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Não há narrador
O ROMANTISMO
Dá-nos a informação de que esta obra é um drama e não uma tragédia. É uma
tragédia pelo seu conteúdo (apresenta uma catástrofe), mas não se pode
chamar de tal uma vez que a mesma não cumpre as regras da tragédia (a
tragédia é escrita em prosa e esta obra está escrita em verso; do ponto de vista
do escritor, Almeida Garret acredita que se esta obra fosse escrita em verso
seria artificial e, por isso, escreveu-a em prosa; era estranho por o Frei Luís De
Sousa- um escritor de prosa- a falar em verso).
A «Memória ao Conservatório Real» foi lida por Almeida Garrett aos membros
do Conservatório Real de Lisboa, a 6 de maio de 1843, antes da apresentação
pública da peça.
«É singular condição dos mais belos factos e dos mais belos caracteres que
ornam os fastos portugueses serem tantos deles, quase todos eles, de uma
extrema e estreme simplicidade. (…)
Inês de Castro, por exemplo, com ser o mais belo, é também o mais simples
assunto que ainda trataram poetas. E por isso todos ficaram atrás de Camões,
porque todos, menos ele, o quiseram enfeitar, julgando dar-lhe mais interesse.»
«Na história de Frei Luís de Sousa (…) há toda a simplicidade de uma fábula
trágica antiga. Casta e severa como as de Ésquilo, apaixonada como as de
Eurípides, enérgica e natural como as de Sófocles, tem, demais do que
essoutras, aquela unção e delicada sensibilidade que o espírito do Cristianismo
derrama por toda ela, molhando de lágrimas contritas o que seriam
desesperadas ânsias num pagão, acendendo até nas últimas trevas da morte a
vela da esperança que se não apaga com a vida.
Apesar de afirmar que Frei Luís de Sousa «é uma verdadeira tragédia», Garrett
dá-lhe a designação de drama, uma vez que a não escreveu em verso (por
considerar que este não é adequado a assuntos tão modernos) e porque não
pretende ferir a suscetibilidade dos literatos mais tradicionais.
Segundo o autor, Frei Luís de Sousa pertence, pela índole, ao género trágico,
mas é um drama à maneira romântica, no que diz respeito à forma; Estamos,
portanto, perante uma peça híbrida, isto é, uma obra que sintetiza aspetos dos
dois géneros: tragédia clássica e drama romântico (atual classificação
genológica da obra).
«Contento-me para a minha obra com o título modesto de drama; só peço que
a não julguem pelas leis que regem, ou devem reger, essa composição de forma
e índole nova; porque a minha, se na forma desmerece da categoria, pela
índole há de ficar pertencendo sempre ao antigo género trágico. (…)»
O autor considera a história de Frei Luís de Sousa ideal para testar as suas
teorias da relação entre literatura e sociedade. À semelhança do drama,
também a sociedade se encontrava em construção.
«Nem pareça que estou dando grandes palavras a pequenas coisas: o drama é
a expressão literária mais verdadeira do estado da sociedade; a sociedade de
hoje ainda se não sabe o que é; o drama ainda se não sabe o que é; a literatura
atual é a palavra, é o verbo, ainda balbuciante, de uma sociedade indefinida, e
contudo já influi sobre ela; é, como disse, a sua expressão, mas reflete a
modificar os pensamentos que a produziram.»
Garrett aponta as fontes de que se serviu para escrever Frei Luís de Sousa: uma
representação a que assistiu em Vila do Conde, levada a cabo por um grupo de
teatro ambulante de atores castelhanos; a Memória do Sr. Bispo de Viseu; a
narrativa de Frei António da Encarnação; o drama O cativo de Fez.
«Há muitos anos, (…) fui dar com um teatro ambulante de atores castelhanos
fazendo suas récitas numa tenda de lona no areal da Póvoa de Varzim, além de
Vila do Conde. (…) davam a comédia famosa não sei de quem, mas o assunto
era este mesmo de Frei Luís de Sousa.»
«(…) poucos anos depois, lendo a célebre Memória do Sr. Bispo de Viseu, D.
Francisco Alexandre Lobo, e relendo, por causa dela, a romanesca mas sincera
narrativa do padre Frei António da Encarnação, pela primeira vez atentei no
que era de dramático aquele assunto.»
ATO PRIMEIRO
“Câmera antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa elegância portuguesa dos
princípios do século dezassete. Porcelanas, xarões, sedas, flores, etc. No fundo, duas
grandes janelas rasgadas, dando para um eirado que olha sobre o Tejo e donde se vê
toda Lisboa; entre as janelas o retrato, em corpo inteiro, de um cavaleiro moço, vestido
de preto, com a cruz branca de noviço de S. João de Jerusalém. Defronte e para a boca
da cena um bufete pequeno, coberto de rico pano de veludo verde franjado de prata;
sobre o bufete alguns livros, obras de tapeçaria meias feitas e um vaso da China de
colo alto, com flores. Algumas cadeiras antigas, tamboretes rasos, contadores. Da
direita do espectador, porta de comunicação para o interior da casa, outra da
esquerda para o exterior. É no fim da tarde.”
CARACTERIZAÇÃO DA CASA, DA FAMÍLIA E DA SIMBOLOGIA DOS ESPAÇO
CASA- ornamentada, luxuosa, requintada, repleta de objetos Nobreza abastada/
alta nobreza
RETRATO DE MSC- noviço, pertencente a uma ordem de
cavalaria religiosa
Família muito
religiosa
Simbologia: família
DUAS GRANDES JANELAS SOBRE O RIO = LUMINOSIDADE feliz e harmoniosa
LIVROS = FAMÍLIA CULTA
PONTOS DE COMUNICAÇÃO COM O EXTERIOR = LIBERDADE DE
MOVIMENTAÇÃO DAS PERSONAGENS
A obra dos Lusíadas é mencionada nesta obra uma vez que madalena e Inês de
castro têm histórias de vida semelhantes: Inês, enquanto viveu na ilusão do
amor foi feliz, mas, pelo contrário, Madalena vive a sua história de amor com
Manuel De Sousa Coutinho (o seu segundo marido) aterrorizada e em pânico,
com medo que o seu primeiro marido, D. João de Portugal, volte depois do seu
desaparecimento de 7 anos na batalha de alcácer quibir (4 agosto 1578).
“Com paz e alegria d’alma… um ingano, um ingano de poucos instantes que seja…
deve de ser a felicidade suprema neste mundo. E que importa que o não deixe durar
muito a fortuna? Viveu-se, pode-se morrer. Mas eu!… (Pausa). Oh! que o não saiba ele
ao menos, que não suspeite o estado em que eu vivo… este medo, estes contínuos
terrores, que ainda me não deixaram gozar um só momento de toda a imensa
felicidade que me dava o seu amor.”
Interjeição
Gradação/ Antítese
As interjeições, as exclamações, as reticências, as interjeições e as gradações, sugerem
o conflito emocional, o sofrimento e as hesitações da personagem; Este tom emotivo
está dentro da estética ROMÂNTICA, ligada a sentimentos fortes.
Ao longo desta cena, já podemos perceber que Madalena é uma mulher muito
ligada às emoções e bastante sensível, sempre preocupada com que D. João de
Portugal volte e ela seja exposta a sociedade como a mulher que não esperou
pelo marido, e pior, que a sua filha Maria (com 13 anos e filha de Manuel de
sousa Coutinho), tão nova, mas bastante perspicaz e inteligente, descubra o
que a mãe esconde.
Madalena é a verdadeira
personagem romântica
CENA II, MADALENA, TELMO PAIS- é a cena mais informativa e expositiva de toda a
obra; dá-nos informações sobre as relações entre as personagens, antecedentes de
ação, contexto histórico e social e a linha temporal da obra.
Telmo
- é um escudeiro
- é sábio e experiente
- era o aio de D. João de Portugal- após este desaparecer na guerra, e uma vez
que estava casado com Madalena, Telmo ficou aos serviços de madalena
(Madalena conheceu Telmo por D. João de Portugal)
- já era aio do pai de D. João de Portugal
- pertence ao escalão mais baixo da nobreza
- Ajuda a criar a filha de madalena e de Coutinho, Maria
- é conselheiro e professor particular
“TELMO (chegando ao pé de Madalena, que o não sentiu entrar) — A minha
senhora está a ler?…”
Lusíadas