Você está na página 1de 7

EXCELENTISSÍMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENNTE DO

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

PARTIDO LMP, pessoa de direito privado, inscrita no CNPJ nº... e inscrito no TSE sob o
nº..., por seu diretório nacional com sede em..., com base no art. 103, VIII da CF, por seu
advogado infra-assinado, com endereço profissional na Rua..., endereço que indica para fins
do art. 77 do CPC, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento no
art. 102, I, “a” da Constituição Federal de 1988 e dispositivos da Lei 9.868/99, propor a
presente.

AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE

Em defesa da Lei Federal nº 11.340/06, elaborada pelo Congresso Nacional e pelo


Presidente da República, conforme especificará ao longo desta petição, nos temos e motivos
que passa a expor.
I. DA BREVE EXPOSIÇÃO DOS FATOS

A violência no âmbito doméstico tem sido um dos principais tópicos em pauta,


abrangendo políticas públicas, a mídia e, infelizmente, sendo acompanhada por um
número alarmante de casos diários.

A Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) trouxe uma medida de proteção


significativa para buscar salvaguardar as vítimas e garantir que o Estado intervenha de
maneira mais rigorosa diante dos agressores.

Dentre os dispositivos apresentados pela referida lei, dois deles despertaram


atenção devido à aplicação contraditória realizada por juízes e tribunais em todo o país,
resultando em uma preocupante instabilidade jurídica e social.

O primeiro dispositivo, previsto no artigo 1º da mencionada lei, estabelece uma


diferenciação no tratamento entre homens e mulheres, criando um mecanismo de
maior proteção para as mulheres.

O segundo dispositivo, disposto no artigo 41, determina que, nos casos de crimes
cometidos com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da
pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099/95 (Lei do Juizado Especial Cível e
Criminal), que é reconhecidamente dotada de disposições despenalizadoras, como a
transação penal, a suspensão condicional do processo, o termo circunstanciado e a
composição civil.

A contradição nas decisões envolve uma violação ao princípio da igualdade


estabelecido no artigo 5º, inciso I, da Constituição Federal, que preconiza a igualdade
de tratamento entre homens e mulheres perante a lei (em contraposição ao artigo 1º
da Lei nº 11.340/2006).

Além disso, a não aplicação da Lei nº 9.099/95 nos casos de violência doméstica
vai de encontro ao artigo 98, inciso I, da Constituição Federal, que trata da criação dos
juizados especiais para tratar, dentre outras questões, de infrações penais de menor
potencial ofensivo (situação na qual se enquadram algumas formas de violência,
inclusive a doméstica), permitindo uma série de benefícios ao agressor.

Diante desse cenário de instabilidade e da necessidade de assegurar a


constitucionalidade da norma, o Partido Político LMP, por meio de seus dois senadores
eleitos no último pleito, busca orientação jurídica para atuar o mais brevemente
possível, considerando o contínuo aumento dos índices de violência, especialmente
devido à falta de aplicação de medidas mais rigorosas previstas na Lei nº 11.340/2006,
em decorrência da compreensão de sua inconstitucionalidade por parte de juízes e
tribunais.

II. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

II.I DO CABIMENTO

O art. 102, inciso I, alínea “a” da Constituição Federal estabeleceu que:

“Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda


da Constituição, cabendo-lhe:

I – Processar e julgar originariamente:

a) A ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou


estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato
normativo federal;

Nesse sentido, constata-se que a atribuição para o processamento e julgamento


da presente ação declaratória de constitucionalidade é originária do Supremo Tribunal.

II.II DA COMPETÊNCIA E CONTROVÉRSIA JUDICIAL

Além disso, como se verificou na norma mencionada anteriormente, a ação


declaratória de constitucionalidade tem como objeto a lei ou ato normativo de natureza
federal. A norma impugnada corresponde a uma lei federal.

Além do exposto, conforme já mencionado, após uma pesquisa, constatou-se


um percentual significativo de decisões judiciais que entendem pela não aplicação da
referida lei, com base no argumento principal de que a norma supostamente violaria o
princípio da igualdade previsto no artigo 5º, inciso I, da Constituição Federal de 1988.

Isso comprova a existência de uma controvérsia judicial relevante, requisito


para a propositura da presente ação, nos termos do artigo 14, inciso III, da Lei
9.868/99, vejamos.

Art. 14. A petição inicial indicará:

III - a existência de controvérsia judicial relevante sobre a


aplicação da disposição objeto da ação declaratória.
Por conseguinte, vejamos entendimento jurisprudencial no seguinte sentido.

AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE. PREFEITO. ICMS


ECOLÓGICO. LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL Nº 148/2018. PETIÇÃO
INICIAL. INÉPCIA. FUNDAMENTOS JURÍDICOS NÃO INDICADOS.
AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE CONTROVÉRSIA JUDICIAL
RELEVANTE. EXTINÇÃO DO FEITO, SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO. I-
Nos termos do artigo 14 , incisos I a III , da Lei nº 9.868 /99, a petição inicial
da ação declaratória de constitucionalidade indicará o dispositivo da lei ou do
ato normativo questionado e os fundamentos jurídicos do pedido; o pedido,
com suas especificações; e a existência de controvérsia judicial relevante sobre
a aplicação da disposição objeto da ação declaratória. II- Não apresentados os
fundamentos jurídicos do pedido, pois não se desincumbiu o requerente de
demonstrar, fundamentadamente, que a Lei Complementar nº 148/2018, do
Estado de Goiás, não viola o texto da Constituição Estadual; e, ainda, não
comprovada a existência de controvérsia judicial relevante sobre a aplicação
do normativo objeto da ADC, imperativo o reconhecimento da inépcia da
petição inicial e, por conseguinte, a extinção da ADC, sem resolução do mérito.
AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE NÃO CONHECIDA.

Portanto, é cabível a ação proposta.

II.III DA LEGITIMIDADE ATIVA

O autor possui legitimidade para propor a ação, conforme estabelecido no artigo


103, inciso VIII da Constituição Federal, e não é necessário comprovar a pertinência
temática em virtude de sua importância para o regime democrático, nos termos do
artigo 2º inciso VII na Lei 9.868/99.
Nesse caso, o diretório nacional do partido político em questão pode atuar como
autor da ação declaratória de constitucionalidade.

Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação


declaratória de constitucionalidade:
VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;

Art. 2o Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade:


VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;

Nesse passo, vejamos entendimento jurisprudência no seguinte sentido.


PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA
COLETIVO. EXECUÇÃO INDIVIDUAL. LEGITIMIDADE. FILIAÇÃO NA
DATA DA PROPOSITURA DA AÇÃO COLETIVA. EXIGÊNCIA.
DESCABIMENTO. 1. Tem-se, na origem, agravo de instrumento interposto
contra decisão do juiz que, na execução individual, rejeitou a impugnação
contra ela apresentada. O Tribunal a quo, de ofício, extinguiu a execução,
afirmando a ilegitimidade ativa dos então agravados, porque não associados à
Associação Nacional dos Aposentados e Pensionistas do IBGE - DAPIBGE na
data da impetração da ação coletiva. 2. Conforme o entendimento desta Corte
Superior, "os efeitos da decisão proferida em mandado de segurança coletivo
alcançam todos os associados, ou parte deles, cuja situação jurídica seja
idêntica àquela tratada na decisão da impetração coletiva, sendo irrelevante
que, no caso, a filiação à Associação impetrante tenha ocorrido após a
impetração do writ" (STJ, AgInt no AREsp XXXXX/RJ , Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, Segunda Turma, DJe de 21/5/2019). 3. A menos que o
título exequendo limite sua abrangência subjetiva aos associados na data da
impetração do mandado de segurança coletivo, descabe a realização da
medida em sede de execução. 4. Aplicação analógica da tese firmada pelo STF
no julgamento do Tema 1.119: "É desnecessária a autorização expressa dos
associados, a relação nominal destes, bem como a comprovação de filiação
prévia, para a cobrança de valores pretéritos de título judicial decorrente de
mandado de segurança coletivo impetrado por entidade associativa de caráter
civil". 5. Afirmada a legitimidade ativa dos exequentes, ficam prejudicadas as
demais teses recursais. 6. Recurso especial provido para reconhecer a
legitimidade ativa dos recorrentes para a execução individual da sentença
coletiva e determinar o retorno dos autos ao Tribunal a quo, a fim de que
prossiga com a execução

Adicionalmente, o partido político em questão possui representação no


Congresso Nacional e foi constituído de acordo com as disposições da Lei 9.096/95, o
que o habilita plenamente para o ajuizamento da presente Ação Declaratória de
Constitucionalidade (ADC).

II.IV DA CONSTITUCIONALIDADE DA NORMA


A Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) tem sua base no artigo 102,
inciso I, alínea "a", da Constituição Federal, bem como na Lei 9.868/99.

“Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda


da Constituição, cabendo-lhe:
I – Processar e julgar originariamente:

a) A ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou


estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo
federal;

O seu objetivo é o de confirmar a constitucionalidade de uma norma federal,


cuja compatibilidade com a Constituição esteja sendo alvo de controvérsia judicial
relevante, como é o caso da Lei 11.340/06.
II.V DA MEDIDA CAUTELAR
A possibilidade de concessão de medida de urgência em sede de ADC se
encontra no art. 21, da Lei 9.868/99 e possui natureza cautelar.

Art. 21. O Supremo Tribunal Federal, por decisão da maioria absoluta de seus
membros, poderá deferir pedido de medida cautelar na ação declaratória de
constitucionalidade, consistente na determinação de que os juízes e os
Tribunais suspendam o julgamento dos processos que envolvam a aplicação
da lei ou do ato normativo objeto da ação até seu julgamento definitivo.

Nesse passo, vejamos entendimento da jurisprudência pátria.

AGRAVO REGIMENTAL EM RECLAMAÇÃO. PERDA DE OBJETO.


CONCESSÃO DE LIMINAR. DECISÃO MONOCRÁTICA RATIFICADA POR
ACÓRDÃO. IMPROVIMENTO. PROMOÇÃO EM CARREIRA POR MEDIDA
CAUTELAR. AFRONTA AO DECIDIDO POR ESTA CORTE NA ADC 4/DF.
PROCEDÊNCIA. I - Não perde objeto a liminar concedida em reclamação que
suspendeu os efeitos de decisão monocrática que afrontava o decidido pelo
STF se a decisão for ratificada em acórdão. II - Ambas as decisões
desrespeitam o decidido por esta Corte, em sede de medida cautelar, na ADC
4/DF, qual seja, não preservar a Fazenda Pública contra o deferimento
generalizado de tutelas antecipatórias, em sede de cognição sumária, sem a
observância dos princípios do contraditório e da ampla defesa. Promoção de
Advogados da União, cautelarmente, o que implica aumento de subsídios. III
- O acórdão veio complementar o que foi decidido monocraticamente. IV -
Agravo improvido. V - Reclamação procedente.

O fumus boni iuris se justifica pelos argumentos apresentados ao longo da


petição e pela documentação anexa.
Já o periculum in mora é comprovado pela existência de inúmeras decisões
controvertidas sobre a aplicação da norma objeto da ação, o que pode causar dano
irreparável para as mulheres vítimas de violência. Assim, não resta dúvidas que na
presente ação é possível ter medida cautelar.

III. DOS PEDIDOS

POR TODO O EXPOSTO, requer:

a) A concessão de medida cautelar com base no art. 21 da lei 9.868/99, para


determinar que os juízes e Tribunais suspendam o julgamento dos processos
que envolvam a aplicação da lei 11.340/06 (cópias anexas, nos termos do art. 14,
parágrafo único, Lei 9.868/99;
b) A intimação do senhor Procurador-Geral da República (representante do MP),
para emitir seu parecer, no prazo de quinze dias, nos termos do art. 19 da Lei
9869/99 e da exigência constitucional do art. 103, §1º da Constituição Federal;
c) Que sejam solicitadas informações do Congresso Nacional e do Presidente da
República;
d) A procedência do pedido de mérito, para que seja declarada a
constitucionalidade da Lei Federal nº 11.340/06 (cópias anexas nos termos do
art. 14, parágrafo único, da Lei 9868/99).

Dar-se o valor da causa de R$...,

Nestes termos, pede deferimento.

Local..., Data...,
Advogado...,
OAB nº...,

Você também pode gostar