Impetrante: PRATICAR ESPORTES COMÉRCIO DE ARTIGOS ESPORTIVOS
LTDA. Impetrado: ESTADO DO RIO DE JANEIRO Relator: DESEMBARGADOR ROGERIO DE OLIVEIRA SOUZA
ACÓRDÃO
MANDADO DE SEGURANÇA. DIFERENCIAL DE
ALÍQUOTA DE ICMS DIFAL-ICMS. OPERAÇÕES INTERESTADUAIS DESTINADAS A CONSUMIDORES FINAIS NÃO CONTRIBUINTES DO IMPOSTO, SITUADOS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. PRETENSÃO DE SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO DIFAL DO EXERCÍCIO DE 2022 E RESTITUIÇÃO DO QUE FOI PAGO INDEVIDAMENTE. AFASTAMENTO DA ALEGAÇÃO DE QUE O MANDADO DE SEGURANÇA FOI IMPETRADO CONTRA LEI EM TESE. LEI ESTADUAL INSTITUIDORA (Lei n° 7.071/2015) QUE FOI DECLARADA INCONSTITUCIONAL PELO STF A PARTIR DO EXERCÍCIO DE 2022, EM RAZÃO DA INEXISTENCIA DE LEI COMPLEMENTAR. HIPÓTESE QUE NÃO CUIDA DE SUSPENSÃO DE LEI ESTADUAL, MAS DE SUA RETIRADA DO MUNDO JURÍDICO, ENSEJANDO A NULIDADE E INEFICÁCIA. MODULAÇÃO DOS EFEITOS QUE NÃO ALTERA A NECESSIDADE DE OBSERVANCIA DO PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE, AINDA QUE CONSIDERADA A TESE DE REPRESTINAÇÃO DA LEI ESTADUAL. ILEGALIDADE DA EXAÇÃO NO EXERCÍCIO DE 2022. CONCESSÃO DA SEGURANÇA QUE NÃO PRODUZ EFEITOS PATRIMONIAIS EM RELAÇÃO AO PERÍODO PRETÉRITO. ENUNCIADO N°. 271 DA SÚMULA DO STF. CONCESSÃO PARCIAL DA SEGURANÇA. Mandado de segurança preventivo, onde existe justo receio de sofrer violação de direito líquido e certo, de modo que não se exige ato concreto da autoridade coatora, mas a sua possibilidade ante a realização do fato descrito na lei. STF que, por meio do julgamento do RE n°. 1.287.019/DF, firmou a Tese n°. 1.093, estabelecendo que “A cobrança do diferencial alíquota alusivo ao ICMS, conforme introduzido pela Emenda Constitucional nº 87/2015, pressupõe edição de lei
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complementar veiculando normas gerais”. Modulação dos
efeitos da declaração de inconstitucionalidade. Aplicação da mesma solução em relação às respectivas leis dos estados e do Distrito Federal, para as quais a decisão deverá produzir efeitos a partir do exercício financeiro seguinte à conclusão daquele julgamento (2022). Necessária lei complementar, cuja ausência restou sanada com a edição da LC n°. 190/2022, que disciplinou a DIFAL. Lei Estadual n°. 7.071/2015 que foi retirada do mundo jurídico, por ser inconstitucional. Não cabimento da tese de que lei estadual voltou a vigorar a partir do dia 01.01.20222. Hipótese que, acaso admitida, cuidaria de repristinação e não suspensão dos efeitos da lei estadual, ensejando a observância do Princípio da Anualidade. Contribuinte que não pode ser surpreendido com o retorno da vigência de lei declarada inconstitucional, sob pena de malferimento do referido princípio. Pedido de restituição do imposto devidamente recolhido que deve ser reclamado administrativamente ou pela via judicial própria, consoante o disposto no Enunciado n°. 271 da Súmula do STF, eis que a concessão do mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais em relação a período pretérito. Conhecimento e concessão da segurança em parte, para suspender a exigibilidade da cobrança da DIFAL.
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de mandado de
segurança nº 0013607-12.2022.8.19.0000 em que é impetrante PRATICAR ESPORTES COMÉRCIO DE ARTIGOS ESPORTIVOS LTDA e impetrado EXMO. SR. SECRETÁRIO DE ESTADO DE FAZENDA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.
ACORDAM os Desembargadores da 6ª Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade, em CONCEDER EM PARTE A SEGURANÇA, na forma do voto do Desembargador Relator.
Rio de Janeiro, 08 de setembro de 2022.
Rogerio de Oliveira Souza
Desembargador Relator
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Trata-se de Mandado de Segurança impetrado por PRATICAR
ESPORTES COMÉRCIO DE ARTIGOS ESPORTIVOS LTDA em face do Exmº. SECRETÁRIO DE ESTADO DE FAZENDA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, visando a concessão de segurança para suspender a exigibilidade do crédito tributário relativo ao DIFAL (Diferencial de Alíquota do ICMS), nas operações realizadas no curso do ano calendário 2022, que tenham como destinatário final não contribuinte do ICMS situado no Estado do Rio de Janeiro.
O impetrante sustenta que está situada no Estado do Paraná e que
se dedica ao comércio varejista de artigos esportivos; que realiza a venda de mercadorias à consumidores finais, não contribuintes do ICMS, situados no Estado de Rio de Janeiro, se submetendo ao recolhimento do ICMS-DIFAL; que o fundamento constitucional para a exigência do DIFAL é a Emenda Constitucional nº 87/2015 que, ao dar nova redação aos incisos VII e VIII do artigo 145 da CRFB/88, passou a prever que, nas operações interestaduais destinadas a consumidor final não contribuinte, competiria ao Estado de origem a alíquota interestadual do ICMS e ao Estado de destino a diferença entre a alíquota interna e a alíquota interestadual do ICMS; que após a publicação da referida Emenda Constitucional, o CONFAZ publicou o Convênio ICMS nº 93/2015 para instituir e estabelecer as regras gerais para os Estados de destino exigirem o DIFAL; que o Estado do Rio de Janeiro passou a cobrar o DIFAL/ICMS, instituído pela EC 87/2015, com base no Convênio ICMS nº 93/2015 do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz); que a cobrança só poderia ser efetivada após a edição de Lei Complementar, o que viola o Princípio da Legalidade; que o STF, no julgamento do REsp nº 1.287.019/DF, submetido à repercussão geral da matéria, adotou a tese de que “A cobrança do diferencial de alíquota alusivo ao ICMS, conforme introduzido pela Emenda Constitucional nº 87/2015, pressupõe edição de lei complementar veiculando normas gerais”; que o o STF modulou os efeitos do julgamento para o dia 01.01.2022; que somente em 05.01.2022 foi publicada a Lei Complementar nº 190/2022, que instituiu e regulamentou o DIFAL, de modo que somente poderá ser exigido em 01.01.2023.
Deferimento da liminar para suspender a exigibilidade dos créditos
tributários até o julgamento do recurso (000067).
Agravo interno interposto pelo Estado no index 00074, sustentando
que a presente ação não foi albergada pelos efeitos da decisão que reconheceu a necessidade de edição de lei complementar para a cobrança do DIFAL, não havendo óbice, portanto, à cobrança do imposto do exercício de 2022; que não se aplica o Princípio da Anterioridade na hipótese.
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Impugnação do Estado (000101) sustentando que não cabe
mandado de segurança contra lei em tese; que o impetrante não indica o ato administrativo praticado pela autoridade coatora; que foi publicada em 05.01.2022 a Lei Complementar nº 190, regularizando a cobrança do DIFAL introduzido pela EC 87/2015, exatamente nos moldes exigidos pelo STF, em julgamento da ADI nº 5.469/DF e do RE nº 1.287.019/DF (Tema 1.093); que cabe a aplicação do Princípio da Anterioridade na hipótese; que a exigibilidade do DIFAL no exercício em que foi editada a LC n°. 190/2022, não acarreta vulneração da garantia constitucional da anterioridade; que a competência para a instituição do imposto é dos Estados e Distrito Federal; que a Lei Estadual nº 7.071, que dispõe sobre o recolhimento do "DIFAL novo" no Estado do Rio de Janeiro, foi editada em 2015, já tendo se esgotado qualquer prazo de anterioridade eventualmente aplicável, não havendo surpresa ao contribuinte instado a pagar o tributo em 2022; que a referida lei estadual jamais foi julgada inconstitucional e está em vigência; que não merece acolhimento o pleito compensação/restituição dos valores eventualmente recolhidos, porquanto o DIFAL foi e está sendo exigido de forma constitucional e inexiste comprovação de pagamento; que o art. 170 do CTN prevê que o direito de compensação depende de autorização legal, a qual não existe na legislação fluminense; que o , o verbete nº 271 da Súmula do STF determina que a “concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais em relação à período pretérito. Pugna pela denegação da segurança.
Manifestação do Ministério Público pela concessão da segurança
(000123).
De início, cumpre afastar a alegação de que o mandado de
segurança foi impetrado contra lei em tese, eis que se trata de mandado de segurança preventivo, onde existe justo receio de sofrer violação de direito líquido e certo.
Desse modo, não se exige ato concreto da autoridade coatora, mas
a sua possibilidade ante a realização do fato descrito na lei.
No mérito, a controvérsia cinge-se em saber se a pretensão de
suspensão da exigibilidade do crédito tributário relativo ao DIFAL (Diferencial de Alíquota do ICMS), nas operações realizadas no curso do ano calendário 2022, foi albergada pelos efeitos da decisão do STF, que reconheceu a necessidade de edição de lei complementar para a cobrança do DIFAL.
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O STF, por meio do julgamento do RE n°. 1.287.019/DF, firmou a
Tese n°. 1.093, estabelecendo que “A cobrança do diferencial alíquota alusivo ao ICMS, conforme introduzido pela Emenda Constitucional nº 87/2015, pressupõe edição de lei complementar veiculando normas gerais”.
Assim, para a cobrança da exação seria necessária a edição de lei
complementar, cuja ausência restou sanada com a edição da LC n°. 190/2022, que alterou e Lei Kandir e disciplinou a DIFAL.
No entanto, por maioria, o aquela Corte modulou os efeitos da
declaração de inconstitucionalidade das leis estaduais que instituíram o DIFAL a partir de 2022.
tributário. Emenda Constitucional nº 87/2015. ICMS. Operações e prestações em que haja a destinação de bens e serviços a consumidor final não contribuinte do ICMS localizado em estado distinto daquele do remetente. Inovação constitucional. Matéria reservada a lei complementar (art. 146, I e III, a e b; e art. 155, § 2º, XII, a, b, c, d e i, da CF/88). Cláusulas primeira, segunda, terceira e sexta do Convênio ICMS nº 93/15. Inconstitucionalidade. Tratamento tributário diferenciado e favorecido destinado a microempresas e empresas de pequeno porte. Simples Nacional. Matéria reservada a lei complementar (art. 146, III, d, e parágrafo único, da CF/88). Cláusula nona do Convênio ICMS nº 93/15. Inconstitucionalidade. 1. A EC nº 87/15 criou nova relação jurídico-tributária entre o remetente do bem ou serviço (contribuinte) e o estado de destino nas operações com bens e serviços destinados a consumidor final não contribuinte do ICMS. O imposto incidente nessas operações e prestações, que antes era devido totalmente ao estado de origem, passou a ser dividido entre dois sujeitos ativos, cabendo ao estado de origem o ICMS calculado com base na alíquota interestadual e ao estado de destino, o diferencial entre a alíquota interestadual e sua alíquota interna. 2. Convênio interestadual não pode suprir a ausência de lei complementar dispondo sobre obrigação tributária, contribuintes, bases de cálculo/alíquotas e créditos de
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ICMS nas operações ou prestações interestaduais com
consumidor final não contribuinte do imposto, como fizeram as cláusulas primeira, segunda, terceira e sexta do Convênio ICMS nº 93/15. 3. A cláusula nona do Convênio ICMS nº 93/15, ao determinar a extensão da sistemática da EC nº 87/2015 aos optantes do Simples Nacional, adentra no campo material de incidência da LC nº 123/06, que estabelece normas gerais relativas ao tratamento diferenciado e favorecido a ser dispensado às microempresas e às empresas de pequeno porte, à luz do art. 146, inciso III, d, e parágrafo único, da Constituição Federal. 4. Tese fixada para o Tema nº 1.093: “A cobrança do diferencial de alíquota alusivo ao ICMS, conforme introduzido pela Emenda Constitucional nº 87/2015, pressupõe edição de lei complementar veiculando normas gerais”. 5. Recurso extraordinário provido, assentando-se a invalidade da cobrança do diferencial de alíquota do ICMS, na forma do Convênio nº 93/1, em operação interestadual envolvendo mercadoria destinada a consumidor final não contribuinte. 6. Modulação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade das cláusulas primeira, segunda, terceira, sexta e nona do convênio questionado, de modo que a decisão produza efeitos, quanto à cláusula nona, desde a data da concessão da medida cautelar nos autos da ADI nº 5.464/DF e, quanto às cláusulas primeira, segunda, terceira e sexta, a partir do exercício financeiro seguinte à conclusão deste julgamento (2022), aplicando-se a mesma solução em relação às respectivas leis dos estados e do Distrito Federal, para as quais a decisão deverá produzir efeitos a partir do exercício financeiro seguinte à conclusão deste julgamento (2022), exceto no que diz respeito às normas legais que versarem sobre a cláusula nona do Convênio ICMS nº 93/15, cujos efeitos deverão retroagir à data da concessão da medida cautelar nos autos da ADI nº 5.464/DF. Ficam ressalvadas da modulação as ações judiciais em curso. STF - RE: 1287019 DF, Relator: MARCO AURÉLIO, Data de Julgamento: 24/02/2021, Tribunal Pleno, Data de Publicação: 25/05/2021) (grifo nosso).
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Desse modo, para a cobrança da exação é necessária, não só a
edição de lei complementar, mas também, a edição de lei estadual, visto que o STF empregou a mesma solução em relação às respectivas leis dos estados e do Distrito Federal, para as quais a decisão deverá produzir efeitos a partir do exercício financeiro seguinte à conclusão daquele julgamento.
No entanto, o Estado sustenta que a Lei Estadual é aquela editada
sob o n° 7.071/2015, cuja eficácia estaria suspensa e, ao ser editada a Lei Complementar, voltaria a ter eficácia plena.
Contudo, como bem afirmou o Ministério Público ao modular os
efeitos da inconstitucionalidade a partir de 2022, a Lei Estadual n°. 7.071/2015 foi retirada do mundo jurídico em 01.01.2022, por ser inconstitucional.
A declaração de inconstitucionalidade acarreta a nulidade da lei e a
destitui de qualquer eficácia, de modo que a Lei Estadual nº. 7.071/2015 é nula e ineficaz a partir daquele termo, o que ocorreu naquela data apenas porque o STF pode modular os efeitos desta nulidade, pois do contrário ela seria ineficaz ab initio.
Embora não seja a hipótese, outra não seria a solução acaso
adotada a tese do impetrado, de que a referida lei estadual voltou a vigorar a partir da mencionada data, isto porque no caso, estaríamos diante de uma repristinação e não de suspensão, como alegado.
Diz-se repristinação, porquanto a lei é retirada do mundo jurídico e
volta a vigorar, o que não ocorre na hipótese de suspensão, onde a lei se mantém, mas apenas são suspensos os seus efeitos.
Repristinada a lei estadual em 01.01.2022, ela necessariamente
deverá se submeter ao Princípio da Anterioridade, de modo que sua eficácia somente incidiria no exercício de 2023.
Em outras palavras, não cabe ao contribuinte a ciência de que a
norma declarada inconstitucional, voltará a vigorar e, muito menos, a incidir imediatamente, sem observância do Princípio da Anterioridade.
Assim, deve ser concedida a ordem para que não seja exigido da impetrante o DIFAL-ICMS no exercício de 2022.
Contudo, não assiste razão à impetrante quanto ao pedido de
restituição do imposto indevidamente recolhido, eis que a “Concessão de
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mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais em relação a período
pretérito, os quais devem ser reclamados administrativamente ou pela via judicial própria”, consoante o disposto no Enunciado n°. 271 da Súmula do STF.
Do exposto, o voto é no sentido de conceder em parte a
segurança para suspender a exigibilidade da cobrança do DIFAL-ICMS do exercício de 2022 relativamente ao impetrante.
Rio de Janeiro, 08 de setembro de 2022.
Rogerio de Oliveira Souza
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