Você está na página 1de 16

,

UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCA

CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS - CESA

DEPARTAMENTO DE DIREITO

DISCIPLINA: DIREITO DE FAMÍLIA

PROFESSOR: JOÃO AUGUSTO

VIII SEMESTRE - VESPERTINO

CASAMENTO E UNIÃO ESTÁVEL DE CASAIS HOMOAFETIVOS E


ADOÇÃO POR CASAIS HOMOAFETIVOS

CRATO – CE

2015
CASAMENTO E UNIÃO ESTÁVEL DE CASAIS HOMOAFETIVOS E
ADOÇÃO POR CASAIS HOMOAFETIVOS

Trabalho apresentado à disciplina de


Direito de Família do Curso de
Graduação em Direito da
Universidade Regional do Cariri,
ministrada pelo Professor João
Augusto.

CRATO – CE

2015
1. INTRODUÇÃO

Para muitos, a união entre pessoas do mesmo sexo é fato muito recente,
algo que aconteceu e vem acontecendo no mundo pós-moderno. Entretanto, tal
visão está equivocada, pois essa conjuntura de nova não tem nada. Sua história
retoma um tempo em que não havia necessidade de distinguir o relacionamento
entre pessoas do mesmo sexo – para os povos antigos, o conceito de
homossexualidade simplesmente não existia.

Desde as tribos das ilhas de Nova Guiné, Fiji e Salomão, cerca de 10 mil
anos atrás, passando também por Grécia e Roma da Antiguidade, já se exercitavam
algumas formas de homossexualidade. Grandes pensadores, filósofos e influentes,
como o filósofo grego Sócrates, por exemplo, defendiam e eram adeptos do amor
homossexual, demonstrando dessa forma como as relações entre pessoas do
mesmo sexo eram em determinadas épocas da sociedade bem aceitas e
defendidas.

Contudo, apesar de as relações entre pessoas do mesmo sexo ser um fato


social antigo, foi só partir de 1989 que tais relações começaram a ser aceitas
juridicamente dentro de uma sociedade. A Dinamarca foi o primeiro país a abraçar a
causa. Hoje, o casamento entre pessoas do mesmo sexo está amparado na lei de
mais de 21 nações, estendendo aos homossexuais, como indivíduos pertencentes à
sociedade, os direitos inerentes aos demais membros.

O Brasil é um dos países que vem avançando, mesmo que parcial e


tardiamente, nessa questão. Entretanto, ainda há muito que se fazer, pois de nada
adianta o direito reconhecer, mas o preconceito da sociedade não permitir que seja
efetivado.
2. UNIÃO ESTÁVEL DE CASAIS HOMOAFETIVOS

Aos poucos, os casais homoafetivos vêm ganhando espaço na nossa


sociedade brasileira e mundial e, com isso, começam a adquirir direitos na esfera
jurídica como nos mostram alguns julgados abaixo relacionados:

“União homoafetiva. Reconhecimento. Princípio da


dignidade da pessoa humana e da igualdade. É de ser
reconhecida judicialmente a união homoafetiva mantida
entre duas mulheres de forma pública e ininterrupta pelo
período de 16 anos. A homossexualidade é um fato social
que se perpetua através dos séculos, não mais podendo o
Judiciário se olvidar de emprestar a tutela jurisdicional a
uniões que, enlaçadas pelo afeto, assumem feição de
família. A união pelo amor é que caracteriza a entidade
familiar e não apenas a diversidade de sexos. É o afeto a
mais pura exteriorização do ser e do viver, de forma que a
marginalização das relações homoafetivas constitui
afronta aos direitos humanos por ser forma de privação do
direito à vida, violando os princípios da dignidade da
pessoa humana e da igualdade. Negado provimento ao
apelo” (TJRS, Apelação Cível 70012836755, 7ª Câmara Cível,
Rela. Maria Berenice Dias, j. 21.12.2005). (Grifo nosso).

“União Estável. Partilha de bens. Inquestionada a existência


do vínculo afetivo por cerca de 10 anos, atendendo a todas as
características de uma união estável, imperativo que se
reconheça sua existência, independente de os parceiros
serem pessoas do mesmo sexo. Precedentes
jurisprudenciais. Por maioria, desacolheram os embargos da
sucessão e acolheram os embargos de TMS” (TJRS,
Embargos Infringentes 700006984348, 4º grupo de Câmaras
Cíveis, Rela. Maria Berenice Dias, j. 14.11.2003). (grifamos).

Em 2011 o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu a união estável


entre pessoas do mesmo sexo, tornando-a, do ponto de vista legal, equivalente à de
casais heterossexuais. Tal progresso se deu por meio da Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental 132 – RJ (ADPF 132) em conjunto com a
Ação Direta de Inconstitucionalidade 4277 – DF (ADI 4277), que teve por objetivo
pleitear o reconhecimento da união estável homoafetiva, uma vez que o
ordenamento jurídico brasileiro não ampara e nem veda expressamente essa forma
de constituir família, seja pela própria Constituição da República Federativa do Brasil
de 1988, seja pelo Código Civil de 2002.

Há de se comentar o resultado da ADI 4277 DF, cujo Relator (a): Min.


AYRES BRITTO, com julgamento ocorrido em 05/05/2011, com Publicação: DJe-198
DIVULG 13-10-2011 PUBLIC 14-10-2011 EMENT VOL-02607-03 PP-00341, para
isso, destaca-se alguns pontos da ementa do referido processo:

“PROIBIÇÃO DE DISCRIMINAÇÃO DAS PESSOAS EM


RAZÃO DO SEXO, SEJA NO PLANO DA DICOTOMIA
HOMEM/MULHER (GÊNERO), SEJA NO PLANO DA
ORIENTAÇÃO SEXUAL DE CADA QUAL DELES. A
PROIBIÇÃO DO PRECONCEITO COMO CAPÍTULO DO
CONSTITUCIONALISMO FRATERNAL. HOMENAGEM AO
PLURALISMO COMO VALOR SÓCIO-POLÍTICO-CULTURAL.
LIBERDADE PARA DISPOR DA PRÓPRIA SEXUALIDADE,
INSERIDA NA CATEGORIA DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS DO INDIVÍDUO, EXPRESSÃO QUE É DA
AUTONOMIA DE VONTADE. DIREITO À INTIMIDADE E À
VIDA PRIVADA. CLÁUSULA PÉTREA. O sexo das pessoas,
salvo disposição constitucional expressa ou implícita em
sentido contrário, não se presta como fator de
desigualação jurídica. Proibição de preconceito, à luz do
inciso IV do art. 3º da Constituição Federal, por colidir
frontalmente com o objetivo constitucional de "promover o bem
de todos". Silêncio normativo da Carta Magna a respeito do
concreto uso do sexo dos indivíduos como saque da
kelseniana "norma geral negativa", segundo a qual "o que não
estiver juridicamente proibido, ou obrigado, está juridicamente
permitido". Reconhecimento do direito à preferência sexual
como direta emanação do princípio da "dignidade da pessoa
humana": direito a auto-estima no mais elevado ponto da
consciência do indivíduo. Direito à busca da felicidade. Salto
normativo da proibição do preconceito para a proclamação do
direito à liberdade sexual. O concreto uso da sexualidade faz
parte da autonomia da vontade das pessoas naturais.
Empírico uso da sexualidade nos planos da intimidade e da
privacidade constitucionalmente tuteladas. Autonomia da
vontade. Cláusula pétrea.” (grifamos).

“INTERPRETAÇÃO DO ART. 1.723 DO CÓDIGO CIVIL EM


CONFORMIDADE COM A CONSTITUIÇÃO FEDERAL
(TÉCNICA DA "INTERPRETAÇÃO CONFORME").
RECONHECIMENTO DA UNIÃO HOMOAFETIVA COMO
FAMÍLIA. PROCEDÊNCIA DAS AÇÕES. Ante a
possibilidade de interpretação em sentido preconceituoso
ou discriminatório do art. 1.723 do Código Civil, não
resolúvel à luz dele próprio, faz-se necessária a utilização
da técnica de "interpretação conforme a Constituição".
Isso para excluir do dispositivo em causa qualquer
significado que impeça o reconhecimento da união
contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo
sexo como família. Reconhecimento que é de ser feito
segundo as mesmas regras e com as mesmas
consequências da união estável heteroafetiva.”(grifo nosso).

Com tal decisão, tem-se um avanço no direito de família, ao reconhecer a


união homoafetiva como entidade familiar.
Esse reconhecimento significa a validação no plano jurídico de várias
conquistas civis: o direito à herança do companheiro, ou companheira, pensão
alimentícia em caso de separação, possibilidade de fazer declaração conjunta do
imposto de renda e – um passo fundamental – o direito à adoção de filhos, o que
antes era permitido apenas a um dos membros do casal.

Entretanto, apesar desse avanço, sua efetivação não foi imediata, tanto que
muitos casais, por todo o Brasil, tiveram dificuldade de ver sua união reconhecida
juridicamente. Diante disso, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou dois
anos depois, em 2013, uma resolução que obrigava todos os cartórios do país a
oficializar a união estável entre pessoas do mesmo sexo. O presidente do CNJ a
época, o ministro Joaquim Barbosa afirmou que a resolução removeu "obstáculos
administrativos à efetivação" da decisão do Supremo, em 2011.

A resolução do CNJ estendeu a obrigação dos cartórios não só para a


oficialização da união estável como também para a celebração de casamentos civis
entre pessoas do mesmo sexo, o que gerou e ainda gera muita polêmica. Pois,
apesar de alguns Estados no país celebrarem casamentos homossexuais, muitos
outros afirmam que isso só poderia acontecer se o Poder Legislativo editasse lei
específica sobre o assunto.

Segundo o conselheiro Guilherme Calmon, “A Resolução veio em uma hora


importante. Não havia ainda no âmbito das corregedorias dos tribunais de Justiça
uniformidade de interpretação e de entendimento sobre a possibilidade do
casamento entre pessoas do mesmo sexo e da conversão da união estável entre
casais homoafetivos em casamento. Alguns estados reconheciam, outros não.
Como explicar essa disparidade de tratamento? A Resolução consolida e unifica
essa interpretação de forma nacional e sem possibilidade de recursos”.

A única conselheira a votar contra a resolução proposta por Barbosa foi


Maria Cristina Peduzzi, para quem a regra não poderia ser estabelecida pelo CNJ
sem uma previsão legal.

Quando o Supremo analisou a união estável entre homossexuais, alguns


ministros chegaram a afirmar que, na prática, ao reconhecer a igualdade em relação
aos homossexuais, o tribunal também estava reconhecendo o direito ao casamento
civil.

Outros, no entanto, argumentavam que isso não havia sido especificamente


tratado e deveria ser avaliado pelo Congresso ou em outra decisão do próprio
tribunal.

Além disso, a doutrina também não é pacífica quanto a esse aspecto. Para
alguns, a união estável deve visar a sua conversão em um casamento. Para outros,
a união estável está em pé de igualdade com o instituto do casamento, em função
da previsão constitucional já consignada.

Espantosamente, há, ainda, quem defenda, como é o caso de Thiago


Hauptmann Borelli Thomaz, no artigo “União homossexual: reflexões jurídicas”
publicado no Jus Navigandi que se deve deixar o casamento para a constituição da
mais perfeita família, “porque advinda do amor do homem e da mulher para a
convivência comum e guarda e educação dos filhos, conforme a natureza humana
ordinariamente determina”. Ou seja, para ele não é possível que pessoas do mesmo
sexo possam contrair matrimônio.

Apesar de toda essa polêmica, e dos preconceitos e opiniões, como do autor


comentado acima, é importante destacar que a resolução aprovada pelo CNJ está
em vigor e prevê a proibição de cartórios no Brasil de se recusarem a celebrar
casamentos civis entre pessoas do mesmo sexo ou deixar de converter em
casamento a união estável homoafetiva.

Um outro avanço ocorrido atualmente, foi o reconhecimento do direito de


pensão alimentícia decorrente de união homoafetiva, por decisão proferida pelo STJ,
após ter sido negado por instâncias inferiores.

Agora, o Tribunal que julga o caso terá de retomar o julgamento, com base
no reconhecimento do STJ. O mesmo ocorrerá para outros casos que tenham a ver
com relações homoafetivas: as análises terão de serem revistas baseadas nessa
nova decisão, que passa a servir agora como jurisprudência.
3. CASAMENTO DE CASAIS HOMOAFETIVOS.

Percebe-se na leitura das linhas supra, a inegável conquista da relação dos


casais homoafetivos em serem equiparados à união estável, adquirindo todos os
direitos e obrigações na esfera jurídica como família.

A Constituição Federal permite a facilitação da conversão da união estável


em casamento, e hoje a união homoafetiva é considerada entidade familiar, com o
status de união estável.

Embora não se tenha nenhum dispositivo legal que regule expressamente a


união e o casamento homoafetivos, algumas decisões vêm surgindo para suprir as
lacunas acerca do assunto na legislação brasileira, como pode se destacar de parte
do voto do Ministro o Superior Tribunal de Justiça, Luís Felipe Salomão, no REsp
1.183.378∕RS [22] que autorizou o casamento homoafetivo, senão vejamos:

“... Com efeito, se é verdade que o casamento civil é a forma


pela qual o Estado melhor protege a família, e sendo
múltiplos os "arranjos" familiares reconhecidos pela Carta
Magna, não há de ser negada essa via a nenhuma
família que por ela optar, independentemente de
orientação sexual dos partícipes, uma vez que as
famílias constituídas por pares homoafetivos possuem os
mesmos núcleos axiológicos daquelas constituídas por
casais heteroafetivos, quais sejam, a dignidade das
pessoas de seus membros e o afeto.”

“... De fato, a igualdade e o tratamento isonômico supõem o


direito a ser diferente, o direito a autoafirmação e a um
projeto de vida independente de tradições e ortodoxias.
Em uma palavra: o direito à igualdade somente se realiza
com plenitude se é garantido o direito à diferença.
Conclusão diversa também não se mostra consentânea com
um ordenamento constitucional que prevê o princípio do livre
planejamento familiar” (§ 7º do art. 226).

“... Nessa toada, enquanto o Congresso Nacional, no caso


brasileiro, não assume, explicitamente, sua coparticipação
nesse processo constitucional de defesa e proteção dos
socialmente vulneráveis, não pode o Poder Judiciário
demitir-se desse mister, sob pena de aceitação tácita de
um Estado que somente é "democrático" formalmente, em
que tal predicativo resista a uma mínima investigação acerca
da universalização dos direitos civis. Diante do exposto, dou
provimento ao recurso especial para afastar o óbice
relativo à diversidade de sexos e para determinar o
prosseguimento do processo de habilitação de casamento,
salvo se por outro motivo as recorrentes estiverem
impedidas de contrair matrimônio.” (Grifamos).

Tal decisão é de suma importância para o ordenamento jurídico brasileiro,


bem como para toda a sociedade, pois significa respeito ao ser humano,
independentemente de sua opção sexual. Reiterando as palavras do Ministro, “o
direito à igualdade somente se realiza com plenitude se é garantido o direito à
diferença”.

4. ADOÇÃO POR CASAIS HOMOAFETIVOS

Hoje no Brasil já existem precedentes jurisprudenciais acerca da


possibilidade do casal homoafetivo poder adotar, como se mostra em parte da
sentença abaixo do Processo 2009.202.020729-8 do TJRJ, senão vejamos:

“MENORES. ADOÇÃO. UNIÃO HOMOAFETIVA. Cuida-se da


possibilidade de pessoa que mantém união homoafetiva adotar
duas crianças (irmãos biológicos) já perfilhadas por sua
companheira. É certo que o art. 1º da Lei n. 12.010/2009 e o
art. 43 do ECA deixam claro que todas as crianças e
adolescentes têm a garantia do direito à convivência
familiar e que a adoção fundada em motivos legítimos
pode ser deferida somente quando presentes reais
vantagens a eles. Anote-se, então, ser imprescindível, na
adoção, a prevalência dos interesses dos menores sobre
quaisquer outros, até porque se discute o próprio direito de
filiação, com consequências que se estendem por toda a vida.
Decorre daí que, também no campo da adoção na união
homoafetiva, a qual, como realidade fenomênica, o
Judiciário não pode desprezar, há que se verificar qual a
melhor solução a privilegiar a proteção aos direitos da
criança. Frise-se inexistir aqui expressa previsão legal a
permitir também à inclusão, como adotante, do nome da
companheira de igual sexo nos registros de nascimento
das crianças, o que já é aceito em vários países, tais como
a Inglaterra, País de Gales, Países Baixos, e em algumas
províncias da Espanha, lacuna que não se mostra como
óbice à proteção proporcionada pelo Estado aos direitos
dos infantes...
...Diante do exposto, JULGO PROCEDENTE o pedido e
DEFIRO aos requerentes C.A.M. O e A.L.S. a adoção das
criança V.S.P. J de parentesco independente do fato natural
da procriação. Determino que após o trânsito em julgado
sejam expedidos os atos necessários para: 1 - O cancelamento
nos assentos de nascimento da menor no registro civil
competente, arquivando-se o mandado, advertindo o Sr. Oficial
de Registro que nenhuma observação sobre a origem do ato
poderá constar nas certidões de registro. 2 - Sejam os menores
registrados com os nomes de V.M.O.S. S e V.M.O.S.S.
Possível duvida pode pairar sobre a realização do assento de
nascimento. No caso, deverá constar que os adotandos são
filhos de C.A.M. O e A.L. S, sem mencionar as palavras pai e
mãe e, da mesma forma, em relação aos avós também não
explicitará a condição materna ou paterna. Sem custas, nos
termos do art. 141, par. 2º do E.C.A. Cumpridas as
formalidades legais, procedam-se às necessárias diligências e
demais providências de estilo. P.R.I. Após o transito em
julgado, Arquive-se.” (grifos nossos).

Nesse sentido, o Tribunal do Rio Grande do Sul decidiu acerca da


possibilidade da adoção por casal homoafetivo, observando que essas uniões são
consideradas como entidade familiar, mostrando que não há qualquer prejuízo à
criança e adolescente de serem adotados por um casal do mesmo sexo:

“APELAÇÃO CÍVEL. ADOÇÃO. CASAL FORMADO POR


DUAS PESSOAS DE MESMO SEXO. POSSIBILIDADE.

Reconhecida como entidade familiar, merecedora da


proteção estatal, a união formada por pessoas do mesmo
sexo, com características de duração, publicidade,
continuidade e intenção de constituir família, decorrência
inafastável é a possibilidade de que seus componentes
possam adotar. Os estudos especializados não apontam
qualquer inconveniente em que crianças sejam adotadas por
casais homossexuais, mais importando a qualidade do vínculo
e do afeto que permeia o meio familiar em que serão inseridas
e que as liga aos seus cuidadores. É hora de abandonar de
vez preconceitos e atitudes hipócritas desprovidas de base
científica, adotando-se uma postura de firme defesa da
absoluta prioridade que constitucionalmente é assegurada
aos direitos das crianças e dos adolescentes (art. 227 da
Constituição Federal). Caso em que o laudo especializado
comprova o saudável vínculo existente entre as crianças e as
adotantes. NEGARAM PROVIMENTO. UNÂNIME.” (TJRS, AC
70013801592, 7°. Câm. Cív., j. 05.04.2006, rel. Des. Luiz
Felipe Brasil Santos). (Grifo nosso).

Em 2006 a Juíza Sueli Juarez Alonso da Vara de Infância e Juventude de


Catanduva no Estado de São Paulo no processo n° 234/2006 permitiu a adoção de
uma menina por um casal de homens. A menina já tinha sido adotada por um dos
homens e o parceiro pleiteou junto à justiça a adoção da criança, visto que o casal
mantinha um relacionamento estável há 14 anos.

Diante do que fora abordado em linhas acima, pode-se verificar que as


entidades familiares homoafetivas têm recebido um tratamento digno e respeitoso
por vários tribunais no que tange a adoção por casais homoafetivos, reafirmando os
direitos previstos pelo princípio da dignidade humana e isonomia. Espera-se que
todos os tribunais e o legislativo brasileiro tomem cada vez mais atitudes concretas
no sentido de viabilizar ainda mais tais direitos aos casais homoafetivos, em total
respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana.

Por isso, não há como impedir que os casais homoafetivos adotem


conjuntamente uma criança e adolescente. Visto que a jurisprudência brasileira vem
demonstrando que os homoafetivos possuem direitos em seu favor, com base nos
princípios da dignidade humana e da isonomia. E que deixar de proteger tal direito
seria uma flagrante discriminação com base em sua orientação sexual.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos comentários anteriores procurou-se, de forma sucinta, porém objetiva,


demonstrar os avanços e as contribuições que a jurisprudência e a doutrina vêm
trazendo de inovador ao decidir acerca das relações e da filiação homoafetiva.
Destacou-se que as relações homossexuais também são relações que se baseiam
no vínculo afetivo, de amor, carinho, respeito entre os membros dessa modalidade
de entidade familiar.

Foram analisadas as uniões estáveis, os casamentos e as adoções por


casais homoafetivos.

No que tange à adoção percebeu-se um claro avanço, pois atualmente a


finalidade da adoção não é somente o bem estar do adotante, mas sim o melhor
interesse da criança adotada, atendendo suas reais necessidades, e seus direitos
como criança em desenvolvimento, sendo autorizada, dessa forma, a adoção por
casais homoafetivos.

Em relação à união homoafetiva, conquistou-se atualmente muitas vitórias


nos tribunais superiores e com elas vários direitos, embora o Brasil não tenha
nenhuma legislação que trate do assunto de forma específica. Essa união busca,
hoje, regularizar legalmente o almejado casamento civil, que aos poucos vem
ganhando espaço, como foi mostrado nas decisões supramencionadas nas quais
foram autorizadas a conversão da união homoafetiva em casamento.

Essas decisões, inovadoras e pioneiras no ordenamento jurídico brasileiro


vêm mais uma vez respeitar os princípios assegurados constitucionalmente,
permitindo a formalização legal do vínculo conjugal de pessoas que embora de
mesmo sexo são unidas pelo afeto. A partir dessas situações devidamente
asseguradas pela jurisprudência, muitos outros vão surgir e a sociedade cada vez
mais precisa aceitar, sem preconceitos e sem discriminação, esse novo tipo de
entidade familiar.

Com isso, o ordenamento jurídico brasileiro consegue acompanhar a


realidade social hoje vivenciada e rompe mais um paradigma aceitando a união
estável entre casais homoafetivos, o casamento homoafetivo, e adoção por casais
homoafetivos, permitindo a esses casais a garantia de seus direitos e respeitando o
princípio da dignidade da pessoa humana.
6. REFERÊNCIAS

THOMAZ, Thiago Hauptmann Borelli. União homossexual: reflexões


jurídicas. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 64, abr. 2003. Acesso em: 18 maio de
2015.

CNJ – Resolução 175. Disponível em:


http://www.cnj.jus.br/images/imprensa/resolu%C3%A7%C3%A3o_n_175.pdf.
Acesso em 18 de maio.

DIETER, Cristina Teners. As Raízes Históricas Da Homossexualidade, os


Avanços no Campo Jurídico e o Prisma Constitucional. Disponível em:
http://www.ibdfam.org.br/_img/artigos/As%20ra%C3%ADzes%20hist%C3%B3ricas
%2012_04_2012.pdf. Acesso em: 18 de maio de 2015.

MARQUES, Luciana Ribeiro. Homossexualidade: uma análise do tema sob a


luz da psicanálise. 2008. Dissertação (Mestrado em Psicanálise, Saúde e
Sociedade) da Universidade Veiga de Almeida, Rio de Janeiro, 2008.

STF – Arguição de descumprimento de preceito fundamental/ADPF


132/RJ. Disponível em:
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=628633.
Acesso em 18 de maio de 2015.

PASSOS, Maria Consuêlo. Relações Homoafetivas: Avanços e


Resistências. Disponível em:
http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/
relacoes_homoafetivas_avancos_e_resistencias.html. Acessado em 18 de maio de
2015.
RODRIGUES, Humberto e Lima, Cláudia de Castro. Vale Tudo:
Homossexualidade na Antiguidade. Disponível em:
http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/vale-tudo-
homossexualidade-antiguidade-435906.shtml . Acessado em: 18 de maio de 2015.

Você também pode gostar