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DANIEL SARMENTO ADEMAR BORGES

Professor Titular de Direito Constitucional da UERJ Professor de Direito Constitucional do IDP

PARECER

Embargos de Declaração na ADC nº 49: modulação temporal e a questão dos

UZ
créditos de ICMS nas transferências de mercadorias entre estabelecimentos da

CR
mesma pessoa jurídica

ES
SUMÁRIO: 1. A Consulta. 2. Ampla extensão dos embargos de

M
declaração no controle concentrado de constitucionalidade. 3. O fato

:11 O
gerador do ICMS e o descabimento do estorno fundado no art. 155, §

:26 L G
2º, II, CF/88. 4. A não cumulatividade do ICMS e os problemas gerados
pelo julgamento da ADC nº 49 para contribuintes, estados e sociedade.
5. Modulação temporal e apelo ao legislador. Aplicação da técnica ao
22 AE
caso. 6. Resposta aos Quesitos
2 - CH
02 MI

1. A Consulta
2/2 2 -
6/0 15

Consulta-nos a Via S.A., por intermédio do seu advogado Maurício Pereira Faro,
: 2 801

a propósito dos embargos de declaração opostos pelo Estado do Rio Grande do Norte
diante da decisão do Supremo Tribunal Federal proferida na Ação Declaratória de
Em 889

Constitucionalidade (ADC) nº 49.


2

Narra a Consulente que o Pleno do STF julgou improcedente o pedido formulado


r: 0

na aludida ADC, declarando, assim, a inconstitucionalidade de dispositivos da Lei


po

Complementar – LC nº 87/1996 (Lei Kandir), que previam a incidência do Imposto sobre


Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS sobre o deslocamento de mercadorias entre
sso

estabelecimentos do mesmo titular, incluídas as transferências interestaduais.


pre

De acordo com a Consulente, após o julgamento do mérito, foram opostos


Im

embargos de declaração pelo Estado do Rio Grande do Norte, visando a sanar omissões
e obter a modulação temporal dos efeitos da decisão de inconstitucionalidade ante a
possíveis danos à segurança jurídica, para que ela passe a surtir efeitos apenas a partir do
exercício financeiro subsequente ao término do julgamento. O ente federativo sustenta
1
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que a decisão promove complexos impactos tributários: desequilibra a arrecadação dos


estados, majora a carga tributária efetiva para os contribuintes, com reflexos danosos nos
preços das mercadorias, e inviabiliza a fruição de benefícios fiscais.

UZ
O recurso passou a ser apreciado, no Plenário Virtual, a partir de 10 de setembro,

CR
tendo o relator, Min. Edson Fachin, votado (i) para explicitar que a decisão não afasta o
direito ao crédito de ICMS relativo à operação anterior, sendo inexigível o estorno dos

ES
créditos; (ii) para esclarecer que a declaração de inconstitucionalidade da autonomia dos

M
estabelecimentos deu-se tão somente com o fim de afastar a cobrança do ICMS “na

:11 O
transferência de mercadorias entre estabelecimentos de titularidade da mesma pessoa

:26 L G
jurídica, não repercutindo em deveres instrumentais”; e (iii) para modular os efeitos da

22 AE
decisão de inconstitucionalidade, a fim de que essa tenha eficácia a partir do início do ano
de 2022. Os Ministros Alexandre de Moraes e Carmen Lúcia acompanharam o relator, e
2 - CH
um pedido de vista do Min. Luís Roberto Barroso suspendeu o julgamento, que retornará
02 MI

no próximo dia 8 de outubro.


2/2 2 -

Segundo a Consulente, a aplicação da decisão do STF na ADC nº 49, sem


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ajustes, acarreta grave insegurança jurídica e pode causar enormes danos econômicos,
especialmente ao setor varejista, bem como aos próprios consumidores. Como explica a
: 2 801

Consulente, as grandes redes varejistas contam com Centros de Distribuição (“CDs”), que
Em 889

por vezes atendem a quase todo o território nacional. Nesses CDs, concentram-se as
compras de mercadorias para revenda, que são, então, transferidas para os diversos
2

estabelecimentos varejistas da mesma empresa, localizados em diferentes estados da


r: 0

federação. Na entrada das mercadorias nesses CDs, é tomado o crédito de ICMS pela
po

respectiva aquisição. Contudo, como depois da decisão do STF o ICMS não irá mais ser
exigido em caso de transferências de mercadoria entre estabelecimentos do mesmo titular,
sso

surgem as incertezas em relação ao que fazer com esses créditos: há a necessidade de


pre

estorno do crédito do imposto nas entradas? Em não sendo devido o estorno, os CDs
poderão transferir esses créditos aos estabelecimentos varejistas, inclusive os localizados
Im

em outros estados, embora não ocorra a exigência do ICMS nas transferências


interestaduais de mesma titularidade?

2
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Para a Consulente, esses problemas decorrentes da decisão do STF impactam


diretamente o custo das operações das empresas de varejo e os preços finais das
mercadorias. Isso porque, mesmo se afastado o estorno dos créditos de ICMS – na linha

UZ
do voto do Min. Edson Fachin –, os CDs não conseguirão utilizá-los em curto espaço de

CR
tempo, ao passo que os estabelecimentos varejistas deverão desembolsar recursos em
valor bem maior, em razão da cobrança do imposto no estado destino, sem que tenham

ES
como compensar o que foi pago nos estados em que localizados os CDs.

M
A Consulente nos apresentou estudo elaborado pela Tendências Consultoria

:11 O
Integrada, intitulado “Consequências e impactos econômicos da mudança imediata na

:26 L G
cobrança do ICMS (ADC 49) para o varejo”, em que se aponta que a decisão proferida

22 AE
na referida ação declaratória de constitucionalidade tende a gerar dramáticas
consequências financeiras para o setor do varejo, já fortemente debilitado pela crise
2 - CH
econômica que o país atravessa, impactando, ainda, a arrecadação dos estados, os
02 MI

consumidores e a economia como um todo.


2/2 2 -

Diante desse cenário, formula a Consulente os seguintes quesitos:


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a) Da decisão de mérito na ADC nº 49 resulta o dever das empresas de estornar


: 2 801

créditos de ICMS das operações anteriores à transferência de mercadorias entre


estabelecimentos do mesmo titular, incluídas as transferências interestaduais?
Em 889

b) Se não for exigível o estorno, é possível a transferência desses créditos de


2

ICMS entre os estabelecimentos da mesma pessoa jurídica, inclusive na hipótese de


r: 0

transferências interestaduais de mercadorias, uma vez que houve o reconhecimento da


po

inconstitucionalidade da autonomia dos estabelecimentos para o efeito de cobrança do


sso

ICMS?

c) Se existir o direito à transferência dos créditos do ICMS, o que seria necessário


pre

para a sua operacionalização segura?


Im

d) No caso discutido, é cabível a modulação temporal dos efeitos da decisão?


Em que extensão? Sob quais justificativas? Para quais utilidades?

3
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Antes de responder aos quesitos formulados, é necessário assentar algumas


premissas teóricas do parecer, o que se passa a fazer.

UZ
2. Ampla extensão dos embargos de declaração no controle concentrado de

CR
constitucionalidade

ES
Disciplinados pelos arts. 1.022 a 1.026 do CPC/15, os embargos de declaração

M
se voltam ao esclarecimento de obscuridades, à eliminação de contradições, ao

:11 O
:26 L G
enfrentamento de omissões e à correção de erros materiais em qualquer decisão judicial.
Para Fredie Didier Jr. e Leonardo Carneiro da Cunha, trata-se de recurso que visa a

22 AE
assegurar a observância do art. 93, inciso IX, CF/88, segundo o qual “todos os
2 - CH
julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as
decisões, sob pena de nulidade [...]”. Isso porque, como pontuam os autores, “[a]
02 MI

omissão, a contradição, a obscuridade e o erro material são vícios que subtraem da


2/2 2 -

decisão a devida fundamentação. Para que a decisão esteja devidamente fundamentada,


é preciso que não incorra em omissão, em contradição, em obscuridade ou em erro
6/0 15

material”.1
: 2 801

Há casos em que os vícios da decisão embargada decorrem de omissões relativas


Em 889

a aspectos relevantes não só para o resultado do julgamento, mas para a própria realidade
fática e para os interesses sociais subjacentes ao processo. Tais vícios também podem ser
2
r: 0

equacionados por meio dos embargos de declaração, sobretudo se presentes em acórdão


proferido em sede de jurisdição constitucional concentrada. Nesse campo, os embargos
po

ganham contornos mais amplos, porque se prestam à tutela da própria ordem


sso

constitucional, e dos bens jurídicos que ela alberga.

Sendo assim, em hipóteses dessa natureza, os embargos de declaração exercem


pre

função que vai além da garantia da coerência interna do julgado. Eles servem também
Im

para aperfeiçoar o exercício do papel do STF de guardião da Constituição (art. 102, caput,

1
Fredie Didier Jr. e Leonardo Carneiro da Cunha. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 3. Salvador:
Juspodivm, 2017, p. 286.
4
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CF/88), evitando que aspectos importantes da questão constitucional deixem de ser


abordados pela Corte, ou que o equacionamento desses temas se dê de forma contraditória
ou obscura.

UZ
Ademais, os acórdãos de mérito proferidos pelo Plenário do STF em ações no

CR
controle abstrato de constitucionalidade são irrecorríveis, ressalvada justamente a
possibilidade de oposição de embargos de declaração (art. 26 da Lei n° 9.868/1999 e art.

ES
11 da Lei n° 9.882/1999). Desse modo, o manejo do único recurso cabível nessas ações

M
deve ser visto com maior generosidade, para evitar lesão irreparáveis a valores

:11 O
constitucionais

:26 L G
Vejam-se, nessa linha, os seguintes trechos de julgados do STF, proferidos em
sede de embargos de declaração: 22 AE
2 - CH

“Se a matéria não foi suscitada pelas partes e o Tribunal não apreciou
02 MI

tais questões [de segurança jurídica e excepcional interesse social], não


se pode, simplesmente, fechar as portas desta Corte em definitivo – já
2/2 2 -

que não é cabível nenhum outro recurso –, mesmo estando presentes


6/0 15

relevantes princípios constitucionais.


Tal posicionamento, a meu ver, é, inclusive, consentâneo com a
: 2 801

natureza objetiva do controle concentrado de constitucionalidade, não


sendo razoável permitir-se, por um descuido dos participantes do
Em 889

processo, ou mesmo por seu receio de enfraquecer sua tese, que haja
consequências adversas ao princípio da segurança jurídica ou a
2

excepcional interesse social.


r: 0

Como afirma Clèmerson Mérlin Clève, ‘A vida é muito mais rica e


complexa que a melhor das teorias’, devendo esta Suprema Corte estar
po

atenta às consequências práticas de suas decisões, de modo que a


comunicação entre norma e fato constitua condição da própria
sso

interpretação constitucional.”2
pre

“[...] é de se ter em mente que os embargos de declaração integram o


julgado e consistem em meio de aperfeiçoamento da prestação
Im

jurisdicional. Se compete a esta nossa Instância Judicante, mesmo não


havendo pedido das partes, modular os efeitos da decisão se presentes
razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, a

2
STF. ADI n° 3.601-ED, Tribunal Pleno, Rel. Min. Dias Toffoli, DJ 15/12/2010.
5
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omissão em suscitar o debate sobre o cumprimento dessas razões é


também nossa. E os embargos de declaração constituem a última
fronteira processual apta a impedir que a decisão de
inconstitucionalidade com efeito retroativo rasgue nos horizontes do

UZ
Direito panoramas caóticos, do ângulo dos fatos e relações sociais. É
dizer, panoramas em que a não salvaguarda do protovalor da

CR
segurança jurídica implica ofensa à Constituição ainda maior do que
aquela declarada na ação direta. Passando o sistema constitucional a
experimentar desequilíbrio entre o que se perde e o que se ganha com

ES
a declaração mesma de inconstitucionalidade.”3

M
:11 O
Assim, para integrar e sanar os vícios da decisão proferida na ADC nº 49, o STF

:26 L G
pode e deve considerar outros elementos e possibilidades, além daqueles aventados pelo
embargante – o Estado do Rio Grande do Norte –, inclusive no que concerne à sua
proposta de modulação temporal da decisão. 22 AE
2 - CH
02 MI

3. O fato gerador do ICMS e o descabimento do estorno fundado no art. 155, § 2º,


2/2 2 -

II, CF/88
6/0 15
: 2 801

O principal fundamento empregado pelo STF na ADC nº 49 para afirmar a


inexigibilidade do ICMS nas hipóteses de transferência de mercadorias entre
Em 889

estabelecimentos de mesma pessoa jurídica, foi o de que essa remessa não corresponde
2

ao fato gerador do imposto estadual, nos termos em que delineado pelo art. 155, inciso II,
r: 0

da CF/88.4 Para a Suprema Corte brasileira, esses meros deslocamentos físicos não
po

constituem “operações relativas à circulação de mercadorias”.


sso

O STF, nesse particular, seguiu sua jurisprudência tradicional, que exige a


mudança de titularidade de bens destinados ao consumo para que se caracterize o fato
pre
Im

3
STF. ADI n° 2.797-ED, Tribunal Pleno, Rel. Min. Menezes Direito, Red. p/ ac. Min. Ayres Britto, DJe
28/02/2012.
4
“Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: [...] II - operações relativas
à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de
comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior”

6
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gerador do tributo. Ainda nos anos 70, o Tribunal editara a Súmula nº 573 (DJ de
3/1/1977), segundo a qual “não constitui fato gerador do imposto de circulação de
mercadorias a saída física de máquinas, utensílios e implementos a título de comodato”.

UZ
Nos precedentes que serviram de base ao referido verbete,5 ficou assentado que não é

CR
“qualquer saída” do bem que configura o fato gerador do ICM, mas apenas aquela a
revelar “etapa do processo de circulação de mercadoria, integrando o complexo de

ES
sucessivas transferências desta, desde o produtor até o consumidor”.

M
Após a CF/88, o STF ampliou e sofisticou essa linha de entendimento, deixando

:11 O
clara a necessidade de transferência de titularidade da mercadoria para configuração do

:26 L G
fato gerador do ICMS. No RE nº 158.834/SP,6 por exemplo, o STF afastou a cobrança de

22 AE
ICMS sobre a integração ao ativo fixo de bens produzidos pelo próprio contribuinte. No
voto vencedor, o Min. Marco Aurélio que, para a caracterização do fato gerador do ICMS,
2 - CH
“[r]equer-se, como consta do próprio texto constitucional, a existência de uma operação
02 MI

que faça circular algo passível de ser definido como mercadoria, pressupondo, portanto,
[...] a transferência de domínio”. Desde então, em diversos precedentes, o STF tem
2/2 2 -

reiterado a orientação no sentido de “o simples deslocamento da mercadoria de um


6/0 15

estabelecimento para outro da mesma empresa, sem a transferência de propriedade, não


: 2 801

caracteriza[r] a hipótese de incidência do ICMS”.7


Em 889

O STF reafirmou essa ratio decidendi, especificamente em relação às


transferências interestaduais de mercadorias entre estabelecimentos de mesma
2

titularidade, antes mesmo do julgamento da ADC nº 49. Na apreciação do ARE nº


r: 0

1.255.885/MS, em regime de repercussão geral (Tema nº 1.099), a Corte decidiu:


po
sso
pre

5
STF – Pleno, RE 70.538/GB, Rel. Min. Thompson Flores, DJ de 1/10/1971; STF – 2ª T., RE 79.335/GB,
Rel. Min. Leitão de Abreu, DJ 22/11/1974; STF – 2ª T., RE 74.850/SP, Rel. Min. Thompson Flores, DJ
29/3/1974; STF – 1ª T., RE 72.283/SP, Rel. Min. Osvaldo Trigueiro, DJ 14/4/1972.
Im

6
STF – Pleno, RE 158.834/SP, Rel. p/ ac. Min. Marco Aurélio, DJ 5/9/2003.
7
STF – 2ª T., Ag. Rg. no RE 596.983/MG, Rel. Min. Eros Grau, DJ 29/5/2009. Outros, no mesmo sentido:
STF – 2ª T., Ag. Rg. no AI 618.947/MG, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 26/3/2010; STF – 2ª T.; STF – 1ª
T., Ag. Rg. no AI 693.714/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJ 21/8/2009; Ag. Rg. no RE 267.599/MG,
Rel. Min. Ellen Gracie, DJ 11/12/2009.

7
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“Recurso extraordinário com agravo. Direito Tributário. Imposto


Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Deslocamento de
mercadorias. Estabelecimentos de mesma titularidade localizados em
unidades federadas distintas. Ausência de transferência de propriedade

UZ
ou ato mercantil. Circulação jurídica de mercadoria. Existência de
matéria constitucional e de repercussão geral. Reafirmação da

CR
jurisprudência da Corte sobre o tema. Agravo provido para conhecer
em parte do recurso extraordinário e, na parte conhecida, dar-lhe

ES
provimento de modo a conceder a segurança. Firmada a seguinte tese
de repercussão geral: Não incide ICMS no deslocamento de bens de

M
um estabelecimento para outro do mesmo contribuinte localizados em

:11 O
estados distintos, visto não haver a transferência da titularidade ou a

:26 L G
realização de ato de mercancia.”8

22 AE
Como se sabe, nossa Suprema Corte voltou a enfrentar o tema na ADC nº 49,
2 - CH
assentando que a transferência de mercadorias entre estabelecimentos da mesma pessoa
02 MI

jurídica, inclusive entre estados diferentes, configura mero deslocamento físico dos bens,
incapaz de configurar fato gerador do imposto. Como consignou o voto do relator, Min.
2/2 2 -

Edson Fachin:
6/0 15
: 2 801

“A hipótese de incidência do tributo é, portanto, a operação jurídica


praticada por comerciante que acarrete circulação de mercadoria e
Em 889

transmissão de sua titularidade ao consumidor final. A operação


somente pode ser tributada quando envolve essa transferência, a qual
2

não pode ser apenas física e econômica, mas também jurídica.


r: 0

[...]
Há anos os julgamentos que discorrem sobre fato gerador do ICMS se
po

dão no sentido de que a circulação física de uma mercadoria não gera


incidência do imposto, visto que não há transmissão de posse ou
sso

propriedade de bens. [...]


Em consequência a esta conclusão, este Supremo Tribunal Federal, a
pre

que compete manter a unidade e a autoridade da Constituição Federal,


entende ser irrelevante que os estabelecimentos do mesmo contribuinte
Im

estejam no mesmo estado federado, ou seja, não configura como fato


gerador de ICMS o deslocamento de mercadorias entre
estabelecimentos do mesmo titular em unidades federativas diferentes:

8
STF – Pleno, ARE 1.255.885, Relator Ministro Presidente, j. 14/08/2020, DJ 15/09/2020.
8
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[...]
Dessa forma, interpretando-se segundo a Constituição da República, a
circulação de mercadorias que gera incidência de ICMS é a jurídica.
Entendo, assim, que o mero deslocamento entre estabelecimentos do

UZ
mesmo titular, na mesma unidade federada ou em unidades diferentes,
não é fato gerador de ICMS, sendo este o entendimento consolidado

CR
nesta Corte, guardiã da Constituição, que o aplica há anos e até os dias
atuais.”

M ES
Portanto, não se trata de hipótese de não incidência ou de isenção, mas pura e

:11 O
simplesmente de inexistência de fato gerador. O ponto é extremamente importante, diante

:26 L G
do que prevê o artigo 155, § 2º, II, da Constituição, segundo o qual, em matéria de ICMS,

22 AE
“a isenção ou não incidência, salvo determinação em contrário da legislação: a) não
implicará crédito para compensação com o montante devido nas operações ou
2 - CH
prestações seguintes; (b) acarretará a anulação do crédito relativo às operações
02 MI

anteriores”. Trata-se de regra que impõe o estorno de créditos do ICMS das operações
tributadas anteriormente, nas hipóteses de não incidência ou de isenção.
2/2 2 -
6/0 15

Tal norma constitucional, contudo, é claramente inaplicável ao caso, exatamente


: 2 801

porque o deslocamento físico da mercadoria entre estabelecimentos do mesmo


contribuinte não corresponde à hipótese de isenção ou de não incidência. Cuida-se, como
Em 889

dito, de simples inocorrência do fato gerador do tributo.


2
r: 0

Foi o que corretamente esclareceu o Min. Edson Fachin, no voto proferido nos
embargos de declaração, já acompanhado pelos Ministros Alexandre de Moraes e Cármen
po

Lúcia:
sso

“Inicialmente, destaco que não há que se falar em omissão quanto a


pre

eventual possibilidade de estorno dos créditos até então adquiridos


pelos contribuintes. A decisão, ora embargada, foi clara ao determinar
Im

a irrelevância da transferência interestadual de mercadorias entre


estabelecimentos do mesmo contribuinte para fins do ICMS. Nesse
sentido, destaco dois trechos relevantes ao tema: [...]

9
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À vista disso, fica evidente que devido a sua irrelevância jurídica para
tributação, trata-se de hipótese integralmente alheia ao disposto no
art.155, §2º, II da Constituição Federal. A transferência interestadual
da mercadoria entre estabelecimentos de uma mesma pessoa jurídica

UZ
equivale, portanto, a mera movimentação física.
Na perspectiva apresentada, a movimentação interestadual em

CR
discussão, por ser meramente física, seria equivalente a trocar a
mercadoria de prateleira, o que configura, indiscutivelmente, hipótese

ES
estranha ao ICMS (DOC. 88, p.13).
A decisão proferida não afasta o direito ao crédito da operação

M
anterior conforme jurisprudência deste E. STF (RE 1.141.756, Tribunal

:11 O
Pleno, relator Marco Aurélio, j.28.09.2020, DJ 10.11.2020) ao que, em

:26 L G
respeito ao princípio da não-cumulatividade, restam mantidos os
créditos da operação anterior.

22 AE
Portanto, inviável o estorno do crédito pelos argumentos suso
mencionados [...].”
2 - CH
02 MI

Aliás, antes do julgamento da ADC nº 49, o STF já tinha se manifestado no


mesmo sentido em sede de repercussão geral, quando decidiu pela manutenção de créditos
2/2 2 -

de ICMS na hipótese de saída temporária de mercadoria a título de comodato. Afinal, no


6/0 15

comodato, não ocorre a transferência de titularidade dos bens temporariamente cedidos.


: 2 801

Como bem destacou o Min. Marco Aurélio, relator do feito, “a saída física de máquinas,
utensílios e implementos, a título de comodato, não constitui fato gerador de ICMS.
Em 889

Inexiste etapa a integrar as sucessivas transferências do produtor ao consumidor.


Ausente operação de saída, descabe cogitar de situação reveladora de exoneração
2
r: 0

tributária – isenção ou não incidência –, a fim de impedir-se o aproveitamento dos


créditos, conforme as balizas versadas no preceito”.9
po

Contudo, o reconhecimento do descabimento do estorno dos créditos –


sso

conquanto louvável e importante – está longe de equacionar os problemas que o


pre

julgamento da ADC nº 49 suscitou para os contribuintes, sob a perspectiva da


Im

9
STF – Pleno, RE 1.141.756, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ 10/11/2020. Eis a ementa do julgado: “ICMS –
CREDITAMENTO – EMPRESA PRESTADORA DE SERVIÇOS DE TELEFONIA MÓVEL – APARELHO
CELULAR – CESSÃO EM COMODATO – POSSIBILIDADE. Observadas as balizas da Lei Complementar
nº 87/1996, é constitucional o creditamento de Imposto sobre Operações relativas à Circulação de
Mercadorias – ICMS cobrado na entrada, por prestadora de serviço de telefonia móvel, considerado
aparelho celular posteriormente cedido, mediante comodato”.
10
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operacionalização do princípio da não cumulatividade do ICMS. É o que se verá no


próximo item.

UZ
4. A não cumulatividade do ICMS e os problemas gerados pelo julgamento da ADC

CR
nº 49 para contribuintes, estados e sociedade

M ES
Outro aspecto fundamental para a compreensão dos efeitos do que foi decidido

:11 O
na ADC nº 49 – e diretriz necessária para o julgamento dos respectivos embargos de

:26 L G
declaração – diz respeito ao princípio da não cumulatividade do ICMS.

22 AE
Como se sabe, o ICMS é imposto que incide sobre sucessivas etapas de
2 - CH
circulação de mercadorias até o consumo final. Por isso, para evitar a sua cobrança “em
02 MI

cascata”, foi imprescindível estruturar o imposto mediante técnica que evitasse a oneração
excessiva sobre o preço final das mercadorias. É aí que entra em cena a não
2/2 2 -

cumulatividade do tributo, consagrada no artigo 155, § 2º, inciso I, segundo o qual o


6/0 15

ICMS “será não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação


: 2 801

relativa à circulação de mercadorias ou prestação de serviços com o montante cobrado


nas anteriores pelo mesmo ou outro Estado ou pelo Distrito Federal”. Nas palavras de
Em 889

Roque Antonio Carrazza:


2
r: 0

“A não cumulatividade no ICMS visa a evitar o indesejável efeito


conhecido como ‘cascata’ ou ‘piramidização’, fenômeno que prejudica
po

as atividades econômicas, já que onera, repetida e sobrepostamente,


todas etapas da circulação de bens e da prestação de serviços.
sso

[...]
Portanto, o princípio da não cumulatividade garante, ao contribuinte,
pre

o pleno aproveitamento dos créditos de ICMS e tem o escopo de evitar


que a carga econômica do tributo (i) distorça as formações dos preços
Im

das mercadorias ou dos serviços de transporte transmunicipal e de


comunicação, e (ii) afete a competitividade das empresas.”10

10
Roque Antonio Carraza. ICMS. 16ª ed. São Paulo: Malheiros, 2012, p. 399-400.
11
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O Supremo também reconhece a relevância da não cumulatividade do ICMS


para a economia nacional. Com efeito, apreciando controvérsia acerca da incidência de
PIS e COFINS sobre os valores auferidos por empresas exportadoras em decorrência de

UZ
transferência de saldo credor de ICMS a terceiros, o Tribunal decidiu:

CR
“EMENTA. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL.
TRIBUTÁRIO. IMUNIDADE. HERMENÊUTICA. CONTRIBUIÇÃO

ES
AO PIS E COFINS. NÃO INCIDÊNCIA. TELEOLOGIA DA NORMA.
EMPRESA EXPORTADORA. CRÉDITOS DE ICMS TRANSFERIDOS

M
A TERCEIROS. [...] III – A apropriação de créditos de ICMS na

:11 O
aquisição de mercadorias tem suporte na técnica da não

:26 L G
cumulatividade, imposta para tal tributo pelo art. 155, § 2º, I, da Lei
Maior, a fim de evitar que a sua incidência em cascata onere

22 AE
demasiadamente a atividade econômica e gere distorções
concorrenciais. [...]”11
2 - CH

Da mesma forma, no RE n° 325.623/MT, o STF assentou:


02 MI

“CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. ICMS. DIFERIMENTO.


2/2 2 -

TRANSFERÊNCIA DE CRÉDITO AO ADQUIRENTE. PRINCÍPIO DA


6/0 15

NÃO-CUMULATIVIDADE. IMPOSSIBILIDADE. [...] 2. O princípio


da não-cumulatividade do ICMS consiste em impedir que, nas diversas
: 2 801

fases da circulação econômica de uma mercadoria, o valor do imposto


seja maior que o percentual correspondente à sua alíquota prevista na
Em 889

legislação. O contribuinte deve compensar o tributo pago na entrada


da mercadoria com o valor devido por ocasião da saída, incidindo a
tributação somente sobre valor adicional ao preço. [...]”12
2
r: 0
po

Portanto, a não cumulatividade é técnica de escrituração de créditos e débitos do


imposto que visa a evitar a sobreposição de incidências e a correlata oneração indevida
sso

do produto ou mercadoria final. Trata-se de norma constitucional estruturante do ICMS.


pre

Qualquer medida que venha a restringir indevidamente esse princípio estará, em última
Im

11
STF – Pleno, RE 606.107/RS, Rel.ª Min.ª Rosa Weber, DJ 25/11/2013.
12
STF – 2ª T., RE 325.623 Ag.Rg., Rel.ª Min.ª Ellen Gracie, DJ 7/12/2006.
12
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análise, comprometendo a essência constitucional do ICMS, tornando-o algo que a


Constituição vedou expressamente: um imposto cumulativo.

O princípio da não cumulatividade impõe que os créditos de ICMS possam ser

UZ
plenamente utilizados pelo contribuinte. Porém, o julgamento da ADC nº 49 levantou

CR
graves problemas práticos para viabilização desse uso, especialmente no setor econômico
do varejo que realiza transferências interestaduais de mercadorias. Senão, vejamos.

ES
Suponha-se um contribuinte que seja uma rede de varejo, com diferentes Centros

M
:11 O
de Distribuição (“CDs”), localizados em diversos estados, e estabelecimentos varejistas,

:26 L G
espalhados por todo o país. Essa pessoa jurídica adquire de terceiros, por seus CDs,
mercadorias para revenda futura. Esses CDs, por sua vez, distribuem essas mesmas
22 AE
mercadorias para os estabelecimentos varejistas, para que estes efetuem as vendas ao
2 - CH
consumidor final. Quando esses CDs adquirem as mercadorias, estas vêm tributadas pelo
ICMS (normalmente, pela alíquota interna do estado), dando direito a créditos do
02 MI

imposto.
2/2 2 -

Na sistemática anterior ao julgamento da ADC nº 49, esses CDs transferiam


6/0 15

mercadorias para estabelecimentos da mesma pessoa jurídica localizados em outros


: 2 801

estados, destacando o ICMS, pela alíquota interestadual, e escoando os créditos do


imposto para os seus varejistas. Esses varejistas, quando da venda ao consumidor final,
Em 889

recolhiam o ICMS pela alíquota interna do estado de sua localização – superior à alíquota
interestadual –, mas descontavam do valor devido os créditos da operação anterior de
2
r: 0

transferência interestadual.
po

Depois do julgamento da ADC nº 49, os CDs continuarão adquirindo


sso

mercadorias para revenda futura, tomando créditos do ICMS em razão dessa operação.
Se não lhes for aplicada a regra do estorno – na linha do voto do Min. Edson Fachin nos
pre

embargos de declaração –, o estabelecimento distribuidor manterá, em sua escrita


contábil, os créditos de ICMS. Contudo, na hora de transferir essas mercadorias para
Im

estabelecimentos varejistas integrantes da mesma pessoa jurídica, mas situados em outras


unidades da federação, não poderá fazer o destaque do ICMS. Com isso, os CDs, segundo

13
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a legislação vigente, não terão como remeter essas mercadorias acompanhadas dos
créditos correspondentes de ICMS.

Temos aí duas consequências desastrosas para o contribuinte: (i) os CDs se

UZ
tornarão “depósitos” de créditos acumulados do ICMS, e será impossível, no mais das

CR
vezes, utilizar integralmente esses créditos; (ii) ao passo que os estabelecimentos
varejistas, em outros estados, terão que recolher o ICMS, devido por ocasião da venda ao

ES
consumidor final, “pela alíquota interna cheia”, uma vez que não terão recebido os

M
créditos por ocasião das transferências interestaduais. Tudo isso em clara afronta ao

:11 O
princípio da não cumulatividade, uma vez que se trata de estabelecimentos da mesma

:26 L G
pessoa jurídica. O custo final da mercadoria evidentemente aumentará, em detrimento do

22 AE
consumidor. Ou seja, haverá grave prejuízo para empresas – em momento em que já estão
debilitadas pela crise econômica –, aumento de preços em desfavor dos contribuintes e
2 - CH
consequente pressão inflacionária.
02 MI

Não bastasse, há também consequências graves, e ainda não devidamente


2/2 2 -

dimensionadas, para os estados da federação. Isso porque – e continuando com o exemplo


6/0 15

antes apresentado –, na sistemática da LC 87/1996 até então vigente, tanto o estado de


localização dos CDs, como aquele em que situados os estabelecimentos varejistas,
: 2 801

arrecadava parte do ICMS envolvido na transferência interestadual de mercadorias. O


Em 889

primeiro fazia jus à alíquota interestadual (menor), e o segundo recebia a diferença entre
a alíquota interna (maior) e a interestadual. Com o julgamento da ADC nº 49, não haverá
2

cobrança do ICMS no estado dos CDs (origem), pela sua transferência aos
r: 0

estabelecimentos varejistas. Tal estado, porém, terá de aceitar o desconto de todos os


po

créditos tomados pelos CDs nele localizados, que realizem essas operações interestaduais,
já que os créditos não poderão ser transferidos para estabelecimentos situados em outras
sso

unidades federativas. Por sua vez, o estado em que localizados os estabelecimentos


pre

varejistas ficará com a arrecadação integral do imposto, cobrado pela “alíquota interna
cheia”, estando, a princípio, desobrigado de aceitar o desconto dos créditos tomados nos
Im

CDs de origem da transferência interestadual.

Em outras palavras, a aplicação da decisão pode acarretar que, no estado onde


localizado o estabelecimento remetente da mercadoria, haja concentração de saldo
14
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acumulado de ICMS, sem obtenção de qualquer receita tributária. Já no estado onde


situado o estabelecimento destinatário, ocorra o recolhimento integral do imposto, “pela
alíquota interna cheia”, uma vez que impossibilitada a compensação com créditos do

UZ
imposto relativos à operação anterior em outro estado. Certamente, alguns estados

CR
perderão muito, em detrimento de outros.

Isso pode desorganizar gravemente as finanças de alguns estados, chegando ao

ES
ponto até de afetar a higidez do pacto federativo13 – pela relevância da arrecadação do

M
ICMS para os entes subnacionais.

:11 O
:26 L G
Em resumo, o julgamento da ADC nº 49, sem as explicitações e ajustes
necessários, terá efeitos negativos muito graves, seja para contribuintes – especialmente
22 AE
para os que promovem remessas interestaduais de mercadorias entre os seus
2 - CH
estabelecimentos –, seja para os estados, ou pelo menos para boa parte deles.
02 MI

Esses efeitos práticos estão, inclusive, claramente desalinhados em relação às


premissas da decisão de mérito na ADC nº 49. Afinal, tal decisão se baseou justamente
2/2 2 -

na ideia de que, para fins de exigência do ICMS – o que envolve, naturalmente, os


6/0 15

respectivos créditos –, deve-se considerar toda a pessoa jurídica do contribuinte, e não


: 2 801

cada um dos respectivos estabelecimentos.


Em 889

É preciso, portanto, engendrar soluções para equacionar esse problema, até para
preservar a ratio inerente à decisão de mérito da ADC nº 49. Do referido racional, infere-
2

se que a transferência interestadual deve ser vista e tratada como mera etapa intermediária
r: 0

e logística entre as operações de aquisição e de revenda das mercadorias. Por isso, o


po

contribuinte deve ter a faculdade de manter e transferir a titularidade do crédito que tomou
sso

em um estado, inclusive para o seu estabelecimento em outro estado, onde ocorrerá a


saída da mercadoria para consumidor final.
pre
Im

13
Uma das exigências mais importantes da federação é o acesso a fontes próprias de receita pelos entes
federados subnacionais, que lhes possibilitem o exercício autônomo das próprias competências. Cf. Daniel
Sarmento e Cláudio Pereira de Souza Neto. Direito Constitucional: teoria, história e métodos de trabalho.
Belo Horizonte: Fórum, 2ª ed., 2014, p. 301-302.
15
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Vale dizer, a não cumulatividade impõe não só a manutenção dos créditos de


entrada pelos estabelecimentos remetentes – afastada a exigência de estorno –, como
também a possibilidade de utilização desses mesmos créditos pelos estabelecimentos

UZ
destinatários, que, subsequentemente, promoverão saídas tributadas em direção ao

CR
consumo final, mesmo quando esses últimos se localizem em outro estado da federação.
Assim, evita-se a acumulação inconstitucional de créditos no estabelecimento remetente,

ES
com a oneração excessiva do imposto em relação ao estabelecimento destinatário. A
dinâmica de aproveitamento dos créditos deve, desse modo, basear-se na pessoa jurídica,

M
e não em cada um dos seus estabelecimentos.

:11 O
:26 L G
Na verdade, tal proposição corresponde à explicitação de consequências

22 AE
inerentes a lógica da decisão de mérito da ADC nº 49, no que concerne à autonomia dos
estabelecimentos. Todavia, concretizá-la demanda a adoção de providências normativas
2 - CH
complexas, além de trabalhosos ajustes nas práticas e rotinas dos fiscos estaduais, bem
02 MI

como nas estruturas e atividades dos próprios contribuintes.


2/2 2 -

Seria necessário que a Corte, além de explicitar essa consequência lógica de sua
6/0 15

decisão, fizesse também um autêntico apelo ao legislador, instando-o à edição das


normas necessárias – seja no plano nacional, por meio de regras do Congresso Nacional
: 2 801

ou do CONFAZ, seja no plano estadual –, de modo a delinear um regime que efetivamente


Em 889

assegure o respeito ao princípio da não cumulatividade para os contribuintes do ICMS,


especialmente para os que realizam transferências interestaduais de mercadorias em seus
2

estabelecimentos.
r: 0
po

Há, contudo, necessidade de tempo e de enorme esforço de múltiplas instituições


para que essas normas sejam produzidas. Nesse contexto, torna-se imperiosa a adoção de
sso

modulação temporal mais ampla dos efeitos da decisão, em tempo bastante superior ao
pre

proposto pelo Min. Edson Fachin, no voto proferido nos embargos declaratórios. É disso
que tratará o próximo item deste parecer.
Im

16
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5. Modulação temporal e apelo ao legislador. Aplicação da técnica ao caso

UZ
Como se sabe, na jurisdição constitucional brasileira, as decisões declaratórias
de inconstitucionalidade proferidas pelo Supremo Tribunal Federal têm, em regra, efeitos

CR
retroativos (ex tunc), já que pertence à tradição do Direito Constitucional brasileiro a ideia

ES
de que lei inconstitucional é lei nula desde o seu nascedouro.14 Contudo, o princípio da
retroatividade não configura dogma absoluto, nem no Brasil, nem na maior parte dos

M
sistemas constitucionais,15 uma vez que, em determinadas hipóteses, a atribuição de

:11 O
efeitos ex tunc ao julgado pode lesar intensamente bens jurídicos tutelados pela

:26 L G
Constituição. Nesses casos, portanto, abre-se margem para a utilização da técnica da

22 AE
modulação temporal de efeitos, prevista, como visto, no art. 27 da Lei n° 9.868/1999.
2 - CH
Na modulação temporal, o que ocorre não é a relativização da supremacia da
Constituição. Afinal, não se admite que lei alguma se sobreponha à própria Carta Maior,
02 MI

ainda que durante algum lapso de tempo. Pelo contrário, cuida-se de buscar, em cenário
2/2 2 -

de complexidade, a solução judicial que melhor atenda à própria Constituição,


6/0 15

considerando todas as normas e valores constitucionais implicados na questão. Isso


porque existem hipóteses nas quais a atribuição de efeitos retroativos à decisão do STF
: 2 801

pode se afigurar até mais danosa a princípios e valores tutelados pela Constituição, do
Em 889

que a manutenção de efeitos passados e mesmo futuros de um ato normativo


inconstitucional.
2
r: 0

Assim, realiza-se nesses casos uma ponderação entre os interesses


constitucionais contrapostos. O que se pondera é o princípio de retroatividade da
po
sso

14
No final do século XIX, Ruy Barbosa já afirmava que “toda medida legislativa, ou executiva, que
desrespeitar preceitos constitucionais, é, de sua essência, nula” (Ruy Barbosa. Os atos inconstitucionais
pre

do Congresso e do Executivo. Rio de Janeiro: Companhia Impressora, 1893, p. 47), entendimento que
continua plasmado na doutrina e na jurisprudência nacionais. O paradigma contrário tem como principal
referência a obra de Hans Kelsen, que defendia a mera anulabilidade das leis inconstitucionais, e,
Im

consequentemente, o caráter desconstitutivo e não retroativo da decisão que afirma a inconstitucionalidade


de ato normativo. Veja-se, a propósito, Hans Kelsen. Teoria Pura do Direito. São Paulo: Martins Fontes,
1995, p. 300.
15
Veja-se, a propósito, Daniel Sarmento. “A eficácia temporal das decisões no controle de
constitucionalidade”. In: Daniel Sarmento (org.). O controle de constitucionalidade e a Lei 9.868/99. Rio
de Janeiro: Lumen Juris, 2001, p. 101-138.
17
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declaração de inconstitucionalidade, e não o postulado maior da supremacia


constitucional.16 Quando o resultado da ponderação for favorável à modulação, esta se
torna obrigatória, e não uma mera faculdade judicial. Trata-se de tutelar princípios

UZ
constitucionais extremamente relevantes – como a proteção da segurança jurídica e do

CR
interesse social –, cuja garantia não pode ficar à mercê de juízos discricionários dos
órgãos julgadores.17

ES
Na ordem jurídica brasileira, a modulação temporal não se limita à atribuição de

M
efeitos ex nunc à decisão proferida pelo STF no controle de constitucionalidade. Dentre

:11 O
outras técnicas decisórias disponíveis, também é possível a manutenção provisória dos

:26 L G
efeitos dos atos normativos questionados – a chamada eficácia pro futuro. Essa
possibilidade foi expressamente contemplada pelo legislador, que, no já citado art. 27 da
22 AE
Lei nº 9.868/1999, estabeleceu que o STF poderá determinar que a decisão de
2 - CH
inconstitucionalidade “só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro
momento que venha a ser fixado” (grifos acrescentados).
02 MI

O STF tem se valido dessa possibilidade em diversas decisões. Na ADI n° 2.240,


2/2 2 -

a Corte julgou inconstitucional a lei estadual que instituíra o Município de Luís Eduardo
6/0 15

Magalhães, sem a observância dos requisitos constitucionais para a criação de novos entes
: 2 801

municipais. Porém, considerando que o Município fora efetivamente criado e estava em


funcionamento há mais de seis anos, o STF absteve-se de pronunciar a nulidade do ato
Em 889

normativo pelo prazo de 24 meses – tempo concedido para que fossem adotadas as
2

medidas normativas necessárias à eventual convalidação da criação do referido ente


r: 0

federativo.18
po

No julgamento conjunto das ADIs n° 875, 1.987, 2.727 e 3.243, ocorrido em


2010, o STF, considerou que havia inconstitucionalidade nas regras que tratavam do
sso

rateio do Fundo de Participação dos Estados nos tributos federais. Porém, o Tribunal
pre

determinou a continuidade da aplicação das normas vigentes por mais quase três anos,
Im

16
Veja-se, a propósito, Ana Paula Ávila. A Modulação dos Efeitos Temporais pelo STF no Controle de
Constitucionalidade. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009, p. 63-67.
17
Cf. Fredie Didier Jr. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 2. Salvador: JusPodivm, 2017, p. 572 (grifos
acrescentados).
18
Cf. STF. ADI 2.240, Tribunal Pleno, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ 03/08/2007.
18
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em nome da proteção à segurança jurídica. No voto condutor do Min. Gilmar Mendes,


proferido nesse caso, registrou-se: “[...] ter-se-á de reconhecer, inevitavelmente, que a
aplicação da lei, mesmo após a pronúncia de sua inconstitucionalidade, pode ser exigida

UZ
pela própria Constituição. Trata-se daqueles casos em que a aplicação da lei mostra-se,

CR
do prisma constitucional, indispensável no período de transição, até a promulgação de
nova lei.”19

ES
Na ADI n° 1.842, o STF declarou a inconstitucionalidade de normas que tinham

M
atribuído ao Estado do Rio de Janeiro a titularidade do poder concedente para a prestação

:11 O
de serviços públicos de saneamento básico em região metropolitana.20 A Corte firmou a

:26 L G
orientação de que a titularidade de tal serviço, em regiões metropolitanas, cabe a um órgão
colegiado, com participação dos municípios envolvidos e do Estado. O Tribunal, porém,
22 AE
determinou a vigência excepcional das normas invalidadas pelo prazo de 24 meses, a
2 - CH
contar do fim do julgamento.
02 MI

Já na ADI n° 4.029, a Suprema Corte reconheceu a inconstitucionalidade formal


da lei resultante da conversão da medida provisória que instituíra o Instituto Chico
2/2 2 -

Mendes. Contudo, como o mesmo vício contaminava inúmeras outras leis, o STF
6/0 15

manteve a vigência e a eficácia do ato normativo em questão, bem como de todos os


: 2 801

demais que apresentassem o mesmo defeito formal, proibindo, porém, o Congresso


Nacional de manter aquele rito procedimental contrário à Constituição na tramitação das
Em 889

medidas provisórias futuras.21


2

Esses são apenas alguns exemplos de decisões de modulação que vão além da
r: 0

eficácia ex nunc, dentre inúmeros outros existentes na jurisprudência do STF. Nesses


po

julgamentos, a Corte, em nome da segurança jurídica e de relevantes interesses sociais,


afastou-se da regra geral da pronúncia de nulidade dos atos inconstitucionais, indo além
sso

da atribuição de eficácia prospectiva às suas decisões. Ela preservou efeitos futuros das
pre

normas ou atos administrativos questionados, por reconhecer que a tutela de outros


Im

19
STF. ADI n° 875, Tribunal Pleno, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe 30/04/2010.
20
STF, ADI 1842, Rel. Min. Luiz Fux, Red. para o ac. Min. Gilmar Mendes, julg. 06/03/2013.
21
Cf. STF. ADI 4.029, Tribunal Pleno, Rel. Min. Luiz Fux, DJe 27/06/2012.
19
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valores constitucionais o justificava. Essa, portanto, é uma possibilidade da jurisdição


constitucional brasileira, que tem sido empregada pelo STF.

O seu uso, mais do que possível, afigura-se muitas vezes indispensável para a

UZ
promoção da solução constitucional adequada para problemas complexos, considerando

CR
todas as suas variáveis e os múltiplos valores e princípios envolvidos. Como consignou
Gilmar Ferreira Mendes, “em determinados casos, a aplicação excepcional da lei

ES
inconstitucional traduz exigência do próprio ordenamento constitucional”.22

M
Uma das hipóteses de decisão com eficácia pro futuro é conhecida como a das

:11 O
“lacunas perigosas”. É o caso em que a falta de norma tratando de determinado assunto –

:26 L G
gerada pela declaração de inconstitucionalidade – pode provocar dano ainda maior do que

22 AE
a preservação temporária da eficácia da norma invalidada. Com a fixação do prazo de
eficácia ulterior da norma declarada inconstitucional, concede-se uma margem para que
2 - CH
o próprio legislador – ou o órgão competente para a edição da norma – supra a lacuna,
02 MI

equacionando a questão que carece de regulação, só que, desta vez, de acordo com as
prescrições constitucionais, tal como definidas pelo STF. Nesse ínterim, preservam-se,
2/2 2 -

no todo ou em parte, os efeitos da norma invalidada, já que tal solução se afigura melhor,
6/0 15

sob a perspectiva dos valores constitucionais envolvidos, do que a ausência de regulação


: 2 801

do tema.
Em 889

O apelo ao legislador, geralmente empregado em conjunto com a técnica de


declaração de inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade, ocorre quando, nas
2

palavras de Luís Roberto Barroso, o STF “reconhece a incompatibilidade de uma norma


r: 0

com a Constituição, mas mantém os seus efeitos, prospectivamente, durante certo


po

período, e formula apelo ao legislador para que, dentro dele, atue, produzindo uma
norma que se ajuste ao parâmetro constitucional, sob pena de, em não o fazendo, ensejar
sso

uma situação de vácuo normativo que poderá ser prejudicial à comunidade”.23 Nessas
pre

hipóteses, há modulação temporal, com atribuição de eficácia pro futuro à decisão, que
Im

22
Gilmar Ferreira Mendes. Jurisdição Constitucional. São Paulo: Saraiva, 1996, p. 297.
23
Luís Roberto Barroso e Patrícia Perrone Campos Mello. “O papel criativo dos tribunais – técnicas de
decisão em controle de constitucionalidade”. Revista da Ajuris, n. 146, p. 295-334, 2019.
20
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vem acompanhada de exortação do órgão legislativo competente, para que edite a norma
necessária ao equacionamento da questão constitucional.

Pois bem. No presente caso, o emprego dessa técnica se justifica.

UZ
CR
Em primeiro lugar, porque a aplicação retroativa ou mesmo imediata dos efeitos
da ADC nº 49 geraria efeitos verdadeiramente dramáticos, em detrimento da segurança

ES
jurídica dos contribuintes e dos próprios entes federativos. Além disso, ela atingiria
gravemente interesses sociais relevantes, pela crise gigantesca que precipitaria para as

M
:11 O
empresas, para os consumidores e para os próprios entes federativos, com reflexos sobre

:26 L G
toda a economia do país. Portanto, estão mais que satisfeitos os requisitos para a
modulação, previstos no art. 27 da Lei nº 9.868/1999.
22 AE
As dimensões jurídicas desse impacto adverso já foram esclarecidas no item
2 - CH
anterior. As dimensões econômicas, por sua vez, foram assim sintetizadas pela
02 MI

Tendências Consultoria Integrada, em documento intitulado “Consequências e impactos


econômicos da mudança imediata na cobrança do ICMS (ADC 49) para o varejo”:
2/2 2 -
6/0 15

a. Alteração na Distribuição Federativa da Arrecadação: dado o


: 2 801

não recolhimento de imposto para o Estado de origem através da


aplicação da alíquota interestadual pelo custo da mercadoria e tendo
em vista a maior arrecadação no Estado destinatário da circulação,
Em 889

uma vez que a incidência do ICMS nas etapas seguintes não terá o
creditamento;
b. Majoração da Carga Tributária Efetiva: considerando o cenário
2
r: 0

de estorno ou impossibilidade de utilização do crédito destacado ou


mesmo de não constituição de crédito pela não incidência, haverá
majoração da carga tributária efetiva. A situação se mostra agravada
po

tendo em vista o fato de diversos contribuintes possuírem incentivos


fiscais que são calculados sobre a transferência, que deixaria de
sso

existir;
c. Insegurança Jurídica: devido à possibilidade de haver
pre

divergência de entendimento entre os Fiscos Estaduais e contribuintes


quanto ao estorno ou não do crédito. Para tanto, há que se considerar
que tal fato pode ser dirimido com a votação e sanção de projeto de lei
Im

complementar, bem como meio de realização de Convênio CONFAZ e


regulações estaduais do ICMS de cada ente. Contudo, até o dado
momento, nenhuma destas opções se concretizou;
d. Adequação de contribuinte às obrigações acessórias: matrizes e
filiais possuem obrigações acessórias distintas. Caso a decisão pela
21
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inconstitucionalidade na autonomia entre estabelecimentos de um


mesmo titular não sofra alterações, as empresas terão que proceder
com mudanças nas Notas Fiscais emitidas (o que, por sua vez, demanda
modificações em softwares de gestão e contabilidade, o que acarreta

UZ
alterações e custos operacionais);
e. Elevação da inflação: o fim dos benefícios fiscais, a perda dos

CR
créditos acumulados de ICMS e o aumento da alíquota efetiva no
destino resultaria em elevação efetiva da carga tributária, com
consequente repasse para o consumidor final, o que pressionaria ainda

ES
mais os índices de inflação em um ambiente macroeconômico de
inflação elevada, de perda de renda dos consumidores e de alto

M
desemprego.
Para as companhias do setor de varejo, pode-se adicionar os seguintes

:11 O
impactos específicos:

:26 L G
f. Reestruturação da cadeia logística e dos centros de distribuição
com prejuízo às áreas afetadas: centros de distribuição são

22 AE
construídos em locais estratégicos para maximizar a eficiência
logística e tributária, tendo sido investidos recursos ao longo dos anos
2 - CH
para diminuir seus custos gerais e permitir que sejam oferecidos preços
mais competitivos. A mudança súbita das regras sem a devida
adequação das Secretarias da Fazenda estaduais pode forçar a
02 MI

alteração das cadeias, com prejuízos na renda e no emprego das áreas


afetadas.
2/2 2 -

g. Perda potencial de até R$ 5,6 bilhões de créditos tributários ao


ano: considerando que cerca de 40% do comércio varejista ultrapassa
6/0 15

as divisas estaduais em operações de mesma titularidade, as dez


: 2 801

maiores empresas do setor podem deixar de acumular até R$ 5,6


bilhões em créditos tributários.
h. Perda de saldo de créditos acumulados: nos últimos 5 anos,
Em 889

somente o estado de São Paulo gerou mais de R$ 19 bilhões de saldo


de crédito de ICMS para o setor varejista. Como há uma série de
restrições para a utilização dos créditos acumulados, as companhias
2

necessitam de tempo para a sua completa utilização, o que não


r: 0

acontecerá caso a decisão da ADC 49 passe a valer imediatamente,


com eventual anulação dos créditos acumulados. A não utilização
po

desses créditos de ICMS, que constituem um ativo lançado em balanço,


demanda que eles sejam retirados da contabilidade das firmas, além de
sso

afetar diretamente seus caixas. A baixa deste ativo impacta tanto no


resultado quanto nos seus índices contábeis de liquidez e solvência” (p.
pre

13-15)
Im

Como se percebe, são impactos adversos gravíssimos, que certamente justificam


a modulação temporal, com efeitos pro futuro, como, inclusive, já reconheceram os
Ministros Edson Fachin, Alexandre de Moraes e Cármen Lúcia, nos votos proferidos nos
embargos de declaração opostos contra o acórdão que julgou a ADC nº 49. Porém, o prazo
22
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de modulação por eles estabelecido – de menos de três meses, com a decisão valendo a
partir de janeiro de 2022 – revela-se absolutamente insuficiente.

Com efeito, a implementação da decisão cria uma série de dificuldades para os

UZ
contribuintes, especialmente para os envolvidos em comércio interestadual, que precisam

CR
de mais tempo para se adaptar. O período é curtíssimo para os contribuintes se adequarem
à nova realidade, sendo necessários esforços que demandam tempo, gastos e energia para

ES
reorganizações estruturais, principalmente em relação aos mencionados Centros de

M
Distribuição, peças-chave na dinâmica do comércio varejista envolvido em transferências

:11 O
interestaduais.

:26 L G
Há necessidade, por outro lado, da edição de normas que assegurem o direito à
22 AE
compensação dos créditos de ICMS nas operações estaduais que envolvam
2 - CH
estabelecimentos da mesma pessoa jurídica, como já ressaltado. O papel precípuo de
normatização nessa matéria é do legislador complementar nacional, nos termos do
02 MI

disposto no art. 146, incisos I e III , alínea “a”, da Constituição Federal.24


2/2 2 -

Ademais, será também fundamental a atuação normativa do CONFAZ, para criar


6/0 15

alguma padronização no tocante, notadamente, às obrigações acessórias relacionadas às


: 2 801

transferências de créditos nas remessas interestaduais de mercadorias entre


estabelecimentos de mesma titularidade. Finalmente, o legislador dos estados também
Em 889

deve ser envolvido, para que adapte sua legislação sobre ICMS, não apenas à decisão do
STF na ADC nº 49, como também à lei complementar nacional e aos regramentos do
2
r: 0

CONFAZ a serem elaborados, após a exortação ao STF.


po

O apelo ao legislador seria dirigido, portanto, a diversas instituições –


sso

Congresso Nacional, CONFAZ, assembleias legislativas. E a elaboração das normas


competentes envolveria não apenas complexidades técnicas, mas também necessidade de
pre

construção de consensos políticos mínimos entre os estados. Evidentemente, não faz


Im

24
Art. 146. Cabe à lei complementar (...) I- dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária,
entre a União, os Estado, o Distrito Federal e os Município; (...) III- estabelecer normas gerais sobre: a)
definição de tributos e suas espécies, bem como, em relação aos impostos discriminados nesta Constituição,
a dos respectivos fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes.
23
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sentido fixar como marco final da modulação pro futuro um prazo que, desde já, sabe-se
irrealizável, como é o caso de janeiro de 2022.

Daí a necessidade real, por imperativos de segurança jurídica e relevante

UZ
interesse social, de a modulação temporal contemplar o início da vigência da decisão a

CR
partir de janeiro de 2023, e não de janeiro de 2022, como foi proposto no voto do Min.
Edson Fachin.

ES
Pode-se, porém, ressalvar dessa modulação aqueles contribuintes que preferirem

M
:11 O
não destacar o ICMS nas operações de transferência de mercadorias entre

:26 L G
estabelecimentos de sua titularidade, inclusive interestaduais. Esses poderão se beneficiar
imediatamente do reconhecimento da inconstitucionalidade realizado no julgamento da
22 AE
ADC nº 49. Desse modo, a modulação não ofenderá a segurança jurídica de nenhum
2 - CH
contribuinte do ICMS.
02 MI

6. Resposta aos Quesitos


2/2 2 -
6/0 15

Diante do que foi exposto, passamos a responder sinteticamente aos quesitos


: 2 801

formulados pela Consulente:


Em 889
2

a) Da decisão de mérito na ADC nº 49 resulta o dever das empresas de estornar créditos


r: 0

de ICMS das operações anteriores à transferência de mercadorias entre


estabelecimentos do mesmo titular, incluídas as transferências interestaduais?
po
sso

Não. Pelo contrário, a decisão afirmou que não ocorre o fato gerador do ICMS,
por ocasião de transferência de mercadorias entre estabelecimentos do mesmo titular. Não
pre

se trata de isenção ou de não incidência, o que afasta a aplicação do art. 155, § 2º, II, da
Constituição. O estorno afrontaria, por outro lado, o princípio constitucional da não
Im

cumulatividade do ICMS.

b) Se não for exigível o estorno, é possível a transferência desses créditos de ICMS entre
os estabelecimentos da mesma pessoa jurídica, inclusive na hipótese de transferências
24
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interestaduais de mercadorias, uma vez que houve o reconhecimento da


inconstitucionalidade da autonomia dos estabelecimentos para o efeito de cobrança do
ICMS?

UZ
Sim. Na realidade, mais do que possível, essa transferência é uma exigência

CR
constitucional, na medida em que serve ao cumprimento pleno do princípio da não
cumulatividade do ICMS. Ademais, a transferência de créditos, na hipótese, consiste em

ES
decorrência lógica da declaração de inconstitucionalidade da autonomia dos

M
estabelecimentos para fins de incidência e exigência do ICMS no âmbito das

:11 O
transferências interestaduais de mercadorias entre estabelecimentos de mesma

:26 L G
titularidade, promovida no julgamento do mérito da ADC nº 49.

22 AE
2 - CH
c) Se existir o direito à transferência dos créditos do ICMS, o que seria necessário para
a sua operacionalização segura?
02 MI

Uma vez assentado esse direito, seria necessário assegurá-lo por meio da edição
2/2 2 -

de normas próprias: lei complementar nacional, Convênio CONFAZ e adaptações das leis
6/0 15

estaduais, tudo de modo a assegurar, no âmbito das obrigações tributárias principal e


: 2 801

acessórias, a justa e segura utilização desses créditos pelos contribuintes. Daí a


importância de a decisão do STF valer-se também da técnica de apelo ao legislador,
Em 889

conjuntamente com a modulação temporal pro futuro.


2
r: 0

d) No caso discutido, é cabível a modulação temporal dos efeitos da decisão? Em que


po

extensão? Sob quais justificativas? Para quais utilidades?


sso

Sim. Mais do que cabível, trata-se de uma necessidade constitucional


impostergável, em homenagem à segurança jurídica e à tutela de relevantes interesses
pre

sociais, ligados aos contribuintes, aos estados e à toda a economia nacional. Diante da
Im

gravidade dos efeitos da decisão, da necessidade de adoção de inúmeras medidas pelos


contribuintes, bem como da edição das normas acima mencionadas, é preciso que a
modulação retarde a eficácia da decisão, pelo menos, até o exercício de 2023. É
patentemente insuficiente a modulação a partir do exercício de 2022, proposta no voto do
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Min. Edson Fachin, proferido nos embargos de declaração opostos contra o acordão
proferida na ADC nº 49.

Por outro lado, é razoável excluir dessa modulação aqueles contribuintes que

UZ
optem por deixarem de destacar, imediatamente, o ICMS nas operações de transferência

CR
de mercadorias entre estabelecimentos de sua titularidade, inclusive interestaduais. Esses
poderão se beneficiar, também imediatamente, do reconhecimento da

ES
inconstitucionalidade realizado no julgamento da ADC nº 49. Desse modo, a modulação

M
não ofenderá a segurança jurídica de nenhum contribuinte do ICMS.

:11 O
:26 L G
22 AE É o parecer.
2 - CH
02 MI

Rio de Janeiro e Brasília, 07 outubro de 2021.


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: 2 801

DANIEL SARMENTO ADEMAR BORGES


Em 889

Professor Titular de Direito Constitucional da UERJ Professor de Direito Constitucional do IDP


Mestre e Doutor em Direito Público pela UERJ Mestre em Direito Constitucional pela UFF
Visiting Scholar na Yale Law School Doutor em Direito Público pela UERJ
2
r: 0
po
sso
pre
Im

26
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