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Filosofia Plano de aula 4 Os

Filósofos antigos: A filosofia de


Aristóteles
• Objetivos
• Ao final desta aula o(a) aluno(a) deverá ser capaz de:
• · Reconhecer em linhas gerais a importância de
Aristóteles para tradição Filosófica;
• · Identificar os principais conceitos do pensamento
aristotélico;
• · Reconhecer as características da ética de
Aristóteles;
• · Identificar as características da teoria organicista da
sociedade expressa na Política.
Filosofia Plano de aula 4 Os Filósofos
antigos: A filosofia de Aristóteles

• 1- Aristóteles: vida e obra:


• Fundou o Liceu, escola peripatética; é o patrono das
ciências;
• - obras principais para o Direito: Ética a Nicômaco e Política
• Aristóteles (384-322 a.C.) – Discípulo de Platão, nascido na
Macedônia, é autor de extensa obra em forma de grandes
tratados. É o primeiro doutrinador por estudar
cientificamente as constituições das cidades democráticas
• Notabilizou-se pelo caráter científico de seus escritos, pela
fundação de vários saberes (ética, direito, lógica, biologia...) e
pelo afinco ao estudo da natureza e das causas das coisas e
fenômenos.
• Considerado o pai das ciências, operou a síntese da cultura
grega em pleno século IV a.C, sistematizando o seu legado.
Foi preceptor de Alexandre, o Grande, o responsável pela
disseminação do legado grego por um vasto território.
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antigos: A filosofia de Aristóteles

• O patrono das ciências:


• Dentro da filosofia aristotélica é que se encontra referência
à tripartição das ciências em práticas, produtivas e
teoréticas.
• De acordo com essa divisão, dos conhecimentos humanos
científicos, a investigação ética não se destina à
especulação (ciências teoréticas) ou à produção (ciências
produtivas), mas à prática; o conhecimento ético, o
conhecimento do justo e do injusto, do bom e do mau, é
uma primeira premissa para que a ação converta-se em
uma ação justa ou conforme à justiça, ou em uma ação boa
ou conforme o que é melhor.
• 2- Ética finalista na Ética a Nicômaco:
Filosofia Plano de aula • - a ideia de Bem como fim último;

4 Os Filósofos antigos: • - conceito de eudemonia;



A filosofia de Aristóteles •
- justo meio ou justa medida;
- classificação da justiça.
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• A ideia de Bem como fim último;


• Definindo-a, pode-se dizer que consiste
na virtude de observância da lei, no
respeito àquilo que é legítimo e que
vige para o bem da comunidade. Se a
lei (nómos) é uma prescrição de caráter
genérico e que a todos vincula, então
seu fim é a realização do Bem da
comunidade, e, como tal, do Bem
Comum.
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• O conceito de eudemonia;
• Aristóteles está sobretudo preocupado em demonstrar, por
suas investigações, que a noção de felicidade (eudaimonía) é
uma noção humana, e, portanto, humanamente realizável. O
caminho? A prática ética.
• A ciência prática, que cuida da conduta humana, tem esta
tarefa de elucidar e tornar realizável, factível, a harmonia do
comportamento humano individual e social. O meio de
aquisição da virtude é ponto de fundamental importância nesse
sentido.
• De fato, na virtude encontra-se apenas a capacidade de
discernir entre o justo e o injusto, e de optar pela realização de
ações conformes a um ou a outro.
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• Deve-se renovar a ideia de que a virtude, assim como


o vício, adquire-se pelo hábito, reiteração de ações
em determinado sentido, com conhecimento de
causa e com o acréscimo da vontade deliberada. A
própria terminologia das virtudes chamadas éticas
deve-se ao termo hábito (éthos).
• Ao homem é inerente a capacidade racional de
deliberação, o que lhe permite agir aplicando a razão
prática na orientação de sua conduta social. Conhecer
em abstrato (teoricamente) o conteúdo da virtude
não basta, sendo de maior valia a atualização prática
e a realização da virtude.
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• O justo meio ou justa medida;


• A justiça, compreendida em sua categorização genérica, é uma
virtude (areté), e, como toda virtude, qual a coragem, a
temperança, a liberalidade, a magnificência…, é um justo meio
(mesótes).
• Não se trata de uma simples aplicação de um raciocínio
algébrico para a definição e a localização da virtude (um meio
algébrico com relação a dois polos opostos), mas da situação
desta em meio a dois outros extremos equidistantes com
relação à posição mediana, um primeiro por excesso, um
segundo por defeito
• O conceito de justo meio (mesótes) não comporta de forma
alguma uma compreensão genérica e indiferente às qualidades
específicas dos indivíduos; é, pelo contrário, sensível, dentro
das ambições teóricas de Aristóteles, à dimensão individual
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• A classificação da justiça:
• A justiça total destaca-se como sendo a virtude (total) de
observância da lei.
• A justiça total vem complementada pela noção de justiça
particular, corretiva, presidida pela noção de igualdade
aritmética (comutativa, nas relações voluntárias;
reparativa, nas relações involuntárias) ou distributiva,
presidida pela noção de igualdade geométrica.
• A justiça também será exercida nas relações domésticas
(justo para com a mulher; justo para com os filhos; justo
para com os escravos) ou políticas (legal e natural).
• Cumpre ao juiz debruçar-se na equanimização de
diferenças surgidas da desigualdade; é ele quem
representa a justiça personificada.
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• O justo total:
• Após identificar que para o vocábulo justiça
podem-se atribuir muitos sentidos,
Aristóteles procede ao exame da primeira
noção conceptual do termo, a saber, a
noção de justiça total.
• A ação que se vincula à legalidade obedece
a uma norma que a todos e para o bem de
todos é dirigida; como tal, essa ação deve
corresponder a um justo legal e a forma de
justiça que lhe é por consequência é a aqui
chamada justiça legal. Aquele que observa
os conteúdos legais pode ser chamado de
justo, nesse sentido.
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• O papel relevante aqui desempenhado pelo legislador é,
pois, determinante para a comunidade. O legislador, ao
operar no sentido da construção do espaço normativo da
pólis, nada mais está a fazer senão exercendo a sua arte, a
arte de bem conduzir a comunidade nas coisas comuns.
Assim procedendo, o legislador age tendo em vista o
melhor para a comunidade, o fim das leis deve
necessariamente ser o Bem Comum
• Dessa forma é que a justiça total é também chamada de
justiça universal ou integral, e tal se deve ao fato de a
abrangência de sua aplicação ser a mais extensa possível (as
leis valem para o Bem de todos, para o Bem Comum).
Aquele que contraria as leis contraria a todos que são por
elas protegidos e beneficiados; aquele que as acata, serve a
todos que por elas são protegidos ou beneficiados. O justo
total é a observância do que é regra social de caráter
vinculativo.
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• Na produção de efeitos em meio ao convívio


social, justiça e virtude são idênticas, uma vez que
o conteúdo de toda legislação é o agir num
sentido que corresponde à conduta que
representa o meio-termo (não matar, não furtar,
não ferir, não lesar, não injuriar… são aplicações
de um único princípio que é o neminem laedere).
• Isto, pois, se muitos são capazes de praticar a
justiça para com aquilo que lhes é pertinente (em
relações particulares de troca, venda…), poucos
são aqueles que o fazem nos importes
relacionais, em função do outro que também
compartilha do viver comunitário. Aqui se
encontra o diferencial entre a mais alta virtude e
toda e qualquer outra forma de justiça particular.
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• O justo particular
• O justo particular corresponde a uma parte da virtude,
e não à virtude total, como ocorre com o justo universal
ou total.
• A justiça particular refere-se ao outro singularmente no
relacionamento direto entre as partes. Trata-se de dizer
que o justo particular é, de certa forma, espécie do
gênero justo total, pois quem comete um injusto
particular não deixa de violar a lei, e como tal, praticar
um injusto no sentido mais genérico.
• O justo particular admite divisões: de um lado, é
espécie do justo particular o justo distributivo; de outro
lado, é espécie do justo particular o justo corretivo.
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• O justo distributivo
• A primeira acepção do justo particular, ou seja, o justo distributivo,
relaciona-se com todo tipo de distribuição levada a efeito no Estado
(politeía), seja de dinheiro, seja de honras, de cargos, ou quaisquer
outros bens passíveis de serem participados aos governados.
• O justo particular distributivo realiza-se no momento em que se faz
mister uma atribuição a membros da comunidade de bens
pecuniários, de honras, de cargos, assim como de deveres,
responsabilidades, impostos…
• A distribuição, portanto, atingirá seu justo objetivo se proporcionar
a cada qual aquilo que lhe é devido, dentro de uma razão de
proporcionalidade participativa, pela sociedade, evitando-se, assim,
qualquer um dos extremos que representam o excesso e a falta.
• De fato, a injustiça na distribuição recai em um dos polos, seja
quando pessoas desiguais recebem a mesma quantia de encargos e
de benefícios, seja quando pessoas iguais recebem quantias
desiguais de benefícios e encargos.
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• O que cumpre ora dizer é que não se trata de uma igualdade
qualquer, mas de uma igualdade de acordo com a geometria das
desigualdades entre pessoas relacionadas (uns conhecem mais,
outros agem mais, outros possuem maior técnica e habilidade
manuais…) e coisas envolvidas (honrarias, impostos, deveres,
obrigações, prestígio, salário, remuneração, função social, cargo…).
• Portanto, a justiça distributiva é igualdade de caráter proporcional,
pois é estabelecida e fixada de acordo com um critério de
estimação dos sujeitos analisados.
• A igualdade estabelecida é do tipo geométrico, observando-se a
proporcionalidade da participação de cada qual no critério eleito
pela constituição (politeía).
• A igualdade na distribuição visa à manutenção de um equilíbrio,
pois aos iguais é devida a mesma quantidade de benefícios ou
encargos, assim como aos desiguais são devidas partes diferentes
à medida que são desiguais e que se desigualam.
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• O justo corretivo.
• A segunda acepção do justo particular, o justo corretivo,
consiste no estabelecimento e aplicação de um juízo corretivo nas
transações entre os indivíduos.
• Destina-se a ser aplicada em todo tipo de relação a ser estabelecida
entre indivíduos que se encontrem em uma situação de
coordenação – e não de subordinação, como ocorre com o justo
distributivo –, ou seja, de iguais entre iguais, como particulares e
entre particulares, agindo como indivíduos em paridade de direitos
e obrigações em face da legislação.
• Enquanto a aplicação da justiça para a distribuição obedece à
subjetiva apreciação do mérito eleito pelas formas de governo a
que se vincula, o que implica necessariamente uma
proporcionalidade na repartição do que a cada qual é devido, a
justiça corretiva baseia-se exclusivamente num critério
rigorosamente objetivo de restabelecimento do equilíbrio rompido
entre os particulares: a igualdade aritmética.
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• O justo particular corretivo ainda biparte-se para
abranger tanto as relações baseadas na voluntariedade
do vínculo entre pessoas (compra e venda, locação,
mútuo, garantia, comodato, depósito, pagamento,
depósito...), é o justo particular comutativo.
• Também, abrange, as relações estabelecidas
involuntariamente, surgidas como consequência de
uma clandestinidade ou de uma violência, que atingem
a uma ou a ambas as partes (roubo, adultério,
prostituição, falso testemunho, homicídio doloso,
sequestro, furto, difamação, injúria, lesão física...), é o
justo particular reparativo ou penal.
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• Justo Particular Corretivo:
• É assim que o justo comutativo, voluntário, contratual,
bem compreendido, conduz à noção de reciprocidade
proporcional das trocas dentro da complexa malha
social. São as trocas a base da subsistência da cidade,
na visão histórico-interpretativa apresentada por
Aristóteles. As trocas fazem-se entre objetos diferentes,
produzidos por pessoas diferentes, que recebem
valorações diferentes de acordo com cada sociedade.
• Nas palavras de Aristóteles: “Deste modo, agindo o
dinheiro como uma medida, torna ele os bens
comensuráveis e os equipara entre si; pois nem haveria
associação se não houvesse troca, nem troca se não
houvesse igualdade, nem igualdade se não houvesse
comensurabilidade” .
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• Como representante da procura, o dinheiro tem função


convencional relevante por presidir às trocas. Não sendo
algo que existe por natureza, mas como fruto da criação e
do poder normativo humano, deriva da lei (nómos).
• A moeda é uma convenção que tem função definida de
consentir um desenvolvimento natural das trocas que, por
sua vez, encontram fundamento na própria natureza
humana.
• Sua introdução no contexto das relações sociais veio
dinamizar a comercialização dos produtos, e surgiu mesmo
como uma necessidade premente de pragmatização da vida
comercial, pois o metal mostrou-se inicialmente como
eficaz meio de pesagem e mensuração, mediadora com a
cunhagem e a destinação à circulação, dada a praticidade
de manuseio e a facilidade de transporte e condução.
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• Justo particular reparativo ou judicial


• Pode-se distinguir uma segunda espécie de justiça
aplicável à reparação da situação anterior das partes
que se encontram em relação, a saber, a justiça
particular corretiva reparativa, que cumpre função
primordial no âmbito das interações involuntárias.
• É também a esse conceito aplicável a ideia de igualdade
aritmética, pois o renivelamento das partes se consegue
com o retorno das partes ao status quo ante.
• O sujeito ativo de uma injustiça recebe o respectivo
sancionamento por ter agido como causador (causa
eficiente) de um dano indevidamente provocado a
outrem, assim como o sujeito passivo da injustiça vê-se
ressarcido pela concessão de uma reparação ou
compensação a posteriori com relação ao prejuízo que
sofreu.
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• Assim, há de se ter presente que a justiça reparativa é a necessária


medida de restituição das condições anteriores em que se
encontravam as partes antes que se fizesse entre elas uma
desigualdade involuntária.
• A aproximação entre as partes não existia, e passou a existir desde
que involuntariamente se tornaram vinculadas. O início da relação,
para as partes nela envolvidas, é o início de sua desigualdade.
• Nessa medida, deve-se encetar que a igualdade entre as partes
pode ser rompida de duas maneiras diversas, a saber:
• a primeira por clandestinidade, como nos casos de furto, adultério,
envenenamento, lenocídio (corrupção), falso testemunho, engodo
para escravizar, entre outros;
• a segunda por violência, como no sequestro, na agressão, no
homicídio, no roubo a mão armada, na mutilação, nos insultos e
nas injúrias
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• Aquele que sofreu o mal é chamado de sujeito passivo do injusto, e é


o que sofreu uma perda, pois um mal lhe foi infligido.
• A injustiça é, em qualquer desses casos, desigualdade aritmética,
cabendo ao juiz, num exercício racional de apreciação do caso
particular, igualar novamente as partes, aplicando ao causador de
uma lesão a pena que corresponde ao delito por este cometido. Com
o restabelecimento da igualdade, atua o juiz de modo a tolher o
ganho, reprimindo a conduta lesiva, e, se possível, fazendo com que
a perda sofrida seja reparada.
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• Justo da cidade e da casa: justo político e justo


doméstico
• Justo político:
• É o cidadão é aquele que governa e que é
governado – capacidade de ser eleito e de
eleger na Assembleia –, e deste conceito
excluem-se aqueles que não possuem o
direito de participação na vida cívica
• Justo doméstico:
• Pode-se dizer que a justiça doméstica tem
como espécies (justiça para com a mulher;
justiça para com os filhos; justiça para com os
escravos).
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• Justo legal e justo natural


• Justo natural:
• O justo natural é aquele que por si próprio por todas as partes possui a
mesma potência e que não depende, para sua existência, de qualquer
decisão, de qualquer ato de positividade, de qualquer opinião ou
conceito. O que é por natureza é tal qual é, apesar de variar, mudar,
relativizar-se, independentemente de outro fator senão a própria
natureza (phýsis).
• Justo legal:
• O justo legal, em contraposição, é aquele que, uma vez posto (positum,
positivado), deixa de ser indiferente, tornando-se necessário. O ato do
legislador de criação da lei torna o indiferente algo necessário. O justo
legal constitui o conjunto de disposições vigentes na pólis que têm sua
existência definida pela vontade do legislador. Tem por objeto tudo
aquilo que poderia ser feito das maneiras as mais variadas possíveis, mas
uma vez que foi convencionada legislativamente, é a esta que se deve
obedecer. A lei possui força não natural, mas fundada na convenção.
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• Nem toda legislação é legítima, o que depende da
finalidade do próprio poder político. Legítima é aquela
conforme à razão e à natureza, que traga repercussões
práticas no sentido de conduzir os cidadãos ao hábito da
virtude.
• Ocorre, também, de ser uma constituição corrompida e,
no entanto, apresentar algumas boas disposições, assim
como ocorre de em uma boa constituição figurarem leis
que contrariem à reta razão.
• A racionalidade humana, mesmo almejando ao bem,
equivoca-se, originando-se normas degeneradas, por
diversos motivos, a saber, por erros de interpretação, por
falta de conexão da norma com a realidade sociocultural,
por má expressão linguística, pela circunstancialidade de
uma medida, entre outros.
• O justo natural, enquanto ideal de aperfeiçoamento da
regra legislativa, atua vetorialmente sobre o legal,
norteando sua reelaboração.
• Equidade e justiça:
• Além do que já se disse acerca do justo e do injusto, deve-se buscar definir as relações
existentes entre a equidade e a justiça.
• É a equidade a correção dos rigores da lei. A necessidade da aplicação da equidade
decorre do fato de que as leis prescrevem conteúdos de modo genérico, indistintamente,
dirigindo-se a todos, sem diferenciar, portanto, possíveis nuances e variações concretas,
Filosofia Plano de aula fáticas, fenomênicas, de modo que surgem casos para os quais, se aplicada a lei (nómos)
em sua generalidade), estar-se-á a causar uma injustiça por meio do próprio justo legal.
4 Os Filósofos antigos: • Aqui a lei não é simplesmente segurança, razão sem paixão, governo da coisa pública… a
A filosofia de Aristóteles lei é injustiça. É exatamente com o intuito de superar os problemas decorrentes da
impossibilidade de haver uma legislação minimamente detalhista e futurista é que existe o
equo.
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• Se a lei é, neste ponto e para estes fins, falha, isso não se deve nem ao
conteúdo da lei em si, nem ao legislador; não se trata de um erro
legislativo, mas sim de um problema oriundo da própria peculiar
conformação das coisas como são praticamente.
• Cada caso é um caso e demanda uma atenção especial e específica,
absolutamente focalizada sobre seus traços e suas características, de modo
que nenhuma legislação poder-se-ia aplicar a esta dimensão dos fatos.
• A equidade é a medida corretiva da justiça legal quando esta engendra a
injustiça pela generalidade de seus preceitos normativos.
• Encontra aplicação, também, quando se faz obsoleta a lei pelas alterações
constantes a que estão sujeitas as circunstâncias fáticas que passam a
contradizer o cristalizado na legislação.
• O justo legal é estanque, enquanto a realidade da práxis é, por essência,
mutante. Para ambas as situações deve-se fazer uso da equidade, o que,
traduzido em termos práticos, significa “ter em conta não a letra da lei,
mas a intenção do legislador; não a parte, mas o todo”
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• Juiz: justiça animada:


• O juiz, na teoria aristotélica, é o mediador de
todo o processo de aplicação da justiça corretiva.
• A própria noção de intermediário do justo
relaciona-se à posição do juiz perante as partes
em contenda, uma vez que é a imparcial e
equidistante personificação da justiça. É um
mediador.
• A posição ocupada pelo juiz na aplicação da lei é
tal que se pode dizer que colocar-se diante do
mesmo é colocar-se diante do justo; o juiz quer
ser como o justo personificado, o juiz é a justiça
encarnada.
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• 3- Teoria organicista da sociedade na Política:


• O homem como bio politikós, por natureza e a sociedade como natural.
Em verdade, há que se dizer, ocorre que, pela própria natureza racional
do homem, ser gregário que é (o homem como um animal político por
natureza, politikon zoon, é um postulado fundamental da teoria política
aristotélica), só pode haver realização humana plena em sociedade.
• Existiria na própria natureza humana um desejo de viver em sociedade,
responsável pela união de muitas famílias e a formação do pequeno
burgo. Essa associação, assim como a família, possui uma utilidade, pois
nela a cooperação entre os indivíduos se amplia e a divisão do trabalho
permite o provimento das necessidades cotidianas.
• Tais fatores são responsáveis pelo natural crescimento do burgo e pela
formação da pólis (a cidade completa). Esta se caracteriza pela
autarquia, isto é, pela autossuficiência econômica, e pela necessidade
de um governo ou constituição política. Em linguagem moderna,
podemos designá-la como Estado, ou seja, uma sociedade organizada
que pressupõe a existência de um poder encarregado da elaboração e
imposição de regras para a convivência social.
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• É exatamente esse modo de vida que, segundo Aristóteles,


distingue o homem dos outros animais, pois, viver em uma
sociedade política exige a capacidade de estabelecer
distinções de natureza moral. Tais distinções, que
estabelecem o que é bom ou mau, certo ou errado, justo
ou injusto, não são dadas pela natureza, mas instituídas
por regras sociais e garantidas por meio da autoridade
política. Aristóteles está na raiz de uma concepção
organicista do Estado segundo a qual este constitui um
todo que dá sentido às suas partes integrantes.
• De acordo com essa concepção, os indivíduos são
elementos da família e está é parte do Estado, o qual deve
ser colocado acima das partes exatamente porque as
contém. O Estado seria um grande organismo de que os
indivíduos seriam membros. O membro só tem sentido
como parte do organismo. Assim, o indivíduo não é um ser
autônomo, que se basta a si mesmo, mas depende da
totalidade social.
• Aplicação Prática Teórica
• A importância de Aristóteles O filósofo
Aristóteles foi considerado o patrono das
ciências escreveu sobre biologia,
matemática, física, lógica, ética, dentre
outras áreas. Suas obras são importantes
até hoje, pois pensamos à maneira
aristotélica. Nesse sentido, leia os artigos
abaixo e responda às indagações que
seguem: "O pensamento de Aristóteles
segue influente no mundo
contemporâneo".
• Disponível
em:http://redeglobo.globo.com/globocie
ncia/noticia/2011/10/pensamento-de-
aristoteles-segue-influente-no-mundo-
contemporaneo.html
• 1. Pesquise, pelo menos, dois exemplos
Filosofia Plano de aula 4 Os que podem comprovar a importância do
pensamento aristotélico no mundo

Filósofos antigos: A filosofia de contemporâneo. Justifique sua escolha

Aristóteles
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Filósofos antigos: A filosofia de
Aristóteles
• Pensamento de Aristóteles segue influente no mundo contemporâneo
• Estética, ética, metafísica, astronomia, biologia e filosofia foram alguns dos
temas e dos campos de interesse do pensador grego Aristóteles, ainda no
século IV a.C.  Muitas de suas reflexões foram pioneiras e serviram como
ponto de partida para os conhecimentos atuais. Outras, porém,
permanecem relevantes, seja porque são obras clássicas e merecem a
leitura, seja porque ainda permanecem atuais.

“A influência do pensamento de Aristóteles nos dias de hoje é muito maior


do que imaginamos. A nossa forma de compreender o mundo é
influenciada pelo pensamento de Aristóteles. A própria forma como
estruturamos o nosso raciocínio é profundamente influenciada por
Aristóteles, inclusive quando consideramos que estamos tirando uma
conclusão. Isso que chamamos hoje de raciocínio lógico tem uma forte
influência de Aristóteles”, diz a doutora em Filosofia pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Cíntia Martins Dias.
• O raciocínio lógico a que Cíntia se refere está relacionado ao que ficou
conhecido como lógica aristotélica, por meio da qual é possível se tirar
conclusões a partir de premissas verdadeiras, dentre outras leis que
permitiriam a dedução. Aristóteles não foi apenas o pioneiro no estudo da
lógica, como suas reflexões nesta área continuam válidas.
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• “Ele foi o primeiro a mostrar como funciona o raciocínio.
Todo o estudo de lógica parte da lógica clássica de
Aristóteles. Todo o procedimento de raciocínio, de tirar
conclusões, de generalizações, quem estudou
explicitamente pela primeira vez foi Aristóteles”, diz Cíntia.

Aristóteles também se preocupou em estabelecer os


princípios gerais para se fazer uma ciência. De acordo com a
professora titular de Filosofia da Natureza da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Elena Moraes Garcia, o
grego concluiu que, para isso, era preciso a existência de
“princípios”, de “causas” e de “elementos”, o que
influenciou toda a concepção de ciência posteriormente.

A metafísica de Aristóteles, embora ele não tivesse dado


esse nome aos seus textos que iam além da física, também
tem contribuições extremamente importantes. A ideia de
“substância”, por exemplo, continua aceita, principalmente
entre religiosos. De forma simplificada, a “substância” seria
algo permanente em um objeto que sofre mudanças ao
longo do tempo, uma espécie de núcleo imutável.
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Aristóteles

• A busca por respostas levou Aristóteles à zoologia e à astronomia.


Apesar de a teoria geocêntrica que formulou, segundo a qual a
Terra ficava fixa no centro do Universo, circundada por outros
astros, estar obsoleta, ela perdurou por quase 2 mil anos. Foi
somente com o modelo matemático do astrônomo e matemático
polonês Nicolau Copérnico, no século XVI, que o Sol passou ao
centro, com os planetas girando ao seu redor.
• Pai da zoologia, Aristóteles pesquisou o reino animal, chegando a
estudar detalhadamente as estruturas anatômicas de mais de 500
espécies. Pioneiro na classificação de diferentes tipos de animais,
o filósofo grego criou métodos de análises comparativas que
continuam a ser adotados na biologia atual, como o conceito de
anatomia comparada.
• Nas artes, é possível dizer que Aristóteles foi um dos primeiros a
pensar o teatro. Ele estudou a tragédia, a epopeia e a comédia.
Criou, inclusive, critérios objetivos para se analisar um texto
poético. “Pode-se dizer que, como teoria, o pensamento dele
ainda tem a sua validade e ainda pode ser empregado para
compreender a literatura contemporânea. Talvez, não dê conta de
todos os elementos, porque os gêneros mudaram, os contextos
mudaram, mas não se pode falar de obsolescência”, afirma
professora de Língua e Literatura Grega da Universidade de São
Paulo (USP), Adriane da Silva Duarte.
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• Sugestão de Gabarito:
• O objetivo da atividade é oportunizar ao aluno uma aproximação
com o olhar filosófico estimulando a pesquisa, o diálogo e a
reflexão.
• O professor analisará os exemplos trazidos pelos alunos
estimulando diálogo e debate sobre as razões que conduziram à
escolha dos exemplos.
• Aristóteles foi o pensador valorizado na Idade Média. Thomas de
Aquino era um neoaristotélico.
• Usamos até hoje o seu conceito de política, substância, classificação
dos seres vivos ( no Direito: a natureza jurídica de...), conceito de
virtude, equidade, justo meio, retórica, catarse, princípios da lógica,
classificação da justiça, dentre outras contribuições.

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