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Obra
Durante o 2º. Século circularam 130 comédias ligadas ao nome de Plauto. A fase
crítica na transmissão do corpus da obra foi marcada pela intervenção de Varrão, que
selecionou, no De comoediis Plautinis, vinte e uma comédias sobre as quais havia um
consenso geral em relação à autenticidade.
É muito difícil organizar a evolução poética de Plauto, provavelmente as comédias
mais ricas de ritmos variados e mais bem elaboradas foram escritas depois daquelas mais
simples na tessitura rítmica. Portanto, estabelecer, mesmo que aproximadamente a época
de composição e de representação é uma tarefa bastante árdua. Somente para a peça
Stichus e Pseudolus dispomos de didascálias antigas que informam a data da
representação, o ano de 200 e o de 191 respectivamente.
Que uma prostituta velha não venha se sentar no proscênio, nem o litor e seus açoites façam
barulho, nem o designador ande para lá e para cá na frente das pessoas, nem conduza
ninguém ao seu lugar enquanto o histrião estiver em cena. Àqueles que em casa ociosos
dormiram por mais tempo, convém agora, com tranquilidade, que fiquem de pé ou que
controlem o seu sono. Que os escravos não pensem em se assentar para que deem se houver
o lugar aos homens livres ou paguem a soma para a sua liberdade (...). As amas cuidem das
criancinhas muito pequenas em casa e não as tragam para assistir à peça, para que elas
próprias não tenham sede e não façam as crianças morrerem de fome, pois esfomeadas
começariam a balir como cabritos. Que as matronas assistam caladas, caladas sorriam
(Poenulus, 16-35).
Os modelos gregos
Plauto preocupa-se pouco em comunicar o nome e a autoria da comédia grega na
qual se baseou. Os títulos de Plauto não são quase em nenhum modo transparentes
traduções de títulos gregos. Além disso, o uso dos nomes dos escravos como título
(Pseudolo, Epídico) distancia-se da prática grega.
É absolutamente claro que Plauto, embora utilize os grandes mestres da comédia
ática, não demonstra uma preferência marcada por nenhum desses, e recorre pelo menos
ocasionalmente a autores menores.
As transformações são menos profundas no que diz respeito às linhas gerais da
representação, mas são sempre significativas: a começar pela reestruturação métrica e
pela supressão da divisão em atos.
Plauto não dá, quase nunca, a um personagem o nome que o original atribuía,
introduzindo um grande número de nomes de pessoas não atestados na comédia ática.
Metateatro
PSEUDOLUS
(401-404)
Sed quasi poeta, tabulas quom cepit sibi
quaerit quod nusquam gentiumst, reperit tamen,
facit illud ueri simile quod mendacium est, nunc ego poeta fiam
“Mas como se fosse um poeta, quando pegou para si as tábuas, procura o que nunca
(existiu), todavia o encontra, torna aquilo que é mentira verossímil, agora eu me tornarei
poeta”.
(562-570)
Suscipio est mi nunc uos suspicarier,
me idcirco haec tanta facinora promittere,
qui uos oblectem, hanc fabulam dixeram.
Non demutabo. Atque etiam certum, quod sciam,
nisi quia futurumst. Nam qui in scaenam prouenit,
nouo modo nouom aliquid inuentum adferre addecet;
si id facere nequeat, det locum illi qui queat.
“Vem-me uma suspeita que agora vós suspeitastes que eu prometo tantas coisas
mirabolantes por este motivo, para que eu vos divirta, enquanto eu concluo esta peça e
que eu não haja de fazer aquilo que tinha dito que faria.
Não mudarei. Pelo contrário, também é certo que eu não saiba com que modo hei de fazer
isto, mas sei que há de ser feito. Pois quem vem para o palco deve apresentar alguma nova
invenção com um modo novo; Se não pode fazer isto, que dê lugar aquele que possa”.
Aulularia: Euclião, um velho avarento, encontra uma panela (aulla, olla) cheia de ouro
enterrada na sua casa. O nume tutelar da casa, o Lar familiaris em pessoa, deseja que ela
seja encontrada para que a filha de Euclião, Fedia, tenha o dote necessário para o
casamento. Entre as muitas ânsias excessivas do avarento, que tem um medo obsessivo
de ser roubado, a panela desaparece; será utilizada pelo jovem enamorado, com a ajuda
(que nunca falta) do escravo, para obter o casamento com a amada, que é a filha de
Euclião.
Bacchides: O plural do título designa duas irmãs gêmeas, ambas cortesãs. A intriga tem
um desenvolvimento complexo e um ritmo frenético: basta dizer que a situação normal
de “conquista” da mulher é aqui redobrada (há dois jovens enamorados, cada um com seu
problema financeiro), mas é também perturbada por equívocos sobre a identidade das
moças.
Captivi: Um velho perdeu seus dois filhos: um foi raptado ainda menino; o outro,
Filepolemo, foi feito prisioneiro de guerra. O velho obtém dois escravos de guerra para
tentar uma troca: no fim, não só obtém Fileponemo, mas descobre que um dos escravos
que tem em mãos é o outro filho, há tempos perdido. A comédia se distingue no panorama
plautino pela ausência de qualquer intriga de cunho erótico, além da raridade de tons
cômicos.
Casina: Um velho e seu filho desejam uma jovem abandonada que têm em casa; cada um
tem um plano paralelo, desejando fazer com que se case com um “testa de ferro”. O velho
imoral, que naturalmente é casado, é enganado e encontra na sua cama um rapaz em lugar
da desejada Cásina. Enfim, é descoberto que a moça é de nascimento livre e pode então
desposar o jovem pretendente.
Persa: Também uma zombaria a dano de um leno, só que o enamorado é, ele próprio, um
escravo, mas não falta outro escravo em função de ajudante. O engano, que tem sucesso,
baseia-se em uma engraçada falsa identidade, em que o escravo coadjuvante aparece
como um persa bem estranho.
Trinummus: Um jovem pródigo, que na ausência do pai quase se arruinou, é salvo através
de um engano efetuado por um velho amigo do seu pai. Pelo menos uma vez, trama e tons
são edificantes.
Truculentus: Por uma vez temos uma cortesã que não é elemento passivo, mas apresenta-
se como verdadeira protagonista. Fronésio é uma criadora de enganos, que dilapida e
engana os seus três amantes. O afastamento dos papéis tradicionais comporta uma
hipercaracterização da personagem negativa, Fronésio, traçada em tons mais duros que a
média dos personagens plautinos maus.
Vidularia (A comédia do baú): os poucos fragmentos (pouco mais de cem versos) falam
de um baú (uidulus) que contém objetos capazes de fazer reconhecer o jovem Nicodemo.
Há pontos de contato com a trama do Rudens.