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A liberdade, assim, serve para quê?

O Parlamento Indonésio aprovou, em dezembro de 2022, uma revisão do código penal que
criminaliza e pune todos aqueles que praticarem adultério, que tenham relações sexuais fora
do casamento e ainda a coabitação de um casal não casado. Assim, estes serão agora
puníveis com até um ano de prisão ou uma multa, enquanto a coabitação tem uma pena
máxima de seis meses de prisão ou também uma multa. Desta forma, onde está a liberdade
sexual? Qual é a justificação? Não está. Não há. A existência desta lei e de muitas outras
semelhantes a ela em países como a Arábia Saudita, o Afeganistão ou alguns estados da
Índia, não possuem qualquer justificação plausível para a sua entrada em vigor,
representando uma clara violação ao direito à liberdade sexual e apresentando diversas
consequências negativas para os cidadãos.
A lei que torna o sexo antes do casamento crime na Indonésia está rodeada de controvérsia e,
por isso, gerou diversos protestos e largas críticas por parte de grupos estudantis, de
instituições e associações ligadas aos direitos humanos e da comunidade internacional. Deste
modo, foi vista não só como uma violação dos direitos humanos, mas também como uma
interferência do governo na vida privada de todos os cidadãos.
Assim, no meu ponto de vista, e sendo eu uma clara defensora da aplicação absoluta da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, são inúmeras as violações que a aprovação
desta lei acarreta, como é o caso do direito à privacidade e à autonomia pessoal. Por isso, é
de salientar que todas as leis que, tal como esta, criminalizam o sexo antes do casamento
violam o direito dos cidadãos à privacidade e autonomia pessoal, uma vez que o Estado está
a interferir em questões pessoais e privadas da vida das pessoas. Para além disso, estas leis
promovem também a discriminação, dado que são aplicadas, maioritariamente, contra as
mulheres e as “minorias sexuais”. Contudo, é também de realçar que, com a aprovação deste
tipo de leis, existe uma clara quebra dos direitos reprodutivos, podendo as leis que
criminalizam o sexo antes do casamento limitar o acesso a estes e, consequentemente
aumentar o risco de gravidez indesejada e doenças sexualmente transmissíveis.
Mas sendo assim, qual foi a justificação para a existência destas leis? Os defensores de leis
semelhantes a esta apresentam uma justificação para a existência das mesmas, relacionando-
as com a tradição religiosa e cultural da Indonésia, onde muitos cidadãos seguem o
islamismo, que considera o sexo antes do casamento pecado. Desta forma, os grupos
islâmicos conservadores e todos os apoiantes deste tipo de legislação argumentam que a
punição serve como uma forma de dissuasão para todas as pessoas que desejam ter relações
sexuais antes do casamento e que, por isso, pode ajudar a promover quer a moralidade quer
os valores religiosos do país. A liberdade, assim, serve para quê?
Outra das razões que me leva a não acreditar na justificação deste tipo de normas é a sua
ineficácia, uma vez que proibir ou controlar as práticas sexuais dos cidadãos não tem
qualquer tipo de efeito sobre a sua ocorrência. Deste modo, em vez de criar leis retrógradas
que levam ao aumento da violência e que perpetuam ainda mais a discriminação, seria de
todo mais profícuo trabalhar para educar, alertando as pessoas para a importância da
sexualidade consentida e da saúde sexual.
Assim sendo, e reforçando a minha opinião, tenho a realçar que leis como esta, cujo objetivo
é controlar os aspetos sexuais da vida dos cidadãos, proibindo-os de terem relações sexuais
pré-matrimoniais, mostram-se claramente incompatíveis com os valores de uma sociedade
justa e igualitária, uma vez que, devido à sua ineficácia, as mesmas acarretam graves
violações à liberdade individual de cada cidadão, promovendo a discriminação e a violência.
Desta forma, acredito sinceramente que leis como esta não acrescentam nada à nossa
sociedade, muito pelo contrário. Não sendo necessárias, a sua colocação em vigor representa
um recuar na nossa evolução enquanto sociedade e enquanto seres humanos. Por isso, é
importante clarificar que sexualidade consentida, jamais deveria ser punida.

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