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Frei Luís de Sousa

O Romantismo — antinomias
O Romantismo:
antinomias
O Romantismo — antinomias

Significados

1. Antinomia: contradição entre duas ideias, proposições ou princípios racionais.


2. Ancien régime: sistema de governo que vigorou na Europa, principalmente entre
os séculos XVI e XVIII, caracterizado pelo absolutismo e pelo mercantilismo.
3. Polimorfo: que apresenta várias formas.
4. Estuam: fervilham, fervem, agitam.
5. Puluraram: abundaram.
O Romantismo — antinomias

O Romantismo não se apreende numa definição ou numa fórmula. A sua natureza é


intrinsecamente contraditória, aparece constituída por atitudes e movimentos antitéticos,
dificilmente se cristaliza num princípio ou numa solução únicos e incontroversos [...].

Analisemos brevemente algumas das importantes contradições do romantismo. [...] [A]


literatura romântica foi frequentemente uma literatura de evasão, mas também é verdade
que foi, não raras vezes, uma literatura de combate, bem enraizada na história e procurando
agir sobre a história. Com efeito, se muitos românticos foram reacionários e passadistas,
muitos outros românticos, perante o mundo em crise em que estavam situados, procuraram
ardentemente contribuir para o advento de uma sociedade nova, mais justa, mais livre e mais
esclarecida que o ancien régime 2, que se esboroava por toda a Europa.
O Romantismo — antinomias

O romantismo sente-se atraído pelo passado, em geral, e pela Idade Média, em


particular, mas constitui, sob muitos aspetos, uma manifestação de franca
modernidade, pretendendo criar uma arte nova capaz de exprimir os tempos novos,
consumando a reação contra o magistério regulista e dogmático exercido pela
antiguidade greco-latina, acreditando no progresso do homem e da história.

O romantismo valorizou as forças primitivas e irracionais, glorificou o homem


natural, o seu primitivismo e a sua espontaneidade, mas apresenta muitas vezes
atitudes subtilmente intelectualistas - pense-se na ironia romântica — e exalta os
valores culturais.
O Romantismo — antinomias

Se meditarmos nesta riqueza polimorfa 3 do Romantismo, nas forças desencontradas


que nele estuam 4, na multiplicidade de orientações e soluções que ele virtualmente
oferece, compreendemos as razões por que o Romantismo tem dinamizado e
fecundado todos os grandes movimentos artísticos que se têm sucedido ao longo dos
séculos XIX e XX, desde o Realismo até ao Simbolismo, ao Decadentismo, ao
Surrealismo e ao Existencialismo.
Vítor Manuel Aguiar e Silva, Teoria da Literatura, 6. a edição, Coimbra, Livraria Almedina, 1984, pp. 557-558.
Garrett e o
teatro romântico
Garrett e o teatro romântico
Toda a perspetiva dramática do século XIX é comandada pelo admirável esforço de Garrett para dotar
o seu país dum teatro válido literária e cenicamente. Formado na leitura do teatro clássico [...], o seu
gosto repeliu sempre o exagero caricatural dos melodramas, de origem francesa ou italiana, que
pulularam 5 nos palcos da capital durante o primeiro terço do século, de mão dada com a ópera.

Garrett é ainda hoje, ao lado Camões, o escritor que mais enalteceu e dignificou a sua pátria. Espírito
aberto e europeu, tem dos factos e dos seres vivos uma visão lúcida e viva, que o conduziria,
naturalmente, a tirar partido do género histórico no palco. Mas percebeu que não bastava uma
evolução exterior, mais ou menos exata e pitoresca, de temas do passado, para se fazer bom teatro.
Era preciso enriquecê-los, dar ao episódio um conteúdo ideológico de ordem geral. [...] Ponto mais
alto dum exemplar caminho de aperfeiçoamento de valores, de símbolos e de expressão, este drama
[Frei Luís de Sousa] dá-nos a imagem duma pátria austera e grande, capaz de capaz de amores
Garrett e o teatro romântico

e de renúncias desmedidas, e onde o fantasma do passado aventureiro vem quebrar a


rotina feliz do presente, e aniquilar absurdamente o sonhador lirismo duma criança.
Frei Luís de Sousa não é, de resto, uma obra ao acaso. [...] Relevante exemplo do que
um espírito moderno podia tirar duma tragédia agónica, sem esperança batida por
uma cruel fatalidade, ainda hoje o drama reflete luminosamente virtudes dum povo,
ao mesmo tempo que analisa aspetos do eterno e universal comportamento humano.
Sentimento de honra, amor, perplexidade diante das injustiças, tudo se encontra nesta
peça singular, certamente a mais significativa de quantas se escreveram em Portugal.
Andrée Crabbé Rocha, «Teatro moderno» , in Dicionário de Literatura (dir. Jacinto do Prado
Coelho), 4.0 vol., Porto, Figueirinhas, 1989, pp. 1070-1071

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