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TEATRO - Parte 02 2º Ano

TEATRO DO SÉCULO XX cinema do inglês Charles Chaplin (1889-1977), dos


Teatro do Absurdo é uma expressão norte-americanos Buster Keaton (1895-1966), Oliver
cunhada pelo crítico húngaro Martin Esslin (1918- Hardy (1892-1957) e Stan Laurel (1890-1965) e dos
2002) no fim da década de 1950 para abarcar peças irmãos Marx; e o teatro de nomes como Alfred Jarry
que, surgidas no pós-Segunda Guerra Mundial, tratam (1873-1907), dramaturgo francês, criador da
da atmosfera de desolação, solidão e patafísica, precursor tanto do Teatro do Absurdo
incomunicabilidade do homem moderno por meio de quanto de movimentos artísticos como o dadaísmo e o
alguns traços estilísticos e temas que divergem surrealismo.
radicalmente da dramaturgia tradicional realista.
Trata-se, porém, não de um movimento teatral
organizado tampouco de um gênero, mas de uma
classificação que visa colocar em destaque uma das
tendências teatrais mais importantes da segunda
metade do século XX. Entre os principais dramaturgos
"do Absurdo" estão o romeno radicado na França
Eugène Ionesco (1909-1994), o irlandês Samuel
Beckett (1906-1989), o russo Arthur Adamov (1908-
1970), o inglês Harold Pinter (1930-2008) e o
espanhol Fernando Arrabal (1932).

Cena da peça “o coração de gás” Escrita por Tristan Tzara


(dadaísmo).
O Teatro do Absurdo une a comicidade ao
trágico sentimento de desolação e de perda de
referências do homem moderno. Tal sentimento deriva
não apenas do horror da Segunda Guerra como
também da Guerra Fria e do estágio atingido em
meados do século XX pela filosofia, especialmente a
existencialista, que afirma definitivamente a solidão e
a responsabilidade do homem por seu destino em um
mundo sem Deus.
No Teatro do Absurdo, a incerteza e a solidão
Esperando Godot', de Samuel Beckett. humanas são traduzidas por procedimentos que,
Pode-se tomar como marcos do início do fazendo uso de elementos conhecidos (situações
Teatro do Absurdo as peças Esperando Godot (1949), banais, frases feitas, gestual cômico) ou menos usuais
de Beckett; A Cantora Careca e A Lição, de Ionesco (construções verbais aparentemente sem sentido,
(ambas de 1950). Estas, assim como outras obras dos gestual mecânico repetido incessantemente, ações
dramaturgos do absurdo, apesar da novidade formal, sem motivação aparente), buscam criar outros
reutilizam alguns elementos que marcam a história do universos, estranhos, porém assemelhados ao
teatro e das artes em geral: os mimodramas universo cotidiano.
(espetáculos gestuais surgidos na Antiguidade greco- Um exemplo disso é apresentado por Beckett
romana, que atravessam a Idade Média com os quando relata a interminável espera dos dois
saltimbancos e bobos); a commedia dell'arte (gênero vagabundos de Esperando Godot; na patológica
cômico de muito sucesso na Europa entre os séculos estagnação e decadência dos personagens de Fim de
XVI e XVIII); os espetáculos de music hall e vaudeville Partida; no soterramento, físico e existencial, da
(que misturam números musicais, cômicos e de personagem principal de Dias Felizes; na repetição
dança); a comédia de nonsense (com falas absurdas sem sentido de frases feitas em diversas peças de
ou sem sentido). Ionesco; na surpresa e no caráter enigmático e tenso
Os movimentos artísticos de vanguarda do das ações e falas dos personagens de Pinter; e na
início do século XX (como o expressionismo e, obsessividade infantil dos personagens de Arrabal.
principalmente, o dadaísmo e o surrealismo); a O Teatro do Absurdo chega ao Brasil em
literatura de nomes como o irlandês James Joyce meados da década de 1950, com Esperando Godot,
(1882-1941) e o tcheco Franz Kafka (1883-1924); o
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encenado na Escola de Arte Dramática (EAD) e,
depois, com espetáculos de Luís de Lima (1925-2002)
para peças de Ionesco. Nas décadas de 1960 e 1970,
continuam a ser montadas peças "do absurdo", e são
dignos de nota a montagem do diretor argentino Victor
García (1934-1982) para Cemitério de Automóveis
(1968), de Arrabal; a encenação de Esperando Godot
(1969), com participação de Cacilda Becker (1921-
1969); e o espetáculo O Arquiteto e o Imperador da
Assíria (também de Arrabal), realizado pelo Teatro
Ipanema em 1971.
A partir da década de 1970, com a assimilação
do Teatro do Absurdo, alguns de seus elementos
permeiam não apenas peças de vanguarda, mas
também obras ligadas à tradição. Entre esses
elementos, podem-se destacar, grosso modo, a
Brecht orientando atores
presença do insólito e da estranheza em personagens
A construção de uma teoria de representação
e temas, a não linearidade e a existência de elementos
teatral fundamentada no distanciamento do ator tem
oníricos ou simbólicos que, muitas vezes dificultando a
por objetivo deixar claro o caráter social e mutável do
apreensão da narrativa, são parte fundamental do
que é mostrado, o que vai de encontro à imutabilidade
contexto poético das obras.
da natureza humana pregada pelo teatro dramático.
Essa apropriação de traços do Teatro do
A intenção do teatro épico é apresentar as
Absurdo pela tradição, além da não organização dos
estruturas sociais que organizam direta e
participantes em um movimento, é um dos motivos
indiretamente as vidas de todas as pessoas em uma
pelos quais diz-se tratar de uma tendência e não
sociedade, estruturas essas que, por serem tão
propriamente de uma corrente artística. Ainda por isso
presentes e determinantes para a vida, são
é tarefa praticamente impossível citar exemplos de
geralmente vistas como naturais.
representantes contemporâneos do Teatro do
Portanto, reside aí uma fundamental diferença
Absurdo, já que é possível encontrar ecos de suas
em relação ao teatro dramático: o dramático busca a
características, em maior ou menor grau, no trabalho
identificação do espectador com a cena e, para tal, do
de boa parte dos dramaturgos contemporâneos.
ator com o seu papel; já o teatro épico busca
Teatro épico
distanciar o espectador do que seria visto por ele
O teatro épico de Brecht virá marcada pela
como natural e, por isso, não pretende ter o público
luta contra o capitalismo e contra o imperialismo. Todo
imerso na encenação, mas diante dela, frente à
o tempo há uma profunda reflexão sobre a situação do
situação mostrada/narrada no espaço cênico.
homem num mundo dividido em classes; e o estudo
Sua obra tem compromissos firmados com a
do relacionamento entre os homens que vivem
causa política sem deixar de apresentar seu autor
condicionados a uma divisão econômica e política.
como um artista talentoso, criador e renovador de sua
A característica mais importante da obra de
arte. Isso marcou profundamente suas concepções na
Brecht é a visão que ele tinha do teatro como um
história da dramaturgia e do teatro mundial.
elemento que deve apresentar à sociedade os fatos
A obra de Brecht exprime em sua quase
cotidianos a fim de que o espectador os julgasse,
totalidade uma revolta contra a arrogância dos
portanto, tudo serviria de depoimento e
detentores do poder e, contra toda a disciplina cega.
documentação.
Com a finalidade de alcançar a massa oprimida através
de seus escritos cria um teatro de ação social voltado
para mostrar que o homem tem a capacidade, o
direito e o dever de transformar o mundo em que vive.
E que não é possível lutar contra a retórica de um
governo, mostrando que o destino do homem deve ser
sempre preparado por ele mesmo.
A partir daí a preocupação de Brecht em
relação ao teatro terá como cunho específico utilizá-lo
não apenas como forma de interpretar o mundo, mas
principalmente como um meio de mudá-lo e o autor
confirma esse pressuposto ao escrever: “A arte segue
a realidade”
Bertolt Brecht Ao escrever suas peças, Brecht imagina um
A alienação do homem, para Brecht, não se espectador atento e não passivo perante a arte
manifesta como produto da intuição artística. Brecht apresentada nos palcos, um espectador cujo papel não
ocupa-se dela de maneira consciente e proposital. Mas era apenas de sentir a emoção, mas entender-se como
não basta compreendê-la e focalizá-la. O essencial não ator da própria realidade, com capacidade de criticar e
é a alienação em si, mas o esforço histórico para a mudar o mundo, era preciso usar meios imediatos de
desalienação do homem. chegar às pessoas.
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Teatro no Brasil difusão de textos autorais e discussão politizada da
Até o início dos anos 1960, a arte teatral realidade nacional. Após o golpe militar, com Augusto
brasileira era representada principalmente pelo Teatro Boal e Guarnieri à frente do grupo, e muito
Brasileiro de Comédia (TBC), tradicional influenciado pelo teatro político de Bertolt Brecht, o
companhia paulistana, fundada em 1948. O TBC, como grupo precisou elaborar novas estratégias para fugir
a maior parte do teatro produzido no Brasil até então, do realismo e enfrentar a censura sem perder sua
era voltado para a montagem de espetáculos com essência.
características estéticas e dramatúrgicas
internacionais, importando encenadores, diretores e
técnicos estrangeiros, principalmente italianos.

Palco de arena
E nesse contexto, no qual começou-se a
pesquisar novos formatos de encenação, que Augusto
Boal começou a estruturar as técnicas que mais tarde
comporiam o sistema que ficou conhecido como
Teatro do Oprimido.
Tônia Carrero, Eva Wilma, Odete Lara, Norma Benghel e Ruth
Escobar.
Além disso, geralmente, os espetáculos da
companhia eram montagens de textos de famosos
dramaturgos europeus, o que fazia bastante sucesso,
principalmente entre a classe média paulistana.
Com a Ditadura Militar, o TBC viveu um de
seus piores momentos, pois peças realistas, como as
montagens realizadas pela companhia, ou que
retratassem a realidade brasileira, não poderiam mais
ser encenadas.
Havia também o Teatro de Arena, grupo
teatral, formado em 1953, que ganhou forças ao se
fundir ao grupo Teatro Paulista dos Estudantes. A Augusto Boal.
princípio, os espetáculos do grupo se baseavam em Foi assim que, em 1965, nasceu o espetáculo
textos de autores estrangeiros, porém, a partir de Arena Conta Zumbi, que apresenta uma metáfora da
1958, o grupo assume a politização e o situação política vivida naquele período, baseado na
"abrasileiramento" como características do seu saga dos quilombolas, no contexto do Brasil Colônia,
trabalho, levando à cena diversos textos originais, período marcado pela resistência dos escravizados ao
escritos por integrantes do grupo, como a domínio dos portugueses.
emblemática ”Eles não usam black-tie”, escrita por
Gianfrancesco Guarnieri.

Arena 1967 AUTORIA Derly Marques


Esse espetáculo marcou o início de um novo
procedimento cênico que ficou conhecido como
Teatro de Arena de São Paulo. sistema coringa, sistematizado posteriormente, na
O grupo se transforma num expressivo montagem de “Arena Conta Tiradentes”. Nele,
movimento de nacionalização das artes teatrais, qualquer ator pode representar qualquer personagem,
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revezando-se no decorrer do espetáculo. Para isso, masculinas, mas carregadas de referências femininas,
utiliza-se uma marca que identifique cada personagem que entrava no palco balançando as estruturas em
em relação aos outros, mantendo apenas um ator fixo, pleno regime de Ditadura Militar no Brasil. Composto
com a função de coringa. por 13 atores, cantores e bailarinos, os artistas se
O coringa é o responsável pela função apresentavam vestidos com saias, cílios postiços e
narrativa do espetáculo, aquele que faz a ligação entre muita purpurina.
os fatos e acontecimentos com a plateia. Nesse tipo de
encenação, o ponto de vista autoral é assumido pelo
elenco, e cada cena tem seu estilo próprio (drama,
comédia, sátira, etc.), independentemente do restante
do espetáculo, tornando a encenação totalmente
eclética em termos de gênero e estilo. A música é
utilizada para marcar as passagens das cenas, fazendo
a ligação entre elas e acrescentando diferentes climas
ao espetáculo.
Em 1958, com base na iniciativa de José Celso
Martinez Corrêa (Zé Celso), foi fundado, na Faculdade
de Direito da Universidade de São Paulo, o Teatro
Oficina. O grupo é, ainda hoje, uma referência de O grupo tinha uma preparação corporal
teatro político brasileiro e está sempre buscando novas extremamente rígida, com aulas de jazz, dance e
formas de representação. O Teatro Oficina é sapateado, o que garantia ao espetáculo a grande
conhecido por sua inovação e investigação cênica, qualidade técnica dos movimentos coreografados pelos
numa busca constante de novas linguagens para o artistas, que tinham extrema liberdade em suas
teatro e de uma estética que seja totalmente encenações. Apropriando-se do gênero pastelão,
brasileira. utilizavam da caricatura, do deboche e da comédia de
costumes, com vigor e presença.
Dessa forma, o grupo conseguia ser político,
criticando as instituições nas entrelinhas da comédia
musical, mas sem ser panfletário, fazendo disso uma
forma de driblar a censura e tornando-se um sucesso
não apenas no Brasil, mas também na Europa.
Os espetáculos do Teatro Arena e do Teatro
Oficina, bem como suas contribuições para a criação
de estéticas brasileiras de encenação, ainda hoje, são
referências para os artistas brasileiros, inspirando
dramaturgos, atores e diretores. Inspirado no
espetáculo Arena Conta Zumbi, o diretor João das
Neves montou, em 2013, o espetáculo Zumbi, com um
elenco inteiro de atores negros, diferentemente da
Teatro Oficina / Lina Bo Bardi e Edson Elito
montagem original. Essa nova montagem rememora o
Com isso, o grupo se destaca e se diferencia,
sistema coringa de encenação e reforça o caráter
transformando os espetáculos em grandes festas,
musical do espetáculo original, mas também insere na
grandes rituais que, muitas vezes, fazem confundir a
cena discussões e possibilidades de reflexão a respeito
plateia sobre se tratar de realidade ou ficção. Outra
de negritude, representatividade negra e racismo.
característica do grupo é a subversão de valores
morais, naturalizando questões como a nudez,
questionando esses valores e propondo reflexões
sobre eles de forma que, muitas vezes, escandalizam a
plateia.
Driblar o sistema pelo deboche é também uma
característica do grupo e de seus integrantes. Isso
resultou em montagens polêmicas, como a da peça
Roda Viva, escrita por Chico Buarque de Hollanda em
1968. A peça foi invadida durante uma apresentação
por cerca de 100 integrantes do Comando de Caça aos Foto do espetáculo Zumbi 2013 dirigido por João das neves.
Comunistas (CCC), que depredaram o cenário e Outro espetáculo contemporâneo com
agrediram os atores e depois foi proibida pela inspiração nos espetáculos desses grupos é a
ditadura. remontagem, 50 anos depois, do espetáculo O Rei da
Outro grupo de teatro marcante no contexto Vela, pelo próprio Oficina Uzyna Uzona, o antigoTeatro
da Ditadura Militar no Brasil foi o Dzi Croquettes, Oficina. Aos 80 anos de idade, o ator Renato Borghi
que surgiu na década de 1970, no Rio de Janeiro, retorna ao espetáculo, no mesmo papel que
montando espetáculos musicais cheios de ousadia, interpretou aos 30 anos, o agiota Abelardo I.
humor e irreverência. "A força do macho e a graça da Ref. Teatro do absurdo. Acesso em: 17 de setembro de
fêmea" era o slogan da trupe, um conjunto de forças 2022. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7

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