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Caderno mulheres.

1) Na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3510, a Procuradoria-Geral da


República (PGR) sustentava que a disposição feria a proteção constitucional do
direito à vida e a dignidade da pessoa humana, com o argumento de que o
embrião é uma vida humana.

Em um contexto de supremacia constitucional, as leis ordinárias, incluindo o Código


Penal, devem estar em conformidade com a Constituição. Embora a Constituição não
aborde diretamente o tema do aborto, a interpretação dos direitos fundamentais nela
contidos é crucial para analisar essa questão juridicamente.

Atualmente, o Supremo Tribunal Federal (STF) está discutindo, por meio da Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 442, a possibilidade de declarar a
inconstitucionalidade da aplicação da lei penal ao aborto realizado até a 12ª semana de
gestação. Esse debate não é novo no STF, como visto em casos anteriores, como a Ação
Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3510 e a ADPF 54.

O objetivo é analisar e resumir os argumentos sobre vida e aborto presentes nesses casos
(ADI 3510 e ADPF 54) para subsidiar a análise do direito ao aborto sob a perspectiva
constitucional. O método utilizado é o indutivo e a análise documental.

Na ADI 3510, o STF considerou que o uso de células-tronco-embrionárias para pesquisa


e terapia não viola direitos fundamentais, pois tais direitos requerem nascimento com
vida. Além disso, os ministros afirmaram que não é necessário estabelecer um marco
inicial preciso para a vida humana para conceder proteção jurídica aos diferentes estágios
do desenvolvimento humano.

Já na ADPF 54, diversos temas foram abordados, como a ponderação de direitos, a


inexistência de conflito entre direitos fundamentais, a tipicidade e a inviabilidade do feto.
A decisão final foi pela procedência total da ADPF 54, argumentando que a interrupção
de fetos anencefálicos, sem chance de desenvolvimento extrauterino, não constitui crime.
Portanto, esses julgamentos demonstram que a Constituição não define claramente o
início da vida humana, mas concede diferentes formas de proteção jurídica aos estágios
do desenvolvimento humano. Há um silêncio constitucional sobre a vida pré-natal, sem
negar seu valor humano intrínseco, mas os direitos constitucionais são atribuídos apenas
ao nascimento com vida, resultando em proteção infraconstitucional à vida pré-natal. Os
debates constitucionais se baseiam principalmente na diferenciação entre o nascituro e a
gestante.

2) A Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4.424 foi um marco importante no


contexto da proteção às vítimas de violência doméstica no Brasil. Nessa ação, a
Procuradoria-Geral da República (PGR) buscava a pacificação do entendimento sobre a
necessidade de representação da vítima nos casos de lesão corporal leve praticados em
situação de violência doméstica. A representação da vítima é fundamental para garantir a
efetividade da persecução penal e a proteção dos direitos da mulher em um contexto tão
sensível e delicado como o da violência doméstica. A ADI 4.424 trouxe à tona a discussão
sobre a autonomia da mulher vítima de violência para decidir sobre o prosseguimento ou
não do processo criminal contra o agressor. Além disso, destacou a importância do Estado
em assegurar mecanismos que garantam a segurança e a integridade física e psicológica
das vítimas. O Supremo Tribunal Federal (STF), ao julgar essa ação, teve a oportunidade
de reafirmar a constitucionalidade das medidas de proteção às mulheres vítimas de
violência doméstica e de fortalecer o sistema de justiça para lidar com esse grave
problema social. Em última instância, a ADI 4.424 contribuiu para a consolidação do
arcabouço jurídico voltado para o combate à violência de gênero e para a promoção da
igualdade e da dignidade das mulheres na sociedade brasileira.

Caderno igualdade racial

Resumo:

1) O artigo aborda criticamente o julgamento do Habeas Corpus Nº 82.424-2/03 pelo


Supremo Tribunal Federal, tendo como impetrante Siegfried Ellwanger, que
envolve questões relevantes sobre a proporcionalidade na constituição de 1988 e
o respeito aos direitos fundamentais. A análise inclui a posição dos ministros do
STF e seus votos favoráveis ou contrários ao habeas corpus, destacando a
importância da prestação jurisdicional. Além disso, o texto integra a análise das
teorias do "clear and present danger" e da "fairness doctrine".
Texto:

Este artigo se propõe a examinar, de maneira crítica e teleológica, o julgamento do Habeas


Corpus Nº 82.424-2/03 pelo Supremo Tribunal Federal, centrando-se na figura de
Siegfried Ellwanger como impetrante. Um ponto central da análise é a questão da
proporcionalidade diante de possíveis conflitos entre os direitos fundamentais
consagrados na Constituição de 1988. Entende-se que o respeito a esse princípio é crucial
para alcançar um ideal de justiça equilibrado.

Ao examinar a posição dos ministros do STF e os votos que deferiram ou indeferiram o


habeas corpus, busca-se não apenas entender o desfecho do caso, mas também avaliar a
atuação da mais alta corte do país na garantia dos direitos individuais e na promoção da
justiça social. Essa análise é essencial para compreender como o sistema judiciário
interpreta e aplica os princípios constitucionais em casos controversos.

Além disso, o texto incorpora a análise das teorias do "clear and present danger" e da
"fairness doctrine", que são importantes para contextualizar o debate sobre liberdade de
expressão e limites legais, especialmente em casos que envolvem discursos de ódio e
intolerância.

Dessa forma, o artigo busca fornecer uma visão abrangente e crítica sobre o julgamento
do habeas corpus em questão, contribuindo para o entendimento das complexas
interações entre direitos individuais, liberdade de expressão e a função do Judiciário na
sociedade contemporânea.

2) ADPF nº 186 A pesquisa aborda as relações entre Direito e Política, examinando


a evolução do Estado e sua influência no arranjo político-constitucional e nas
atribuições do Poder Judiciário. A primeira parte do estudo traça as variações do
Estado de Direito ao longo do tempo, desde sua origem no liberalismo clássico
até as características do Estado Democrático e Constitucional. Em seguida,
destaca-se a análise de um julgado do Supremo Tribunal Federal (STF), a ADPF
186/DF, que debateu a constitucionalidade das cotas raciais em Universidades
Públicas. Utilizando a Análise do Discurso francesa, o estudo busca compreender
as estratégias empregadas pelo STF na produção de uma decisão legítima,
aparentemente separada entre Direito e Política. Conclui-se que os Ministros do
STF, influenciados por ideologias, utilizaram diversas estratégias para legitimar
seu discurso, incluindo a fixação de sentidos oficiais, a crença na objetividade da
interpretação, a valorização das evidências como representações da objetividade,
entre outras.

Lgbt ADPF nº 132 e ADI nº 4.277

1) Em 25 de Fevereiro de 2008 foi apresentada ao Supremo Tribunal Federal


brasileiro a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental - ADPF
132 [07], de autoria do Governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. A
ADPF indicou, inter alia, como direitos fundamentais violados, o direito à
isonomia, o direito à liberdade, desdobrado na autonomia da vontade, o
princípio da segurança jurídica, para além do princípio da dignidade da
pessoa humana.

Em resumo, o pedido principal da ação traduziu-se em requerimento da


aplicação analógica do art. 1723 do Código Civil brasileiro às uniões
homoafetivas, com base na denominada "interpretação conforme
a Constituição". Requisita-se que o STF interprete conforme a Constituição,
o Estatuto dos Servidores Civis do Estado do Rio de Janeiro e declare que as
decisões judiciais denegatórias de equiparação jurídica das uniões
homoafetivas às uniões estáveis afrontam direitos fundamentais. Como
pedido subsidiário, pede-se que a ADPF - no caso da Corte entender pelo
seu descabimento - seja recebida como Ação Direta de
Inconstitucionalidade, o que de fato, terminou por acontecer.

Todos os 10 Ministros votantes no julgamento da ADPF 132 e da ADI


4277 manifestaram-se pela procedência das respectivas ações
constitucionais, reconhecendo a união homoafetiva como entidade familiar
e aplicando à mesma o regime concernente à união estável entre homem e
mulher, regulada no art. 1.723 do Código Civil brasileiro. Talvez nunca se
tenha visto a Suprema Corte brasileira com um posicionamento tão
homogêneo e consensual, ao menos no que diz respeito ao resultado, ao
considerar que a união homoafetiva é, sim, um modelo familiar e a
necessidade de repressão a todo e qualquer tipo de discriminação.
2) No julgamento da ADPF 291, movida pela Procuradoria-Geral da República
contra o artigo 235 do Código Penal Militar (CPM), o Supremo Tribunal
Federal deu parcial provimento à ação, para excluir do tipo penal em questão
as expressões “pederastia” (do título do tipo penal) e “homossexual ou
não” (do tipo propriamente dito). Entendeu corretamente o STF que tais
expressões são discriminatórias, por denotarem homofobia e, assim, repúdio
aos atos sexuais com pessoas do mesmo sexo, mas incorretamente se recusou
a considerar como “não-recepcionado” o dispositivo legal
pela Constituição.

Povos indígenas

1) Trata-se de uma ação direta de inconstitucionalidade que contesta alguns


dispositivos da Lei nº 11.952/2009, que trata da regularização fundiária de
ocupações em terras da União na Amazônia Legal. O Supremo Tribunal Federal
(STF) julgou parcialmente procedente o pedido, conferindo interpretação
conforme à Constituição em relação aos artigos 4º, §2º e 13 da referida lei. Um
dos pontos centrais do julgamento foi a proteção especial conferida aos territórios
ocupados por comunidades quilombolas e tradicionais, destacando-se a
importância de preservar seus modos de vida e tradições. Essa decisão ressalta a
necessidade de conciliar a regularização fundiária com a proteção dos direitos
territoriais e culturais dessas comunidades.
2) ADI nº 3239 demarcação de territórios quilombolas
O decreto presidencial 4.887/2003 representou um avanço significativo para
garantir o direito constitucional das comunidades quilombolas ao seu território,
abrangendo mais de 1.098 comunidades e cerca de 80 mil pessoas em todo o
Brasil. No entanto, em junho de 2004, o PFL ingressou com uma ADI no STF
(Ação Direta de Inconstitucionalidade), argumentando a ausência de uma lei
prévia que legitimasse o decreto e contestando a autodefinição como critério para
a declaração das comunidades quilombolas.

Entidades como Conectas, Instituto Pro Bono e Sociedade Brasileira de Direito


Público participaram como amicus curiae, defendendo o conceito de interesse
social para justificar a desapropriação de terras particulares em prol da proteção
do patrimônio cultural afro-brasileiro e do modo de vida quilombola. Rebateram
os argumentos contrários, destacando que o decreto não se limita à manifestação
de vontade, mas considera critérios de territorialidade e identidade coletiva
histórico-antropológicos.

Além disso, ressaltaram a conformidade do decreto com normas internacionais de


direitos humanos, incluindo a Convenção 169 da OIT sobre povos indígenas e
tribais. O julgamento da ADI-3239 foi iniciado em 2012 e, após várias
interrupções, concluiu-se em 2018 com maioria favorável à constitucionalidade
do decreto. A ministra Rosa Weber apresentou um voto divergente, considerando-
o constitucional, enquanto a maioria dos ministros rejeitou a ideia de estabelecer
um marco temporal para os territórios quilombolas.

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