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Literaturas em Língua Inglesa

APRESENTAÇÃO

CURRÍCULO LATTES

Professora Mestre Sâmia Letícia Cardoso dos Santos

● Doutoranda em Letras pela Universidade Estadual de Maringá (UEM);


● Mestre em Letras pela Universidade Estadual de Maringá (UEM);
● Especialista em Neuropedagogia pelo Instituto Faculdade de Tecnologia do Vale
do Ivaí;
● Especialista em Tecnologias Aplicadas ao Ensino a Distância pelo Centro
Universitário Cidade Verde (UniFCV);
● Graduada em Letras Português-Inglês pela Universidade Estadual de Maringá
(UEM);
● Professora do Ensino Básico.

Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/3482945991061023

Possui ampla experiência na área educacional, desde o Ensino Fundamental até o


Superior. Atualmente, é professora da rede pública e privada de ensino.

Professor Fábio Henrique Cardoso da Silva


● Graduado em Letras pela Universidade Estadual de Maringá (UEM);
● Pós-graduado em Especialização em Ensino e Aprendizagem de Línguas – UEM
– Turma 2017 – 2019;
● Professor do Ensino Básico.

Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/1689935044122952


Possui vasta experiência na área educacional, incluindo educação infantil e anos do
ensino fundamental e médio. Atua há vários anos como professor nos sistemas de ensino
da Oxford University Press e International School.
APRESENTAÇÃO DA APOSTILA
Seja muito bem-vindo(a)!

Prezado(a) aluno(a), é uma alegria tê-lo(a) na disciplina de Literaturas em Língua


Inglesa e convido-o(a) a juntos irmos em busca de compreender a importância da
literatura inglesa para nós, professores, bem como para nossos alunos. Para isso, na
Unidade I, conheceremos brevemente a história da língua inglesa, em seguida,
estudaremos o maior escritor do seu período histórico, William Shakespeare. Para
finalizar essa unidade, discutiremos, mais especificamente, sobre as tragédias e as
comédias.

Na Unidade II, apresentaremos a literatura no século XVIII. Para isso, compreenderão


A Inglaterra na transição do século XVII para o século XVIII, posteriormente, a
Restauração e, por fim, estudaremos a ascensão do romance e os pré-românticos

Em seguida, na Unidade III, demonstraremos as características do romantismo e o


quanto o homem passa a ser compreendido como um ser passível de incompreensões,
falhas e sentimentos e não mais a racionalidade exacerbada do período clássico. Depois,
diferenciaremos as gerações de artistas românticos que surgiram e discorreremos sobre
os diversos artistas que fizeram do romance o grande movimento estético da literatura
inglesa no século XIX. Para finalizar, adentraremos no período vitoriano e na ascensão
da prosa sobre a poesia. A popularização das obras e o quanto elas foram responsáveis
por descrever e criticar a sociedade da época.

Por fim, na Unidade IV, apresentaremos o século XX e seus extremos. É importante


que conheçamos os fatos mais importantes da política e da sociedade do século, pois
esta é decisiva para a produção artística e literária do período. Não há como dissolver
os aspectos, uma vez que os autores deste momento buscam se aproximar dos fatos e
da realidade de sua época.

Muito obrigado e bom estudo!


UNIDADE I
DOS PALCOS ELISABETANOS À ASCENSÃO DO ROMANCE NA SOCIEDADE
BURGUESA
Professora Mestre Sâmia Cardoso
Professor Especialista Fábio Cardoso

Plano de Estudo:
● A língua inglesa;
● William Shakespeare;
● As tragédias;
● As comédias.

Objetivos de Aprendizagem:
• Conceituar e contextualizar a importância da língua inglesa;
• Compreender os tipos de textos trágicos e cômicos.
INTRODUÇÃO

Olá, caro(a) estudante,

Nesta unidade estaremos juntos para adentrar aos palcos da arte shakespeariana
e só sairemos de lá quando percebermos que alcançamos um pouco do entendimento
que Shakespeare foi para o mundo.
Assim, faz parte do conteúdo desta disciplina, inicialmente, refletir sobre a língua
inglesa e seu surgimento em ambientes pouco favoráveis para seu florescimento.
Buscaremos compreender a influência das invasões para determinar a língua inglesa
como conhecemos hoje.
Em seguida, demonstraremos a importância do autor Shakespeare para as artes
cênicas e a contribuição desse para o cenário mundial. Também é de interesse desta
unidade discutir sobre a contribuição do autor na consolidação da língua inglesa como
conhecemos hoje. A popularização de termos, os neologismos criados pelo poeta inglês
atualmente é considerado um marco para a difusão da língua inglesa inclusive pelo
mundo.
Após as reflexões sobre a linguagem, falaremos sobre as obras clássicas de
William Shakespeare. Inicialmente, conceituaremos os gêneros teatrais trágico e cômico,
enfatizando sua importância para a literatura mundial. Então, passaremos a discorrer
sobre as principais obras trágicas e como Shakespeare tornou-se a principal influência
do teatro inglês. Então, analisaremos as comédias e sua importância para o cenário da
literatura inglês do século XVI.
Esperamos que esta unidade seja de intenso aprendizado e prazerosa ao
momento em que discutimos a genialidade imortal shakespeariana.
Tenha bons estudos.
1 A LÍNGUA INGLESA

A Língua Inglesa é um idioma da família das línguas germânicas e o surgimento


do idioma está associado às primeiras invasões dos Anglos, Saxões, Jutos e Frisios que
vieram das regiões que hoje correspondem à Holanda, à Alemanha e à Dinamarca. Com
a invasão da Grã-Bretanha dos Frísios, dos Saxões e dos Jutos, essas línguas passaram
a ter contato com os povos do local à época, os Celtas.
Os primeiros manuscritos em inglês não foram sequer escritos em alfabeto
romano, mas em alfabeto rúnico, uma vez que esta era a forma de escrita predominante
no norte europeu à época. Existem registros de que o mais antigo desses registros seja
o do poema Beowulf.

Figura 1 - Primeiro manuscrito em Língua Inglesa


Fonte:
Wikimedia,
Possivelmente no século VIII
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/c/c1/Beowulf_Cotton_MS_Vitellius_A_XV_f._132r
.jpg/1200px-Beowulf_Cotton_MS_Vitellius_A_XV_f._132r.jpg

O poema escrito em alfabeto rúnico é uma narrativa dos atos heróicos de Beowulf,
um herói que auxilia o rei da Dinamarca, Hrothgar, a combater Grendel, um monstro que
constantemente ataca o reinado. O texto épico narra os grandes feitos do personagem
ao eliminar os perigos e salvar o reino.
Apesar de ser possível estabelecer um momento de início de produção escrita
para o desenvolvimento da Língua Inglesa, uma das grandes dificuldades se dá devido
à escassez de documentos que mostrem como a língua era escrita naquela época. Ainda
assim, com o que temos é possível percebermos a pronúncia, o alfabeto, e as mudanças
do inglês antigo para aquele que é considerado moderno.
Os diversos dialetos existentes na Grã-Bretanha são responsáveis pelas
mudanças graduais, pelas quais o inglês passou, como a mudança das vogais entre
encurtamento, alargamento ou modificação de sua realização, tudo isso dado à maneira
em que foram escritos.
Como os dialetos são tratados em textos escritos, perde-se a precisão exata de
suas mudanças, já que se lida com os aspectos orais da linguagem, porém as suposições
são feitas a partir dos manuscritos já encontrados e as transformações ali percebidas.
Com o passar dos anos, os anglo-saxões começam a abandonar a Grã-Bretanha e os
primeiros documentos escritos começam a surgir em inglês antigo, o que inaugura uma
nova fase de inglês, que é conhecida como Inglês Médio.
Nesse período, diversas transformações ocorreram como de vocabulário,
gramática e pronúncia. Entre os séculos 12 e 15, pode-se destacar diversos fatores que
podem ser considerados importantes para as mudanças que ocorrem na língua. Fatores
socioculturais nesse longo intervalo de tempo são decisivos para estabelecer a transição
entre o inglês antigo e médio.
Em 1066 ocorre a Batalha de Hastings e é esse marco que acaba sendo
considerado um fator histórico importante para determinar essa transição. Já que a partir
dela, há a invasão dos normandos e grandes mudanças sociais, econômicas e políticas
acontecem na Inglaterra e, evidentemente, impactam no idioma, trazendo
principalmente, a presença do francês como uma importante característica. A
incorporação vocabular de palavras francesas, sobretudo as ligadas à aristocracia, como
“baron, duke, viscount, prince” e as pedras preciosas, como “diamond”, “emerald”,
“amethyst”, “ruby”, evidenciam a mudança vocabular ocorrida na época.
De acordo com Medeiros,

No entanto, o ano de 1066 marca uma profunda transformação na história


britânica: os normandos, vindos do norte da França, invadem a ilha e promovem
grandes transformações naquele espaço. Há que se salientar que eles vêm para
ficar e tentar impor a sua própria cultura. Dessa forma, a nobreza francesa
toma o lugar da inglesa e faz do francês a língua oficial da corte, permanecendo
o latim como o dialeto clerical por excelência. (MEDEIROS, 2012, p. 215)

Um outro exemplo significativo é o que representamos pela letra “th”. No inglês


antigo ela tinha por nome “thorn”, porém ao passar do tempo, vai se transformando e
passa a ser escrito neste período como se fosse um “y”. Atualmente é possível que
alguns lugares mantenham essa grafia para reverenciar esse período histórico de
transformação da língua.

Figura 2 - Grafia antiga para “th” Figura 3 - Grafia antiga para “th”

Fonte figura 2: Visit London, 2021.


Disponível em:
https://www.visitlondon.com/things-to-do/food-and-drink/pub-and-bar/best-rooftop-bars. Acesso
em: 05 nov. 2021.

Fonte figura 3: Wikimedia Commons, 2021. Disponível em:


https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Ye_Olde_London_-_panoramio.jpg. Acesso em: 05 nov.
2021.

Ainda em processo de evolução para a chegada da língua como conhecemos


hoje, temos um importante autor que é considerado um marco para os estudos da língua
inglesa e é essencial para se tê-la como conhecemos hoje. Trata-se de Geoffrey
Chaucer.
O aspecto que mais chama atenção em Chaucer é a forma como ele retrata o
comportamento das pessoas na Inglaterra daquela época, demonstrando o dia a dia das
ações em diferentes contextos na Europa Medieval. Sua mais importante contribuição é
com “The Canterbury Tales” (Os Contos da Cantuária).
Uma marcante característica das obras de Chaucer se dá pela forma como ele
registrava as palavras. Muitas delas possuíam um “e” final, no qual os estudos modernos
sobre os estudos de Chaucer e a língua inglesa questionam se esta vogal final era
pronunciada, ou não, e se era, qual forma essa pronúncia se dava.
Ao analisarmos os textos desse período, percebemos que a mesma palavra era
grafada de diversas maneiras e esse fator revela que havia a presença de diversos
dialetos. Por exemplo, o verbo “might” que foi grafado em diferentes textos como: “maht”,
“mahte”, “mayhte”, “mihhte” etc.
Em relação à gramática, temos o início de transformações que nos oferecem
pistas de eventos que ocorrem, até mesmo, hoje em dia no inglês moderno, como é o
caso do infinitivo e das flexões negativas. Apesar da influência normanda na época, o
latim permanece sendo incorporado ao vocabulário, principalmente, na área jurídica, na
alimentação, como “client”, “solo”, “tolerance”, "immortal', “exclude”, “beef” etc.
Assim, vemos que devido a todo o histórico de invasões e de transformações
impostas, pelas modificações socioculturais sofridas pela Grã-Bretanha, o inglês foi se
modificando, passando de uma manifestação multicultural no período antigo, para uma
influência mais centralizada dos normandos (franceses) a partir do que se considera
como período do inglês médio. Nesse período, também, o latim passa a exercer grande
influência sobre a língua inglesa.
Dessa forma, chegamos ao século XVI e a William Shakespeare e sua importante
contribuição para o estabelecimento do inglês moderno. Sua obra é considerada
essencial para a disseminação do inglês pelo mundo e é o que veremos a seguir.
2 WILLIAM SHAKESPEARE

É completamente impossível dissociar a história da Língua Inglesa e sua


disseminação pelo mundo ao status de língua global de William Shakespeare. Um dos
maiores dramaturgos e poetas do mundo nascido no século XVI, o autor produziu
centenas de obras que são adaptadas para os dias atuais.
William Shakespeare nasceu em Stratford em 1564, filho de família abastada,
sendo o filho mais velho homem de seus pais. Estudou em excelentes escolas, porém
não frequentou nenhuma universidade ao término dos estudos básicos.
No início de sua juventude, Shakespeare já alcançava o sucesso por meio de suas
obras. Conhecido principalmente por causa de suas poesias, o autor encantava o público
inglês com a forma pela qual descrevia o amor.
É importante ressaltar que esse período ficou marcado pelas navegações e o
grande tráfego de pessoas vindas de diversas localidades da Europa e das Américas.
Esse movimento popularizou a leitura e acabou unificando o processo de escrita para
uma construção mais uniforme.
Shakespeare pode ser considerado um dos grandes responsáveis dessa
uniformização da língua escrita e, consequentemente, padronizando alguns conceitos da
Língua Inglesa, já que o autor passa a ser lido, cada vez mais, por mais pessoas, sendo
elas de diferentes realidades socioeconômicas.
As realizações culturais shakespearianas durante o período eram amplamente
incentivadas naquele momento histórico inglês. À época, Rainha Elisabeth I incentivava
e valorizava o desenvolvimento artístico e cultural na sociedade inglesa, período este no
qual as produções teatrais pertenciam àquilo que se é conhecido como teatro
elisabetano.
As obras do autor são consideradas atemporais, ou seja, resistem ao tempo
porque não falam sobre um conflito que descreve um problema datado ao contexto
histórico de sua época ou sociedade, por exemplo, mas, sim, da natureza humana. Isso
posto, a obra de Shakespeare pode ser lida em qualquer contexto e em qualquer época
que faça sentido, pois se trata de verdades universais, por isso, são sucessos até hoje.
Shakespeare brincou com as palavras e criou novas palavras atualizando o
vocabulário, adicionando novas palavras e sentidos para as que já existiam. Essa
característica leva muitos pesquisadores a acreditar que o autor incorporava palavras
em seu texto por meio da observação da língua em ação pelos lugares ao qual passava,
registrando, assim, realizações vivas da língua inglesa na época.
É importante ressaltar que a Língua Inglesa só se tornou o idioma oficial da
Inglaterra em 1509, ou seja, ainda era recente quando Shakespeare produziu suas
obras, porque entre seu estabelecimento como língua oficial até as produções do autor
não existiam regras fixas de gramática que fossem padronizadas. A unificação da língua
era um desafio devido aos diversos dialetos presentes em toda Grã-Bretanha.
Como já discutido, as obras de William Shakespeare são universais e contam com
adaptações no mundo todo, até mesmo, em produtos mais simples do que o próprio
gênero teatral, por exemplo, no Brasil a novela O Cravo e A Rosa, de 2000, que foi
baseada na obra “A Megera Domada” (The Taming of the Shrew).
As obras clássicas mais conhecidas do autor são Hamlet, Macbeth, Sonho de
Uma Noite de Verão (A Midnight Summer Dream) e Romeu e Julieta (Romeo and Juliet).
Sua contribuição para a disseminação do idioma inglês pelo mundo, sendo hoje tão
importante para a vida em sociedade, será sempre lembrado.

Figura 4 - Hamlet
Figura 5 - Sonho de uma noite de verão
Figura 6 - Romeu e Julieta
Fonte figura 4: https://www.prateleiradecima.com/wp-
content/uploads/2019/10/b164aa10953207.560ef1bcba0e7.jpg

Fonte figura 5: https://image.slidesharecdn.com/amidsummersnightdream-senem-sava-mervet-


140526181857-phpapp01/95/a-midsummer-nights-dream-1-638.jpg?cb=1401128506

Fonte figura 6: https://m.media-amazon.com/images/I/51S3SRAdylS.jpg


3 AS TRAGÉDIAS

Shakespeare, como vimos no tópico anterior, foi o responsável por grandes


transformações, até mesmo, na língua inglesa e, em como a conhecemos atualmente.
Neste tópico, vamos discorrer sobre as tragédias shakespearianas e sua importância
para a consolidação da literatura inglesa.
Inicialmente, é importante conceituarmos a ideia de tragédia para também nos
prepararmos para o tópico seguinte, ao qual se trata da comédia. O termo tragédia está
ligado a um gênero literário e artístico com o mesmo nome. É, portanto, inserido a obras
as quais as ações são fatais e causem comoção, espanto e compaixão.
Nas tragédias, os personagens principais confrontam diversas situações difíceis
ao longo da vida e uma dessas ações geralmente os levam à morte ou à destruição
moral. Existem algumas tragédias em que os personagens conseguem superar as
adversidades, mas, claramente, aquelas em que eles são destruídos ou mortos
compõem o ideário de tragédia. Essa é uma das diferenças entre a tragédia grega e
shakespeariana, pois com o autor inglês, os heróis são senhores de seu destino
enquanto na tragédia grega esses não conseguem escapar.
William Shakespeare escreveu onze tragédias. Ainda no século XVI, sua obra
Romeu e Julieta fez parte das primeiras obras escritas pelo autor. Alguns críticos
divergem em relação à grandiosidade das primeiras obras do inglês - Tito Andrônico,
Romeu e Julieta e Júlio César - porque consideram que essas ainda não captam o
essencial do autor, que é a compreensão do ser humano.
É evidente que os críticos assim fazem porque conseguem comparar as obras de
Shakespeare numa totalidade e, assim, podem apontar similaridades ou discordâncias
entre os textos. Dessa forma, as principais tragédias do autor seriam Hamlet, Otelo, Rei
lear, Macbeth e Antônio e Cleópatra, já que, aqui, temos uma compreensão humana total
e definitiva, além de heróis imortais.
Passaremos, então, para uma sinopse de algumas obras dramáticas
shakespearianas feitas por Renata Celi (2020)
- Romeu e Julieta: a tragédia mais famosa do autor conta a história de dois jovens
de famílias inimigas que se apaixonam, Julieta Capuleto e Romeu Montéquio. É
uma das obras mais adaptadas de todos os tempos, tendo ficado conhecida por
seu final trágico, em que os amantes se suicidam;
- Rei Lear: mais uma tragédia, considerada por muitos uma das obras-primas de
Shakespeare. Inspirada em lendas britânicas, conta a história do Rei Lear da Grã-
Bretanha, que enlouquece após ser traído por duas de suas três filhas ao dividir
seu reino entre elas;
- Macbeth: tragédia sobre o barão e a baronesa Macbeth, que bolam um plano para
assassinar o rei e subir ao cargo. Mas as consequências do crime são brutais para
o novo rei, que não consegue viver com sua decisão gananciosa;
- Hamlet: a tragédia mais longa e uma das mais famosas de Shakespeare conta a
história da vingança do príncipe Hamlet pela morte de seu pai, executado por seu
tio. A peça explora temas como a vingança, a traição, a corrupção e a moralidade
das ações de Hamlet.;
- Júlio César: uma das tragédias baseadas em personagens históricos, o autor
reconta a conspiração contra Júlio César, imperador de Roma. Apesar do nome,
Júlio César, não é o personagem principal da peça, sendo o protagonista um
amigo do imperador que retrata sua amizade com ele. É dessa obra que saiu a
famosa frase: “Até tu, Brutus?”, que se refere a um dos assassinos de César;
- Otelo: uma das peças mais reproduzidas de Shakespeare, Otelo retrata o drama
de quatro personagens: o general Otelo, sua esposa Desdêmona, o tenente
Cássio e o oficial Iago. A história gira em torno da rivalidade entre eles, gerando
traições, ciúme e assassinatos;
- Ricardo III: tragédia sobre o Rei Ricardo III da Inglaterra, baseada em fatos reais.
É a segunda maior peça de Shakespeare e raramente é apresentada em sua
versão integral. Conta a história de como Ricardo III subiu ao trono e seu curto
reinado.
Após compreendermos sobre a importância de Shakespeare no cenários das
tragédias e como sua contribuição foi importante para a difusão do inglês pelo mundo,
passaremos a observar a importância do autor para as comédias já no tópico seguinte.
4 AS COMÉDIAS

Assim como nas tragédias, William Shakespeare fez história nas comédias
também. Inicialmente, conceituaremos o gênero comédia.
Nascida em contraposição ao drama, a comédia foi responsável pela
consolidação do teatro da Grécia Antiga. Nesse período, as artes cênicas, aliadas à
literatura, floresceram e se tornaram importante expressão artística.
Enquanto o drama, por meio das tragédias, falava sobre o cotidiano e a política
de forma trágica, a comédia versava sobre erros de heróis e deuses gregos, tirando os
leitores e espectadores de suas zonas de conforto ao serem confrontados por situações
inesperadas. As comédias de modo geral eram mais próximas do público, pois permitiam
maior interação com este, que se identificava com as dificuldades e sucessivos erros
apresentados.
William Shakespeare escreveu doze comédias e alguns estudiosos estabelecem
entre elas um certo nível de qualidade, considerando algumas mais geniais que outras.
Ainda assim, a genialidade do autor não é questionada, como explica Cevasco & Siqueira
(1985) a respeito das primeiras comédias do autor:

The Comedy of Errors, The Taming of the Shrew, Love's Labour's Lost, A
Midsummer Night's Dream, The Merchant of Venice, Much Ado About Nothing e
As You Like It são outras comédias dessa primeira fase de Shakespeare. Via de
regra, há nelas uma deliciosa mistura de fantasia e realismo na criação de um
mundo fictício onde o romantismo ocupa um papel preponderante. Retratam elas
a alegria de viver, em histórias que sempre acabam bem. Embora essas
comédias tendam a desvincular-se do real imediato, Shakespeare logra criar,
.com auxílio da magia da linguagem, uma realidade poética que tocava de perto
sua platéia, assim como nos toca até hoje: o poeta fala de emoções que somos
capazes de reconhecer como nossas, embora o faça de uma maneira que as
transcende. (CEVASCO e SIQUEIRA, 1985, p. 24-25).

As comédias shakespearianas são principalmente formadas por histórias já


consagradas e populares, mas com a complexidade, fluidez e flexibilidade característicos
do autor. Assim, suas obras cômicas eram uma miríade de surpresas, intrigas que vão
aumentando ao longo da peça, inverossimilhanças, deixando os espectadores sempre
ansiosos para um desfecho feliz, satisfatório.
Passaremos, então, para uma sinopse de algumas obras cômicas
shakespearianas feitas por Renata Celi (2020):

- Sonho de uma noite de verão: comédia sobre quatro jovens enamorados que se
encontram e desencontram durante uma noite em um bosque. A peça foi escrita
por Shakespeare para um casamento na vida real, e não tem nada de trágica.
Pelo contrário, a escrita do autor é divertida e movimentada por paixões,
casamentos, brigas e reconciliações;
- A megera domada: uma das primeiras comédias de Shakespeare, também se
concentra em temas como casamento, guerra dos sexos e conquistas amorosas.
Diferente de outras comédias do autor, o casamento de Catarina e Petrúquio não
é a ação final, mas o ponto de partida para a história;
- O mercador de Veneza: tragicomédia sobre o mercador Antônio e o agiota judeu
Shylock, o personagem mais lembrado da obra;
- Noite de reis: Dois irmãos gêmeos (Viola e Sebastião) acabam separados por um
naufrágio e imaginam-se mortos, embora ambos tenham sido salvos, sem o saber.
A moça, tendo perdido a oportunidade de entrar para o serviço de uma rica
Condessa, disfarça-se com trajes masculinos e, nessa condição, provoca paixões.
Até que o irmão reapareça e tudo torna-se claro, há outros equívocos de
personalidade. Entram em cena tipos exóticos e equívocos paralelos ao central.

As obras de Shakespeare na comédia são: Trabalhos de amor perdido; O sonho


de uma noite de verão; O mercador de Veneza; Muito barulho por nada; Como gostais e
Noite de reis; Os dois fidalgos de Verona; As alegres comadres de Windsor; Medida por
medida; A comédia dos erros; A megera domada e Tudo está bem quando bem termina.
Na comédia, como na tragédia, resplandece o gênio Shakespeare.
SAIBA MAIS

O INGLÊS COMO LÍNGUA DO MUNDO

Fatos históricos recentes explicam o atual papel do inglês como língua do mundo. Em
primeiro lugar, temos o grande poderio econômico da Inglaterra nos séculos 18, 19 e 20,
alavancado pela Revolução Industrial, e a consequente expansão do colonialismo
britânico. Esse verdadeiro império de influência política e econômica atingiu seu ápice
na primeira metade do século 20, com uma expansão territorial que alcançava 20% das
terras do planeta. O British Empire chegou a ficar conhecido como "the empire where the
sun never sets" devido à sua vasta abrangência geográfica, provocando uma igualmente
vasta disseminação da língua inglesa. Em segundo lugar, o poderio político-militar dos
EUA a partir da segunda guerra mundial e a marcante influência econômica e cultural
resultante, acabaram por deslocar o francês como língua predominante nos meios
diplomáticos e solidificar o inglês na posição de padrão das comunicações internacionais.
Simultaneamente, ocorre um rápido desenvolvimento do transporte aéreo e das
tecnologias de telecomunicação. Surgem os conceitos de informação superhighway e
global village para caracterizar um mundo no qual uma linguagem comum de
comunicação é imprescindível.

Fonte: English Made in Brazil - https://www.sk.com.br/sk-historia-da-lingua-inglesa.html


Schütz, Ricardo E. "História da Língua Inglesa." English Made in Brazil . On-line (data de acesso).

#SAIBA MAIS#

REFLITA

O que não dá prazer não dá proveito. Em resumo, senhor, estude apenas o que lhe
agradar. (William Shakespeare)

#REFLITA#
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro (a) estudante,


Chegamos ao fim da Unidade 1 da disciplina de Literatura em Língua Inglesa e
pudemos compreender algumas de suas maiores contribuições para a literatura mundial.
Em um momento inicial, vimos a importância dos primeiros manuscritos para a
criação da língua pela qual o mundo se comunica atualmente. Vimos que a forma artística
de se expressar está intrinsecamente ligada à difusão e ao conhecimento linguístico da
época.
As influências das navegações e das invasões para a consolidação de um idioma
também é algo importante que a difusão da literatura pode contribuir. E, após esse
momento, fomos em busca da maior autoridade literária da época: William Shakespeare.
Shakespeare foi um brilhante autor britânico, responsável pelo desenvolvimento
das artes cênicas, o que contribuiu também para a expansão da língua inglesa e a
influência do inglês como chave desenvolvimental.
Assim, refletimos sobre a contribuição shakespeariana para o teatro inglês e a
ascensão dos romances na burguesia britânica.
Nas unidades seguintes, temos como objetivo traçar o desenvolvimento histórico
da literatura em língua inglesa, apontando os avanços no decorrer dos séculos, as
consolidações dos poetas e a popularização da literatura.
Esperamos por vocês,
Até lá!
LEITURA COMPLEMENTAR

“TUPI OR NOT TUPI”: SHAKESPEARE NA LITERATURA BRASILEIRA

Este estudo resultaria em incontáveis laudas se se enveredasse pela busca de todas as


ocorrências intertextuais na literatura brasileira que envolvessem a obra do bardo inglês.
Menos pretensioso é o propósito de registrar aqui apenas algumas dessas ocorrências,
que são suficientes para evidenciar o quanto as falas das personagens de Shakespeare
estão disseminadas pela cultura e pela literatura brasileira.
A fim de preservar a viabilidade da pesquisa que resultou na redação deste artigo, tomou-
se um exemplo apenas: a obra Machado de Assis, além, é claro, de uma breve referência
ao Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade, de onde se extraiu o aforismo que
serviu para compor o título desta seção. Vejamos o que ocorre na obra de Machado de
Assis, que tão bem dialoga com o teatro de Shakespeare.
No romance Dom Casmurro, o protagonista, Bentinho, está seriamente perturbado pela
convicção de que sua esposa Capitu não lhe é fiel. Vivendo tal drama de consciência, o
protagonista vai ao teatro. E a que peça vai assistir? À peça Otelo, de Shakespeare, cujo
tema é o fantasma da infidelidade, que corrói o pensamento do marido enciumado.
O episódio da ida ao teatro no romance de Machado de Assis funciona, assim, como
uma espécie de célula do tema da obra. E, é claro, reverencia a obra de Shakespeare.
Na abertura do conto “A cartomante”, que também põe em cena um triângulo amoroso,
o narrador se vale de uma passagem da peça Hamlet para anunciar o caráter
sobrenatural da passagem que antecede o seu desfecho:

Hamlet observa a Horácio que há mais cousas o céu e na terra do que sonha a
nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo,
numa sexta-feira de novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido na
véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras.

Curiosamente, o narrador não atribui à personagem Rita o processo mental que leva à
elaboração do paralelo entre a sua fala e a de Hamlet, o que faz supor que a personagem
Rita desconhecesse a obra de Shakespeare. De qualquer forma, o teor filosófico da fala
de Hamlet se faz presente na fala dela e ocorre ao narrador estabelecer a analogia entre
os dramas vividos por essas personagens, tão distanciadas no tempo, mas tão
semelhantemente angustiadas com as suas perturbações mentais. Fica, assim, a fala de
Rita marcada pelo teor filosófico da fala de Hamlet e a do narrador marcada pela
referência a Shakespeare.
Eugênio Gomes, em estudo sobre a presença de Shakespeare na cultura e na literatura
brasileira, chama a atenção para o fato de que essa fala surge na obra de Machado de
Assis com algumas variações, que ocorrem de acordo com as circunstâncias do texto.

Fonte: ARAÚJO, Carla Cristina de. SHAKESPEARE NA CULTURA BRASILEIRA. Em Tese, [S.l.], v. 18,
n. 2, p. 33-43, ago. 2012. ISSN 1982-0739. Disponível em:
http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/emtese/article/view/3806/3752. Acesso em: 01 nov. 2021.
doi:http://dx.doi.org/10.17851/1982-0739.18.2.33-43.
LIVRO

• Título: Reflexões sobre Shakespeare


• Autor: Peter Brook
• Editora: SESC
• Sinopse: Peter Brook é um dos mais renomados diretores de teatro de todos os tempos.
Em Reflexões sobre Shakespeare, ele reflete sobre uma fascinante variedade de temas
shakespearianos, da atemporalidade da obra do dramaturgo inglês à maneira de como
os atores devem abordar seu verso. Como o próprio autor afirma, este não é um trabalho
acadêmico. Aos 91 anos de idade ele apresenta uma série de impressões, memórias,
experiências e conclusões temporárias sobre uma repleta vida dedicada ao fazer teatral.

FILME/VÍDEO
• Título: A lenda de Beowulf
• Ano: 2007
• Sinopse: Em uma época de heróis, um cavaleiro chamado Beowulf chega à corte do
Rei Hrothgar e oferece para combater um demônio chamado Grendel. Ele combate a
fera com sucesso, mas terá que enfrentar também a ira da mãe de Grendel, uma criatura
má e vingativa, porém sedutora.
• Link: https://www.youtube.com/watch?v=NzjYyNXgNiE
REFERÊNCIAS

CELLI, Renata. William Shakespeare: biografia e principais obras!. 2020. Disponível


em: https://www.stoodi.com.br/blog/portugues/william-shakespeare/. Acesso em: 25
out. 2021.

CEVASCO, Maria Elisa: SIQUEIRA, Valter Lellis. Rumos da literatura inglesa. 2 ed.
São Paulo: Àtica, 1985. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3875109/mod_resource/content/1/RUMOS%20
DA%20LITERATURA%20INGLESA.pdf. Acesso em: 25 out. 2021.

MEDEIROS, Márcia Maria de. A história da literatura e a compreensão dos meandros


da sociedade inglesa da Baixa Idade Média. Cordis: Revista Eletrônica de História
Social da Cidade, n.9. 2012. Disponível em:
https://revistas.pucsp.br/index.php/cordis/article/view/14415/10514. Acesso em: 25 out.
2021.
UNIDADE II
A LITERATURA INGLESA NO SÉCULO XVIII
ProfessorA Mestre Sâmia Cardoso
Professor Especialista Fábio Cardoso

Plano de Estudo:
● A Inglaterra na transição do século XVII para o século XVIII;
● A Restauração;
● A ascensão do romance e os pré-românticos.

Objetivos de Aprendizagem:
• Conceituar e contextualizar os fatores sociais, econômicos e políticos na Inglaterra
durante os séculos XVII e XVIII;
• Compreender os tipos de arte literária produzidos no decorrer do século XVIII;
• Estabelecer a importância da ascensão do romantismo como forma de reação à
Revolução Industrial.
INTRODUÇÃO

Olá, caros (as) estudantes,


Iniciamos mais uma unidade dos nossos estudos das literaturas em língua inglesa
e esperamos que esta venha para somar ainda mais nos seus estudos e em seu
processo de aprendizagem.
Após discutirmos sobre os primeiros registros textuais aos quais se tem
conhecimento em inglês e também estudarmos sobre o grande dramaturgo e poeta
William Shakespeare, avançaremos, nesta unidade, nos estudos sobre a criação artística
ao longo dos séculos XVII, XVIII e XIX.
Refletiremos sobre o período de transição de século e o quanto impactante para
a sociedade as mudanças sociais e políticas foram marcantes também à produção
literária.
A Inglaterra passou por diversas transformações políticas e evidentemente essas
também fizeram parte das transformações artísticas, por isso, trataremos na unidade
sobre a literatura produzida no período conhecido por Restauração e também a
ascensão de uma nova forma literária, que se dá pelo período pré-romântico.
Desejamos que você tenha um excelente momento de aprendizagem conosco!

1 A INGLATERRA NA TRANSIÇÃO DO SÉCULO XVII PARA O SÉCULO XVIII


Palco das grandes obras trágicas e cômicas no período Elisabetano, a Inglaterra
passa a enfrentar um diferente momento a partir do século XVII. Já nas primeiras
décadas do século é a poesia que ganha destaque e os poetas passam a ser os grandes
nomes da produção literária na época.
Neste período, destaca-se a convulsão social pela qual a Inglaterra passava. Os
teatros foram fechados e uma nova ordem se impunha: a de negação aos prazeres e a
ascensão do puritanismo. CEVASCO & SIQUEIRA (1985), em Rumos da Literatura
Inglesa, contextualiza que:

[...] ainda na época dos Tudor, o conflito religioso era uma ameaça constante a
paz interna. Sob Jaime I, o Stuart que sucedeu a Elizabeth, a coisa foi se
agravando, para explodir no reinado de Carlos I, a quern os puritanos lograram
depor e executar, dando à Inglaterra a duvidosa honra de ser o primeiro país
europeu a cometer um regicídio, numa época em que ainda florescia na Europa
o absolutismo. Nessa altura, seria conveniente lembrar que o conflito entre
puritanos e anglicanos, além de religioso, era uma oposição entre interesses
econômicos divergentes. Via de regra, os partidários do rei eram senhores de
terras, nobres ciosos de perpetuar seu poder. Já os puritanos, oriundos em sua
maioria da burguesia, pretendiam um "governo de santos", mas santos
mercantilistas, uma vez 30 que na severa teoria calvinista podia não haver lugar
para o prazer, mas o havia sempre para o comércio e o lucro. (CEVASCO;
SIQUEIRA, 1985, p. 29-30)

A partir dessas mudanças no contexto social e político, também há a


popularização do acesso à bíblia, uma vez que esta recebeu a tradução em inglês. Com
novos leitores e escritores, a influência do livro passa a ser imenso como fonte de
inspiração e referência. Até então, a poesia que se adotava como marca principal desse
momento era a cavalheiresca, na qual se louvava o amor, e o cavalheiro enaltecia as
belezas de sua dama. Ben Jonson (1573-1637) foi o maior influenciador da época.
Apesar de a poesia cavalheiresca ter sido o expoente do início do século XVII, ela
não produziu grandes nomes, além de Jonson e em meados do século deu espaço ao
que ficou conhecido por poesia metafísica, cujo maior expoente é John Donne (1572-
1631). A poesia de Donne contrasta com a cavalheiresca porque é metafísica. Embora
ele também cante o amor, assim o faz de outra forma. Sua poesia pode ser considerada
mais cerebral.
Donne tinha como intuito utilizar a ciência conhecida até então como mote para a
criação de sua obra. O autor calcava-se no evidente, o que revela sua intenção em
demonstrar outros possíveis. Ainda assim, não podemos dizer que a poesia de Donne
era hermética, ou seja, desprendida de descrever os sentimentos, porque, ainda assim,
existe lugar para exaltar a mulher amada.
Uma característica muito comum nos poemas de Donne é que a voz do poeta dá
impressão de um diálogo natural sendo contado. Como podemos ver em The Flea, um
de seus poemas mais aclamados, o poeta utiliza o comum picar de uma pulga para
demonstrar como esta obteve mais da amada do que ele.

Mark but this flea, and mark in this,


How little that which thou deniest me is;
It sucked me first, and now sucks thee,
And in this flea our two bloods mingled be;
Thou know’st that this cannot be said
A sin, nor shame, nor loss of maidenhead,
Yet this enjoys before it woo,
And pampered swells with one blood made of two,
And this, alas, is more than we would do. (John Donne)

Donne foi deão da Catedral de São Paulo, porém suas obras religiosas passam a
impressão de que se tratam de discussões com Deus, temperadas com medo e dúvida
do que uma devoção ou simples adoração a Deus. Seguindo a linha de Donne, está
George Herbert (1593 - 1633).
Com a poesia estabelecida em novos rumos, a prosa também toma novo rumo,
pode-se dizer que esta caminhava para se encontrar com o estilo do século seguinte: o
romance. John Milton (1608-1674) foi decisivo na luta entre os puritanos e anglicanos no
século XVII. Nascido de família abastada conseguiu se dedicar aos estudos reunindo,
assim, uma grande formação cultural.
Seu contato com os livros e com a formalidade em geral pode ser o que evidencia
sua pouca simpatia às fragilidades humanas em sua poesia. Milton é extremamente
importante para a literatura inglesa, pois conseguiu acompanhar em vida um processo
histórico importante que foi o fim do puritanismo, a partir da restauração da monarquia.
2 A RESTAURAÇÃO

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Com o absolutismo com os dias contados na Inglaterra, os ares de progresso e


uma maior tolerância religiosa começa a pairar sobre os ingleses. A corte que
permanecia em exílio na França trouxe consigo o gosto pela arte, pela elegância e luxo,
o que não eram apreciados pelos puritanos, pois acreditavam que poderiam ter sua fé
contaminada.
Carlos II, filho de Carlos I, apresenta um novo interesse pelas ciências, buscando
financiar pesquisas científicas em diversos campos, o que é determinante para trazer ao
cenário todo esse espírito racional inglês que permeou o século XVIII.
Dessa forma já é possível perceber que o ambiente para o desenvolvimento
cultural torna-se apropriado para uma resposta a tudo o que foi realizado anteriormente.
Os novos artistas da literatura inglesa, saem em busca da simplicidade e da objetividade.

A literatura da Restauração e do século XVIII vai, portanto, em direção oposta à


trilhada pela sagacidade de Donne e pela grandiloquência de Milton,
substituindo-as pelo Neoclassicismo. Com parâmetros importados
especialmente da França e da Itália, e adaptados à tradição inglesa, o
Neoclassicismo preconizará uma literatura depurada dos "exageros" da época
anterior, sensata e preocupadíssima com a perfeição formal. (CEVASCO e
SIQUEIRA, 1985, p. 38)

O mais importante autor do período é John Dryden (1631-1700), já que é o


primeiro a enaltecer o restabelecimento do império romano, restando sua poesia
conhecida por “Augusta”. Suas obras uniam a simplicidade dos versos com a elegância
em busca de um equilíbrio, dessa forma, a impessoalidade é uma marca latente, ou seja,
é difícil perceber muito do autor na obra.
Outro importante autor foi Alexander Pope (1688 - 1744), este, talvez, considerado
o poeta mais clássico do período. Suas obras possuem uma preocupação formal de
altíssimo nível, porém sua visão de mundo está presente com maior tenacidade.
Essa busca pela perfeição formal acaba por limitar o processo de criação e
invenção dos poetas ingleses. Porém, no final do século XVIII, perceberemos que a
liberdade criativa volta a dominar a literatura desenvolvida, principalmente, quando se
inicia o processo do Romantismo.
Ainda em relação ao período da Restauração, temos, aqui, a volta do teatro como
uma das primeiras providências tomadas por Carlos II, no entanto, aquela forma teatral
conhecida pelas grandes obras de Shakespeare, que compunham o teatro conhecido
por Elisabetano, havia se perdido. As novas peças nesse primeiro momento de retomada
eram consideradas artificiais.
A comédia ganha espaço de destaque no período, mais precisamente, a comédia
de costumes. Ao evidenciar estereótipos, a comédia satirizava a sociedade da época
que se identificava sem muitas pretensões filosóficas, mas se via na figura do velho
solteirão, a jovem rica e cheia de pretendentes etc.
Grandes escritores de comédias da época foram George Etherege (1635-1692),
William Congreve (1670-1729), Oliver Goldsmith (1728-1774) e Richard Brinsley
Sheridan (1751-1816). Destaca-se, contudo, John Gay (1685-1732) que tenha sido o
autor das mais originais obras de comédia da época.
Gay é autor de The Beggar 's Opera, um misto de ópera e teatro e que foi escrito
com o intuito de satirizar o amor exagerado londrino pelas óperas italianas à época. Ao
contrário dos autores citados anteriormente, Gay coloca em cena personagens incomuns
para a aristocracia inglesa como mendigos, ladrões etc. Bertold Brecht foi buscar
inspiração nesta obra de John Gay para sua Ópera dos Três Vinténs.
O teatro dramático, portanto, viveu uma baixa considerável, também, por não
haver mais um talento como o de Shakespeare disponível, mas também, porque a
burguesia que surge tende a ter um rigor moral alto e impositivo à sociedade inglesa, o
que faz com que as peças teatrais sofram novamente com o moralismo social.
Se o teatro dramático deixa de ser tão importante quanto outrora, um novo gênero
passa a ser promissor para a literatura inglesa no século XIX: O romance.
3 A ASCENSÃO DO ROMANCE E OS PRÉ-ROMÂNTICOS

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Ainda, a partir do processo da Restauração e pós-Restauração, a literatura inglesa


em prosa ainda não tinha espaço consolidado, uma vez que a corte preferia ler obras
importadas, principalmente, as francesas. A prosa bíblica ainda era uma força
consolidada ao lado daquela mais popular com histórias de aventuras e crimes sem
grandes interesses artísticos.
Desse período, é importante destacar John Bunyan (1628 - 1688) e seu Pilgrim 's
Progress, contando a saga de um homem cristão andando pelo mundo até chegar ao
céu. A história era popular e continha grande apoio dos setores sociais e religiosos à
época. Bunyan era um exímio contador de histórias.
Ainda neste momento pré-romântico, embora, este já seja ,por críticos literários
considerado o primeiro dos romancistas, temos Daniel Defoe (1660-1731). Moll Flanders
e Robinson Crusoé são obras de Defoe que inauguram um estilo diferente do texto em
prosa, pois vem acompanhado da vasta experiência jornalística do autor.
Dessa forma, seu texto não é considerado uma ficção, mas, sim, como uma
apresentação de uma verdade, mesmo que contada pelos próprios personagens. Em
Crusoé, Defoe prende o leitor em um estilo documental incomum à época, inaugurando
um estilo que o marca como um dos grandes nomes nesse período de transição artística.
A sátira também começa a ser valorizada por conta do momento racionalista em
que a Inglaterra passava à época e com Jonathan Swift (1666-1745), talvez, tenha
encontrado seu melhor momento. Swift em A tale of a tube ironiza o fanatismo religioso
com propriedade e veemência.
Mesmo Swift e Defoe sendo sumidades em relação à importância para o
desenvolvimento da prosa em um momento em que ela vinha perdendo espaço, alguns
críticos, no entanto, atribuem a Samuel Richardson (1689-1761) a honra de trazer ao
universo literário o primeiro romance, sendo este conhecido por epistolar, chamado
Pamela. Em meio a cartas, uma jovem criada, constantemente assediada por seus
patrões, escreve a seus pais. Assim, o autor revela uma compreensão refinada da
complexidade humana e das tensões entre o ser e o social.
Pamela, além disso, é também contemporânea, o que agradou muito, porque as
mulheres se reconheceram na obra ao analisar suas próprias condições. A presença de
um fim moral também agradou os leitores, além de que Pamela ascende de classe social
por conta de sua virtude. Essa mensagem moralizante agradou toda a Inglaterra.
A moralidade combinada à ascensão social como um prêmio através do
casamento inaugura um estilo que vai permear as histórias literárias por anos, e o
romance só verá mudanças mais significativas nesse padrão no início do século XX.
Contemporâneo de Richardson, Henry Fielding (1707-1754) se inspirou em
Pamela para criar Joseph Andrews. Se, naquela obra a jovem se entrega ao assédio de
seu patrão, nesta o jovem é despedido após recusar o amor de sua patroa. Com esse
romance, Fielding dá uma formalidade até então desconhecida ao romance, a qual todas
as ações do enredo vão contribuir para o resultado final.
Além disso, o herói de Fielding é entendido em sua profundidade psíquica, o que
acaba por ser uma das características mais aclamadas na literatura inglesa da época.
Além de Fielding, marcando o período de surgimento do romantismo inglês, temos
a figura de Lawrence Sterne (1713-1768). Sterne buscava em seu enredo incluir tudo o
que pudesse fazer rir, mesmo que noções de estruturas lógicas como espaço e tempo
precisassem ser abandonados.
Entretanto, engana-se quem pensa que a confusão de Sterne foi desarticulada.
Com suas voltas e idas, páginas em branco, enigmas, o autor se propôs a desafiar a
lógica criando um universo único em suas obras.

SAIBA MAIS

Repara nesta pulga e aprende bem


Quão pouco é o que me negas com desdém.
Ela sugou-me a mim e a ti depois,
Mesclando assim o sangue de nós dois.
E é certo que ninguém a isto aludo
Como pecado ou perda de virtude.
Mas ela goza sem ter cortejado
E incha de um sangue em dois revigorado:
É mais do que teríamos logrado.

Poupa três vidas nesta que é capaz


De nos fazer casados, quase ou mais.
A pulga somos nós e este é o teu
Leito de núpcias. Ela nos prendeu,
Queiras ou não, e os outros contra nós,
Nos muros vivos deste Breu, a sós.
E embora possas dar-me fim, não dês:
É suicídio e sacrilégio, três
Pecados em três mortes de uma vez.

Mas tinge de vermelho, indiferente,


A tua unha em sangue de inocente.
Que falta cometeu a pulga incauta
Salvo a mínima gota que te falta?
E te alegres de dizes que não sentes
Nem a ti nem a mim menos potentes.
Então, tua cautela é desmedida.
Tanta honra hei de tomar, se concedida,
Quanto a morte da pulga à tua vida.
(JOHN DONNE - A PULGA - THE FLEA)

#SAIBA MAIS#

REFLITA

Um homem nunca deve sentir vergonha de admitir que errou, o que é apenas
dizer, noutros termos, que hoje ele é mais inteligente do que era ontem - Alexander
Pope

#REFLITA#
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Olá, caros estudantes,


Finalizamos mais uma unidade dos nossos estudos sobre as literaturas em
línguas inglesas.
Nesta unidade, pudemos refletir sobre o período de transição do século XVII para
o século XVIII na Inglaterra. Percebemos que, nas primeiras décadas do século XVII, a
poesia passou a ser a grande produção literária da época. Os teatros fechados e a
ascensão do puritanismo são responsáveis pela redução da produção artística em prosa.
Vimos assim, que a bíblia e a religião passam a ser aliadas da literatura produzida
e os maiores autores da época passam a produzir poemas conhecidos como
cavalheirescos, os quais enalteciam o amor, à natureza e a sua amada.
Com o passar dos anos e a decadência do absolutismo, o progressismo se
instalou na Inglaterra e evidentemente na literatura. Vimos, então, que o texto produzido
neste período já são avessos ao puritanismo exacerbado dos anos anteriores.
A literatura do período da Restauração é marcada por autores preocupados com
um equilíbrio entre a forma e a simplicidade dos versos, mas, sendo muito mais
impessoal que nos tempos anteriores.
É neste período que o teatro volta a ganhar força, porém com as comédias, em
especial, as do cotidiano, que satirizavam a sociedade da época e esta se reconhecia
despretensiosamente.
Grandes autores escreveram comédias que marcaram o processo literário até
então, como George Etherege, William Congreve, Oliver Goldsmith, Richard Sheridan e
o mais marcante deles, John Gay.
Entretanto, vimos que o teatro dramático perde espaço, mas inaugura um novo
gênero para a literatura: o romance.
E, assim, compreendemos o período considerado pré-romântico, o qual diversos
autores e obras se inscrevem e moldam o que conhecemos como romance atualmente.
John Bunyan, Daniel Defoe, Jonathan Swift e Samuel Richardson aparecem como os
destaques deste momento da criação literária.
Agora, esperamos que na próxima unidade, você possa continuar conosco este
estudo sobre a literatura inglesa, pois nos aprofundaremos a conhecer o período
romântico até chegarmos ao que é conhecido por Era Vitoriana.
Até lá!
LEITURA COMPLEMENTAR

Literatura de restauração é a literatura inglesa escrita após a Restauração da


monarquia em 1660 após o período da Comunidade.

Alguns historiadores literários falam do período como limitado pelo reinado de Carlos II
(1660-85), enquanto outros preferem incluir em seu escopo os escritos produzidos
durante o reinado de Jaime II (1685-88) e, até mesmo, a literatura da década de 1690,
muitas vezes, é chamado de "Restauração". Naquela época, no entanto, o reinado de
Guilherme III e Maria II (1689-1702) havia começado, e o ethos da moda cortês e urbana
era, como resultado, sóbrio, protestante e até piedoso, em contraste com o espírito
sexualmente e intelectualmente libertino da vida na corte sob Carlos II.

Muitas formas literárias típicas do mundo moderno - incluindo romance , biografia ,


história, escrita de viagens e jornalismo - ganharam confiança durante o período da
Restauração, quando novas descobertas científicas e conceitos filosóficos, bem como
novas condições sociais e econômicas, entraram em jogo. Houve um grande
derramamento de literatura em panfletos, também, muito dela político-religiosa,
enquanto a grande alegoria de John Bunyan , Pilgrim's Progress, também pertence a
este período.

Grande parte da melhor poesia, especialmente, a deJohn Dryden (a grande figura


literária de seu tempo, tanto na poesia quanto na prosa), o conde de Rochester, Samuel
Butler e John Oldham , foi satírico e levou diretamente às realizações posteriores de
Alexander Pope , Jonathan Swift e John Gay em a Idade de Augusto . O período da
Restauração foi, acima de tudo, uma grande época de dramas. Peças heróicas,
influenciadas pelos princípios do neoclassicismo francês , estavam em voga, mas a
época é principalmente lembrada por suas brilhantes comédias críticas de maneiras,
escritas por dramaturgos como George Etherege, William Wycherley , Sir John Vanbrugh
e William Congreve.

Fonte: Literatura de Restauração - Período literário inglês. 2020. Disponível em:


https://delphipages.live/pt/literatura/literaturas-do-mundo/restoration-literature. Acesso em 18/09/21.
LIVRO
• Título: Gathering Force: Early Modern British Literature in Transition, 1557–1623
• Autor: Kristen Poole
• Editora: Cambridge University Press, 2019
• Sinopse: Durante os séculos XVI e XVII, a Inglaterra cresceu de uma potência marginal
para uma grande potência europeia, estabeleceu colônias no exterior e negociou a
Reforma Protestante. A população cresceu e tornou-se cada vez mais urbana. A
Inglaterra também viu a ascensão meteórica do teatro comercial em Londres, a criação
de um mercado vigoroso para textos impressos e o surgimento da escrita como uma
profissão viável. As taxas de alfabetização explodiram, e um público cada vez mais
diversificado encontrou uma profusão de novas formas textuais. A mídia e a cultura
literária transformaram-se numa escala que só voltaria a ocorrer com o surgimento da
televisão e da internet. As vinte contribuições inovadoras em Gathering Force: Early
Modern Literature in Transition, 1557-1623, traçam maneiras pelas quais cinco gêneros
diferentes estimularam e responderam à mudança. Os capítulos exploram diferentes
facetas da poesia lírica, romance, drama comercial, mascaradas e concursos e prosa
não-narrativa. Interessante e acessível, este volume lança luz sobre as relações
dinâmicas entre as transformações sociais, políticas e literárias do período.
FILME/VÍDEO
• Título: Ópera do Malandro
• Ano: 1986
• Sinopse: Max (Edson Celulari) é um malandro elegante, que é também uma popular
figura do boêmio bairro da Lapa. Ele explora uma cantora de cabaré e vive de pequenos
trambiques. Até que surge Ludmila (Cláudia Ohana), a filha do dono do cabaré, que
pretende tirar proveito da 2ª Guerra Mundial fazendo contrabando. O filme dirigido de
Ruy Guerra é baseado na música de Chico Buarque de Hollanda, que foi inspirada em
The Beggar 's Opera de John Gay.
• Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=q-KT_pE2-rY

REFERÊNCIAS
DONNE, John. The Flea. The Norton Anthology of Poetry, 1996. Disponível em:
https://www.poetryfoundation.org/poems/46467/the-flea. Acesso em: 04 nov. 2021.

CEVASCO, Maria Elisa: SIQUEIRA, Valter Lellis. Rumos da literatura inglesa. 2 ed.
São Paulo: Àtica, 1985. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3875109/mod_resource/content/1/RUMOS%20
DA%20LITERATURA%20INGLESA.pdf. Acesso em: 25 out. 2021.
UNIDADE III
DO ROMANTISMO À ERA VITORIANA
Professora Mestre Sâmia Cardoso
Professor Especialista Fábio Cardoso

Plano de Estudo:
● O romantismo;
● As fases do romantismo;
● A Era Vitoriana.

Objetivos de Aprendizagem:
• Conceituar e contextualizar o período romântico;
• Compreender os tipos de literatura produzida em língua inglesa no período dos
séculos XVIII, XIX e XX;
• Estabelecer a importância da Era Vitoriana para as novas produções literárias em
inglês.
INTRODUÇÃO

Olá, caros(as) estudantes,


Chegamos à terceira unidade de nossos estudos sobre a literatura inglesa e é
evidente o quanto o trabalho literário é uma importante cadeia de acontecimentos
interligados com fatores sociais, econômicos, políticos e humanos, sempre tendo o ser
humano como fator principal dessa rede.
Já conseguimos analisar o surgimento da literatura, a grandiosidade de
Shakespeare, o período de transição da sociedade do século XVII para o XVIII. Assim,
como a ascensão da poesia em detrimento ao teatro. Nesta unidade, iremos estudar
sobre a consolidação do período romântico e o quanto a poesia foi responsável pela
incursão de uma produção artística menos engessada e ligada aos padrões clássicos
dos séculos anteriores.
No primeiro tópico, demonstraremos as características do romantismo e o quanto
o homem passa a ser compreendido como um ser passível de incompreensões, falhas
e sentimentos e não mais a racionalidade exacerbada do período clássico.
Em um segundo tópico, dá-se a necessidade de diferenciarmos as gerações de
artistas românticos que surgiram, uma vez que suas produções se diferem à medida em
que a sociedade e os acontecimentos históricos vão se subscrevendo.
Neste tópico, discorremos sobre os diversos artistas que fizeram do romance o
grande movimento estético da literatura inglesa no século XIX.
Por fim, adentramos o período vitoriano e a ascensão da prosa sobre a poesia. A
popularização das obras e o quanto elas foram responsáveis por descrever e criticar a
sociedade da época.
Esperamos que esta unidade seja mais um momento de aprendizagem para todos
vocês.

1 O ROMANTISMO
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O romantismo é um movimento bem diferente do Classicismo do século XVIII,


uma vez que se opõe ao período de racionalismo e das ideias racionalistas do movimento
clássico. O romantismo, portanto, opõe-se à visão extremamente racional e à estética
ligada ao neoclassicismo.
O classicismo foi responsável por escrever voltado diretamente à classe
dominante e, por isso, o termo vinha a designar um valor ético, estético e também
reconhecido como ideal para ser estudado por eles que possuíam o poder. As obras
clássicas se tornaram modelos para as demais que puderam vir.
É nesse viés que o romantismo, em meados do século XVIII, surge com o intuito
de romper com as estruturas classicistas e remodela o mundo sob uma nova visão. O
classicismo se distingue principalmente porque é adepto à racionalidade, ao equilíbrio e
à harmonia, ao passo que o romantismo vai pelo completo oposto. Assim, o período
romântico é considerado o momento da imaginação, na qual se permite à sociedade
inglesa o vulnerável e incerto da irracionalidade.
O surgimento do movimento se dá concomitantemente à revolução industrial, na
qual o país passa de uma estrutura agrária para industrial. As cidades começam a ganhar
maior espaço na vida dos cidadãos ingleses sendo habitadas por milhares de pessoas
vindas do campo. A luta pela sobrevivência nas cidades, então, faz com que as pessoas
se submetam às condições subumanas independentemente da idade e gênero,
atingindo, assim, também crianças e mulheres que buscavam quaisquer condições para
sobreviver.
As classes dominantes impedem, assim, as organizações trabalhistas com o
temor de que núcleos assim venham a proporcionar conflitos parecidos ao da Revolução
Francesa, cujos ideais de igualdade, fraternidade e liberdade permaneciam acesos por
toda a Europa.
Neste contexto, temos artistas como Shelley que subvertem os interesses mais
reacionários ao incluir em sua poética temas claramente incitando uma revolta contra
essas condições miseráveis impostas pela elite. O surgimento de jovens poetas que se
voltam contra o Neoclassicismo põe fim ao período racionalista e artificial dos clássicos.
Esses escritores da época passam a versar sobre os sentimentos de forma mais simples
e direta, mais próxima do homem comum.
Atualmente, denomina-se esses poetas como românticos, mas estes nunca se
autodenominaram assim. Apenas anos após o início do século XIX que o termo
romantismo passa a ser aplicado ao movimento iniciado por eles, mas que não foi restrito
à Inglaterra. O período romântico inglês é concorrente ao alemão e contemporâneo ao
francês.
O marco inicial da nova forma de pensar a literatura é atribuído geralmente aos
poetas William Wordsworth (1770-1850) e Samuel Taylor Coleridge (1772-1834). A
publicação de Lyrical Ballads (1798) é uma consolidação dos sentimentos em detrimento
à razão. Para Wordsworth, o texto poético é uma expressão da emoção que não deve
ser padronizada ou seguir os modelos dispostos até então. Assim, o amor pela cultura e
tradição da sociedade inglesa vão ganhando espaço nos textos literários.
O poeta do período romântico é, sem dúvida, um ser social. Ainda que este se
desencante, o refúgio se dá num mundo imaginário, exótico e, por vezes, sobrenatural.
Por isso, o reinado da imaginação toma conta da poesia inglesa.

2 AS FASES DO ROMANTISMO

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Consolidado os objetivos românticos de negar a racionalidade clássica, faz-se
necessário valorizar os feitos de um artista que prenuncia a vinda do período em solo
inglês. Trata-se de William Blake (1757-1827).

Pré-romantismo

Blake, apesar de ter vivido parte de sua vida no século da razão, foi um defensor
da imaginação como elemento superior, na qual sua realização permite que o homem
atinja a verdade. Em Jerusalém, poema épico escrito por Blake, o autor cria um gigante
- Los - que representa a imaginação estando sempre em disputa contra Urizem,
representante dos poderes racionais e legais.
Independente, Blake não seguia o pensamento comum de outros homens e criou
seu universo particular em obras compostas por anjos, demônios, gigantes que tinham
por intenção indicar os conflitos humanos entre a razão e a imaginação. Por isso, Blake
foi responsável por dar dimensão aos sentimentos humanos que vão se alterando com
o decorrer da vida, sendo a infância um momento de sublimação em detrimento à vida
adulta repleta de repressão.
A obra do autor não foi recebida com louvor pelo público, provavelmente, porque
ainda se via ligada aos costumes anteriores. Dessa forma, o poeta inglês seguia criando
seu universo ao passo que poetas discutiam literatura e passavam a compor o que se
cristaliza depois como movimento romântico inglês nas primeiras décadas de XIX.
Por isso, William Blake é considerado pertencente ao que se chama de Pré-
romantismo, tendo seus principais iniciadores os já citados Wordsworth e Coleridge, que
juntos conceberam Lyrical Ballads. Entretanto, as obras individuais dos autores vêm a
compor o que é conhecido pela primeira fase do romantismo.

Primeira Fase
William Wordsworth descreve em suas obras um intenso amor à natureza, o que
pode se justificar por sua descendência escocesa. O poeta louvava sua gente simples
através do uso de uma linguagem usual e acessível.
Mesmo que simples, sua visão de mundo é sincera e repleta de imagens capazes
de remontar as paisagens inglesas. Suas principais obras foram a ode à infância,
Intimations of Immortality from Early Childhood, Lake District; e também os poemas
autobiográficos como The Excursion e The Prelude.
Samuel Taylor Coleridge traz para o romantismo o sobrenatural e o exótico,
criando versos cheios de elementos mágicos e misteriosos. Sua poética é marcada
também pelas influências de seu envolvimento com a crítica literária e a filosofia. Tendo
poemas como Ancient Mariner, Kubla Khan e Christabel compondo a galeria dos
principais textos românticos.

Diferentemente de Wordsworth, que propunha uma poesia que extraísse do


cotidiano, da natureza e do lugar-comum elementos que levassem o leitor ao
arrebatamento, a poesia de Coleridge é caracterizada pela valorização do
sobrenatural, do misterioso. Esse elemento constitui-se em um ponto de
divergência que nunca foi resolvido entre os dois poetas. (MOREIRA e
SPARANO, 2011, p. 10)

Fator importante a se considerar é que Coleridge e Wordsworth alcançaram o


respeito da sociedade inglesa, sendo homens maduros que levantavam os ideais
românticos, descolando-se da imagem jovial de que se tinha dos romancistas.

Segunda Fase

Lord Byron - ou George Gordon (1788-1824), é o típico jovem libertário ao qual se


tem entendimento do período romântico. Aventureiro e mórbido, Byron é um dos
integrantes do conhecido mal-du-siècle, que tanto influenciou a segunda geração
romântica do Brasil. O poeta viu-se obrigado a sair da Inglaterra após ter-se apaixonado
por sua meia-irmã.
Irônico e cômico, Lord Byron escreve, o que para muitos, é considerado sua obra-
prima, Don Juan, em que perseveram a crítica à hipocrisia e à opressão que se vê na
sociedade da época.
Amigo de Byron, Percy Bysshe Shelley (1792-1822) também compôs a segunda
fase do romantismo inglês. Shelley foi um defensor contumaz do proletário, mesmo
sendo filho de aristocratas, além de ter se destacado por ser revolucionário. Queen Mab,
uma de suas mais admiráveis obras, é um longo poema em que o sofrimento de um
homem é causado pela religião e moralismo.
Baseado na revolta contra a opressão ao proletariado, Shelley escreveu obras
como The Mask of Anarchy, Hellas e Prometheus Unbound e Adonais, um tocante
poema baseado na morte de outro importante autor da segunda geração romântica é
John Keats (1795-1821).
Keats escreveu sobre o belo, a alegria e o amor. Sua poética se destaca pela
sensualidade e pelos versos elegantes. Em Ode to a Nightingale, Keats descreve a
eternidade da beleza por meio do canto de um pássaro. Em La Belle Dame sans Merci,
o autor descreve uma mulher sedutora e que leva o homem à destruição. Para críticos,
a Bela Dama sem Piedade é na verdade uma personificação da tuberculose, doença que
mata o poeta ainda muito jovem.

Observamos que, mesmo os poetas da segunda geração romântica,


representados por Byron, Keats e Shelley, apesar de terem nascido após a
Revolução Francesa, compartilham muitas das expectativas e visões dos poetas
da primeira geração, Wordsworth e Coleridge.
Reflexões sobre o papel da arte, em particular da poesia, a valorização do belo,
da figura feminina, do eterno e da natureza, em oposição a transitoriedade desse
mundo, o interesse pelo passado, pelo senso de mistério e pelo lado obscuro
são algumas das características comuns aos poetas apresentados. (MOREIRA
e SPARANO, 2011, p. 16-17)

Assim, os destaques principais na poética romântica por aqui estão retratados.


Mas, e quanto a prosa? A este período, denomina-se de Era Vitoriana, a qual tratamos
a seguir.
3 A ERA VITORIANA

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A Era Vitoriana é a expressão maior da consolidação da prosa romântica, no


entanto, como qualquer movimento artístico, histórico, político ou social, este não se
inicia por si mesmo. Existem grandes nomes que abriram caminho para a realização do
romantismo.
Walter Scott (1771-1832) começou sua carreira como poeta, mas foi na prosa que
realizou suas grandes obras. Nascido na Escócia, Scott escreveu diversos romances
sobre seu país como The Bride of Lammermoor, Guy Mannering e Waverley. Scott
‘pecou’, porém, em não dar profundidade psicológica a seus personagens, o que fez com
que suas obras ficassem datadas, já que recriar o passado já não encontrava mais
sentido com o passar dos anos.
Essa profundidade psicológica dos personagens, no entanto, é característica
importante da obra de Jane Austen (1775-1817). Suas personagens são capazes de
errar e acertar, o que acaba por garantir caráter imortal às histórias.
Dona de clássicos como Emma, Pride and Prejudice e Persuasion, Austen não
pode ser resumida como uma autora de textos sobre mulheres em busca de um marido.
A ironia refinada é sua grande marca, característica incomum entre os românticos.
Algum pouco tempo depois, a realidade inglesa começa a se transformar e
obviamente vai transformando junto toda a excitação romântica inicial. A literatura vai
começar a experimentar de fato o período compreendido por Era Vitoriana.
Com a ascensão de Vitória ao trono, os ingleses vivenciavam mais um período de
paz, tranquilidade e prosperidade no reino, além de estar preparando-se para a Segunda
Revolução Industrial do país.
A rainha Vitória e o príncipe Alberto passavam ao reino um ideal de decoro e
convivência familiar para seus súditos, o que influencia a visão da sociedade da época.
Assim, um período ufanista e otimista em relação aos anos que viriam, passam a
predominar na sociedade, pois, apesar de problemas serem visíveis, havia uma
sensação de que eles seriam solucionados.
Entretanto, nem todos os ingleses estavam contemplados a este período próspero
da sociedade. As condições de trabalho permaneciam as piores e uma boa parte dos
trabalhadores viviam em condições subumanas. Dessa vez, no entanto, os movimentos
sindicalizados são criados e a paz virtual criada parece ameaçada.

[...] a Era Vitoriana foi, antes de tudo, um período de enormes contradições. Ao


lado dos grandes progressos técnicos e industriais, assiste-se a um triste
espetáculo de doenças, violência e morte. Foi também um período quando se
exerceu um forte controle sobre o comportamento sexual de homens e mulheres.
Mais especialmente sobre as mulheres. Apesar de a monarca representar a ideia
de uma mulher chefe de Estado, os papéis sexuais eram rigidamente definidos.
A mulher deveria reinar no lar e nele somente. A própria Vitória, triste
contradição, era uma feroz defensora da submissão feminina e dos limites a
serem impostos à atuação das mulheres na sociedade. (SANTANA e SENKO,
2016, p. 191)
A prosa, então, assume destaque no período, suplantando a poesia e produzindo
obras marcantes. O romance marcará a literatura inglesa na época, desenvolvendo
obras que versam sobre histórias cotidianas, de um mundo que as pessoas consigam se
reconhecer.
O maior entre os autores vitorianos é Charles Dickens (1812-1870), cujas obras
demonstram esse duplo aspecto entre uma sociedade ora confiante na tranquilidade, ora
ameaçada por sua própria desigualdade.
Dickens foi essencialmente um autor popular e soube fazer disso um trunfo para
seu sucesso. Publicando seus romances em fascículos em revistas mensais, o autor foi
lido por diversas pessoas pelo mundo, não apenas na Europa. Acredita-se que navios
que entregavam suas histórias nos Estados Unidos, por exemplo, eram esperados por
multidões ansiosas para descobrir o desfecho de suas histórias.
Essa experiência de escrever em episódios inclusive serviu de termômetro para
que Dickens desenvolvesse os enredos de suas histórias, bem como acontece com as
novelas brasileiras. Romances como The Old Curiosity Shop e Martin Chuzzlewit foram
sucessos impressionantes, sendo o segundo, até mesmo, ambientado na América para
cativar os leitores do novo continente.
Dickens une muitas características em suas obras como humor, sentimentalismo,
consciência social, ataque ao poder do dinheiro etc. Além de que o autor propõe um
romance repleto de drama, moralismo e pieguice.
Pickwick Papers, Oliver Twist, David Copperfield, Nicholas Nickelby, Bleak House
e Great Expectations são exemplos de grandes romances escritos por Dickens.
O romance vitoriano também tem a contribuição feminina como uma de suas
marcas principais. As irmãs Brontë, Emily (1818-1848), Charlotte (1816-1855) e Anne
(1820-1849) desafiaram as convenções sexistas da época e escreveram suas histórias
sobre a paixão, a rivalidade e sociedade.
Emily Brontë escreveu apenas um romance, Wuthering Heights, mas o suficiente
para lhe garantir destaque na literatura. Villette, Shirley e Jane Eyre são obras de
destaque escritas por Charlotte. Anne escreveu Agnes Grey e The Tenant of Wildfell Hall.
Com o desenvolvimento do romance vitoriano e o passar dos anos, principalmente
com a ascensão de outras potências como a dos Estados Unidos, a industrialização
alemã e a organização sindical inglesa cada vez mais forte, foi possível perceber que a
Inglaterra caminhava para o fim de uma supremacia.
Assim como em todas as áreas sociais, a literatura também não mudará
repentinamente, criando, assim, grupos de artistas que vão permanecer realizando as
obras como até então, que se oporão e aqueles que tratam de prenunciar as mudanças
que virão a ocorrer.
Os continuadores e os opositores vão se debruçar justamente ao período do
romance vitoriano, alguns buscando enaltecer o espírito vitoriano e outros o criticando
veemente. Já os profetas vão realizar uma literatura mais próxima a que virá no século
XX.
Grande símbolo dessa ebulição em processo é Oscar Wilde (1854-1900).
Representante de autores que valorizam a importância da liberdade do individuo e da
personalidade, Wilde escreveu clássicos como The Picture of Dorian Gray, no qual o
herói vende sua alma para preservar sua beleza; e De Profundis, escrito na prisão após
ter sido condenado por ser homossexual.
O teatro ressurge também por conta das obras de Wilde como A Woman of No
Importance e The Importance of Being Earnest.
Assim, com o decorrer dos anos, chegamos ao século XX e este se inicia já com
a primeira grande guerra. Este fato vai modificar as certezas e trazer novos sentimentos
para o centro da produção artística, influenciar os poetas e autores mais consagrados e
trilhar novos caminhos para a produção literária.

SAIBA MAIS

Principais Características do romantismo inglês

Estado de evasão – fuga para universos imaginários, para cenários pitorescos, muitos
deles ambientados na Idade Média.

Idealização da mulher – o lirismo romântico se aproxima dos trovadores medievais,


colocando a mulher como um ser angelical, uma figura poderosa, quase inatingível.

Subjetivismo – todos os valores são relativos, definidos a partir da ótica particular de


cada artista. É ainda, a partir do sujeito que se estrutura o mundo.
Senso de mistério e solidão – a religiosidade expressa pelas figuras do bem e do mal,
culto da morte, do sombrio, gosto pelas imagens obscuras, pelos meio-tons que
impossibilitam a definição clara e objetiva do mundo.

Simplificação da linguagem – libertação dos modelos clássicos de composição,


aproximando o texto do entendimento do leitor burguês, destituído de formação
acadêmica e cultural que lhe permitisse a compreensão de sofisticações linguísticas.

Fonte: Moreira, S. R. F. Sparano, M. E. Unidade: O romantismo inglês - Poesia. Cruzeiro do Sul - Educação
a Distância. 2011 Disponível em
https://arquivos.cruzeirodosulvirtual.com.br/materiais/disc_2011/1sem_2011/litinglesa/unidade3/texto_teo
rico.pdf.

#SAIBA MAIS#

REFLITA

Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe. (Oscar Wilde).

#REFLITA#
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao fim da terceira unidade de nossos estudos sobre a literatura inglesa.


Vimos, nesta unidade, o quanto a sociedade inglesa passava por transformações
importantes e determinantes para a produção artística. Além de que os valores sociais
foram se modificando à medida em que os anos foram passando.
A era da imaginação toma conta, em detrimento à racionalidade exacerbada, do
período anterior. O período romântico é marcado principalmente pela exacerbação do
homem como sentimental, passível de incoerências e uma intensa idealização. A
subjetividade, o momento para pensar sobre si, ganha espaço importante, mas sem
perder de vista os movimentos sociais que ocorriam em uma Inglaterra cada vez menos
agrária e mais industrial.
Ainda, foi possível conhecermos a importância da prosa para a consolidação do
romance como produção literária, por meio de autores clássicos como Jane Austen,
Charles Dickens, John Keats, Emily Brontë e Oscar Wilde.
A Era Vitoriana, a ascensão da prosa em relação à poesia, marca também uma
expansão comercial para o romance, conquistando reconhecimento popular, até mesmo,
fora do continente europeu. Isso influenciou todo o movimento literário mundial, não
apenas aquele advindo dos ingleses, inclusive o produzido no Brasil.
Assim, pudemos refletir, mais uma vez, sobre o poder da literatura em traduzir de
maneira artística a sociedade pela qual está inscrita, e o quanto sua produção pode ser
constantemente afetada devido às alterações que ocorrem justamente no curso da
história da humanidade. O século XX que se aproxima já é marcado logo em seus
primeiros anos pela Primeira Guerra e, evidentemente, toda a produção artística é
afetada pelo sofrimento causado por conta do conflito.
Dessa forma, convidamos vocês, caros estudantes, a seguir conosco para a
próxima unidade, na qual demonstraremos essas modificações de sentimentos que
influenciaram na produção artístico-literária do século XX.

LEITURA COMPLEMENTAR
Perspectivas da Era Vitoriana: sociedade, vestuário, literatura e arte entre os
séculos XIX e XX

Luciana Wolff Apolloni Santana e Elaine Cristina Senko

Resumo

Este artigo pretende apontar as principais vertentes da sociedade, do vestuário, da


literatura e da arte da época vitoriana (XIX- início do XX) pois há um retorno a este
passado em várias manifestações históricas até hoje. Acreditamos que esse momento
transformou o modo de pensar não apenas da Inglaterra e da Europa como um todo mas
o Ocidente de certa forma. Também a Era Vitoriana atingiu o modo de se pensar e de
como se comportar no Brasil de meados do século XIX e início do XX. De um modo
dinâmico vamos apresentar como os fatos históricos da Era Vitoriana atingiram a
expressão social das pessoas através da moda e depois como isso gestava perspectivas
na literatura e na arte.

Palavras-chave: Era Vitoriana; Moda Vitoriana; Literatura e Arte Vitoriana

Fonte: SANTANA, L. W. A., & SENKO, E. C. (2016). Perspectivas da era Vitoriana: sociedade,
vestuário, literatura e arte entre os séculos XIX e XX. Revista Diálogos Mediterrânicos, (10), 189–215.
Disponível em: https://doi.org/10.24858/209. Acesso em: 25 out. 2021.
LIVRO

• Título: O Retrato de Dorian Gray


• Autor: Oscar Wilde (autor), Paulo Schiller (tradutor)
• Editora: Penguin
• Sinopse: Em 1891, quando foi publicado em sua
versão final, O retrato de Dorian Gray foi recebido
com escândalo, e provocou um intenso debate sobre
o papel da arte em relação à moralidade. Alguns anos
mais tarde, o livro foi inclusive usado contra o próprio
autor em processos judiciais, como evidência de que
ele possuía “uma certa tendência” - no caso, a
homossexualidade, motivo pelo qual acabou
condenado a dois anos de prisão por atentado ao
pudor. Mais de cem anos depois, porém, o único
romance de Oscar Wilde continua sendo lido e debatido no mundo inteiro, e por questões
que vão muito além do moralismo do fim do período vitoriano na Inglaterra, definida por
um dos personagens do livro como “a terra natal da hipocrisia”. Seu tema central - um
personagem que leva uma vida dupla, mantendo uma aparência de virtude enquanto se
entrega ao hedonismo mais extremado - tem apelo atemporal e universal, e sua trama
se vale de alguns dos traços que notabilizaram a melhor literatura de sua época, como
a presença de elementos fantásticos e de grandes reflexões filosóficas, além do senso
de humor sagaz e do sarcasmo implacável característicos de Wilde.
FILME/VÍDEO

• Título: Orgulho e Preconceito


• Ano: 2006
• Sinopse: Inglaterra, 1797. As cinco irmãs Bennet -
Elizabeth (Keira Knightley), Jane (Rosamund Pike), Lydia
(Jena Malone), Mary (Talulah Riley) e Kitty (Carey
Mulligan) - foram criadas por uma mãe (Brenda Blethyn)
que tinha fixação em lhes encontrar maridos que
garantissem seu futuro. Porém Elizabeth deseja ter uma
vida mais ampla do que apenas se dedicar ao marido,
sendo apoiada pelo pai (Donald Sutherland). Quando o
sr. Bingley (Simon Woods), um solteiro rico, passa a
morar em uma mansão vizinha, as irmãs logo ficam
agitadas. Jane logo parece que conquistará o coração do novo vizinho, enquanto que
Elizabeth conhece o bonito e esnobe sr. Darcy (Matthew Macfadyen). Os encontros entre
Elizabeth e Darcy passam a ser cada vez mais constantes, apesar deles sempre
discutirem.
• Link do vídeo (se houver): https://www.youtube.com/watch?v=Y6XneqkfD3c
REFERÊNCIAS

CEVASCO, Maria Elisa: SIQUEIRA, Valter Lellis. Rumos da literatura inglesa. 2 ed.
São Paulo: Ática, 1985. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3875109/mod_resource/content/1/RUMOS%20
DA%20LITERATURA%20INGLESA.pdf. Acesso em: 25 out. 2021.

MOREIRA, S. R. F. SPARANO, M. E. Unidade: O romantismo inglês - Poesia.


Cruzeiro do Sul - Educação a Distância. 2011 Disponível em
https://arquivos.cruzeirodosulvirtual.com.br/materiais/disc_2011/1sem_2011/litinglesa/u
nidade3/texto_teorico.pdf. Acesso em: 18 jan. 2022.

SANTANA, L. W. A., & SENKO, E. C. (2016). Perspectivas da era Vitoriana:


sociedade, vestuário, literatura e arte entre os séculos XIX e XX. Revista Diálogos
Mediterrânicos, (10), 189–215. Disponível em: https://doi.org/10.24858/209. Acesso
em: 25 out. 2021.

VASCONCELOS, J. B. C., & MELO, F. D. (2019). A Crítica Social no Romance: O


Médico e o Monstro na Era Vitoriana. Revista Homem, Espaço e Tempo, 13(1), 161-
176. Disponível em: //rhet.uvanet.br/index.php/rhet/article/view/314. Acesso em: 04 nov.
2021.
UNIDADE IV
SÉCULO XX E O MODERNISMO
Professora Mestre Sâmia Cardoso
Professor Especialista Fábio Cardoso

Plano de Estudo:
● O século XX;
● A poesia do século XX;
● O romance no modernismo;
● A dramaturgia na segunda metade do século XX.

Objetivos de Aprendizagem:
• Conceituar e contextualizar a sociedade do início do século sobrevivente da guerra;
• Compreender o tipo de poesia composta pelos artistas do século;
• Estabelecer a importância da dramaturgia.
INTRODUÇÃO

Olá, caros estudantes, chegamos à última unidade de nosso curso de Literaturas


em Língua Inglesa e esperamos que até aqui já tenha sido possível viajar pelo universo
fascinante que a arte literária pode proporcionar. Nesta unidade, temos como missão
apresentar o período da história e da literatura conhecida por modernismo.
Inicialmente, apresentaremos o século XX e seus extremos. Este século foi
marcado por diversas transformações e por tantos acontecimentos se concretizarem
justamente neste século.
É importante que conheçamos os fatos mais importantes da política e sociedade
do século, pois esta é decisiva para a produção artística e literária do período. Não há
como dissolver os aspectos, uma vez que os autores deste momento buscam se
aproximar dos fatos e da realidade de sua época.
Nesta unidade, trataremos dessa busca pela compreensão em um momento tão
confuso para a humanidade, em meio a revoluções, conflitos e transformações.

1 O SÉCULO XX
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A Inglaterra do século XX era um espaço complexo e variado, cheio de


modificações logo nos anos iniciais do século. Evidentemente, as modificações estavam
por toda parte, na literatura, na arte, na música e em todas as formas de expressão do
povo inglês.
Alguns anos antes do século, alguns acontecimentos começaram a ameaçar as
estruturas sociais, políticas e econômicas, preparando o terreno para que o modernismo
se estabelecesse anos depois.
A Guerra dos Bôeres, os conflitos sociais envolvendo a Índia de Gandhi, a reforma
política inglesa que dá direito ao voto para pessoas de classes mais baixas, a criação de
inúmeras escolas, o que populariza o público da literatura e, principalmente, o surgimento
de uma sociedade com ideais menos rigorosos como os vitorianos para os relativistas.
As ideias de Karl Marx, e sua visão materialista da história, questionaram o
sistema capitalista. Darwin já abalara a segurança masculina ao colocá-lo como um ser
humano e não mais ao lado dos deuses. Espalhou-se pela Europa as teorias de Freud
sobre o papel do inconsciente no ser humano no início do século XX. Enfim, neste
momento, o homem do início do século está sempre em meio a incertezas e
questionamentos.
É nesse contexto de inseguranças, em uma Europa prestes a ser palco da
Primeira Guerra, que uma nova imagem da literatura surge. Provocado pelo relativismo,
uma nova experiência das formas surgirá, tanto no romance quanto na poesia. A arte do
século XX consegue traduzir a complexidade do momento em que está inserida porque
se, às vezes, aliena, outras vezes, é capaz de refletir e ampliar a diversidade da
modernidade.

2 A POESIA DO SÉCULO XX
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A poesia do novo século traz uma nova guinada à produção poética, uma vez que
o poema deixa de ser visto através da experiência pessoal do poeta, o que era motivo
principal dos românticos.
Evidentemente, no início do século, ainda o romantismo convencional
caracterizava a produção da poesia. Porém, T. S. Eliot (1888-1965) é o grande
responsável inicial pela nova forma da poética.

Na poesia de Eliot há a mesma aliança da "superficialidade e da seriedade" que


ele louvara na poesia a moda de John Donne. Também são cerebrais os poemas
de Eliot, suas imagens são complexas, mas, ao mesmo tempo, há neles um tom
de conversação, reforçado pelo uso de palavras da linguagem comum.
Interpretar Eliot somente à luz dos metafísicos, porém, obscurece o aspecto
radicalmente moderno de sua poesia. Ela reflete, em sua fragmentação, a
complexidade e a falta de sentido de nossa era, em que o homem perdeu o
sentimento de unidade com o mundo. (CEVASCO e SIQUEIRA, 1985, p. 75-76)

A poética de Eliot exige do leitor uma abrangência de conhecimento, uma vez que
seus temas, citações e referências fazem menção a todas as transformações trazidas
pela modernidade do novo século.
Essa constante fragmentação de assuntos aparentemente desconexos é o que
sugere o movimento dos pensamentos do homem do século, repleto de dúvidas,
incertezas e questionamentos sobre si mesmo e os outros. The Waste Land e Prufrock
and Other Observations são livros publicados pelo autor que refletem o caos trazido pelo
mundo moderno.
Além disso, neste momento da história, o homem se distancia da natureza e do
louvor ao bucólico de anos anteriores devido ao avanço das máquinas e da consolidação
das cidades. Ainda, existe a melancolia como referência, como quando Eliot diz que a
primavera é o momento mais cruel porque a vida renasce mesmo em um momento de
morte:
April is the cruellest month, breeding
Lilacs out of the dead land."

Essa ruptura da poesia do século XX com a produzida pelo século XIX também
aparece nos romances escritos por Virginia Woolf, James Joyce e D.H. Lawrance. Os
personagens, que até então eram completamente revelados, tanto psicologicamente
quanto em sua externalidade, agora passam a expressar a complexidade do próprio ser.
A expansão do público com o acesso maior aos textos literários, a exposição dos
autores às teorias da filosofia, da psicanálise e das ciências, deteriora a ideia de um
sentido de mundo único. Portanto, a literatura passa a refletir a ambiguidade do homem,
sua dubiedade e pretende não transmitir uma falsa realidade.
É importante destacar o nome de W. H. Auden (1907-1973) como importante
poeta do início do segundo quarto do século XX. Nos anos 30, o autor lutou contra as
forças fascistas e se preocupou com a influência da realidade na arte.
Auden admirava Eliot e, assim como ele, preferiu a linguagem coloquial na poesia
para se aproximar ainda mais da vida urbana.

3 O ROMANCE NO MODERNISMO

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O romance no modernismo floresce com dois autores principais: Virginia Woolf e


James Joyce. Como vimos no tópico anterior, o panorama variado e complexo do século
XX faz com que o novo fazer artístico-literário seja baseado na experimentação de novas
possibilidades e o foco permanece no mundo interior do indivíduo. A solidão e as
incertezas do século motivam a criação artística.
Virginia Woolf (1882-1941) é considerada um exemplo dessas novas
características. O romance cheio de segurança descrito pelos narradores dá espaço para
o registro de pensamentos e sentimentos dos personagens. Woolf é reconhecida pelo
fluxo de consciência como característica notável de sua técnica narrativa. Esse fluxo de
consciência tem por característica ser, por vezes, de padrões ilógicos, que fazem
associações nem sempre reais.
Dessa forma, muitas das ações que ocorrem na narrativa de Woolf se dá nos
pensamentos dos personagens. Mrs. Dalloway e To the Lighthouse são exemplos
dessas ações que se dão na mente de seus personagens. No entanto, existem críticas
de que poucos acontecimentos se dão nessas obras.
Se por parte da crítica às obras de Woolf são consideradas morosas, podemos
dizer que essa característica é exatamente o que a autora anseia com sua narrativa, já
que busca o sentido da vida e utiliza essa lentidão para caracterizá-la. Além disso, Woolf
quebra o fluxo temporal, porque em suas obras o passado e o presente se confundem
na leitura da consciência de seus personagens.
Assim, vemos que a ausência de um narrador onisciente, o fluxo temporal alterado
e a visão pessoal da vida já distanciam o romance produzido por Woolf daquele
produzido anteriormente.
Virginia Woolf coexistiu o universo do novo romance com o irlandes James Joyce
(1882-1941), este considerado tão moderno que alguns afirmam que até hoje não somos
capazes de compreendê-lo completamente.
Autor de Ulysses e Finnegans Wake, Joyce tenta neste último reverberar toda a
história dos homens. Joyce impõe à prosa a estrutura dos sonhos, o que faz com que o
ritmo seja tão importante quanto em uma poesia.
O homem moderno, preso à solidão e a incerteza, são marcas da literatura escrita
por James Joyce. Em “A Portrait of the Artist as a Young Man”, o autor narra um jovem
artista desde criança à velhice. O destaque de sua obra se dá aos diálogos que
demonstram perfeitamente a oscilação emocional das fases da vida de um artista,
fazendo, assim, uma análise psicológica precisa do homem.
Em “Ulysses”, tudo se passa em apenas um dia em Dublin. Leopold Bloom é o
personagem principal da narrativa, ao lado de sua mulher infiel Molly e Stephen Dedalus,
que apenas vem a conhecer Bloom no fim do dia.
Nesse romance, rico de referências à Odisseia, Joyce descreve seus
personagens com fiel contexto, até mesmo, para representar o cansaço dos
personagens. Nessa obra, Joyce também faz neologismos, aperfeiçoa a técnica do fluxo
de consciência e apresenta paródia e uma flagrante liberdade para revelar os
pensamentos mais íntimos dos personagens, o que fez a Inglaterra permitir sua
publicação apenas 14 anos depois de sua primeira publicação em Paris em 1922.
Outro grande romancista do início do século XX foi D. H. Lawrence (1885-1930).
Filho de proletário, Lawrence conhecia com profundidade os males da revolução
industrial para os trabalhadores das fábricas. Para o autor, a industrialização em busca
de eficiência desmancha a conexão entre o homem e a natureza. Em “Lady Chatterley’s
Lover”, “The Rainbow” e “Women in Love”, o avanço da sociedade industrial só pode ser
contida através do amor e do sexo, pois ainda permanecem como traços ligados ao
subjetivo.
Lawrence é capaz de nos fazer crer no seu mundo, ao menos que seus leitores
concordem com sua visão de mundo. Entretanto sua visão apaixonada pela vida é
marcante em sua ação literária.
Aldous Huxley (1894-1963), amigo de Lawrence, também captou aspectos do
mundo conflituoso nos anos iniciais do século. Huxley é mais conhecido atualmente
como o autor de “Brave New World”, obra que descreve um futuro sombrio no qual a
tecnologia enterra os sofrimentos humanos, contudo, destrói o próprio.
Com essa mesma visão de mundo a qual descreve Huxley em Admirável Mundo
Novo, insere-se George Orwell, pseudônimo de Eric Hugh Blair (1903-1950). Orwell é
um dos principais nomes da literatura mundial. Engajado politicamente e com um texto
acurado sobre as realidades da época, o autor é responsável por clássicos como “Animal
Farm” (A Revolução dos Bichos) e 1984.
Em A Revolução dos Bichos, Orwell satiriza os regimes ditatoriais e vê com muito
pessimismo as revoluções se concretizarem. É como se o autor já preparasse um
ambiente para seu romance mais popular, o qual justamente se passa em um regime
totalitário.
Trata-se de 1984 uma previsão de um futuro assustador na qual o Estado fiscaliza
tudo e todos os cidadãos, até mesmo, seus pensamentos. Ao homem não se dá mais o
direito de segredos, nem os mais íntimos, pois todos estão sob a vigilância das lentes do
“Big Brother”, que lhes tomam todo o direito à privacidade.
Os temores de Huxley, Orwell e Auden são confirmados na Segunda Guerra
Mundial. Um novo mundo configurado passa a surgir para a segunda metade do século.
Londres deixa de ser o centro do mundo, que agora se concentra nos Estados Unidos.
Assim como em todos os campos, essas transformações também modificam a produção
literária do período.

4 A DRAMATURGIA NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX

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A segunda guerra abalou extremamente a Inglaterra. No fim da guerra, a


economia praticamente destruída, o país só conseguia tentar se reerguer a partir dos
investimentos estadunidenses, que assim fazia por tentar interromper a influência da
Rússia na Europa.
Essa retomada lenta da economia impacta na sociedade, principalmente, na
juventude que se vê desesperançosa e sem perspectiva mesmo com formações
avançadas. Dessa forma, a ascensão social se dá impossível.
Nesse contexto, surge na literatura um grupo de dramaturgos, poetas, que ficam
conhecidos por sua ira e desejo de protestar contra a situação econômica injusta à qual
enfrentavam. Os “Angry Young Men” eram contra o capitalismo, mas também
desprezavam o socialismo. Em geral, os “jovens irados” desejavam que o artista não se
engajasse.
Mais tradicionalistas, os jovens dessa segunda metade do século tinham em
comum um repúdio à liberdade que a literatura era produzida anterior à guerra. E, é no
teatro, o local em que os “Angry Men” encontram um veículo para expressarem suas
inquietações.
John Osborne (1929-1994), teatrólogo de maior expressão do período, propunha
ao seu público a experiência de sentir no momento e pensar após este. Sua primeira
peça, “Look Back in Anger” (1956), narra a vida de um atormentado homem, Jimmy
Porter, vítima das mudanças sociais que a Inglaterra enfrentava.

Osborne fez mais do que qualquer outro para popularizar um novo tipo de herói
e um novo tipo de ator. Na verdade, é muito difícil de avaliar como Albert Finney,
Peter O’toole, Nicol Williamson, Richard Harris, Tom Courtenay e Robert
Stephens poderiam ter alcançado o sucesso que eles obtiveram se Kenneth
Haigh não tivesse aberto o caminho com o primeiro dos jovens heróis ‘revoltados’
(HAYMAN, 1976, p. 3 - tradução de Thiago Romão Alencar)

No entanto, alguns anos depois, Osborne abandona sua ira em outras obras
dramáticas como “Luther” e “A Patriot for Me”, pois volta-se a buscar os conflitos pessoais
do homem, a solidão e a incoerência ideológica que este enfrenta, ou seja, distante do
teatro dos irados.

Osborne continuaria sua carreira produtiva até os anos 1980. Ainda produziria
interessantes peças, como The World of Paul Slickey (1959) e The Hotal in
Amsterdam (1968), onde ataca as tensas relações entre agente de teatro e
atores e dramaturgos; Luther (1961), sobre a vida de Martinho Lutero, para
Osborne um dos grandes revolucionários da história, a partir do qual ele
desenvolveu sua crítica à Igreja Reformada Inglesa e seu desvirtuamento dos
valores protestantes originais; A Patriot For Me (1965), que descreve a história
verídica de Alfred Redl, agente secreto homossexual a serviço de inteligência do
Império Austro-Húngaro em fins do século XIX. (ALENCAR, 2015, p. 121)

Aos poucos a situação da sociedade inglesa foi melhorando e colocou a produção


dos jovens irados em descrédito, fazendo com que o movimento não durasse muito
tempo. Assim, um tom mais irônico se estabeleceu na produção dramatúrgica dos anos
XX, além do existencialismo de Sartre ou os conflitos subjetivos do amor.
Os jovens irados que não tinham por interesse o engajamento político de seus
integrantes veem essa ideia ser abandonada a partir de produções teatrais como as de
Arnold Wesker, a qual a luta de classes e os males provocados pelo capitalismo são o
mote principal.
Nesse período, floresce a influência do teatro de Bertolt Brecht com seu teatro
épico e seu convite à plateia para participar da peça.
A consolidação do teatro épico produzido, nesta segunda parte do século, traz o
contato com valores culturais diferentes, a integridade humana, as ideologias políticas,
os conflitos psicológicos e sem se prender a uma linha estética, baseando-se em uma
construção literária mais livre.

SAIBA MAIS

O Teatro Experimental de Brecht


Rita Alves Miranda

Bertolt Brecht pela história do teatro e a influência de sua proposta na fase


contemporânea da arte. Inicialmente, analisamos a crítica de Brecht dirigida a algumas
concepções tradicionais de teatro e o caminho percorrido pelo autor para pensar a crise
do drama que se instalara tempos antes. Nesse percurso foram consideradas algumas
referências e possíveis objeções de Brecht a Aristóteles e ao modelo aristotélico de
teatro. Nesse debate polêmico, analisamos as referências ao filósofo grego, a fim de
esclarecer se o que Brecht pretendia era rejeitar mesmo Aristóteles, ou mais uma
apropriação daquele modelo formal. Sabe-se que o modelo aristotélico de teatro foi
retirado da obra Poética de Aristóteles e que sofreu apropriações segundo as épocas,
sendo uma delas a leitura burguesa. Essa leitura é rebatida por Brecht que revê a
realidade do drama burguês e percebe que era preciso que ele fosse revisto
imediatamente, pois o teatro já não atingia mais as pessoas, mas sua disposição
dependia de uma relação de passividade por parte dos espectadores.
Frente a essa crise do drama, alguns artistas tentaram reformulá-lo sem, no
entanto, obter sucesso. Brecht, quando deu início a seu trabalho, já tinha
conhecimento dessas tentativas e diante desses fracassos, o objetivo era fazer o teatro
inaugurar um novo lugar dentro da sociedade. Em busca do melhor lugar, ele tem em
mente um lugar de produção de consciências, opondo-se radicalmente à lógica
burguesa-capitalista que buscava a alienação dos indivíduos.

Fonte: Miranda, Rita Alves. O Teatro Experimental de Brecht. PUC-SP. 2013. Disponível em:
https://sapientia.pucsp.br/bitstream/handle/11641/1/Rita%20Alves%20Miranda.pdf . Acesso em: 18 jan.
2022.

#SAIBA MAIS#

REFLITA

Para quem tem uma boa posição social,


falar de comida é coisa baixa.
É compreensível: eles já comeram. (Bertolt Brecht)

O preço barato do papel é a razão por que as mulheres começaram por ter êxito na
literatura, antes de o alcançarem noutras profissões. (Virginia Woolf)

#REFLITA#
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caros estudantes, chegamos ao fim de nossa última unidade em nossa viagem


pelos estudos literários ingleses.
Nesta unidade, você pôde constatar que o modernismo não precisa de questões
estéticas, mas, sim, práticas. Esse período artístico questiona a arte clássica que
prezava por sua forma e nobreza e traz um ser humano em busca de respostas em meio
a tantas incertezas que se desenvolviam socialmente.
Nesse viés, verificamos que a produção literária do século, passou por um
turbilhão de transformações tão grandes quanto às modificações do próprio período. A
era dos extremos a qual toda a sociedade enfrentava foi responsável por modificações
grandes e decisivas, trazendo consequências ao artístico-literário até hoje.
A poesia do século XX deixa de lado o respeito às convenções clássicas e busca
inaugurar uma poética centrada no ser. O poeta do século XX não busca linguagens
rebuscadas e complexas, mas, sim, acessível e que se conecte com a praticidade do
período em que se inseria. Os principais nomes da época foram T. S. Eliot e W. H. Auden.
Também pudemos ver, nesta unidade, que a produção do romance no século XX
passou por diversas transformações devido ao conturbado período inglês,
principalmente, por conta das grandes guerras. Vimos, então, que o homem moderno
possui muitas incertezas e transforma isso em motivação.
Os autores principais do período, Virginia Woolf e James Joyce, procuram através
do fluxo do pensamento de seus personagens demonstrar a confusão em que as
pessoas da época passavam. D. H. Lawrence, outro importante autor, traz além do
entendimento de seus personagens uma crítica feroz à formatação do mundo,
encontrando em Huxley as mesmas inquietações.
Vimos que Huxley e Orwell narraram de forma precisa um mundo assustador e
repleto de incertezas devido ao avanço das máquinas graças à consolidação das
máquinas sobre o homem. Huxley é notável por “Brave New World” e Orwell pelo clássico
“1984”.
Por fim, vimos que a partir da segunda metade do século XX, já após a segunda
guerra, a literatura também foi responsável pela retomada do prestígio teatral e o
florescer de conceitos sempre buscando uma ruptura com o movimento vigente e uma
busca ao passado, dinâmica comum na literatura. Até os dias de hoje encontramos
referências desse período literário tão intenso para a criação artística. Inserem-se aqui
John Osborne, Arnold Wesker e Bertolt Brecht.
Dessa forma, encerramos nossa busca pelos caminhos que levaram à literatura
inglesa ser uma das mais ricas e prestigiadas mundialmente.

LEITURA COMPLEMENTAR

Da Revolução dos Bichos a 1984: como resistir


Uma revelação reencontrar Napoleão, Bola de Neve, Sansão, Garganta e toda a
fauna de “A Revolução dos Bichos”, depois de quase quarenta anos. Como o tempo
passa rápido. Como mudamos. Como não mudamos.
E como as fábulas têm esse poder imperioso, sobrenatural de permanecer
eternas. É o que faz das fábulas, fábulas: as mais permanentes histórias sobre a
natureza humana. Que, aprendemos lendo os antigos e os contemporâneos, não muda.
É tradição nas mais diferentes culturas botar as mais humanas verdades nas
bocas de animais. Era uma maneira de dizer a verdade com total liberdade, pra gente
lida e inculta, para todas as idades.
Mas “A Revolução dos Bichos” é uma fábula diferente. Porque é um conto de
fadas – o subtítulo original é exatamente esse, “A Fairy Story”. Também é quase um
documentário. E, incrível, tão vital hoje quanto em 1945, quando foi publicado.
Continua inspiradora e provocativa a história dos bichos que se revoltam contra o
dono da Granja do Solar. Estabelecem no sítio uma nova sociedade, com novas regras,
onde todos são iguais. E ao final descobrem que alguns animais são mais iguais que os
outros.
O livro voltou às listas de mais vendidos nos últimos anos. As escolas estão dando
“A Revolução dos Bichos” para os jovens lerem. Eu mesmo comprei, e ao ver meu filho
com o livro debaixo do braço, o tio dele cuspiu fogo, “isso é propaganda da direita”.
Imagine se ele soubesse que é a tradução de Heitor Aquino Ferreira, secretário de
Golbery, Geisel e Figueiredo.
“A Revolução dos Bichos” foi escrito no auge da Segunda Guerra, quando União
Soviética, Reino Unido e EUA eram aliados contra o eixo. Londres estava sendo
bombardeada. O manuscrito foi salvo das ruínas da casa de Orwell. Foi dificílimo arrumar
editor, inicialmente porque Stálin era aliado, e depois porque o livro era muito à direita,
ou muito à esquerda, ou muito irônico, ou “pra criança”. Era o livro certo na hora errada.

Contra os Messias

É verdade que o livro tem sido usado para bater na União Soviética desde seu
lançamento. Justo, porque para isso foi concebido por George Orwell.
Orwell considerava o stalinismo quase tão destrutivo quanto o nazismo, e
parentes próximos. Sua crítica à URSS era pela esquerda, não pela direita. “Para reviver
o movimento socialista”, explicou, “eu me convenci de que é essencial a destruição do
mito soviético”.
Uma visita cuidadosa à fazenda defende para sempre o leitor de empulhações
salvacionistas. Venham de onde vierem no espectro ideológico. Foi a primeira vez que
Orwell, em suas palavras, tentou “fundir propósito artístico e propósito político em um
todo.”
É o que tenta fazer Roger Waters. Na minha geração, muitos chegaram a Orwell
pelo Pink Floyd. Animals, o álbum, é inteiramente inspirado pela Revolução dos Bichos.
The Wall, um libelo anti-totalitário, foi o disco que me iniciou nas possibilidades
contestatórias do rock, lá em 1979. Roger, autor das letras de ambos, só ficou mais
explícito com a idade.
[...]

Fonte: Forastieri, André. Da Revolução dos Bichos a 1984: Como resistir. 2018. Disponível em:
https://andreforastieri.com.br/blog/da-revolucao-dos-bichos-a-1984-como-resistir/. Acesso em: 04 nov.
2021.
LIVRO

• Título: Um Modernismo que Veio Depois: Arte


no Brasil - Primeira Metade do Século XX
• Autor: Tadeu Chiarelli

• Editora: Alameda
Editorial
• Sinopse: No livro
"Um modernismo que
veio depois" se pode
encontrar textos
sobre a arte no Brasil,
publicados
originalmente em
catálogos, revistas e
capítulos de livros.
Produzidos entre
1995 e 2008, os
textos são
organizados segundo
a cronologia “oficial”
da história da arte no
Brasil, partindo de
reflexões sobre o
modernismo da
geração de 1992 até
alcançar as obras de artistas atuantes já na segunda metade do século XX. A proposta
central do livro é justamente colocar em evidência essa sequência cronológica, que para
certa historiografia, coincide com uma trajetória que iria do “figurativo” ao “abstrato”.
Desenvolvida a partir de um artigo de Mário de Andrade sobre Portinari, a idade de que
o modernismo surge “depois” das vanguardas históricas – espécie de eixo condutor do
livro – vai se sedimentando e se desdobrando ao longo dos textos.
Um desses desdobramentos é a observação da capacidade que alguns artistas locais
têm de conciliar em suas obras, posturas estéticas tidas como contrárias ou mesmo
antagônicas. Encarar esse problema consiste, sobretudo, no reconhecimento da
complexidade dos debates estéticos no país, patente nas discussões sobre a questão
do “retorno à ordem" e sobre o conceito de arte “abstratizante”.

FILME/VÍDEO

• Título: Black Mirror


• Ano: 2011 -
• Sinopse: Uma das séries de suspense de maior sucesso
dos últimos tempos, Black Mirror é uma coletânea de
contos que refletem sobre a relação dos seres humanos
com a tecnologia, algo que nem sempre pode ser algo
positivo como pensamos.
• Link: https://www.youtube.com/watch?v=W6STT9Fhdbo
REFERÊNCIAS

ALENCAR, Thiago Romão de. “NO GOOD, BRAVE CAUSES LEFT?”: O fim do
Império e o Teatro de John Osborne na Inglaterra dos Anos 1950. Orientadora:
Samantha Viz Quadrat. Niterói: UFF/PPGH, 2015.

CEVASCO, Maria Elisa: SIQUEIRA, Valter Lellis. Rumos da literatura inglesa. 2 ed.
São Paulo: Àtica, 1985. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3875109/mod_resource/content/1/RUMOS%20
DA%20LITERATURA%20INGLESA.pdf. Acesso em: 25 out. 2021.

HAYMAN, Ronald. Contemporary Playwrights: John Osborne. Londres: Heynemann,


1976.
CONCLUSÃO GERAL

Prezado(a) aluno(a),

Chegamos ao fim da disciplina de Literatura em Língua Inglesa. Na


Unidade I,vimos a importância dos primeiros manuscritos para a criação da
língua pela qual o mundo se comunica atualmente, bem como a forma artística
de se expressar que está intrinsecamente ligada à difusão e ao conhecimento
linguístico e à época. Além disso, compreendemos que as influências das
navegações e das invasões para a consolidação de um idioma também é algo
importante que a difusão da literatura pode contribuir. E, após esse momento,
fomos em busca da maior autoridade literária da época: William Shakespeare.
Na Unidade II, refletimos sobre o período de transição do século XVII para
o século XVIII na Inglaterra. Percebemos que, nas primeiras décadas do século
XVII, a poesia passou a ser a grande produção literária da época. Os teatros
fechados e a ascensão do puritanismo são responsáveis pela redução da
produção artística em prosa. Entendemos que a bíblia e a religião passam a ser
aliadas à literatura produzida e os maiores autores da época passam a produzir
poemas conhecidos como cavalheirescos, os quais enalteciam o amor, a
natureza e as suas amadas. Assim como, estudamos as transformações
ocorridas na literatura a partir do momento histórico da época.
Na Unidade III, conhecemos a sociedade inglesa e suas transformações,
assim como as mudanças dos valores sociais ao longo dos anos. Ainda, foi
possível conhecermos a importância da prosa para a consolidação do romance
como produção literária, por meio de autores clássicos como Jane Austen,
Charles Dickens, John Keats, Emily Brontë e Oscar Wilde. A Era Vitoriana, a
ascensão da prosa em relação à poesia, marca também uma expansão
comercial para o romance, conquistando reconhecimento popular, até mesmo,
fora do continente europeu. Isso influenciou todo o movimento literário mundial,
não apenas aquele advindo dos ingleses, inclusive o produzido no Brasil.
Por fim, a Unidade IV apresentou questões a respeito do modernismo.
Esse período artístico questiona a arte clássica que prezava por sua forma e
nobreza e traz um ser humano em busca de respostas em meio a tantas
incertezas que se desenvolviam socialmente. A partir disso, notamos que a
produção literária do século passou por um turbilhão de transformações tão
grandes quanto às modificações do próprio período. A era dos extremos a qual
toda a sociedade enfrentava foi responsável por modificações grandes e
decisivas, trazendo consequências ao artístico-literário até hoje.
A poesia do século XX deixa de lado o respeito às convenções clássicas
e busca inaugurar uma poética centrada no ser. O romance no século XX passou
por diversas transformações devido ao conturbado período inglês,
principalmente, por conta das grandes guerras. Vimos, então, que o homem
moderno possui muitas incertezas e transforma isso em motivação. Além disso,
conhecemos alguns autores, tais como: Virginia Woolf e James Joyce, Por fim,
vimos que, a partir da segunda metade do século XX, já, após a segunda guerra,
a literatura também foi responsável pela retomada do prestígio teatral e o
florescer de conceitos sempre, buscando uma ruptura com o movimento vigente
e uma busca ao passado, dinâmica comum na literatura. Até os dias de hoje
encontramos referências desse período literário tão intenso para a criação
artística. Inserem-se aqui John Osborne, Arnold Wesker e Bertolt Brecht.

Até uma próxima oportunidade. Muito Obrigado!

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