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DIREITO DE FAMÍLIA

GRADUANDO:____________________________________________________

PROFESSORA: GOIACY CAMPOS DOS S. DUNCK

2022

GRADUANDO:____________________________________________________

APOSTILA E CADERNO DE EXERCÍCIOS DE DIREITO DE FAMÍLIA


Professora Goiacy Campos Dunck

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Esta apostila foi elaborada exclusivamente para fins didáticos, como
material de apoio, tendo principal fonte a doutrina do eminente Mestre Carlos
Roberto Gonçalves, Maria Berenice Dias e Giselda Hironaka ,Flávio Tartuce . 2021,
e extração dos textos referentes aos artigos descritos no Código Civil relativos a
Direito de Família, como também Súmulas e Jurisprudência acerca da matéria.

O presente resumo é destinado a disciplina de DIREITO CIVIL(FAMÍLIA)


ministrada no curso de DIREITO. Não deve ser considerada como base para
consulta bibliográfica, mas como material complementar aos estudos, se fazendo
imprescindível a consulta e leitura dos livros indicados na bibliografia básica do
curso.

O sonho de cada família é poder viver junta e feliz, num lar


tranquilo e pacífico, em que os pais têm oportunidade de criar
os filhos da melhor maneira possível, ou de os orientar e
ajudar a escolher as suas carreiras, dando-lhes o amor e
carinho que desenvolverá neles um sentimento de segurança e
de autoconfiança. (NELSON MANDELA)

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SUMÁRIO

1. O Direito de Família.
1.1. Objetivo da disciplina
1.2. Conceito, conteúdo e caracteres.
1.3. Características e princípios.
1.4. A família: conceito, origem e evolução histórica até os dias atuais.
1.5. A constitucionalização do Direito de Família.
2. Casamento.
2.1. Conceito, natureza jurídica, caracteres e finalidades.
2.2. Requisitos e pressupostos.
2.3. Processo de habilitação.
2.4. Capacidade para o casamento.
2.4.1. Impedimentos, conceito e classificação.
2.4.2. Das causas suspensivas.
2.4.3. Oposição.
2.5. Celebração e prova do casamento.
2.6. Suspensão da cerimônia.
2.7. Casamento civil e casamento religioso.
2.9. Casamento putativo.
2.10. Direitos e deveres dos cônjuges.
2.11. Regime de bens, legal e convencional. Bem de família.
3. Dissolução da sociedade conjugal.
3.1. Separação judicial.
3.1.1. Contenciosa.
3.1.2. Consensual.
3.2. Efeitos e proteção dos filhos.
3.3. Divórcio.
3.3.1. Conversão de separação judicial em divórcio.
3.3.2. Divórcio direto.
3.3.3. Contencioso.
3.3.4. Consensual. Efeitos

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4. Alienação Parental
4.1. Caracterização e repercussões.
5. Direito parental.
5.1. Conceito.
5.2. Reconhecimento: presumido, espontâneo e judicial.
5.3. Parentesco consangüíneo, por afinidade, civil e filiação sócioafetiva.
5.4. Adoção e seus efeitos.
6. Poder familiar.
6.1. Evolução e conceito.
6.2. Quanto à pessoa e quanto aos bens do filho.
6.3. Cessação, suspensão e perda
7. Alimentos.
7.1. Conceito, natureza e casos especiais.
8. Tutela.
8.1. Conceito e espécies.
8.2. Incapacidade e escusas para o exercício. Exercício, cessação e prestação de contas.
9. Curatela. Conceito e espécies.
Referências Bibliográficas

DIREITO DE FAMÍLIA

1. Noções de direito de família. Dos ramos do direito é o mais ligado à vida. De um modo
geral as pessoas provêm de um organismo familiar, seja casamento ou união estável. A família
é uma realidade sociológica, sagrada protegida pelo Estado, em razão da legislação
constitucional e civil.

O vocábulo família engloba todas as pessoas ligadas por vínculo consanguíneo e procedem de
um tronco ancestral comum, além dos laços de afinidade e a adoção. São os cônjuges,
companheiros, parentes e afins. De um modo geral, a legislação define família como um núcleo
familiar mais restrito, constituído pelos pais e a prole. É a pequena família (pai, mãe e filhos),
que corresponde domus do direito romano. É instituição jurídica e social, resultante de
casamento ou união estável, formada por duas pessoas de sexo diferente com a intenção de
estabelecerem uma comunhão de vida, e, via de regra, de terem filhos a quem possam
transmitir o seu nome e seu patrimônio.

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2. Sociedade conjugal. Ocorre através do vínculo conjugal (cônjuges), do vínculo de
parentesco (integrantes de um tronco comum) e do vínculo de afinidade (cônjuge e os parentes
do outro).

3. Conteúdo do Direito de Família. Os direitos familiares decorrem do fato de uma pessoa


pertencer a determinada família, na qualidade de cônjuge, pai, filho, mãe etc. Difere do direito
real e do direito obrigacional. A violação dos direitos de família implica em sanções diversas
das demais, entre elas a suspensão ou extinção do poder familiar, dissolução da sociedade
conjugal, perda do direito de alimentos entre outros. Contudo, também possui conteúdo
patrimonial, como no caso dos alimentos, usufruto, regime de bens, administração dos bens de
incapazes etc.

O direito de família disciplina as relações entre pessoas unidas pelo matrimônio, pela união
estável ou pelo parentesco, bem como a tutela e curatela. São relações pessoais, patrimoniais
e assistenciais (filhos e pais, tutelado em face do tutor e interdito diante do seu curador).

3.1. Do direito pessoal. Casamento, celebração, validade e causas de dissolução, proteção


dos filhos, relações de parentesco e a igualdade plena entre os filhos.

3.2. Direito patrimonial. Regime de bens no casamento, alimentos, usufruto, administração


dos bens de filhos menores e bem de família.

3.3. União estável. Efeitos, inovações e conseqüências de seu reconhecimento como entidade
familiar pela Constituição Federal de 1988.

3.4. Tutela e curatela.

De todos os assuntos, o casamento é o centro, o foco de onde irradiam as normas básicas do


direito de família. Da mesma forma, o instituto da filiação foi bastante alterado, com destaque
para a proibição de qualquer discriminação em relação aos filhos de qualquer natureza. Foi
introduzida a expressão poder familiar em lugar de pátrio poder. Em relação aos alimentos, o
CC contempla a possibilidade de transmissão da obrigação aos herdeiros. A obrigação
alimentar envolve todos os parentes na linha reta e os colaterais até os irmãos.

4. Princípios de direito de família.


4.1. Princípio do respeito à dignidade da pessoa humana. Proteção milenar da família como
instituição e unidade de produção e reprodução de valores culturais, éticos, religiosos e
econômicos, com enfoque à proteção da personalidade dos filhos. Constitui a base da
comunidade familiar, garantindo o pleno desenvolvimento e a realização de todos os seus
membros.

4.2. Princípio da igualdade jurídica dos cônjuges e dos companheiros. Os direitos e


deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.
Artigo 226, § 5º. O artigo 233 do CCB de 1916 proclamava que o homem era o chefe da
sociedade conjugal, com o direito de administrar os bens, fixar domicílio da família e o dever de
prover a manutenção desta. À mulher estava reservada às funções domésticas e de

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procriação. O dever de prover a manutenção da família deixou de ser um encargo do marido,
incumbindo também à mulher.

4.3. Princípio da igualdade jurídica de todos os filhos. Artigo 227, § 6º. Não é admissível
qualquer discriminação em relação aos filhos quanto ao nome, poder familiar, alimentos e
sucessão. Permite-se o reconhecimento a qualquer tempo.

4.4. Princípio da paternidade responsável e planejamento familiar. É de livre decisão do


casal, fundados no princípio da dignidade humana e da paternidade responsável. A
responsabilidade é de ambos os genitores, cônjuges ou companheiros. É vedada qualquer
ingerência por parte de instituições particulares ou públicas.

4.5. Princípio da comunhão plena de vida. É baseada na afeição entre os cônjuges e


conviventes. Deve ser revelado pelo espírito de companheirismo, voltado para o
desenvolvimento da personalidade de seus membros. Valoriza a convivência familiar em
harmonia, segura e em paz. É a família monoparental com os mesmos direitos e mesmos
deveres.

4.6. Princípio da liberdade de constituir uma comunhão de vida familiar. Pelo casamento
ou união estável. Assim, é livre a decisão do casal no planejamento familiar, a aquisição e
administração do patrimônio familiar, a opção pelo regime de bens no casamento, a liberdade
para escolher a formação educacional, religiosa e cultural da prole, e a livre conduta.

5. Natureza jurídica do direito de família. A família merece a especial proteção do Estado. O


Estado por sua vez procura protegê-la e fortalecê-la. São normas de ordem pública que não
podem ser revogadas pela vontade dos particulares. Esse predomínio de normas imperativas
impede a modificação dos deveres conjugais, proíbe a alteração do conteúdo do poder familiar
ou de fixar o conteúdo do casamento.

A grande maioria dos preceitos de direito de família é composta por normas cogentes.
Contudo, a íntima aproximação do direito de família ao direito público não retira o seu caráter
privado. Alguns doutrinadores o classificam como um direito sui generis ou social. Uma
característica do direito de família é a sua natureza personalíssima. Ninguém pode renunciar
ou transferir a sua condição de filho. O marido não pode transmitir seu direito de contestar a
paternidade do filho havido por sua mulher. Ninguém pode ceder seu direito de pleitear
alimentos.

6. Família e casamento. No CC de 1916, o primeiro e principal efeito do casamento era a


criação da família legítima. A família estabelecida fora do casamento era ilegítima
(concubinato). Proibia-se doações ou benefícios testamentários do homem casado à
concubina, ou a inclusão desta como beneficiária de contrato de seguro de vida. Filhos fora do
casamento eram considerados ilegítimos. Os naturais entre homem e mulher entre os quais
não havia impedimento para o casamento. Filhos espúrios eram os nascidos de pais impedidos
de se casar entre si em decorrência de parentesco, afinidade ou casamento anterior
(incestuosos e adulterinos).

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Os filhos naturais podiam ser reconhecidos e legitimados pelo casamento dos pais após sua
concepção ou casamento. No entanto, não era admitido o reconhecimento de filhos adulterinos
e incestuosos. Em razão das transformações sociais no século XX, o direito de família
brasileiro foi alterado substancialmente. Inicialmente com a família nonoparental (um pai com
seus filhos).

Não há mais a necessidade de um par e a possibilidade de proliferação. Ao lado da união


legalizada, o constituinte reconheceu a união livre não legalizada. Embora a família continue a
ser a base da sociedade e desfrutar especial proteção do Estado, ela não é originária apenas
do casamento. Duas novas entidades familiares passaram a ser reconhecidas pelo Estado:
União estável e a formada por qualquer dos pais e seus descendentes.

7. Evolução do direito de família.

.1. Direito romano. A família era organizada sob a autoridade do pater famílias. O pater
famílias exercia sobre o os filhos o direito de vida e de morte. Podia vendê-los, castigá-los,
impor penas corporais e até tirar a sua vida. A mulher estava sob o poder do marido que podia
repudiá-la por ato unilateral. A autoridade era exercida sobre todos os descendentes não
emancipados, sobre sua esposa e as mulheres casadas com manus com seus descendentes.
A família era uma unidade econômica, religiosa, política e jurisdicional. O ascendente comum
vivo mais velho era ao mesmo tempo o chefe político, sacerdote e juiz. 2. OBJETO DO

5.4. BABILÔNIA. Casamento monogâmico, mas com autorização para escolha de outras
esposas secundárias. Semelhança com os atuais úteros de aluguel. Casamentos escolhidos.

. ROMA ANTIGA. Poder patriarcal quase absoluto. Família: grupo essencial para a
perpetuação dos cultos aos deuses e antepassados. Vínculos estritamente relacionados aos
cultos. Não havia elos de afeição. Necessidade de manutenção da família sob risco de
ausência de cultos aos antepassados. Importância da adoção: filhos do sexo masculino para
continuidade dos cultos.

CRISTIANISMO. Condenação aos cultos pagãos e das uniões livres. Instituição do casamento
como sacramento. Cultos realizados apenas por filhos havidos do casamento.

. IDADE MÉDIA. Manutenção dos casamentos pelo dogma da religião domestica nas classes
nobres. Casamento de viúvas sem filhos com parentes do marido: filhos considerados deste.
Necessidade de procriação para culto ao pai falecido. Origem histórica dos direitos mais
amplos. Atribuição ao primogênito do dever de manutenção do patrimônio em prol da unidade
religioso familiar.

. FAMILIA MODERNA. Manutenção da célula pais e filhos. Ausência de transferência de


ofícios. Educação exercida pelos pais e mães com o auxilio da escola. Alteração do papel da

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mulher sensíveis alterações nas famílias. Aumento do número de divórcios. Simbioses de
proles. Estruturação da família através do casamento ou uniões estáveis. Controle da
natalidade. Mudanças no paradigma do Direito de Família – divórcio e reconhecimento de filhos
havidos fora do casamento.

NATUREZA JURIDICA DA FAMILIA. Institucional: União associativa de pessoas da qual se


vale a sociedade para regular a procriação e educação dos filhos.

DIREITO DE FAMILIA

. NATUREZA JURIDICA. Ramo do Direito Privado, mas com permanência de normas de ordem
pública, fixando os interesses do Estado no direcionamento da família como sua célula básica,
dedicando-lhe atenção especial. (Art. 226 caput, CF).

. OBJETO. A partir da Constituição Federal de 1988, visa:


Estabelecer igualdade completa entre os cônjuges e companheiros;
Igualdade jurídica de todos os filhos;

Até o advento da Constituição Federal de 1988, o conceito jurídico de família era


extremamente limitado e taxativo, pois o Código Civil de 1916 somente conferira o status de
família aqueles agrupamentos originados do instituto do matrimônio.
Além disso, o modelo único de família era caracterizado como um ente fechado, voltado para si
mesmo, onde a felicidade pessoal dos seus integrantes, na maioria das vezes, era preterida
pela manutenção do vínculo familiar a qualquer custo ("o que Deus uniu o homem não pode
separar") – daí porque se proibia o divórcio e se punia severamente o cônjuge tido como
culpado pela separação judicial .
Entretanto, os princípios preconizados na Carta Magna provocaram uma profunda
alteração do conceito de família até então predominante na legislação civil.
Inicialmente, há de se mencionar que o princípio do reconhecimento da união estável (art. 226,
parágrafo 3º) e da família monoparental (art. 226, parágrafo 4º) foi responsável pela quebra do
monopólio do casamento como único meio legitimador da formação da família.
Destarte, sem dúvida alguma, é o princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III) o
principal marco de mudança do paradigma da família. A partir dele, tal ente passa a ser
considerado um meio de promoção pessoal dos seus componentes. Por isso, o único requisito
para a sua constituição não é mais jurídico e sim fático: o afeto.

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Nessa esteira, observa-se que a entidade familiar ultrapassa os limites da previsão jurídica
(casamento, união estável e família monoparental) para abarcar todo e qualquer agrupamento
de pessoas onde permeie o elemento afeto (affectio familiae). Em outras palavras, o
ordenamento jurídico deverá sempre reconhecer como família todo e qualquer grupo no qual os
seus membros enxergam uns aos outros como seu familiar.
Não obstante a consolidação deste conceito moderno sobre a família, certo é que, no plano
infraconstitucional, não se via o seu reconhecimento expresso, o que, muitas vezes, causava
insegurança aos magistrados no julgamento dos casos concretos, principalmente nas lides
envolvendo uniões homossexuais (ou homoafetivas, termo mais apropriado para o cenário da
atualidade), optando eles, no vazio legislativo, pelo não reconhecimento de qualquer outro tipo
de entidade familiar além daquelas 3 (três) já previstas na Constituição Federal.
Em 07 de agosto de 2006, foi sancionada a Lei nº 11.340/2006 (conhecida como Lei Maria da
Penha), que, apesar de ter como finalidade primordial a criação de mecanismos para coibir a
violência doméstica e familiar praticada contra a mulher, acabou trazendo importante inovação
no ordenamento jurídico nacional no seu artigo 5º, II e parágrafo único.
Desde já, para tornar ainda mais claro o debate, passemos à transcrição do
dispositivo supra aludido:
"Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher
qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico,
sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:
I – (...);
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou
se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa
(...).
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação
sexual".
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Síndrome da alienação parental e o Direito

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Filiação socioafetiva
Nesse momento, duas indagações precisam ser feitas: 1. teria o art. 5º, II e parágrafo único, da
Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha

1.O CONCEITO MODERNO DE FAMÍLIA


Inúmeras são as influências do ambiente social para a formação da personalidade
humana. Inegavelmente, a família é a mais importante de todas. É ela que proporciona as
recompensas e punições, por cujo intermédio são adquiridas as principais respostas para os
primeiros obstáculos da vida. É instituto no qual a pessoa humana encontra amparo irrestrito,
fonte da sua própria felicidade.
Os membros integrantes da família (pais, irmãos, avós etc) moldam o ser humano,
contribuindo para a formação do futuro adulto. Não foi por acaso que um dos maiores nomes
da literatura brasileira, Machado de Assis, já afirmara que "o menino é pai do homem".
O grupo familiar tem sua função social e é determinado por necessidades sociais. Ele
deve garantir o provimento das crianças, para que elas, na idade adulta, exerçam atividades
produtivas para a própria sociedade, e deve educá-las, para que elas tenham uma moral e
valores compatíveis com a cultura em que vivem . Tanto assim que a organização familiar
muda no decorrer da história do homem, é alterada em função das mudanças sociais.
Nesse sentido, entende-se que a família não é apenas uma instituição de origem
biológica, mas, sobretudo, um organismo com nítidos caracteres culturais e sociais.
Nas palavras da Professora Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka(2016), ela "é uma
entidade histórica, ancestral como a história, interligada com os rumos e desvios da história ela
mesma, mutável na exata medida em que mudam as estruturas e a arquitetura da própria
história através dos tempos (...); a história da família se confunde com a história da própria
humanidade" .Trata-se, em verdade, da celula mater da sociedade, do seu núcleo inicial,
básico e regular. É um microssistema social, onde os valores de uma época são reproduzidos
de modo a garantir a adequada formação do indivíduo.
Entretanto, o Código Civil de 1916, equivocadamente, pretendeu controlar a dinâmica
social, pois tentou impor à sociedade um conceito único de família ao prever que apenas o
casamento poderia legitimar a formação deste ente.

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Assim é que a única forma de criar a família legítima (e, conseqüentemente, legitimar os
filhos comuns antes dele nascidos ou concebidos) era mediante o casamento (justas núpcias),
o qual recebeu gracioso tratamento do Código Civil em nada menos que robustos 149 (cento e
quarenta e nove) artigos (do 180 ao 329).
Nesse contexto, vale ressaltar que o casamento, à essa época, tinha finalidades de cunho
eminentemente econômico, a exemplo do estabelecimento de vínculos patrimoniais (art. 230 –
regime de bens), da mútua assistência (art. 231, III), entendida como um recíproco auxílio
patrimonial, e do dever de educar e (principalmente) manter a prole (art. 231, IV).
A legalização das relações sexuais, exteriorizada a partir do dever de coabitação
consagrado no art. 231, II, e a procriação eram outras finalidades do matrimônio, o que só
revelava a quase completa ausência de interesses personalíssimos neste instituto.
Ademais, o regime matrimonial de bens teve tratamento primordial do legislador, pois
nada menos que 59 (cinquenta e nove) artigos do Código foram responsáveis por essa
disciplina.
de fixar o domicílio da família, além da exclusividade no exercício do pátrio poder [06] sobre os
filhos (art. 240).

Os filhos provenientes das relações extraconjugais sofriam do mesmo fardo de serem


tratados como "ilegítimos" e, por isso, não recebiam os direitos privativos dos chamados filhos
"legítimos" (de pai e mãe casados), ex vi dos artigos 337 a 351. Aliás, a única forma de eliminar
tamanha discriminação era através da legitimação dos filhos, o que ocorria, por óbvio, com o
superveniente matrimônio dos seus respectivos pais. Do contrário, a criança já nascia com uma
predisposição à infelicidade, ao menos no que concerne ao reconhecimento da sociedade do
seu status de filho.
Some-se a tudo isso a enorme força axiológica dada à presunção pater is est quem nuptiae
demonstrant. Em havendo uma das hipóteses insertas no art. 338 do Código de 1916, decorria
naturalmente a presunção relativa de que o filho foi concebido na constância do casamento,
mesmo se provado um adultério expressamente confessado pela mulher, nos termos dos
artigos 343 e 346.
A presunção só poderia ser elidida em caso de propositura da excepcional ação de
contestação de paternidade, a qual guardava restrições quanto à legitimidade (só o marido a

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tinha), ao prazo decadencial (exíguos dois meses, contados do nascimento, se o suposto pai
era presente, ou três meses, na hipótese de ausência ou de ter-lhe sido ocultado o nascimento,
contando-se então o prazo a partir de seu retorno ou da ciência do fato) e à causa de pedir
(taxativamente limitada aos artigos 340 a 342).
Outro balizador da família do Código Civil de 1916 era a relação hierárquica existente
entre pais e filhos, mesmo aqueles chamados de "legítimos": o pai ocupava o posto de senhor
absoluto da razão, enquanto que o filho era seu mero obediente.
O processo educacional era extremamente rígido, autoritário e unilateral. O filho não tinha
voz nem vez, restando a ele somente o privilégio de calar-se e obedecer, pois o patriarca sabia
o que era bom para sua prole (ou melhor: para a família). Não era aberto espaço para o
diálogo, para a troca de idéias e de conhecimentos, algo tão salutar em qualquer método
educacional.
O pai do início do século XX tinha como seu principal papel nutrir financeiramente seus
filhos. Isso bastaria para que fosse proporcionada a felicidade da sua prole. Aí estava exaurido
o seu dever. Logo, a paternidade não era inspirada na proteção da pessoa dos filhos, mas no
patrimônio familiar.
Por outro lado, o pátrio poder era exercido pelo seu titular como se fosse um direito deste
para com seus filhos, quando, na verdade, os poderes eram conferidos a ele no intuito de
facilitar a realização do dever da paternidade responsável (guarda, educação e sustento da
prole).
Apresentados todos esses caracteres e feitas tais considerações, já é possível qualificar
com detalhes o modelo de família (im)posto pelo Código Civil de 1916, mas, para que não paire
qualquer tipo de dúvida, arrematemos o assunto com a valiosa lição de Gustavo Tepedino , in
verbis:
A hostilidade do legislador pré-constitucional às interferências exógenas na estrutura
familiar e a escancarada proteção do vínculo conjugal e da coesão formal da família, inda que
em detrimento da realização pessoal de seus integrantes – particularmente no que se refere à
mulher e aos filhos, inteiramente subjugados à figura do cônjuge-varão – justificava-se em
benefício da paz doméstica. Por maioria de razão, a proteção dos filhos extraconjugais nunca
poderia afetar a estrutura familiar, sendo compreensível, em tal perspectiva, a aversão do
Código Civil à concubina. O sacríficio individual, em todas essas hipóteses, era largamente

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compensado, na ótica do sistema, pela preservação da célula mater da sociedade, instituição
essencial à ordem pública e modelada sob o paradigma patriarcal..

Ao considerar como ideal o modelo de família por ele consagrado, o Código Civil vedava
por absoluto o término definitivo do vínculo matrimonial (à época não era permitido no Brasil o
divórcio), admitindo apenas o encerramento da sociedade conjugal, através da separação
judicial, sendo que o culpado por esta separação era duramente punido com a perda
automática da guarda judicial dos filhos e dos direitos ao nome de casado e aos alimentos.
Em virtude desse freio proporcionado pelo Código, é de se imaginar quantas famílias
sofreram com o fato de terem que manter a fachada hipócrita da felicidade apenas em prol de
um reconhecimento, um status dado pela sociedade, quando, no âmago de cada um dos seus
membros, reinava a insuportabilidade da convivência, algo relativamente normal nos
relacionamentos humanos, mas terrivelmente evitado em razão do medo da rejeição e dos
preconceitos sociais.
Inúmeros casais digladiavam-se, sequer dormiam no mesmo leito, chegavam até as vias de
fato, mas permaneciam juntos para que não fosse rompida a decantada família.
A influência da Igreja Católica era ainda muito forte, projetando-se também no mundo jurídico.
Assim, o sacramento do matrimônio decorria da vontade de Deus e, "como o que o Criador
reuniu não poderia o homem separar", os cônjuges deveriam permanecer juntos "até que a
morte os separasse".
Todo esse cenário perdurou por muito tempo, durante quase todo o século XX, mas,
felizmente, a Constituição Federal de 1988, atendendo aos anseios sociais, veio a alterar
radicalmente o paradigma da família.
Consubstanciando o princípio vetor da dignidade da pessoa humana no seu art. 1º, III, a
Carta Magna provocou uma autêntica revolução no Direito Civil como um todo, dando ensejo a
um fenômeno conhecido como despatrimonialização ou personalização deste ramo do Direito.
No campo específico do Direito de Família, verifica-se que a entidade familiar passa a ser
encarada como uma verdadeira comunidade de afeto e entre ajuda e não mais como uma fonte
de produção de riqueza como outrora. É o âmbito familiar o local mais propício para que o
indivíduo venha a obter a plena realização da sua dignidade enquanto ser humano, porque o

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elo entre os integrantes da família deixa de ter conotação patrimonial para envolver, sobretudo,
o afeto, o carinho, amor e a ajuda mútua.
Nesse sentido, percebe-se que as relações familiares se tornam muito mais verdadeiras,
porque são construídas (e não impostas) por quem integra o instituto (e não por um terceiro,
um elemento estranho, como o legislador). O ser, finalmente, supera o ter, fazendo com que o
afeto se torne o elemento irradiador da convivência familiar.
O relacionamento entre os familiares, portanto, ganha uma nova roupagem. Passa a ser
muito mais aberto, democrático e plural, permitindo que cada indivíduo venha a obter, de fato, a
realização da sua felicidade particular. Isso porque, se a Constituição consagrou a dignidade da
pessoa humana como superprincípio, assim o fez por ter encontrado na família pós-moderna
um forte (talvez o principal) meio de sua propagação, pois é no âmbito familiar que o indivíduo
cresce e adquire suas habilidades para a convivência social.
Nessa linha de intelecção, Gustavo Tepedino [08] afirma que a maior preocupação da
atualidade é com "a pessoa humana, o desenvolvimento de sua personalidade, o elemento
finalístico da proteção estatal, para cuja realização devem convergir todas as normas
de direito positivo, em particular aquelas que disciplinam odireito de família, regulando as
relações mais íntimas e intensas do indivíduo no social" (grifo nosso).
O Professor Cristiano Chaves (2017) reforça essa idéia ao proclamar que, nos dias de
hoje, predomina um modelo familiar "eudemonista, afirmando-se a busca da realização plena
do ser humano. Aliás, constata-se, finalmente, que a família é locus privilegiado para garantir a
dignidade humana e permitir a realização plena do ser humano".
Desse modo, conclui-se que a família advinda da Constituição Federal de 1988 tem o
papel único e específico de fazer valer, no seu seio, a dignidade dos seus integrantes como
forma de garantir a felicidade pessoal de cada um deles. A construção de sonhos, a realização
do amor, a partilha do sofrimento, enfim, os sentimentos humanos devem ser compartilhados
nesse verdadeiro LAR, Lugar de Afeto e Respeito .
Nesse contexto, é imperioso fazer a releitura de alguns dos institutos do Direito de Família,
precipuamente o relacionamento entre os cônjuges.
O casamento deixa de ter importância tão-somente pelo vínculo em si para ser encarado
como o melhor instrumento encontrado pelos nubentes (na visão deles) para compartilharem o
desejo de alcançar a felicidade. Ficará muito mais fácil realizar este sonho junto da pessoa que

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se ama, pois desse sublime sentimento decorrerá uma mútua assistência verdadeira e
autêntica, sem qualquer tipo de obrigação imposta por lei, até porque quem ama não se
preocupa com o amado por dever, mas por desprendimento próprio.
É nesse cenário que os chamados deveres do casamento devem receber nova interpretação. A
fidelidade, por exemplo, não envolve unicamente o aspecto sexual, mas também o respeito e o
carinho mútuos, a confiança, a cumplicidade etc. Daí porque já começa a ser discutida, no
âmbito dos Tribunais, a possibilidade de se configurar a traição por meio da Internet,
especialmente nas famigeradas salas de bate-papo (chats).
O dever de coabitação segue esse mesmo trilhar: não é mais suficiente a mera
convivência sob o mesmo teto conjugal para que ele esteja sendo corretamente respeitado. A
boa convivência entre quatro paredes, constante, ininterrupta, intensa e prazerosa, isso sim
perfectibiliza a vida em comum. Com base nessa assertiva é que os Tribunais vêm admitindo a
existência de separação de fato entre cônjuges que residem no mesmo local, sustentam a
imagem de casados perante a sociedade, mas vivem às turras dentro do lar, muitas vezes
causando traumas inimagináveis nos seus filhos.
Verifica-se também uma nova roupagem do dever de sustento, guarda e educação dos
filhos: o papel do pai (gênero) moderno não se limita apenas ao simples pagamento dos gastos
da sua prole ao final do mês. É inegável que o pagamento das diversas despesas é
indispensável à sobrevivência dos menores, mas ele não é a única função dos pais, sequer a
mais importante, até porque poderia ser facilmente preenchida por um orfanato ou outra
instituição de caridade qualquer, talvez até com maior eficiência.
É o acompanhamento psicológico, educacional e mesmo espiritual, o diálogo exercitado
cotidianamente, a transferência de maturidade e de lições de vida, a participação efetiva na
escolha do colégio, do esporte, da academia de balé, é estar sempre se renovando e se
conhecendo para acompanhar as gradativas mudanças dos filhos, enfim, é preparar um ser
humano intelectualmente equilibrado e certo dos seus valores para a vida em sociedade que
define o verdadeiro papel do pai contemporâneo.
Os filhos, de outro lado, ganharam o espaço necessário à participação no processo
educacional: saíram da condição de meros objetos deste processo para alcançarem o status de
sujeitos com direito à voz naquilo que lhes interessava diretamente. Dessa forma, os filhos
deixaram de ser simples repetidores de ordens dos seus pais, o que aumentou em muito o

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contato (verdadeiro) entre eles Assim, a Carta Magna, como conseqüência da dignidade
humana e no intuito de promovê-la, não só retirou do casamento o monopólio na criação ou
legitimação da família, como também permitiu outras formas de entidades familiares, quais
sejam, a união estável e a família monoparental. Com isso, pessoas que antes não queriam ou
não podiam convolar núpcias e, por isso mesmo, recebiam tratamento discriminatório,
passaram a ter a oportunidade de constituir uma entidade familiar, pelo menos aos olhos da lei,
já que na realidade fática tudo isso já existia.
Era por demais injusto tolher alguém que não encontrava no casamento o meio adequado
para a realização da sua própria dignidade. Com a inovação constitucional, a probabilidade de
sucesso particular dessas pessoas aumentou consideravelmente.
Nessa esteira, vale a pena aqui mencionar o pensamento do ilustre Professor Paulo Luiz Netto
Lobo (2013), segundo o qual o art. 226, parágrafo 4º, da Constituição Federal, ao estatuir
que "entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais
e seus descendentes" (grifo nosso), acabou criando uma cláusula geral de inclusão da família,
no sentido de que esta entidade, antes reconhecida pela lei se constituída unicamente pelo
casamento (numerus clausus), agora deve ser sempre reconhecida pelo ordenamento jurídico
se restar caracterizado seu solitário elemento caracterizador, o afeto.
Em outras palavras, a família deixa de ser constituída pelo vínculo jurídico (modelo único
de família) para ser reconhecida pelo ordenamento quando presente o intuitu familiae, o afeto
como elemento volitivo de sua formação (modelo aberto e plural de família). Por isso, passa-se
a conferir maior importância à dignidade de cada um dos membros da família e ao
relacionamento afetivo existente entre eles do que propriamente à instituição em si mesma.
Os exemplos desse novo paradigma são citados pela própria Constituição Federal, ao
reconhecer como entidade familiar também a união estável (art. 226, parágrafo 3º) e a família
monoparental (art. 226, parágrafo 4º). Mas, seguindo a linha de raciocínio do Professor Paulo
Luiz Netto Lôbo, esses não são os únicos exemplos a serem dados. É por isso que já se
verifica na doutrina e na jurisprudência, com muito acerto, uma forte tendência em reconhecer
como entidade familiar (e não mais como sociedade de fato, afastando-se assim a aplicação da
famigerada Súmula n. 380 do STF ) a união entre homossexuais (melhor chamadas de uniões
homoafetivas), reconhecimento este que implica na fixação da competência da Vara de Família
(não mais Vara Cível Noutro giro, identifica-se que o Superior Tribunal de Justiça, analisando

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lides atinentes ao bem de família, já reconheceu como entidade familiar a pessoa solitária
(o single) e a comunidade formada por variados parentes, principalmente entre irmãos.
.
Em 07 de agosto de 2006, foi sancionada a Lei nº 11.340/2006 (conhecida como Lei Maria
da Penha), que, apesar de ter como finalidade primordial a criação de mecanismos para coibir
a violência doméstica e familiar praticada contra a mulher, acabou trazendo no seu bojo
importante inovação no ordenamento jurídico nacional no seu artigo 5º, II e parágrafo único.

Lei de Biossegurança

Células-tronco embrionárias e a constitucionalidade do Art. 5º da Lei de Biossegurança (a Lei


Nº 11.105, de 24 de março de 2005)
As células-tronco embrionárias podem ser obtidas através de duas formas. Uma destas
formas seria utilizar os embriões estocados nas clínicas de fertilização. Estes embriões podem
ser usados, já que serão descartados, ou seja, serão “jogados no lixo”, pois não são mais
viáveis para a implantação uterina, seja por falta de interesse de seus genitores, ou por
estarem congelados mais tempo que o recomendado, tendo em vista que estariam congelados
há 3 (três) anos no mínimo, pois a Lei de Biossegurança, a Lei Nº 11.105, de 24 de março de
2005, exige este período mínimo de congelamento para que o embrião possa ser utilizado para
fins terapêuticos.
Segundo o art. 5º da Lei de Biossegurança:
“Art. 5o É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias
obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo
procedimento, atendidas as seguintes condições:
I – sejam embriões inviáveis; ou
II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação desta Lei, ou
que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem 3 (três) anos,
contados a partir da data de congelamento.
§ 1o Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores.

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§ 2o Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa ou terapia com
células-tronco embrionárias humanas deverão submeter seus projetos à apreciação e
aprovação dos respectivos comitês de ética em pesquisa.
§ 3o É vedada a comercialização do material biológico a que se refere este artigo e sua prática
implica o crime tipificado no art. 15 da Lei no 9.434, de 4 de fevereiro de 1997. ”
A Emenda Constitucional 66/2010 inovou ao prever no ordenamento jurídico brasileiro
o divórcio direto, sem mais a necessidade de comprovação de período intermediário de
separação (um ano de separação judicial ou dois anos de separação de fato). Entretanto o
divórcio direto não faz, tal qual varinha mágica, com que o ex-casal vire, de imediato, a página
dos problemas que inviabilizaram o convívio conjugal. Inadvertidamente, a vulnerável figura do
filho, é utilizada como objeto de chantagem ou retaliação ao ex-cônjuge.
Sob este contexto, neste 26 de agosto, completam-se três anos da publicação da Lei de
Alienação Parental (Lei 12.318/2010).

Decisões do STJ
Ações que discutem direito de família geralmente são polêmicas e geram muito debate.
No ano de 2011 não foi diferente. Um dos julgados (REsp 1.183.378) de maior repercussão foi
da Quarta Turma do STJ, que, em decisão inédita, proveu recurso de duas mulheres que
pediam para ser habilitadas ao casamento civil.

Seguindo o voto do relator, ministro Luis Felipe Salomão, a Turma concluiu que a
dignidade da pessoa humana, consagrada pela Constituição, não é aumentada nem diminuída
em razão do uso da sexualidade, e que a orientação sexual não pode servir de pretexto para
excluir famílias da proteção jurídica representada pelo casamento.

Outra questão definida pelo STJ foi o REsp 1.186.086, que concedeu ao avô a guarda
consensual de uma criança. A Terceira Turma entendeu que se trata de uma autorização
excepcional, já que a filha e o neto moravam e dependiam dele desde o nascimento da
criança.

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O relator do caso, ministro Massami Uyeda, afirmou que a melhor compreensão da
matéria recomendava conceder a guarda do neto para o avô materno. Ele frisou que não se
trata apenas de conferir ao menor melhores condições econômicas, mas também regularizar
um forte vínculo de afeto e carinho entre avô e neto, tudo isso com o consentimento da mãe.
Outro caso importante foi o julgamento do REsp 912.926, em que se entendeu não ser
possível a existência de duas uniões estáveis paralelas. Para os ministros da Quarta Turma, a
lei exige como um dos requisitos fundamentais para o reconhecimento da união estável o dever
de fidelidade, e ainda incentiva a conversão da união em casamento. O relator foi o ministro
Luis Felipe Salomão.

Do Casamento Homoafetivo. Resolução 175 do CNJ


A partir desta (16/5/2013) cartórios de todo o País não poderão recusar a celebração
de casamentos civis de casais do mesmo sexo ou deixar de converter em casamento união
estável homoafetiva, como estabelece a Resolução n. 175, de 14 de maio de 2013, aprovada
durante a 169ª Sessão Plenária do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
A Resolução foi publicada nesta quarta-feira (15/5) no Diário da Justiça Eletrônico (DJ-
e) e entra em vigor nesta quinta-feira (16/5). Nos termos da Lei n. 11.419/2006, § 3º e 4º do art.
4º, considera-se como data de publicação o primeiro dia útil seguinte ao da disponibilização da
informação, iniciando-se a contagem dos prazos processuais no primeiro dia útil ao
considerado como data de publicação.
O texto aprovado pelo CNJ proíbe as autoridades competentes de se recusarem a habilitar,
celebrar casamento civil ou de converter união estável em casamento entre pessoas de mesmo
sexo.
“A Resolução veio em uma hora importante. Não havia ainda no âmbito das corregedorias dos
tribunais de Justiça uniformidade de interpretação e de entendimento sobre a possibilidade do
casamento entre pessoas do mesmo sexo e da conversão da união estável entre casais
homoafetivos em casamento”, disse o conselheiro Guilherme Calmon. “Alguns estados
reconheciam, outros não. Como explicar essa disparidade de tratamento? A Resolução
consolida e unifica essa interpretação de forma nacional e sem possibilidade de recursos”,
ressaltou.

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Caso algum cartório não cumpra a Resolução do CNJ, o casal interessado poderá levar o caso
ao juiz corregedor daquela comarca para que ele determine o cumprimento da medida. Além
disso, poderá ser aberto processo administrativo contra o oficial que se negou a celebrar ou
reverter a união estável em casamento.

Filhos e afins

“Amar é faculdade, cuidar é dever.” Com essa frase, da ministra Nancy Andrighi, a Terceira
Turma do STJ considerou ser possível exigir indenização por dano moral decorrente de
abandono afetivo pelos pais.

A decisão, inédita, trouxe à tona o entendimento de que o vínculo – biológico ou auto imposto,
por adoção – decorre sempre de ato de vontade do agente, acarretando a quem contribuiu com
o nascimento ou adoção a responsabilidade por suas ações e escolhas. “À liberdade de
exercício das ações humanas corresponde a responsabilidade do agente pelos ônus
decorrentes”, entendeu a ministra (REsp 1.159.249).
Outra questão definida pelo STJ foi a de que o exame de DNA negativo não basta para anular
registro de nascimento. O entendimento da Quarta Turma é que, para obter êxito em ação
negatória de paternidade, é necessário comprovar a inexistência de vínculo genético e, além
disso, de vínculo social e afetivo.
“A pretensão voltada à impugnação da paternidade não pode prosperar quando fundada
apenas na origem genética, mas em aberto conflito com a paternidade socioafetiva”, alertou
o relator, ministro Luis Felipe Salomão (REsp 1.059.214).
Em outro julgamento, a Terceira Turma decidiu que uma menina, levada a um abrigo para
adoção, devia ser devolvida à sua genitora. Segundo o processo, a menina havia sido entregue
pela mãe a um casal, para adoção informal – a chamada “adoção à brasileira”.
A pedido do Ministério Público estadual, a Justiça deu ordem de busca e apreensão da menor,
para que ela fosse recolhida a um abrigo e colocada à adoção de acordo com os
procedimentos legais. A mãe impetrou habeas corpus no STJ, alegando que se arrependera
após o recolhimento da criança ao abrigo.
No julgamento do pedido, a Terceira Turma entendeu que, embora o tribunal estadual tenha se

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baseado nas circunstâncias fáticas para manter a criança em abrigo, mesmo diante do
arrependimento da mãe, não se pode ignorar a literalidade da Lei 12.010/09, a nova Lei de
Adoção. O texto diz que a criança só não deve ficar com sua família natural em caso de
“absoluta impossibilidade”.

GUARDA COMPARTILHADA

LEI Nº 13.058, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2014. A nova lei altera os artigos 1.583, 1.584,
1.585 e 1.634 da Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), para estabelecer o
significado da expressão“guarda compartilhada” e regular sua aplicação.

União poliafetiva

Em agosto de 2012, na cidade de Tupã, Estado de SP, foi reconhecida uma União Poliafetiva
em Cartório Extrajudicial, via escritura pública: um homem unido estavelmente a duas
mulheres, com todos os direitos da união estável (certidões, facilitação da conversão em
casamento, repartição de bens, reconhecimento da união como entidade familiar para fins de
adoção, etc).Os Cartórios Extrajudiciais, a teor do art. 236, CF, são conduzidos por
concursados em caráter privado, mas por delegação do poder público, e estão submetidos ao
TJ de cada Estado-membro, que os controla mais de perto por meio de suas Corregedorias. A
questão da União Poliafetiva é interessante, pois o mundo moderno avança como uma
locomotiva sem freios. O STF acaba de julgar inconstitucional o art. 1723, do Código, que
vedava a união estável entre pessoas do mesmo sexo (ADPF nº 132-RJ – j. Em 05.05.11).

O STJ seguiu o mesmo entendimento (RESP nº 1.183.378 – j. Em 25.10.11). Hoje, 2 pessoas


do mesmo sexo podem se unir sem discriminação. E já há juízes de 1ª instância deferindo a
conversão em casamento, como reza o § 3º, do art. 226, CF.
Falta agora, portanto, aos Tribunais, dar o "pulo" para o plural. União Poliafetiva é o mesmo
que "poliamorismo". "Poliamorismo" é um neologismo simpático que não consta de nossos
dicionários. É o amor entre 3 ou mais pessoas. Ora, se 2 pessoas do mesmo sexo podem
constituir família, lá vem a lógica inquirir: qual seria o impedimento para que 3 pessoas também
não o pudessem? Indecência?

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Nossa CF, no art. 226, §§ 3º e 4º, utiliza as expressões "homem e mulher", e não "1 homem" e
"1 mulher" e, ainda, a expressão "qualquer dos pais". A família múltipla, ou "família plural",
portanto, constitui-se por laços de afetividade, e não merece nem mais nem menos
discriminação do que os homossexuais ou heterossexuais.
Os leitores mais antigos, nascidos na década de 60, como eu, lembrar-se-ão de "Dona Flor e
seus Dois Maridos", de Jorge Amado, publicado em 1966. Hoje, cremos que a sociedade aceita
bem melhor este tipo de união do que à época. Talvez aceite melhor a união da cidade de
Tupã acima, entre um homem e 2 mulheres, e não de uma mulher e 2 homens, mas não sei.
Há países em que a União Poliafetiva é aceita há muito tempo, e há países em que é realidade
há pouco tempo. O certo é que a União Poliafetiva não é criação nova do Brasil para o planeta.
Há mais homens com duas mulheres do que o avesso.
A Corregedoria Nacional de Justiça, órgão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ),
recomendou a proibição de novas escrituras públicas de reconhecimento de uniões civis entre
mais de duas pessoas, referindo-se às chamadas uniões poliafetivas ou trisais (quando incluem
apenas três indivíduos).
Segundo o próprio CNJ, o pedido é resultado de uma representação judicial da Associação de
Direito de Família e das Sucessões (ADFAS), que solicitou a proibição de novas escrituras até
que a matéria seja devidamente regulamentada

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/sociedade/cnj-pede-suspensao-do-registro-


de-unioes-poliafetivas-19359327#ixzz4ZAShSBtV
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A corregedora nacional de Justiça, ministra Nancy Andrighi, negou a liminar, mas, ainda assim,
sugeriu aos cartórios do pais todo que aguardem a conclusão do estudo sobre o caso no CNJ
para lavrarem novas escrituras.
"Essa é apenas uma sugestão aos tabelionatos, como medida de prudência, até que se discuta
com profundidade esse tema tão complexo que extrapola os interesses das pessoas envolvidas

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na relação afetiva”, disse a ministra, reafirmando que não é uma proibição, mas uma sugestão
aos tabeliães, que podem ainda fazer as escrituras.

STJ divulga 16 teses consolidadas no tribunal


sobre união estável
12 de fevereiro de 2016, 15h19
Com base em precedentes dos colegiados do tribunal, o Superior Tribunal de Justiça divulgou 16
teses sobre união estável. Entre elas está a que define que a existência de casamento válido não obsta
o reconhecimento da união estável, desde que haja separação de fato ou judicial entre os casados.

Outra tese entende que os princípios legais que regem a sucessão e a partilha não se confundem: a
sucessão é disciplinada pela lei em vigor na data do óbito, enquanto a partilha deve observar o regime
de bens e o ordenamento jurídico vigente ao tempo da aquisição de cada bem a partilhar.

Os entendimentos foram reunidas na ferramenta Jurisprudência em Teses, que apresenta diversos


entendimentos do STJ sobre temas específicos, escolhidos de acordo com sua relevância no âmbito
jurídico. Abaixo de cada uma delas, o usuário pode conferir os precedentes mais recentes sobre o
tema, selecionados até a data especificada no documento.

Leia as teses sobre união estável:


1) Os princípios legais que regem a sucessão e a partilha não se confundem: a sucessão é disciplinada
pela lei em vigor na data do óbito; a partilha deve observar o regime de bens e o ordenamento jurídico
vigente ao tempo da aquisição de cada bem a partilhar.

2) A coabitação não é elemento indispensável à caracterização da união estável.

3) A vara de família é a competente para apreciar e julgar pedido de reconhecimento e dissolução de


união estável homoafetiva.

4) Não é possível o reconhecimento de uniões estáveis simultâneas.

5) A existência de casamento válido não obsta o reconhecimento da união estável, desde que haja
separação de fato ou judicial entre os casados.

6) Na união estável de pessoa maior de setenta anos (artigo 1.641, II, do CC/02), impõe-se o regime da
separação obrigatória, sendo possível a partilha de bens adquiridos na constância da relação, desde que

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comprovado o esforço comum.

7) São incomunicáveis os bens particulares adquiridos anteriormente à união estável ou ao casamento


sob o regime de comunhão parcial, ainda que a transcrição no registro imobiliário ocorra na constância
da relação.

8) O companheiro sobrevivente tem direito real de habitação sobre o imóvel no qual convivia com o
falecido, ainda que silente o art. 1.831 do atual Código Civil.

9) O direito real de habitação poder ser invocado em demanda possessória pelo companheiro
sobrevivente, ainda que não se tenha buscado em ação declaratória própria o reconhecimento de união
estável.

10) Não subsiste o direito real de habitação se houver co-propriedade sobre o imóvel antes da abertura da
sucessão ou se, àquele tempo, o falecido era mero usufrutuário do bem.

11) A valorização patrimonial dos imóveis ou das cotas sociais de sociedade limitada, adquiridos antes
do início do período de convivência, não se comunica, pois não decorre do esforço comum dos
companheiros, mas de mero fator econômico.

12) A incomunicabilidade do produto dos bens adquiridos anteriormente ao início da união estável (art.
5º, § 1º, da Lei n. 9.278/96) não afeta a comunicabilidade dos frutos, conforme previsão do art. 1.660, V,
do Código Civil de 2002.

13) Comprovada a existência de união homoafetiva, é de se reconhecer o direito do companheiro


sobrevivente à meação dos bens adquiridos a título oneroso ao longo do relacionamento.

14) Não há possibilidade de se pleitear indenização por serviços domésticos prestados com o fim do
casamento ou da união estável, tampouco com o cessar do concubinato, sob pena de se cometer grave
discriminação frente ao casamento, que tem primazia constitucional de tratamento.

15) Compete à Justiça Federal analisar, incidentalmente e como prejudicial de mérito, o reconhecimento
da união estável nas hipóteses em que se pleiteia a concessão de benefício previdenciário.

16) A presunção legal de esforço comum quanto aos bens adquiridos onerosamente prevista no art. 5º da
Lei 9.278/1996, não se aplica à partilha do patrimônio formado pelos conviventes antes da vigência da
referida legislação.

INOVAÇÕES LEGAIS E CONSTITUCIONAIS NO DIREITO DE FAMÍLIA

1. Conceito de Família. Atualmente , o conceito de família engloba o casamento, a união


estável ou qualquer um dos pais e seus descendentes (família monoparental). O Supremo
Tribunal Federal decidiu dia 05 de maio de 2011 o reconhecimento de uniões estáveis entre
casais do mesmo sexo, denominando-as, desta forma, como entidade familiar. A decisão foi
unânime, com 10 votos a favor e zero. A partir desta decisão qualquer casal homoafetivo pode
fazer um contrato de união estável ou uma declaração de união estável em cartório. Quanto

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aos bens, se não tiver sido feito um contrato ou escritura, aí passa a valer o regime parcial de
bens. O companheiro (a) terá direito à meação (50%) dos bens, enquanto os demais herdeiros
(filhos, pais) dividem os restantes 50%.

STF: união estável e casamento são iguais para herança, incluindo


homoafetivos

10/05/2017

O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu hoje (10), por 7 votos a 3, que a
união estável e o casamento possuem o mesmo valor jurídico em termos de direito sucessório,
tendo o companheiro os mesmos direitos a heranças que o cônjuge (pessoa casada).
Na mesma sessão plenária desta quarta-feira, o STF afirmou ainda que a equiparação entre
companheiro e cônjuge, para termos de herança, abrange também as uniões estáveis de
casais LGBTs (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais). O placar dessa decisão foi
de 6 votos a favor e 2 contra.
Ambas as decisões têm repercussão geral e servem para todas as disputas em herança nas
diferentes instâncias da Justiça. Pela tese estabelecida, foi considerado inconstitucional o
Artigo 1.790 do Código Civil, que determinava regras diferentes para a herança no caso de
união estável.
“No sistema constitucional vigente, é inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre
cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido
no artigo 1.829 do Código Civil de 2002”, diz a tese estabelecida nos julgamentos, elaborada
pelo ministro Luís Roberto Barroso.
Desta forma, mesmo que não seja casado no papel, o companheiro que provar a união estável
terá direito à metade da herança do falecido, sendo o restante dividido entre os filhos ou pais,
se houver. Se não houver descendentes ou ascendentes, a herança é integralmente do
companheiro.
Antes, pelo Artigo 1.790, considerado agora inconstitucional, o companheiro tinha
direito somente a uma quota igual à que coubesse aos filhos comuns do casal.
“Todos os instrumentos protetivos à família devem ser igualmente aplicados,
independentemente do tipo de família, da constituição da família. Não importa se a família foi

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constituída pelo casamento, não importa se a família foi constituída pela união estável, não
importa se a família constituída por união estável sé hétero ou homoafetiva”, afirmou o ministro
Alexandre de Moraes, que votou a favor da equiparação de companheiros e cônjuges.
A decisão não alcança os julgamentos de sucessões que já tiveram sentenças transitadas em
julgado ou partilhas extrajudiciais com escritura pública.

Casos concretos

No caso concreto julgado, foi beneficiada uma viúva que havia sido obrigada a
partilhar a herança com três irmãos de seu companheiro falecido.
O julgamento havia se iniciado no ano passado. Votaram para que ela tivesse direito à metade
da herança os ministros Luís Roberto Barroso (relator), Rosa Weber, Luiz Fux, Edson Fachin,
Celso de Mello, o falecido ministro Teori Zavascki e a ministra Cármen Lúcia, presidente da
Corte. Foram contra a equiparação entre casamento e união estável Dias Toffoli, Marco Aurélio
Mello e Ricardo Lewandowski.
Na análise sobre a união estável homoafetiva, um homem que viveu por 40 anos com seu
companheiro ganhou o direito de ficar com metade da herança, dividindo-a com a mãe do
falecido.
Neste segundo caso, foram favoráveis os ministros Luís Roberto Barroso, Rosa Weber, Luiz
Fux, Edson Fachin, Alexandre de Moraes e Cármen Lúcia. Votaram contra Marco Aurélio
(relator) e Dias Toffoli. Celso de Mello não participou da sessão, tampouco Gilmar Mendes, que
esteve ausente do julgamento anterior.

Não esquecer.

Entrementes, a Lei 8.213/91, regente do Regime Geral de Previdência Social


passou a prever como beneficiários do segurado não apenas o cônjuge, mas também o
companheiro:
Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na
condição de dependentes do segurado:

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I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho, de qualquer
condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido;
I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não
emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou
inválido; (Redação dada pela Lei nº 9.032, de 1995)
I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não
emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou
inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental que o torne
absoluta ou relativamente incapaz, assim declarado
judicialmente; (Redação dada pela Lei nº 12.470, de 2011)
No mesmo ano, a Lei do Inquilinato (8.245/91) passou a permitir à companheira
sobrevivente e residente no imóvel a permanência na posição de locatária no caso de morte ou
de dissolução da união estável ou da sociedade de fato:
Art. 11. Morrendo o locatário, ficarão sub - rogados nos seus direitos e
obrigações:
I - nas locações com finalidade residencial, o cônjuge sobrevivente
ou o companheiro e, sucessivamente, os herdeiros necessários e as
pessoas que viviam na dependência econômica do de cujus , desde que
residentes no imóvel;
II - nas locações com finalidade não residencial, o espólio e, se for o
caso, seu sucessor no negócio.
Art. 12. Em casos de separação de fato, separação judicial, divórcio
ou dissolução da sociedade concubinária, a locação prosseguirá
automaticamente com o cônjuge ou companheiro que permanecer no
imóvel.
Parágrafo único. Nas hipóteses previstas neste artigo, a sub -
rogação será comunicada por escrito ao locador, o qual terá o direito de

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27
exigir, no prazo de trinta dias, a substituição do fiador ou o oferecimento
de qualquer das garantias previstas nesta lei.
Art. 12. Em casos de separação de fato, separação judicial, divórcio
ou dissolução da união estável, a locação residencial prosseguirá
automaticamente com o cônjuge ou companheiro que permanecer no
imóvel. (Redação dada pela Lei nº 12.112, de 2009)
§ 1o Nas hipóteses previstas neste artigo e no art. 11, a sub-rogação
será comunicada por escrito ao locador e ao fiador, se esta for a
modalidade de garantia locatícia. (Incluído pela Lei nº 12.112, de 2009)
§ 2o O fiador poderá exonerar-se das suas responsabilidades no
prazo de 30 (trinta) dias contado do recebimento da comunicação
oferecida pelo sub-rogado, ficando responsável pelos efeitos da fiança
durante 120 (cento e vinte) dias após a notificação ao locador. (Incluído
pela Lei nº 12.112, de 2009)

O atual CPC trouxe várias inovações em matéria de direito de família .

os destaques com relação ao divórcio que é o carro chefe do Direito de Família,


apontam em duas direções principais. A primeira é que o parágrafo único do artigo 713, diz que
quando não houver acordo na partilha de bens, primeiro será homologado o divórcio depois
virá a sentença sobre a partilha. Tal medida ajudará a entregar aos cônjuges maior rapidez da
alteração do estado civil, que é um grande anseio de pelo menos uma das partes.
Em segundo lugar, foi inaugurada a audiência de Mediação e Conciliação com
profissionais de outras áreas que atuarão para resolver a controvérsia através de um
atendimento multidisciplinar, conforme preveem os artigos 693 à 699 do Novo Código. Na
verdade hoje já existe a audiência de conciliação, as inovações ficarão por conta de técnica
processual a respeito da citação e defesa, e também do profissional que atuará na mediação.
No que tange à pensão alimentícia, tem-se algumas inovações importantes com o
intuito de dar mais segurança àqueles que são beneficiários. Como exemplo, consta agora no

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texto da Lei que o devedor dos alimentos terá a prisão cumprida no regime “fechado”, devendo
ser separado dos presos comuns, parágrafo 4º do artigo 528. Sempre foi assim na prática, mas
não constava na Lei, fato que gerava muita controvérsia.
Outra inovação é o protesto do devedor em caso de não pagamento, ou seja, ao ser
comunicado da execução de alimentos, o devedor que não pagar, terá seu nome protestado de
ofício, isto é, o próprio juiz enviará ao cartório de protesto, previsto no artigo 528, parágrafo 1º.
Trata-se de mais uma forma de forçar o devedor ao pagamento. É necessário lembrar que hoje
o nome do devedor já é enviado ao serviço de proteção ao crédito por algumas varas de
família.
Uma mudança significativa que veio também foi a possibilidade de descontar da folha
de pagamento até 50% do débito da pensão alimentícia, e não mais os 30%, previsto no artigo
529, § 3º da nova Lei. Assim, se alguém tem uma dívida de pensão alimentícia e passou a
receber salário, poderá ter além dos 30% permitidos, mais 20% descontado no contracheque
até quitar o débito. Tudo isso do rendimento líquido.
Destaca-se ainda que pela primeira vez aparecerá no Código de Processo Civil citação da
alienação parental, que está prevista no artigo 699, onde informa que o juiz deverá estar
acompanhado por especialista. Este profissional, da área da psicologia provavelmente, já que o
texto legal não informa, deverá acompanhar também o juiz nas audiências onde for constatado
abuso.( Advogado Rafael Rocha)

O Provimento 83 do CNJ, (MULTIPARENTALIDADE) provimento_83_e_socioafetividade.pdf


(recivil.com.br)

Introdução Após a publicação do Provimento nº 83/2019, do Conselho Nacional de Justiça -


CNJ, que alterou o Provimento nº 63/2017, o reconhecimento voluntário da paternidade ou da
maternidade socioafetiva perante os oficiais de registro civil das pessoas naturais foi
restringido: o procedimento perante o registrador civil somente pode ser utilizado para
reconhecimento socioafetivo de pessoas maiores de 12 (doze) anos de idade. Para crianças
menores de 12 (doze) anos, é necessária a via judicial.Também em decorrência do novo
provimento, na via extrajudicial, passou a ser possível a inclusão de apenas um ascendente
socioafetivo, ao contrário do que ocorria na vigência do Provimento 63/2017, que possibilitava a

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inclusão de dois ascendentes, desde que por meio de procedimentos independentes. A referida
alteração no Provimento nº 63/CNJ, no que se refere à idade do filho reconhecido, inviabilizou
o procedimento socioafetivo extrajudicial no caso de casais que não tenham se submetido à
fertilização assistida e cujos filhos sejam menores de 12 (doze) anos de idade. De fato, trata-se
de retrocesso que voltará a exigir decisão judicial mesmo que as pessoas que tiveram a ideia
da concepção sejam casadas entre si. O Provimento nº 83/2019 esclareceu que o ônus da
prova da afetividade cabe àquele que requer o registro, tendo sido introduzido rol não taxativo
de provas que podem ser apresentadas, se existentes, como: a) apontamento escolar como
responsável ou representante do aluno em qualquer nível de ensino; b) inscrição do pretenso
filho em plano de saúde ou em órgão de previdência privada; c) registro oficial de que residem
na mesma unidade domiciliar; d)vínculo de conjugalidade, por casamento ou união estável,
com o ascendente biológico da pessoa que está sendo reconhecida; e) inscrição como
dependente do requerente em entidades associativas, caso de clubes recreativos ou de
futebol;f) fotografias em celebrações relevantes; e g) declaração de testemunhas com firma
reconhecida (art. 10-A, §2º, do Provimento n. 83 do CNJ). A ausência desses documentos não
impede o registro do vínculo socioafetivo, desde que justificada a impossibilidade, cabendo
sempre ao registrador civil das pessoas naturais atestar como apurou o vínculo de
socioafetividade. Dentre as provas possíveis, não relacionadas no referido Provimento 83, está
a escritura pública de reconhecimentoda parentalidade socioafetiva, como defende Flavio
Tartuce1 , podendo também ser apresentada ata notarial, meio de prova já reconhecido pelo
Código de Processo Civil2 . Se o filho tiver entre 12 (doze) e 18 (dezoito) anos de idade,
oreconhecimento da paternidade ou maternidadesocioafetiva exigirá o seu consentimento. Se
for maior de 18 (dezoito) anos de idade, o próprio filho deverá requerer o reconhecimento
socioafetivo, em conjunto com o genitor. O mais importante para o presente artigo foi a
determinação feita pelo Provimento nº 83/2019 de atuação do Ministério Público no
procedimento de reconhecimento de socioafetividade, o que não era exigido na redação
original do Provimento nº 63/CNJ. Não houve restrição, de forma clara, no Provimento nº 83, às
hipóteses envolvendo pessoa menor de 18 (dezoito) anos de idade, o que foi um equívoco,
posto que, no pedido de providência CNJ 0001711.40.2018.2.00.0000, que deu origem ao
referido Provimento 83, podemos constatar que a oitiva do Ministério Público somente é
necessária se a pessoa reconhecida for menor? .

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DO CASAMENTO

1. CONCEITO. É a união do homem e da mulher para o estabelecimento de uma plena


comunidade de vida. (Guilherme Borda). O casamento é a união entre homem e mulher, na
forma da lei, com a finalidade de constituição de família. Finalidade (artigo 1.566 do Código
Civil)
Instituição da família matrimonial. Vida em comum. O estabelecimento de deveres –
patrimoniais ou não - que seriam de fidelidade, respeito e consideração mútuos (Art. 1566, I e V
do CC. entre os cônjuges, como consequência necessária do auxílio mútuo e recíproco.
Sustento e criação dos filhos. Educação da prole- dever de criar e educar os filhos, impondo
aos pais o dever de lhes prestar assistência. (Art. 1634 CC e Art. 22 da Lei 8069/90). Respeito
e consideração mútuos. A atribuição do nome do cônjuge e aos filhos- Possibilidade de um
cônjuge passar a assinar o sobrenome do outro (Art. 1565, § 1º CC).

2.4. Juiz de Paz


Integrante do Poder Judiciário é eletiva, temporária e remunerada, ou seja, o Juiz de Paz será
eleito, terá um mandato de quatro anos e receberá remuneração. A Justiça de Paz está
prevista na Constituição Federal, mas ainda não foi regulamentada por lei, portanto, é o Juiz de
Casamentos quem faz a celebração.

2.5. Espécies
2.5.1. Casamento civil
Possibilidade de casamentos entre pessoas de religiões diversas.
Ruptura entre o Estado e a Igreja- Instituição do casamento civil. Decreto 181 de 24-01-1890
(Período de Império no Brasil).
Dificuldade de assimilação por parte do clero e da sociedade, o que gerou o costume do
casamento religioso e civil.
Atualmente o casamento religioso tem efeitos civis, desde que os cônjuges tenham promovido
o devido processo de habilitação perante o oficial de registro civil.

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Possibilidade de habilitação posterior ao casamento religioso- Prazo 90 dias a partir da
celebração.
Casamento religioso com efeitos civis tem eficácia a partir de sua celebração.
Surgiu no Brasil com a República e foi regulamentado por lei em 1926.

2.5.2. Casamento religioso com efeitos civis


Para que o casamento religioso tenha validade, o registro religioso deve ser levado para
registro civil. Existem, no entanto, algumas subespécies de casamento:
a) Conversão da união estável em casamento. Prevista no artigo 226, § 3.º, da Constituição
Federal/88, na Lei n. 9.278/96, revogada, e no novo Código Civil. Os conviventes poderão
requerer no registro civil a conversão da união estável em casamento. É um requerimento
administrativo, cujo procedimento foi regulamentado pelo Provimento n. 10 da Corregedoria
Geral de Justiça nestes termos: requerimento de ambos os cônjuges. Habilitação (edital de
proclamas, manifestação do Ministério Público). Verificando-se não haver impedimentos,
dispensa-se a celebração. O casamento se consuma na data da conversão, não retroagindo à
data do início da convivência.

b) Casamento por procuração. Poderá ser efetuado o casamento mesmo se um ou os dois


noivos estiverem representados por procuração. Art. 1.542. O casamento pode celebrar-se
mediante procuração, por instrumento público, com poderes especiais
O divórcio em casamento entre brasileiros ou entre brasileiro e estrangeiro realizado no exterior
só tem efeito no Brasil após a homologação da sentença estrangeira de divórcio pelo Superior
Tribunal de Justiça (STJ). O setor consular não poderá registra rnovo casamento de brasileiro
divorciado que não houver previamente homologado o divórcio no Brasil.
Não pode ser concedido passaporte com nome modificado por efeito de sentença de divórcio
estrangeira. O interessado precisará homologar o divórcio no Brasil e obter averbação na
certidão brasileira de casamento para que o passaporte seja expedido com o novo nome.
Para proceder à homologação do divórcio, é imprescindível constituir advogado no Brasil.
Será necessária a seguinte documentação:
1) procuração para a constituição de advogado;

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2) sentença estrangeira de divórcio (texto completo) legalizada no Setor Consular e traduzida
por tradutor juramentado no Brasil;
3) certidão de casamento registrado no setor consular e transcrita no Cartório do Primeiro
Ofício do Registro Civil do local de domicílio dos cônjuges ou, não havendo domicílio, no
Cartório do Primeiro Ofício do Registro Civil do Distrito Federal (Brasília) OU certidão de
casamento estrangeira legalizada pelo setor consular e traduzida por tradutor juramentado no
Brasil.

c) Casamento consular. Celebra-se perante o cônsul do lugar do seu domicílio. Os brasileiros


que residem no exterior e querem casar-se sob o regime brasileiro podem celebrar o
casamento no consulado brasileiro. Se voltarem a morar no Brasil, devem registrar o
casamento no Cartório de Registro Civil para que se faça a publicidade.

d) Casamento putativo (imaginário – artigo 1.561, "caput", do Código Civil)


É o casamento nulo ou anulável que foi celebrado de boa-fé por um ou por ambos os cônjuges.
Ele terá validade até que seja declarada a nulidade. O casamento de boa-fé gerará efeitos para
o cônjuge que assim agiu, tendo este direito a alimentos, herança etc.

e)Homoafetivo – entre pessoas de mesmo sexo.

Casamento por Conversão de União Estável – neste casamento, com o atendimento das
formalidades legais para a celebração do casamento, a união estável converte-se em
casamento, retroagindo os seus efeitos ao início da união estável.

2. NATUREZA JURIDICA

A maioria da doutrina considera o casamento um misto de contrato e instituição, sendo tratado


como contrato sui generis, sujeito às normas de ordem pública (regras cogentes, imperativas).

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2.1. DIREITO CIVIL- O casamento civil é uma instituição, vez que pode ser visto como um
contrato entre as partes, se amoldando à noção de negócio jurídico bilateral. Possui
características de um acordo de vontades que busca efeitos jurídicos.

3. PRINCIPIOS DO CASAMENTO

I. Livre união dos futuros cônjuges- consentimento dos próprios nubentes (capacidade
para expressa-las);
II. Monogamia- Arts. 1521,VI, 1548, II do CC.
III. Comunhão indivisa de direitos e deveres (Art. 1511-CC) - criação de plena comunhão
entre os cônjuges, que pretendem passar juntos as alegrias e dissabores da vida.

4. CASAMENTO CIVIL E RELIGIOSO.

Possibilidade de casamentos entre pessoas de religiões diversas.


Ruptura entre o Estado e a Igreja- Instituição do casamento civil. Decreto 181 de 24-01-1890
(Período de Império no Brasil).
Dificuldade de assimilação por parte do clero e da sociedade, o que gerou o costume do
casamento religioso e civil.
Atualmente o casamento religioso tem efeitos civis, desde que os cônjuges tenham promovido
o devido processo de habilitação perante o oficial de registro civil.
Possibilidade de habilitação posterior ao casamento religioso- Prazo 90 dias a partir da
celebração.
Casamento religioso com efeitos civis tem eficácia a partir de sua celebração.

Surgiu no Brasil com a República e foi regulamentado por lei em 1926.

Casamento religioso com efeitos civis. Para que o casamento religioso tenha validade, o
registro religioso deve ser levado para registro civil. Existem, no entanto, algumas subespécies
de casamento: Conversão da união estável em casamento. Prevista no artigo 226, § 3.º, da
Constituição Federal/88, na Lei n. 9.278/96, revogada, e no novo Código Civil. Os conviventes

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poderão requerer no registro civil a conversão da união estável em casamento. É um
requerimento administrativo, cujo procedimento foi regulamentado pelo Provimento n. 10 da
Corregedoria Geral de Justiça nestes termos: Requerimento de ambos os cônjuges. Habilitação
(edital de proclamas, manifestação do Ministério Público). Verificando-se não haver
impedimentos, dispensa-se a celebração. O casamento se consuma na data da conversão, não
retroagindo à data do início da convivência.

UNIÃO DE FATO OU UNIÃO ESTÁVEL

1. ASPECTOS GERAIS

Trata-se de união livre entre os cônjuges que também geram efeitos jurídicos
Posição sintetizada na Sumula 380 do STF: Comprovada a existência da sociedade de fato
entre os concubinos, é cabível a sua dissolução judicial com a partilha do patrimônio adquirido
pelo esforço comum.

2. PRIMEIROS DIREITOS DOS COMPANHEIROS:


Indenizações pelo falecimento do companheiro em acidente de trabalho. Direitos
previdenciários. Alimentos. Planos de saúde. Adoção do nome do companheiro, após cinco
anos de vida em comum ou na existência de prole (Lei 6015/73, ar. 57, §§ 2º e 3º com redação
dada pela Lei nº 6216/75). Permissão de continuidade de contrato de locação (na condição de
locatário), após o falecimento do companheiro (Lei 8245/91, Lei do Inquilinato).

3. NATUREZA JURIDICA DA UNIÃO ESTÁVEL

Fato social ou fato jurídico, vez que se trata de fato humano que gera efeitos no ordenamento
jurídico. Ao contrário do casamento a união estável é vista como fato jurídico, e não como um
negócio jurídico.

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4. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA UNIÃO ESTÁVEL. Art. 1º da Lei 9278/96. É
reconhecida como entidade familiar à convivência duradoura, pública e contínua, de um
homem e de uma mulher, estabelecida com o objetivo de constituição de família.

Estabilidade: Os relacionamentos fugazes e transitórios não podem ser considerados como


união estável e nem tampouco protegidas pelo Ordenamento Jurídico. União duradoura: O
decurso de tempo é extremamente importante vez que a Constituição Federal não estipula
lapsos temporais para configuração da união estável. A questão tempo não é absoluta, mas os
conviventes devem unir-se com o animus de constituir vida em comum bem como família..
Continuidade da relação: Trata-se de complemento da estabilidade.

A união deve ser contínua, todavia, tal preceito não é absoluto, vez que nem sempre a
interrupção no relacionamento afastará o conceito de união estável. Diversidade de sexo:
preceito disposto tanto no texto constitucional como na Lei 9278/96. Publicidade da relação: A
relação de fato que ganhará proteção é aquela em que o casal se apresenta socialmente como
marido e mulher e são vistos no âmbito social desta mesma forma.
As relações clandestinas, ainda que públicas, não são consideradas uniões estáveis, não
merecendo proteção jurídica. Objetivo de constituição da família: Não há necessidade de prole
em comum, mas a presença do animus de constituição de uma comunhão de vida e de
interesses.

Súmula 382 do STF: A vida em comum sob o mesmo teto more uxório, não é indispensável à
caracterização do concubinato. Unicidade de companheiro ou companheira: a pluralidade de
relações pressupõe imoralidade e instabilidade, o que contraria os demais elementos
constitutivos da união estável.
Existência de casamento religioso: Como o Direito brasileiro só é considerado o casamento
civil, a benção religiosa define a relação com moralidade e respeito que auxilia a tipificação da
união estável.

União estável

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A partir da vigência da Lei 9.278/96, os bens adquiridos a título oneroso na constância da união
estável, individualmente ou em nome do casal, pertencem a ambos, dispensada a prova de que
sua aquisição decorreu do esforço comum dos companheiros. O entendimento foi firmado pela
Terceira Turma do STJ, que não acolheu recurso de ex-companheira, que pretendia ver
partilhados somente os bens adquiridos em nome de ambos e não todos os bens
acrescentados ao patrimônio durante a constância da união.

Em outro julgamento, a Quarta Turma negou à concubina o reconhecimento de união estável,


para efeito de recebimento de pensão. Segundo o relator do caso, ministro Luis Felipe
Salomão, é possível, no mundo dos fatos, a coexistência de relações com vínculo afetivo e
duradouro, e até com objetivo de constituir família, mas a legislação ainda não confere ao
concubinato proteção jurídica no âmbito do direito de família.

Da Capacidade PARA O CASAMENTO

Art. 1.517. O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se autorização de
ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a maioridade civil.
Parágrafo único. Se houver divergência entre os pais, aplica-se o disposto no parágrafo único
do art. 1.631.
Art. 1.518. Até à celebração do casamento podem os pais, tutores ou curadores revogar a
autorização. (Vide Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
Art. 1.519. A denegação do consentimento, quando injusta, pode ser suprida pelo juiz
Art. 1.520. Excepcionalmente, será permitido o casamento de quem ainda não alcançou a
idade núbil (art. 1517), para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal ou em caso de
gravidez.

A LEI 11.106/05 E A ALTERAÇÃO DO ART. 107 DO CÓDIGO PENAL

A Lei 11.106, de 28 de março de 2005, procedeu à alteração e revogação de diversos


artigos do Código Penal, sobretudo em relação aos crimes contra os costumes (atualmente
crimes contra a dignidade sexual), constando de seu texto:

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“Art. 5o Ficam revogados os incisos VII e VIII do art. 107, os arts. 217, 219, 220, 221, 222, o
inciso III do caput do art. 226, o § 3o do art. 231 e o art. 240 do Decreto-Lei .2.848, de 7 de
dezembro de 1940 – Código Penal.”. (grifo nosso).
Como se vê, ocorreu a revogação de duas causas extintivas da punibilidade constantes
dos incisos VII e VII do art. 107 CP, conforme abaixo:
“VII - pelo casamento do agente com a vítima, nos crimes contra os costumes, definidos nos
Capítulos I, II e III do Título VI da Parte Especial deste Código”
“VIII - pelo casamento da vítima com terceiro, nos crimes referidos no inciso anterior, se
cometidos sem violência real ou grave ameaça e desde que a ofendida não requeira o
prosseguimento do inquérito policial ou da ação penal no prazo de 60 (sessenta) dias a contra
da celebração”.

ART. 1520 DO CÓDIGO CIVIL e a Lei 13.811 de 2019


Em 12 de março de 2019, conforme acima mencionado, foi promulgada a lei 13.811,
responsável por alterar o artigo 1.520 do Código Civil, regra que flexibilizava o casamento dos
menores de 16 (dezesseis) anos. Antes da entrada em vigor da referida lei, era permitido o
casamento de quem ainda não havia alcançado a idade núbil - 16 anos1-, nos seguintes casos:
i) para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal ou ii) em caso de gravidez.

Com a modificação da redação originária pela nova lei, foi proibido, em qualquer caso, o
casamento de quem não atingiu a idade núbil, ou seja, 16 (dezesseis) anos de idade,
independentemente de qualquer autorização ou condição. Ressalte-se que o casamento do
menor de 16 (dezesseis) anos já era, por regra, proibido, apenas sendo autorizado nos dois
casos apresentados.

A doutrina civilista mais moderna, em comentários recentes, entendia, que das duas situações
jurídicas mencionadas (evitar o cumprimento de pena criminal e gravidez), a primeira havia sido
tacitamente revogada por força de modificação promovida no Código Penal Brasileiro2, não
admitindo a extinção da punibilidade pelo casamento.

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A lei 11.106, de 28 de março de 2005 revogou os incisos VII e VIII do art. 107 do Código Penal,
não mais sendo permitida a extinção da punibilidade no crime de estupro presumido na
hipótese de uma criança ou adolescente, com idade inferior a 14 (quatorze) anos, manter
relação sexual com parceiro maior e se casar com ele3.

Mesmo após o advento da lei em questão, sustentavam alguns autores que a primeira parte do
art. 1.520, do Código Civil continuava em vigor4, na medida em que a persecução dos "crimes
contra os costumes" se dava por meio de ação penal privada.

Posteriormente, a lei 12.015, de 07 de agosto de 2009 introduziu o tipo penal de estupro de


vulnerável - art. 217-A do Código Penal -, correspondendo a ação penal pública
incondicionada, não tendo mais caráter de ação privada e, portanto, não poderia o casamento
funcionar como forma de perdão tácito do crime.5-6 Nesse mesmo sentido, no ano de 2015, o
Superior Tribunal de Justiça decidiu que para a tipificação do crime de estupro de vulnerável
basta que o agente tivesse conjunção carnal ou praticasse qualquer ato libidinoso com pessoa
menor de 14 anos, independentemente de experiencia sexual anterior ou relacionamento
amoroso entre agente e a referida vítima. A presunção de violência passava a ser considerada
juris et de jure, tornando irrelevante o consentimento ou não da vítima para prática do ato
sexual.

Uma vez insubsistente a primeira hipótese autorizadora do casamento do(a) menor de 16


(dezesseis) anos de idade, remanescia a discussão do casamento em hipótese de gravidez. O
sistema jurídico brasileiro sempre entendeu que o recôndito do casamento (família natural) é o
melhor modelo para o pleno desenvolvimento da criança e do adolescente. A interpretação
preponderante era que a plenitude do art. 227 da Constituição Federal no que toca ao
cumprimento da gama de direitos estatuídos no dispositivo tinha na família matrimonial a sua
mais plena consecução. Aliás, o primeiro ente obrigado ao pleno desenvolvimento da criança e
do adolescente é a família e a família matrimonial sempre foi uma das bases da sociedade (art.
226 e §§ 1º, 2º da CF). Essa sempre foi a razão da gravidez autorizar o casamento dos
pretensos pais biológicos independentemente do critério etário, a fim de garantir o melhor
desenvolvimento possível para crianças, adolescentes e jovens. Porém, com a revogação do

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art. 1.520, não sendo mais permitido, em nenhuma hipótese, o casamento do(a) menor de 16
(dezesseis) anos, passa o sistema jurídico a entender que o casamento não é mais o melhor
modelo para o primeiro desenvolvimento da criança.

A doutrina entendia por um duplo interesse na regra impeditiva de anulação por motivo de
idade no caso de gravidez, quais sejam: i) interesse familiar em que se não desfaça o
matrimônio que frutificou com o advento da prole; ii) a invalidação traumatizaria os cônjuges e
refletiria no filho, com todos os inconvenientes resultantes.7-8

Apesar de alterado o art. 1.520 do Código Civil pela lei 13.811/2019, o art. 1.550 - que trata da
solução ou anulabilidade para o casamento daquele que não completou a idade mínima para
se casar - não foi revogado, expressa ou tacitamente, de forma que a mera anulabilidade ainda
continua em vigor, lembrando que na nulidade relativa e o interesse é privado e que, em caso
de gravidez, de forma paradoxal, esta não pode operar.

Nessa linha, também permanece em vigor o art. 1.551 do Código Civil, no qual não se anulará,
por motivo de idade, o casamento que resultou gravidez e os arts. 1552 e 1.553 que abarcam,
respectivamente: i) a convalidação do casamento do menor que não atingiu a idade núbil, caso
este, depois de completá-la, confirme a sua intenção de se casar, e ii) regras específicas a
respeito da ação anulatória.

Na medida em que tais artigos continuam em vigor, se o oficial de registro civil se equivocar e
casar pessoa grávida com 15 anos, tal casamento remanescerá válido e eficaz. A norma, na
sua literalidade, apenas proíbe que o juiz autorize o casamento de menor de 16 anos em
qualquer hipótese.

Observe-se o paradoxo. O juiz não tem mais poder para suprir a idade e autorizar o casamento
na hipótese de gravidez, mas o Oficial Registrador pode habilitar, ainda que cometa falta
administrativa disciplinar, o casamento de menor de 16 (dezesseis) anos em hipótese de
gravidez e uma vez celebrado o matrimonio não pode ser o mesmo suscetível de qualquer
anulação. Questões remanescem a serem analisadas: (i) O que impede o juiz, no exercício da

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jurisdição, autorizar o casamento em caso de gravidez, se a hipótese é de direito privado
(anulação) e o melhor interesse da criança ser o fanal que sempre tem que orientar a
jurisdição? (ii) O que impede o Oficial de Registro Civil de remeter o caso de gravidez ao Juiz
Corregedor Permanente e esse autorizar o matrimônio, lembrando que a gravidez convalesce a
anulabilidade e que o interesse é nitidamente particular? (iii) que espécie de falta administrativa
disciplinar seria aplicada a um registrador civil que simplesmente habilita um casamento de
menor de 16 anos com notória gravidez ciente de que a situação não é nula nem anulável
diante de dicção expressa do Código Civil?

Diante de todas essas reflexões é possível concluir que com todos os problemas vividos na
pós-modernidade o lar conjugal ainda é o melhor modelo para criação e desenvolvimento de
crianças, adolescentes e jovens e que o comando do art. 227, caput, autoriza plenamente o
alvará, bem com a celebração de casamento de menor de 16 (dezesseis) anos em caso de
gravidez, sendo inócua a proibição do art. 1.520 nesta hipótese.

__________

1 Art. 1.517 do CC/2002.

2 Vide leis 11.106/2005 e 12.015/2009.

3 O Enunciado nº 329 da IV Jornada de Direito Civil, dispõe: "a permissão para casamento fora
da idade núbil merece interpretação orientada pela dimensão substancial do princípio da
igualdade jurídica, ética e moral entre o homem e a mulher, evitando-se, sem prejuízo do
respeito à diferença, tratamento discriminatório".

4 F. Tartuce - J. F. Simão, Direito Civil: Direito de Família, vol. V, 8a ed., São Paulo, Método,
2013, pp. 41-44.

5 Conforme entende G.F. Barbosa Garcia, "em se tratando de crimes contra os costumes de
ação penal privada, persiste a possibilidade de extinção da punibilidade pela renúncia do direito

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de queixa, ou pelo perdão do ofendido aceito (art. 107, V, do Código Penal). Como o
casamento da vítima com o agente pode ser visto como renúncia tácita, ou perdão tácito
(conforme exercido antes ou depois da propositura da ação penal, respectivamente), mesmo
que a aplicabilidade desta parte inicial do art. 1.520 do Código Civil de 2002 tenha se reduzido,
ainda persiste".

6 RECURSO ESPECIAL. PROCESSAMENTO SOB O RITO DO ART. 543-C DO CPC.


RECURSO REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. ESTUPRO DE VULNERÁVEL.
VÍTIMA MENOR DE 14 ANOS. FATO POSTERIOR À VIGÊNCIA DA LEI 12.015/09.
https://www.migalhas.com.br/coluna/registralhas/353763/o-paradoxo-da-lei-13-811-2019-e-o-
registro-civil CONSENTIMENTO DA VÍTIMA. IRRELEVÂNCIA. ADEQUAÇÃO SOCIAL.
REJEIÇÃO. PROTEÇÃO LEGAL E CONSTITUCIONAL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.
RECURSO ESPECIAL PROVIDO. (STJ, Resp. 1480881/PI, rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j.
26/08/2015, DJe 10/09/2015).

2. DO SUPRIMENTO DO CONSENTIMENTO

Quando um dos representantes do incapaz nega o seu consentimento para o casamento,


pode-se requerer a autorização judicial para tal ato. No caso de negativa de consentimento por
ambos os pais, não é possível o suprimento judicial. Ação segue o rito ordinário, todavia, para
Silvio Rodrigues deveria ter natureza cautelar vez que é anterior ao pedido de habilitação. Tal
ação não permite pedido de antecipação de tutela, vez que realizado o casamento não poderá
mais ser modificada.

O juiz deve verificar os motivos apresentados pelos pais ou representantes para negarem a
autorização para a realização do casamento e analisar cada caso isolado (Ex: caso de
toxicomaníacos, ébrios, vida pregressa irregular, imposição de crimes). Sentença passível de
recursos para as instâncias superiores. O legitimado para a ação será o nubente que teve a
autorização denegada. A doutrina entende que o MP ou qualquer parente pode ingressar com
tal pedido em favor do menor. Nos casos de suprimento judicial, o regime de bens será
obrigatoriamente o da separação total.

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3. DA DISPENSA DOS PROCLAMAS
Somente em casos extremos, quando houver urgência na realização do casamento por
prática de crime contra os costumes. O juiz decidirá de acordo com cada caso isolado.

4. FORMAS DE CELEBRAÇAÕ DE CASAMENTO


4.1. CASAMENTO TRADICIONAL

4.2. CASAMENTO NUNCUPATIVO Art 1540


É uma forma especial de celebração de casamento, em que em, ante a urgência do caso e por
falta de tempo, não se cumprem todas as formalidades necessárias para habilitação do
casamento.
É possível quando um dos nubentes se encontra em eminente risco de vida e precisa casar
para obter os efeitos civis do casamento. O oficial do registro civil, mediante despacho da
autoridade competente, independentemente de edital de proclamas dará a certidão de
habilitação, dispensando o processo regular.

Pode ser realizado sem a presença do oficial, devendo os nubentes manifestarem em voz alta
a sua intenção em se casarem na presença de seis testemunhas, que NÃO poderão ser
parentes em linha reta ou colateral até 2º grau. As testemunhas deverão ser ouvidas pela
autoridade judicial competente no prazo de 10 dias, quando deverão prestar suas declarações
acerca do casamento que presenciaram, bem como o estado de saúde do enfermo e seu
estado de juízo mental.

Sentença judicial que declarar a ocorrência do casamento é passível de recurso de Apelação,


todavia, após o transito em julgado da mesma o juiz determinará o seu registro no cartório de
registros civis. Caso o doente convalesça de sua enfermidade, deverá comparecer ao cartório
de Registros Civis para ratificar o casamento na presença da autoridade competente através de
simples declaração confirmatória, na ausência de tal ratificação o casamento será tido como
inexistente.

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4.3. CASAMENTO PERANTE A AUTORIDADE DIPLOMÁTICA OU CONSULAR

Previsto no artigo 7º da Lei de Introdução do Código Civil. Realizado por pessoas da mesma
nacionalidade, e que se encontram fora do Brasil. Deve ser realizado somente perante o cônsul
de carreira, não sendo permitida a realização perante o cônsul honorário. A certidão emitida
pelo consulado deve ser registrada no Cartório de Registros Civis da comarca onde residem os
cônjuges no prazo de 180 dias a contar da data do retorno de um ou de ambos ao Brasil.

DOS IMPEDIMENTOS PARA SE CONTRAIR MATRIMÔNIO

Os impedimentos previstos no artigo 1.521 estão ligados à capacidade e legitimação para a


prática do ato. São impedimentos matrimoniais certos fatos ou circunstâncias previstas em lei
que impedem o casamento de algumas pessoas. Se essas circunstâncias impeditivas se
concretizarem, terão como consequência, dependendo do caso, a nulidade do casamento, a
anulação do casamento ou a aplicação de certas sanções aos contraentes.

São taxativamente numerados pelo Direito Civil não podendo ser ampliados por via
interpretativa. Consistem na falta de legitimidade para praticar aquele ato. Vincula-se apenas
aquele ato e com determinada pessoa. É meramente circunstancial. É correspectiva, pois
atinge o grupo de pessoas.

5.1. IMPEDIMENTOS GERAM A NULIDADE DO CASAMENTO.

Art. 1521. Não podem casar.


I. Os ascendentes com os ascendentes em qualquer grau seja o parentesco natural ou civil;

Parentesco natural é o decorrente das uniões estáveis.


Parentesco civil é o decorrente de adoção

II. Os afins em linhas retas. O vinculo de afinidade conta-se a partir do esposo ou esposa,
atingindo os sogros. A afinidade se limita ao primeiro grau, e NUNCA SE EXTINGUE, sendo

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impedidos de se casarem apenas sogros e noras e sogras e genros. A afinidade se estende
também às uniões estáveis. É possível o casamento entre cunhados (Ex: o viúvo com a irmã
da esposa falecida).

III. O adotante com o cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante. Existente a
adoção (legal), prevalece o impedimento. Em relações de mera convivência de fato com a
pessoa, como se filho adotivo fosse, não existe o impedimento.

IV. Os irmãos unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive.
Impedimento de casamento entre cunhados até perdurar a união anterior. É possível o
casamento entre primos (4º grau na linha dos colaterais).

V. O adotado com o filho do adotante. Por serem vistos como irmãos.

VI. Pessoas casadas. Enquanto persistir válido o casamento anterior persistirá o impedimento.
A separação judicial (antigo desquite) não libera o impedimento, porque não extingue o vinculo
conjugal, mas apenas a sociedade conjugal.

VII. O cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio, ou tentativa de homicídio, contra
o seu consorte.
É exigida a condenação criminal, não sendo suficiente a mera alegação no processo. Atinge
tanto o autor material como o intelectual do delito. Impedimento estendido à união estável. Art.
1550 do CC.

7. DAS CAUSAS SUSPENSIVAS. Art. 1523

Esses impedimentos apenas suspendem o casamento, não incidindo qualquer sanção como
ocorria no sistema anterior, sendo que o legislador estabeleceu quatro hipóteses em que o
patrimônio de uma pessoa não pode, pelo casamento apenas, se confundir com o patrimônio
de outra. O legislador foi bastante flexível pois autorizou que o juiz suprisse as hipóteses
suspensivas quando verificasse que a proteção é desnecessária.

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Não dirimem ou inquinam o casamento. Visam apenas impedir a sua realização. Extinta a
causa suspensiva, o casamento pode ser normalmente realizado. Ocorrendo o casamento sem
observância das causas suspensivas, o regime de bens será obrigatoriamente o da separação
de bens. Visam proteger, principalmente, o patrimônio do casal.

Art. 1523. Não devem casar:

I. O viúvo ou a viúva que tiver filhos do cônjuge falecido, enquanto não fizer o inventário dos
bens do casal e der partilha aos herdeiros. Visa evitar a confusão de patrimônio. Provando os
nubentes a inexistência de prejuízo para os herdeiros, os nubentes podem requerer ao juiz que
não seja aplicada tal causa suspensiva.

II. A viúva ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez
meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal.
Visa impedir a confusão de sangue.
Pode ser dispensada a causa impeditiva se a nubente provar o nascimento do filho, ou a
inexistência de gravidez durante este período de 10 meses.

III. O divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha do casal.
Visa impedir a confusão patrimonial Pode ser requerida a sua dispensa, provando os nubentes
a ausência de prejuízo ao ex-cônjuge.

IV. O tutor ou curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados, sobrinhos,


com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não
estiverem saldadas as respectivas contas.
Visa a impossibilidade de isentar o administrador da prestação de contas da administração dos
bens, em razão do matrimonio.

8. OPOSIÇÃO DOS IMPEDIMENTOS.

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Caso seja realizado casamento desrespeitando as causas impeditivas, é possível a
interposição de Ação de nulidade ou anulação. Os impedimentos absolutos (art. 1521) podem
ser arguidos até o momento da celebração do casamento, por qualquer pessoa capaz. O juiz
ou o oficial que tiverem conhecimento dos impedimentos são obrigados a declará-los, sob pena
de responderem civil, administrativa e criminalmente.

Todos os impedimentos e causas suspensivas serão opostos em declaração escrita e


assinada, instruída com a prova do fato alegado, ou a indicação do lugar onde podem ser
encontradas. O oficial comunicará os nubentes acerca da oposição e lhes dará a oportunidade
de fazer prova em contrário. Qualquer que seja a oposição a mesma suspenderá a celebração,
que só poderá ser realizada após decisão do mesmo.

DA HABILITAÇAÕ PARA O CASAMENTO Art. 1525

1. NOÇOES GERAIS

Por ser o casamento o ato mais solene do Direito Civil, o processo de habilitação são os
procedimentos que os cônjuges devem seguir com o intuito de receberem a autorização do
Oficial do Cartório de Registros Públicos para contraírem as núpcias. Requerimento de
habilitação deve ser realizado por ambos nubentes, de próprio punho ou através de procurador
legalmente habilitado para tal ato. Realizados os requerimentos, o Oficial do Cartório de
Registro Civil deverá lavrar os proclamas e os publicar na sede do juízo, de cada cônjuge, por
15 dias em local visível bem como providenciar sua publicação na imprensa. Tal providencia
tem a finalidade de dar conhecimento à população acerca do pedido de habilitação do
casamento, bem como dar a terceiros a possibilidade de oposição de impedimentos.

Após os quinze dias, não havendo oposição de impedimentos, o Oficial expedirá certidão de
habilitação aos nubentes para realização de casamento civil ou religioso com efeitos civis. A
certidão terá o prazo decadencial de 90 dias, e não havendo a realização do matrimonio em tal
período, os nubentes deverão ingressar com novo pedido de habilitação. A jurisprudência tem

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entendido que a existência de irregularidades no processo de habilitação, realizadas pelo oficial
do cartório, NÃO gera a anulação do casamento.

2. DOS DOCUMENTOS NECESSÁRIOS PARA HABILITAÇÃO DOS NUBENTES Art 1525

É um procedimento administrativo feito perante o Oficial do Registro de Pessoas Naturais para


verificar se há ou não algum impedimento para a celebração do casamento. Em regra, a
habilitação sempre será prévia, no entanto a lei permite habilitação posterior no caso de
casamento religioso e casamento nuncupativo. A habilitação é um requerimento conjunto dos
noivos afirmando que querem se casar e não possuem impedimentos. Devem constar
declarações de duas testemunhas que conheçam os noivos e atestem a inexistência de
impedimentos. Devem-se juntar a esse requerimento os documentos que comprovem a idade e
o estado civil dos noivos. Em alguns casos são necessários outros documentos

I. Certidão de nascimento ou documento equivalente: para fins de comprovação da idade dos


nubentes.

O CC de 2002 instituiu a necessidade de idade superior a 16 anos para ambos.

II. Autorização por escrito das pessoas sob cuja dependência legal estiverem, ou ato judicial
que a supra.

Necessidade de autorização expressa de ambos os pais, quando os nubentes forem maiores


de 16 anos e menores de 18 (relativamente incapazes). Caso um dos pais esteja em lugar
incerto e não sabido, poderá haver a autorização unilateral do pai ou da mãe. Se houve
divergência entre os pais acerca de tal autorização, o caso deverá ser levado ao conhecimento
do juiz competente para apreciação e decisão. As pessoas que se encontram sob tutela ou
curatela necessitam da autorização de seu tutor ou curador. A autorização pode ser revogada a
qualquer momento, antes da celebração do casamento.

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III. Declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou não, que atestem conhecê-los e
afirmem não existir impedimento que os inibam de casar. Declaração necessária para fins de
comprovar a idoneidade dos nubentes
Documento de valor relativo, vez que pode ser facilmente conseguido entre os parentes.

IV. Declaração do estado civil, do domicilio, e da residência atual dos contraentes e de seus
pais, se forem conhecidos. Declaração denominada memorial, vez que faz um relato sobre as
vidas dos nubentes e de seus pais.
Necessidade de declaração do domicilio, vez que se os nubentes residirem em comarcas
diversas, haverá a necessidade de publicação de editais em ambas. Não pode ser exigido do
estrangeiro prova de situação regular no Brasil

V. Certidão de óbito do cônjuge falecido, da sentença declaratória de nulidade ou de anulação


de casamento, transitada em julgado, ou do registro da sentença do divórcio.
Estes documentos visam evitar o casamento de pessoas já casadas.
É considerada idônea a certidão de divorcio proferida pela Justiça de país estrangeiro que o
admita, ficando, porém, subordinada doravante à respectiva homologação por parte do STJ.

1. PROVAS DO CASAMENTO: Art 1543


O casamento se prova através de:
I. Se realizado no Brasil: Certidão do Cartório de Registro Civil.
II. Se realizado no exterior: de acordo com a lei do País estrangeiro, em aplicação ao principio
de direito internacional privado.

Para que o documento estrangeiro possa produzir efeitos no Brasil, deverá ser autenticado
segundo as leis consulares, ou seja, deve ser legalizado pelo cônsul brasileiro do lugar, que
deverá ter sua firma reconhecida pelo Ministério das Relações Exteriores ou nas repartições
fiscais da União. Caso o Brasil não tenha representantes consulares no País onde se realizou o
matrimonio, tais providências são dispensadas se o casamento se acha corroborado de vários

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elementos comprobatórios. O casamento de brasileiros no exterior deverá ser registrado em
cartório de registro civil do domicilio dos cônjuges, para que tenha efeitos na lei brasileira.

DA INVALIDADE DO CASAMENTO. O casamento poderá ser inválido se


ocorrer alguma falha. A invalidade se distingue em: 1548 e 1550

3. CASAMENTO NULO 1548

O Ministério Público pode arguir a nulidade do casamento em qualquer situação, mesmo que
um dos cônjuges já tenha falecido.

Os casos elencados no artigo 1521 CC. Art. 1.548. É nulo o casamento contraído:

I – (Revogado)

II – por infringência de impedimento.

Art. 1.548. É nulo o casamento contraído:

I – pelo enfermo mental sem o necessário discernimento para os atos da vida civil;

II – por infringência de impedimento.

O casamento contraído por enfermo mental, desde que possa emitir sua vontade ou por meio
de seu curador ou responsável, não será hipótese de nulidade

3.1. LEGITIMIDADE PARA ARGUIR A NULIDADE. Art. 1549 CC:


I. Os cônjuges ou seus representantes legais;
II. Pessoas interessadas, desde que tenham vínculos diretos ou indiretos com os cônjuges;
III. Ministério Publico

3.2. CASOS DE NULIDADE

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Art. 1.550. É anulável o casamento:

I – de quem não completou a idade mínima para casar;

II – do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal;

III – por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558;

IV – do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento;

V – realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do
mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges;

VI – por incompetência da autoridade celebrante.

Parágrafo único. Equipara-se à revogação a invalidade do mandato judicialmente decretada.

Renumerou-se o parágrafo único e incluiu-se o paragrafo 2º, segundo os quais a pessoa com
deficiência mental ou intelectual em idade núbil poderá contrair matrimônio, expressando sua
vontade diretamente ou por meio de seu responsável ou curador.

Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge:

I – o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu
conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado;

II – a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a
vida conjugal;

III – a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável que não caracterize
deficiência ou de moléstia grave e transmissível, por contágio ou por herança, capaz de pôr em
risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência;

IV – (Revogado);

Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge:

I – o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu
conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado;

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II – a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a
vida conjugal;

III – a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável, ou de moléstia grave e transmissível, pelo
contágio ou herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência;

IV – a ignorância, anterior ao casamento, de doença mental grave que, por sua natureza, torne insuportável a vida
em comum ao cônjuge enganado.

Não será mais considerado erro essencial o defeito físico irremediável que não caracterize
deficiência ou de doença mental que o cônjuge não tinha conhecimento

4. CASAMENTO ANULÁVEL. Artigo 1550 Trata de questões de interesse particular da


pessoa que contraiu o matrimonio passível de anulação. A anulação do casamento NÃO pode
ser requerida por terceiros interessados e nem pelo Ministério Público, por se tratar de questão
de interesse privado. São anuláveis os casamentos contraídos em desconformidade com as
disposições do artigo 1550, CC.
I. De quem não completou a idade mínima para casar. O CC 2002 instituiu a idade mínima
de 16 anos para ambos os sexos. Não há idade máxima imposta para o casamento. Não há
impedimento relativo à diferença de idade entre os cônjuges. Por ser apenas anulável, continua
gerando seus efeitos após a maioridade dos cônjuges, devendo, os mesmos fazerem sua
ratificação perante o oficial do Cartório de Registros Civis. A anulação do ato só pode ser
requerida pelos cônjuges, seus ascendentes ou seus representantes legais. Não será anulado
se tiver sido resultado de gravidez indesejada.

II. Do menor em idade núbil não autorizado pelo seu representante legal. São os casos
das pessoas que se encontram sob tutela ou curatela. Os menores emancipados não
necessitam de autorização. A ação de anulação tem prazo decadencial de 180 dias, por
iniciativa do incapaz, ao deixar de sê-lo de seus representantes legais ou seus herdeiros
necessários. O silêncio do representante do menor presente no ato do casamento gerará, em
principio, salvo prova em contrário a aprovação do ato.

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III. Por vicio de vontade. Quando os cônjuges não manifestam livremente as suas vontades,
vez que o casamento é pressuposto intrínseco do casamento.

IV. Do incapaz de consentir ou manifestar de modo inequívoco, o consentimento. Será


anulável o casamento das pessoas que no momento de manifestar seu consentimento, não
tinha o devido discernimento, estando, por exemplo, sob efeitos de drogas ou inconscientes.
O prazo para anulação é decadencial de 180 dias contados a partir da celebração.

V. Realizado por mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do
mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges. Hipóteses de casamento por
procuração. A revogação do mandato retira a legitimidade do mandatário e deve ser
comunicada ao mesmo, bem como ao outro nubente. Caso tenha havido a coabitação entre os
cônjuges, NÃO é possível a anulação do ato.

VI. Por incompetência da autoridade celebrante. Será anulado o casamento quando


realizado por juiz que não está em exercício de suas funções, ou que o celebra fora dos limites
do seu distrito (principio da territorialidade). Se o casamento, apesar de realizado por
autoridade incompetente, tiver sido registrado no cartório competente, é necessária a
propositura de Ação anulatória. Se os cônjuges estiverem de boa-fé no momento da celebração
e tudo leva a crer a existência do casamento, o mesmo será válido.

4.1. A COAÇÃO. O artigo 1558 dispõe que o casamento sob coação pode ser anulado pelo
cônjuge que a sofreu.
A anulação só pode ser requerida pelo próprio cônjuge. Tendo havido a coabitação entre os
cônjuges extingue-se a possibilidade de anulação do casamento. O Ministério Publico
participará da ação apenas como fiscal da lei.
Prazo para interposição da ação de anulação quando o vicio for de coação é de 4 anos
contados a partir da data da celebração. (art. 1560,IV).

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Quando se tratar de casamento de menor em idade núbil, sem o consentimento dos
responsáveis legais, a Ação de Anulação pode ser proposta pelo próprio cônjuge, seus
representantes legais ou herdeiros necessários.Quando a Ação de Anulação for proposta pelo
próprio menor o para anulação do casamento é de 180 dias contados a partir da data que
cessar menoridade.

Obs.: Neste mesmo caso, quando a ação for proposta pelos representantes legais o prazo para
anulação iniciará da data da realização do casamento, e quando proposta por herdeiros
necessários o prazo iniciará a partir da data do falecimento. (art. 1555,§ 1º)

Se os representantes dos incapazes assistirem a cerimônia, a anulação se torna impossível.


Se o tutor ou curador de alguma forma manifestou sua concordância ao casamento, também
não poderá ser arguida a anulação. (art. 1555, §2º). Destaque para o posicionamento de Paulo
Lins e Silva: “é infantil crermos que um menor entre 16 e 18 anos possa de forma simples e
fácil providenciar a habilitação para o seu casamento frente a autoridade do registro civil”. O
casamento pode ser ratificado pelos cônjuges quando atingirem a maioridade, sendo que os
seus efeitos retroagirão desde a data da celebração. O casamento não será anulado por motivo
de idade se dele resultou gravidez.

4.2. ERRO ESSENCIAL SOBRE A PESSOA. Art. 1557. Considera-se erro essencial sobre a
pessoa.

I. O que diz respeito a sua identidade, sua honra, sua boa fama, sendo esse erro tal que o seu
conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado.
II. Ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida
conjugal.
III. A ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável ou de moléstia grave e
transmissível, pelo contágio ou herança, capaz de por em risco a saúde do outro cônjuge ou de
sua descendência;

4.3. ERRO QUANTO A IDENTIDADE, HONRA E BOA FAMA.

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Tanto quanto a identidade civil – forma como a pessoa é conhecida na sociedade-, quanto a
natural- honestidade, caráter, vícios em jogos de azar.
Trata-se de questão subjetiva que deverá ser analisada pelo juiz caso a caso.
Deverá haver comprovação de que o conhecimento do fato torna a vida em comum
insuportável.
Possibilidade de ingressar com pedido de danos morais em alguns casos.

4.3.1. SITUAÇÕES DE ERRO ESSENCIAL NOS JULGADOS:


Recusa da esposa ao debito conjugal. Esposa que não compareceu à cerimônia religiosa do
casamento. Casamento não consumado, tendo o marido deixado o lar conjugal poucos dias
após a celebração. Recusa de ato sexual pela esposa. Hipótese de coitofobia.
Homossexualidade do réu, fato não conhecido antes do casamento. Nubente estelionatário.
Ausência de vontade de contrair núpcias, simples artifício para se apossar dos bens da esposa
com posterior desaparecimento. Induzimento ao casamento pela afirmação da paternidade,
frente à gravidez da mulher. paternidade afastada por prova pericial. Erro essencial
reconhecido. Atividade de meretriz da esposa antes do casamento e que era desconhecida
pelo marido.

4.3.2. SITUAÇÕES QUE AFASTAM O ERRO ESSENCIAL SOBRE A PESSOA DE ACORDO


COM ALGUNS JULGADOS.
Varão que estando no exterior, casa por procuração, com mulher que conheceu há pouco
menos de 30 dias; alegação de desconhecimento de filhos dela; fato que, se devera
desconhecido, não terá importância na decisão do casamento. Varão que se precipitou em
casar com mulher que mal conhecia, sem dar ouvidos a informações que desabonasse a sua
conduta. Crença religiosa não constitui qualidade essencial da pessoa quando não atentatória
à moral da sociedade dominante, não constitui defeito da honra e boa fama. Prazo para
interposição da Ação de Anulação: Decadencial de 3 anos a contar da data da cerimônia.

4.5. IGNORANCIA DE CRIME. Nestes casos há pressupostos OBJETIVOS a serem aferidos:


I. A pratica de crime previsto na lei penal.

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II. Sua ocorrência antes do casamento (O CC 2002 não fala em julgamento definitivo por
sentença condenatória- a sentença pode ser posterior ao casamento).
III. Que o fato seja ignorado pelo outro cônjuge ao casar-se.

A lei não se refere a contravenções penais. Se o crime ocorreu quando a pessoa era menor de
18 anos, e, portanto, inimputável criminalmente, não se aperfeiçoa essa hipótese legal. Nesse
caso a anulação pode ser baseada no erro quanto à honra e a boa fama.

4.6. DEFEITO FÍSICO IRREMEDIÁVEL. O defeito físico irremediável é o que impede a


consumação do casamento através do ato sexual- casos de impotência sexual. A impotência
que gera a anulação é aquela em relação ao cônjuge, não necessitando que seja absoluta. É
NECESSÁRIO que seja um estado permanente e não uma eventualidade.

A esterilidade não é causa de anulação do casamento. Na ação de anulação são admitidas


todas as formas de prova previstas em direito, desde que não impliquem coação ou violência
contra a pessoa, todavia a principal será a perícia medica. (Ao contrário dos Tribunais da Idade
Média, em que uma simples denuncia, as vezes sem fundamento, levaria ao homem à situação
de imposição de provas de potencia perante o tribunal, na presença dos juízes).

5. AÇÕES DE NULIDADE E ANULAÇÃO DO CASAMENTO. As sentenças só produzirão


efeitos depois de transitadas em julgado. Sentenças produzem efeitos EX TUNC- retroagem à
data da celebração do casamento. A sentença de nulidade ou anulação do casamento não
prejudicará a aquisição de direitos, a titulo oneroso, por terceiros de boa fé, nem a resultante de
sentença transitada em julgado.
Os atos de disposição do patrimônio a titulo gratuito, voltando os mesmos ao estado anterior ao
casamento declarado nulo – Há de se analisar a boa ou má fé do terceiro em relação ao trato
com o casal, devendo o juiz analisar caso por caso.

Nos casos de nulidade são legítimos para interporem a Ação:


I. O cônjuge, ou seus representantes legais.

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II. Terceiros interessados.
III. Ministério Público.

Nos casos de anulação apenas o cônjuge interessado tem legitimidade para interpor a Ação
A ação de nulidade é imprescritível, podendo ser arguida a qualquer momento.
Os prazos para interposição da Ação de Anulação do casamento são decadenciais, contados a
partir da data da celebração do casamento:

I. 180 dias no caso do incapaz de consentir ou manifestar sua vontade;


II. 2 anos no caso de incompetência da autoridade celebrante;
III. 3 anos nas hipóteses de erro essência contra a pessoa ou do cônjuge;
IV. 4 anos no caso de coação.

Nos casos de anulação por idade, o prazo de 180 dias começará a contar da data da
realização do casamento quando proposta pelos representantes legais do cônjuge, e da data
do falecimento quando proposta por seus herdeiros necessários. Em todos os casos há
necessidade de intervenção do Ministério Publico como fiscal da lei.

6. DOLO. Não é causa de anulação do casamento, uma vez que traria insegurança jurídica ao
mesmo;
Pode ser configurado pelas desilusões e dissabores do dia a dia.
Em alguns países como Argentina, Alemanha e Suíça o admitem como causa de anulação do
casamento em algumas situações, o que não se estende à lei brasileira.

1. CASAMENTO PUTATIVO. Art. 1.561. Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por
ambos os cônjuges, o casamento, em relação a estes como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da
sentença anulatória.

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1.1. CONCEITO. É aquele que se reporta verdadeiro, mas não o é. É o casamento nulo ou
anulável, contraído de boa-fé por ambos ou pelo menos, um dos esposos, tem, em razão desta
boa-fé, efeitos civis reconhecidos por lei.

Exemplo: Quando dois irmãos se casam sem saber do vinculo de parentesco.

1.2. CARACTERISTICAS. Boa-fé do cônjuge: Se um dos cônjuges contraiu matrimonio de boa


fé, os efeitos civis, só a ele e aos filhos se estenderão. Má-fé de ambos os cônjuges: Se ambos
os cônjuges estavam de ma fé ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis só aos filhos se
estenderão. Em relação aos filhos: Todo casamento considerado nulo ou anulado é
considerado putativo em relação aos filhos.

1.3. CONDIÇÕES
O casamento deve ser nulo ou anulável, não se estendendo aos casamentos inexistentes.

1.4. EFEITOS:

I. Civis: Os casamentos putativos geram todos os efeitos civis até a data da sentença que o
declarará nulo ou anulado.
II. Sentença: Nos casamentos putativos, e somente nestes, as sentenças terão efeitos ex nunc.
III. Em caso de arguição de nulidade do casamento antes da morte de um dos cônjuges: Caso
a nulidade seja arguida antes da morte de um dos cônjuges, ainda que a sentença procedente
seja posterior à data do óbito, o cônjuge supérstite perderá a sua condição de herdeiro.
IV. Em caso de arguição de nulidade do casamento após a morte de um dos cônjuges: Caso a
nulidade seja arguida após a morte de um dos cônjuges, a sentença, ainda que procedente,
não surtirá efeitos concretos vez que o cônjuge supérstite se manterá na condição de herdeiro
do ‘de cujus’.
V. Falecimento do cônjuge bígamo: No caso de falecimento de cônjuge bígamo: declarada a
sua putatividade, o mesmo terá dois cônjuges como herdeiros (o legitimo e o putativo),
devendo a herança ser dividida entre os sobreviventes em partes iguais.

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VI. Doações: As doações feitas por terceiros em contemplação ao casamento futuro se perdem
em relação ao culpado e se mantém em relação ao inocente.
VII. Pensões alimentícias: as porventura impostas serão devidas até a data da sentença, sem
direito à repetição.
Há correntes doutrinárias que entendem que a pensão é devida ao cônjuge inocente mesmo
após a declaração de nulidade ou anulação.
VIII. Dívidas: as dividas contraídas pelos cônjuges computam-se como se o casamento tivesse
sido válido até a data da sentença de anulação.

1.5. DECLARAÇÃO DE PUTATIVIDADE.

I. Necessidade de anulação ou nulidade do casamento.


II. Forma de declaração: Pode ser declarada nos próprios autos da ação de nulidade ou
anulação, ou em processo autônomo, neste caso pelo cônjuge, pelos filhos, ou terceiros
interessados.
III. Omissão da sentença de nulidade ou anulação em relação ao casamento putativo: Caso a
sentença da Ação anulatória ou de nulidade sejam omissas quanto ao fato, o mesmo pode ser
dirimido por embargos declaratórios, todavia, havendo o transito em julgado da sentença,
somente através de ação própria.

Da Eficácia do Casamento
Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a condição de consortes, companheiros e
responsáveis pelos encargos da família. Ver tópico (1130 documentos)
§ 1o Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o sobrenome do outro. Ver tópico (574 documentos)
§ 2o O planejamento familiar é de livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e
financeiros para o exercício desse direito, vedado qualquer tipo de coerção por parte de instituições privadas ou
públicas. Ver tópico (20 documentos)

2. DOS DIREITOS E DEVERES DOS CÔNJUGES


Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges: Ver tópico (14689 documentos)
I - fidelidade recíproca; Ver tópico (279 documentos)
II - vida em comum, no domicílio conjugal; Ver tópico (425 documentos)

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III - mútua assistência;

1. EFEITOS JURÍDICOS DO CASAMENTO. Esta matéria é tratada no Código Civil em seus


artigos 1.565 a 1.570. outros efeitos jurídicos são previstos no Capítulo da Filiação (artigos
1.569 a 1.606) e no Capítulo das Disposições Patrimoniais (artigos 1.639 a 1.710). Nenhuma
distinção é feita entre o homem e a mulher, pois o novo Código Civil está alinhado com o artigo
226, § 5.º, da Constituição Federal./88 que estabelece o princípio da igualdade dos cônjuges
na vigência da sociedade conjugal.

1.1. Efeitos Pessoais. Dizem respeito aos direitos e deveres de ambos os cônjuges, dispostos
no artigo 1.566, do Código Civil.
Por força do artigo 1.565 os cônjuges são companheiros e responsáveis pelos encargos da
família e têm por obrigação decidir o planejamento da mesma, já que o § 2.º do artigo 1565
está em consonância com o artigo 226, § 7.º, da Constituição Federal/88.

1.2. Efeitos Sociais. Atingem não só as pessoas dos cônjuges, mas também a sociedade. O
casamento tem como efeitos sociais: Entre os cônjuges, instaura-se uma sociedade conjugal
(artigo 1.565 do Código Civil). Institui-se, com o casamento, a família (artigo 1.565 do Código
Civil e artigo 226 da Constituição Federal/88). Pelo casamento muda-se o status social dos
cônjuges. É a mudança do estado civil da pessoa. Com o casamento a pessoa se emancipa
(artigo 5.º, parágrafo único, inciso II, do Código Civil). O Cônjuge passa a ter com os parentes
do outro um vínculo jurídico por afinidade (artigo 1.595, do Código Civil).

1.3. Efeitos Patrimoniais. Dever de assistência patrimonial: refere-se ao sustento, ajuda


material que cabe a ambos os cônjuges (artigo 1.566, inciso III, Código Civil). Com o
casamento altera-se o sistema de propriedade dos bens, alterando-se, também, a sua
administração. O regime de bens é tratado nos artigos 1.639 a 1.688, do Código Civil, e que
passará a valer a partir do casamento, sendo irrevogável. O pacto antenupcial é uma escritura
com eficácia condicional, tendo em vista que só terá validade se houver o casamento. A
administração dos bens se altera, visto que não será livre.

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Sucessão hereditária (artigos 1.784 e seguintes do Código Civil): o cônjuge torna-se herdeiro
do outro.

2. DIREITOS E DEVERES DOS CÔNJUGES. O Código Civil trata, em primeiro lugar, dos
direitos e deveres dos cônjuges (artigo 1.566). Trata-se de um rol de deveres explícitos, mas
que não afasta outros deveres, que não estão ali relacionados, chamados de deveres
implícitos. Os deveres implícitos são a lealdade, a compreensão, o diálogo, o carinho, a
tolerância mútua, a entrega sexual, o amor etc. Os deveres explícitos são aqueles expressos
nos incisos de I a V do artigo 1.566. São eles:

a. Inciso I. Fidelidade é a confiança depositada no outro cônjuge. Uma das formas mais
graves da infidelidade é o adultério (encontro sexual fora do casamento). O adultério tem como
consequência a separação do casal, e na esfera penal é considerado como crime. Além do
adultério propriamente dito, que é de difícil prova, existem, ainda:
Quase adultério: a pessoa pratica atos de envolvimento afetivo, tais como carinhos, beijos,
mas não chega a ter um encontro sexual.
Adultério virtual: praticado pela internet, correspondência ou telefone, não havendo
relacionamento sexual;
Adultério precoce: aquele que se observa no início do casamento e além de ser causa de
separação pode ser causa de anulação do casamento por erro essencial.
Adultério casto: não há relacionamento sexual, mas há gravidez (ex.: marido que doa
espermatozoides sem o consentimento da esposa, ou esposa que se submete a uma gravidez
por inseminação artificial de outra pessoa que não o marido, sem a autorização deste).

b. Inciso II. A convivência em residência com animus definitivo é pressuposto do casamento.


Pode-se dispensar, entretanto, a vida em comum por consenso, conveniência ou necessidade.
A falta desse dever é o abandono do lar – que não exige mais o tempo de dois anos. É
necessário que o abandono seja voluntário (animus de permanecer fora do lar) e injusto (que
não seja motivado pelo outro cônjuge). O artigo 1.569 do Código Civil estabelece que o
domicílio do casal será escolhido por ambos os cônjuges, admitindo-se uma ausência

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ocasional para atender encargos públicos, para o exercício de profissão ou para atender
interesses particulares relevantes.

c. Inciso III. Auxílio, colaboração de um para com o outro. Desmembra-se em assistência


material e assistência moral.

d. Inciso IV. A guarda, sustento e educação dos filhos decorre do chamado pátrio poder, que é
o direito-dever dos pais.

e. Inciso V. Estabeleceu o Código Civil ainda o respeito e a consideração mútuos. Tal


disposição é irrelevante, pois a mútua assistência tem todo o aspecto moral, de forma que
apenas reforçou o legislador algo que já havia estabelecido.

2.1. Direitos e Deveres patrimoniais. Os artigos 1.642 a 1.652 do Código Civil estabelecem
efeitos obrigacionais, contratuais para que marido e mulher possam contratar de maneira livre,
ou estabelecendo uma interdependência entre eles. É bom ainda ressaltarmos o comando do
artigo 1.568 que determina que para manutenção da família os cônjuges devem concorrer, na
proporção de seus bens e do rendimento do trabalho, qualquer que seja o regime estabelecido.
Isso significa que sempre haverá um rateio entre marido e mulher para manutenção da família,
a não ser que as próprias pares estabeleçam de maneira contrária no pacto antenupcial.

DA DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE E DO VINCULO CONJUGAL

1. DISTINÇÃO ENTRE SOCIEDADE CONJUGAL E CASAMENTO

Casamento: é um instituto mais amplo que a sociedade conjugal, por regular a vida dos
consortes, suas relações e suas obrigações recíprocas, tanto as morais quanto os materiais, e
seus deveres para com a família e com a prole. Casamento é o vinculo matrimonial. Sociedade
conjugal: está contida no casamento, mas é um instituto mais restrito que aquele, regendo,
apenas, o regime matrimonial de bens dos cônjuges, os frutos civis do trabalho ou indústria de
ambos os consortes ou de cada um deles. Em 13 de julho de 2010 entrou em vigor a Emenda

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Constitucional nº 66 que alterou a redação do art. 226, parágrafo 6º da Constituição. Isso
trouxe enormes avanços ao direito de família no Brasil.

1.1. Histórico da história do Divórcio. O art. 144 da Constituição de 1934 trazia o Princípio
da Indissolubilidade do casamento com a previsão de que: “A família, constituída pelo
casamento indissolúvel, está sob a proteção especial do Estado.” Esse princípio foi repetido
nas Constituição de 1937, 1946 e 1967. A EC nº 9/1977 alterou o texto do § 1º do art. 167 da
Constituição Federal de 1967 com a redação: “O casamento somente poderá ser dissolvido,
nos casos expressos em lei, desde que haja prévia separação judicial por mais de três anos."
aboliu o princípio da indissolubilidade do casamento.

Em 26 de dezembro de 1977, foi promulgada a Lei nº 6.515, conhecida como Lei do Divórcio,
que veio regulamentar a EC nº 9/1977, tratando dos casos de dissolução da sociedade
conjugal e do casamento, seus efeitos e respectivos processos. Ainda em razão da EC nº
9/1977 o art. 226, § 6º, da Constituição de 1988 vigorava com o seguinte texto: "O casamento
civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano nos
casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato por mais de dois anos".

Havia restrições à concessão do divórcio: Separação judicial há mais de um ano. Estarem os


cônjuges separados de fato há pelo menos dois anos. A manutenção dessa via dupla para a
obtenção do divórcio sempre foi criticada em razão de multiplicar o número de processos, de
burocracia e de despesas. A EC nº 66/2010 exclui a parte final do dispositivo constitucional,
desaparecendo toda e qualquer restrição para a concessão do divórcio, que cabe ser
concedido sem prévia separação e sem a exigência de prazos. O § 6º do art. 226 da
Constituição Federal, então, passa a vigorar, a partir de 13 de julho de 2010 da seguinte forma:
“O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio."

Um dos principais avanços que a nova redação traz é a extinção da separação judicial. Esta
apenas dissolvia a sociedade conjugal pondo fim a determinados deveres decorrentes do
casamento como o de coabitação e o de fidelidade recíproca, facultando também a partilha
patrimonial. Contudo, pessoas separadas não podiam casar novamente, em razão de o vínculo

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matrimonial não ter sido desfeito. Somente o divórcio e morte desfazem esse vínculo,
permitindo-se novo casamento.

2. CASOS DE DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL E DO CASAMENTO. Art. 1571


CC. A sociedade conjugal se extingue com:
I- A morte, real ou presumida, de um dos cônjuges.
II- Pela anulação do casamento.
III- Pela separação judicia.
IV- Pelo divórcio.

A sentença de declaração de nulidade não pode ser vista como forma de dissolução da
sociedade conjugal, ou do casamento vez que a nulidade o torna írrito desde o momento de
sua celebração, não sendo, portanto, forma de dissolução da sociedade conjugal, vez que
apenas declara que a mesma nunca existiu. A sentença de nulidade do casamento que
dissolve a sociedade conjugal é a que declara inválido um casamento putativo, vez que este
casamento produz efeitos civis até a decretação da nulidade.

3. DISTINÇÃO ENTRE SEPARAÇÃO JUDICIAL E DIVÓRCIO. Separação judicial: dissolve a


sociedade conjugal, mas conserva íntegro o vinculo matrimonial, impedindo os cônjuges de
contraírem novas núpcias, pois o vinculo matrimonial, se válido, só termina com a morte real ou
presumida de um deles ou com o divórcio.
Divórcio: dissolve tanto a sociedade conjugal como o vinculo matrimonial, autorizando os
consortes de se casarem novamente.

4. EXTINÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL. A sociedade conjugal se extingue:

I. Com a separação judicial.

4.1. CARACTERISTICAS E EFEITOS DA EXTINÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL. A


extinção da sociedade conjugal finda os deveres de fidelidade, cumplicidade, assistência

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mútua, bem como os deveres patrimoniais entre os cônjuges, todavia, não lhes dá a condição
para contraírem novas núpcias. Pode haver a dissolução da sociedade conjugal se a do vinculo
matrimonial, mas o inverso não é possível.

5. EXTINÇÃO DO VINCULO MATRIMONIAL. O vínculo matrimonial se extingue:


I. com a decretação de nulidade ou anulação dos casamentos putativos.
II. com a morte, real ou presumida, de um dos cônjuges.
III. com o divórcio.

5.1- CARACTERISTICAS E EFEITOS DA EXTINÇÃO DO VINCULO MATRIMONIAL. A


extinção do casamento, ou vinculo matrimonial, ratifica o fim dos deveres conjugais, bem como
dá aos cônjuges a possibilidade de contraírem novas núpcias. A morte real ou presumida de
um dos cônjuges não dissolve apenas a sociedade conjugal, mas também, o vinculo
matrimonial entre os cônjuges. A decisão judicial que decreta a nulidade e a anulabilidade do
matrimonio põe fim à sociedade conjugal e ao vinculo matrimonial, de modo que os ex-
consortes poderão contrair novo casamento.

Havendo decretação de nulidade ou anulação do casamento, a guarda dos filhos será


transmitida ao genitor que apresentar maiores capacidades para assumi-los, sendo que, na
hipótese deste genitor vir a contrair novas núpcias, o mesmo não perderá o poder familiar em
relação àqueles filhos, nem a guarda, a não ser que não sejam tratados de forma conveniente
por ele ou pelo seu novo cônjuge.

DA SEPARAÇÃO JUDICIAL (Art. 1571 e seguintes do CC).

6. PRINCIPIOS E CARACTERÍSTICAS.

É causa de dissolução da sociedade conjugal. Não rompe o vinculo matrimonial. Impossibilita


os ex-cônjuges de contraírem novas núpcias, até a sentença que decretar o divórcio. É uma
medida preparatória da ação do divórcio.

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É ação personalíssima, só podendo ser proposta pelos cônjuges. A lei permite a nomeação
judicial de um curador no caso de um dos consortes ser pessoa incapaz.

Apenas o marido e mulher têm legitimidade ativa e/ou passiva para estar em juízo. A sentença
que homologa ou decreta põe termo aos deveres de coabitação, fidelidade recíprocas e ao
regime de bens. Quanto a guarda dos filhos, os tribunais tem decidido que o fato de o separado
judicialmente passar a viver maritalmente com outra pessoa não justifica que os filhos sejam
retirados de sua companhia, desde que o guardião tenha vida recatada e proporcione
ambientes familiares à prole.

7. ESPÉCIES DE SEPARAÇÃO JUDICIAL

7.1. Consensual:
Ocorre quando os cônjuges, por mútuo consentimento decidem se separar. Para requerer a
separação consensual, os cônjuges devem ter mais de um ano de casados. Sentença
homologatória. O acordo não precisa vir acompanhado de motivação. Só terá eficácia mediante
homologação por sentença judicial e com a manifestação do Ministério Público. Pode ser
requerida mesmo durante o tramite de uma separação judicial litigiosa, devendo o casal redigir
um acordo que será homologado pelo juiz.

7.2. Litigiosa ou não consensual: É efetivada pela vontade unilateral de um dos cônjuges,
ante as causas previstas em lei. A sentença, neste caso, deixa de ser homologatória e passa a
ser decisória.

8. SEPARAÇÃO CONSENSUAL. Permite a norma jurídica que os cônjuges se separem


consensualmente desde que estejam casados há mais de um ano. Tem o fim de legalizar a
convivência dos consortes de viverem separados.

8.1. REQUERIMENTO. O pedido de separação consensual deve seguir todas as disposições


contidas nos artigos 1.120 a 1.124 do CPC sob pena de nulidade. Os consortes devem
requerê-la em petição assinada por ambos, ou por seus advogados ou por advogado escolhido

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em comum acordo. Os consortes devem comunicar a suas intenções de pôr termo à sociedade
conjugal, sem necessidade de expor os motivos, convencionando as clausulas e os motivos em
que o fazem. Se os consortes não puderem ou não souberem assinar, será licito que outrem o
faça a rogo deles. A petição deve ser instruída com os documentos e dados exigidos pelo CPC,
sendo eles:

I. Certidão de casamento: para comprovar que os cônjuges são casados há mais de um ano.
II. Pacto antenupcial- se houver.
III. Descrição dos bens moveis ou imóveis do casal e respectiva partilha.

A partilha pode ser realizada desigualmente, uma vez que os cônjuges são maiores e capazes,
não estando impedidos de transigir. Caso o juiz perceba que há má-fé de um dos cônjuges, e
que a partilha prejudica o outro, poderá se recusar a homologar o acordo. É ilícita a estipulação
que determina a continuação da comunhão de bens, após a dissolução da sociedade conjugal
ou a administração de um da meação pertencente ao outro.

A sentença de separação judicial importará a partilha de bens proposta pelos cônjuges e


homologada pelo juiz. Não havendo entre os cônjuges um acordo sobre a partilha de bens,
esta circunstancia não obsta a homologação da separação judicial, pois já se decidiu que a
partilha de bens pode ser feita depois de homologada a separação consensual por sentença
em inventário judicial. Poderá haver clausula de doação ou promessa de doação de imóvel
para filho do casal.

SEPARAÇÃO JUDICAL CONSENSUAL

1. CARACTERISTICAS. Permite a norma jurídica que os cônjuges se separem


consensualmente desde que estejam casados há mais de um ano. Tem o fim de legalizar a
convivência dos consortes de viverem separados.

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2. REQUERIMENTO. O pedido de separação consensual deve seguir todas as disposições
contidas nos artigos 1.120 a 1.124 do CPC, sob pena de nulidade. Os consortes devem
requerê-la em petição assinada por ambos, ou por seus advogados ou por advogado escolhido
em comum acordo. Os consortes devem comunicar a suas intenções de pôr termo à sociedade
conjugal, sem necessidade de expor os motivos, convencionando as clausulas e os motivos em
que o fazem. Se os consortes não puderem ou não souberem assinar, será licito que outrem o
faça a rogo deles.

A petição deve ser instruída com os documentos e dados exigidos pelo CPC, sendo eles:
I. Certidão de casamento: para comprovar que os cônjuges são casados há mais de um ano.
II. Pacto antenupcial- se houver.
III. Descrição dos bens moveis ou imóveis do casal e respectiva partilha.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ACERCA DO PROCEDIMENTO. Verificando que a petição


preenche todos os requisitos legais, o magistrado ouvirá a ambos os consortes,
separadamente, esclarecendo-os e verificando que estão plenamente conscientizados de seus
atos e das condições avençadas, mandará reduzir a termo suas declarações e depois de ouvir
o representante do Ministério Publico, no prazo de cinco dias, homologará o acordo para que
produza os seus efeitos jurídicos. Se o juiz não se convencer do propósito das partes, marcará
dia e hora para que ratifiquem o pedido.Se nenhum deles comparecer para ratificar o pedido, o
juiz mandará autuar a petição e documentos e arquivar o processo.

Se comparecerem à sua presença, ratificando o pedido, o termo de ratificação será lavrado,


prosseguindo-se como de direito. Transitada em julgado, a decisão homologatória deverá ser
averbada no Registro Civil competente, e se, a partilha abranger bens imóveis deverá ser
averbada no registro imobiliário. A separação judicial só terá eficácia jurídica com a
homologação judicial. O magistrado poderá se recusar a homologação e não decretar a
separação se apurar que a convenção não preserva os interesses dos filhos ou de um dos
cônjuges.

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O juiz poderá negar a homologação e não decretar a separação se apurar a insinceridade do
pedido de um dos cônjuges, se vislumbrar no acordo que a vontade de um deles está
dominada pela do outro ou se perceber que a separação é concedida por um dos consortes
mediante pactos leoninos que prejudicam, gravemente o outro ou a prole, não atendendo aos
seus interesses. O juiz pode se recusar a homologar o acordo, justificando seus motivos na
sentença, mas NÃO tem poderes para alterar qualquer disposição estipulada pelas partes. Se
as partes não se conformarem com a sentença que negou a homologação do acordo, poderão
apelar para segunda instancia.

Se as partes admitirem que realmente não preservaram o interesse de um deles ou dos filhos,
terão de partir para novo pedido de separação. A separação judicial consensual é ato judicial
complexo, visto que a vontade dos cônjuges só produzirá efeitos liberatórios se houver a
homologação do órgão judicante, que tem presença atuante e positiva no processo.

A sentença homologatória perderá sua eficácia com a reconciliação, que poderá ser realizada a
qualquer tempo, nos termos e condições em que o casamento foi constituído. A reconciliação
deve ser comunicada ao juiz, mediante requerimento nos autos da ação de separação. A
reconciliação deve ser averbada no Registro Civil e em nada prejudicará o direito de terceiros,
adquiridos antes e durante o estado de separado, seja qual for o regime de bens. A separação
judicial possui um status provisório, podendo cessar a qualquer momento.

DA SEPARAÇÃO LITIGIOSA.

4. CARACTERISTICAS GERAIS. Pode ser requerida a qualquer momento, não se exigindo


lapso de tempo entre o casamento e a data do pedido de separação. O pedido é feito por
apenas um dos cônjuges, mediante processo contencioso.
Deve-se demonstrar as hipóteses legais que tornaram insuportável a vida em comum.

4.1. SEPARAÇÃO LITIGIOSA COMO SANÇÃO. Ocorre quando um dos cônjuges imputar ao
outro qualquer ato que importe em grave violação dos deveres matrimoniais e torne

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insuportável a vida em comum. Deve-se demonstrar a conduta desonrosa do outro cônjuge. Os
Tribunais brasileiros tem entendido que é desonroso todo comportamento do cônjuge que
implique menosprezo no ambiente familiar ou no meio social em que vive o casal, como
adultério, uso de entorpecentes, alcoolismo, vicio de jogo, etc.

4.2. SEPARAÇÃO JUDICIAL LITIGIOSA COMO FALÊNCIA. Se efetiva quando qualquer dos
cônjuges prove a ruptura da vida em comum há mais de um ano e a impossibilidade de sua
reconstituição, não importando a razão da ruptura, sendo, ainda, irrelevante saber qual dos
cônjuges foi o culpado pela separação. Legaliza, tão somente, uma separação de fato.

4.3. SEPARAÇÃO LITIGIOSA COMO REMÉDIO. Ocorre quando o cônjuge pede a separação
ante ao fato de estar o outro acometido de grave doença mental, manifestada após o
matrimonio, que torne impossível a vida em comum. Cabe ao requerente provar a insanidade
mental, sendo o doente submetido a um diagnóstico. Haverá reversão em favor do cônjuge
doente, desde que não seja ele quem requereu a separação, do remanescente dos bens que
levou para o casamento e, se o regime de bens adotado o permitir, a meação dos bens
adquiridos durante a constância do casamento.

6. EFEITOS DA SEPARAÇÃO JUDICIAL

A separação judicial produz efeitos idênticos ao divorcio, salvo quanto ao rompimento do


vinculo conjuga, que permanece intacto.
Seus efeitos verificam-se:
I. Em relação às pessoas dos cônjuges.
II. Em relação aos bens.
III. Em relação aos filhos.

Os efeitos da separação variarão conforme seja a separação consensual ou litigiosa.


I. Se consensual, os efeitos serão de acordo com as condições impostas pelo próprio casal.
II. Se litigiosa, os efeitos serão estabelecidos, com certa margem de arbítrio, pelo juiz dentro
dos termos legais.

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Os efeitos da separação serão produzidos a partir do transito em julgado da sentença ou da
data que concedeu a separação de corpos.

8. PRINCIPAIS EFEITOS PATRIMONIAIS EM RELAÇAO AOS CÔNJUGES.

I. Resolver a situação econômica, pondo fim ao regime de bens.


A partilha de bens, tanto ativos quanto passivos (dividas) pode ser feita mediante proposta dos
cônjuges, homologada pelo magistrado (na separação consensual) ou por deliberação do juiz
(no caso de separação judicial litigiosa).

II. Substituir o dever de sustento pela obrigação de alimentar. Súmula 226 STF. Na separação
consensual, o marido ou a mulher poderá estipular que pagará pensão alimentícia ao outro se
este não tiver condições de prover o seu próprio sustento. Na separação litigiosa, a pensão
será fixada pelo juiz, segundo os critérios do art. 1694 do CC.
Na separação litigiosa, a pensão deve ser paga pelo cônjuge que for declarado culpado pela
mesma, se o outro precisar, apresentando-se como uma sanção civil, e constituindo-se como
alimentos indenizatórios. Havendo reciprocidade de culpa, ambos perderão o direito a
alimentos.

Extingue-se o dever de prestar alimentos se o cônjuge credor:


a. Morrer.
b. Renunciar ao exercício do direito de alimentos.
c. Apresentar comportamento indigno.
d. Casar-se novamente ou viver em regime de união estável.
e. Com o divórcio.

O cônjuge que dispensou a prestação de alimentos conserva-se no direito de receber pensão


decorrente do óbito do outro, desde que comprove a necessidade do beneficio. Súmula 64 do

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TFR. Caso o cônjuge devedor, que obteve o divórcio, venha a se casar novamente, o mesmo
não será isento da obrigação de pagar alimentos ao ex-cônjuge.

III. Dar origem, se litigiosa a separação, a indenização por perdas e danos, em face de
prejuízos morais ou patrimoniais sofridos pelo cônjuge inocente.
IV. Suprimir o direito sucessório entre os consortes, assim o cônjuge supérstite, que seria
convocado a suceder em concorrência com o descendente e ascendente, na falta destes não
herdará se estiver separado do de cujus.
V. Impedir que o ex- cônjuge de empresário separado judicialmente, exija, desde logo a
parte que lhe couber na quota social, permitindo que concorra na divisão periódica dos lucros
até que se liquide a sociedade.

9. EFEITOS DA SEPARAÇAO JUDICIAL QUANTO AOS FILHOS.

I. Passá-los, se menores ou maiores incapazes, à guarda e companhia de um dos cônjuges,


ou, se houver motivos graves, de terceiros. Este ajuste entre os genitores é transitório, pois, se
após a homologação apurar-se que o cônjuge que tem a guarda da prole representa perigo à
sua moral, poderá o magistrado desprezar o acordo e conferir a guarda ao outro genitor ou a
terceiro.

II. Assegurar ao genitor que não tem a guarda e companhia da prole o direito, desde que não
tenha enquadrado numa das hipóteses de perda do poder familiar, de:

a. Fiscalizar sua manutenção e educação, podendo reclamar ao juiz se as entender contrárias


ao interesse dos filhos.

b. Visitá-los. O direito de visita é irrenunciável, sendo nula qualquer convenção que vise a
renuncia desse direito.
São sujeitos ao direito de visita não só os menores, mas também os maiores incapazes,
doentes ou impossibilitados. Na separação litigiosa, havendo acordo quanto à regulamentação
das visitas, o juiz designará dia, hora e local para sua realização, conforme vontade,

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comodidade e possibilidade dos interessados. O direito de visita pode ser alterado a qualquer
tempo, pois a decisão só faz coisa julgada formal. De ter os filhos temporariamente em sua
companhia no período de férias ou dias festivos.
A companhia dos filhos em tais datas será estipulada de acordo com a convenção dos pais ou
prescrição do juiz, que organizará um sistema de segurança que permita seu pleno exercício e
preserve a saúde e moralidade da prole. De se corresponder com os filhos.

III. Garantir aos filhos menores e maiores inválidos ou incapazes, mediante pensão alimentícia,
a criação, e educação. O fato de um filho atingir a maioridade não desobrigará os pais de pagar
tal pensão, tendo-se em vista que o beneficio é devido para prover a necessidade do
alimentante, garantindo sua subsistência por encontrar-se em dificuldade financeira. O
quantum da pensão será fixado pelos pais na separação consensual, ou pelo juiz, na litigiosa,
quando, na sentença, fixará a quota com que devem concorrer ambos os cônjuges, na
proporção de seus recursos, aplicando-se o princípio da justiça social.

IV. Garantir aos ex-cônjuges, separados judicialmente, o direito de adotar, em conjunto, uma
pessoa, desde que o seu estágio de convivência tenha sido iniciado na constância da
sociedade conjugal e concordem sobre a guarda e o regime de visitas.

DIVÓRCIO

1. CONCEITO. Divórcio é a dissolução do casamento válido, ou seja, a extinção do vinculo


matrimonial que se opera mediante sentença judicial, habilitando as pessoas a convolar novas
núpcias”.

2. REQUISITOS NECESSÁRIOS:

I. Existência de casamento válido;


II. O pronunciamento da sentença do divórcio em vida dos consortes.

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Por ter natureza personalíssima, somente os cônjuges poderão requerer o divórcio. Tal
legitimidade se estende ao curador, ascendentes e irmãos, nos casos de incapacidade mental
de um dos cônjuges. Em hipótese alguma o juiz poderá pronunciar ex officio o divórcio;

7. EXTINÇÃO DO DIREITO AO DIVÓRCIO. O direito ao divórcio extingue-se:

I. Pelo seu exercício, ou seja, se o casamento for dissolvido por sentença que homologa ou
decreta o divórcio ou se o pedido de divórcio for negado.
II. Pelo perdão, que deverá ocorrer antes da propositura ou no curso da ação de divórcio.
III. Pela renuncia ou desistência da ação de divórcio, que atingirá o próprio direito.
IV. Pela morte de um dos cônjuges, no curso da ação antes do registro da sentença.

ALIENAÇÃO PARENTAL (12.318 foi sancionada no dia 26 de agosto de 2010).


Fato infelizmente comum após a (separação) e Divórcio dos pais é a ocorrência da Síndrome
da Alienação Parental.
Pode-se conceituar a ‘Síndrome da Alienação Parental’ (SAP) como o processo de ‘programar’
uma criança para que odeie o genitor não-guardião sem justificativa idônea.
O genitor que tem a guarda do filho vale-se de comportamentos manipuladores, induzindo a
criança, por meio de técnicas e processos, a criar uma má imagem do outro genitor (não
guardião), visando ‘puni-lo’ e expulsá-lo por completo da vida dos filhos. Com o tempo, o filho,
consciente ou inconscientemente, passa a colaborar com essa finalidade, situação altamente
destrutiva para ele e para o genitor alienado.
Fica evidente que a SAP está intimamente ligada a uma relação extremamente conflituosa
entre os pais.
Ainda, o genitor alienante costuma impedir qualquer contato entre o filho e os parentes do ex-
cônjuge, aumentando o sentimento de perda da criança, já abalada com a separação dos pais.
O genitor alienado, por não saber como lidar com a situação, adota atitude passiva. No
entanto, continua amando seus filhos, na esperança de no futuro reconstruir as relações
prematuramente rompidas. Enquanto isso não acontece, sofre imensamente com a falta de
convívio com os filhos.
Mas os personagens que mais sofrem nessa tragédia, sem dúvida, são os filhos, que
continuam amando o genitor alienado.

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Os filhos, como mecanismos de autodefesa, negam o conflito, acreditando que rejeitam o pai
por crença própria, e não por induzimento do genitor guardião; nutrem sentimentos de baixa
estima, exteriorizando comportamentos regressivos, como queda de rendimento escolar e
urinar nas vestes; não se adaptam aos ambientes sociais em que devem interagir; apresentam
agressividade imotivada.
Pode-se dizer que o filho tem a SAP quando começa a nutrir sentimento de aversão ao
genitor alienado, não querendo mais o ver. Ter de ‘tomar o partido’ do genitor alienante faz a
criança pensar que perderá para sempre o amor do genitor alienado, o que gera um sofrimento
mental indescritível. Em situações extremas, a SAP pode causar na criança depressão,
perturbações psiquiátricas e até suicídio.
Quando adulto, o filho perceberá que fez uma grande injustiça ao genitor alienado, e passará
a odiar o genitor alienante.
Para superar a SAP, os pais devem ter, dentre outros, qualidades superiores para exercerem
suas funções parentais; grande equilíbrio emocional; amor incondicionado aos filhos; e contar
com a necessária ajuda jurídica e psicológica especializada.
Lidar com a SAP exige também grande consciência e atenção por parte dos operadores do
Direito, assistentes sociais e conselheiros tutelares, que devem buscar elementos para
enfrentamento do problema na área da Psicologia, uma vez que se trata de relacionamentos
humanos conflituosos.
Por fim, refira-se que a alienação parental é uma das maiores formas de abuso contra a
criança, podendo levar à perda do poder familiar do genitor alienante.
Manifestação da síndrome ou a falta de maturidade para lidar com questões afetivas
SAP é caracterizada por um conjunto de sintomas que aparecem na criança geralmente
juntos, especialmente nos tipos moderado e severo. Esses incluem:

1. Uma campanha denegritória contra o genitor alienado.


2. Racionalizações fracas, absurdas ou frívolas para a depreciação.
3. Falta de ambivalência.
4. O fenômeno do "pensador independente".
5. Apoio automático ao genitor alienante no conflito parental.
6. Ausência de culpa sobre a crueldade a e/ou a exploração contra o genitor alienado.

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7. A presença de encenações 'encomendadas'.
8. Propagação da animosidade aos amigos e/ou à família extensa do genitor alienado.

A Emenda Constitucional 66/2010 inovou ao prever no ordenamento jurídico brasileiro o


divórcio direto, sem mais a necessidade de comprovação de período intermediário de
separação (um ano de separação judicial ou dois anos de separação de fato). Entretanto o
divórcio direto não faz, tal qual varinha mágica, com que o ex-casal vire, de imediato, a página
dos problemas que inviabilizaram o convívio conjugal. Inadvertidamente, a vulnerável figura do
filho, é utilizada como objeto de chantagem ou retaliação ao ex-cônjuge.
Sob este contexto, neste 26 de agosto, completam-se três anos da publicação da Lei de
Alienação Parental (Lei 12.318/2010).

Fato infelizmente comum após a (separação) e Divórcio dos pais é a ocorrência da Síndrome
da Alienação Parental.
Pode-se conceituar a ‘Síndrome da Alienação Parental’ (SAP) como o processo de ‘programar’
uma criança para que odeie o genitor não-guardião sem justificativa idônea.
O genitor que tem a guarda do filho vale-se de comportamentos manipuladores, induzindo a
criança, por meio de técnicas e processos, a criar uma má imagem do outro genitor (não
guardião), visando ‘puni-lo’ e expulsá-lo por completo da vida dos filhos. Com o tempo, o filho,
consciente ou inconscientemente, passa a colaborar com essa finalidade, situação altamente
destrutiva para ele e para o genitor alienado.
Fica evidente que a SAP está intimamente ligada a uma relação extremamente conflituosa
entre os pais.
Ainda, o genitor alienante costuma impedir qualquer contato entre o filho e os parentes do ex-
cônjuge, aumentando o sentimento de perda da criança, já abalada com a separação dos pais.
O genitor alienado, por não saber como lidar com a situação, adota atitude passiva. No
entanto, continua amando seus filhos, na esperança de no futuro reconstruir as relações
prematuramente rompidas. Enquanto isso não acontece, sofre imensamente com a falta de
convívio com os filhos.
Mas os personagens que mais sofrem nessa tragédia, sem dúvida, são os filhos, que
continuam amando o genitor alienado.

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Os filhos, como mecanismos de autodefesa, negam o conflito, acreditando que rejeitam o pai
por crença própria, e não por induzimento do genitor guardião; nutrem sentimentos de baixa
estima, exteriorizando comportamentos regressivos, como queda de rendimento escolar e
urinar nas vestes; não adaptam-se aos ambientes sociais em que devem interagir; apresentam
agressividade imotivada.
Pode-se dizer que o filho tem a SAP quando começa a nutrir sentimento de aversão ao
genitor alienado, não querendo mais o ver. Ter de ‘tomar o partido’ do genitor alienante faz a
criança pensar que perderá para sempre o amor do genitor alienado, o que gera um sofrimento
mental indescritível. Em situações extremas, a SAP pode causar na criança depressão,
perturbações psiquiátricas e até suicídio.
Quando adulto, o filho perceberá que fez uma grande injustiça ao genitor alienado, e passará
a odiar o genitor alienante.
Para superar a SAP, os pais devem ter, dentre outros, qualidades superiores para exercerem
suas funções parentais; grande equilíbrio emocional; amor incondicionado aos filhos; e contar
com a necessária ajuda jurídica e psicológica especializada.
Lidar com a SAP exige também grande consciência e atenção por parte dos operadores do
Direito, assistentes sociais e conselheiros tutelares, que devem buscar elementos para
enfrentamento do problema na área da Psicologia, uma vez que se trata de relacionamentos
humanos conflituosos.
Por fim, refira-se que a alienação parental é uma das maiores formas de abuso contra a
criança, podendo levar à perda do poder familiar do genitor alienante.
Manifestação da síndrome ou a falta de maturidade para lidar com questões afetivas
SAP é caracterizada por um conjunto de sintomas que aparecem na criança geralmente
juntos, especialmente nos tipos moderado e severo. Esses incluem:

1. Uma campanha denegritória contra o genitor alienado.


2. Racionalizações fracas, absurdas ou frívolas para a depreciação.
3. Falta de ambivalência.
4. O fenômeno do "pensador independente".
5. Apoio automático ao genitor alienante no conflito parental.
6. Ausência de culpa sobre a crueldade a e/ou a exploração contra o genitor alienado.
7. A presença de encenações 'encomendadas'.
8. Propagação da animosidade aos amigos e/ou à família extensa do genitor alienado.

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A Emenda Constitucional 66/2010 inovou ao prever no ordenamento jurídico brasileiro o
divórcio direto, sem mais a necessidade de comprovação de período intermediário de
separação (um ano de separação judicial ou dois anos de separação de fato). Entretanto o
divórcio direto não faz, tal qual varinha mágica, com que o ex-casal vire, de imediato, a página
dos problemas que inviabilizaram o convívio conjugal. Inadvertidamente, a vulnerável figura do
filho, é utilizada como objeto de chantagem ou retaliação ao ex-cônjuge.
Sob este contexto, neste 26 de agosto, completam-se três anos da publicação da Lei de
Alienação Parental (Lei 12.318/2010).

GUARDA .Observar Lei 13.058/12/2014 Guarda Compartilhada

1. CONCEITO. É um meio utilizado para colocar o menor em família substituta ou em


associações, independentemente da sua situação jurídica, até que se resolva definitivamente o
destino do menor.

2. CARACTERISTICAS. Destina-se à prestação de assistência moral, material e educacional


do menor. Não importa em previa suspensão do poder familiar. O detentor do menor tem o
direito de se opor a terceiros, inclusive aos pais. Uma vez conferida a guarda a alguém tido
como idôneo, não se admite a transferência do menor à terceiros ou a entidades
governamentais ou não governamentais sem autorização judicial.

A guarda poderá ser revogada a qualquer tempo, mediante ato judicial fundamentado, e com
manifestação do MP. A perda ou a modificação da guarda poderá ser decretada nos mesmos
autos do procedimento. É a modalidade mais simples de colocação em família substituta. A
guarda, tratada no ECA, é deferida à criança ou ao adolescente que, por abandono dos pais ou
orfandade, necessitam de colocação em família substituta.

GUARDA COMPARTILHADA. Instituída pelo Código Civil de 2002. Ambos os pais


permanecem com a guarda do menor, mesmo não vivendo sobre o mesmo teto.

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De acordo com texto da nova lei(13.058/2014), o objetivo da guarda compartilhada é
que o tempo de convivência com os filhos seja dividido de forma "equilibrada" entre mãe e pai.
Eles serão responsáveis por decidir em conjunto, por exemplo, forma de criação e educação da
criança; autorização de viagens ao exterior e mudança de residência para outra cidade. O juiz
deverá ainda estabelecer que a local de moradia dos filhos deve ser a cidade que melhor
atender aos interesses da criança.
Com a nova lei, a possibilidade passa a ser a regra, que será descartada apenas em casos
excepcionais.
O juiz deverá levar em consideração os aspectos de cada caso para decidir a forma mais
adequada de guarda. Em tese, se as duas pessoas possuem condições, a primeira opção é
dividir a guarda.
Não se confunde guarda compartilhada com convivência alternada. Será fixada a
residência da criança, e o pai que não tem a custódia física exercerá o direito de convivência,
por exemplo, com alternância de finais de semana ou de um ou dois dias na semana.A guarda
compartilhada será aplicada mesmo para pais que não se conversam. Caberá a eles obedecer
à ordem judicial.
A guarda compartilhada será regra geral, mesmo que haja conflito entre os pais.
A criança não pode escolher quem será seu guardião, porque não tem discernimento
suficiente. Ela só é ouvida em casos excepcionalíssimos, por exemplo, quando se discute a
incapacidade para o exercício da guarda e limitação de convivência (visitas assistidas por
exemplo), sempre acompanhada por uma equipe multidisciplinar composta de assistente social
e psicólogos, além dos advogados, promotores e juiz.

A guarda compartilhada, sendo um poder de gerenciar a vida dos filhos menores, é


possível de ser estabelecida e exercida mesmo em caso de pais que moram em cidades,
estados ou até mesmo em países diferentes, especialmente com as facilidades que a
tecnologia proporciona, como Skype, telefones, e-mails e outros. A convivência com o genitor
que mora longe poderá ser compensada durante os períodos de férias e feriados prolongados.

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É possível a revisão do regime atual, mas deve ser alterado por um juiz, via processo judicial,
que poderá ser consensual (amigável) ou litigioso (caso o outro genitor discorde da guarda
compartilhada).
O pedido deve ser feito ao juiz por meio de uma ação requerendo a guarda
compartilhada. Se não tiver condições de arcar com um advogado, é possível procurar a
Defensoria Pública. O juiz poderá modificar a guarda se houver comprovação de que o pai
também pode arcar com as necessidades da criança.
A tendência é de que os próprios pais entrem em acordo, já que a criança passará
períodos na casa de ambos. O juiz fixará o valor de acordo com a divisão, prevendo ainda o
pagamento de escola, saúde e outros gastos.
É dever de ambos (pai e mãe), na proporção da possibilidade de cada um, ou seja, quem pode
mais paga mais, independentemente de quem tenha a guarda ou se ela é compartilhada.
Somente com eventual mudança na possibilidade de quem paga (perder o emprego, ou
receber um aumento de salário, por exemplo) é que o valor da pensão pode ser revisto, para
menos ou mais.
O regime de convivência deve ser bem definido pelos pais (ou pelo juiz em caso de
discordância) e submetido à aprovação do juiz. Regras definidas informalmente pelos pais não
têm valor jurídico, sendo aconselhável que sempre sejam submetidas ao Poder Judiciário.
Para os especialistas, é um indício de que o pai ou mãe não vai tratar bem da criança, portanto,
a guarda compartilhada não seria a melhor opção.
A questão da guarda pode ser alterada a qualquer momento a pedido das partes. A partir da
aprovação da lei, a nova regra deverá ser aplicada a todos os casos.

Art. 1o Esta Lei estabelece o significado da expressão “guarda compartilhada” e


dispõe sobre sua aplicação, para o que modifica os arts. 1.583, 1.584, 1.585 e 1.634 da
Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil).

Art. 2o A Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), passa a vigorar com
as seguintes alterações:

“Art. 1.583

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§ 2o Na guarda compartilhada, o tempo de convívio com os filhos deve ser dividido
de forma equilibrada com a mãe e com o pai, sempre tendo em vista as condições fáticas
e os interesses dos filhos.

I - (revogado);

II - (revogado);

III - (revogado).

§ 3º Na guarda compartilhada, a cidade considerada base de moradia dos filhos


será aquela que melhor atender aos interesses dos filhos.

§ 5º A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a supervisionar os


interesses dos filhos, e, para possibilitar tal supervisão, qualquer dos genitores sempre
será parte legítima para solicitar informações e/ou prestação de contas, objetivas ou
subjetivas, em assuntos ou situações que direta ou indiretamente afetem a saúde física e
psicológica e a educação de seus filhos.” (NR)

“Art. 1.584. ..................................................................

§ 2o Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho,
encontrando-se ambos os genitores aptos a exercer o poder familiar, será aplicada a
guarda compartilhada, salvo se um dos genitores declarar ao magistrado que não deseja
a guarda do menor.

§ 3o Para estabelecer as atribuições do pai e da mãe e os períodos de convivência


sob guarda compartilhada, o juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público,
poderá basear-se em orientação técnico-profissional ou de equipe interdisciplinar, que
deverá visar à divisão equilibrada do tempo com o pai e com a mãe.

§ 4o A alteração não autorizada ou o descumprimento imotivado de cláusula de


guarda unilateral ou compartilhada poderá implicar a redução de prerrogativas
atribuídas ao seu detentor.

§ 5o Se o juiz verificar que o filho não deve permanecer sob a guarda do pai ou da
mãe, deferirá a guarda a pessoa que revele compatibilidade com a natureza da medida,
considerados, de preferência, o grau de parentesco e as relações de afinidade e
afetividade.

§ 6o Qualquer estabelecimento público ou privado é obrigado a prestar


informações a qualquer dos genitores sobre os filhos destes, sob pena de multa de R$
200,00 (duzentos reais) a R$ 500,00 (quinhentos reais) por dia pelo não atendimento da
solicitação.” (NR)

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“Art. 1.585. Em sede de medida cautelar de separação de corpos, em sede de
medida cautelar de guarda ou em outra sede de fixação liminar de guarda, a decisão
sobre guarda de filhos, mesmo que provisória, será proferida preferencialmente após a
oitiva de ambas as partes perante o juiz, salvo se a proteção aos interesses dos filhos
exigir a concessão de liminar sem a oitiva da outra parte, aplicando-se as disposições do
art. 1.584.” (NR)

“Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o
pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos:

I - dirigir-lhes a criação e a educação;

II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584;

III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem;

IV - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao exterior;

V - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua residência


permanente para outro Município;

VI - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais


não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar;

VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos


da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes
o consentimento;

VIII - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;

IX - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua


idade e condição.” (NR)

Art. 3o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 22 de dezembro de 2014; 193o da Independência e 126o da República.

PARENTESCO Art. 1.591. São parentes em linha reta as pessoas que estão umas para com as outras na
relação de ascendentes e descendentes

1. CONCEITO. Parentesco é a relação vinculatória existente não só entre pessoas que


descendem umas das outras ou de um mesmo tronco comum, mas também entre cônjuge ou

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companheiro e os parentes do outro, entre adotantes e adotada e entre pai institucional e filho
socioafetivo.

2. ESPÉCIES
I. Natural ou consanguíneo. É o vínculo entre pessoas descendestes de um mesmo troco
ancestral. São ligadas, umas às outras, pelo mesmo sangue. Existe tanto na linha reta como na
colateral. Pode ser matrimonial, se oriundo de casamento ou extra matrimonial, se por vivencia
de união estável, relações sexuais eventuais ou concubinárias.

II. Afim
Que se estabelece por determinação legal (CC, art. 1.595), sendo o liame jurídico estabelecido
entre um consorte, companheiro e os parentes consanguíneos, ou civis, do outro nos limites
estabelecidos na lei, desde que decorra de matrimonio valido, e união estável (CF/88, art. 226,
§ 3º). O concubinato impuro ou mesmo casamento putativo não têm poder de gerar afinidade.
O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos descendentes e aos irmãos do
cônjuge ou companheira (CC, art. 1.595, § 1º).
A afinidade é um vinculo pessoal, portanto os afins de um cônjuge, ou conviventes, não são
afins entre si; logo, não há afinidade entre concunhados. O direito brasileiro constitui
impedimento matrimonial a afinidade em linha reta (CC, art.1.521, II). Na linha colateral, cessa
a afinidade com o óbito do cônjuge ou companheiro; por conseguinte, não está vedado o
casamento entre cunhados.

III. Cível
É o que se refere à adoção, estabelecendo um vinculo entre adotante e adotado, que se
estende aos parentes de um e de outro. Pai e filho adotivo são parentes civis em virtude de lei
(CC, art. 1.626). O parentesco civil abrange o socioafetivo (CC, art. 1.593, in fine, e 1.597, V),
alusivo ao liame entre pai institucional e filho advindo de inseminação artificial heteróloga,
gerando relação paterno-filial apesar de não haver vinculo biológico entre o filho e o marido de
sua mãe, que anuiu na reprodução assistida.

2. CONTAGEM DE GRAUS DE PARENTESCO CONSANGUÍNEO. O parentesco


consanguíneo divide-se em:

I. LINHA RETA
Assim serão parentes em linha reta as pessoas que estão ligadas uma às outras por um
vínculo de ascendência e descendência (CC, art.1.591). Não há limitação para o parentesco
em linha reta. São parentes na linha ascendente o pai, o avô, o bisavô etc.. Na linha
descendente o filho, o neto, o bisneto etc.

II. LINHA COLATERAL OU TRANSVERSAL. São parentes em linha colateral aquelas


pessoas que, providas de tronco comum, não descendem umas das outras (CC, art. 1.592). A
linha colateral pode ser, ainda dúplice; quando dois irmãos casam-se com duas irmãs, os filhos
dessas uniões serão parentes colaterais em linha duplicada, ou seja, duplamente primos. O
parentesco em linha transversal não é infinito, ou seja, não vai, perante nosso direito, além do
4º grau, pois há presunção de que, após esse limite, o afastamento é tão grande que o afeto e

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a solidariedade não mais servem de apoio às relações de direito. O parentesco conta-se por
graus que constituem a distância que vai de uma geração a outra.

3. SIMETRIA ENTRE AFINIDADE E PARENTESCO NATURAL. A afinidade é o liame jurídico


que se estabelece entre cada consorte ou companheiro e os parentes do outro, mantendo certa
analogia com o parentesco consanguíneo no que concerne à determinação das linhas e graus.
(cc, art. 1.595, § § 1º e 2º). Na linha reta tem-se, então, a finalidade entre sogro e nora, sogro e
genro, padrasto e enteada, madastra e enteado.

São, portanto, afins em primeiro grau. Na linha reta, a finalidade não se extingue com a
dissolução do casamento ou da união estável (CC, art. 1.595, § 2º), daí ser impedimento
matrimonial (CC, art. 1.521, II). Em segundo grau, na linha reta, o cônjuge, ou companheiro,
será afim com os avós do outro e este com os avós daquele, por que na linha reta não há limite
de grau. Na linha colateral, o parentesco por afinidade não vai além do segundo grau, existindo
tão somente como os irmãos do cônjuge ou companheiro (CC, art. 1.595, § 1º, 2º parte).
Cunhados serão parentes por afinidade em segundo grau, mas entre consortes e
companheiros não há parentesco, nem afinidade. O cunhado é reputado parente em segundo
grau, nele esbarrando a afinidade..

FILIAÇÃO Art. 1.596. Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os
mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.

1. CONCEITO. Filiação é o vínculo existente entre pais e filhos. É a relação de parentesco


consanguíneo em linha reta de primeiro grau entre uma pessoa e aqueles que lhe deram a
vida, podendo, ainda (CC, arts 1.593 a 1.597 e 1.618 e s.), ser uma relação socioafetiva entre
pai adotivo e institucional e filho adorado ou advindo de inseminação artificial heteróloga.

2. ESPÉCIES. Pode decorrer de:


I. Relações sexuais.
II. De inseminação artificial homóloga (CC, art. 1.597, III). Quando a mulher é fertilizada com o
sêmem do marido;
III. Heteróloga (adultério casto), desde que tenha havido autorização do marido de fertilização
in vitro ou na proveta- Ocorre quando a mulher é fertilizada com sêmem de outro homem
mantidos em bancos de sêmem. O início legal da personalidade jurídica é o da penetração do
espermatozoide no óvulo, embora fora do corpo da mulher, já que se põem a salvo, desde a
concepção, os direitos do nascimento.

Pela sua ilegalidade e imoralidade deve-se arredar o alugue de ventre (CF/ 88, art. 199, § 4º).
O conselho federal de medicina (Resolução nº 1.358/92) tem permitido a “adoção”, ou melhor,
a cessão temporária de útero, sem fins lucrativos, desde que a doadora seja parente colateral
até o segundo grau da genética.

A filiação pode ser classificada apenas didaticamente em:

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I. Matrimonial, se oriunda da união de pessoas ligadas por matrimônio válido ao tempo da
concepção, se resultante de união matrimonial que veio a ser anulada, posteriormente, estando
ou não de boa-fé os cônjuges, ou se decorrente de uma união de pessoas que, após o
nascimento do filho, vieram a convolar núpcias.
II. Extramatrimonial, provida de pessoas que estão impedidas de casar ou que não querem
contrair casamento, podendo ser ”espúria” (adulterina ou incestuosa) ou natural.

2.1. FILIAÇÃO MATRIMONIAL

2.1.1. CONCEITO DE FILIAÇÃO MATRIMONIAL. A filiação matrimonial é a que se origina na


Constância do casamento dos pais, ainda que anulado ou nulo. (CC, arts. 1.561e 1.617). O
casamento dos genitores pode ser anterior ou posterior ao nascimento dos filhos. Presume-se
serem concebidos na constância do casamento filhos nascidos 180 dias após o
estabelecimento da convivência conjugal ou dentre de 300 dias após a dissolução da
sociedade conjugal.

3. PRESUNÇÃO LEGAL JURIS TANTUM DA PATENIDADE. Presume-se que no matrimonio


os filhos concebidos na Constância do casamento dos pais. Esta presunção é relativa ou júris
tantum, pois a prova contrária é limitada, porém, em relação a terceiros é absoluta, pois
ninguém pode contestar a filiação de alguém. É ação personalíssima do pai da criança.Pai, até
prova em contrário por ele próprio produzida, é o marido. Estabelece a presunção de que foram
concebidos na constância do casamento.

I. Os filhos nascidos 180 dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal e
não do dia da celebração do ato nupcial, por há casos de casamento por procuração. Os filhos
nascidos dentro dos 300 dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal por morte,
separação, nulidade ou anulação, porque a gestão humana vai além desse prazo. Se a mulher,
antes do prazo de 10 meses vier a contrair novas núpcias, pois está viúva ou se primeiro
casamento foi invalidado, e lhe nascer algum filho, este se presume do primeiro marido, se
nascido dentro de 300 dias a contar da data do falecimento deste, e do segundo se o
nascimento se der após esse período e já decorrido o prazo e 180 dias depois de estabelecida
a convivência conjugal.

Os filhos havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido. O uso
do material fertilizante depende de anuência prévia do doador, uma vez que tem propriedade
sobre as partes destacadas de seu corpo. Deverá, então, para na hipótese de sua morte,
deixar declaração expressa, por instrumento publico ou testamento, de que permite a utilização
de seu sêmen na inseminação artificial de sua mulher.

Os filhos havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários,


decorrentes de concepção artificial homóloga, isto é, dos componentes genéricos advindos do
marido e da mulher.

Um dos problemas que se apresenta atualmente em nossa sociedade, concerne à


destinação dos embriões excedentários. Eles devem ser descartados, utilizados em pesquisas
ou congelados para sempre?

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Primeiramente, cumpre esclarecer que o embrião excedentário é aquele que não foi
implantado no útero materno, portanto, constitui o embrião que sobrou no processo de
fertilização artificial. Desse modo, acha-se ele congelado (criopreservado).

Dessarte, há milhares de embriões congelados em laboratórios pelo Brasil aguardando


alguma destinação. Com isso, vamos ver como está regulamentada essa questão.

Assim, a Resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1.358/92 veda o descarte desses


embriões, nesses termos: "O número total de pré-embriões produzidos em laboratório será
comunicado aos pacientes, para que se decida quantos pré-embriões serão transferidos
a fresco, devendo o excedente ser criopreservado, não podendo ser descartado ou
destruído." Só que a resolução do CFM não é Lei.

Por sua vez, a Lei de Biossegurança (Lei 11.105/05), em seu artigo 5º, aduz que
é “permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas
de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo
procedimento, atendidas as seguintes condições:” sejam embriões inviáveis; ou (2) sejam
embriões congelados há três anos ou mais. Não há, portanto, permissão, nem vedação
expressa ao descarte de embriões humanos.

Outrossim, lembre-se que o Supremo Tribunal Federal, na ADI 3510, decidiu ser
constitucional a Lei de Biossegurança, permitindo, com efeito, as pesquisas com células-tronco
embrionárias. Vale dizer que não houve consenso no atinente à possibilidade de descarte de
embriões excedentes já que, segundo o ministro Carlos Britto, “De se registrar que a presente
ação direta não impugna o descarte puro e simples de embriões não aproveitados 'no
respectivo procedimento'. A impugnação é quanto ao emprego de células em pesquisa
científica e terapia humana.”

Dito isso, a Lei de Biossegurança é regulamentada, ainda, pelo Decreto 5.591/05, que,
entretanto, nada dispõe acerca do descarte de embriões excedentes – o que nem poderia fazê-
lo, já que é norma secundária. No entanto, o artigo 65, prescreve que a “Agência Nacional de
Vigilância Sanitária ANVISA estabelecerá normas para procedimentos de coleta,
processamento, teste, armazenamento, transporte, controle de qualidade e uso de células-
tronco embrionárias humanas para os fins deste Capítulo.” Desse modo, não se fala, aqui, em
descarte.Com isso, pode-se alegar o princípio da legalidade para chegar à conclusão de que o
que não é vedado ao particular, é-lhe permitido, podendo assim os genitores optarem pelo
descarte dos embriões. Sem embargo, há projetos de lei tramitando, a fim de tornar a situação
mais segura e definida; uns com o objetivo de proibir o descarte, outros, ao revés, permitindo-o.

Em suma, o embrião excedentário pode ficar congelado para ser utilizado futuramente
pelos doadores do material genético; ou, de outro modo, pode ser objeto de pesquisas
científicas, desde que presentes as condições legais; mas, e os embriões que não são usados
nem para fertilização, nem para pesquisa? Nesse caso, pode-se defender qualquer um dos
dois lados

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Aqui também é preciso anuência expressa do casal após esclarecimento da técnica de
reprodução assistida in vitro a que se submeterão. Os filhos havidos por inseminação artificial
heteróloga, desde que haja previa autorização do marido, reforçando a natureza socioafetiva
do parentesco.

Essas duas diferentes formas de fecundação são as alternativas médicas adotadas


quando há dificuldade em engravidar naturalmente. A inseminação artificial consiste,
basicamente, em cortar o caminho percorrido pelos espermatozóides. Há casos em que a
mulher tem, no colo do útero, anticorpos que matam os pobrezinhos antes que possam
alcançar o óvulo. Por isso, o sêmen de seu parceiro é coletado e introduzido diretamente na
cavidade uterina, onde os anticorpos não estão mais presentes. Aí, com o campo livre, a
corrida até o óvulo ocorre sem problemas. "Outro caso em que se usa essa técnica é quando o
homem produz poucos espermatozóides. O sêmen é coletado e tratado para que sua
concentração aumente", afirma o ginecologista Thomaz Gollop, da Universidade de São Paulo
(USP). Já na fertilização in vitro - conhecida popularmente como "bebê de proveta" - a origem
da vida se dá fora do corpo da futura mãe.
A técnica é utilizada quando a mulher fez ligamento de trompas (cirurgia que impede o
óvulo de chegar ao útero) e depois se arrependeu - ou quando ela tem endometriose. Trata-se
de uma membrana situada na parede do útero, nas trompas e nos ovários que impede a
fecundação. O primeiro passo, então, é o uso de drogas que estimulam a produção de mais de
um óvulo por ciclo. "Esses óvulos são aspirados por uma agulha e colocados em uma
substância cheia de nutrientes, para mantê-los vivos. Aí, então, os espermatozóides são
colocados no mesmo recipiente, para que haja a fecundação", diz Thomaz. Após sua
fertilização, o óvulo é mantido em uma estufa, onde começa a ocorrer a divisão celular. Depois
de se formarem oito ou 16 células, o embrião é colocado no útero da mulher. Para obter maior
chance de gravidez, mais de um embrião é implantado. Porém, nunca mais de três, para se
evitar uma gravidez múltipla. Mulheres que passaram da menopausa também podem utilizar
essa técnica com um óvulo doado.
Flagrante do instante exato em que o espermatozóide humano fecunda o óvulo. Na
inseminação artificial, a fecundação também ocorre dentro do corpo da mulher - como em uma
relação sexual. Já na fertilização in vitro, isso deve ser feito em um recipiente especial
Após a fertilização, o embrião leva cerca de 72 horas para se dividir em oito ou 16 células.
Nessa etapa, ele já pode ser colocado dentro do útero

4. AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. A presunção de paternidade na é júris et de jure


ou absoluta, todavia, em casos específicos pode ser juris tantum ou relativa, pois o pai pode
contestá-la provando o contrario. É de ordem pessoal, sendo privativa do marido. Pode ser
proposta a qualquer tempo (imprescritível). Falecendo o pai na pendência da lide, a seus
herdeiros será licito continuá-la. Não é possível a contestação da paternidade ao alvedrio do
marido, vez que este terá de mover ação judicial, provando, se o reconhecimento voluntário,
uma das circunstâncias taxativamente enumeradas em lei (CC, arts. 1.599, 1.600, 1.602 e
1.597, V).

Que houve adultério, visto que se achava fisicamente impossibilitado de coabitar com a mulher
à época da concepção. Que não havia possibilidade de inseminação artificial homóloga, nem

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de fertilização in vitro, visto que não doou sêmen para isso (CC, art. 1.597, III e IV). Que é
estéril, ou que fez vasectomia. Que se encontra acometido de doença grave, que impede as
relações sexuais.

Pelo art. 1.600 do Código Civil “não basta o adultério da mulher ainda que confessado, para
elidir a presunção legal da paternidade”, porque, não obstante, o filho pode ser do marido, não
sendo cabível recusar-lhe a paternidade com base em duvidas. O mau comportamento da
mulher apenas poderá desfazer a presunção legal se ficar comprovado que, p. ex., o adultério
se deu na ausência do consorte varão, que, por se encontrar fora do país, estava
impossibilitado de coabitar com a mulher na época da concepção. A alegação de adultério
pode servir, somente, como prova complementar na ação negatória de paternidade.

A ação de contestação de paternidade é proposta contra filhos, que, se for menor, podendo ser
representado pelo próprio autor, que seria seu representante legal, o juiz da causa nomeia em
curador ad hoc. Cuja intervenção não se dispensa por oficiar, no feito, o Ministério Público. A
mãe, embora não seja parte na lide, poderá intervir para assistir o filho. A sentença proferida
deverá ser averbada à margem do registro de nascimento, para competente ratificação; sendo
oponível erga omnes. Com o novo Código Civil, não há mais prazo decadencial para o
exercício do direito de contestar paternidade, pois pelo art. 1.601, in fine, essa ação é
imprescritível.

5. AÇÃO NEGATÓRIA DE MATERNIDADE. A mãe somente poderá contestar a maternidade


constante do termo de nascimento do filho se provar: A falsidade desse termo ou das
declarações nele contidas (CC, art. 1.608), por ter havido equivoco na qualificação da
verdadeira mãe. Por não ter ocorrido parto. Por atribuição de filho pertencer à outra mulher. Por
ocorrência de troca de embrião, na fertilização assistida. Por existência de erro, dolo ou fraude
no ato registrário.

6. PROVA DA CONDIÇÃO DE FILHO. Certidão de nascimento inscrita no Registro Civil. Por


qualquer modo admissível em direito, se o registro faltar, por que os pais não o fizeram ou
porque se perdeu o livre ou se o tempo de nascimento for defeituoso. Estribada na posse do
estado de filho, a pessoa educada e criada pelo casal poderá vindicar em juízo o
reconhecimento da legitimidade da filiação, se não se fez, oportunamente, no termo de
nascimento, menção com reserva, desde que se façam presentes três elementos; o nomen ou
nominatio, ou seja, que a pessoa traga o nome paterno; o tractatus, isto é, que a pessoa seja
tratada na família como filha, e a fama ou reputatio, ou seja, que tenha sido constantemente
reconhecido pelos presumidos pais, pela família e pela sociedade como filha.

Havendo essa circunstância, ter-se-á presunção juris tantum de filiação. A ação de prova da
filiação é pessoal, pois compete ao filho, enquanto viver, passando aos herdeiros, se ele morrer
menor ou incapaz. Se proposta pelo filho maior e capaz, e se, porventura, este vier a morrer,
seus herdeiros poderão continuá-la por terem interesse moral e material.

7. FILIAÇÃO NÃO MATRIMONIAL Art. 1.607. O filho havido fora do casamento


pode ser reconhecido pelos pais, conjunta ou separadamente

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CONCEITO DE FILIAÇÃO NÃO MATRIMONIAL. A filiação não matrimonial é a decorrente de
relação extramatrimoniais. Os filhos gerados durante as mesmas classificam-se didaticamente
em:

Naturais, se descenderem de pais entre os quais não havia nenhum impedimento matrimonial
no momento em que foram concebidos.
Espúrios, se oriundos da união de homem e mulher entre os quais havia, por ocasião da
concepção, impedimento matrimonial. Assim, são espúrios os adulterinos, que nascem de
casal impedido de casar em virtude de casamento anterior, resultado de um adultério.

8. A QUESTÃO DO RECONHECIMENTO DE FILHOS. O reconhecimento é ato que declara a


filiação havida fora do matrimônio, estabelecendo, juridicamente, o parentesco entre pai e mãe
e seu filho. Por isso é, declaratório.

9. MODO DE RECONHECIMENTO DE FILHOS

RECONHECIMENTO VOLUNTÁRIO. É o meio legal do pai, da mãe ou de ambos revelarem


espontaneamente o vínculo que os liga ao filho, outorgando-lhe, por essa forma, o status
correspondente. É ato pessoal dos genitores, não podendo ser feito por avô ou tutor,
sucessores do pai ou herdeiros do filho. Só é permitido reconhecer filhos já falecidos quando
ele deixa descendentes, caso em que cabe a eles consentir o ato de reconhecimento. Uma vez
declarada a vontade de reconhecer, o ato passa a ser irretratável ou irrevogável, inclusive se
feito em testamento (CC, art. 1.610). Poder vir a ser anulado se inquinado de vício de vontade
como erro, coação (AJ, 97:145) ou não observar certas formalidades legais. Não pode
comportar condições ou termo (CC, art. 1.613).
Tanto o filho ”natural” como o “incestuoso” ou “adulterino” podem hodiernamente ser
reconhecido pelos pais, conjunta ou separadamente (CC, art. 1.607). O reconhecimento,
qualquer que seja a origem da filiação, é ato solene e irrevogável. Registro de nascimento feito
por quem sabia não ser o verdadeiro pai é tido como adoção simulada.

Por escrituras públicas. O reconhecimento pode dar-se numa escritura publica bastando que a
paternidade seja declarada de modo incidente ou acessório em qualquer ato notarial, assinado
pelo declarante e pelas testemunhas; não se exigindo nenhum ato público especial.

Por testamento cerrado, público ou particular. Ainda que incidentalmente manifestado (CC, art.
1.609, III) e até por testamento especial, e mesmo sendo nulo ou revogado, o reconhecimento
nele exarado vale de per si, inclusive se tratar de simples alusão incidental à filiação, a menos
que decorra de fato que acarrete sua nulidade, como, p. ex. demência do testamento.

RECONHECIMENTO JUDICIAL. Resulta de sentença proferida em ação intentada para esse


fim. É de caráter pessoal do filho, embora os herdeiros do filho possam continuá-la. A
investigação pode ser ajuizada contra o pai, contra a mãe e ainda contra os dois, desde que se
observem os pressupostos legais de admissibilidade da ação, considerados com presunção de
fato. Pode ser contestado por qualquer pessoa que tenha justo interesse econômico ou moral

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(CC, art. 1.615), como p. ex., o cônjuge do réu (RF, 161; 193), seu filhos matrimoniais ou os
reconhecidos anteriormente.

A sentença tem eficácia absoluta, valendo contra todos, ao declarar o vinculo de filiação
equiparável ao da descendência matrimonial, nos seus efeitos pessoais e patrimoniais. A
sentença de primeiro grau que reconhece a paternidade deverá fixar os alimentos provisionais
ou definitivos do reconhecido que deles necessite. A sentença poderá, ainda, ordenar que o
filho se crie e eduque fora da companhia dos pais ou daquele que lhe contestou essa qualidade
(CC, art. 1.616, 2º parte), defendendo sua guarda a pessoa idônea, de preferência da família
de qualquer dos pais.

10. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE Lei 8.560/92

Art. 2o-A. Na ação de investigação de paternidade, todos os meios legais, bem como os moralmente
legítimos, serão hábeis para provar a verdade dos fatos. (Incluído pela Lei nº 12.004, de 2009).

Parágrafo único. A recusa do réu em se submeter ao exame de código genético - DNA gerará a presunção
da paternidade, a ser apreciada em conjunto com o contexto probatório. (Incluído pela Lei nº 12.004, de 2009).

Permite ao filho “natural” e ao “adulterino”, mesmo se não dissolvida à sociedade conjugal,


obter a declaração de seu respectivo status familie. Ao filho “incestuoso” a nossa Lei não mais
nega legitimatio ad causam para intentar ação investigatória. A investigação de paternidade
processa-se mediante ação ordinária promovida pelo filho, ou representante legal, se incapaz,
contra o genitor ou seus herdeiros ou legatários, podendo ser cumulada com a de petição de
herança.

Com a de alimentos e com a de retificação ou anulação de registro civil. Se citado o réu por
mandato, vier a contestar o fato e a qualidade de pai, o juiz designa data para a audiência
preliminar, para obter o acordo das partes. Obtido tal acordo, o juiz o homologa por sentença.
Se o acordo não se der, o órgão judicial devera sanear o processo, determinando produção de
provas. É imprescritível, podendo ser proposta a qualquer tempo.

11. CONSEQUÊNCIA DO RECONHECIMENTO DE FILHO

O reconhecimento voluntário ou judicial de filho havido fora do matrimonio produz efeitos ex


tunc, pois retroagem até o dia do nascimento do filho ou mesmo de sua concepção se isso for
seu interesse. Estabelecer o liame de parentesco entre o filho e seus pais, atribuindo-lhe um
status familiar, constar o fato no Registro Civil, sem qualquer referencia familiar à filiação
ilegítima. Impedir que o filho havido fora do casamento, reconhecido por um dos cônjuges,
resida no lar conjugal sem a anuência do outro (CC, art. 1.611).

Dar ao filho o direito à assistência e alimentos, correspondentes à condição social em que viva,
iguais aos que seu genitor prestar a filho matrimonial, mesmo que não resida com o genitor que
o reconheceu. Sujeitar o filho, enquanto menor, ao poder familiar do genitor que o reconheceu,

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e, se ambos o reconheceram, e não houve sob o poder de quem melhor atender aos interesses
do menor. Logo, aquele que não for o guardião, terá o direito de visitar o filho e de fiscalizar sua
educação. Conceder direito à prestação alimentícia tanto ao genitor que reconhece como ao
filho reconhecido, pois os parentes devem alimentos uns aos outros, sendo a obrigação
alimentar recíproca entre pais e filhos.

Equiparar, para efeito sucessório, os filhos de qualquer natureza, (Lei n. 6.515/77, que deu
nova redação ao art. 2º da Lei n. 883/49); CF, art. 227, § 6º), estabelecendo assim direito
sucessório recíproco entre pais e filhos reconhecidos, pois tanto os ascendentes como os
descendentes são herdeiros necessários; se o descendente reconhecido tem direito de herdar
do ascendente, o ascendente também tem direito de suceder o descendente, já que o
reconheceu. Autorizar o filho reconhecido a propor Ação de repartição de herança e de
nulidade de partilha, devido a sua condição de herdeiro. Se vier a falecer antes do autor da
herança, seus herdeiros o representarão e reconhecerão os bens, por direito de transmissão,
se o óbito se der antes da partilha. Equiparar a prole reconhecida, tanto para efeito de
clausulação de legitimidade (CC, art. 1.814) ou deserdação (CC, art. 1.962) ao descendente
oriundo de relação matrimonial.

ADOÇÃO

Apenas dois artigos no CCB (1618 e 1619). A matéria é regulada pelo Estatuto da Criança e do
adolescente. Os artigos 1.620 a 1.629 foram revogados pela Lei 12.010/2009.

1. CONCEITO E FINALIDADE. A adoção vem a ser o ato jurídico solene pelo qual, observados
os requisitos legais, alguém estabelece, independentemente de qualquer relação de
parentesco consangüíneo ou afim, um vinculo fictício, trazendo para a sua família, na condição
de filho, pessoa que, geralmente, lhe é estranha. Dá origem, a uma relação legal que
possibilita que se constitua entre o adotante e o adotado um laço de parentesco de 1º grau na
linha reta. Tal possibilidade de filho será definitiva ou irrevogável, para todos os efeitos legais.
Há o desligamento do adotado de qualquer vinculo com os pais de sangue, salvo os
impedimentos para o casamento (CF, art. 227, § § 5º e 6º), criando verdadeiros laços de
parentesco entre o adotado e a família do adotante (CC, art. 1.626).

2. REQUISITOS

I. Efetivação por maior de 18 anos. Quando a adoção for singular, o adotante deverá
obrigatoriamente ter mais de 18 anos de idade; (CC, art. 1.618). Quando a adoção for por casal
(adoção conjugal) ligado pelo matrimônio ou por união estável, desde que pelo menos um
deles tenha completado 18 anos de idade comprovada a estabilidade familiar (art. 1.618,
parágrafo único). Ninguém pode ser adotado por duas pessoas, salvo se forem marido e
mulher, ou se viverem em união estável. (art.1.622, caput).

Se, porventura, alguém vier a ser adotado por duas pessoas (adoção conjunta ou cumulativa)
que não sejam marido ou mulher, nem conviventes, prevalecerá tão somente à primeira
adoção, sendo considerada nula a segunda, caso contrario ter-se-ia a situação absurda de um
individuo com dois pais e duas mães. Os divorciados e os separados judicialmente poderão

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adotar conjuntamente se o estagio de convivência com o adotado houver iniciado na
constância da sociedade conjugal e se fizerem acordo sobre a guarda do menor e o regime do
direito de visitas (CC, art. 1.622, parágrafo único).

Se um dos cônjuges ou conviventes adotar filho do outro, os vínculos de filiação entre adotado
e o cônjuge, ou companheiro, e de parentesco entre o adotado e o cônjuge, ou companheiro, e
de parentesco entre os respectivos parentes serão mantido. Não estão legitimados a adotar
seus tutelados ou curatelados, os tutores ou curadores, enquanto não prestarem contas de sua
administração, sob a fiscalização do Ministério Público e julgadas pelo juiz, e saldarem o
debito, se houver, fizerem inventario e pedirem exoneração do munus público (CC, art. 1.620).

Nada impede a adoção pelo pai ou mãe, do filho havido fora do relacionamento conjugal, se
não quiser reconhecê-lo, uma vez que não existe na legislação nenhuma norma que proíba
relações de parentesco civil entre pais, ou mãe, e filho “natural”. Marido e mulher não podem
ser adotados pela mesma pessoa, pois passariam a ser irmãos. Se a adoção se der por pessoa
solteira ou que não viva em união estável, formar-se uma entidade familiar, ou seja, uma
família monoparental.

II. Diferença mínima de 16 anos de idade entre o adotante e o adotado. É imprescindível


que o adotante seja mais velho para que possa desempenhar cabalmente o exercício do poder
familiar. Se o adotante for um casal, bastará que um dos cônjuges, ou conviventes, seja 16
anos mais velho que o adotando.

III. Consentimento do adotado, de seus pais ou representante legal (tutor ou curador).


Não cabe nesta matéria suprimentos judiciais. Se o adotado for menor de 12 anos ou se for
maior incapaz, consente por ele seu representante legal (pai, tutor ou curador), mas se contar
mais de 12 anos deverá ser ouvido para manifesta sua concordância. O consentimento será
dispensado em relação à criança ou adolescente, se seus pais forem desconhecidos ou
tiverem sido destituídos do poder familiar. Se se trata de relativamente incapaz, deverá
participar do ato assistido pelo seu representante legal. Se for maior de 18 anos e capaz,
deverá manifesta sua aquiescência por ato inequívoco (RT, 200:652).

O consentimento é revogável até a publicação da sentença constitutiva da adoção. Apenas


será admitida a adoção que constituir efetivo benéfico para o adotado (CC, art. 1.625), visto
que não há adoção intuitu personae, pois o juiz é quem terá o poder-dever de optar pela família
substitutiva adequada e não os pais da criança a se adotado, e muito menos os adotantes. O
Poder Judiciário é que analisara a convivência ou não, para o adotando, e os motivos em que
se funda a pretensão dos adotantes, ouvindo, sempre que possível, o adotado, levando em
conta o parecer do Ministério Publico. O Juiz deverá agir com prudência, verificando se os
adotantes têm condições morais e econômicas de proporcionar um pleno e saudável
desenvolvimento físico e mental ao adotado.

IV. Intervenção judicial na sua criação, pois somente se aperfeiçoa perante juiz, em
processo judicial. Há necessidade de intervenção do Ministério Público, inclusive em caso de
adoção de maior de 18 anos. A competência para julgar pedidos de adoção de menores de 18
anos será da Justiça da Infância e da juventude.

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V. Irrevogabilidade: A adoção, tanto de maiores como de menores é irrevogável, mesmo que
os adotantes venham a ter filhos, aos quais o adotado está equiparado, tendo os mesmos
deveres e direitos, inclusive sucessório, proibindo-se quaisquer designações discriminatórias,
relativas à filiação.

VI. Irreversibilidade: A adoção é irreversível, entrando o adotado definitivamente para a


família do adotante. A morte do adotante não restabelecerá o poder familiar dos pais naturais.

VII. Necessidade de estágio de convivência entre os adotantes e adotados. Para os


divorciados ou separados judicialmente (adotantes) e adotados, é necessário que o estágio de
convivência tenha se iniciado na constância da sociedade conjugal. O estágio de convivência
pode ser dispensado somente se o menor tiver menos do que um ano de idade ou se,
independentemente de sua idade, já estiver na companhia do adotante durante tempo
suficiente para a avaliação dos benefícios da constituição do vínculo.

VIII. Acordo sobre guarda e regime de visitas feitas entre divorciados e judicialmente
separados que pretendem adotar, conjuntamente, pessoa que com eles conviveu na vigência
do casamento (CC, art. 1.622, parágrafo único, 2ª parte).

IX. Prestação de contas da administração e pagamentos dos débitos por parte de tutor e
curador que pretenda adotar pupilo ou curatelado (CC, art. 1.620).

X. Comprovação de estabilidade familiar se a adoção se der por conviventes (CC, art. 1.618,
parágrafo único, in fine).

3. REQUISITOS PARA ADOÇÃO DE MENORES (ECA). O procedimento para tanto será o


indicado na Lei n. 8.069/90. requisitos específicos para a concessão desse pedido;

I. Qualificação de requerente e de seu cônjuge ou companheiro, com expressa anuência deste;


II. Indicação de eventual parentesco do requerente e de seu cônjuge, ou companheiro, com a
criança ou adolescente, especificando se há ou não algum parente vivo;
III. Qualificação completa do adotado e de seus pais, se conhecidos;
IV. Indicação do cartório onde se deu a inscrição do nascimento do adotado, anexando, se for
possível, uma copia de sua certidão de nascimento;
V. Declaração sobre a existência de bens, diretos ou rendimentos pertencentes ao adotado.
VI. A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após inequívoca manifestação de vontade
(art. 43).

A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após inequívoca manifestação de vontade, vier
a falecer na pendência do procedimento, antes que a sentença judicial seja prolatada, hipótese
em que a sentença constitutiva do vinculo da adoção retroagirá à data do óbito. Essa adoção
post mortem só é possível por que o adotante já havido manifestado sua vontade de adotar
ainda em vida. A sentença judicial concessiva da adoção terá efeito constitutivo e devera ser
inscrito no registro civil, mediante mandado do qual não se fornecera certidão.

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A inscrição consignará o nome dos adotantes como pais, bem como o nome de seus
ascendentes, com o intuito de fazer crer, a todos, que o parentesco entre adotantes e adotado
é consangüíneo. O mandado judicial, que será arquivado, cancelará o registro original do
doador. Nas certidões do registro não poderá constar nenhuma observação sobre a origem do
ato, e a critério do magistrado poderá ser fornecida certidão para a salvaguarda de direitos. A
sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e, a pedido deste, poderá determina a
modificação do prenome. A doação produzirá seus efeitos a partir do transito em julgado da
sentença.

4. ADOÇÃO DE MAIORES DE 18 ANOS

A adoção de maior de 18 anos não dispensa a efetiva assistência do poder publico, nem
processo judicial. O magistrado da Vara de Família deverá examinar se foram, ou não,
cumpridos os requisitos legais e averiguar se a adoção é conveniente para o adotado. A
adoção só se consuma com o assento da sentença constitutiva, que se perfaz com a sua
averbação à margem do registro de nascimento do adotado, efetuada à vista de petição
acompanhada da decisão judicial. A adoção dos maiores de dezoito anos rege-se, no que for
aplicável à adoção de menores e far-se-á por escritura publica, cuja eficácia depende do seu
registro no Registro Civil, depois de homologada pelo Ministério Público, observa-se, ainda, o
seguinte:

I. Se o adotante for casado ou viver em união estável, será necessário o assentimento do


respectivo cônjuge ou companheiro.
II. Se o adotante tiver filhos, também estes deverão assentir, e, se forem menores, serão
representados por curador especial.
III. O assentimento prévio nos incisos anteriores poderá ser suprido judicialmente, se
comprovado que a adoção não contraria os interesses legítimos do cônjuge, companheiro ou
da família. Os interesses exclusivamente patrimoniais não devem ser concludentes para que
não seja suprido o assentimento.

5. EFEITOS PESSOAIS E PATRIMONIAIS. Os efeitos pessoais decorrentes da adoção são:

I. Rompimento automático do vínculo de parentesco com a família de origem. Salvo os


impedimentos matrimoniais. Os genitores não mais poderão exigir noticias da criança ou o
adolescente, nem mesmo quando se torna maior de idade. Os vínculos de filiação e parentesco
anteriores cessam com a inscrição da adoção no Registro Civil. Nem mesmo, a morte do
adotante restabelecerá o poder família dos pais naturais. As relações sucessórias que
prendiam o adotado aos pais de origem e as obrigações alimentícias decorrentes do
parentesco natural não mais substituirão.

II. Estabelecimento de verdadeiros laços de parentesco civil entre o adotado e o


adotante.
Abrange toda a família do adotante, exceto para efeitos matrimoniais, em que prevalecem os
impedimentos dirimentes previstos no art. 1.521, I,III e V, do Código Civil. Será recíproco direito
sucessório entre adotado, seu descendentes, o adotantes, seus ascendentes, descendentes e
colaterais até o 4º grau, observando-se a ordem de vocação hereditária.

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III. Transferência definitiva e de pleno direito do poder familiar para o adotante, se o
adotado for menor, com todos os direitos e deveres que lhe são inerentes: companhia, guarda,
criação, educação obediência respeito, consentimento para casamento, nomeação de tutor,
representação e assistência. O poder familiar mesmo com a morte, interdição ou ausência do
adotante não se restaura em favor do pai natural, pois o adotado, sendo menor, ficará sob
tutela.

IV. Liberdade razoável em relação à formação do nome patronímico do adotado, pois o


art. 1.627 do Código Civil reza a decisão confere ao adotado o sobrenome do adotante.
Pode-se determinar a modificação do prenome do adotado, se menor, a pedido do adotante ou
do adotado. Apenas o pronome de menor adotado poderá sofrer alteração, logo o do maior
será mantido por ser elemento que o identifica socialmente.
O sobrenome do adotado, maior ou menor, será o mesmo do adotante. Tal sobrenome
transmitir-se-á aos descendentes do adotado.

V. Possibilidade de promoção da interdição do pai ou mãe adotiva pelo adotado ou vice-


versa (CC, art. 1.768).

VI. Inclusão do adotante e do adotado entre os destinatários da proibição de serem


testemunhas e entre aqueles com relação aos quais o juiz tem impedimentos.

VII. Determinação do domicilio do adotado menor de idade, que adquire o do adotante.


Se o adotado for maior, ou emancipado, terá domicilio próprio e independente se viver em lugar
diverso do adotante.

6- EFEITOS JURIDICOS PATRIMONIAIS DA ADOÇÃO. Efeitos jurídicos patrimoniais


produzidos pela adoção.

I. Direito do adotante de administração e usufruto dos bens do adotado menor, para fazer frente
às despesas com sua educação e manutenção, perdendo esse direito o pai, ou mãe, natural,
por ter perdido o poder familiar.

II. Obrigação do adotante de sustentar o adotado enquanto durar o poder familiar (CC, art.
1.634)

III. Dever do adotante de prestar alimentos ao adotado (CC, art. 1.694, 1.696 e 1.697), nos
casos em que são devidos pelo pai ao filho maior.

IV. Direitos à indenização do filho adotivo por acidente de trabalho do adotante, para fins de
sub-rogação do seguro, em matéria de responsabilidade por fato ilícito.

V. Responsabilidade civil do adotante pelos atos cometidos pelo adotado, menor de idade (CC,
arts. 932, I, 933 e 934)

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VI. Direito sucessório do adotado, visto que se equipara ao filho advindo de parentesco
consangüíneo.

VII. Reciprocidade nos efeitos sucessórios, pois se o adotado falecer sem descendência, se lhe
sobreviveu o adotante, a este caberá por inteiro a herança, faltando cônjuge ou convivência do
de cujus.

VIII. Filhos adotivos não está compreendido na exceção do Código Civil.

IX. Rompimento de testamento se sobrevier filho adotivo, que é descendente sucessível ao


testador, que não o tinha quando testou, se esses descendentes sobreviver ao testador.

Os efeitos da adoção têm inicio com o transito em julgado da sentença, salvo se o adotante vier
a falecer no curso do procedimento, caso em que terá força retroativa à data do óbito (CC, art.
1.628, 1ª parte) e, consequentemente, o adotado, na qualidade de filho, será considerado seu
herdeiro.

7. INEXISTÊNCIA, NULIDADE E ANULABILIDADE. São casos de inexistência de adoção.

a. Falta de consentimento do adotado e do adotante


b. Falta de objeto p. ex., se o adotante estiver privado do exercício do poder familiar por
incapacidade, ausência ou intervenção civil.
c. Falta de processo judicial com a intervenção do Ministério Público.

Poder-se-á torna nula a adoção, judicialmente, desde que violadas as prescrições legais.

São casos de nulidade da adoção:

a. O adotante não tiver mais de 18 anos (CC, art. 1.618, caput).


b. Por não haver diferença de pelo menos 16 anos de idade entre adotado e adotante(CC, art.
1.616).
c. Duas pessoas, sem serem marido ou mulher ou convivente, adotaram a mesma pessoa (CC,
art. 1.622 e parágrafo único).
d. O tutor ou curador não prestou contas (CC, art. 1.620).
e. Vício restante de simulação (CC, art. 167) ou de fraude à lei (CC, art. 166, VI).

São casos de anulabilidade.

a. Falta de assistência do pai, tutor ou curador, ao consentimento do adotado relativamente


incapaz (CC, art. 171, I).
b. Ausência e anuência de pessoa sob cuja guarda se encontra o menor ou interdito.
c. Consentimento manifestado somente pelo adotado relativamente incapaz (CC, art. 171, I)
d. Vício resultante p. ex., de erro, dolo, coação (RT, 586:40; CC, art. 171, II).
e. Falta de consentimento do cônjuge ou convivente do adotante e do consorte do adotado,
mas há julgamento, no que concordamos, visto que a lei não exige tal anuência, dispensando-a

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(RT, 481:96, 475:96, 610:193), se a adoção for feita pelo casal, caso em que se pressupõe,
expressa ou tacitamente, o consenso de ambos.

A ação de impugnação da adoção tem causa na nulidade ou anulabilidade da adoção,


desdobrando-se em.

I. Ação de nulidade da adoção. É meramente declaratória. Não produz efeitos constitutivos,


por que não tem o poder de dissolver vínculo de filiação que já nasceu ineficaz, limitando-se
apenas a declarar essa situação. A declaração da nulidade dispensa processo especial,
podendo vir a lume em qualquer processo onde a questão venha a ser ventilada(RT, 182:460).

II. Ação de anulação da adoção. Movida pelo adotante ou adotado que pretende romper o
laço de parentesco civil. Nestas ações tem legitimidade ativa o adotado, porém terceiros
interessados, com parentes das partes, sucessores ou legatário também poderão movê-la.
Exige-se, ainda, nestas ações, a intervenção do Ministério Publico (CPC, art. 82, II) por versar
sobre estado da pessoa. O lapso prescricional para sua propositura pelo adotado, segundo
alguns julgados, é o de 10 anos (CC, art. 205) contados da morte do adotante (RT, 143:266;
RF, 92:145).

8. EXTINÇÃO. Extingue-se a doação, por iniciativa do adotante ou do adotado, ou seja.

8.1. Pela deserdação, pois a norma jurídica confere ao adotante e ao que foi adotado a
possibilidade de romper o efeito sucessório da adoção, desde que surjam os casos dos arts.
1.814, 1.962 e 1.963 do Código Civil declarando a causa em testamento (CC, art. 1.964).

8.2. Pela indignidade em razão da existência de casos que autorizam exclusão do adotado ou
adotante da sucessão, arrolados no art. 1.814 do Código Civil, ou seja, se houver sido autor ou
cúmplice em crimes de homicídio doloso ou tentativo deste, contra a pessoa de cuja sucessão
se trata, seu cônjuge.

8.3. Pelo reconhecimento judicial do adotado pelo pai de sangue, devido à incompatibilidade de
haver, na mesma pessoa e com relação ao mesmo filho, concomitantemente, paternidade
natural e paternidade adotiva, tal reconhecimento só deverá ser admitido excepcionalmente,
ante a irrevogabilidade de adoção.

8.4. Pela morte do adotante ou do adotado, porem com a subsistência daqueles efeitos que lhe
sobrevivem (RT, 141:621). Contudo o poder familiar do pai de sangue não pode ser
restabelecido (RT, 610:193), ficando o menor sob a tutela.

9. ADOÇÃO DE MENORES BRASILEIROS POR ESTRANGEIROS.

GENERALIDADES. A adoção por estrangeiro deverá obedecer aos casos e condições


estabelecidos legalmente.

9.1. ADOÇÃO POR ESTRANGEIRO NO DIREITO PÁTRIO. Como no Brasil prevalece a lei do
domicilio (LINDB, art. 7º), qualquer estrangeiro aqui radicado e residente poderá adotar,

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mesmo que a lei de seu país de origem ignore o instituto da adoção, seguindo o mesmo
procedimento exigido para um adotante brasileiro.A colocação em família substituta estrangeira
constitui medida excepcional, somente admissível na modalidade de adoção, apresentando as
seguintes restrições legais, que poderão, infelizmente, até conduzir o adotante à desistência.

Impossibilidade de adoção por procuração, método que era muito usado por casais
domiciliados no exterior, que, outorgando procuração a um conhecido brasileiro, davam entrada
ao processo de adoção de nossas crianças. Necessidade de estagio de convivência, exigido na
hipótese de adoção por estrangeiro residente ou domiciliado fora do Brasil, a ser cumprido no
território nacional, será de:

I. De 15 dias, no mínimo, se o adotando for criança de até 2 anos de idade.


II. De 30 dias, no mínimo, se tiver mais de 2 anos de idades.

Comprovação da habilitação do adotante à adoção, consoante às leis de seu país de origem


mediante documento expedido pela autoridade competente do seu domicilio. Apresentação de
estudo psicossocial do adotante feito por agencia especializada e credenciada no seu país de
origem, que atestará sua sanidade mental, sua idoneidade moral, sua condições econômicas
para adotar, etc. Apresentação de texto pertinente à legislação estrangeira, acompanha a prova
de sua vigência, a pedido do juiz, de oficio, ou do Ministério Público, pois o conhecimento da lei
alienígena é essencial para evitar problemas que, eventualmente, possam surgir.

Juntada ao autos de documentos estrangeiros, devidamente autenticados pela autoridade


consular, com observância dos tratados e convenções internacionais e acompanhados da
respectiva tradução juramentada. A permissão da saída do adotando do território nacional
apenas após a consumação da doação .

PODER FAMILIAR Art. 1.630. Os filhos estão sujeitos ao poder familiar, enquanto
menores
1. CONCEITO E FINALIDADE. Poder familiar é o conjunto de direitos e obrigações, quanto à
pessoa e bens do filho menor não emancipado, exercido, em igualdade de condições, por
ambos os pais, para que possam desempenhar os encargos que a norma jurídica lhes impõe,
tendo em vista o interesse e a proteção do filho.

2. CARACTERISTICAS. Ambos têm, em igualdade de condições, poder decisório sobre a


pessoa e bens do filho menor não emancipado. Se houver divergência entre os pais, qualquer
deles poderá recorrer ao juiz a solução necessária, resguardando o interesse da prole. Esse
poder conferido simultaneamente e igualmente a ambos os genitores, e, excepcionalmente, a
um deles, na falta do outro. Com o escopo de evitar o jugo paterno-materno, o Estado tem
intervindo submetendo o exercício do poder familiar à sua fiscalização e controle ao limitar, no
tempo esse poder; ao restringir o seu uso e os direitos dos pais.

I. É um múnus público, ou seja, o poder familiar um direito função e um poder dever que estaria
numa posição intermediária entre o poder o direito subjetivo.

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II. É irrenunciável, pois os pais não podem abrir mão dele;
III. É inalienável ou indisponível, no sentido de que não pode ser transferido pelos pais a
outrem, a titulo gratuito ou oneroso;
IV. Imprescritível, já que dele não decaem os genitores pelo simples fato de deixarem de
exercê-lo. Somente perdem nos casos previstos em lei.
V. É incompatível com a tutela, não se pode, portanto, nomear tutor a menor, cujo pai e mãe
não foi suspenso ou destituído do poder familiar.
VI. Possui relação de autoridade, por haver vinculo de subordinação entre pai e filhos, pois os
genitores têm o poder de mando e a prole, o dever de obediência.

3. ABRANGÊNCIA

I. HIPÓTESE PADRÃO. O poder familiar é simultâneo. O exercício é de ambos os cônjuges ou


conviventes. Havendo divergências entre eles, qualquer deles tem o direito de recorrer ao juiz,
para a solução do problema, evitando-se que a decisão seja inexorável.

II. HIPÓTESES ANORMAIS

a. Na família matrimonial quando os cônjuges estiverem vivos e bem casados: Apesar da


relação conjugal dos pais, o poder familiar será exercido por apenas um dos pais, se o outro
estiver impedido de exercê-lo por ter sido suspenso ou destituído do múnus publico ou por não
poder, devido a força maior manifestar sua vontade.

b. Os consortes estiverem separados judicialmente ou divorciados. O exercício do poder


familiar pode ser alterado pela atribuição do direito de guarda a um deles, ficando com o outro
o de visitar a prole.

c. Na família não matrimonial quando o filho for reconhecido pelos dois genitores, simultânea e
sucessivamente. O filho ficará sujeito ao poder de um deles

d. Na família não matrimonial quando o filho for reconhecido por apenas um deles. Ficará
sujeito ao poder familiar de quem o reconheceu.

e. Na família sócio afetiva quando o filho adotivo for adotado pelo casal. O poder familiar é
exercido por ambos os pais simultaneamente.

f. Quando o filho for adotado por apenas um dos cônjuges. O poder familiar será exercido por
quem o adotou.

4. CONTEÚDO DO PODER FAMILIAR. Compete aos pais, quanto às pessoas dos filhos
menores:

I. Dirigir-lhes a criação e a educação. Se os pais não cumprirem o dever legal e moral de


educar e criar seus filhos, perderão o poder familiar, sofrerão sanções previstas no Código
Penal, para o crime de abandono material e intelectual dos menores, e, ainda, arcarão com a

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responsabilidade civil pelo dano moral causado aos filhos, relativamente aos direitos da
personalidade.

II. Tê-los em sua guarda e companhia. Como os pais são civilmente responsáveis pelos atos
dos filhos menores que estão em sua companhia e guarda, o direito de guarda abrange,
necessariamente, o de vigilância, que torna efetivos o poder de dirigir a formação moral do
menor.

III. Conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casar. Pode ser suprido pelo magistrado.

IV. Nomear-lhes tutor, por testamento ou documento autentico (escritura pública) se o outro dos
pais não sobreviver ou não puder exercitar o poder familiar. Trata-se de tutela testamentária
cabível, ante o fato de que a um consorte não é licito privar o outro do poder familiar, apenas
quando um o outro cônjuge já tiver falecido ou for incapaz de exercer o poder paternal ou
maternal, sob pena de nulidade.

V. Representá-los até os 16 anos, nos atos da vida civil, e assisti-los após esta idade, nos atos
em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento.

VI. Reclamá-los de quem ilegalmente os detenha. Por meio de busca e apreensão.

VII. Exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e
condição. O trabalho do menor não pode prejudicar sua formação. Os jovens devem auxiliar os
pais na mantença da família, com atividades compatíveis com sua idade. A CLT permite o
trabalho de menores maiores de 14 anos desde que não prejudique os seus estudos, devendo
receber bolsa de aprendizagem. Para os maiores de 16 anos, o trabalho somente será
permitido na condição de aprendiz.

8. O PODER FAMILIAR QUANTO AO PATRIMÔNIO DOS MENORES

I. Cabem aos pais, exercerem a administração dos bens dos filhos menores sob sua autoridade
ou não emancipados. Devem praticar atos idôneos à conservação e incremento desse
patrimônio. Não poderão dispor dos imóveis pertencentes aos menores, nem contrair
obrigações que ultrapassem os limites da simples administração, pelo fato de que esses atos
importam em diminuição patrimonial.

Os pais não responderão pela administração dos bens dos filhos, a não ser que ajam com
culpa, não estando ainda, em regra, obrigados a prestar caução, nem a lhe render contas, mas
só poderão reter quantias de dinheiro pertencentes aos filhos se houverem garantido sua
gestão com hipoteca legal. Se os pais fizerem depósitos bancários em nome dos filhos poderão
movimentá-los e até liquidá-los, INDEPENDENTEMENTE de autorização judicial. A renda de
caderneta de poupança pertencente a menores, pode ser levantada para atender a gastos com
instrução, alimentação e de outra natureza. A administração dos bens pertencentes aos filhos
do devedor NÃO é atingida pela falência. Pela administração, os genitores que exercem o
poder familiar não tem direito a qualquer remuneração.

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II. O usufruto sobre os bens dos filhos menores que se acham sob o seu poder. O usufruto é
inerente ao exercício do poder familiar, cessando com a inibição do poder paternal ou maternal,
maioridade, emancipação ou morte do filho. Os pais podem reter as rendas oriundas dos bens
do filho menor sem prestar contas podendo consumi-las. O usufruto legal recai sobre todos os
bens dos filhos menor,

EXCETO:

a. Nos bens deixados ou doados ao filho com exclusão do usufruto paterno


b. Nos bens deixados ao filho para fim certo e determinado (ex: educação do menor, assim, se
houver desvio da renda, impossível atingir o objetivo almejado pelo testador).

9. BENS EXCLUÍDOS TANTO DO USUFRUTO COMO DA ADMINISTRAÇÃO PATERNAL


OU MATERNAL

I. Os bens adquiridos pelo filho havido fora do matrimonio, antes do reconhecimento, para
evitar que o pai ou a mãe o reconheça apenas com o fim de se beneficiar com a administração
e usufruto de seus bens.
II. Os valores auferidos pelo filho maior de 16 anos, no exercício de atividade profissional e os
bens adquiridos com tais recursos.
III. Os deixados ou doados, ao filho, sob a condição de não serem usufruídos ou administrados
pelos pais, como é o caso de pais separados que testam bens aos filhos, com clausula de que
não serão administrados pelo cônjuge sobrevivente.
IV. Os bens que ao filho couberem na herança, quando os pais forem excluídos da sucessão
por deserdação ou indignação.

10. SUSPENSÃO DO PODER FAMILIAR


Quando os pais forem suspensos do poder familiar, o juiz nomeará curador ao menor. Na
suspensão, o exercício do poder familiar é privado, por tempo determinado, de todos os seus
atributos ou somente de parte deles, referindo-se a um dos filhos ou a alguns. Desaparecendo
a causa que deu origem à suspensão, o pai poderá retornar ao exercício do poder familiar. São
causas da suspensão do poder familiar:

I. Abuso de poder.
II. Falta dos deveres paternos.
III. Dilapidação dos bens dos filhos.
IV. Condenação por sentença irrecorrível, cuja pena exceda 2 anos de prisão.

A suspensão do poder familiar acarreta ao pai perda de alguns direitos em relação ao filho,
mas não o exonera do dever de alimentá-lo.

11. CASOS DE DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR. É uma sanção mais grave que a
suspensão. Opera-se por sentença judicial. Abrange toda a prole, e não apenas a um ou
alguns filhos. A ação judicial para este fim pode ser proposta pelo Ministério Publico, pelo outro
cônjuge, qualquer parente do menor, ou pelo próprio menor se for púbere. Em regra é

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permanente. Apesar de permanente o seu exercício pode ser restabelecido, excepcionalmente,
se provada a regeneração do genitor ou se desaparecida a causa que a determinou, mediante
processo judicial contencioso. São causas da destituição do poder familiar:
I. Castigar imoderadamente o filho.
II. Deixar o filho em completo abandono material ou moral.
III. Praticar atos contrários à moral ou aos bons costumes.

A CLT no art. 437, também prevê a perda do poder familiar para o pai ou para a mãe que
concorrer, por ação ou omissão, para que o menor trabalhe em locais ou serviços perigosos,
insalubres, ou prejudiciais à sua moralidade.

IV. Incidir reiteradamente, no abuso de sua autoridade, na falta dos deveres paternos e
maternos, na dilapidação dos bens da prole e na pratica dos crimes punidos com mais de 2
anos de prisão. Se for aplicada sanção de perda do poder familiar a um dos genitores, o seu
exercício passará ao outro; se este estiver morto ou for incapaz de o exercer, o juiz nomeará
um tutor ao menor.

12. EXTINÇÃO DO PODER FAMILIAR. O poder familiar se extingue com:


I. A morte dos pais ou do filho.
II. Emancipação do filho.
III. Maioridade do filho;
IV. Adoção (neste caso, os pais biológicos perdem o poder familiar sobre o menor).
V. Decisão judicial decretando a perda do poder familiar pela ocorrência de castigo imoderado
ao filho, deixar o filho em abandono, praticar atos contrários à moral e aos bons costumes, agir
reiteradamente nos casos de suspensão do poder familiar.

Disposições patrimoniais: DO REGIME DE BENS.

a. Artigo 1.647, inciso I, Código Civil. O marido não pode, sem consentimento da mulher,
qualquer que seja o regime de bens, com exceção do regime da separação absoluta ou da
participação final nos aqüestos (artigo 1.656 do Código Civil), alienar ou onerar bens imóveis
ou direitos reais sobre imóveis. A aquisição, entretanto, é permitida. Quanto ao compromisso
de compra e venda, existem duas correntes que tratam do assunto. Uma entende que é
necessária a outorga e outra entende que não. Alienar, nesse caso, tem o sentido amplo de
transmitir a posse do bem para outra pessoa. A alienação é proibida qualquer que seja o
regime de bens, visto que essa proibição visa à proteção do patrimônio familiar.

b. Artigo 1.647, inciso II, Código Civil. Nas ações reais imobiliárias é exigida a presença de
ambos os cônjuges, tanto no polo passivo quanto no polo ativo.

c. Artigo 1.647, inciso III, Código Civil. É proibido ao homem prestar fiança sem o
consentimento da mulher. A meação do cônjuge que não consentiu não é atingida pela dívida
do terceiro (Lei n. 4.121/62, artigo 3.º), salvo se ficar provado que houve benefício para o outro
cônjuge que não consentiu. Boa parte da doutrina entende que a fiança sem o consentimento é

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ato nulo; entretanto, o entendimento dominante é que é ato anulável, tendo em vista ser
privativo da mulher; e existe prazo processual de quatro anos para que se anule a fiança.

d. Artigo 1.647, inciso IV, Código Civil. Não pode o homem fazer doação de bens sem o
consentimento da mulher, salvo se for de pequeno valor ou a título remuneratório. (Nesse
inciso, a lei se refere a bens móveis, visto que os bens imóveis estão protegidos no inciso I).

Antes da Lei n. 4.121/62, o artigo 240 do Código Civil de 1916 dispunha que a mulher era
auxiliar do marido. Essa expressão “auxiliar” foi substituída por “colaboradora, companheira e
consorte”. Pelo Código Civil ambos são companheiros ou consortes um do outro (artigo 1.565,
caput, do Código Civil). Art. 226, § 5º da Constituição Federal: Os direitos e deveres referentes
à sociedade conjugal serão exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.

2.1. DA EXTENSÃO DOS DIREITOS DAS OBRIGAÇÕES


I. Casamento;
II. União Estável;
III. Entidade familiar formada por apenas um dos pais.

2.2. PRINCIPIOS GERAIS DO DIREITO PATRIMONIAL ENTRE OS CÔNJUGES.


Classificação.
Existem duas classificações do regime de bens no casamento, atendendo aos quatro tipos
básicos previstos no Código.

I. Possibilidade de alteração de regime: O CC de 2002 possibilitou aos cônjuges a alteração


do regime de casamento, mesmo após a sua realização. Já tendo julgados neste sentido,
alterando o regime da comunhão universal para o da comunhão parcial a fim de evitar o
obstáculo criado pelo art. 977, que proíbe o contrato de sociedade de pessoas casadas sob o
regime da comunhão universal.

Regime de bens consiste no regulamento dos interesses patrimoniais dos esposos durante o
casamento. A doutrina entende que é possível a alteração do regime tanto nos casamentos
realizados após 2002, como aos anteriores.
s pedidos de alteração podem ser fundamentados em qualquer motivo, desde que as partes
justifiquem a mudança do regime. Todos os regimes de bens permitem alteração para todos os
regimes. (Não houve controle do legislador em relação tal questão). O regime de bens pode ser
escolhido pelo casal através de pacto antenupcial, firmado por escritura pública. O regime de
bens entre os cônjuges tem inicio desde a data do casamento.

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2.3. DOS ATOS QUE NÃO PODERÃO SER PRATICADOS PELOS CONJUGES, SEM O
CONSENTIMENTO DO OUTRO, QUANDO O REGIME NÃO FOR O DA SEPARAÇÃO
UNIVERSAL.

Art. 1647 CC.


Quando o regime de casamento não for o da separação absoluta de bens, nenhum dos
cônjuges pode praticar sem autorização do outro os seguintes atos:

Art. 1647.
I. Alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis.
II. Pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos.
III. Prestar fiança ou aval.
IV. Fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou que possam integrar a futura
meação (é o caso dos aquestos).
Parágrafo único: São validas as doações nupciais feitas aos filhos quando casarem ou
estabelecerem economia separada.
No caso do parágrafo único, não há necessidade de consentimento do outro cônjuge. As
doações só poderão recair sobre bens móveis.

A legitimação conjugal é necessária para atribuir legitimação para tais atos. É ineficaz qualquer
dispositivo em contrário que seja aposto em pacto antenupcial. A autorização para estes atos
deve ser escrita, expressa, cabal, específica, e inserida em instrumento idôneo. A ação
anulatória dos atos praticados sem outorga conjugal, porem, é privativa do outro cônjuge, ou de
seus herdeiros, pois são interesses privados.

Prazos para ação anulatória: Durante a vigência do casamento: não há prazo prescricional.
Após o encerramento da vida conjugal: até dois anos. Para os herdeiros o prazo é de dois anos
contados da data do falecimento do cônjuge que praticou o ato. A recusa injustificada do
cônjuge para a prática de tais atos, bem como a impossibilidade de fazê-lo pode ser suprida
judicialmente. Quando os bens forem de empresa, pode o cônjuge aliená-los ou gravá-los em
ônus real, sem a autorização ou outro.

2.4. DOS ATOS QUE PODEM SER PRATICADOS SEM O CONSENTIMENTO DO


CÔNJUGE.

Art. 1642 CC.


Independentemente do regime de bens tanto o homem como a mulher poderão praticar os
seguintes atos:

I- Praticar todos os atos de disposição e administração necessários ao desempenho de


sua profissão, com as limitações estabelecidas no inciso I do artigo 1647.
II- Administrar os próprios bens.
III- Desobrigar ou reivindicar os imóveis que tenham sido gravados ou alienados, sem o seu
consentimento ou sem suprimento judicia.
IV- Demandar a rescisão dos contratos de fiança e doação, ou a invalidação do aval,
realizadas pelo outro cônjuge, com infração do disposto nos incisos III e IV do art. 1647.

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V- Reivindicar os bens comuns móveis ou imóveis, doados ou transferidos pelo outro
cônjuge ao concubino, desde que provado que os bens não foram adquiridos pelo esforço
comum destes, se o casal estiver separado de fato por mais de cinco anos.
VI- Praticar todos os atos que não lhes forem vedados expressamente.

EFEITOS JURIDICOS PATRIMONIAIS DO CASAMENTO

1. DIREITOS E DEVERES DOS CÔNJUGES NA ORDEM PATRIMONIAL

1.1. CONCEITO DE REGIME MATRIMONIAL DE BENS. É o conjunto de normas aplicáveis


às relações e interesses econômicos resultantes do casamento. Normas que regem as
relações patrimoniais entre marido e mulher durante o matrimônio. Trata-se do estatuto
patrimonial dos consortes, que começa a vigorar desde a data do casamento. Nenhum regime
matrimonial pode ter inicio em data anterior ou posterior à do casamento.

1.2. PRINCIPIOS FUNDAMENTAIS DO REGIME DE BENS ENTRE MARIDO E MULHER

I. Principio da variedade de regime de bens. O Direito brasileiro oferece quatro tipos de


regime bens: o da comunhão universal; o da comunhão parcial; o da separação; o da
participação final dos aqüestos (regime que substitui o regime dotal).

II. Liberdade dos pactos antenupciais: Permite aos nubentes a livre escolha do regime que
lhes convier
Para Silvio Rodrigues é um contrato solene, realizado antes do casamento, por meio do qual as
partes dispõem sobre o regime de bens que vigorará entre elas desde a data do matrimonio
(CC. Art. 1639, §1º). Ato personalíssimo: só pode ser praticado pelos nubentes, desde que
considerados aptos a praticá-lo. Necessidade de aprovação dos representantes legais, no caso
de um dos nubentes ser menor, salvo nos casos em que será obrigatório o regime da
separação de bens.

A intervenção do representante legal do menor se limita apenas à aprovação do pacto, não


podendo fazer qualquer exigência ou condição. Instrumento público: será nulo o pacto
antenupcial que não se fizer por escritura publica.
Necessidade de registro no Cartório de Registro de Imóveis do domicilio dos cônjuges para que
tenha validade perante terceiros. Necessidade de averbação do pacto nos Cartórios de
Registros Públicos de Empresas Mercantis, no caso de um dos nubentes ser empresário. A
ausência de registro do pacto nos Cartórios de Registros de Imóveis e de Empresas Mercantis,
não invalida o ato, o qual passará a ter validade apenas entre os cônjuges e seus herdeiros
mas não perante terceiros, vez que terá efeito erga omnes somente com a aludida averbação.
Em caso de nulidade do pacto, vigorará o regime legal, ou seja, o da comunhão parcial de
bens.
Casamento como causa suspensiva do ato: a eficácia do pacto subordina-se à ocorrência das
núpcias. É termo acessório vez que necessita da celebração do casamento para ter validade.
Uma vez que se não houver o casamento, o pacto torna-se sem qualquer efeito. Devem se ater

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somente às questões patrimoniais. Serão nulas as cláusulas que nele contidas que
contravenham disposição legal absoluta, prejudiciais aos direitos conjugais, materno ou
paterno; Não pode ser visto como um contrato idêntico aos elencados nos direitos das
obrigações, vez que após à celebração do casamento se tornam imutáveis. Tem natureza
institucional vez que os cônjuges não podem alterá-lo ao seu bel prazer, salvo se houver
autorização judicial, com pedido motivado e plausível e assinado por ambos os cônjuges.

III. Princípio da mutabilidade justificada do regime adotado.


No curso do casamento, e mediante autorização judicial. Só é possível em casos devidamente
motivados. Deve ser requerido por ambos os cônjuges. A alteração do regime de bens deve ser
averbada no Cartório de Registro de Imóveis e nos Cartórios de Registros de Atividades
Mercantis (se um dos cônjuges for empresário) a fim de ter efeitos erga omnes bem como
assegurar direitos de terceiros. Casamentos realizados sob a vigência do Código Civil de 1916

Divergências doutrinárias:

A. Para uma corrente doutrinária, tal benefício não se estende aos casamentos realizados
antes da vigência do atual Código Civil vez que a lei que rege o Direito de Família é irretroativa,
a fim de assegurar os direitos de terceiros.

B. Há outra corrente doutrinária que entende que por se tratar apenas de questões patrimoniais
dos cônjuges, ou seja, direitos disponíveis, o beneficio pode retroagir aos casamentos
realizados sob a vigência do código anterior, todavia a alteração do regime produzirá efeitos ex
nunc em relação a terceiros.

IV. Principio da imediata vigência do regime de bens. O regime de bens entre os cônjuges
terá vigência a partir da data do casamento, não se admitindo qualquer disposição em
contrario.

2. DAS DOAÇÕES ANTENUPCIAIS (Arts. 546 e 1668, IV CC). Podem ser:


I. Recíprocas.
II. De um nubente ao outro.
III. Por terceiros.

Podem ser realizadas através dos pactos antenupciais, mediante escritura pública, desde que
não excedam a metade dos bens do doador. São nulas as doações entre os cônjuges, se
casados sob o regime de separação de bens. A eficácia das doações subordina-se à realização
do casamento, funcionando, este, como causa suspensiva. São negócios jurídicos negociais e
solenes. A lei não obriga que sejam realizadas nos pactos antenupciais, podendo ser
realizadas sob escritura publica nos casos dos bens imóveis, por instrumento particular ou até
mesmo verbalmente, nos casos dos bens moveis (desde que sejam de pequeno valor)
seguindo-lhes a tradição.

Não precisam valer-se de aceitação expressa do donatário, já que a própria realização do


matrimonio implica aceitação. Não se revogam por ingratidão vez que se realizam propter

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nuptias. Caso o casamento venha a ser declarado nulo ou anulado, os efeitos civis das
doações se manterão até o transito em julgado da sentença declaratória. Proferida sentença
anulatória de um casamento, por culpa de um dos cônjuges, responderá o vencido pelas
promessas feitas ao outro no contrato antenupcial. Podem ser realizadas pelos cônjuges,
durante a vigência do casamento, entendo-se neste caso antecipação de herança, salvo se o
regime for o da separação obrigatória ou da comunhão universal, ou se prejudicar a legitima do
herdeiro necessário.

REGIME DA COMUNHÃO PARCIAL DE BENS

1. CONCEITO. É o regime da comunhão de bens que advém da falta, ineficácia ou nulidade de


pacto antenupcial, que determina o regime preferencial dos nubentes, caso em que a lei
intervém, fazendo prevalecer a sua vontade.

2. CARACTERISTICAS GERAIS.
Excluem-se da comunhão os bens que os consortes possuem ao casar ou que venham a
adquirir por causa anterior alheia ao casamento. Incluem-se na comunhão os bens adquiridos
posteriormente ao casamento.

3. DOS BENS INCOMUNICÁVEIS. Art. 1659 CC.

I. Os que cada cônjuge possuir ao casar e os que lhe sobrevierem, na constância do


matrimonio por sucessão ou doação, e os sub- rogados em seu lugar.
Quando a doação é feita a apenas um dos cônjuges o bem não se comunicará. Quando feita
ao casal, o bem entrará para a comunhão.
Caso um bem adquirido por doação ou sucessão, e vendido, durante o casamento, para
aquisição de outro bem, este novo não se comunicará, pois foi adquirido com o valor da venda
do bem doado ou herdado.

II. Os adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges, em sub


rogação dos bens particulares.
Quando um dos cônjuges vende um bem particular, para aquisição de outro, este novo não se
comunicará, mesmo que a aquisição seja posterior ao casamento.

III. As obrigações anteriores ao casamento.

A responsabilidade de quitação da dívida será do cônjuge que a contraiu e apenas os seus


bens particulares responderão pela mesma.

IV. As obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito do casal.


A responsabilidade pelas obrigações decorrentes de atos ilícitos, mesmo que praticados
durante a vigência do casamento, será do cônjuge que a contraiu.
Na hipótese dos proventos advindos de atos ilícitos beneficiarem o casal, ambos os cônjuges
responderão pela divida.

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Súmula 251do STJ- “a meação só responde pelo ato ilícito quando o credor, na execução
fiscal, provar o enriquecimento dele resultante aproveitou ao casal”.

V. Os bens de uso pessoal, os livros e os instrumentos de profissão:


Quando os livros se destinarem a negócio, ou constituírem, por sua quantidade, parcela
apreciável do ativo, deverão ser comunicáveis.
Quando os livros se destinarem ao exercício da profissão, serão incomunicáveis.

VI. Os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge.


O salário de cada cônjuge não entra para a meação, todavia, os bens adquiridos com o
mesmo, serão comunicáveis quando adquiridos posteriormente à data do casamento.

VII. As pensões, meio-soldos, montepios e outras rendas semelhantes. Por se tratarem de


bens personalíssimos não entram na meação. Os bens adquiridos com os valores advindos de
tais rendas entrarão para a comunhão.

Pensão. É o quantum pago, periodicamente, por força de sentença judicial, ou ato inter vivos
ou causa mortis a uma pessoa com a finalidade de prover a sua subsistência. Meio- soldo: é a
metade do soldo paga pelo Estado a militar reformado. Montepio: é a pensão que o Estado
paga a herdeiros de funcionários falecidos, em atividade ou não.

VIII-. Art. 1661. São incomunicáveis os bens cuja aquisição tiver por titulo uma causa anterior
ao casamento. Quando um dos cônjuges vende a credito um bem de sua propriedade, cujo
valor só lhe é pago após o casamento, não se comunica ao outro cônjuge, pois o recebimento
do preço é advindo de negocio realizado antes das núpcias. O mesmo se aplica a títulos
onerosos ou bens subordinados a condição, quando o contrato é realizado antes do
casamento, mas a condição só é extinta após a celebração do mesmo. Bens ou indenizações
advindos de ações judiciais interpostas antes do casamento também não se comunicam.

4. SÃO COMUNICÁVEIS OS BENS. Art. 1660 CC.

I. Adquiridos na constância do casamento por titulo oneroso (troca, venda, etc.) ainda que só
em nome de um dos cônjuges. A aquisição dos bens imóveis se provará com o registro da
escritura no Cartório de Registros de Imóveis.
Os bens móveis, no regime da comunhão parcial, há presunção legal de que foram adquiridos
na vigência do casamento, quando não pude comprovar mediante documento autentico que
fora adquirido em data anterior ao casamento. Se houver convenção antenupcial relacionando
os bens móveis de cada cônjuges, haverá também, a incomunicabilidade desses bens.

II. Os adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior:
São os casos de compra de bilhetes premiados de rifas, jogos, loterias, etc.

III. Os adquiridos por doação, herança ou legado em favor de ambos os cônjuges.

IV. As benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge.

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As benfeitorias só se comunicarão desde que comprovado que foram feitas com o produto do
esforço comum.
Visa evitar o enriquecimento indevido. Se estende às acessões advindas de plantio e
construção.

V. Os frutos (civis ou naturais) dos bens comuns ou dos particulares de cada cônjuge,
percebidos na constância do casamento, ou pendentes ao tempo em que cessar a comunhão.

Nos casos de um dos cônjuges ter um bem particular, que se encontra alugado a terceiros, o
bem em si não se comunica, todavia, os valores advindos dos alugueis serão de ambos os
cônjuges enquanto durar o matrimônio.
Extinguindo-se o matrimônio, extingue-se também a comunhão entre os cônjuges sobre tais
valores, passando, os mesmos a pertencerem apenas ao cônjuge proprietário do bem.

VI. Os rendimentos resultantes da exploração dos direitos patrimoniais do autor.

Cada consorte responde pelos próprios débitos, desde que anteriores ao casamento, pelo fato
dos patrimônios continuarem separados. Quanto às dividas contraídas no exercício da
administração do patrimônio comum, obrigam aos bens comuns e aos particulares de cada
cônjuge que o administra e ao outro na proporção do proveito que houver auferido. As dívidas
contraídas por qualquer dos cônjuges, na administração de seus bens particulares em proveito
destes, não se comunicam ao outro cônjuge. Os débitos advindos de encargos em prol da
família (contas de água, luz, telefone, alimentação), as despesa de administração (consertos
para manutenção dos bens), e as decorrentes de imposição lega (tributos) serão comunicados
entre os cônjuges.

Quando o débito NÃO se deu para atender as necessidades da família, o consorte lesado
poderá defender sua meação, no caso de cobrança de terceiros.

REGIME DA COMUNHÃO UNIVERSAL DE BENS

1. CONCEITO. É o regime de bens, estipulado mediante pacto antenupcial, através do qual


todos os bens dos nubentes, presentes ou futuros, adquiridos antes ou depois do casamento,
bem como suas dívidas passivas tornam-se comuns, constituindo uma só massa.

2. CARACTERISTICAS. O regime da comunhão universal instaura o regime de indivisão do


patrimônio comum, não podendo, mesmo que de interesse de ambos contratarem sociedade
entre si. Antes da dissolução e da partilha não há meação, mas tão somente metade ideal de
bens e dividas comuns.Há comunicação tanto do ativo como do passivo.

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Administração do patrimônio: pode ser exercida por qualquer dos cônjuges, sendo que as
dividas contraídas na gestão terão seus pagamentos garantidos tanto pelos bens comuns como
pelos particulares do administrador. Os bens do outro cônjuge só responderão se comprovar
que o mesmo obteve algum lucro. No caso de morte de um dos cônjuges, o acervo será
partilhado em duas partes, uma para o cônjuge sobrevivente e outra para os filhos do de cujus.

Os bens incomunicáveis não serão partilhados. Se houver declaração de nulidade ou anulação


do casamento, não se tem a comunhão de bens, em razão do fato de não se ter casamento.
Neste caso, cada consorte ficará com os bens que possuía antes do casamento, não havendo
o que se falar em partilha dos mesmos. No caso de declaração de nulidade ou anulação do
casamento, os bens adquiridos depois da sua realização serão partilhados entre os consortes,
meio a meio. Se o casamento for reconhecido como putativo, por reconhecer a boa-fé de um
ou de ambos os consortes, os bens serão partilhados meio a meio.

3. PRINCIPIOS. Em regra, tudo que entra para o acervo de bens do casal fica subordinado à
lei da comunhão.
Torna-se comum tudo o que cada consorte adquire, no momento em que se opera a aquisição.
Os cônjuges são meeiros de todos os bens do casal, ainda que um deles nada tenha trazido ou
nada adquiriu na constância do matrimonio.

4. BENS EXCEPCIONALMENTE EXCLUIDOS DA COMUNHÃO. São os casos dos bens


personalíssimos.

I. Os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os sub-rogados em


seu lugar.

II. Os bens doados com clausula de reversão.


Com a morte do donatário os bens retornam para o doador, não se comunicando aos bens do
cônjuge do falecido.

III. Os bens doados ou herdados com clausula de inalienabilidade

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Uma vez que a comunicação é vista como alienação da metade do bem ao outro cônjuge, os
que são inalienáveis serão, portanto, incomunicáveis.

IV. As dívidas anteriores ao casamento, salvo se provenierem de despesas com seus aprestos,
ou reverterem em proveito comum. Pelas dívidas contraídas antes da celebração do
casamento, serão de responsabilidade exclusiva do cônjuge que a contraiu, respondendo pelas
mesmas os seus bens particulares, ou os bens que ele trouxe para a comunhão. Só com a
dissolução do casamento, a meação do devedor responde pelos débitos contraídos antes das
núpcias. As dívidas contraídas antes do casamento, oriundas de despesas para a realização do
mesmo (como enxoval, festa entre outros serão comunicáveis).

V. As doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com clausula de


incomunicabilidade.
Visa proteger o donatário ainda que o doador seja o outro consorte.

VI. Os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão devida ao seu cunho
estritamente pessoal.
Quando os livros se destinarem a negócio, ou constituírem, por sua quantidade, parcela
apreciável do ativo, deverão ser comunicáveis.
Quando os livros se destinarem ao exercício da profissão, serão incomunicáveis.

VII. Os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge.


Neste caso o salário em si não se comunica, todavia os bens adquiridos com o mesmo são
comunicáveis.

VIII. As pensões, meio soldos, montepios, e outras rendas semelhantes. Neste caso as rendas
em si não se comunicam, todavia os bens adquiridos com o mesmo são comunicáveis.

IX. O usufruto de certos bens oriundos de doação ou deixa testamentária.

X. Os bens de herança necessária que se impuser cláusula de incomunicabilidade.

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XI. Os direitos patrimoniais do autor, excetuados os rendimentos resultantes de sua
exploração, salvo pacto antenupcial em contrário. A incomunicabilidade dos bens descritos no
artigo 1668, não se estende aos frutos (civis, naturais ou industriais), quando se percebem ou
se vencem durante o matrimônio. Exemplo: Se um dos nubentes, antes de se casar, tinha
direito a uma pensão, esse direito não se comunica à pensão, mas os frutos advindos da
mesma durante o casamento são comunicáveis.

REGIME DA COMUNHÃO DE AQUESTOS. Arts. 1672 a 1686 do CC.

1. CONCEITO. No regime da participação final nos aqüestos, cada cônjuge possui patrimônio
próprio, consoante disposto no artigo seguinte, e lhe cabe, à época da dissolução da sociedade
conjugal, direito à metade dos bens adquiridos pelo casal, a título oneroso, na constância do
casamento.

2. CARACTERISTICAS. É um regime inovador do Código de 2002. Suprimiu o regime dotal e


introduziu o regime da participação final nos aquestos. É visto com maus olhos pelos
doutrinadores, vez que o entendem como um negócio patrimonial que suplanta o cunho afetivo
que deve conter o casamento. O casamento precisa ter uma contabilidade permanente, sob
pena de não ser possível efetuar a comunhão de aquestos final.

3. PRINCÍPIOS. Durante o matrimônio, cada cônjuge é proprietário exclusivo de seus bens,


sendo que somente no caso de separação o outro terá direitos sobre a metade das vantagens
que cada cônjuge teve com os seus bens particulares.
Deve ser estipulado mediante pacto antenupcial. Alienação de bens imóveis de cada cônjuge:
No pacto antenupcial que o determinar, os cônjuges poderão convencionar, expressamente, a
livre disposição de bens imóveis, desde que particulares (art. 1656).

Alienação de bens móveis de cada cônjuge: Durante o vigência do casamento, cada cônjuge
poderá dispor de seus bens móveis particulares, sem a anuência e autorização do outro. No
silêncio do pacto antenupcial: Se no pacto antenupcial os cônjuges não convencionarem,

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expressamente, acerca da alienação dos bens particulares, a mesma se restringirá apenas aos
bens móveis. Massas de bens: Neste regime existem duas massas de bens, a do marido e a
da mulher.

Art. 1673 CC. “Integram o patrimônio próprio os bens que cada cônjuge possuía ao casar e os
por eles adquiridos, a qualquer título, na constância do casamento” (Entenda por patrimônio
próprio, o patrimônio pessoal de cada cônjuge). Os cônjuges conduzem-se durante o
casamento como se estivessem sob o regime da separação parcial de bens, mantendo apenas
uma expectativa na meação ao final do casamento.
Não há meação entre os cônjuges durante o casamento, sendo que esta somente persistirá no
caso de separação judicial ou de fato.

Os bens móveis, quando não houver qualquer disposição em contrário, presumem-se


adquiridos durante o casamento. Direito de preferência do cônjuge: Ao se alienar um bem, o
cônjuge deve dar preferência ao seu consorte, sob pena de o mesmo o reivindicar perante
terceiros.
Incorporação do valor do bem alienado: Se qualquer dos cônjuges alienar um de seus bens,
adquiridos após o casamento, o valor deve ser integralizado ao monte a ser partilhado.
Meação: irrenunciável, cessível, impenhorável na vigência do regime conjugal. A meação é
impenhorável, mas não os bens que a compõem.

4. BENS EXCLUIDOS DA APURAÇÃO DOS AQUESTOS:

Exclusão do seguinte patrimônio, quando da apuração dos aquestos: (art. 1674).


I. Os bens anteriores ao casamento, e os que em seu lugar se sub-rogarem.
II. Os que sobrevieram a cada cônjuge por sucessão ou liberalidade.
III. As dívidas, relativas a estes bens.

5. AS DOAÇÕES REALIZADAS POR UM DOS CÔNJUGES SEM A ANUÊNCIA DO OUTRO.


Apesar de cada cônjuge ser titular do seu próprio patrimônio, o mesmo não poderá fazer doá-
los sem a autorização do outro. Caso um dos cônjuges faça a doação de parte de seus bens,

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sem a autorização do outro, no momento da apuração dos aquestos, o valor da doação
desautorizada deve ser computado no monte partível. O bem doado sem autorização de um
dos cônjuges pode ser reivindicado, ao terceiro, pelo cônjuge prejudicado ou por seus
herdeiros. Esse preceito é demasiadamente criticado pelos doutrinadores vez que gera uma
enorme insegurança jurídica e prejudica até mesmo terceiros de boa-fé.

6. DAS DÍVIDAS CONTRAIDAS PELOS CONJUGES DURANTE O CASAMENTO. Dívidas


anteriores ao casamento: Como acima demonstrado, as dívidas anteriores ao casamento, não
entram para a massa a ser partilhada. Dívidas posteriores ao casamento: Serão de
responsabilidade exclusiva do cônjuge que a contraiu, salvo se comprovar que as mesmas
reverteram, parcial ou totalmente, em beneficio do outro.
No caso de falecimento de um dos cônjuges: Caso um dos cônjuges venha a falecer e o valor
de suas dívidas for maior que o de sua meação, as mesmas não se obrigam ao cônjuge
sobrevivente, nem tampouco aos seus herdeiros.

7. DO BALANÇO CONTABIL NO MOMENTO DA PARTILHA DOS AQUESTOS. Exigência do


artigo 1678 do CC. Se um dos cônjuges solveu uma dívida do outro com bens do seu
patrimônio, o valor deve ser atualizado e amortizado na meação do outro no momento da
separação. Caso os cônjuges tenham, na constância do casamento, adquiridos bens pelo
trabalho conjunto, o bem será dividido em quotas igual a um condomínio, ou no valor do crédito
disponibilizado por cada um.

8. DA APURAÇÃO DOS AQUESTOS. No caso de separação judicial ou divórcio direto, o


montante dos aquestos devem ser considerados os existentes à época em que cessou a
convivência e não o da data que decretou a separação judicial ou divórcio.
A divisão dos bens- reposição em dinheiro ao outro cônjuge: Quando não for possível a divisão
dos bens em natureza, deverá ser calculado o valor de uns ou de todos para reposição em
dinheiro ao cônjuge não proprietário.
No caso de falecimento de um dos cônjuges: Caso um dos cônjuges venha a falecer durante a
relação matrimonial, a meação do cônjuge sobrevivente deverá obedecer a mesma forma da
separação judicial ou divorcio e a outra meação partilhada entre os herdeiros do de cujus.

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REGIME DA SEPARAÇÃO DE BENS

1. CONCEITO. É o regime de bens através do qual, nenhum bem e seus respectivos


frutos,nem tampouco as dívidas se comunicam com a do outro.

2. CARACTERISTICAS. A principal característica é a completa distinção de patrimônios dos


dois cônjuges. Nem os frutos, nem as aquisições advindos após o casamento se comunicam.
Cada cônjuge permanece na posse, propriedade e administração de seus bens. Cada cônjuge
poderá alienar ou gravar com ônus real os seus próprios bens, móveis ou imóveis, sem que
haja necessidade de ciência e autorização do outro. Os cônjuges são obrigados a contribuírem
com as despesas do casal na proporção dos rendimentos de seu trabalho e de seus bens,
salvo estipulação em contrário no pacto antenupcial. Possibilidade dos cônjuges
estabelecerem, através do pacto antenupcial, a comunhão de determinados bens e sua
administração. No silêncio do pacto, cada cônjuge conserva a administração e fruição de seus
bens. Este regime decorre:

I. Da vontade dos nubentes consubstanciada através de pacto antenupcial;


II. Imposição legal, nos casos já estudados de casamento de um dos cônjuges enquanto
houver causa suspensiva a ser dirimida.

ALIMENTOS Art. 1.694.

Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os


alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição
social, inclusive para atender às necessidades de sua educação

1. CONCEITO. Alimentos são prestações para satisfação das necessidades vitais de quem não
pode provê-las por si.

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2. CARACTERÍSTICAS. Compreende o que é imprescindível à vida da pessoa com
alimentação, vestuário, habitação, tratamento médico, transporte, diversão, e, se a pessoa
alimentada for menos de idade, ainda verbas para sua instituição e educação, incluindo
parcelas despendidas com sepultamento, por parentes legalmente responsáveis pelos
alimentos. Código Civil, art. 872, assim reza: “Nas despesas de enterro proporcionadas aos
usos locais e à condição do falecimento, feitas por terceiro, podem ser cobradas da pessoa que
teria a obrigação de alimentar à que veio a falecer, ainda mesmo que esta não tenha deixado
bens”.

Quanto às dívidas de honra do alimento, não está o alimentante sujeito ao respectivo


reembolso. atenderá a essa sua pretensão à formação educacional, bem como à do maior
cursando faculdade ou escola técnico-profissionalizante, exceto se possuir rendimento próprio.
Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros alimentos de que
necessitem para viver com dignidade. O direito projetado eliminará, assim, a exigência de o
alimento ser compatível coma a condição social do alimento, visto que isso levaria à
interpretação de que seria impossível diminuir seu padrão de vida. E, além disso, muitas vezes,
seria difícil ao alimentante manter o status social do alimentado. Os alimentos devem ser
fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada. Os
alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidade
resultar de culpa de quem os pleiteia, exigindo averiguação de culpabilidade (p. ex., vadiagem,
gastos excessivos com viagens recreativas; dívidas de jogo, etc.) na ação de alimentos.

Não havendo culpa, a prestação alimentícia abrangerá não só o quantum destinado à


sobrevivência do alimento, mas também a verba para vestuário, lazer, educação etc., devendo
ser compatível com a condição social. São cabíveis nas dissoluções de sociedade conjugal.
Porém a maioridade, por si só, não basta para exonerar os pais desse dever, porque filhos
maiores, até 24 anos, que não trabalham e cursam estabelecimento de ensino superior, podem
pleitear alimentos, alegando que se isso lhe for negado prejudicará sua formação profissional.
Imprescindível será a prova da necessidade de sua manutenção pelo genitor. A pensão
alimentícia subordina-se à necessidade do alimento e à capacidade econômica do alimentante,
enquanto o dever de sustentação prescinde da necessidade do filho menor não emancipado,

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medindo-se na proporção dos haveres do pai e da mãe. Logo, essas duas obrigações não são
idênticas na índole e na estrutura.

3. PRESSUPOSTOS ESSENCIAIS DA OBRIGAÇÃO DE PRESTAR ALIMENTOS. Os


pressupostos essenciais são:

1. Existência de companheirismos, vínculo de parentesco ou conjugal entre o alimento e


o alimentante. São obrigadas a suprir alimentos, mas somente ascendentes, descendentes
maiores, ou adultos, irmãos germanos ou unilaterais e o ex-cônjuge, sendo que este último,
apesar de não ser parentes, é devedor de alimentos ante o dever legal de assistência em ração
do vinculo matrimonial.

Dissolvida a união estável por rescisão, o ex-companheiro, enquanto tiver procedimento digno
e não vier a constituir nova união sendo o concubinato puro, poderá pleitear alimentos ao
outros, desde que com ele tenha vivido ou dele tenha prole, provando sua necessidade por não
poder prover sua subsistência. Se terceiros prestarem alimentos, voluntariamente, sobrestando
o estado de miserabilidade do alimentário, esse fato não exonera o devedor de alimentos, nem
mesmo o auxilio da assistência pública.

2. Necessidade do alimento. Além de não possuir bens, está impossibilitando de prover, pelo
seu trabalho, à própria subsistência, por estar desempregado dente, inválido, velho.

3. Possibilidade econômica do alimentante. Deverá cumprir seu dever, fornecendo verba


alimentícia, sem que haja desfalque do necessário ao seu próprio sustento. É preciso verificar
sua capacidade financeira, porque, se tiver apenas o indispensável à própria mantença, injusto
será obrigá-lo a sacrificar-se a passar provações para socorrer parente necessitado, tanto mais
que pode existir parente mais afastado que esteja em condição de cumprir tal obrigação
alimentar, sem grandes sacrifícios.

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117
4. Proporcionalidade, na sua fixação, entre as necessidades do alimentário e os recursos
econômico-financeiros do alimentante. A equação desses dois fatores deverá ser feita em
cada caso.

4. CARACTERES DO DIREITO À PRESTAÇÃO ALIMENTÍCIA E DA OBRIGAÇÃO


ALIMENTAR. O direito à prestação alimentícia apresenta as seguintes características:

1. É um direito personalíssimo por ter por escopo tutelar a integridade física do


individuo, logo, sua titularidade não passa a outrem.

2. É intransmissível, pois o art. 1.700, pode reclamá-los de quem estiver obrigado a pagá-los,
podendo exigi-los dos herdeiros do devedor, se este falecer, por que a estes se transmitem a
obrigação alimentar, passando, assim, os alimentos a serem considerados como divida do
falecido, cabendo aos seus herdeiros a respectiva solução até as forças da herança, no limite
do quinhão que a cada um deles couber.

Se inexistir herança, inviável será a transmissão da obrigação alimentar. Os herdeiros do


devedor só terão a obrigação de prestar alimentos limitada às forças da herança (CC, art. 1.997
c/c o art. 1.792) e não conforme sua própria possibilidades econômicas.

3. É incessível em relação ao credor, pois o crédito não pode ser cedido a outrem, por se
inseparável da pessoa do credor.

4. É irrenunciável, uma vez que permite que se deixe de exercer, mas não que se renuncie o
direito de alimentos. Pode-se renunciar o exercício e não o direito.

5. É imprescritível, ainda que não exercício por longo tempo, enquanto vivo tem o alimento
direito a demandar do alimentante recursos matérias indispensável e sua sobrevivência. Porém
se seu quantum foi fixado, judicialmente, prescreve em 2 anos a pretensão para cobrar as
prestações de pensões de pensões alimentícias vencidas e não pagas.

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6. É impenhorável, em razão da finalidade do instituto. Uma vez que se destina a prover a
mantença do necessitado, não pode, de modo algum, responder pelas suas dívidas, estando a
pensão alimentícia isenta de penhora.

7. É incompensável, pois ao admitir a extinção da obrigação por meio de compensação,


privar-se-ia o alimento dos meios de sobrevivência.

8. É intransacionável, não podendo ser objeto de transação o direito de pedir alimentos, mas
o quantum das prestações vencidas ou vincendas é transacionável.

9. É atual, por que o direito aos alimentos visa a satisfazer necessidades atuais ou futuras e
não as passadas dos alimentado. Jamais poderá requerer que se lhe conceda pensão
alimentícia relativa às dificuldades que teve no passado.

10. É irrestituível, pois, uma vez pagos, os alimentos não devem ser devolvidos, mesmo que a
ação do beneficiário seja julgada improcedente.

11. É variável, por permitir revisão, redução, majoração ou exoneração da obrigação alimentar,
conforme haja alteração da situação econômica e da necessidade dos envolvidos.

12. É divisível, entre os parentes do necessitado, encarregado da prestação alimentícia, salvo


se o alimento for idoso.

5- CARACTERÍSTICAS DA OBRIGAÇÃO DE PRESTAR ALIMENTOS

1. Condicionalidade, uma vez que só surge a relação obrigacional quando ocorrem seus
pressupostos legais; faltando um deles cessa a obrigação alimentar.

2. Mutabilidade do quantum da pensão alimentícia, que pode sofrer variação quantitativa ou


qualitativa, conforme se alterem os pressupostos. Ante a tais disposições legais, a sentença

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condenatória de alimentos, no que concerne ao quantum, não faz coisa julgada. Todas essas
alterações são requeridas mediante ação ordinária de revisão ou de modificação, aforada
perante o mesmo juízo que anteriormente arbitrado a pensão alimentícia.

3. Reciprocidade, pois na mesma relação jurídico familiar, o parente que em princípio é


devedor de alimentos poderá reclamá-los se vier a precisar deles.

4. Periodicidade, uma vez que o pagamento dos alimentos é periódico para que possa atender
às necessidades do alimento.

6. CLASSIFICAÇÃO DOS ALIMENTOS


6.1. Quanto à natureza, apresentando-se como.
a. Naturais, se compreendem o estritamente necessário à subsistência do alimento, ou seja
alimentação, remédios, vestuário, habitação.

b. Civis, se concernem a outras necessidades, cimo as intelectuais e morais, ou seja,


educação, instrução, assistência, recreação.

6.3. Quanto a causa jurídica, podendo ser.


a. Voluntários, se resultantes de declaração de vontade, inter vivos ou causa mortis, caso em
que se inserem no direito das obrigações ou no direito das sucessões.

b. Ressarcimento ou indenizatórios, se destinados a indenizar vítimas de ato ilícito.

c. Legítimos ou legais, se imposto por lei em virtude do fato de existir entre as pessoas um
vínculo de família.

6.4. Quanto ao momento de reclamação, podem ser.


a. Atuais, se os alimentos pleiteados forem a partir do ajuizamento da ação.

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b. Futuros, se devidos após prolatada a decisão: os alimentos pretéritos, como observa Carlos
Roberto Gonçalves não são devidos.

7. PESSOAS AOBRIGADAS A PRESTAR ALIMENTOS. A obrigação de prestar alimentos é


recíproca entre ascendentes, descendentes e colaterais de 2º grau. Assim somente pessoas
que procedem do mesmo tronco ancestral devem alimentos, excluindo-se os fins, por mais
próximos que seja o grau de afinidade. A obrigação alimentar recai nos parentes mais próximos
em grau, passando aos mais remotos na falta um dos outros, há uma ordem sucessiva ao
chamamento à responsabilidade de prestar alimentos. O alimentado não poderá, a seu bel-
prazer, escolher o parente que deverá prover seu sustento.

Ter-se-á, portanto, uma responsabilidade subsidiária, pois somente caberá ação de alimentos
contra avó se o pai estiver ausente, impossibilitando de exercer atividade laborativa ou não
tiver recursos econômicos. Não havendo ascendentes, compete a prestação de alimentos aos
descendentes, ou seja, aos filhos maiores, independentes da qualidade de filiação. Se aquele
não tiver condições de fornecê-la, ou, não tiver meio para suportar totalmente o encargo
alimentício, será possível pleitear alimentos complementares de parentes de grau imediato. O
reclamante poderá p. ex., investir contra avô pleiteando alimentos complementares. Se o pai
pode arca com 30% do quantum, o avô contribuirá com 70%.

Demonstrada a necessidade de complementação e a possibilidade do avô, este deverá


suplementar o quantum imprescindível para a mantença do alimento. Nada obsta, havendo
pluralidade de obrigação mesmo grau (pais, avós ou irmãos), que se cumpra a obrigação
alimentar por concurso entre parentes, contribuindo cada um com a quota proporcional aos
seus haveres; se a ação de alimentos for intentada contra um deles, os demais poderão ser
chamados pelo demandado, na contestação a integra a lide para contribuir com sua parte,
distribuindo-se a divida entre todos.

Se por acaso, algum dos obrigados suportar o encargo, satisfazendo, totalmente, o


necessitado, não há o que exigir dos outros. Não há, portanto, solidariedade, por ser divisível a

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obrigação. A obrigação alimentar apenas será solidária se o credor for idoso por força da Lei n.
10.741/2003 art. 12(norma especial). O cônjuge não se encontra nessa sucessiva, porque deve
alimentos por força de outro fundamento legal, uma vez que não é parente do outro consorte,
sendo que o dever de assistência à mulher ou ao marido.

Mas se o credor de alimentos tiver comportamento indigno ou desonroso em relação ao


devedor, passar a viver em união estável, concubinato ou se casar novamente perderá os
alimentos, exonerando o devedor, logo não terá extinto o direito à pensão alimentícia se tiver
mera ligação ocasional, mantendo relações sexuais com outra pessoa, porque inexiste o dever
de fidelidade. O novo casamento do devedor de alimentos não altera sua obrigação constante
da sentença de divórcio, embora o quantum da prestação possa ser suscetível de redução.

1. MODO DE SATISFAÇÃO DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR. O art.1.701 do Código Civil


permite que o alimentante satisfaça sua obrigação por dois modos; dando uma pensão
pecuniária ao alimentando, efetuando depósito periódico em conta bancária ou judicial, ou
dando-lhe em sua própria casa (mesmo alugada), hospedagem e sustento, sem prejuízo do
dever de prestar o necessário à sua educação (pagamento de matrícula, mensalidade;
aquisição de livros, material escolar, uniforme etc.). A opção não é irrevogável.

2. IMPOSSIBILIDADE DE RESTITUIÇÃO. Os alimentos, uma vez pagos, não mais serão


restituídos, qualquer que tenha sido o motivo da cessação do dever de prestá-los.

10. PROVIDENCIAS PARA GARANTIR O ADIMPLEMENTO DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR.


Na ação de alimentos, o foro competente é o do domicílio do alimentando. Requer, ainda, a
intervenção do representante do Ministério Público. Alimentos provisórios esses que poderão
ser revistos a qualquer tempo, se houver alteração na situação econômica das partes, sendo
devidos até a decisão final ou julgamento do recurso extraordinário.

A sentença que conceder alimentos retroage nos seus efeitos à data da citação inicial, a partir
de quando as prestações serão exigidas ou devidas, não transitando em julgado, pode a

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qualquer tempo ser revista, se houve modificação da situação econômica- financeira dos
interessados ou deterioração monetária provocada pela filiação.

O juiz mandará citar o devedor para, em 3 dias, efetuar o pagamento, provar que fez ou
justificar a impossibilidade de efetue-lo; se o devedor não pagar, nem se escusar, o magistrado
decretará sua prisão civil, ate 60 dias, em regra, se os alimentos devidos estiverem fixados, em
definitivo, por sentença ou acordo, em se tratado de alimentos provisórios ou provisionais, pelo
prazo de 1 a 3 meses, salvo se realmente impossibilitado de fornecê-la. Não caberá habeas
corpus se houver decisão determinando a prisão do devedor de alimentos. O cumprimento da
pena não exime o dever de prestar alimentos.

11. CAUSA DE EXTINÇÃO

11.1. Pela morte do alimentado, devido a sua natureza pessoal.


11.2. Pelo desaparecimento de um dos pressupostos do art. 1.695 do Código Civil, ou seja, da
necessidade do alimentário ou da capacidade econômico-financeira dos alimentos.
11.3. Pelo casamento, união estável ou procedimento indigno do credor de alimentos.

CAPÍTULO IV
DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA QUE RECONHEÇA A EXIGIBILIDADE DE OBRIGAÇÃO
DE PRESTAR ALIMENTOS

Art. 528. No cumprimento de sentença que condene ao pagamento de prestação


alimentícia ou de decisão interlocutória que fixe alimentos, o juiz, a requerimento do exequente,
mandará intimar o executado pessoalmente para, em 3 (três) dias, pagar o débito, provar que o
fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo.

§ 1o Caso o executado, no prazo referido no caput, não efetue o pagamento, não prove
que o efetuou ou não apresente justificativa da impossibilidade de efetuá-lo, o juiz mandará
protestar o pronunciamento judicial, aplicando-se, no que couber, o disposto no art. 517.

§ 2o Somente a comprovação de fato que gere a impossibilidade absoluta de pagar


justificará o inadimplemento.

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§ 3o Se o executado não pagar ou se a justificativa apresentada não for aceita, o juiz, além
de mandar protestar o pronunciamento judicial na forma do § 1o, decretar-lhe-á a prisão pelo
prazo de 1 (um) a 3 (três) meses.

§ 4o A prisão será cumprida em regime fechado, devendo o preso ficar separado dos
presos comuns.

§ 5o O cumprimento da pena não exime o executado do pagamento das prestações


vencidas e vincendas.

§ 6o Paga a prestação alimentícia, o juiz suspenderá o cumprimento da ordem de prisão.

§ 7o O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende até
as 3 (três) prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso
do processo.

§ 8o O exequente pode optar por promover o cumprimento da sentença ou decisão desde


logo, nos termos do disposto neste Livro, Título II, Capítulo III, caso em que não será
admissível a prisão do executado, e, recaindo a penhora em dinheiro, a concessão de efeito
suspensivo à impugnação não obsta a que o exequente levante mensalmente a importância da
prestação.

§ 9o Além das opções previstas no art. 516, parágrafo único, o exequente pode promover
o cumprimento da sentença ou decisão que condena ao pagamento de prestação alimentícia
no juízo de seu domicílio.

Art. 529. Quando o executado for funcionário público, militar, diretor ou gerente de
empresa ou empregado sujeito à legislação do trabalho, o exequente poderá requerer o
desconto em folha de pagamento da importância da prestação alimentícia.

§ 1o Ao proferir a decisão, o juiz oficiará à autoridade, à empresa ou ao empregador,


determinando, sob pena de crime de desobediência, o desconto a partir da primeira
remuneração posterior do executado, a contar do protocolo do ofício.

§ 2o O ofício conterá o nome e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas do


exequente e do executado, a importância a ser descontada mensalmente, o tempo de sua
duração e a conta na qual deve ser feito o depósito.

§ 3o Sem prejuízo do pagamento dos alimentos vincendos, o débito objeto de execução


pode ser descontado dos rendimentos ou rendas do executado, de forma parcelada, nos
termos do caput deste artigo, contanto que, somado à parcela devida, não ultrapasse cinquenta
por cento de seus ganhos líquidos.

Art. 530. Não cumprida a obrigação, observar-se-á o disposto nos arts. 831 e seguintes.

Art. 531. O disposto neste Capítulo aplica-se aos alimentos definitivos ou provisórios.

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§ 1o A execução dos alimentos provisórios, bem como a dos alimentos fixados em
sentença ainda não transitada em julgado, se processa em autos apartados.

§ 2o O cumprimento definitivo da obrigação de prestar alimentos será processado nos


mesmos autos em que tenha sido proferida a sentença.

Art. 532. Verificada a conduta procrastinatória do executado, o juiz deverá, se for o caso,
dar ciência ao Ministério Público dos indícios da prática do crime de abandono material.

Art. 533. Quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de alimentos, caberá ao
executado, a requerimento do exequente, constituir capital cuja renda assegure o pagamento
do valor mensal da pensão.

§ 1o O capital a que se refere o caput, representado por imóveis ou por direitos reais sobre
imóveis suscetíveis de alienação, títulos da dívida pública ou aplicações financeiras em banco
oficial, será inalienável e impenhorável enquanto durar a obrigação do executado, além de
constituir-se em patrimônio de afetação.

§ 2o O juiz poderá substituir a constituição do capital pela inclusão do exequente em folha


de pagamento de pessoa jurídica de notória capacidade econômica ou, a requerimento do
executado, por fiança bancária ou garantia real, em valor a ser arbitrado de imediato pelo juiz.

§ 3o Se sobrevier modificação nas condições econômicas, poderá a parte requerer,


conforme as circunstâncias, redução ou aumento da prestação.

§ 4o A prestação alimentícia poderá ser fixada tomando por base o salário-mínimo.

§ 5o Finda a obrigação de prestar alimentos, o juiz mandará liberar o capital, cessar o


desconto em folha ou cancelar as garantias prestadas.

Na prática, a prisão já era realizada em regime fechado, contudo, verifica-se que


preocupou-se o legislador em fazer constar expressamente, pois o tipo de regime
imposto ao devedor de alimentos sempre gerou muita controvérsia jurisprudencial.

Ainda, assim como já previa a Súmula 309 do STJ, o CPC/15, introduziu o § 7º ao artigo
528, fazendo constar que a prisão civil não afastará o débito, sendo somente possível
nos casos de cobrança das três ultimas prestações vencidas:

§ 7º O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende até
as 3 (três) prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no
curso do processo.

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Além disso, a nova Legislação, como forma de dar mais efetividade a cobrança de
alimentos, incluiu o §1º, o qual inovou com a possibilidade de protesto da decisão em
caso de inadimplemento, o qual deixará o devedor com o “nome sujo” no mercado.
Veja-se:

§ 1º Caso o executado, no prazo referido no caput, não efetue o pagamento, não prove
que o efetuou ou não apresente justificativa da impossibilidade de efetuá-lo, o juiz
mandará protestar o pronunciamento judicial, aplicando-se, no que couber, o disposto no
art. 517.

Dessa forma, a partir das novas regras, o juiz verificando o inadimplemento do


devedor, efetuará o protesto judicial, ou seja, caso o executado no prazo de três dias
não efetue o pagamento, não prove que o efetuou ou não apresente justificativa,
terá seu nome incluído no banco de dados do SPC e do SERASA, gerando o cadastro de
inadimplente.

Ademais, no § 3º do artigo 529, acrescentou a possibilidade de desconto em folha do


devedor, no patamar de até 50% de seus vencimentos líquidos. Assim, na prática, o
devedor de alimentos, poderá ter além dos 30% permitidos, mais 20% descontado de
seu salário até quitar o débito. Nesse ponto, colaciona-se a disposição mencionada:

Art. 529, § 3º Sem prejuízo do pagamento dos alimentos vincendos, o débito objeto de
execução pode ser descontado dos rendimentos ou rendas do executado, de forma
parcelada, nos termos do caput deste artigo, contanto que, somado à parcela devida, não
ultrapasse cinquenta por cento de seus ganhos líquidos.

O salário líquido, nesse caso, equivale ao que o devedor recebe, descontadas apenas,
taxas legais e contratuais com o empregador. Ou seja, nesse limite de desconto de
50% não se leva em consideração se o devedor tem um crédito consignado ou outro
do tipo, por exemplo. O valor considerado é o do salário bruto, subtraídos os
descontos legais. Nesses casos, até mesmo a conta bancária do devedor pode ser
bloqueada.

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Ainda, mesmo que a pensão alimentícia tenha sido firmada entre as partes em um
compromisso extrajudicial, como por meio de mediação ou de contratos, no caso de
descumprimento do acordo são válidas as mesmas regras da cobrança judicial.
Anteriormente, seria preciso, primeiro, reconhecer judicialmente esse compromisso,
agora não mais.

Verifica-se que com as inovações introduzidas pelo Novo CPC, preocupou-se o


Legislador em buscar meios de efetivar a satisfação do direito do alimentado,
criando mecanismos que façam com que o alimentante tenha verdadeiro receio no
caso de ficar devendo a pensão alimentícia e passe a cumprir fielmente a sua
obrigação.

3. Das quatro possibilidades procedimentais no rito de Execução de Alimentos

Em relação aos procedimentos em caso de inadimplência da obrigação alimentar,


verifica-se que o Legislador buscou inovar, havendo agora, quatro hipóteses cabíveis
nos casos de execução.

No Código de 73, ocorria um duplo regime de execução, qual seja, execução realizada
por meio do artigo 732 (alterada pela Lei 11.232/05- criando a fase de cumprimento
de sentença), a qual estipulava que ocorreria sob pena de penhora e, a execução por
meio do rito previsto no artigo 733, a qual estipulava que ocorreria sob pena de
prisão.

Tal ponto, gerou nos últimos anos, inúmeros debates e divergências jurisprudenciais,
culminando com a decisão do STJ, o qual definiu que s alimentos previstos em
sentença são pleiteados de duas formas distintas: (a) execução autônoma para as
hipóteses do art. 733 e (b) cumprimento de sentença para a hipótese do art. 732 (CPC,
art. 475-I e ss.)

O CPC/2015 neste pontou, também trouxe inovações relevantes para o Direito de


Família, definindo quatro possibilidades de se executar a verba alimentar.

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127
Assim, a execução nestes casos, será definida levando em consideração o tipo de
título, no caso judicial ou extrajudicial e, o tempo do débito, em sendo pretérito ou
recente.

Nos casos em que a execução encontrar-se fundada por meio do procedimento de


cumprimento de sentença, esta poderá ser realizada por meio do rito do artigo 528 a
qual estipula o cumprimento de sentença sob pena de prisão ou pela hipótese
prevista no artigo art. 528, § 8º, que é o caso de cumprimento de sentença sob pena
de penhora.

Nos casos em que a execução encontrar-se fundamentada pelo título executivo


extrajudicial, os procedimentos encontram-se previstos nos artigos 911,912 e 913 do
CPC/2015, os quais preveem a execução de título extrajudicial sob pena de prisão e,
sob pena de penhora, respectivamente.

A tutela do direito aos alimentos, pode ser obtida mediante desconto em folha,
desconto em renda, constituição de capital, prisão civil, expropriação ou pelo
emprego de qualquer outro meio de indução ou de sub-rogação que o Magistrado
entenda como cabível. Assim, muito embora a lei silencie a respeito, é certo que cabe
multa coercitiva para tutela do direito aos alimentos, pouco importando se fundado
em título executivo judicial ou extrajudicial.

Dessa forma, percebe-se que o Legislador positivou o cumprimento de sentença sob


pena de penhora (o qual já era utilizado pelo Código anterior, mas não encontrava
previsão); inovou ao acrescentar a possibilidade de cumprimento de sentença sob
pena de prisão; colocou fim a necessidade de citação do executado para a prisão da
sentença de alimentos; criou a execução de alimentos fundada em título
extrajudicial, o que afasta as controvérsias a respeito da prisão civil e fixação de
alimentos decorrentes de acordo extrajudicial.

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Nos casos de ser promovida a execução, a eleição da modalidade de cobrança
depende em como os alimentos foram estabelecidos (título judicial ou extrajudicial),
bem como o período que está sendo cobrado (se superior ou inferior a três meses).

Verifica-se que não há como restringir o uso da via executiva pelo rito da prisão aos
alimentos estabelecidos em título executivo extrajudicial e aos fixados em sentença
definitiva ou em decisão interlocutória irrecorrível.

Ademais, o cumprimento da sentença definitiva ou de acordo judicial deve ser


promovido nos mesmos autos da ação de alimentos. A execução dos alimentos
provisórios e da sentença sujeita a recurso, se processa em autos apartados. Já para
executar acordo extrajudicial é necessário o uso do processo executório autônomo.

Dessa forma, verifica-se que o Legislador buscou preencher as lacunas existentes


anteriormente, trazendo soluções que ao que tudo indicam tornarão mais eficazes o
rito da execução.

DA INSTITUIÇÃO DO BEM DE FAMILIA. Art. 1.711.


Podem os cônjuges, ou a entidade familiar, mediante escritura pública ou
testamento, destinar parte de seu patrimônio para instituir bem de família, desde
que não ultrapasse um terço do patrimônio líquido existente ao tempo da
instituição, mantidas as regras sobre a impenhorabilidade do imóvel residencial
estabelecida em lei especial.

Somente se dará por determinação judicial, a requerimento dos cônjuges. Tem por escopo
assegurar um lar à família ou meio para que seu sustento. Deve ser realizado por escritura
pública. São impenhoráveis para pagamento de dívidas posteriores à sua instituição, (salvo
exceções). Podem ser penhorados para pagamento de débitos fiscais pertinentes ao próprio
imóvel (IPTU) ou despesas condominiais, visto que, por sua natureza proper rem, decorrem da
titularidade do domínio ou da posse sobre a coisa não podendo deixar de serem pagas, sob
pena de execução do bem que as gerou, mesmo sendo um bem de família.

Na execução do bem para pagamento desses débitos o saldo existente será aplicado em outro
prédio, como bem de família, ou se tal saldo for insuficiente para a aquisição de imóveis, em
títulos da divida publica para a manutenção da família, ou depositados em conta poupança, que
passará as ser movimentada por ordem judicial, no interesse da família, originalmente

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beneficiada pela instituição. Tal isenção perdurará enquanto viver um dos cônjuges ou
companheiros, ou na falta destes até que os filhos atinjam a maioridade.

O estado de solvente do instituidor é requisito necessário para instituição do bem. Os cônjuges


ou a entidade familiar, podem destinar parte de seus bens para instituição do bem de família,
desde que não ultrapasse um terço do patrimônio. Se os cônjuges ou companheiros o
instituírem por testamento, com o óbito, os filhos ficarão beneficiados com a herança, podendo
os credores se habilitarem no inventário para receberem o credito. ANTERIOR à instituição
daquele bem como sendo de família.

Não terá eficácia para fraudar credores, mediante o inadimplemento de dívidas contraídas
anteriormente à sua instituição. Pode ser instituído pelos cônjuges, companheiros, integrante-
chefe de família monoparental, ou por terceiros por ato inter vivos ou causa mortis desde que
ambos os cônjuges beneficiados aceitem expressamente a liberalidade e haja assento no
Registro de Imóveis, para que tenha eficácia erga omnes. Pode constituir em prédio
RESIDENCIAL rural, urbano, incluindo as suas pertenças e acessórios. Os valores mobiliários
podem ser instituídos como bens de família, devendo ser revertido para a conservação do
imóvel e sustento da mesma.

O prédio e os valores mobiliários, constituídos como bem de família, formam um patrimônio


familiar separado, cuja renda destina-se à salva guarda da família. Só podem ser alienados
com o consentimento dos interessados e após manifestação do Ministério Publico. Não
podem, mesmo que a requerimento dos credores, integrarem Massa creditícia, nem mesmo em
caso de falência. Se comprovar a manutenção do bem de família nas condições em que foi
instituída (Ex: para pagamento de uma UTI) o bem poderá ser alienado, desde que autorizado
judicialmente e com manifestação do MP. O ato de instituição e administração do bem de
família caberá a ambos os cônjuges, salvo disposição em contrário.

A inalienabilidade do bem de família, é relativa, vez que somente subsiste enquanto viverem os
cônjuges, ou na falta destes até que os filhos atinjam a maioridade. Caso um dos filhos seja
regido pela curatela, a instituição do bem prevalecerá até que a causa da incapacidade seja
superada. Se um dos cônjuges falecer, o prédio não entrará em inventário desde que o
supérstite, ou algum dos seus filhos menores, permaneçam residindo no local.

3. DA IMPENHORABILIDADE DO ÚNICO IMOVEL RESIDENCIAL DA FAMÍLIA. Instituída


pela Lei 8009/90. Visa preservar o patrimônio familiar. São impenhoráveis. O único imóvel rural
ou urbano destinado à moradia permanente da família. O Box de garagem não matriculado no
Registro de Imóveis. Os equipamentos de uso profissional. Os móveis que guarnecem o bem,
desde que quitados.

Tais bens não responderão por debito civil, fiscal, comercial, ou previdenciário contraídos pela
entidade familiar. Os benefícios da Lei não se estendem ao devedor solteiro que more sozinho.
É uma norma protetiva da família e não do devedor. Será penhorável em caso de pagamento
de fiança (Lei 8009/90, ar. 3º, VII). Se a entidade familiar possuir vários imóveis utilizados como
residência, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor, salvo se outro tiver sido
registrado para esta finalidade no Registro de Imóveis. Se a família residir em imóvel alugado,

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haverá a impenhorabilidade apenas dos móveis quitados que guarnecerem a residência, desde
que pertencentes ao locatário.

3.1. Exceções à regra da Impenhorabilidade do bem de família. Haverá a penhora não só


sobre o único imóvel da família, como também sobre os moveis quitados, se o processo de
execução:
I. Decorrer de créditos trabalhistas de empregados daquela residência, abrangendo as
respectivas contribuições previdenciárias;
II. For movido por titular de credito decorrente de contrato de financiamento destinado à
construção ou aquisição do imóvel, nos limites dos créditos e acréscimos constituídos em
função daquele contrato.
III. Se referir a créditos de pensão alimentícia.
IV. Se der para cobrança de IPTU, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar.
V. Disser respeito a hipoteca que recaia sobre o imóvel oferecido como garantia real pela
entidade familiar, ou pelo casal.
VI. For movido por ter sido aquele imóvel adquirido com produto de crime.
Advier em razão de sentença penal condenatória para ressarcimento, indenização ou perda de
bens.

LC 150/2015 proíbe penhora de bem de família para pagamento de


dívidas trabalhistas ou previdenciárias do empregador com empregadas
domésticas
terça-feira, 2 de junho de 2015

Foi publicada hoje mais uma importante novidade legislativa. Trata-se da Lei Complementar
n. 150/2015, que dispõe sobre o contrato de trabalho doméstico, ou seja, as regras que irão
reger a relação de emprego entre patrão e as empregas domésticas.

Nem preciso dizer que consiste na lei mais importante do ano sobre Direito do Trabalho.
Portanto, se você estuda para concursos trabalhistas ou milita na área, não deixe de estudar a
fundo as alterações.

Infelizmente, sou um profundo ignorante em Direito do Trabalho e, portanto, não poderei


contribuir com o tema, mas gostaria de destacar para vocês uma mudança trazida por esta Lei
e que reflete nos Direitos Civil e Processual Civil.

A LC 150/2015, dentre outras disposições, altera a Lei n. 8.009/90, que trata sobre o bem de
família. Antes de verificar o que mudou, vamos relembrar em que consiste o bem de família.

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BEM DE FAMÍLIA

Espécies de bem de família


No Brasil, atualmente, existem duas espécies de bem de família:
a) Bem de família convencional ou voluntário (previsto nos arts. 1711 a 1722 do Código Civil);
b) Bem de família legal (instituto regulado pela Lei nº 8.009/90).

Bem de família legal


Bem de família legal é...
- uma proteção conferida pela Lei n. 8.009/90
- por meio da qual um único imóvel residencial próprio do casal ou da entidade familiar
- é considerado, em regra, impenhorável
- e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária, trabalhista
ou de qualquer outra natureza,
- salvo nas hipóteses previstas na Lei nº 8.009/90.

Em outras palavras, a Lei n. 8.009/90 considera que o imóvel (só um) pertencente à família ou
à entidade familiar não pode ser, em regra, penhorado para pagamento de dívidas, salvo nas
hipóteses excepcionais previstas no art. 3º da Lei.

Apesar do nome “bem de FAMÍLIA”, o objetivo real do instituto é assegurar o direito


constitucional à moradia, tanto que esse direito existe mesmo que a pessoa more só. A
nomenclatura mais adequada do instituto deveria ser “bem de moradia” (mas deixa isso para
lá...).

Hipóteses excepcionais em que o bem de família pode ser penhorado


O art. 3º da Lei n. 8.009/90 traz uma lista de incisos com as hipóteses em que o bem de
família legal pode ser penhorado.

Vejamos o art. 3º, ANTES da LC 150/2015:

Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal,


previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:

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I - em razão dos créditos de trabalhadores da própria residência e das respectivas contribuições
previdenciárias;
II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição
do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato;
III - pelo credor de pensão alimentícia;
IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função
do imóvel familiar;
V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela
entidade familiar;

VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal
condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.

VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação.

Qual foi a mudança ocorrida?


A LC 150/2015 revogou o inciso I do art. 3º.

Diante disso, temos a seguinte questão: é possível penhorar a casa do “patrão” por
dívidas trabalhistas que este tenha com sua empregada doméstica ou por débitos
relacionados com a contribuição previdenciária desta funcionária?

A LC 150/2015 revogou o inciso I do art. 3º.


Desse modo, atualmente, o bem de família não pode mais ser penhorado para pagamento de
dívidas de trabalhadores da própria residência e das respectivas contribuições previdenciárias.
Assim, por exemplo, se um empregador doméstico está sendo executado por dívidas
trabalhistas relacionados com sua ex-empregada doméstica ou por dívidas relativas a
contribuições previdenciárias também decorrentes deste vínculo, não se poderá penhorar o bem
de família pertencente ao “patrão”.

Vale ressaltar, no entanto, que, se o devedor possuir mais de um bem imóvel, apenas um deles
será considerado bem de família e o outro poderá ser penhorado. De igual forma, poderão ser
penhorados bens móveis do “patrão” executado, como carros, motocicletas, joias, além, é
claro, da penhora on linede dinheiro que esteja depositado em instituições financeiras.

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Alguns de vocês podem estar se perguntando: mas uma lei complementar (LC
150/2015) revogou uma lei ordinária (Lei 8.009/90)? Isso é possível?
Na verdade, algumas vezes a lei complementar possui alguns dispositivos (determinados
artigos, parágrafos etc.) que possuem apenas a forma, a “roupagem” de lei complementar, mas
que na verdade, são, em sua essência, em sua matéria, leis ordinárias.
O art. 46 da LC 150/2015, que revogou o inciso I do art. 3º da Lei n.8.009/90, possui a forma
de lei complementar, mas na verdade tem natureza (matéria) de lei ordinária porque não trata
de nenhum dos assuntos que a CF/88 reservou para leis complementares.
Tanto isso é verdade que o legislador incluiu o seguinte artigo explicativo na LC 150/2015:
Art. 45. As matérias tratadas nesta Lei Complementar que não sejam reservadas
constitucionalmente a lei complementar poderão ser objeto de alteração por lei ordinária.

Logo, não houve qualquer problema em a LC 150/2015 revogar o inciso I do art. 3º da Lei
n. 8.009/90.

TUTELA Art. 1.728Os filhos menores são postos em tutela:

I - com o falecimento dos pais, ou sendo estes julgados ausentes;

II - em caso de os pais decaírem do poder familiar

1. CONCEITO. É um complexo de direitos e obrigações conferidos pela lei a um


terceiro, para que a proteja a pessoa de um menor, que não se acha sob o poder familiar, e
administre os seus bens.

2. CARACTERISTICAS. Visa proteger o menor não emancipado e seus bens, se seus pais
faleceram, foram declarados ausentes, suspensos ou destituídos do poder familiar. Não pode
coexistir simultaneamente com o poder familiar; onde um incide não há lugar para o outro. É
um instituto de caráter assistencial, que tem por escopo substituir o poder familiar. O tutor não
poderá sem autorização judicial, transferir a criança ou o adolescente a terceiros ou a
entidades governamentais e não governamentais.

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3. ESPÉCIES
I. TESTAMENTÁRIA. Se institui em virtude de nomeação de tutor aos menores, por ato de
ultima vontade. Deve ser instituída somente pelo pai ou pela mãe, desde que tenham o poder
familiar. Compete aos pais em conjunto. Será nula se feita por pai ou mãe, que não seja
detentor do poder familiar ao tempo da lavratura do testamento ou da escritura publica. Será
válida, se à época da nomeação do tutor, o pai ou mãe, estava suspenso do poder familiar,
mas o recuperou antes de falecer.

Será inválida, se à época da nomeação do tutor, o pai ou a mãe era detentor do poder familiar
mas no momento do falecimento o havia perdido. Será inválida se feita por um dos pais, mas
ou outro sobreviver, e ser capacitado para exercer o poder familiar. Só poderá ser instituída se
ambos os pais forem falecidos. Aos irmãos órfãos será nomeado apenas um tutor Quem
instituir um menor como seu herdeiro ou legatário, poderá nomear curador especial para os
bens deixados ainda que o beneficiário se encontre sob poder familiar ou tutela.

II. LEGÍTIMA. É a que se dá em falta da testamentária. É deferida pelo juiz, ouvindo o menor e
seus parentes mais próximos. É estabelecida na seguinte ordem, a qual poderá ser alterada
por entendimento do juiz.

a. Ascendentes
b. Irmãos ou tios

III. DATIVA. É oriunda de decisão judicial, pois na falta de tutor testamentário ou legitimo ou
quando os mesmos forem excluídos, removidos, ou escusados da tutela. A nomeação recairá
sobre:
a. Pessoa estranha.
b. Idônea.
C Que resida no domicilio do menor (esta exigência é exclusiva da tutela dativa). É cabível
mesmo quando os pais do menor forem vivos, mas decaíram do poder familiar.

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IV. IRREGULAR. É aquela que não há propriamente uma nomeação, na forma legal. O
suposto tutor zela pelo menor e por seus bens como se estivesse legitimamente investido do
oficio tutelar. Esta tutela não gera efeitos jurídicos, não passando de mera gestão de negócios.

4. IMPEDIMENTOS PARA O EXERCÍCIO DA TUTELA. Não poderão ser tutores e serão


exonerados do exercício (art. 1735, I a IV)
I. Os que não tiverem a livre administração de seus bens.
II. Os que possuem obrigação para com o menor.
III. Os inimigos do menor ou de seus pais, ou os que foram excluídos expressamente da tutela.
IV. Os condenados por crime.
V. As pessoas de mau procedimento.
VI. Os que exercerem função publica incompatível com a boa administração da tutela.

5. ESCUSA OU DISPENSA DOS TUTORES. A escusa não é absoluta. Art. 1736, I a VII
I. As mulheres casadas.
II. Os maiores de 60 anos.
III. Os que tiverem em seu poder mais de três filhos.
IV. Os impossibilitados por enfermidade.
V. Os que habitarem longe do lugar onde se deve exercer a tutela.
VI. Os que já estiverem no exercício de tutela ou curatela.
VII. Os militares em serviço.

Quem não for parente do menor, pode recusar a tutela, se houver, no lugar, parente idôneo,
consangüíneo ou afim, em condições de exercê-la. O pedido de dispensa deverá ser feito no
prazo decadencial de 10 dias.

6. GARANTIAS DA TUTELA. Os bens do menor devem ser entregues ao tutor, mediante


termo especificado deles e de seus valores, mesmo que os pais o tenham dispensado.

7. EXERCICIO DA TUTELA. A tutela é exercida por um tutor, com o auxílio, quando


necessário, de um protutor. A nomeação do protutor deverá recair sobre pessoa idônea e

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136
competente para exercer o ônus de fiscalização dos atos praticados pelo tutor. O tutor pode ser
substituído durante a tutela, por motivo de dispensa, remoção ou morte, sem que esta sofra
solução de continuidade, daí ser órgão permanente. O poder do tutor é uno e indivisível, sem
possibilidade de delegação. A função tutelar é similar ao poder familiar, mas não idêntica a ele,
uma vez que seu exercício se efetua sob inspeção judicial. A venda dos bens do menor, pelo
tutor, só poderá se dar mediante autorização judicial, através da expedição de alvará. O tutor
não pode, ainda que com autorização judicial:
Obter para si mesmo, ou para pessoa interposta, bens pertencentes ao menor.
Alienar, a título gratuito, os bens do menor.
I Adquirir crédito, ou direito, contra o menor, por negócio jurídico em que figure como
cessionário.O tutor exercerá seu mandato por 2 anos, podendo ser reconduzido de acordo com
sua vontade. O tutor não tem direito ao usufruto dos bens do tutelado.
O tutor tem direito a reembolso do que realmente vier a despender no exercício da tutela, e
ainda uma gratificação ou remuneração proporcional à importância dos bens do menor por ele
administrados. O protutor, por sua vez, apenas fará jus a uma gratificação módica pela
fiscalização dos autos do tutor por ele feita. A prestação de contas é feita em juízo com
audiência do Ministério Público, sendo que as contas deverão ser organizadas em forma
mercantil ou contábil. O tutor deverá apresentar balanço anual de sua administração. O tutor
deverá prestar contas de sua administração de dois em dois anos.

8. CESSAÇÃO DA TUTELA. Em relação ao tutelado:


I. Se ele atingir a maioridade.
II. Completando 18 anos de idade.
III. Atingindo a emancipação.
IV. Se ele cair sob o poder familiar, em caso de reconhecimento ou adoção.
V. Se ele se alistar ou for sorteado para o serviço militar.

Em relação ao tutor:
I. Se expirar o termo em que era obrigado a servir.
II Se sobrevier escusa legítima.
III. Se for removido por ter se tornado incapaz e por exercera tutoria, revelando-se negligente
ou prevaricação.

O tutor destituído deverá prestar contas de sua administração e será nomeada outra pessoa
idônea para ficar em seu lugar, mesmo que antes da aprovação daquela prestação de contas.

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CURATELA Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela:
I - aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento
para os atos da vida civil; (Vide Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
II - aqueles que, por outra causa duradoura, não puderem exprimir a sua vontade; (Vide Lei nº
13.146, de 2015) (Vigência)
III - os deficientes mentais, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos; (Vide Lei nº 13.146, de
2015) (Vigência)
IV - os excepcionais sem completo desenvolvimento mental; (Vide Lei nº 13.146, de 2015)
(Vigência)
V - os pródigos.

Da Curatela

Da Curatela

Seção I

Dos Interditos

Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela:

I – aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade;

II – (Revogado);

III – os ébrios habituais e os viciados em tóxico;

IV – (Revogado)

V – os pródigos.

Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela:

I – aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário


discernimento para os atos da vida civil;

II – aqueles que, por outra causa duradoura, não puderem exprimir a sua vontade;

III – os deficientes mentais, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos;

IV – os excepcionais sem completo desenvolvimento mental;

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V – os pródigos.

Não subsistirá a hipótese de sujeição à curatela daqueles que, por enfermidade ou deficiência
mental, não tiverem o necessário discernimento para os atos da vida civil. Doravante, se
sujeitão à curatela aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir a
sua vontade.

A hipótese dos excepcionais sem completo desenvolvimento mental e dos deficientes mentais
também foi revogada.

Art. 1.768. O processo que define os termos da curatela deve ser promovido:

I – pelos pais ou tutores;

II – pelo cônjuge, ou por qualquer parente;

III – pelo Ministério Público;

IV – pela própria pessoa.

Art. 1.768. A interdição deve ser promovida:

I – pelos pais ou tutores;

II – pelo cônjuge, ou por qualquer parente;

III – pelo Ministério Público.

Alterou-se a redação do caput e incluiu-se o parágrafo IV, pelos quais a interdição também
poderá ser promovida pela própria pessoa com deficiência.

Art. 1.769. O Ministério Público somente promoverá o processo que define os termos da
curatela:

I – nos casos de deficiência mental ou intelectual;

II – se não existir ou não promover a interdição alguma das pessoas designadas nos incisos I e
II do artigo antecedente;

III – se, existindo, forem menores ou incapazes as pessoas mencionadas no inciso II.

Art. 1.769. O Ministério Público só promoverá interdição:

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I – em caso de doença mental grave;

II – se não existir ou não promover a interdição alguma das pessoas designadas nos incisos I e
II do artigo antecedente;

III – se, existindo, forem incapazes as pessoas mencionadas no inciso antecedente.

Alterou-se a redação do caput. O inciso I também foi alterado para os casos de deficiência
mental ou intelectual e no inciso III foram incluídos os menores.

Art. 1.771. Antes de se pronunciar acerca dos termos da curatela, o juiz, que deverá ser
assistido por equipe multidisciplinar, entrevistará pessoalmente o interditando.

Art. 1.771. Antes de pronunciar-se acerca da interdição, o juiz, assistido por especialistas, examinará
pessoalmente o argüido de incapacidade.

O legislador alterou o termo “interdição” para curatela, “especialistas” para equipe


multidisciplinar e “examinar pessoalmente o arguido de incapacidade” para entrevistar
pessoalmente o interditando.

Art. 1.772. O juiz determinará, segundo as potencialidades da pessoa, os limites da curatela,


circunscritos às restrições constantes do art. 1.782, e indicará curador.

Parágrafo único. Para a escolha do curador, o juiz levará em conta a vontade e as


preferências do interditando, a ausência de conflito de interesses e de influência indevida, a
proporcionalidade e a adequação às circunstâncias da pessoa.

Art. 1.772. Pronunciada a interdição das pessoas a que se referem os incisos III e IV do art. 1.767, o juiz
assinará, segundo o estado ou o desenvolvimento mental do interdito, os limites da curatela, que poderão
circunscrever-se às restrições constantes do art. 1.782.

Alterou-se o caput: os limites da curatela se darão segundo as potencialidades da pessoa


sujeita às restrições do art. 1.782 e o juiz indicará o curador.

Incluiu-se o parágrafo único: para a escolha do curador, o juiz levará em conta a vontade e as
preferências do interditando, a ausência de conflito de interesses e de influência indevida, a
proporcionalidade e a adequação às circunstâncias da pessoa.

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Art. 1.775-A. Na nomeação de curador para a pessoa com deficiência, o juiz poderá
estabelecer curatela compartilhada a mais de uma pessoa.

Art. 1.775. O cônjuge ou companheiro, não separado judicialmente ou de fato, é, de direito,


curador do outro, quando interdito.

§1o Na falta do cônjuge ou companheiro, é curador legítimo o pai ou a mãe; na falta destes, o
descendente que se demonstrar mais apto.

§ 2o Entre os descendentes, os mais próximos precedem aos mais remotos.

§ 3o Na falta das pessoas mencionadas neste artigo, compete ao juiz a escolha do curador.

O legislador incluiu o art. 1.775-A, pelo qual a nomeação de curador poderá ser compartilhada
a mais de uma pessoa.

Art. 1.777. As pessoas referidas no inciso I do art. 1.767 receberão todo o apoio necessário
para ter preservado o direito à convivência familiar e comunitária, sendo evitado o seu
recolhimento em estabelecimento que os afaste desse convívio.

Art. 1.777. Os interditos referidos nos incisos I, III e IV do art. 1.767 serão recolhidos em estabelecimentos
adequados, quando não se adaptarem ao convívio doméstico.

O legislador estabeleceu que as pessoas que por causa transitória ou permanente não
puderem exprimir sua vontade receberão todo o apoio necessário para ter preservado o direito
à convivência familiar e comunitária, sendo evitado o seu recolhimento em estabelecimento que
os afaste desse convívio. Bem o contrário da previsão atual do Código.

Seção III

Do Exercício da Curatela

Art. 1.783. Quando o curador for o cônjuge e o regime de bens do casamento for de comunhão
universal, não será obrigado à prestação de contas, salvo determinação judicial.

O Título IV do Livro IV da Parte Especial da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código


Civil), passa a vigorar com a seguinte redação:

TÍTULO IV

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Da Tutela, da Curatela e da Tomada de Decisão Apoiada

O Título IV do Livro IV da Parte Especial da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código


Civil), passa a vigorar acrescido do seguinte Capítulo III:

CAPÍTULO III

Da Tomada de Decisão Apoiada

Art. 1.783-A. A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa com deficiência
elege pelo menos 2 (duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem de
sua confiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil,
fornecendo-lhes os elementos e informações necessários para que possa exercer sua
capacidade.

§ 1o Para formular pedido de tomada de decisão apoiada, a pessoa com deficiência e os


apoiadores devem apresentar termo em que constem os limites do apoio a ser oferecido e os
compromissos dos apoiadores, inclusive o prazo de vigência do acordo e o respeito à vontade,
aos direitos e aos interesses da pessoa que devem apoiar.

§ 2o O pedido de tomada de decisão apoiada será requerido pela pessoa a ser apoiada, com
indicação expressa das pessoas aptas a prestarem o apoio previsto no caput deste artigo.

§ 3o Antes de se pronunciar sobre o pedido de tomada de decisão apoiada, o juiz, assistido por
equipe multidisciplinar, após oitiva do Ministério Público, ouvirá pessoalmente o requerente e
as pessoas que lhe prestarão apoio.

§ 4o A decisão tomada por pessoa apoiada terá validade e efeitos sobre terceiros, sem
restrições, desde que esteja inserida nos limites do apoio acordado.

§ 5o Terceiro com quem a pessoa apoiada mantenha relação negocial pode solicitar que os
apoiadores contra-assinem o contrato ou acordo, especificando, por escrito, sua função em
relação ao apoiado.

§ 6o Em caso de negócio jurídico que possa trazer risco ou prejuízo relevante, havendo
divergência de opiniões entre a pessoa apoiada e um dos apoiadores, deverá o juiz, ouvido o
Ministério Público, decidir sobre a questão.

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§ 7o Se o apoiador agir com negligência, exercer pressão indevida ou não adimplir as
obrigações assumidas, poderá a pessoa apoiada ou qualquer pessoa apresentar denúncia ao
Ministério Público ou ao juiz.

§ 8o Se procedente a denúncia, o juiz destituirá o apoiador e nomeará, ouvida a pessoa


apoiada e se for de seu interesse, outra pessoa para prestação de apoio.

§ 9o A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar o término de acordo firmado em


processo de tomada de decisão apoiada.

§ 10. O apoiador pode solicitar ao juiz a exclusão de sua participação do processo de tomada
de decisão apoiada, sendo seu desligamento condicionado à manifestação do juiz sobre a
matéria.

§ 11. Aplicam-se à tomada de decisão apoiada, no que couber, as disposições referentes à


prestação de contas na curatela.

O legislador definiu que a tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa com
deficiência elege pelo menos 2 pessoas idôneas para prestar-lhe apoio na tomada de decisão
sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e informações necessários para que
possa exercer a sua capacidade.

Para formular o pedido, a pessoa com deficiência e os apoiadores devem apresentar termo em
que constem os limites do apoio a ser oferecido e os compromissos dos apoiadores, inclusive o
prazo de vigência do acordo e o respeito à vontade, aos direitos e aos interesses da pessoa
que vão apoiar.

Deferido o pedido pelo juiz, a decisão tomada por pessoa apoiada terá validade e efeitos sobre
terceiros, sem restrições, desde que esteja inserida nos limites do apoio acordado.

As pessoas com quem a pessoa apoiada mantenha relação negocial podem solicitar que os
apoiadores assinem o contrato ou acordo, especificando, por escrito, sua função em relação ao
apoiado.

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143
Em caso de negócio jurídico que possa trazer risco ou prejuízo relevante, havendo divergência
de opiniões entre a pessoa apoiada e um dos apoiadores, deverá o juiz, ouvido o Ministério
Público, decidir sobre a questão.

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=====

BIBLIOGRAFIA.

CÓDIGO CIVIL 2002


CONSTITUIÇÃO FEDERAL 1988

CRUZ, Maria Luiza Póvoa. Separação, divórcio e inventário por via administrativa. Belo
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GOMES, Orlando. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2010.

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HIRONAKA, Giselda . Direito de Família. São Paulo:Saraiva,2017.

LEITE, Eduardo de Oliveira. Direito de família. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010.

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TARTUCE, Flávio. MANUAL DE Direito Civil.Volume Único. 2019

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BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. São Paulo: Editora Revista
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© 1996 - 2017.

APOSTILA E CADERNO DE EXERCÍCIOS DE DIREITO DE FAMÍLIA


Professora Goiacy Campos Dunck

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APOSTILA E CADERNO DE EXERCÍCIOS DE DIREITO DE FAMÍLIA


Professora Goiacy Campos Dunck

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