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EXCELENTÍSSIMO. SENHOR. DOUTOR.

DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 03ª REGIÃO

Autos nº *****
***., por sua advogada, nos autos da ação de rito ordinário em
epígrafe, que move contra ***, vem respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência, na forma do artigo 994 do CPC, vem interpor o presente AGRAVO EM
RECURSO EXTRAORDINÁRIO, pelos motivos de direito expostos na minuta em
anexo, requerendo-se seu recebimento e processamento, com a oitiva da
Agravada e posterior remessa dos autos ao Colendo Superior Tribunal de Justiça
para julgamento.
Nestes termos,
Pede deferimento.
São Paulo, 16 de março de 2018.

***
MINUTA DE AGRAVO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO

Agravante: ****.
Agravados: ***
Autos n. ***

Egrégio Tribunal,
Colenda Turma,
Ilustres Ministros.

I – DO CABIMENTO DO RECURSO INTERPOSTO e DA TEMPESTIVIDADE

Pela leitura do r. despacho ora impugnado, percebe-se que não


há no dispositivo legal, que autorize a denegação do Recurso Extraordinário,
nenhuma menção que justifique a fundamentação do despacho agravado,
Desse modo a r. decisão guerreada deve ser afastada e dado o
processamento legal ao recurso anterior (originário), haja vista ter preenchido os
requisitos necessários para seu processamento.
Como se vê, o preceito legal não autoriza o Tribunal a quo a negar
seguimento ao Recurso Extraodinário, analisando o mérito da decisão recorrida
e seus fundamentos.
Nesse aspecto, somente o Ministro Relator do STF é que poderá
obstar o seguimento do recurso, mesmo assim, obrigatoriamente, tendo de
fundamentar sua decisão, indicando a Súmula que embasou a decisão
impugnada.
Desse modo, os requisitos estão ora satisfeitos: - houve
denegação do recurso especial; está-se observando o prazo de 15 dias úteis
fixado, considerando que a intimação do Agravante se deu em 26/02/2018,
findando-se o prazo em 20/03/2018.

II- DA BREVE SÍNTESE DOS FATOS:


Trata-se de embargos à execução julgados improcedentes para
afastando a tese de prescrição do Agravante.
Contudo, em que pesem as . argumentações, laborou em
equívoco ao assim decidir, devendo a decisão guerreada ser reformada por este
Ínclito Colegiado, consoante as razões abaixo esposadas.

III – RAZÕES DE REFORMA DA R. DECISÃO AGRAVADA

Em que pese todo o respeito devido ao órgão julgador, a decisão


aqui atacada demanda reforma, conforme se expõe e demonstra a seguir. Ora, é
evidente que o despacho ora atacado analisa tanto o mérito do acórdão
recorrido, como o mérito do Recurso Extraordinário, o que não é da competência
do Tribunal ‘a quo”.
O mérito da decisão recorrida, bem como das razões do Recurso
Extraordinário, deve ser analisado pelo Colendo Superior Tribunal Federal. Assim
sendo, cai totalmente por terra a fundamentação da decisão guerreada, uma vez
que está devidamente demonstrada/comprovada a violação aos vários
dispositivos federais objeto do apelo especial.
Diante de todo o exposto, cabe ainda ressaltar que a matéria
objeto da lide NÃO DIZ RESPEITO A QUESTÕES DE FATO, MAS SIM DE DIREITO, ao
contrário da decisão guerreada, o que por si só faz afastar a incidência da Súmula
07 desta Corte.
A fundamentação exposta nas razões do recurso extraordinário
e ora transcritas demonstram claramente o cumprimento de todos os requisitos
necessários para o seguimento do apelo especial, restando, consequentemente,
devidamente impugnada/combatida a decisão ora hostilizada.
No mais, com o devido respeito à decisão ora agravada, a matéria
tratada em sede de Recurso Extraordinárip não pretende ou, ao menos, não
implica em reexame do campo probatório, mas sim, na interpretação correta dos
dispositivos legais acima apontados, não encontrando impedimento ao seu
processamento.
Por fim, visando evitar a transcrição de fundamentos adotados
anteriormente, resta reiterado/ratificado todo o conteúdo do recurso especial
interposto pelo Agravante.
Caso seja mantido o despacho agravado, estar-se-á diante de
aberração jurídica, sem precedentes, pois o próprio Tribunal que proferiu a
decisão ensejadora do Recurso extremo, teria competência para julgar esse
mesmo recurso, tendo-se em vista que o despacho atacado analisa o mérito do
insurgimento recursal.

II - DA REPERCUSSÃO GERAL DAS QUESTÕES CONSTITUCIONAIS DISCUTIDAS

Ingressa a Recorrente com o presente recurso, demonstrando


nesta oportunidade, a repercussão geral das questões constitucionais que
pretende discutir.
Assim, ao modificar o método de correção da parcela e
substituir a TR, consequentemente modificando as cláusulas contratuais, o v.
acórdão guerreado, violou o art. 5º inciso XXXVI da Carta Magna, haja vista que
considerou o contrato livremente celebrado entre as partes.
E, caso seja mantido o v. acórdão neste particular, estarão
colocando de lado os princípios norteadores do direito contratual, especialmente
o da autonomia da vontade e da força obrigatória dos contratos, os quais dão a
necessária segurança às relações jurídicas, sem os quais não haveria segurança
nem estabilidade nas relações sociais e econômicas, condições fundamentos para
o desenvolvimento de uma sociedade justa.
Por oportuno cabe trazer a jurisprudência proferida por esse
C. Supremo Tribunal Federal, o qual consigna que o art. 5º XXXVI da CF/88 se
aplica a qualquer lei infraconstitucional, seja de direito público ou privado,
mantendo-se assim o direito adquirido e o ato jurídico perfeito.
No julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 493,
Relator o Ministro Moreira Alves, DJ 4.9.1992, este Supremo Tribunal Federal
decidiu que a Lei n. 8.177/91 não poderá alcançar os efeitos futuros de contratos
celebrados anteriormente a ela, em respeito ao direito adquirido

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. - Se a lei


alcançar os efeitos futuros de contratos celebrados
anteriormente a ela, será essa lei retroativa (retroatividade
mínima) porque vai interferir na causa, que e um ato ou fato
ocorrido no passado. - O disposto no artigo 5, XXXVI, da
Constituição Federal se aplica a toda e qualquer lei
infraconstitucional, sem qualquer distinção entre lei de direito
público e lei de direito privado, ou entre lei de ordem pública
e lei dispositiva. Precedente do S.T.F.. - Ocorrência, no caso,
de violação de direito adquirido. A taxa referencial (TR) não e
índice de correção monetária, pois, refletindo as variações do
custo primário da captação dos depósitos a prazo fixo, não
constitui índice que reflita a variação do poder aquisitivo da
moeda. Por isso, não há necessidade de se examinar a questão
de saber se as normas que alteram índice de correção
monetária se aplicam imediatamente, alcançando, pois, as
prestações futuras de contratos celebrados no passado, sem
violarem o disposto no artigo 5, XXXVI, da Carta Magna. -
Também ofendem o ato jurídico perfeito os dispositivos
impugnados que alteram o critério de reajuste das prestações
nos contratos ja celebrados pelo sistema do Plano de
Equivalência Salarial por Categoria Profissional (PES/CP). Ação
direta de inconstitucionalidade julgada procedente, para
declarar a inconstitucionalidade dos artigos 18, "caput" e
parágrafos 1 e 4; 20; 21 e parágrafo único; 23 e parágrafos; e
24 e parágrafos, todos da Lei n. 8.177, de 1 de maio de 1991”.

Além disso, não se pode afastar que o art. 5º XXXVI da


Constituição Federal veio para consolidar definitivamente, o que já estava
disposto no art. 6º da LINDB, ou seja, ambos objetivam proteger direitos
intangíveis, representados pelo ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa
julgada.
Assim, deverão prevalecer os preceitos do mencionado artigo
da Constituição, que são princípios jurídicos que devem vigorar e disciplinar as
relações jurídicas, sem os quais não haveria segurança jurídica nem estabilidade
nas relações negociais, condições fundamentais na sociedade moderna.
Assim, ao afastar a aplicabilidade da TR, em contrato
livremente pactuado entre as partes, o v. acórdão recorrido violou ato jurídico
perfeito, consubstanciado no indigitado dispositivo constitucional, como será
demonstrada a seguir:

III – DA OFENSA AO ARTIGO 5º INCISO XXXVI DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL


Ao dar negar provimento à apelação ao recurso da Recorrente,
mantendo a sentença de primeiro grau, no tocante a aplicabilidade da TR, cujas
clausulas foram livremente firmadas, o v. acórdão guerreado violou o art. 5º
XXXXVI, deixando de reconhecer a eficácia do contrato plenamente aceito pelas
partes.
Isto porque, o contrato firmado constitui ato jurídico perfeito,
posto que presentes todos os requisitos para sua validade devidamente
consumado, segundo a lei vigente em que se efetuou, constituindo manifestação
licita da vontade das partes contratantes, gerador de direitos e obrigações.
Soma-se ao exposto que, aos recursos captados e inerentes aos
contratos firmados no âmbito do SFH caso fosse excluída a TR da relação entre
agente financeiro e mutuário, verificar-se-ia um desequilíbrio contratual - e ainda
grave desatendimento aos dispositivos legais retro citados.

Nesse sentido:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. Sistema Financeiro De


Habitação. Contrato De Mútuo. Impossibilidade De Aplicação
Da TR Como Índice De Correção Monetária Em Contratos
Firmados Antes Da Vigência Da Lei 8.177/1991. Precedentes.
Recurso Provido. (Re 239.620 Ministra Carmem Lúcia)

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. SISTEMA


FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. MÚTUO. SALDO DEVEDOR.
CORREÇÃO MONETÁRIA. TR. ADMISSIBILIDADE. EMBARGOS
DE DIVERGÊNCIA. DISSÍDIO NÃO CONFIGURADO.
CONTRADIÇÃO INEXISTENTE. I. Ausência de vedação legal
para utilização da TR como indexador do contrato sob
exame, ainda que anterior à Lei n. 8.177/1991, desde que
seja o índice que remunera a caderneta de poupança, critério
este avençado. II. Não basta à configuração da divergência a
mera enunciação de tese genérica, mas que haja rigorosa
similitude fático-jurídica entre as espécies. III. Ausente
qualquer contradição, rejeitam-se os aclaratórios." 7. Agravo
regimental desprovido” (DJ 7.8.2006, grifos no original).
Da fundamentação do v. acórdão infere-se que a razão pela qual
a pretensão recursal do recorrente foi improvida, repousa no fato da violação ao
ato jurídico perfeito, e mesmo após os embargos de declaração, o presente caso
permaneceu sem esclarecimento as inconsistências apontadas no recurso de
embargos de declaração.
Logo, a presente postulação sequer depende da análise de
provas, visto que elas não se prestam a garantir a efetividade do processo, razão
pela qual merece reforma o v. acórdão guerreado.

IV - DO PREQUESTIONAMENTO

Como é sabido, em que pese o recurso especial deva ser fundado


na violação de artigos infraconstitucionais federais, isto não significa que o seu
conhecimento dependa de um prequestionamento numérico, para o que basta
que a decisão recorrida seja contrária à inteligência de tais dispositivos.
Em lição sempre atualizada, os renomados doutrinadores Luiz
Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero, esclarecem que:

Não é necessário, contudo, que a decisão recorrida tenha feito


referência expressa aos dispositivos legais que a parte entende
violados. O que importa é que o acórdão recorrido tenha
realmente apreciado a tese jurídica que depende da
compreensão do direito infraconstitucional federal.1 (Grifo
nosso).

Isto posto, visível é o prequestionamento da matéria ventilada


neste recurso especial, tendo sido apresentada em Embargos de Declaração, que
foram rejeitados, de modo que presentes mencionado requisito.

V – DA VIOLAÇÃO AO ARTIGO 1.022 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

1
Código de Processo Civil Comentado artigo por artigo. Ed. Revista dos Tribunais, p. 556/557.
Ainda que não afeta a discussão na esfera constitucional, a falta
de análise dos embargos de declaração, torna necessária análise da matéria posta
em discussão.
Conforme previsto no art. 1.022 que cabem embargos de
declaração, dentre outros requisitos, suprir omissão de ponto ou questão sobre
o qual devia se pronunciar o juiz de oficio ou a requerimento.
Com efeito, sendo requerida manifestação expressa sobre
determinadas questões e não tendo a decisão recorrida o feito, é perfeitamente
cabível esse recurso.
E em total consonância com tal assertiva, o Novo Código de
Processo Civil, com o objetivo de assegurar maior possibilidade de admissão dos
recursos, apresenta o texto do artigo 1.025, nos seguintes termos:

“Consideram-se incluídos no acórdão os elementos que o


embargante suscitou, para fins de pré-questionamento, ainda
que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados,
caso o tribunal superior considere existentes erro, omissão,
contradição ou obscuridade. ”

É o que se dá no presente caso, onde foi afastada a aplicação da


TR, porém nenhum outro índice foi indicado para substituição. Ademais, não há
manifestação quanto a aplicabilidade da TR em contratos firmados
anteriormente à Lei 8.177/91.

Primeiro porque a TR, como se disse, não é nem nunca foi índice
que reflita a correção monetária, o que é reconhecido pelo STF (ADIN 493-0/DF).
É que sua metologia de cálculo indica somente as variações do mercado
financeiro e não o custo da moeda junto ao cidadão comum. Então não
corresponde ao determinado pela Lei 4380/64, não podendo ser utilizada junto
ao SFH.
Como se verifica, a Lei 4380/64 determina que os valores
decorrentes dos contratos habitacionais celebrados no âmbito do Sistema
Financeiro Habitacional, poderão ser reajustados de forma que seja mantido o
"valor monetário da dívida". No mesmo sentido referiram-se o Decreto n. 19, de
30/08.66, o Decreto n. 70, de 21/11/66 e o Decreto 94.548/97.
Ora, tendo sido a Lei originária (Lei 4.380/64) recepcionada como
lei complementar no âmbito da Constituição de 1988 (art. 192) , também o foram
os diplomas legais que a alteraram.
Por esta razão, a decisão recorrida, todavia, afirmou que não
teria ocorrido qualquer omissão no caso em tela, sendo que os pontos relevantes
ao deslinde da demanda teriam sido devidamente examinados, além de não se
manifestar sobre os dispositivos suscitados.
Ademais, exigindo-se prequestionamento das matérias para
ventilá-las em sede de Recurso Extraordinário, não pode o Tribunal a quo deixar
de analisá-las, sendo perfeitamente cabíveis os Embargos de Declaração para
esse fim.
Assim sendo, deve ser declarado nulo e cassado o acórdão
recorrido, por apresentar relevantes omissões, devendo ser devolvido ao
Tribunal a quo, para que se proceda à apreciação das questões levantadas nos
embargos de declaração.

V– DO PEDIDO

Ante o exposto, e pelo que será certamente suprido no notório


saber de Vossas Excelências, requer-se o recebimento e regular processamento
do presente agravo, para, cumpridas as formalidades legais, ao mesmo ser dado
provimento, para fins de ser cassado o r. despacho guerreadoe admitido o apelo
extremo interposto, como medida de direito e justiça.
São Paulo, 16 de março de 2018.

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