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A Tradução
Para que uma tradução possa ocorrer há elementos essenciais que têm de estar
presentes, sendo eles duas línguas diferentes entre si, dois discursos ou dois textos e pelo
menos um tradutor. Traduzir um texto (na vertente escrita) ou um discurso (na vertente
oral) é efetuado com o intuito de obter um texto ou discurso em outra língua diferente da
inicial. Atualmente, a exigência incide sobre uma tradução fiel do texto ou discurso original,
tanto a nível da forma (prosa, poema, etc.) como a nível do significado do mesmo.
Aqui, apenas nos debruçaremos sobre a tradução escrita, com especial destaque para a
denominada “tradução literária”, sendo que a tradução não literária será abordada no
último tema desta unidade, devido ao grande aumento que a mesma tem vindo a ter
recentemente na Europa, em virtude do alargamento da União Europeia e do
desenvolvimento da globalização.
As línguas da Europa
O latim é a língua mãe de várias línguas europeias e que se falam igualmente por todo o
mundo (denominadas línguas românicas), como o português, o castelhano, o francês, o
italiano e o romeno. Há igualmente línguas que têm origem germânica como o alemão ou o
Por sua vez, todas estas línguas mãe (línguas indo-europeias) derivam de uma outra
língua mãe comum, designada de proto-indo-europeu e que era falada entre 6.000 AC e
3.500 AC, a norte do Mar Cáspio.
Ao analisarmos as línguas da Europa verificamos que várias línguas europeias têm a sua
origem no Latim, língua existente no Império Romano do Ocidente.
Os romanos não impunham a sua língua aos povos por eles conquistados, no entanto a
sua expansão deixou frutos e foi a partir da sua língua, o Latim, que outras se formaram
(romeno, castelhano, francês, italiano e português). No entanto, tal como acontece nos
dias de hoje, dentro de uma língua há palavras e maneiras de falar mais cultas e outras
que pertencem ao calão, sendo estas últimas as mais faladas na zona ibérica e em França,
podendo ser dado como exemplo a palavra do latim “cavallus” que se transformou em
“cavalo” em português, em “caballo” em castelhano, em “cheval” em francês e “cavallo” em
italiano. Esta palavra é o termo calão da palavra “equus”, que é o termo mais formal e culto
da palavra.
- Necessita saber quando ocorreu a queda do Império Romano do Ocidente – 476 d.C.
O Latim foi uma língua que deixou de ser compreendida na sua plenitude desde o século
VIII, mas não deixou de ser a língua utilizada nas áreas do ensino, da administração e
principalmente da Igreja.
Com o avançar do tempo, já entre os séculos XIII e XIV, marca-se a oficialização do uso da
língua Portuguesa como língua do reino, sob o reinado de D. Dinis (1261 – 1325) e é
nessa altura que começa a tradução para português. A partir do século XIV os principais
mosteiros portugueses passam a incluir traduções para português de algumas obras.
Durante a Idade Média as línguas emergentes europeias confrontam-se com o latim, mas
raramente de confrontam entre elas, graças à prática da tradução. Todavia, na Idade
Média, o latim não se confrontava exclusivamente com as línguas que emergiram, havia
também confronto com a língua árabe (tanto em relação ao conflito com obras escritas em
árabe como em relação à perceção da importância que essa língua tinha e como por vezes
eram usadas as línguas emergentes como ponte para o latim – muitas vezes os que
sabiam árabe utilizavam as línguas emergentes, como o castelhano, para expressar o que
seria necessário traduzir para latim).
- Procure por “Escola de Tradutores de Toledo (sec. XII)” na Internet para saber mais –
A Escola de Tradutores de Toledo teve dois períodos separados por uma fase
de transição:
A Bíblia
Séculos seguintes - Bíblias poliglotas (bíblias escritas em mais do que uma língua, muitas
vezes com mais do que uma coluna, cada coluna numa língua):
A Bíblia oficial de tradução latina foi feita por S. Gerónimo e adotada como Vulgata
(Bíblia de tradução oficial para o latim) pela Igreja, em 1546, no concílio de Trento.
Bíblia King James (inglês) 1611 – realizada em benefício da Igreja Anglicana, está na
origem do desenvolvimento da língua inglesa moderna
Este tema está dividido em dois tópicos (3 e 4), começando por uma abordagem
direcionada para a reflexão sobre a tradução do ponto de vista da sua evolução no tempo,
considerando o período do século XV até ao século XIX (a escolha do sec. XIX é para
coincidir com a divisão utilizada na História da Literatura, embora pudesse ser considerado
que o seu termo situa-se no século XX, altura de viragem em que a prática da tradução
passa a compreender uma maior quantidade de textos e o Tradutor já é visto como um
profissional. Também é nesta altura que a Tradução passa a ser lecionada como uma
disciplina universitária chamada “Estudos da Tradução”).
Autores situam no século XVII francês o surgimento dos “Estudos da Tradução”, mas o
debruçar sobre a caracterização da tradução da época só é despoletado muito mais tarde.
O classicismo francês é objeto de críticas por não serem traduzidos próximo do original
(“problema da fidelidade”) e as traduções serem embelezadas para tornar os textos
traduzidos mais apetecíveis e adequados à época. O termo utilizado para definir o
acontecido é o afrancesamento das obras clássicas. O termo “belles infidelles” também se
refere a este mesmo processo de embelezamento.
Este afrancesamento das obras clássicas (como no caso de d’Ablancourt – que embora
não seja o único escritor associado à tradução “belles infidèles” é o que mais se destaca e
se associa a ela), além do que frisado acima, demonstra outra questão: não parece haver
muita preocupação com o que de facto é dito pelo autor da obra original.
Isso vai completamente contra o que o que Étienne Dolet (1509-1546), que viveu no
século anterior, diz na sua obra “Manière de bien traduire d’une langue en l’autre” de 1540.
Regras Descrição
Em oposição a “les belles infidèles” estará Pierre Daniel Huet (1630-1721), ao propor que
se voltasse a fazer uma tradução mais realista e não apenas focada em agradar quem lê,
seguindo a regra de traduzir praticamente palavra por palavra – este será o tipo de
tradução que irá ser efetuada por M. Dacier, designadamente nas suas traduções das
obras Íliada e Odisseia, de Homero.
A tradução e o leitor
(Este texto foi depois traduzido para português em 2003, por José M. Miranda Justo).
Friedrich Schleiermacher diz (trecho que tem sido incluído ao longo do tempo em quase
todas as antologias sobre tradução):
Mas então que caminhos pode afinal tomar o verdadeiro tradutor que quer
realmente reunir essas duas pessoas completamente separadas, o seu
escritor e o seu leitor, e, sem obrigar este último a sair do círculo da sua
A criação da obra ocupou toda a vida de Goethe, ainda que não de maneira contínua.
O texto do Professor Dr. Carlos Castilho Pais incide sobre a tradução na época romântica
portuguesa (O Romantismo em Portugal surgiu no século XIX) com incidência sobre aqueles
LITERATURA
Romantismo em Portugal
Almeida Garrett acaba por exilar-se na Inglaterra, onde entra em contato com a Obra de
Lord Byron e Scott. Ao mesmo tempo, por estar presenciando o Romantismo inglês,
envolve-se com o teatro de William Shakespeare.
Características
Como toda tendência nova, o Romantismo não veio implantar-se totalmente nos
primeiros momentos em Portugal. Inicialmente, buscava-se gradativamente, apagar os
modelos clássicos que ainda permeavam o meio socioeconómico. Os escritores dessa
época, eram românticos em espírito, ideal e ação política e literária, mas ainda clássicos
em muitos aspetos.
Almeida Garrett
Alexandre Herculano
Castilho
Castilho, tem como principal papel traduzir poetas clássicos. Sua passagem pelo
Romantismo é discreta, mesmo que tenha sido o provocador da Questão Coimbrã.
A história de Castilho é a dum grande mal-entendido: graças à cegueira, que lhe dava
um falso brilho de gênio à Milton, mais do que à sua poesia, alcançou injustamente ser
venerado como mestre pelos românticos menores. Não obstante válida historicamente,
sua poesia caiu em compreensível esquecimento.
Começa por indicar que, na sua opinião, ainda há muito por descobrir, quase a totalidade
diria, sobre tudo o que gira em torno da tradução e igualmente das obras literárias
românticas portuguesas (o enquadramento histórico da literatura romântica) no século XIX,
questões sobre as quais é premente saber mais, embora o seu interesse recaia,
obviamente, sobre as questões ligadas à tradução em particular. Nesse contexto é
necessário referir a opinião que, segundo o Professor Carlos Castilho Pais, “os nossos
três românticos” (Herculano, Garrett e Castilho) tinham sobre as traduções do seu
tempo: de um modo global, consideravam-nas traduções de péssima qualidade e embora
Todos eles criticavam a tradução da sua época com uma ideia em mente, e é aqui que
eles se dividem: Garrett encontrava-se ainda muito ligado ao neoclassicismo (ou
arcadismo), embora o seu poema “Camões” (1825) fosse considerado o poema
introdutório do estilo romântico em Portugal, enquanto que Herculano e Castilho baseiam a
sua crítica na exigência que devia ser requerida a quem efetua traduções e também sobre
o papel que as obras que são, de facto, bem traduzidas – do seu ponto de vista -, possuem
no cenário da literatura romântica da época e de uma maneira mais alargada, no seio da
literatura nacional.
É importante referir que a análise recai sobre a tradução tal como era feita na época
romântica portuguesa e como os três a viam (século XIX) e também que “os nossos três
românticos” (Castilho, Herculano e Garret) foram igualmente tradutores (sendo
Castilho o que mais traduções efetuou).
O nome de António Feliciano de Castilho tem ligação direta à palavra “nacionalizar”. Foi
ferverosamente criticado por Teófilo Braga - que como se sabe não era romântico - na sua
obra “História do Romantismo em Portugal” (1880), e foi criticado por outros nomes já no
século XX, como Fidelino de Figueiredo e António Salgado Júnior. A partir da década de
70, começam a mudar os pontos de vista, pela mão de Osório Mateus em 1975 e de David
Mourão-Ferreira em 1976.
Castilho traduziu obras de vários autores, como Goethe, Molière, Cervantes, Lamennais,
Delfina Gay entre outros.
O Faust de Goethe
Começando pela obra de Goethe (1749-1832), o Faust foi uma peça escrita em duas
partes não seguidas, sendo a primeira parte publicada em 1808 (Faust I) e a segunda
parte publicada em 1833 (Faust II), tendo sido terminada pouco antes da sua morte, em
1832.
O êxito desta obra começou quando ainda só havia a primeira parte publicada, tendo
havido traduções feitas em francês nos anos 20 do século XIX, sendo a principal dessas
traduções efetuada e publicada pelo poeta Gérard de Nerval em 1828 e nos anos
seguintes, o que acabou por tornar o alemão Goethe num escritor de renome na
Europa, vendo a sua peça atuar nos palcos franceses e ser inspiração para outras formas
de arte.
O Faust em Português
A primeira tentativa de tradução para português da obra Faust de Goethe aconteceu pelas
mãos de Almeida Garrett, na sua obra Viagens da Minha Terra, onde Garrett traduziu 20
versos desta obra, não “ousando” traduzir mais, como ele próprio indicou. Só mais tarde,
em 1867, surge a primeira tradução integral feita diretamente do original escrito em
alemão, tradução essa efetuada por Agostinho d’Ornellas.
A “questão do Fausto”
186
7 Agostinho d’Ornellas Tradução direta do alemão
198
4 Luiza Neto Jorge Tradução a partir da tradução de Gerard de Nerval
199
3 João Barrento Tradução direta do alemão
Pinheiro Chagas
Germano de Meirelles
Em relação a Portugal, destaca-se que foram efetuadas duas traduções em 2005, alusivas
à comemoração dos 400 anos da publicação primeira parte da obra: uma destas traduções
é da autoria de Miguel Serras Pereira, que a publicou na editora D. Quixote, e a outra é
do tradutor José Bento, através da editora Relógio d’Água. Estas traduções demonstram
a consideração concedida à obra e a relevância que a mesma tem até aos dias de hoje.
A respeito da atualidade da obra em Espanha, deve referir-se que foi publicada em 2015
-aquando da comemoração dos 400 anos da publicação da segunda parte da obra - pelo
escritor Andrés Trapiello, uma tradução da mesma, para um castelhano mais atual e
compreensível, de modo a tornar a obra acessível a todos. Embora seja comum fazer-se
isso com obras clássicas (a título de exemplo, também Vasco Graça Moura o fez em
relação à obra de Camões, “Os Lusíadas” – embora nesse caso o autor tivesse incluído
também versos dele e o público alvo foi o público infantil, ao contrário do que aconteceu
com a tradução de Andrés Trapiello, que respeitou o original e focou em todo o público
em geral), este tipo de traduções é sempre gerador de agitação, pois embora seja um tipo
de tradução mais rara que a tradução entre duas línguas diferentes, não deixa de ser
igualmente uma tradução (sendo que é uma tradução de elevada importância, não só por
dar a conhecer esta obra a um público mais alargado, como pela possibilidade que dá de
se fazerem novas traduções e reavaliar traduções já efetuadas anteriormente).
Andrés Trapiello foi um estudioso da obra, o que é de extrema importância para qualquer
tradutor, pois, embora na realidade um tradutor seja igualmente um leitor e a tradução que
faz é conforme a sua interpretação, um estudo mais aprofundo da obra permite que se crie
uma tradução mais fiel ao original (até algumas tautologias características de Cervantes
Atualmente não se pode restringir a tradução aos textos literários, pois ela aplica-se a
todos os textos e discursos. Essa mudança começou a ocorrer especialmente a partir do
século XX, com mais incidência após a 2ª Guerra Mundial. A partir da década de 80, a
tradução chegou às universidades, tendo aí um papel bastante importante. As traduções
técnicas passaram a fazer parte do dia a dia de todos, e focando nesse tipo de tradução,
não se pode deixar de falar de um nome amplamente conhecido em Portugal e que para
alguns autores, como António Mega Ferreira, é um nome tão relevante como Cervantes ou
Goethe, entre outros – esse nome é Fernando Pessoa.
Fernando Pessoa nasceu em Lisboa em 1888, passou parte da sua infância e juventude
na África do Sul – o que viria a ser determinante para alcançar o nível de inglês que
possuía – e regressou a Portugal em 1905, onde acabou por falecer, em 1935.
Conforme indica Arnaldo Saraiva, que é responsável pela mais extensa missão de editar
as traduções de Fernando Pessoa, muitas das traduções de Pessoa refletem os seus
gostos e os seus projetos.
Neste contexto, é aplicável referir que, em 1921, Fernando Pessoa e dois sócios fundaram
a empresa “Olisipo”, para a qual Pessoa tinha projetos ambiciosos, como a de grandes
trabalhos de tradução e a expansão para outros países. Uma das três vertentes da
empresa era, de facto, as traduções, e Fernando Pessoa tinha o objetivo de realizar
traduções para português de obras de Shakespeare, de Coleridge e de Edgar Poe,
executar traduções para inglês de Antero de Quental e Camões, mas desejava igualmente
utilizar os seus heterónimos para efetuar traduções, em alguns casos visando as suas
próprias obras, como é o caso das traduções para português do heterónimo Ricardo Reis
de epigramas gregos como a Antologia Grega ou das traduções para inglês efetuadas pelo
seu heterónimo Thomas Crosse, das obras do também seu heterónimo Alberto Caeiro.
Fernando Pessoa esperava que a “Olisipo” desse frutos, de modo a que pudesse dispor de
mais conforto financeiro e tempo para escrever as suas obras, mas a empresa não durou
mais de dois anos, e encerrou em 1923.
Embora nem todos os projetos tenham avançado, Pessoa efetuou muitas traduções
literárias, sendo uma das mais conceituadas a de O Corvo de Edgar Poe; também de
Fernando Pessoa chegou a incorporar na sua escrita formas que não eram usuais na
cultura literária nacional, e que advieram das traduções; também a escrita de alguns
heterónimos, mudou ao longo do tempo, conforme Pessoa se ia embrenhando em mais
traduções (como é o caso da escrita de Ricardo Reis, que a partir de meados da década
de 1920 passou a ter associação solene com os epigramas gregos). O facto de ter vários
heterónimos e de ter igualmente obras em nome próprio, permitiu que Fernando Pessoa
fosse revelando as suas influências: tanto era inegável a influência e o gosto que possuía
por Shakespeare, como que o seu heterónimo Alberto Caeiro tinha grandes ligações com a
obra de Walt Whitman e que o seu heterónimo Ricardo Reis espelhava um dos grandes
poetas da Roma Antiga, Horácio.
Para explanar a nossa realidade sobre o ensino da tradução, o Professor analisa a oferta
académica existente nas universidades públicas portuguesas no ano letivo de 2009/2010,
já numa fase em que o processo de Bolonha se encontra em vigor, e é facilmente
percetível, através de quadros ilustrativos, que a oferta académica relacionada com os
Estudos da Tradução é menor no 1º ciclo (Licenciaturas) do que no 2º ciclo (Mestrados), o
que contraria a máxima de que o 2º ciclo deve ser uma continuidade do que é lecionado no
1º ciclo. Também facilmente se percebe a anexação de outras vertentes ao curso de
Tradução (não deixando que o mesmo se torne tão aprofundado na área dos Estudos da
Tradução, ficando em falta unidades curriculares que o Professor Carlos Castilho Pais
considera imprescindíveis), provavelmente com o intuito de serem mais aliciantes de um
ponto de vista de empregabilidade. Todas estas questões colocam em causa tanto a
Declaração de Nairobi, onde a UNESCO recomendava que a tradução fosse uma
disciplina independente, como as diretrizes do Processo de Bolonha, em que está
A tradução na Europa
A União Europeia é pioneira no que diz respeito à área da tradução e nenhum organismo
consegue igualar o número de tradutores que a UE tem, sendo as suas áreas de atuação
técnicas e muito vastas, desde o domínio jurídico ao económico, passando pela parte da
comunicação (como os sites e legendagens de vídeos e filmes).
Existe na UE o CdT (Centro de Tradução dos Organismos da União Europeia), cuja missão
é traduzir e efetuar serviços linguísticos para os organismos e agências da UE bem como
para organismos de toda a Europa, sendo que este Centro, criado em 1994 e sediado no
Luxemburgo, tem cerca de 200 colaboradores, sendo pelo menos 100 deles, Tradutores.
Além de efetuar os serviços descritos, dá igualmente apoio aos serviços de tradução
internos dos organismos e agências da UE, quando os mesmos estão sobrecarregados.
Este organismo recebe encomendas de trabalho de mais de 60 organismos e conta com o
apoio de vários tradutores freelancers para os ajudar, pois trabalham tanto com as línguas
comunitárias como com as línguas não comunitárias.
As aéreas que a tradução na UE abrange são muito dispersas (por exemplo, transportes,
energia, agricultura e pescas, saúde, etc.) e os tradutores agrupam-se normalmente por
domínios em que são especializados, podendo ou não ter esses domínios estar
relacionados com a sua área de formação.
Em suma, embora haja uma grande diversidade de novas tecnologias que auxiliam, é
imprescindível o papel das equipas de Tradução e de Interpretação e, na época multilingue
que atravessamos e que se pretende preservar, é de extrema importância para a UE
continuar o seu trabalho de salvaguarda desta variedade linguística e cultural, em prol da
democracia, da acessibilidade e da transparência, perante todos os EM e os cidadãos.
Para se poder trabalhar nestas duas áreas para a União Europeia, é necessária formação
base - em diversos âmbitos, consoante o organismo e função - e conhecimentos profundos
das línguas e cultura com as quais se almeja trabalhar, para que o trabalho realizado seja
o mais rigoroso possível.
Embora a tradução e as técnicas utilizadas tenham ainda uma longa jornada pela frente, é
necessário que se mudem as mentalidades e que a experiência que se adquire possa ser
passada aos futuros profissionais, para que as novas gerações de Tradutores possam
responder com sagacidade aos desafios que as evoluções políticas económicas e sociais
da nossa era trazem, o que será fundamental para a manutenção de um padrão de
qualidade de tradução tão elevado como o solicitado pela União Europeia.
No entanto, há um outro lado da moeda: tem de se ter em consideração que nem sempre é
fácil analisar corretamente o que é expressado, que não é sempre fácil colocar esse
discurso numa versão escrita e encontrar uma maneira correta de exprimir o que se
pretende, associado a uma maneira mais erudita de escrita, que é requerida em trabalhos
científicos e académicos.
Também o árabe apresenta diferenças assinaláveis ao longo dos últimos 150 anos, e o
árabe moderno apresenta cada vez mais semelhanças ao inglês moderno, pois vai
absorvendo elementos das línguas europeias – no estudo de Stetkevych de 1970, ele
aponta 4 tipos de mudanças relevantes: mudança nas estruturas frásicas, traduções literais
que ignoram o facto de haver expressões árabes mais adequadas e que se vão perdendo,
e absorção de expressões das línguas ocidentais.
Estas mudanças acabam por, muitas vezes, serem benéficas paras quem é falante da
língua dominada, não devendo ser encarado como algo que se deva lastimar, mas é
notório que as alterações acabam por seguir uma mesma direção, que acaba por refletir o
que acontece no mundo e as desigualdades existentes a nível económico e político.
A tradução cultural acaba então por ser uma mescla da tradução com a antropologia e uma
pergunta que se levanta é se os pressupostos da parte antropológica da escrita, que não
vão ao encontro do trabalho feito em campo, podem interferir com a tradução cultural. Isso
No entanto, não se pense que é fácil para os antropólogos sociais lidarem com o dilema de
traduzir o que se passa em campo: o exercício de conciliar o que se aprende e trabalha em
campo com o que existe intrinsecamente em cada antropólogo, é uma luta inglória que
dificulta a transcrição do que se desejaria traduzir, levando muitas vezes a conceitos
abstratos. A dificuldade em gerir o contexto de modo a que se possa efetuar uma tradução
fidedigna é algo muito difícil de atingir, e um problema para o qual os antropólogos não são
preparados, o que leva a que as traduções consideradas de sucesso sejam em baixo
número.
É notório que a tradução tem um papel primordial, pois torna possível que haja diálogo
entre as diferentes culturas – numa era multilingue como a que vivenciamos, um ótimo
exemplo desse papel é dado pela União Europeia, que faz questão de incluir todas as
línguas oficiais dos Estados-Membros nos vários documentos e situações onde há
intervenção, permitindo essa aproximação à União em si e entre os Estados-Membros.
Mas no documento analisado, a apreciação recai sobre as posições dos diferentes países
em relação a obras traduzidas e a relação entre esses valores e a quantidade de falantes
dessas línguas no mundo – com principal destaque para o caso da língua portuguesa. As
estatísticas sobre a tradução começaram a ser reunidas na década de 30 do século XX,
através de uma ramificação da League of Nations, com o intuito de promover a
Vivemos num mundo em que a língua inglesa é amplamente utilizada e considerada como
língua franca em muitos setores, sendo, de facto, a língua dominante para interações. No
entanto, isso também é reflexo do poder económico, social, cultural e político das
potências que têm o inglês como língua oficial: os EUA em particular, mas também o Reino
Unido.
Isso significa que entre 55% e 60% de todas as traduções efetuadas têm como língua de
partida o inglês, mesmo que a obra não tenha sido originalmente escrita nessa língua (mas
para muitas obras, a potencial divulgação da mesma passa por terem uma tradução em
inglês, que serve de base para traduções para outras línguas). Quanto mais centralizada
está a língua, menos importação há de obras em outras línguas para posteriormente
traduzir (só aproximadamente 3% das obras existentes no Reino Unido e EUA foram
traduzidas por eles).
Não com tanto destaque mas igualmente em posições centrais, estão as línguas alemã e
francesa, sendo seguidas da espanhola, russa (com a queda do muro de Berlim, a Rússia
viu o seu lugar na posição central ser tomado pela língua alemã) e italiana (é importante
destacar a posição relevante que a língua italiana detém, tendo em conta que o número de
falantes da língua não é tão alto – não chega a figurar nas dez línguas mais faladas no
mundo - o que vai ao encontro da teoria de Heilbron, de que não é o número de falantes o
barómetro para esta realidade).