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FREI LUÍS DE SOUSA

 Não há narrador

O ROMANTISMO

 ORIGEM ETIMOLÓGICA/ CONCEITO- conceção romântica do eu e do universo


influenciada pela teoria do Eu Absoluto pelo filósofo alemão, Fiche.
-Movimento literário e artístico,
concretizado em múltiplas manifestações na literatura e nas artes plásticas:
oposição à estética clássica.
 ORIGEM- Alemanha e Inglaterra
 LIMITES TEMPORAIS- final do século XVIII- metade do séc. XIX
 CARACTERÍSTICAS
-a sensibilidade, a imaginação
-o particular, o individual
- o subjetivo, o pessoal
-a melancolia, o abatimento
- as sensações, a sensibilidade
- o mistério, o sonho, a meditação
- o cristianismo
-o culto da idade média e dos tempos modernos
-o popular, o pitoresco, a paisagem
-o nacionalismo
 ARQUITETURA
-Nostalgia e pouca originalidade
- mistura de estilos históricos (neomanuelino e gótico)
-reprodução fiel de castelos e igrejas medievais
-reprodução fiel e pitoresca dos aspetos característicos de um país, de uma
região ou época
- recuperação da identidade nacional
- estilo neogótico
 PRINCIPAIS ARQUITETOS DO ROMANTISMO EUROPEU
 INGLATERRA
-Horace Walpole
-Charles Barry e Augustus Puguin
 FRANÇA-Eugène Viollet-le-duc
 ALEMANHA- Friedrich Waesemann
 PINTURA
 UM ESTADO DE ESPÍRITO
-Valorização da experiência individual e da imaginação
-revolta contra o conservadorismo nas artes
- valorização da virtude, da grandeza e do modo de vida do passado´
 LIBERDADE DE EXPRESSÃO
- a artes privilegia a liberdade
-o artista exprime-se de forma pessoal
 EXPRESSÃO PLÁSTICA
-Criação de cenas fantásticas, cheias de luz, movimento e efeitos
dramáticos
-utilização de cores vistosas e pinceladas vigorosas
-expressão livre da relação do artista coma a natureza, valorização da
paisagem
 PRINCIPAIS PINTORES DO ROMANTISMO EUROPEU
 INGLATERRA- Blake e Turnner
 FRANÇA- Eugène Delacroix, Theodore Géricault
 ALEMANHA- David Caspar Friedrich
 MÚSICA
-É a arte do passado ao alcance de um novo público (burguesia, ávido de uma
nova estética)
-liberdade da forma e uma expressão mais intensa e vigorosa das emoções
-revelação pessoal de sentimentos profundos (sofrimento e angústia)
-Expressividade, liberdade de modulação e o cromatismo cada vez mais
progressivo
-música individualista e subjetiva
-conceção de artista da época- homem genial com um destino excecional
-O artista genial é o terno sofredor, personalidade singular (BETHOVEN- a
pobreza, a humilhação, as desventuras amorosas, a imcompreenção dos
contemporâneos, a doença; BERLIOZ E SCHUMANN- a loucura)
-Independência do artista face aos patronos ricos, autonomia e liberdade na
criação musical
-rico florescimento da canção, principalmente para PIANO e CANTO.
-A ÓPERA É A MANIFESTAÇÃO ARTÍSTICA SOLENE DO ROMANTISMO
-PRINCIPAIS COMPOSITORES DE ÓPERAS- Os italianos Verdi e Rossini e o
alemão Wagner
-O PIANO É O ISTRUMENTO PRIVELIGIADO
-a paixão, a expressão musical de um estado de espírito, impõe a paixão e o
domínio dos sentimentos sobre a razão e entrelaça a liberdade com a exaltação
da natureza.
PARATEXTO- “Ao Conservatório Real”

 Dá-nos a informação de que esta obra é um drama e não uma tragédia. É uma
tragédia pelo seu conteúdo (apresenta uma catástrofe), mas não se pode
chamar de tal uma vez que a mesma não cumpre as regras da tragédia (a
tragédia é escrita em prosa e esta obra está escrita em verso; do ponto de vista
do escritor, Almeida Garret acredita que se esta obra fosse escrita em verso
seria artificial e, por isso, escreveu-a em prosa; era estranho por o Frei Luís De
Sousa- um escritor de prosa- a falar em verso).

 A «Memória ao Conservatório Real» foi lida por Almeida Garrett aos membros
do Conservatório Real de Lisboa, a 6 de maio de 1843, antes da apresentação
pública da peça.

 Trata-se de um texto de reflexão sobre a literatura, o teatro e a função do


artista na sociedade, que contribui para entender melhor as circunstâncias que
levaram o autor à produção de Frei Luís de Sousa, bem como os aspetos que
conduzem a uma definição relativamente à classificação genológica da obra.

 Almeida Garrett começa por referir que os factos históricos portugueses se


caracterizam pela simplicidade. Camões, pela simplicidade com que abordou o
episódio de Inês de Castro, surge como exemplo dessa característica dos
lusitanos.

«É singular condição dos mais belos factos e dos mais belos caracteres que
ornam os fastos portugueses serem tantos deles, quase todos eles, de uma
extrema e estreme simplicidade. (…)
Inês de Castro, por exemplo, com ser o mais belo, é também o mais simples
assunto que ainda trataram poetas. E por isso todos ficaram atrás de Camões,
porque todos, menos ele, o quiseram enfeitar, julgando dar-lhe mais interesse.»

 A história de Frei Luís de Sousa apresenta a simplicidade das fábulas trágicas


antigas, seguindo a tradição de Eurípides, Ésquilo e Sófocles. Prometeu, Édipo e
Jocasta servem, assim, de termo de comparação com algumas das personagens
da obra do autor; Em Frei Luís de Sousa, no entanto, o desespero das
personagens é suavizado pelo espírito do Cristianismo.

«Na história de Frei Luís de Sousa (…) há toda a simplicidade de uma fábula
trágica antiga. Casta e severa como as de Ésquilo, apaixonada como as de
Eurípides, enérgica e natural como as de Sófocles, tem, demais do que
essoutras, aquela unção e delicada sensibilidade que o espírito do Cristianismo
derrama por toda ela, molhando de lágrimas contritas o que seriam
desesperadas ânsias num pagão, acendendo até nas últimas trevas da morte a
vela da esperança que se não apaga com a vida.
 Apesar de afirmar que Frei Luís de Sousa «é uma verdadeira tragédia», Garrett
dá-lhe a designação de drama, uma vez que a não escreveu em verso (por
considerar que este não é adequado a assuntos tão modernos) e porque não
pretende ferir a suscetibilidade dos literatos mais tradicionais.

«Esta é uma verdadeira tragédia − se as pode haver, e como só imagino que as


possa haver, sobre factos e pessoas comparativamente recentes. Não lhe dei,
todavia, esse nome porque não quis romper de viseira com os estafermos
respeitados dos séculos que, formados de peças que […] ainda têm, contudo, a
nossa veneração, ainda nos inclinamos diante deles quando ali passamos por
acaso.»

 Segundo o autor, Frei Luís de Sousa pertence, pela índole, ao género trágico,
mas é um drama à maneira romântica, no que diz respeito à forma; Estamos,
portanto, perante uma peça híbrida, isto é, uma obra que sintetiza aspetos dos
dois géneros: tragédia clássica e drama romântico (atual classificação
genológica da obra).

«Contento-me para a minha obra com o título modesto de drama; só peço que
a não julguem pelas leis que regem, ou devem reger, essa composição de forma
e índole nova; porque a minha, se na forma desmerece da categoria, pela
índole há de ficar pertencendo sempre ao antigo género trágico. (…)»

 Almeida Garrett manifesta a sua intenção de verificar se era possível despertar


no público, através de uma história simples e sem recorrer a “ingredientes”
macabros, os dois sentimentos únicos de uma tragédia: o terror e a piedade.
Assim, ao contrário do que ocorre nas tragédias clássicas, a catástrofe não se
verifica através de uma morte física violenta.

«Nem amores, nem aventuras, nem paixões, nem carateres violentos de


nenhum género. (…) [E]u quis ver se era possível excitar fortemente o terror e a
piedade ao cadáver das nossas plateias, gastas e caquéticas pelo uso contínuo
de estimulantes violentos, galvanizá-lo com só estes dois metais de lei.»

 O autor considera a história de Frei Luís de Sousa ideal para testar as suas
teorias da relação entre literatura e sociedade. À semelhança do drama,
também a sociedade se encontrava em construção.
«Nem pareça que estou dando grandes palavras a pequenas coisas: o drama é
a expressão literária mais verdadeira do estado da sociedade; a sociedade de
hoje ainda se não sabe o que é; o drama ainda se não sabe o que é; a literatura
atual é a palavra, é o verbo, ainda balbuciante, de uma sociedade indefinida, e
contudo já influi sobre ela; é, como disse, a sua expressão, mas reflete a
modificar os pensamentos que a produziram.»

 Garrett aponta as fontes de que se serviu para escrever Frei Luís de Sousa: uma
representação a que assistiu em Vila do Conde, levada a cabo por um grupo de
teatro ambulante de atores castelhanos; a Memória do Sr. Bispo de Viseu; a
narrativa de Frei António da Encarnação; o drama O cativo de Fez.

«Há muitos anos, (…) fui dar com um teatro ambulante de atores castelhanos
fazendo suas récitas numa tenda de lona no areal da Póvoa de Varzim, além de
Vila do Conde. (…) davam a comédia famosa não sei de quem, mas o assunto
era este mesmo de Frei Luís de Sousa.»

«(…) poucos anos depois, lendo a célebre Memória do Sr. Bispo de Viseu, D.
Francisco Alexandre Lobo, e relendo, por causa dela, a romanesca mas sincera
narrativa do padre Frei António da Encarnação, pela primeira vez atentei no
que era de dramático aquele assunto.»

«Não passou isto, porém, de um vago relancear do pensamento. Há dois anos,


e aqui nesta sala, quando ouvi ler o curto mas bem sentido relatório da
comissão que nos propôs admitir às provas públicas o drama, O cativo de Fez, é
que eu senti como um raio de inspiração nas reflexões que ali se faziam sobre a
comparação daquela fábula engenhosa e complicada com a história tão
simples do nosso insigne escritor.»

 Apesar de respeitar os factos históricos, Garrett não se preocupou com a


cronologia, nem rejeitou aquilo que a verdade histórica não permitiu apurar.

«Escuso dizer-vos, Senhores, que me não julguei obrigado a ser escravo da


cronologia nem a rejeitar, por impróprio da cena, tudo quanto a severa crítica
moderna indigitou como arriscado de se apurar para a história. Eu sacrifico às
musas de Homero, não às de Heródoto: e quem sabe, por fim, em qual dos dois
altares arde o fogo de melhor verdade! (…)»

 Ao longo do discurso, é notória a dificuldade que o próprio Almeida Garrett


sente para classificar Frei Luís de Sousa. Contudo, o dramaturgo aponta
algumas características que aproximam a obra da tragédia clássica e outras que
a aproximam do teatro romântico, designadamente do drama.
 Frei Luís de Sousa – hibridismo de género

 Tragédia  Drama romântico

 assunto de índole trágica;  texto escrito em prosa;


 ação simples;  apologia da liberdade poética em detrim
 número reduzido de personagens (três – principais;
histórico (abordagem mais livre da cronologi
três secundárias);
 contenção de cenas;  clima psicológico (conflitos interiores);
 catástrofe  morte como melhor solução para os con
 …  assunto de caráter nacional e histórico;
 individualismo;
 espírito cristão;
 caráter didático;
 presença de superstições e agouros popu
 crença no cristianismo…

ATO PRIMEIRO
“Câmera antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa elegância portuguesa dos
princípios do século dezassete. Porcelanas, xarões, sedas, flores, etc. No fundo, duas
grandes janelas rasgadas, dando para um eirado que olha sobre o Tejo e donde se vê
toda Lisboa; entre as janelas o retrato, em corpo inteiro, de um cavaleiro moço, vestido
de preto, com a cruz branca de noviço de S. João de Jerusalém. Defronte e para a boca
da cena um bufete pequeno, coberto de rico pano de veludo verde franjado de prata;
sobre o bufete alguns livros, obras de tapeçaria meias feitas e um vaso da China de
colo alto, com flores. Algumas cadeiras antigas, tamboretes rasos, contadores. Da
direita do espectador, porta de comunicação para o interior da casa, outra da
esquerda para o exterior. É no fim da tarde.”
 CARACTERIZAÇÃO DA CASA, DA FAMÍLIA E DA SIMBOLOGIA DOS ESPAÇO
 CASA- ornamentada, luxuosa, requintada, repleta de objetos Nobreza abastada/
alta nobreza
 RETRATO DE MSC- noviço, pertencente a uma ordem de
cavalaria religiosa
Família muito
religiosa

Simbologia: família
 DUAS GRANDES JANELAS SOBRE O RIO = LUMINOSIDADE feliz e harmoniosa
 LIVROS = FAMÍLIA CULTA
 PONTOS DE COMUNICAÇÃO COM O EXTERIOR = LIBERDADE DE
MOVIMENTAÇÃO DAS PERSONAGENS

CENAS I E II- EXPOSIÇÃO

 A peça inicia-se com Madalena sozinha em cena, refletindo sobre a paixão


funesta de D. Pedro e D. Inês de Castro narrada no canto III dos Os Lusíadas,
obra predileta da personagem; este episódio da epopeia carmoniana é pretexto
para madalena associar a história de amor medieval ao seu casamento com
MSC - “Oh! que amor, que felicidade… que desgraça a minha! (ato 1, cena I).
 Telmo entra em cena e o diálogo que se segue dá-nos as seguintes informações
-há uma relação de proximidade e respeito entra Madalena e Telmo
-Telmo não tinha em boa conta o atual marido de Madalena, MSC
-Maria, filha do segundo casamento de D. Madalena, com treze anos de idade,
revela mais maturidade que a mão na sua idade e ainda uma saúde débil
-Telmo fora escudeiro de D. João de Portugal, primeiro marido de Madalena,
desaparecido na batalha de Alcácer Quibir em 1578
-Madalena, durante sete anos, organiza longas buscas para encontrar o marido
desaparecido, D. João de Portugal, mas não tendo sucesso, acaba por casar
com MSC, o seu segundo marido, sem ter tido a confirmação da morte do
primeiro marido
-Telmo nunca aceitou esta segunda união, que dura já à catorze anos, pois
acredita no regresso do seu amo, baseando-se nas palavras que eles escrevera
numa carta a Madalena- «vivo ou morto, Madalena, hei de ver-vos pelo menos
ainda uma vez neste mundo».
CENA I

 Madalena tinha acabado de ler a passagem de Inês de Castro dos “Lusíadas”;


“MADALENA- (repetindo maquinalmente e devagar o que acaba de ler) Naquele
ingano d’alma ledo e cego/ que a fortuna não deixa durar
muito…” Dois versos da passagem
de Inês de Castro

Estes versos retirados da passagem de Inês


A história de Inês de Castro acaba mal; não foi De Castro funcionam como um presságio
por acaso que foi escolhida como referência (spoiler) para a ação que agora se inicia- a
para a escrita do “Frei Luís de Sousa”; história de Inês tem um final trágico, o que
nos leva a crer que a de Madalena também
terá

 A obra dos Lusíadas é mencionada nesta obra uma vez que madalena e Inês de
castro têm histórias de vida semelhantes: Inês, enquanto viveu na ilusão do
amor foi feliz, mas, pelo contrário, Madalena vive a sua história de amor com
Manuel De Sousa Coutinho (o seu segundo marido) aterrorizada e em pânico,
com medo que o seu primeiro marido, D. João de Portugal, volte depois do seu
desaparecimento de 7 anos na batalha de alcácer quibir (4 agosto 1578).

“Com paz e alegria d’alma… um ingano, um ingano de poucos instantes que seja…
deve de ser a felicidade suprema neste mundo. E que importa que o não deixe durar
muito a fortuna? Viveu-se, pode-se morrer. Mas eu!… (Pausa). Oh! que o não saiba ele
ao menos, que não suspeite o estado em que eu vivo… este medo, estes contínuos
terrores, que ainda me não deixaram gozar um só momento de toda a imensa
felicidade que me dava o seu amor.”

Ideia de contraste entre


Madalena e Inês de Castro
 “Oh! que amor, que felicidade… que desgraça a minha! (Torna a descair em
profunda meditação; silêncio breve).”

Interjeição
Gradação/ Antítese
As interjeições, as exclamações, as reticências, as interjeições e as gradações, sugerem
o conflito emocional, o sofrimento e as hesitações da personagem; Este tom emotivo
está dentro da estética ROMÂNTICA, ligada a sentimentos fortes.

 Ao longo desta cena, já podemos perceber que Madalena é uma mulher muito
ligada às emoções e bastante sensível, sempre preocupada com que D. João de
Portugal volte e ela seja exposta a sociedade como a mulher que não esperou
pelo marido, e pior, que a sua filha Maria (com 13 anos e filha de Manuel de
sousa Coutinho), tão nova, mas bastante perspicaz e inteligente, descubra o
que a mãe esconde.

Madalena é a verdadeira
personagem romântica

CENA II, MADALENA, TELMO PAIS- é a cena mais informativa e expositiva de toda a
obra; dá-nos informações sobre as relações entre as personagens, antecedentes de
ação, contexto histórico e social e a linha temporal da obra.

 Telmo
- é um escudeiro
- é sábio e experiente
- era o aio de D. João de Portugal- após este desaparecer na guerra, e uma vez
que estava casado com Madalena, Telmo ficou aos serviços de madalena
(Madalena conheceu Telmo por D. João de Portugal)
- já era aio do pai de D. João de Portugal
- pertence ao escalão mais baixo da nobreza
- Ajuda a criar a filha de madalena e de Coutinho, Maria
- é conselheiro e professor particular
 “TELMO (chegando ao pé de Madalena, que o não sentiu entrar) — A minha
senhora está a ler?…”
Lusíadas

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