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Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro


Terceira Câmara Cível
Apelação 0020016-95.2014.8.19.0028 FLS.1
Apelante: MUNICÍPIO DE MACAÉ
Apelado: JOAO BATISTA GONCALVES.
Relator: Des. Fernando Foch
Processo Originário: 0020016-95.2014.8.19.0028
Juízo de Direito da Central da Dívida Ativa
Comarca de Macaé.
ACÓRDÃO

DIREITO TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. IPTU.


SUBSTITUIÇÃO DA CDA. ALTERAÇÃO DO POLO
PASSIVO. IMPOSSIBILIDADE. SENTENÇA MANTIDA.
Pleito de modificação do polo passivo da execução fiscal
de IPTU para constar o promitente comprador.
1. Legislação tributária que permite o ajustamento da
CDA, mesmo que nula, devolvendo o prazo de defesa
do executado, conforme art.2º, § 8º, da LEF e art. 203,
do CTN.
2. Expediente que não se mostra possível na hipótese
dos autos, porquanto a alteração do polo passivo
consiste na substituição do crédito executado, o que não
se admite, sob pena de se alterar o próprio lançamento
realizado.
3. Solidariedade do promitente comprador que não
autoriza a alteração do polo passivo, mas apenas a sua
inclusão na CDA desde o ajuizamento do feito, o que
não foi realizado na presente hipótese. Inteligência do
enunciado de súmula nº. 392, do STJ
4. Recurso ao qual se nega provimento.

Vistos, relatados e discutidos estes autos da Apelação 0020016-


95.2014.8.19.0028, em que é apelante MUNICÍPIO DE MACAÉ e apelado JOAO
BATISTA GONCALVES.

ACORDAM os Desembargadores da Terceira Câmara Cível do


Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade, na sessão a que
se refere a certidão de julgamento, em conhecer do recurso e negar-lhe
provimento, nos termos do voto do Desembargador Relator.

Rio de Janeiro, na data da assinatura eletrônica.

Desembargador FERNANDO FOCH


Relator

Secretaria da Terceira Câmara Cível


Rua Dom Manuel, nº 37, sala 532, Lâmina III
Centro – Rio de Janeiro/RJ – CEP 20010-010
Tel.: + 55 21 3133-6003/3133-6293– E-mail: 03cciv@tjrj.jus.br – PROT. 3204
GF

FERNANDO FOCH DE LEMOS ARIGONY DA SILVA:7581 Assinado em 06/12/2021 19:42:46


Local: GAB. DES FERNANDO FOCH DE LEMOS ARIGONY DA SILVA
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Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro


Terceira Câmara Cível
Apelação 0020016-95.2014.8.19.0028 FLS.2
RELATÓRIO

Trata-se de apelação cível interposta por MUNICÍPIO DE MACAÉ de


sentença que, nos autos da execução fiscal que move em face de JOAO BATISTA
GONCALVES, declarou a nulidade da certidão da dívida ativa e julgou extinto o
feito, sem resolução do mérito, nos termos do art. 485, VI do CPC, em razão da
ausência de legitimidade passiva.1

Nas razões recursais, aduz o apelante que há solidariedade entre o


proprietário e o promitente comprador, no que concerne ao pagamento do IPTU,
razão pela qual não há que se falar em ausência de legitimidade passiva. Alega
que, na hipótese dos autos deve haver mera correção formal da CDA, visto que era
obrigação do contribuinte informar à Secretaria de Fazenda a transferência da
titularidade. 2

A pretensão recursal foi deduzida no sentido de que seja reformada a


sentença para que haja o prosseguimento do feito.

Não houve a apresentação de contrarrazões.

É o relatório.

VOTO

Estão presentes os pressupostos intrínsecos e extrínsecos de


admissibilidade recursal.

Cinge-se a controvérsia à possibilidade de substituição do polo


passivo da execução fiscal, para redirecionamento ao promitente comprador do
imóvel objeto da cobrança de IPTU.

Na hipótese de erro dos dados inseridos, a legislação tributária


permite o ajustamento da CDA, devolvendo o prazo de defesa do executado,
conforme art. 2º, § 8º, da LEF: “Até a decisão de primeira instância, a Certidão de
Dívida Ativa poderá ser emendada ou substituída, assegurada ao executado a
devolução do prazo para embargos.”

No mesmo sentido, a redação do art. 203 do Código Tributário


Nacional:

1
Pasta 14.
2
Pasta 19.
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Terceira Câmara Cível
Apelação 0020016-95.2014.8.19.0028 FLS.3
A omissão de quaisquer dos requisitos previstos no artigo
anterior, ou o erro a eles relativo, são causas de nulidade da
inscrição e do processo de cobrança dela decorrente, mas a
nulidade poderá ser sanada até a decisão de primeira
instância, mediante substituição da certidão nula, devolvido
ao sujeito passivo, acusado ou interessado o prazo para
defesa, que somente poderá versar sobre a parte modificada.

Entretanto, a Jurisprudência pátria é assente no sentido de que


somente meros erros materiais ou formais possibilitam a substituição da CDA,
sendo vedada a modificação de atos que importem na modificação do próprio
lançamento do crédito tributário, como exemplo a alteração do polo passivo,
hipótese dos autos.

Esse é o teor do enunciado súmula n.º 392 do STJ:

A Fazenda Pública pode substituir a certidão de dívida ativa


(CDA) até a prolação da sentença de embargos, quando se
tratar de correção de erro material ou formal, vedada a
modificação do sujeito passivo da execução.

Nesse sentido, verifica-se que o fundamento da impossibilidade de


substituição do polo passivo da execução fiscal é a nulidade do lançamento do
tributo.

Dessa forma, a correção a ser realizada não se restringe ao


redirecionamento da execução para sanar a legitimidade passiva, mas se
consubstancia na realização de novo lançamento em nome do promitente
comprador do imóvel, objeto do IPTU.

Não se cuida, assim, de mero erro formal.

Outrossim, a solidariedade do promitente comprador não autoriza a


alteração do polo passivo, mas apenas a sua inclusão na CDA desde o
ajuizamento do feito, o que não foi realizado na hipótese dos autos.

À conta de tais fundamentos, voto no sentido de que a Câmara


conheça do recurso e lhe negue provimento.

Rio de Janeiro, na data da assinatura eletrônica.


Desembargador FERNANDO FOCH
Relator

Secretaria da Terceira Câmara Cível


Rua Dom Manuel, nº 37, sala 532, Lâmina III
Centro – Rio de Janeiro/RJ – CEP 20010-010
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