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BRASÍLIA - DF
Outubro, 2021
Instituto Brasiliense de Direito Público – IDP
Programa de Mestrado Profissional em Direito
As bases políticas da judicialização dos conflitos
INTRODUÇÃO DA OBRA
DESENVOLVIMENTO
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Padrão aqui é utilizado para autora como rótulo de comportamento.
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contra o normal. Esse “modus operandi” de pensamento, obstrui o verdadeiro debate, que
deveria se tratar da escassez de representatividade que essa minoria da população sofre. O
movimento LGBT e sua existência, bem como suas lutas é inegavelmente necessário,
principalmente pelo distanciamento de ideias e representatividade, na visão da autora, também
causados pelo “nós e eles”.
Por mais que a Constituição Federal tenha alçado a igualdade para todos como direito
fundamental, essa realidade está longe de chegar à população LGBT do Brasil. Pois essa
igualdade só foi relativamente atingida por força de medidas judiciais, motivadas pelo altíssimo
grau de violência física e moral cometida contra pessoas da comunidade. Em 2020, pelo 12º ano
consecutivo o Brasil figurou no topo da lista dos países que mais assassinava membros da
comunidade LGBT, no caso os transexuais.2 E dentre esses dozes anos consecutivos, nenhuma
medida foi tomada pelo poder Legislativo para represar esse comportamento, exemplificando o
preconceito arraigado na instituição, que entre outros motivos, teme a opinião pública se voltar
contra seus representantes por legislarem algo desta natureza.
Fazendo um paralelo com a violência doméstica ou especificamente contra a violência
contra a mulher, assim que os índices que sempre foram preocupantes romperam a bolha da
percepção Legislativa Federal e a luta foi levada para dentro do Congresso, leis específicas,
como a Maria da Penha foram elaboradas, mas o mesmo até hoje não aconteceu com a
comunidade LGBT. Ainda no tocante a Lei Maria da Penha, também por iniciativa do poder
judiciário, as mulheres lésbicas que sofressem violência doméstica, receberam proteção
equiparada. Algumas das consequências das lutas do movimento LGBT, além da
conscientização, de explicar o óbvio que são apenas indivíduos, como todos os outros, mas
também detentores de direitos, os quais todos os dias, ainda hoje são desrespeitados a céu
aberto.
Apesar da homoafetividade sempre estar presente na sociedade desde seu alvorecer,
vale destacar que até 17 de Maio de 1990, ainda era tratada como doença, grafada com o sufixo
“ismo” que indicava síndrome ou patologia. A decisão da OMS veio com um atraso de 42 anos,
pois em 1948 foi promulgada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que assegurava a
todos o direito de igualdade, sem preconceitos de raça, origem ou gênero.
2
https://exame.com/brasil/pelo-12o-ano-consecutivo-brasil-e-pais-que-mais-mata-transexuais-no-
mundo/ acesso em 21/10/2021
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https://www.al.sp.gov.br/norma/154836
4
https://www.al.sp.gov.br/norma/168572
5
https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/2001/lei-10948-05.11.2001.html
6
https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/2011/lei-14363-15.03.2011.html
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É a esta altura que se entra no que se convencionou chamar de “ativismo judicial” por
partes dos membros do judiciário na sua tomada de decisão. Como marco histórico para a
comunidade LGBT, no julgamento pelo STF DA ADPF nº 132-RJ7, que mudou o entendimento
do artigo 1.732, trecho do voto do Ministro Ayres Britto,:
Técnica da “interpretação conforme” para viabilizar o descarte de qualquer
intelecção convivência estável desfavorecedora de servidores homoafetivos,
em comparação com a tutela juridicamente conferida à união igualmente
estável de servidores heterossexuais.
Dois anos depois dessa decisão histórica do STF, foi proposto o PL 6.583/2013, que
dispõe sobre o Estatuto da Família, e em seu texto os argumentos delineados pelos Ministros na
confecção dos votos foram incorporados, sendo trazidos também os argumentos sobre a
importância da família no desenvolvimento do indivíduo. Tem-se a crença de que o fator religioso
é um dos impeditivos principais, que dificultam o trâmite das Leis Federais favoráveis à
população LGBT, mas a autora esclarecesse que se trata de aparência, e que esse não é mais o
motivo fundamental que faz os deputados omitir essa matéria.
Para fins de regulação e já com a vanguarda do STF, o Conselho Nacional de Justiça no
de 2013 aprovou a resolução 1758 dispondo e regulando a celebração do casamento civil ou
conversão de união estável, para pessoas do mesmo sexo. Novamente, a regulação não partiu
do Legislativo Federal.
Geralmente, quando o judiciário por intermédio de seus poderes, concedem direitos e
garantias ou modificam entendimentos de textos, ocorre o efeito “Backlash”, que se quantifica
em uma reação política, em virtude do resultado de uma decisão judicial, que á princípio caberia
ao congresso. Conforme se extrai do texto, mesmo após todos esses anos da decisão do STF e
do CNJ, e em que pese propostas terem sido apresentadas, nenhuma reação efetiva veio do
Legislativo Federal, preterindo ainda mais a comunidade LGBT, rotulando seus direitos e
garantias como resultado de mero “ativismo judicial”.
Recentemente, também em razão do vácuo legislativo, o STF na ADO 26 9, enquadrou a
homofobia e transfobia ao crime de racismo, o que trouxe proteção e regulação ao crime de
homofobia, o qual também não conta com texto Legislativo Federal.
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njur.com.br%2Fdl%2Fvoto-ministro-ayres-britto-julgamento.pdf&clen=145074&chunk=true
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https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/1754
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http://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=414010
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As únicas reações advindas do Legislativo Federal neste sentindo, são as tentativas de sustar
tais decisões judiciais, como é trazido no texto, a Frente Parlamentar Evangélica (FPE), em duas
tentativas diferentes, tentou desfazer o que foi sentenciado nos processos judiciais, no entanto
não levantaram argumentos apenas de natureza religiosa, mas sim que o STF estaria invadindo
competências do Legislativo Federal. O que se extrai da observação da autora, é que de todos
os textos apresentados entre 1995 e 2017, houve mudança na base dos argumentos, no
sentindo que se encontravam menos discursos de tradicionalismo e religião e mais sobre a
autonomia Legislativa e o perigo do ativismo judicial.
O que se deve levar em conta, é um diagnóstico simples de ser evidenciado, caso não
fossem as decisões judiciais, obtidas na luta dos membros da comunidade LGBT, esse grupo
social até hoje não teria direito nenhum! A atuação do Judiciário para sanar a omissão do poder
público, na proteção de um grupo social de risco, foi vanguarda na garantia e respeito ao
individuo homoafetivo, pois são mais de 20 anos desde a primeira propositura de ação no
Congresso, neste ano completou-se 10 anos da decisão do STF que reconheceu a união
homoafetiva como legítima e ainda não há nenhuma decisão definitiva por parte do Congresso
Federal sobre a questão de Leis e políticas para a população LGBT.
A comunidade LGBT existe, seus indivíduos trabalham, estudam, pagam seus impostos,
participam do desenvolvimento da sociedade com seu intelecto, sua perseverança, são sujeitos
detentores de direitos e garantias e necessitam, como tantos outros grupos minorizados e
marginalizados, lutar por seu espaço na sociedade. Não há Legislação Federal que regulamenta,
adoção, imposto de renda em conjunto, dentre outras definições que são simples e
imperceptíveis para quem é heteroafetivo, mas que sua ausência, marginaliza e traz indignidade
ao grupo homoafetivo. Esse vácuo de decisão precisa ser preenchido, e a judicialização desses
direitos, foi o caminho que trouxe dignidade e segurança jurídica para a comunidade LGBT, o
que é a base de um estado democrático de direito.
CONCLUSÃO
Hoje vigora a união estável entre pessoas do mesmo sexo, também em decisão judicial
histórica o STF removeu a restrição preconceituosa que impedia membros da comunidade LGBT
de doarem sangue. A autora enfatiza bem, que os interesses ou a falta deles do Legislativo
Federal também se trata de jogo político, pois nem sempre o argumento é religioso ou
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tradicional, mas que também envolve a queda de braço na Praça dos Três Poderes, onde apoio
a um projeto pode significar perda de sustentação de outro, que a troca de votos e o conchavo
político, no tocante aos direitos da pessoal homoafetiva, acabam se sobressaindo, impedindo um
debate claro e conclusivo sobre os direitos e garantias de um grupo da sociedade que sofre
todos os dias com o preconceito e a marginalização. Ainda há muito pelo que se lutar quando a
matéria envolve o direito homoafetivo, e enquanto as instituições se digladiam entre si em busca
do protagonismo e da palavra final a comunidade LGBT segue cada vez mais na sub-
representação e sem ver seus direitos garantidos a nível Federal em virtude de Lei.