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1.

INTRODUÇÃO

Existe um conflito entre dois direitos fundamentais, os quais estão expressos na


Constituição Federal, positivos no texto magno no seu art. 5º, direito à vida e direito
à liberdade de expressão religiosa. Essa colisão de direitos tem como exemplo
quando um indivíduo que se declara testemunha de Jeová, e em virtude de sua
religião se recusa fazer transfusão sanguínea.

Esse conflito como se trata de direitos, passeia pela ceara jurídica fazendo assim
como que magistrados e doutrinadores comecem a dispor do assunto com o
interesse de solucionar tais conflitos, de forma com que a lei seja interpretada
trazendo a melhor solução, assim se faz necessário criar princípios de
posicionamentos e pensamentos, tendo em vista que a constituição federal não
dispõe em seu texto nenhuma clausula que solucione de forma clara sobre colisões
entre direitos fundamentais.

2. DIVERGÊNCIAS DOUTRINÁRIAS SOBRE A COLISÃO DOS DIREITOS


FUDAMENTAIS
A constituição federal prevê e assegura no Art. 5º, a inviolabilidade do direito à vida,
o considerando um direito fundamental, tendo em vista que sem a vida é impossível
desfrutar de qualquer outro direito, tendo-o como o direito que é fonte para todos os
outros direitos. Está estão cometendo homicidio culposo, previsto no art 121 cp

Todavia, no mesmo Art. 5º da constituição federal, inciso VI, decorre que é inviolável
a liberdade de consciência e de crença sendo assegurado o livre exercício, o
considerando como um direito fundamental.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes: [...] VI -e inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a
proteção aos locais de culto e a suas liturgias; (CF, art. 5º, IV)
Esse conflito complexo entre estes dois direitos fundamentais se tornou pauta em
diversas discussões no âmbito jurídico. Tendo em vista que a Constituição não
dispõe sobre tal colisão, não tendo assim unanimidade de pensamentos e decisões
acerca deste assunto, trazendo vários doutrinadores a se manifestarem, por
exemplo, Gilmar Ferreira Mendes, que diz:

Embora o texto constitucional brasileiro não tenha privilegiado


especificadamente determinado direito, na fixação das cláusulas pétreas (CF,
art. 60, § 4ª), não há dúvida de que, também entre nós, os valores vinculados
ao princípio da dignidade da pessoa humana assumem peculiar relevo (CF,
art. 1ª, III). (MENDES, 2000, p. 299)

Segundo o autor, quando houver situações que exista o conflito entre estes
direitos fundamentais prevalecerá aquele que demonstrar substancialmente
princípios de dignidade humana, que é um dos princípios fundamentais da
Constituição Federal, expresso no Art. I, inciso III.

Trazendo o conflito de tais direitos fundamentais pra uma realidade mais


contemporânea levando em consideração a interpretação da Constituição, podemos
versar sobre o princípio de ponderação, no qual vem sendo muito defendida pelo
doutrinador professor Luiz Roberto Barroso, que diz:

[...] extrai-se que a ponderação ingressou no universo da interpretação


constitucional como uma necessidade, antes que como uma opção filosófica ou
ideológica. É certo, no entanto, que cada uma das três etapas descritas acima –
identificação das normas pertinentes, seleção dos fatos relevantes e atribuições
gerais dos pesos, com a produção de uma conclusão – envolve avaliações de
caráter subjetivo, que poderão variar em função das circunstâncias pessoais do
intérprete e de tantas outras influências. (BARROSO, 2009, p. 335

O autor através dessa nova visão para solucionar o embate entre direitos
fundamentais elaborou 3 etapas para que fosse aplicada a ponderação em tais
casos, basicamente, a primeira etapa, seria uma triagem para identificação das
normas pertinentes ao caso; a segunda, analisar separadamente as normas de uma
forma mais aprofundada; e a terceira, apresentar todas as normas através de uma
junção com as circunstâncias concretas do caso, fazendo assim com que essa
etapa seja a mais decisiva do princípio de ponderação.

3. O DIREITO Á VIDA X LIBERDADE DE CRENÇA

Trazendo o questionamento no âmbito jurídico entre direitos fundamentais, o direito


à vida e a liberdade de crença; tem notória importância demonstrar como são
tratados tais casos pelos magistrados Brasileiros no cotidiano, o que vem sendo
praticado, ou melhor dizendo, jurisprudências que versam sobre transfusão
sanguínea em Testemunhas de Jeová.

Encontramos diversas jurisprudências no meio judicial, nos quais temos os casos


mais julgados caracterizados por paciente com pleno gozo de suas faculdades
mentais, paciente em iminente risco de vida e paciente menor/incapaz.

Sendo exemplificado um dos casos, por:


DIREITO À VIDA. TRANSFUSÃO DE SANGUE. TESTEMUNHAS DE JEOVÁ.
DENUNCIAÇÃO DA LIDE INDEFERIDA. LEGITIMIDADE PASSIVA DA UNIÃO.
LIBERDADE DE CRENÇA RELIGIOSA E DIREITO À VIDA. IMPOSSIBILIDADE DE
RECUSA DE TRATAMENTO MÉDICO QUANDO HÁ RISCO DE VIDA DE MENOR.
VONTADE DOS PAIS SUBSTITUÍDA PELA MANIFESTAÇÃO JUDICIAL. O recurso
de agravo deve ser improvido porquanto à denunciação da lide se presta para a
possibilidade de ação regressiva e, no caso, o que se verifica é a responsabilidade
solidária dos entes federais, em face da competência comum estabelecida no art. 23
da Constituição federal, nas ações de saúde. A legitimidade passiva da União é
indiscutível diante do art. 196 da Carta Constitucional. O fato de a autora ter omitido
que a necessidade da medicação se deu em face da recusa à transfusão de
sangue, não afasta que esta seja a causa de pedir, principalmente se foi também o
fundamento da defesa das partes requeridas. A prova produzida demonstrou que a
medicação cujo fornecimento foi requerido não constitui o meio mais eficaz da
proteção do direito à vida da requerida, menor hoje constando com dez anos de
idade. Conflito no caso concreto dois princípios fundamentais consagrados em
nosso ordenamento jurídico-constitucional: de um lado o direito à vida e de outro, a
liberdade de crença religiosa. A liberdade de crença abrange não apenas a
liberdade de cultos, mas também a possibilidade de o indivíduo se orientar segundo
posições religiosas estabelecidas. No caso concreto, a menor autora não detém
capacidade civil para expressar sua vontade. A menor não possui consciência
suficiente das implicações e da gravidade da situação pata decidir conforme
sua vontade. Esta é substituída pela de seus pais que recusam o tratamento
consistente em transfusões de sangue. Os pais podem ter sua vontade
substituída em prol de interesses maiores, principalmente em se tratando do
próprio direito à vida. A restrição à liberdade de crença religiosa encontra
amparo no princípio da proporcionalidade, porquanto ela é adequada à
preservar à saúde da autora: é necessária porque em face do risco de vida a
transfusão de sangue torna-se exigível e, por fim ponderando-se entre vida e
liberdade de crença, pesa mais o direito à vida, principalmente em se tratando não
da vida de filha menor impúbere. Em consequência, somente se admite a prescrição
de medicamentos alternativos enquanto não houver urgência ou real perigo de
morte. Logo, tendo em vista o pedido formulado na inicial, limitado ao fornecimento
de medicamentos, e o princípio da congruência, deve a ação ser julgada
improcedente. Contudo, ressalva-se o ponto de vista ora exposto, no que tange ao
direito à vida da menor.

(TRF-4 - AC: 155 RS 2003.71.02.000155-6, Relator: VÂNIA HACK DE ALMEIDA,


Data de Julgamento: 24/10/2006, TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJ
01/11/2006 PÁGINA: 686, Porto Alegre,RS)

Percebe- se nas decisões tomadas pelos Tribunais de Justiça do Rio Grande do Sul
e Territórios, que os juízes ao se deparar com casos de recusa de transfusão de
sangue em que os pais se declaram testemunhas de jeová, a decisão dos pais é
substituída pelo poder jurídico. Demonstrando que o direito à vida se sobrepõe ao
direito de liberdade religiosa, tendo em vista que o direito à vida é instransponível
mesmo se tratando de responsáveis legais de outra vida, comprovando assim que o
direito à vida é do indivíduo, e não do seus pais.
4. CONCLUSÃO

Depois de analisar as doutrinas e jurisprudências pertinentes ao assunto, pode se


perceber que os juristas e magistrados ao se tratar dessa colisão se apropriam de
várias ferramentas e recursos que lhe cabem, trazendo a realização da justiça e
uma pacificação social, quando utilizado de forma adequada, sempre sendo
ponderados e levando em consideração todas as partes envolvidas.
Mesmo a Constituição não versando através de clausulas entre direitos
fundamentais não deixando claro que exista uma hierarquização entre tais, traz uma
necessidade maior de interpretação das leis fazendo assim com que a ponderação
entre elas seja feita, neste caso o direito à vida e a liberdade religiosa, tendo como
decisão na maioria dos casos entre este embate o direito à vida tendo em vista que
entendem que o direito à vida é o direito que da validade a todos os outros direitos.

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