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DIREITO CIVIL

Parte Geral

Professora Valquíria Soares Cavalcanti


Março de 2021
SITUAÇÃO-PROBLEMA:
Na atualidade, não se cuida de buscar a demarcação dos
espaços distintos e até contrapostos. Antes havia uma
disjunção: hoje, a unidade hermenêutica, tendo a Constituição
como ápice conformador da elaboração e aplicação da
legislação civil. A mudança de atitude é substancial: deve o
jurista interpretar o Código Civil segundo a Constituição e não
a Constituição segundo o Código, como ocorria com
frequência (e ainda ocorre). A mudança de atitude também
envolve certa dose de humildade epistemológica? (LÔBO,
Paulo. Teoria geral das obrigações. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 2).
Como é possível harmonizar a interpretação
das normas cíveis à luz das normas
constitucionais? Caso, por exemplo, um
plano de saúde negasse a cobertura de
tratamento médico a um paciente, que
argumentos poderiam ser suscitados para
reverter a decisão, analisando-se sob o viés
civil-constitucional e utilizando a tese do
diálogo das fontes?
CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL

Relação entre o Direito Civil


e o texto da Constituição Brasileira de 1988
5. Direito Civil e a Constituição da República de 1988

• O FENÔMENO DA CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO PRIVADO

• TÁBUA AXIOLÓGICA CONSTITUCIONAL:

A) PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA (art. 1°, III, CF/88)


B) PRINCÍPIO DA IGUALDADE OU ISONOMIA (art. 5°, caput e inciso I, CF)
C) PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE (art. 3º, CF/88)
PREÂMBULO DA CRFB/88

“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional


Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-
estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de
uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia
social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução
pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.”
TÍTULO I
Dos Princípios Fundamentais
• Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada
pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e
do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos:
• I - a soberania;
• II - a cidadania
• III - a dignidade da pessoa humana;
• IV - os valores sociais do trabalho e da livre
iniciativa;
• V - o pluralismo político.
Princípio constitucional da
igualdade

• Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e
à propriedade, nos termos seguintes:
• I - homens e mulheres são iguais em direitos e
obrigações, nos termos desta Constituição;
• II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei;
Solidariedade constitucional

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República


Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Constitucionalização
do Direito Civil

• Análise do direito privado com base nos fundamentos


constitucionalmente estabelecidos. É a aplicação dos mandamentos
constitucionais no direito privado.
• Releitura dos institutos e conceitos do âmbito privado visando à
concretização dos valores e preceitos constitucionais, tendo por
norte interpretativo a proteção à dignidade da pessoa humana em
suas múltiplas manifestações.
• Superação do paradigma individualista do Estado Liberal e do
homem dotado de patrimônio, e passou-se a adotar um novo
paradigma. As constituições começaram a trazer em seu bojo regras
e princípios típicos de direito civil e a valorizar a pessoa colocando-
a acima do patrimônio.
A CRFB/88, ao refletir as
mudanças nas relações familiares
ocorridas ao longo do século XX,
deu um novo perfil aos institutos
do direito de família.
• União Estável: reconhecida como entidade familiar;
• Maioridade Civil: aos 18 anos;
• Regime de bens: pode ser alterado por acordo entre os cônjuges;
• Exames de DNA para comprovação de paternidade: a recusa
implica reconhecimento da filiação;
• Filhos nascidos fora do casamento: não há mais distinção entre
filhos de qualquer origem;
• Guarda dos filhos em caso de separação: os filhos podem ficar com
o pai ou a mãe;
• Testamento: não mais precisa ser feito à mão pelo testador;
• Sucessão: o cônjuge passa a ser herdeiro necessário.
O DIÁLOGO
DAS FONTES
“A essência da teoria é que as normas jurídicas não se
excluem, supostamente porque pertencentes a ramos jurídicos
distintos, mas se complementam. A teoria foi desenvolvida
por Erik Jayme, na Alemanha, e Cláudia Lima Marques, no
Brasil. A última doutrinadora propõe um sentido de
complementaridade entre o Código Civil de 2002 e o Código de
Defesa do Consumidor, sobretudo nas matérias de direito
contratual e responsabilidade civil”. (Flávio Tartuce)
Em que consiste a teoria do diálogo das fontes? (jusbrasil.com.br)
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https://youtu.be/9Etv33h1kME
Respondendo
ao problema inicial Como é possível harmonizar a
interpretação das normas cíveis à luz das
normas constitucionais? Caso, por
exemplo, um plano de saúde negasse a
cobertura de tratamento médico a um
paciente, que argumentos poderiam ser
suscitados para reverter a decisão,
analisando-se sob o viés civil-
constitucional e utilizando a tese do
diálogo das fontes?
Anderson celebrou um contrato de plano de saúde com a Operadora Mais
Vida Ltda., ciente de que deveria cumprir os prazos de carência para
utilização das assistências ofertadas. Ocorre que, após 2 (dois) meses de
pagamento regular das mensalidades, Anderson sofreu um acidente de
trânsito e precisou realizar uma cirurgia em caráter emergencial, pois caso
não a realizasse poderia ter graves consequências em sua saúde ou até
mesmo não resistir aos ferimentos. O plano de saúde negou o atendimento,
sob a alegação de que Anderson não cumprira ainda o prazo de carência.
Analise a negativa do plano de saúde sob a ótica da constitucionalização do
Direito Civil e do diálogo das fontes.
Leitura Específica

Leia o texto:

SOARES AGUILAR, L. F. Reflexos da constitucionalização do Direito Civil na


formulação de um direito ao sossego aplicável na perspectiva do direito à
integridade física. Revista Brasileira de Direito Civil em Perspectiva, [s. l.], v. 4,
n. 2, p. 62?78, 2018. Disponível em: http://search.ebscohost.com/login.aspx?
direct=true&db=aph&AN=134656886&lang=ptbr&site=eds-live. Acesso em: 17
jan. 2021.
Leia o julgado abaixo, do Supremo Tribunal Federal, sobre a eficácia horizontal dos direitos
fundamentais, em que esta tese foi adotada, no sentido de assegurar direito à ampla defesa a associado que
fora excluído do quadro de uma pessoa jurídica: a Turma, concluindo julgamento, negou provimento a
recurso extraordinário interposto contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro que
mantivera decisão que reintegrara associado excluído do quadro da sociedade civil União Brasileira de
Compositores. UBC, sob o entendimento de que fora violado o seu direito de defesa, em virtude de o
mesmo não ter tido a oportunidade de refutar o ato que resultara na sua punição. v. Informativos n. 351,
370 e 385. Entendeu-se ser, na espécie, hipótese de aplicação direta dos direitos fundamentais às relações
privadas. Ressaltou-se que, em razão de a UBC integrar a estrutura do ECAD, Escritório Central de
Arrecadação e Distribuição, entidade de relevante papel no âmbito do sistema brasileiro de proteção aos
direitos autorais, seria incontroverso que, no caso, ao restringir as possibilidades de defesa do recorrido, a
recorrente assumira posição privilegiada para determinar, preponderantemente, a extensão do gozo e da
fruição dos direitos autorais de seu associado. Concluiu-se que as penalidades impostas pela recorrente ao
recorrido extrapolaram a liberdade do direito de associação e, em especial, o de defesa, sendo imperiosa a
observância, em face das peculiaridades do caso, das garantias constitucionais do devido processo legal,
do contraditório e da ampla defesa. Vencidos a Min. Ellen Gracie, relatora, e o Min. Carlos Velloso, que
davam provimento ao recurso, por entender que a retirada de um sócio de entidade privada é solucionada
a partir das regras do estatuto social e da legislação civil em vigor, sendo incabível a invocação do
princípio constitucional da ampla defesa? (Supremo Tribunal Federal, RE 201.819/RJ, Rel. Min. Ellen
Gracie, Rel. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, j. 11.10.2005, RE 201.819).
Aprenda +
Sobre o diálogo das fontes:
Tópico 2.7 do livro: TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Lei de introdução e parte geral. 16. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2020, v. 1. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530989309/cfi/6/2!/4/2/2@0:16.0
Leia os textos:
PESSOA, E. DE A. A Constitucionalização da Função Social da Propriedade: Alteração na Dogmática do
Direito Civil. Revista Jurídica da FA7, v. 7, n. 1, p. 65-75, 30 abr. 2010. Disponível em:
https://periodicos.uni7.edu.br/index.php/revistajuridica/article/view/137. Acesso em: 17 jan. 2021.
PIVA, Rui Carvalho; PEGORARO, Luiz Nunes. O Direito Civil constitucional e a função social da
propriedade. Regularização fundiária e multipropriedade. RJLB. Ano 5 (2019), nº 6, p. 1891-1923.
Disponível em: https://www.cidp.pt/revistas/rjlb/2019/6/2019_06_1891_1923.pdf. Acesso em: 17 jan.
2021.
ATIVIDADE AUTÔNOMA AURA

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AVALIAÇÕES!
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ATENÇÃO:

A ATIVIDADE AUTÔNOMA AURA DESTA AULA 4


ESTÁ NO PLANO DE AULA!!!! NÃO DEIXE DE
VERIFICAR, POIS HÁ DUAS QUESTÕES A SEREM
RESOLVIDAS NO CAMPO “APRENDA +”
Bons estudos!
Até a próxima aula!

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