disposto
no artigo 128.º ou seja, são aplicadas as mesmas disposições reguladoras do exercício das
responsabilidades parentais relactivas a filhos nascidos ou não na constância do
matrimónio, que pertencem a ambos os pais. Portanto, na constância da união de facto os
pais devem exercer as responsabilidades parentais de comum acordo. Se o acordo faltar
em questões de particular importância, os progenitores podem recorrer ao tribunal, que
tentará a conciliação; não sendo possível o tribunal decidirá, ouvindo o filho, salvo
quando razões ponderosas o desaconselhem.

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CAPÍTULO III – PROTEÇÃO JURÍDICA DA UNIÃO DE FACTO

A união de facto em Angola tem categoria constitucional e vem fixada no artigo 35º nº 1
da Constituição angolana a par do casamento como forma de constituir família.

A escolha de tal caminho deve-se ao tipo de sociedade angolana: a falta de órgãos de


registos, (que mesmo nas cidades, são escassos) a deficiente celeridade burocrática, a
dificuldade na obtenção de documentos necessários ao processo preliminar, e até falta de
meios financeiros para a tradicional festa de casamento. Como tal, dado estas privações
do país, que se traduzem num grande impacto social, o reconhecimento da união de facto
mereceu um interesse peculiar que carecia de jurisdição.
Vimos no segundo capítulo do nosso trabalho que dado o historial de dependência
colonial, aquele ordenamento carecia de uma organização fundamental no direito da
família após ao período de colonização.
Como tal, alguns dos direitos de família estão, hoje em dia, inscritos no escrínio do direito
constitucional avultando entre eles o direito de ter uma família.
Nesse caso, como refere Medina “o direito a ter uma família envolve o direito da criança
a ver estabelecida a sua filiação.
O direito à filiação representa o direito original de se estar integrado numa família desde
o nascimento”.
A autora, advoga que “os Direitos Humanos de Família à luz da Natureza Constitucional
devem ser entendidos de forma haver liberdade de escolha na forma como se constitui a
família, seja por via do casamento ou da união de facto, que é igualmente considerado
como um dos direitos fundamentais”.
3. Natureza Jurídica da União de Facto
Coelho (2008, p. 166), refere que, não havendo um conceito universal, pelo menos há
uma ideia comum aos diversos sistemas jurídicos que se insere no mesmo espaço cultural
do direito angolano: a ideia de casamento “como acordo entre um homem e uma mulher
feito segundo as determinações da lei e dirigido ao estabelecimento de uma plena
comunhão de vida entre eles”.
Verificámos no artigo 20.º do Código de Família angolano, que tem como epígrafe
conceito, que a definição legal de casamento nos aparece da seguinte forma: é a “união
voluntária entre um homem e uma mulher, formalizada nos termos da lei, com o objectivo
de estabelecer uma plena comunhão de vida”.
Segundo podemos analisar na obra de Medina, que tal como na doutrina de Antunes
Varela, o casamento pode ser visto como “um negócio jurídico solene, ou seja, formal,
mediante o qual um homem e uma mulher aceitam voluntária e reciprocamente
estabelecer entre si convivência comum de carácter duradouro”. Estas relações
caracterizam-se pela estabilidade e intercorrência de direitos e deveres complexos, entre
os quais avulta o de assistência e ajuda mútuas. (VARAELA, 1999, p. 181).

21
Em Angola o casamento deixou de ser um contrato, um negócio para passar a ser
entendido como uma união voluntária entre o homem e a mulher, deste modo, é a nova
redação dada pela Lei n.º 1/88, de 20 de Fevereiro do Código da Família da República de
Angola. Por outra, na ordem jurídica angolana, relactivamente a qualidade dos sujeitos,
o casamento só é válido quando celebrado por duas pessoas de sexo diferente, segundo
podemos retirar do artigo 20.º do código de família angolano, na sua primeira parte “união
voluntária entre um homem e uma mulher”.
Dado que nos artigos que se ocupam dos impedimentos absolutos, artigo 25.º e
impedimentos relactivos artigo 26.º, que obstam a concretização do casamento, não vem
descrito em nenhuma das alíneas respeitantes a cada um deles, a celebração de casamento
de pessoas do mesmo sexo.
O legislador ordinário terá sido cauteloso nesse aspecto, ao evitar cair em repetições, pois
a partir do art. 20.º do CFA, conseguimos explicitamente perceber a inadmissibilidade do
casamento celebrado entre pessoas do mesmo sexo.
Segundo a célebre Jurista MEDINA, a União de Facto consiste na convivência sexual e
afectiva comum entre um homem e uma mulher, sem a existência de um casamento
formalizado.
Na união de facto a intenção é a constituição de uma comunhão plena de vida comum
com outra pessoa assim como no casamento.
Jorge Duarte Pinheiro diz que: “A União de Facto constitui-se logo que os sujeitos vivam
em coabitação, não é necessária uma cerimónia ou qualquer outra forma especial”.
Segundo Pereira Coelho e Guilherme Oliveira: “As pessoas vivem em comunhão de leito,
mesa e habitação (tori, mensae et habitationis), como se fossem casados, apenas com a
diferença de não estarem ligados pelo vínculo formal do casamento.
A circunstância de viverem como se fossem casados, cria uma aparência externa de
casamento, em que terceiros podem confiar, o que explica alguns dos efeitos atribuídos à
União de Facto. Relações sexuais fortuitas, passageiras, acidentais, não configuram pois
uma União de Facto.
A União de Facto distingue-se do concubinato duradouro, por mais longo que este seja”.
A figura do concubinato passou a existir juntamente com a ideia da união informal. A
fidelidade feminina era exigida, numa monogamia de aparência, com uma poligamia
masculina aceita por meio de concubinas.
A palavra concubinato tem origem no latim – concubinatus – cujo significado é de
“mancebia” ou “companhia de cama sem aprovação legal”, o que levou à não aceitação
desse termo pela sociedade, embora fosse usualmente empregado nos meios jurídicos,
atentos a seus dois sentidos, um deles impuro e reprovado, por traduzir-se em qualquer
relação, inclusive aquela de uma pessoa casada com quebra do dever de fidelidade, e
outro puro e aceito, a retratar a união entre duas pessoas solteiras, viúvas, separadas ou
divorciadas, com a presença de um requisito fundamental: a lealdade concubinaria.
Procurou-se favorecer o casamento como forma privilegiada e até única de constituição
da família. Assim a convivência marital entre o homem e a mulher fora do sacramento do

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casamento, passou a ser considerada pecaminosa e até objecto directo de sanção religiosa
e até pecuniária.
A situação de mancebia ou concubinato era estigmatizada”. O interesse político em
regular a constituição e o funcionamento das famílias, através do casamento, era porque
a família era considerada em sua dimensão económica, patrimonialista.
O maior interesse a ser protegido era a permanência dos bens para os herdeiros. A união
livre, focalizando a relação homem – mulher na dimensão da realização afectiva, pessoal,
subverteu essa hierarquia de valores das famílias tradicionais. Daí porque teve que vencer
tantas resistências e foi tão combatida.
Constituir família por meio da união afectiva, sexual, entre um homem e uma mulher, é
um fato antropológico. A civilização humana, no curso da história, por conta de injunções
culturais, políticas e, sobretudo, religiosas, problematizou o que, a rigor, era simples.
A união afectiva e sexual do homem e da mulher é um fato antropológico, natural, chamar
essa união de concubinato é que passou a ser cultural, uma valoração moral para
distinguir, dita relação, do casamento.
Quando os ordenamentos jurídicos modernos defrontaram-se com a necessidade de
reduzir o hermetismo das formalidades, para viabilizar a realização social e afectiva dos
indivíduos, transformou-se o concubinato em união informal, transformou-se a concubina
em companheira, afastando, com isso, o conceito de famílias informais sérias, da
incómoda associação ao adultério, à infidelidade e ao ilícito.
A lei e a sociedade andavam em sentidos opostos, a lei, mesmo a religiosa, condenava o
concubinato como adultério, mesmo sendo tolerante quanto ao adultério masculino,
porém, na prática, na sociedade, havia concubinatos que não eram adultério. É, porém,
importante realçar que nos nossos dias esta posição radical se alterou e, mesmo nos países
que não reconhecem o instituto da União de Facto como gerador de relações jurídicas
familiares, já se afastou a noção de que tal união à margem do matrimónio tenha um
carácter de ilicitude e deva ser considerada como pecaminosa.
Costuma-se, no entanto ter em conta a circunstância de o homem ou da mulher que vivem
em União de Facto não serem casados com terceira pessoa, quando tal acontece, surge o
adultério vai inquinar a união.

3.1. Pressupostos para reconhecimento da união de facto


Apesar de dispensar os formalismos necessários ao casamento, começa a se caracterizar
pela vontade de vida em comum, tornando-se necessário apenas o mútuo consenso dos
companheiros, podendo este surgir devagar, conforme evolução da relação amorosa.
Partir do conceito legal contido no Artigo 112.º do CF “A União de Facto é a união que
consiste no estabelecimento voluntário de vida comum entre um homem e uma mulher”.
No entanto, antes de apreciar cada um dos elementos essenciais, faz-se necessário definir
certos pressupostos legais previstos no Artigo 113.º do CF para a existência da União de
Facto:
 A coabitação consecutiva do homem e da mulher após o decurso de três anos;

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 A singularidade da união;
 A capacidade matrimonial de ambos os membros do casal;
A coabitação entre o homem e a mulher deve ser estável, isto é, prolongar-se por certo
tempo. O Artigo 113 n.º 1 CF, estabeleceu-se o prazo de três anos de coabitação continua
paras se poder reconhecer a União de Facto, pressupõe a comunhão de cama, mesa e
habitação, com a criação de laços de interdependência afectiva, social e económica entre
companheiros.
Quanto a singularidade da união, o vínculo entre os companheiros deve ser único, uma
vez que esta relação deve ter carácter monogâmico, sendo a relação caracterizada com
mais de um companheiro, será proibida, pois que será adultério, pelo menos assim ensina
a doutrina de OLIVEIRA.
É de referir, que o ilustre doutrinador ainda destaca que quando o participe de uma
segunda união não tiver conhecimento da existência de impedimento consequente de
anterior e simultânea união do seu companheiro fica caracterizada a União de Facto
putativa, sendo que, o convivente que agiu de boa-fé terá resguardado os seus direitos
decorrentes da união que parecia de facto. Para tal, a relação deverá cingir-se pela
durabilidade, publicidade, continuidade e com o propósito de constituir família, enquanto
sua invalidade não for reconhecida ou declarada em face de uma união mais antiga e que
ainda permaneça.
O CF, no art.º 121.º no que tange a unicidade de vínculo dispõe o seguinte: «o
reconhecimento da União de Facto, está sujeito a anulação nos termos gerais previstos.
Para anulação do casamento esta disposição legal, remete-nos para o art.º 67º § e bem
como as seguintes relativas á anulação do casamento».

3.2. Modalidades de reconhecimento da união de facto


Medina (2001), refere que reconhecimento da união de facto são subsidiariamente
aplicáveis as disposições respeitantes ao processo de casamento quanto a fase preliminar
de iniciação do processo, porém, refere a doutrinadora que esta obedece as formas
previstas em lei, e acrescenta que difere do casamento por não se dar a cerimónia
matrimonial.
No nosso ordenamento jurídico podemos encontrar duas modalidades de reconhecimento
da união de facto sendo uma delas o reconhecimento pela via Administrativa, por mútuo
acordo dos companheiros mediante os órgãos do registo civil e a outra o reconhecimento
pela via judicial mediante os tribunais em caso de ruptura ou morte de um dos
companheiros.
 Reconhecimento pela via administrativa: O Reconhecimento da União de Facto
pode ser por acordo mútuo dos companheiros. Aqui, o reconhecimento não deve
ser requerido individualmente pelos interessados, mas simultaneamente, pois só
os dois em conjunto têm legitimidade para formular o pedido.
O mútuo acordo é uma condição essencial ao reconhecimento. Visto que ambos têm de
manifestar a sua vontade de converter a sua união livre para um negócio jurídico que,
depois do reconhecimento, produzirá os mesmos efeitos que produz o casamento. Ou seja,

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tem-se em conta que tal modificação do estatuto jurídico dos companheiros da União de
Facto em cônjuges releva da autonomia da vontade do homem e da mulher. Por essa
razão, a lei não permite que quem viva em União de Facto não reconhecida, seja obrigado
a alterar a situação em que vive, para a converter numa união cujos efeitos legais
equiparam-se aos do casamento.
O reconhecimento é feito, portanto, a pedido de ambos os interessados como consagra o
artigo 115.º do Código da Família e é da competência dos órgãos do registo civil da área
de residência respectiva.
O formalismo a usar neste caso vem descrito no artigo 116.º do Código de Família. Trata-
se de um processo administrativo em que será preciso provar a princípio, tal como sucede
no processo de casamento, a capacidade matrimonial dos companheiros de União de
Facto, além de ter de se provar cumulativamente a singularidade da união e a sua duração
ao longo de pelo menos três anos.
Para a prova destes pressupostos legais, estabelece o artigo 116.º, n.º 2 que poderão ser
oferecidas testemunhas ou documentos emitidos pelo órgão da administração local. O que
interessa é que, ou junto da conservatória onde corre o processo, ou junto do órgão da
Administração local da área de residência do casal, seja feita a prova de que os
interessados convivem em exclusividade, como marido e mulher, durante o tempo
mínimo exigido (três anos) sem interrupção. O n.º 3 do artigo 116.º prevê que os
interessados venham a declarar o regime de bens que optam.
À semelhança do que vem previsto no n.º 3 do artigo 29.º sobre a declaração inicial para
casamento. Esta declaração não é de carácter obrigatório, mas facultativo, pois se os
interessados nada disserem, deve aplicar-se a regra supletiva geral do artigo 49.º, n.º3,
ficando a União de Facto reconhecida sujeita ao regime económico da comunhão de bens
adquiridos. Ao processo de reconhecimento da União de Facto por mútuo acordo (como
já se pode constatar) são aplicáveis subsidiariamente as disposições respeitantes ao
processo de casamento. Isto, quanto a fase preliminar do processo como o é o caso do
Juramento por parte dos companheiros da União de Facto sobre a não existência de
impedimentos e a possibilidade de ser deduzida a oposição. Porém existem diferenças
entre um regime e outro e a mais saliente é o facto de na União de Facto não haver
celebração, ou seja, não existe a parte ritual e solene da cerimónia do casamento e assim
o é porque entende-se que a prévia existência de vida em comum torna supérflua a
declaração solene de aceitação de um cônjuge ou de outro, tanto mais que o facto de se
requerer o reconhecimento vem confirmar esta vontade.
Concluída a instrução, o conservador, se considerar verificados os pressupostos legais
constantes do artigo 113.º, n.º 1 do Código de Família, reconhece por despacho, a União
de Facto, tal como vem consignado no artigo 118.º do Código de Família. Trata- se
portanto, de um acto administrativo. Se se der o caso de o conservador constatar que não
estão preenchidos os pressupostos legalmente exigidos, deverá portanto, indeferir o
pedido, seguindo-se, se for o caso, os trâmites previstos na lei, que permitem que os actos
dos conservadores sejam passíveis de recurso.
Uma vez reconhecida a União de Facto, ela produz todos os efeitos próprios do
casamento, mas com a característica da retroactividade à data do início da união. Mas
apenas a partir do momento em que se tenham dado verificados os requisitos legais. Estes

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efeitos retroactivos vão ser especialmente relevantes para os filhos nascidos da União de
Facto, cuja filiação em relação a ambos os progenitores fica desde logo estabelecida nos
termos do artigo 163.º do Código de Família.
MEDINA, afirma ainda, em sua obra, que neste aspecto, os efeitos patrimoniais do
atendimento da União de Facto que não reúnem os pressupostos legais, podem, em
essência, ser comparados aos que, nas demais legislações, são hoje atribuídos às uniões
de facto tidas como união livre ou concubinato.
Mas ainda, quanto aos efeitos patrimoniais, designadamente quanto ao direito sobre bens
comuns. Dito isto, poderá submergir uma questão: Não havendo celebração, ao contrário
do que acontece com o casamento, será possível aplicar o que consta no artigo 36.º, n.º1
do Código de Família quanto a adopção de apelidos ou nomes de família? Sabe-se que
formalmente, tal possibilidade não está prevista na lei, mas não obsta aceitar que esta
declaração seja feita no requerimento que inicia o processo de reconhecimento, o que
poderá vir a constar do diploma que vier regulamentar a matéria no quadro das normas
do registo civil.
Uma vez lavrado o reconhecimento da União de Facto, ficam os interessados em situação
jurídica equivalente à de casados e o acto está sujeito a registo a efectuar em livro próprio,
pois houve uma alteração do estado familiar como prevê o artigo 120.º do Código de
Família. Logo, o seu registo é obrigatório e é através dele que a União de Facto se torna
oponível a terceiros. Por fim, dispõe o artigo 121.º do Código da Família, que o
reconhecimento da União de Facto está sujeito a anulação, nos termos gerais previstos
para a anulação do casamento. A anulação do casamento pode ser operada nos termos do
disposto no artigo 65.º e seguintes do Código da Família. Porém, a aplicação dessas regras
à união e facto deverá ser feita com as devidas adaptações, pois, havendo um período de
coabitação mínima de três anos, não poderá ser invocado o erro, quando é certo que a
existência deste vício tem de ser alegada dentro do prazo limite de dois anos após a
celebração do casamento como determina o artigo 70.º do Código da Família.
A falta de requisitos formais também não poderá ser invocada, pois, não tem cabimento
no reconhecimento da União de Facto feito por via administrativa. A falta ou vício de
vontade, para ser fundamento da anulação do reconhecimento da União de Facto, tem que
respeitar ao momento da formulação do requerimento.
Essa modalidade de reconhecimento da União de Facto reúne uma série de formalismos
exigidos por lei e por essa razão é que no relatório feito para a apresentação do Código
de Família reconheceu-se que todo esse formalismo podia levar a que maioria dos
interessados viesse a optar pela celebração do casamento.
Contudo, não se quis deixar de prever na lei o reconhecimento por mútuo acordo,
deixando ao critério dos interessados a optarem por esta via quando entenderem que ela
acautela melhor os seus interesses, designadamente pela produção de efeitos retroactivos
nos termos previstos na lei.
 Reconhecimento por via judicial: MEDINA sustenta a ideia de que uma das
grandes mais-valias trazidas pelo código de família relativamente ao instituto da
União de Facto é precisamente a possibilidade de a união poder vir a ser
reconhecida depois de ter cessado.

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Tal cessação pode dar-se, tal como sucede na dissolução do casamento, pela morte de um
ou de ambos os companheiros e, ainda pela ruptura da união.
A ruptura é um acto voluntário que se consubstanciará num acto unilateral se partir apenas
de um dos companheiros e num acto bilateral se partir de ambos os companheiros.
O traço dominante da União de Facto de ela assentar na voluntariedade e ser portanto,
resultado da vontade de ambas as partes de permanecerem no quadro da união não
formalizada. No entanto, quando qualquer um deles quiser pôr termo à União de Facto,
esta terá o seu termo igualmente de forma desprovida de formalismos.
Para a consagrada Doutrinadora a grande diferença trazida pelo Código de Família é a de,
após o fim da União de Facto ser possível ela vir a ser reconhecida para que possa produzir
efeitos a posterior, quer em relação aos filhos, quer em relação aos bens. Pelo largo
número de efeitos que advêm do reconhecimento da União de Facto, o Código de Família
impõe que ele se opere pela via judicial. Exige-se que seja portanto, o tribunal, através de
uma acção própria, proposta para o efeito, a proferir uma sentença por via da qual se
declare ter existido entre A e B, determinado homem e determinada mulher, uma situação
jurídica de União de Facto.
A esse reconhecimento por via judicial é aplicável, quer no caso de morte em que falta a
vontade do companheiro que faleceu, para manifestar o seu acordo ao reconhecimento,
quer no caso de ruptura quando se tenha gerado uma situação de dissídio entre ambos os
companheiros é feito um processo específico que determina e reconhece que a União de
Facto existiu durante determinado lapso de tempo e que entretanto cessou, além de se
pronunciar sobre a verificação dos pressupostos legais mencionados no artigo 113.º, n.º1
do Código de Família.
3.3. Legitimidade
A legitimidade para a propositura da acção vem expressa no artigo 123.º do Código de
Família e é atribuída unicamente aos respectivos interessados ou aos seus herdeiros no
caso de morte destes.
Em caso de morte (tem legitimidade para a propositura da acção o companheiro sobrevivo
ou o seu representante legal quando ele for incapaz ou os herdeiros do companheiro
falecido, isto nos termos do artigo 123.º, alíneas a) e b) do Código de família); Em caso
de ruptura (a acção pode ser proposta por qualquer dos companheiros da União de Facto
ou pelo respectivo representante legal, no caso de incapacidade, isto nos termos do artigo
123.º, alínea a) do Código de Família.
No caso de morte transmite-se aos herdeiros do companheiro falecido o direito de acção,
que irá permitir que se opere o reconhecimento posterior da união havida. Embora o
direito de família seja, no fundamental, como se disse, um direito de natureza pessoal, a
lei reconhece em certos casos excepcionais a transmissão não do exercício do direito em
si, mas a do direito de acção que se irá repercutir na esfera jurídica dos herdeiros do titular
desse direito.
A lei Salvaguarda não só o direito da propositura da acção por parte dos herdeiros do
interessado mas também o direito de estes prosseguirem na acção no caso de vir a falecer
o companheiro que propôs a acção ou contra quem a acção foi proposta.

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Ao contrário do que ocorre na acção de divórcio, a acção de reconhecimento da União de
Facto não se extingue com a morte de qualquer das partes, pois em ambos os casos os
herdeiros do falecido podem prosseguir na acção.

3.4. Prazos e Formalismo processual


Nos termos do artigo 124.º do Código de Família a acção do reconhecimento da União
de Facto deve ser proposta dentro do prazo de dois anos contados da data do término da
coabitação sob pena de caducidade. Sendo que este prazo é de conhecimento oficioso do
tribunal, segundo o disposto no artigo 333.º, n.º1 do Código Civil.
Pode verificar-se que no Código de Família se consagra, via de regra, o prazo de dois
anos para o exercício de determinados direitos de acção, embora noutros casos seja até
fixado de 1 ano, quando se entende que há que preservar com prevalência a situação
jurídica anterior.
No caso específico do reconhecimento da União de Facto, entendeu-se que se devia
determinar o tempo dentro do qual os interessados deveriam exercer a faculdade legal de
propor ou não propor a acção. Ou seja, pelo facto de a lei atribuir ao reconhecimento da
União de Facto amplos e importantes efeitos impõe que os interessados venham a juízo
com certa presteza reivindicar os direitos do outro companheiro e ainda os eventuais
direitos de outros interessados. Está aqui subjacente, o princípio da segurança das relações
jurídicas que faz com que seja indicado um prazo para o exercício deste direito, findo o
qual cessa o direito ao seu exercício.
O prazo de dois anos é contado a partir do fim da união, pelo que, se a união findou com
a morte de um dos companheiros, logo a data da morte é precisamente a data relevante.
Se a união findou por ruptura, o prazo conta-se a partir da data em que definitivamente
cessou a coabitação.
O prazo judicial para o reconhecimento ou o mero atendimento da União de Facto segue
os trâmites do processo especial, já mencionados em termos gerais para o processo de
divórcio, ou seja, os que vêm previstos nos artigos 6.º e 7.º da Lei 1/88 e como norma
específica no artigo 125.º do Código de Família. Ou seja, caso a União de Facto não possa
ser reconhecida por falta dos pressupostos legais, ela será atendida para além dos casos
previstos nesta lei, designadamente, para o efeito de partilha de bens comuns e para
atribuição do direito à residência comum, prevenindo-se assim que um dos companheiros
seja prejudicado e o outro ou os seus herdeiros sejam injustamente beneficiados.
Na averiguação judicial da existência da União de Facto é obrigatória a intervenção do
Conselho de Família que como tal é um órgão consultivo do tribunal para as acções de
natureza familiar previstas na lei, sendo o mesmo é constituído por quatro pessoas que
não sejam partes na acção, das quais duas escolhidas entre os membros da família do
homem e outras duas escolhidas entre os membros da família da mulher (para o caso
concreto), nos termos dos artigos 16.º e 17.º do Código da Família.
A falta de constituição e audição do Conselho de Família dá lugar a nulidade processual
insanável. E esta nulidade é de conhecimento oficioso do tribunal, uma vez verificada,
leva a anulação do processo a partir do momento em que ele devia intervir, de acordo
com os artigos 201.º e 202.º do Código de Processo Civil.

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A audição do Conselho de Família é considerada indispensável pela lei a medida em que
se entende que ninguém melhor do que os familiares do casal para poderem confirmar ou
não a existência e a permanência da União de Facto caracterizada pela sua natureza de
facto público, no respectivo meio social dos companheiros.
Ao analisar-se a prova produzida, o tribunal deverá apurar se estão verificados todos os
pressupostos legais para que a União de Facto possa ser reconhecida quanto à capacidade
matrimonial dos companheiros, o início e o término da União de Facto, para o
preenchimento do período legal, e ainda o da antiguidade da união. Mesmo que a união
tenha sido iniciada sem o preenchimento dos pressupostos legais, ela pode vir a ser
reconhecida, como já vimos, se a partir de determinado momento e pelo menos durante o
período mínimo de três anos consecutivos, eles se verificarem. Pode suceder o inverso.
Ou seja, pode-se preencher os requisitos legais a união e a certa altura, tal situação não
mais existir, por exemplo no caso da singularidade que pode não haver mais se um dos
companheiros iniciar outra União de Facto, com outra pessoa.
Neste caso se se der a ruptura da primeira união que foi válida para produzir efeitos, o
companheiro ou companheira pode vir, dentro do prazo de dois anos, requerer o
respectivo reconhecimento.
A CRA, atribui ainda ao Estado a obrigação de permitir aos seus cidadãos uma vida
familiar estável ou normal, garantindo deste modo a lei igualdade entre homens e
mulheres, conferindo lhes os mesmos deveres no seio familiar.
O direito de família na actualidade não tem mais por objecto à família legítima, pois a
evolução dos tempos impôs a reconsideração e a ênfase dos aspectos sociais e afectivos.

3.5. Falta do preenchimento dos pressupostos legais


O artigo 113.º, n.º2 refere-se à União de Facto que não possa ser reconhecida por falta
de pressupostos legais, o que nos põe perante todas as situações que podem ocorrer em
que existe efectivamente a vida marital comum entre homem e mulher, mas ela não pode
ser subsumida à previsão legal do n.º1 do mesmo artigo, por falta de qualquer dos
requisitos legais como por exemplo o tempo de duração, a incapacidade matrimonial ou
a singularidade.
MEDINA, afirma em sua obra, que nesta situação, estão todas as uniões de facto
poligâmicas, que ainda são muito frequentes no país.
Trata-se aqui da «União de Facto que não pode ser reconhecida» para distinguir da União
de Facto que pode ser reconhecida.
É preciso ter em conta que ela, em rigor, pode ser reconhecida, não para produzir efeitos
que na sua plenitude produz a União de Facto propriamente dita nos termos do artigo
113.º, n.º1 mas apenas para produzir os efeitos restritos previstos na segunda parte do
artigo 113.º, n.º 2 e, ainda o efeito presunção de paternidade do companheiro
relativamente aos filhos nascidos da União de Facto de acordo com o disposto no artigo
168.º, alínea b do Código de Família.
Segundo MEDINA, com o propósito de protecção dos filhos nascidos ou concebidos na
vigência da União de Facto, o artigo 168.º estabelece a presunção legal de que os filhos
nascidos da companheira são filhos do homem com quem ela convive nessa união, mesmo
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que a união não esteja reconhecida e nem possa vir a ser reconhecida por não
preenchimento dos requisitos legais.
Aos filhos nascidos destas uniões de facto estabelecidas entre os respectivos pais, atribuiu
a lei esta presunção legal de paternidade, sendo que nesta, encontra-se a maior parte da
população no país.
No entanto, as previsões especificadas no citado n.º 2 do artigo 113.º, que devem ser
atendidas mesmo que a União de Facto não preencha os pressupostos legais são as
seguintes: O enriquecimento ilícito, nos termos gerais da lei civil, corresponde ao
enriquecimento sem causa previsto nos artigos 479.º a 482.º do Código Civil, e sua
verificação depende das seguintes condições:
Condições de ordem económica:
 O Enriquecimento do réu e o empobrecimento do autor;
 Condições de ordem jurídica:
 Nexo de causalidade entre o enriquecimento e o empobrecimento;
 Ausência de causa; - Ausência de acção apropriada.
Na vigência da União de Facto podem ocorrer circunstâncias em que se produza o
enriquecimento sem causa de um dos companheiros à custa do património ou das
prestações de serviço por parte de outro, feitos com propósito de vida comum.
Pode concretizar-se em factos tais como em liberalidades, como por exemplo o consumo
de bens ou de mercadorias, a prestação de serviços domésticos ou de assistência e ainda
a prestação de trabalho por conta do outro sem remuneração.
Há porém, que averiguar se houve um enriquecimento não legitimado pelo direito por
uma das partes e um empobrecimento directo ou indirecto pela outra parte. Esse
reconhecimento, para produzir efeitos inter-partes ou em relação aos herdeiros de um dos
companheiros, deverá ser sempre feito por via judicial e pode acontecer que só na fase de
julgamento o tribunal possa apreciar e decidir que os pressupostos de União de Facto
estão preenchidos, para que se possa pronunciar sobre qual natureza da União de Facto,
verificou-se no caso concreto e daí retirar a conclusão sobre quais os efeitos legais ela irá
produzir.
Em bom rigor, se faltar um dos pressupostos, a União de Facto já não produz os efeitos
da dissolução do casamento por morte ou por divórcio, pois a situação vivida, dada falta
a falta de qualquer dos requisitos exigidos como é o caso da estabilidade da união, a
capacidade matrimonial de qualquer dos companheiros ou mesmo a singularidade,
impede que, mesmo a posterior, ela seja equiparada ao casamento.
Desta feita, esses efeitos são sem dúvida relevantes na esfera de relações de natureza
patrimonial dos ex-companheiros de União de Facto, pois reportam-se três situações que
se distinguem entre si:
 O enriquecimento sem causa;
 A partilha dos bens comuns;
 E a atribuição do direito a residência comum;

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MEDINA, afirma ainda, em sua obra, que neste aspecto, os efeitos patrimoniais do
atendimento da União de Facto que não reúnem os pressupostos legais, podem, em
essência, ser comparados aos que, nas demais legislações, são hoje atribuídos às uniões
de facto tidas como união livre ou concubinato. Ou seja, quem fez a prestação teve em
vista a situação de conveniência marital, pelo que, o fim desta retira à prestação feita o
seu objectivo mediato, devendo quem recebeu a prestação, proceder à sua restituição em
espécie ou em valor equivalente.
Ao referir-se a partilha de bens comuns, a lei não está portanto, a equiparar os bens
adquiridos durante a União de Facto aos bens comuns dos cônjuges casados sob o regime
da comunhão de bens adquiridos.
Neste tipo de União de Facto o que existe entre os companheiros não é um regime
matrimonial de bens, mas antes uma espécie de “sociedade de facto”, de acordo com o
entendimento predominante na doutrina.
Tendo em conta que ao desenvolverem uma vida em comum sob o ponto de vista social,
os companheiros da União de Facto desenvolvem também, na maioria dos casos uma
série de relações de natureza patrimonial entre si e relativamente a terceiros. São
adquiridos bens com valores de ambos, são desenvolvidas actividades económicas com a
contribuição de ambos e esta actuação pressupõe o propósito de participar nos lucos
respectivos.
Os patrimónios são na verdade dois, pois, nesse caso, é como se entre os companheiros
da União de Facto vigorasse o regime da separação de bens. Mas, dado o decurso da vida
em comum, esses patrimónios estão ligados entre si, pelo que, no momento em que a
União de Facto vier a terminar, torna-se necessário operar a partilha dos bens. Estamos
porém, perante uma partilha de cada um dos bens tidos em compropriedade e não perante
a partilha por meação dos bens comuns como acontece aquando da dissolução do
casamento ou da União de Facto reconhecida e que preenche os pressupostos legais.
Na falta de prova por documento escrito da titularidade dos bens a dividir, terá que ser
feita prova, por outra via legal, de que o bem em causa foi adquirido com a participação
e ambos companheiros. Porém, o ónus da prova recai sobre o autor do pedido.
Quanto a atribuição da residência familiar, também mencionada no anteriormente citado
artigo 113.º, n.º 2 sobre o atendimento da União Facto não reconhecida por falta de
pressupostos legais, serão aplicadas as regras previstas no Código de Família sobre a
dissolução por divórcio e as respeitantes à dissolução do casamento por morte.
O propósito da lei é o mesmo, salvaguardar o direito do companheiro de União de Facto
a quem deva ser atribuída a preferência legal de continuar a residir na mesma casa onde
o casal coabitou.
No que respeita a terceiros, a União de Facto também produz efeitos patrimoniais, pois
devem entender-se de responsabilidade solidária as dívidas contraídas por qualquer dos
companheiros para satisfazer os encargos normais da vida familiar ou em proveito comum
do casal.
Tem sido pois, entendido que, com base na denominada teoria da aparência, o casal que,
não sendo casado, comporta-se perante a sociedade como se o fosse, deve suportar os

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riscos de tal comportamento e constituir-se devedor de forma solidária perante terceiros,
como se de um casamento válido se tratasse.
3.6. Efeitos do reconhecimento
Segundo MEDINA uma vez provada a existência da União de Facto e após terem sido
verificados os pressupostos exigidos nos termos do artigo 113.º, n.º 1 do Código da
Família, o juiz deverá reconhecer a referida união, indicando, da melhor forma possível,
quando ela se iniciou e quando veio a terminar para, assim, determinar o período em que
ela produziu efeitos, designadamente quanto a aquisição de bens comuns,
responsabilidade por dívidas, presunção legal da paternidade por parte do companheiro
dos filhos nascidos da união e outras situações relevantes a nova situação jurídica.
A data do fim da união é importante porque marca a cessação das relações pessoais e
patrimoniais dos companheiros, uma vez que esta termina por simples acto de vontade de
um ou de ambos os companheiros. Não obstante, não é demais realçar o largo alcance da
sentença que vier a reconhecer a União de Facto que tenha preenchido os pressupostos
legais, uma vez que os efeitos dessa união são equiparados por lei aos do casamento
dissolvido.
Assim, se a União de Facto terminar por morte de um dos companheiros, os efeitos do
reconhecimento são os mesmos da dissolução do casamento por morte e esses estão
previstos no artigo 126.º do Código da Família. E o mesmo sucede com a União de Facto
que termina por ruptura, os efeitos que o reconhecimento produz são os mesmos da
dissolução do casamento pelo divórcio, como indica o artigo 126.º do Código de Família.
Pretende-se assim, garantir o direito a pensão de sobrevivência ao companheiro da União
de Facto tal como garante-se ao cônjuge no caso de falecimento do trabalhador. Contudo,
falar-se-á mais adiante e com algum detalhe sobre esta questão que é sem dúvidas
pertinente.
 Efeitos Pessoais: MEDINA afirma ainda, que os efeitos pertinentes da dissolução
do casamento são aqui de aplicar, salvo quanto aos efeitos de natureza pessoal do
casamento que não se chegam a produzir na União de Facto e que estão
intrinsecamente ligados ao casamento como um acto, como é o caso do nome de
família, a afinidade e a aquisição de nacionalidade.

Em relação aos filhos dado o fim da coabitação são de aplicar por inteiro as regras já
mencionadas contidas nos artigos 148.º e seguintes do Código de família. “O dever de
fidelidade recíproca tem por objecto a dedicação exclusiva e sincera, como consorte, de
cada um dos cônjuges ao outro. “ Assim refere ANTUNES VARELA a propósito do
casamento.
Porém, de qualquer forma conclui-se que há sempre um dever especial de sinceridade que
impende sobre os companheiros ao ponto de manterem uma relação exclusiva com o seu
parceiro sexual. Tal como no casamento, há também os deveres de respeito, Coabitação
e o dever de assistência e cooperação no âmbito da União de Facto, ainda que as sanções
aos mesmos não estejam expressamente previstas certamente têm relevância ética e
social.

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Assim, entende-se que perante a constatação de factos conformadores da violação ao
direito de fidelidade, fica ao critério do companheiro ofendido decidir pela cessação da
união, sem mais, independentemente até a verificação de qualquer fundamento objectivo
ou subjectivo para a ruptura da vida em comum.
Contudo, o dever de Coabitação é o mais evidente e importante dentro da União de Facto,
pois que sem coabitação como vimos anteriormente não há União de Facto. Trata-se pois
de um pressuposto crucial para o seu reconhecimento.
 Efeitos patrimoniais: No casamento, o legislador definiu um conjunto de
regimes de bens, permitindo aos casais a opção por um deles: Comunhão de
adquiridos e Separação de bens.
O regime supletivo é o da comunhão de adquiridos – artº 49º, nº 3.CF. Em qualquer dos
regimes, os cônjuges são solidariamente responsáveis pelas dívidas contraídas por ambos,
ou por um deles, para fazer face aos encargos gerais da vida familiar ou em proveito
comum do casal. O artº 61º CF.
Podemos notar que o nº 3 do art.º 116º do Cód Fam prevê que os interessados venham
declarar o regime de bens por que optam à semelhança do que está previsto no § 3 do art.º
29 sobre a declaração inicial do casamento, pois que tal, não possuem um caracter
obrigatório, mais sim facultativo, refere MEDINA, pois que se os interessados nada
disserem, aplicar-se-á a regra supletiva geral disposta nos termos do art.º 49º nº 3, ficando
desde logo a união de facto sujeita ao regime económico de comunhão de bens adquiridos.
Quanto aos efeitos patrimoniais na união de facto não importa a titularidade da coisa,
desde que tenha sido adquirida na constância da união.
O problema que surge então é em relação à prova da união. Haverá ou não necessidade
de registo da mesma e quem tem competência para tal? O registo, o notário ou apenas o
bairro onde residem as partes? Certamente o legislador estaria a obrigar o registo de toda
a relação e talvez se colocasse o problema da vontade das partes.
MEDINA defende ainda, que no campo das relações patrimoniais por sua vez, os efeitos
são praticamente os mesmos que os da dissolução do casamento. Haverá o direito a
partilha dos bens comuns adquiridos a título oneroso durante a união, pois é de aplicar
supletivamente o regime de bens da comunhão de bens adquiridos.
A responsabilidade pelo passivo segue igualmente as mesmas regras da dissolução do
casamento, devendo em primeiro lugar proceder-se à liquidação do passivo.
O direito a atribuição da residência familiar verifica-se também nas mesmas condições
que a dissolução do casamento por morte por um lado e a dissolução por divórcio ou seja,
aqui o Tribunal pondera igualmente as condições de vida dos companheiros, o interesse
dos filhos em comum e as causas da ruptura, socorrendo-se dos artigos 75.º e 110.º do
Código de Família com as necessárias adaptações.
As regras aplicáveis do direito a alimentos são igualmente as previstas para o caso de
dissolução do casamento por morte.
O artigo. 261.º, atribui ao companheiro sobrevivo de União de Facto reconhecida, o
direito de ser alimentado pelos rendimentos deixados pelo falecido.

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No caso de ruptura, da União de Facto que reúna os pressupostos legais, o companheiro
que não tenha dado causa exclusiva à ruptura tem direito a alimentos, como prescrevem
as disposições dos artigos 260.º e 262.º, n.º 2, ambos do Código de família. Por outro
lado, a constituição de nova União de Facto por parte do companheiro que tinha direito a
alimentos, faz cessar esse direito, como prescreve o artigo 263.º do Código de Família.
A decisão que reconhecer a União de Facto dissolvida por morte ou por ruptura está
sujeita a registo, pois é, constitutiva de relações jurídicas familiares, como expressamente
estipula a parte final do artigo 126.º do Código de Família. Ela deverá ser comunicada
oficiosamente pelo tribunal à Conservatória do Registo Civil da área da última residência
comum dos companheiros da União de Facto, aplicando por remissão, o disposto no artigo
120.º do código de família e o 101.º do Código de Registo Civil.

3.7. Dissolução da União de Facto reconhecida


Segundo Oliveira (2003, p. 74), “a união de facto pode dissolver-se de três maneiras
possíveis:
 Com o falecimento de um dos membros;
 Por vontade de um dos membros;
 E com o casamento de um dos membros”.
Extinta a relação, há que proceder à liquidação e partilha do património dos conviventes,
que pode suscitar dificuldades, sobretudo, quando a vida em comum durou muito tempo,
haverá então, frequentemente, bens adquiridos pelos membros da união de facto, dívidas
contraídas por um ou por ambos, contas bancárias em nome dos dois, confusão dos bens
móveis de um e outro.
Não restam dúvidas que os membros da união de facto não assumem qualquer
compromisso e cada um pode romper a relação quando quiser, livremente e sem
formalidades, sem que o outro possa pedir uma indemnização pela rutura.
Como referem alguns autores, é a solução que resulta dos princípios gerais, pois nenhum
deles tem direito de exigir do outro que mantenha a relação, e o seu interesse na
manutenção da união de facto não está protegido por qualquer disposição legal destinada
a proteger esse interesse. (OLIVEIRA, 2003, p. 81).
Por outro lado, importa realçar que se existirem filhos menores e não estiver regulado o
exercício da autoridade paternal, a dissolução da União de Facto reconhecida só poderá
ser pedida no Tribunal nos termos dos artºs 26º, do Decreto Presidencial nº 36/15, de 30
de Janeiro, 87º, do Código da Família.
3.8. Análise comparativa
A união de facto tendo na jurisdição angolana consagração constitucional, a lei exige para
que esta possa ser devidamente reconhecida é necessário que se preencham os
pressupostos legais previstos no artigo 113.º do código de família, cujos efeitos que dela
resultem são equiparados aos que resultam do casamento, salvo os de natureza pessoal
como sejam o nome de família, a afinidade e aquisição de nacionalidade; ao passo que na
lei portuguesa, a união de facto só é protegida, ou seja, só goza das medidas de proteção
previstas na lei da união de facto se, cumulativamente preencher dois requisitos: a)

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duração superior a dois anos; b) inexistência dos impedimentos estabelecidos no artigo 2º
da mesma lei.
O prazo estabelecido para o reconhecimento da união de facto enquanto é diferente nos
dois sistemas.
No direito português o prazo legal é de dois anos e no direito angolano o prazo é de três
anos de coabitação. No ordenamento jurídico português a doutrina debate-se sobre a
questão do requisito temporal, por suscitar dúvidas se o prazo de dois anos deva ou não
correr consecutivamente. No direito angolano, a contrario sensu, parece-nos
desnecessário sentirmos esta insegurança legal, porque o próprio artigo 113.º do Código
de família faz esta menção “(…) após decurso de três anos de coabitação consecutiva”.
Diferentemente acontece com a Lei da União de Facto – na versão da Lei n.º 23/2010, de
30 de Agosto -, que é omissa quanto a forma que se deve considerar os dois anos, como
podemos ver no artigo 1º, n.º 2 daquela lei.
Por exclusão de partes concluímos que também deva ser continuum. No entanto, a LUF,
terá se descuidado ao não mencionar-se quanto a singularidade ou vigência simultânea de
duas ou mais uniões de facto, porém, e por se tratar de uma situação análoga ao dos
cônjuges, partimos do princípio que o legislador não tenha sacrificado o princípio da
monogamia tão intrínseco no casamento.
Verificámos que, se existe algum paralelismo entre as duas ordens aqui estudadas
certamente será na seguinte situação: existindo casos no ordenamento jurídico angolano,
em que a união de facto não preencha os pressupostos legais previstos no artigo 113.º do
CFA e como tal, não é reconhecida, ela, é ainda assim atendida e suscetível de produzir
determinados efeitos legais. Por conseguinte, percebemos que tal como na jurisdição
portuguesa também ali, para evitar o locupletamento recorre-se às regras do
enriquecimento sem causa ou da sociedade de facto a fim de dar soluções aos problemas
atinentes a cada caso.
No direito angolano existem duas formas de reconhecer a união de facto, uma por via
Administrativa e outra por via judicial, ou passo que no direito português havendo apenas
uma mera atribuição de efeitos do casamento a quem viva em união de facto, a «analogia»
que a LUF nos apraz no artigo 1.º, n.º 1, é ainda posta em causa pela doutrina e
jurisprudência, pois a analogia como método de integração de lacunas, deve ser feita
norma a norma ou por aplicação de todo o regime jurídico ao caso omisso.
Como visto, as duas ordens estudadas, têm realmente uma resposta jurídica distinta para
o reconhecimento da união de facto. Para duas pessoas que optem viver em união de facto
e que estejam completamente leigas em relação ao instituto, de como devem proceder, ou
que tipos de preocupações devem ter, certamente que, tratando-se de um casal português,
encontrariam na lei mais problemas do que soluções. No entanto, e como vimos a Lei n.º
23/2010, de 30 de Agosto, veio dar resposta à algumas situações de incerteza já
enunciadas, ao inserir a primeira alteração à Lei n.º 7/2001, de 11 de Maio, que adota
medidas de proteção das uniões de facto em Portugal. No entanto, não resolveu a questão
da analogia dos efeitos jurídicos da união de facto, face ao regime especial do casamento.

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Cristina Dias, defende neste sentido, que “não há manifestação de qualquer vontade por
parte dos conviventes no sentido de sujeição ao regime patrimonial do casamento, ou seja,
não pode fazer-se produzir a uma simples relação de facto efeitos jurídicos não queridos
pelas partes (nem pelo legislador) ”. Note-se que a aplicação analógica de uma norma
pressupõe, antes de mais, uma lacuna verdadeira e própria, cuja existência no caso não
está precisamente demonstrada.
Com efeito, não se pode tirar argumento favorável da ausência de regulamentação análoga
ao casamento, na Lei n.º 7/2001, de 11 de Maio, se tratar de uma lacuna exatamente por
não existir uma regulamentação sistemática da união de facto.
Contrariamente, um casal angolano encontraria na lei angolana - que dá a mesma
exclusividade que dá ao instituto matrimonial – mais soluções do que problemas, desde
que esta esteja devidamente reconhecida, o legislador angolano considera qualquer
organização de convivência em comum (excetuando-se as homossexuais) merecedora de
regulação do direito de família, ainda que não preencha todos os pressupostos legais ali
previstos.
Contudo, no sistema jurídico angolano, o n.º 2 do artigo 113.º faz-nos questionar se valerá
a pena, validar a união de facto perante a lei através do reconhecimento por mútuo acordo
visto que, para o efeito de partilha de bens comuns e para atribuição do direito à residência
comum, em caso de rutura ou por morte de um dos membros, preenchendo ou não todos
os pressupostos a lei atende as uniões.
Julgamos que para além da dificuldade burocrática imposta, a própria opção legislativa
pode configurar-se numa situação que leve os casais a não reconhecerem as suas uniões
por mútuo acordo.
Contudo, a solução que a legislação portuguesa dá a união de facto não pode ser vista de
forma isolada, na medida em que esta está de acordo com a tendência europeia.
Cristina Dias, ensina-nos que esta interpretação acabe por influenciar os ordenamentos
jurídicos estaduais. Na verdade, como refere a autora, as decisões servem muitas vezes
de impulso às reformas legislativas ou jurisprudenciais nos diferentes Estados às novas
formas de família acaba por ter reflexo na sociedade.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após uma análise ao instituto jurídico em causa podemos considerar que a União de Facto
é uma forma de constituição de família que data desde os tempos mais remotos, e que a
expansão do cristianismo e a ascensão do império romano, contribuíram para que esta
fosse colocada em segunda instância, mas foi com a revolução Francesa que este instituto
voltou a ser tido em conta pela maior parte dos ordenamentos jurídicos.
Em Angola a União de Facto tem protecção constitucional e vem fixada no artigo 35.º n.º
1 da CRA, é uma fonte de relação jurídica familiar institucionalizada no respectivo código
de família. Embora sendo uma relação informal a lei concede a possibilidade de
reconhecer as uniões de facto em caso de rutura, morte e mútuo acordo, representando
assim, ao nosso ver, um avanço no tempo e na legislação Angolana.
Com aprovação do Decreto Presidencial 36/15 de 30 de Janeiro surge uma nova esperança
para as pessoas que vivem em União de Facto, visto que este veio para regular o
reconhecimento das Uniões de Facto, situação que cabe alertar as entidades competentes
para a necessidade ter um melhor tratamento. O Código de Família Angolano e de mais
legislações, dão a mesma exclusividade a união de facto que dá ao instituto matrimonial,
no entanto apresenta mais soluções do que problemas, desde que esta esteja devidamente
reconhecida e para tal preenchidos todos os pressupostos legais ali previstos no artigo
113.º do código de família, cujos efeitos que dela resultem são equiparados aos que
resultam do casamento, salvo os de natureza pessoal como sejam o nome de família, a
afinidade e aquisição de nacionalidade. No entanto a união de facto pode dissolver-se de
três maneiras possíveis: com o falecimento de um dos membros, em segundo, por vontade
de um dos membros e terceiro com o casamento de um dos membros.
Sentimo-nos felizes por termos realizado este trabalho de formas a contribuir no
crescimento bibliográfico relacionado ao tema em causa e a falta de interesse pela
situação em que se encontra a maior parte da população angolana.
Despertou em nós um interesse profundo e solidário para com as famílias que por motivos
históricos, económicos ou culturais não conseguem regularizar a sua situação sem
descorar desconhecimento deste instituto.
Esperamos que este trabalho sirva de meio para chamar atenção ao Executivo Angolano
e a sociedade em Geral, para que se solidarizem com esta causa, e juntos possamos
evidenciar esforços para que esta situação seja resolvida de forma mais célere. O
reconhecimento constitucional da união de facto como meio de constituir famílias,
representa um esforço louvável no sentido da aproximação entre as duas realidades
culturais da sociedade angolana em termos da estruturação jurídica da família.
A pouca aderência à solução legal do Código da Família sobre o processo de
reconhecimento da união de facto, evidenciada ao longo dos anos de vigência desse
código, veio mostrar, porém, que há ainda muito caminho a percorrer em termos da
conciliação das bases filosóficas e conceptuais e dos objectivos constitucionais da família
em Angola.
Por isso, dos que têm a nobre e histórica tarefa de trabalhar na revisão do Código da
Família, espera-se mais criatividade, espírito inovador e muito realismo.

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O argumento de que se deve dar às pessoas que não pretendam contrair matrimónio a
oportunidade de viver em união de facto não é aceitável, se tivermos em conta que, como
dissemos anteriormente, a maior parte das mulheres na nossa sociedade não tem
capacidade de negociar a sua condição social, sujeitando-se à vontade do companheiro.
Olhando para os efeitos da união de facto verificamos que se trata de uma solução apenas
aparente. Constata-se ainda que a diferença de tratamento resultante da própria lei traduz-
se por sua vez na desigualdade de direitos entre os cidadãos principalmente do sexo
feminino.

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