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Manual de Peças e

Pareceres

Advocacia Pública

Equipe Pedagógica
Coordenação: Prof. Mauro Moreira (Procurador Federal, aprovado na
Magistratura)
PEÇAS PRÁTICAS E PARECER
1) Petição Inicial;
2) Inicial em Reintegração de Posse;
3) Contestação;
4) Apelação;
5) Contrarrazões à Apelação;
6) Recurso Especial;
7) Recurso Extraordinário;
8) Agravo de Instrumento;
9) Parecer;
10) Ação Rescisória;
11) Informação em Mandado de Segurança;
12) Suspensão de Segurança;;
13) Recurso Ordinário;
14) Recurso de Revista;
15) Ação de desapropriação;
Introdução

É de notório conhecimento de todos que o Estado é diariamente acionado no


Poder Judiciário, com um alto número de demandas judiciais, as quais cabe à Fazenda
Pública litigar em busca dos melhores interesses para a Administração.
O papel da Advocacia Pública foi definido após a Constituição de 1988, sendo
certo que é função da Advocacia Pública patrocinar as causas que seu ente público
disputa.
Além da atuação contenciosa, cabem às procuradorias atuar extrajudicialmente
e assessorar consultivamente, em caráter preventivo, os atos tomados pela Administração,
uma vez que o Poder Executivo não dispõe de conhecimento técnico especializado na
seara jurídica para orientar suas decisões.
1) Petição Inicial
A petição inicial é o instrumento necessário para dar início a uma demanda
judicial. No Código de Processo Civil é regulada pelos art. 319 e 320, os quais
estabelecem os requisitos para a sua interposição, como o juízo a que é dirigida,
qualificação das partes, valor da causa, etc. No caso de descumprimento do estabelecido
nesses dispositivos, o juiz intimará o autor para que este emende a inicial no prazo de 15
dias (art. 321), sob pena de indeferimento da inicial. Além disso, a petição inicial poderá
ser indeferida nos termos do art. 330 do CPC.
Dessa forma, é imprescindível observar todos os requisitos no momento da
elaboração da peça.

A estrutura da inicial, portanto, é realizada da seguinte forma:

i) Endereçamento ao Juízo competente;


ii) Qualificação da Fazenda Pública, do réu e identificação
da peça processual cabível;
iii) Exposição breve dos fatos;
iv) Mérito com os fundamentos jurídicos;
v) Opção pela realização ou não da audiência de
conciliação/mediação;
vi) Pedidos (incluindo-se o protesto por provas);
vii) Valor da causa;
viii) Finalização da peça (local, data e assinatura do
procurador de estado);
Exemplo de peça no caso prático
Enunciado: (Procurador do DF – PGDF - Ano: 2013 - Banca: CEBRASPE - Direito
Administrativo e Constitucional) Em 1987, o então governador do Distrito Federal (DF),
atendendo ao pleito dos servidores públicos da Secretaria da Fazenda, resolveu editar
decreto para regulamentar a remuneração desses servidores. No artigo 10 do referido ato
normativo, foi estabelecido reajuste automático, vinculando a remuneração dos servidores
à variação do salário mínimo, de modo a combater a perda inflacionária ocorrida com o
tempo. No referido artigo, foi estabelecido como remuneração dos servidores públicos o
valor referente a vinte salários mínimos. A partir da promulgação da Constituição de 1988,
o governo do DF passou a entender pela inaplicabilidade do decreto em razão de sua
incompatibilidade com o texto constitucional. Inconformados com esse entendimento, os
servidores públicos resolveram ajuizar ação para garantir a aplicabilidade do reajuste
automático. O caso deu ensejo a vários processos judiciais, alguns com concessão de
liminar por juízes de primeira instância, outros com sentença e alguns já com decisões
favoráveis do tribunal de justiça. Ressalte-se que nenhuma das decisões transitou em
julgado, tendo todas elas sido favoráveis aos servidores, e que o STF ainda não decidiu
sobre a matéria. O atual governador, de modo a resolver o problema, resolveu revogar o
decreto e solicitar à Procuradoria-Geral do DF a elaboração de ação judicial para resolver
o caso.
Com base na situação hipotética apresentada, redija, na condição de procurador
responsável pelo caso, a peça processual apta a atender ao interesse público do DF. Ao
elaborar a peça, aborde todos os aspectos de direito material e processual pertinentes ao
caso, observe os aspectos formais, dispense o relatório e não crie fatos novos.

ESPELHO DE PROVA/PEÇA PRÁTICA:


ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL, com
fulcro no art. 102, § 1º; e 103, V, da CF/1988; e art. 1º, parágrafo único, I, da Lei 9.882/1999,
com pedido liminar para declarar a não recepção do art. 10 do Decreto nº.../1987 do Poder
Executivo pela sistema constitucional vigente, com base nos art. 7º, IV; 37, X, da CF/1988,
bem como da Súmula Vinculante nº 4 do STF.
ANOTAÇÕES:
EXECELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL

O DISTRITO FEDERAL, pessoa jurídica de direito público interno, inscrito no CNPJ


nº ..., representado pelo Governador do Distrito Federal e por seu procurador infra-
assinado, vem respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, ajuizar ARGUIÇÃO
DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL, com fulcro no art.
102, § 1º; e 103, V, da CF/1988; e art. 1º, parágrafo único, I, da Lei 9.882/1999, com
pedido liminar para declarar a não recepção do art. 10 do Decreto nº.../1987 do Poder
Executivo pela sistema constitucional vigente, com base nos art. 7º, IV; 37, X, da
CF/1988, bem como da Súmula Vinculante nº 4 do STF.
1. DOS FATOS
Seguindo a orientação do enunciado, o relatório fático fora dispensado.
2. DO CABIMENTO
Nos termos do art. 102, § 1º, da CF/1988, a presente ação é adequada para
impugnar atos comissivos ou omissivos do Poder Público que impliquem em lesão ao
sistema normativo constitucional atual pelo fato destes atos não terem sido recepcionados
pela ordem jurídica superveniente.
Da leitura do art. 4º da Lei 9.882/1999, denota-se que a ação em tela só será
admitida quando não houver outro meio capaz de sanar a lesividade do ato proveniente
do poder público. Nesse sentido, por tratar-se de ato pretérito ao Texto Constitucional de
1988, não é cabível a análise de controle concentrado de constitucionalidade do
dispositivo em questão, tanto pelo fato do decreto já ter sido revogado, quanto pelo fato
de que a discussão dos autos refere-se especificamente sobre sua não recepção pela Carta
Magna.
Segundo o art. 3º da Lei 9.882/1999, que regula o processo e julgamento da
ADPF, a petição inicial deve demonstrar:
Art. 3º: I - a indicação do preceito fundamental que se considera
violado;
II - a indicação do ato questionado;
III - a prova da violação do preceito fundamental;
IV - o pedido, com suas especificações;
V - se for o caso, a comprovação da existência de controvérsia
judicial relevante sobre a aplicação do preceito fundamental que
se considera violado.
2.1. Do preceito violado
Na ação ajuizada em tela questiona-se a violação de dispositivos constitucionais,
quais são os arts. 7º, IV; e 37, X.

2.2. Indicação do ato questionado


Verifica-se que o ato proveniente do Decreto.../1987, bem como de seu art. 10,
estabeleceu o reajuste automático, vinculando a remuneração dos servidores à variação
do salário mínimo sem a edição de Lei específica. Por conseguinte, este ato normativo
encontra-se em dissonância dos preceitos fundamentais do paradigma vigente.

2.3. Da comprovação de controvérsia judicial


Conforme observa-se o caso narrado, o Decreto do executivo deu ensejo a vários
processos judiciais, alguns com concessão de liminar por juízes de primeira instância,
outros com sentença e alguns já com decisões favoráveis do tribunal de justiça. Todavia,
ressalte-se que ainda não foi feita coisa julgada em nenhum dos processos em trâmite,
pois nenhuma das decisões proferidas transitou em julgado. Diante dessa controvérsia,
encontra-se preenchido o requisito do inciso V, art. 3º, da Lei 9.882/1999.

3. DA LEGITIMIDADE ATIVA
Segundo o art. 2º, I, da Lei 9.882/99, as partes que possuem legitimidade ativa
para propor a arguição de descumprimento de preceito fundamental são as mesmas
legitimadas no rol do art. 103 da CF/88. Assim, o inciso V do referido dispositivo atribui
ao Governador de Estado ou do Distrito Federal a competência para a propositura da ação.
Vale registrar que pela literalidade desse dispositivo supracitado, os
procuradores da Advocacia Pública não estão enquadrados no rol. Esse entendimento foi
proferido pelo STF no julgamento de uma ADI no sentido de que a Procuradoria não
possui legitimidade ativa para propor ADI. Assim, a presente peça inicial deve ser
assinada tanto pelo Governador quanto pelo Procurador que prestam subsídios jurídicos
ao chefe do Executivo.

4. DO MÉRITO
Os dispositivos lesionados, art. 7º, IV e art. 37, X, ambos da CF/88, preceituam,
respectivamente, que é vedada a vinculação do salário mínimo como parâmetro para
qualquer fim; e que a remuneração dos servidores somente poderá ser fixada ou alterada
mediante lei específica. Desta forma, é evidente que o caso em análise não observa esses
parâmetros constitucionais por irem em sentido contrário aos artigos citados.
Assim, qualquer vantagem aos servidores deve ser proveniente de Lei específica
que fixe ou altere seus vencimentos ou remunerações. A Constituição é clara, em seu art.
37, X, quanto a este aspecto formal para o reajuste dos salários de servidores públicos.
Ademais, é clarividente a proibição de vinculação do salário mínimo para qualquer fim
com base no art. 7º, IV.
Diante disso, o STF formulou entendimento pacificado, objeto da Súmula
Vinculante nº 4, nos seguintes termos:
Salvo os casos previstos na Constituição, o salário mínimo não
pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem
de servidor público ou de empregado, nem ser substituído por
decisão judicial.
Note-se que a própria Súmula prevê a hipótese de exceção, consoante a própria
constituição prevê em seu art. 201, § 2º. Contudo, esta exceção não se enquadra no caso
em análise, pois que trata de benefícios previdenciários, sendo devida a declaração de não
recepção constitucional do Decreto .../1987, bem como de seu art. 10 quanto ao reajuste
automático com base no salário mínimo vigente.
Além disso, no julgamento da ADPF 33, de relatoria do Min. Gilmar Mendes, o
Tribunal Pleno proferiu a seguinte ementa:
1. Argüição de descumprimento de preceito fundamental
ajuizada com o objetivo de impugnar o art. 34 do Regulamento
de Pessoal do Instituto de Desenvolvimento Econômico-Social
do Pará (IDESP), sob o fundamento de ofensa ao princípio
federativo, no que diz respeito à autonomia dos Estados e
Municípios (art. 60, §4º, CF/88) e à vedação constitucional de
vinculação do salário mínimo para qualquer fim (art. 7º, IV,
CF/88). 2. Existência de ADI contra a Lei nº 9.882/99 não
constitui óbice à continuidade do julgamento de argüição de
descumprimento de preceito fundamental ajuizada perante o
Supremo Tribunal Federal. 3. Admissão de amicus curiae
mesmo após terem sido prestadas as informações 4. Norma
impugnada que trata da remuneração do pessoal de autarquia
estadual, vinculando o quadro de salários ao salário mínimo. 5.
Cabimento da argüição de descumprimento de preceito
fundamental (sob o prisma do art. 3º, V, da Lei nº 9.882/99) em
virtude da existência de inúmeras decisões do Tribunal de Justiça
do Pará em sentido manifestamente oposto à jurisprudência
pacificada desta Corte quanto à vinculação de salários a múltiplos
do salário mínimo. 6. Cabimento de argüição de
descumprimento de preceito fundamental para solver
controvérsia sobre legitimidade de lei ou ato normativo
federal, estadual ou municipal, inclusive anterior à
Constituição (norma pré-constitucional). 7. Requisito de
admissibilidade implícito relativo à relevância do interesse
público presente no caso. 8. Governador de Estado detém
aptidão processual plena para propor ação direta (ADIMC
127/AL, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 04.12.92), bem como
argüição de descumprimento de preceito fundamental,
constituindo-se verdadeira hipótese excepcional de jus
postulandi. 9. ADPF configura modalidade de integração
entre os modelos de perfil difuso e concentrado no Supremo
Tribunal Federal. 10. Revogação da lei ou ato normativo não
impede o exame da matéria em sede de ADPF, porque o que
se postula nessa ação é a declaração de ilegitimidade ou de
não-recepção da norma pela ordem constitucional
superveniente. 11. Eventual cogitação sobre a
inconstitucionalidade da norma impugnada em face da
Constituição anterior, sob cujo império ela foi editada, não
constitui óbice ao conhecimento da argüição de descumprimento
de preceito fundamental, uma vez que nessa ação o que se
persegue é a verificação da compatibilidade.

5. DA CONCESSÃO DE MEDIDA CAUTELAR


A Lei que trata da ADPF, prevê, em seu art. 5º, a possibilidade de concessão de
medida cautelar. O § 3º determina:
§ 3o A liminar poderá consistir na determinação de que juízes e
tribunais suspendam o andamento de processo ou os efeitos de
decisões judiciais, ou de qualquer outra medida que apresente relação
com a matéria objeto da arguição de descumprimento de preceito
fundamental, salvo se decorrentes da coisa julgada.
Diante disso, é imprescindível que seja determinada a suspensão de todos os
processos em trâmite acerca da matéria tratada. O fumus boni iuris é verificado mediante
a aplicação dos dispositivos constitucionais violados (art. 7º, IV; e art. 37, X). Já o
periculum in mora se evidencia na medida em que os processos forem julgados, poderá
ocasionar danos ao erário de forma irreparável, visto que os efeitos da ADPF não poderão
atingir coisa julgada, fazendo com que o Estado arque com os ônus ocasionados por uma
norma não recepcionada pela ordem constitucional estabelecida.

6. DOS PEDIDOS
Por toda a matéria exposta, requer:
a) Seja deferida a concessão de medida cautelar, declarando-se suspensos todos
os processos e os efeitos das decisões de casos correlatos;
b) Seja declarado não recepcionado o Decreto .../1987, ou caso assim não se
entenda, somente o art. 10 deste.
c) Seja determinada a oitiva do Ministério Público, nos termos do art. 7º, da Lei
9.882/1999.
d) Para a prova do alegado, anexa-se a cópia dos dispositivos alvo de
impugnação, com base no art. 3º, III, da Lei 9.882/1999.
Atribui-se à presente causa o valor de R$ 1.000,00 para fins de alçada.
Nesses termos,
Brasília/DF, data ...
Governador do DF
Procurador-Geral do DF

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