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AO JUÍZO DA VARA DOS FEITOS RELATIVOS ÀS RELAÇÕES DE CONSUMO,

CÍVEIS E COMERCIAIS DA COMARCA DE SALVADOR/BA

TRIAGEM Nº: (NÚMERO)

(NOME E QUALIFICAÇÃO DO ASSISTIDO), sob o patrocínio da Defensoria


Pública do Estado, por um dos seus membros, constituído na forma do art. 148, I, da Lei
Complementar Estadual nº 26/06, devendo ser intimado pessoalmente na Rua Arquimedes
Gonçalves, 331, Jardim Baiano, Salvador – BA, vem, perante Vossa Excelência, propor a

AÇÃO DE MANUTENÇÃO DE POSSE C/C PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA DE


URGÊNCIA DE NATUREZA ANTECIPADA

do imóvel constante de terreno e casa, situado na (ENDEREÇO), em face do Sr. (NOME E


QUALIFICAÇÃO DO RÉU), pelos motivos fáticos e jurídicos avante delineados:

DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA

Prima facie, requer a concessão dos benefícios da Assistência Judiciária Gratuita nos
termos das Leis nº. 1.060/50 e 7.510/86, por não possuir recursos financeiros suficientes para
cobrir o ônus das custas processuais e honorários advocatícios, sem prejuízo de sua mantença
e de sua família.

1. DO PROVIMENTO CGJ Nº. 05/2011 DO TJ/BA E ART 319, II CPC

Requer o recebimento e processamento da presente demanda, ainda que não indicados


amiúde todos os dados pessoais das partes, conforme autoriza o Art. 1º., § 7º. do Provimento

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Telefone (71) 3116-6777
CGJ nº. 05/2011[1].

Assim, também quanto à eventual não atendimento ao Art. 319, inciso II do CPC, uma
vez que a obtenção de alguns daqueles dados é, no momento, excessivamente onerosa ao
Autor, a teor do quanto autoriza o § 3º. do já mencionado Artigo.

2. DOS FATOS E DO DIREITO

O Autor é legítimo possuidor do imóvel situado na (ENDEREÇO), que mede 5,00 m


de largura x 20 m de comprimento, sendo composto de 01 quarto, 01 sala, 01 salão, 01
cozinha, 01 banheiro e área de serviço. O Autor conviveu em união estável com o Sr.
(NOME), filho do Réu, do ano 1999 até a data do falecimento do referido Sr. (NOME), o que
sucedeu em 11/11/2005 em Salvador, sendo que durante todo esse período os mesmos
moraram no imóvel supracitado, continuando o Autor a residir naquele após o supracitado
falecimento, ou seja, o Autor reside no local há cerca de 17 (dezessete) anos, conforme consta
das cópias dos anexos.

Observa-se que, mesmo após o falecimento do Sr. (NOME), o Autor continuou


residindo no imóvel e, durante todo esse período, não houve interrupção do referido período
de posse, muito menos ocorreu a oposição de quem quer que fosse, inclusive a posse exercida
pelo Autor sempre foi do conhecimento do Réu.

Saliente-se que na referida casa foi, ainda, construído, instalado e custeado um salão
de beleza pelo Autor, no qual foi gasto cerca de R$ 30.000,00 (trinta mil reais).

Ressalte-se que o Autor jamais foi parte em eventual ação judicial afeta ao patrimônio
deixado pelo Sr. (NOME), porventura intentada pelo Réu.

É de bom alvitre ressaltar que a Sra. (NOME), neta do Réu, procurou o Autor há
poucos meses, dizendo-se representante daquele e afirmando que o Autor deveria assinar um
documento que aquela portava, o qual seria relativo a esse imóvel, sob o argumento de que o
Réu deveria desocupar o imóvel imediatamente.

O Autor não dispõe de documento do imóvel, sendo que tem envidado esforços no
sentido de regularizá-lo, posto que está providenciando o agendamento de atendimento com o
Defensor Público da área da Regularização Fundiária. Saliente-se que o fato de não dispor de

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documentação do imóvel tem dificultado a realização do cadastramento do mesmo relativo ao
IPTU.

Ademais, na tentativa de saber se há registro do imóvel, foi expedido o Ofício ao


Cartório do 3º. Ofício de Registro de Imóveis e Hipotecas de Salvador/BA, no qual os
imóveis do bairro da Vila Laura estão inscritos, a fim de que forneça a Certidão de Inteiro
Teor do Registro Imobiliário, bem como foram expedidos os Ofícios aos Cartórios de
Registro Civil de Pessoas Naturais competentes, requisitando a 2ª. via da Certidão de Óbito
do Sr. (NOME), sendo que até o presente momento, não se obteve retorno, consoante as
cópias dos documentos constantes dos anexos.

Saliente-se que está comprovado, portanto, que há aproximadamente 07 (sete) meses o


Autor começou a adotar as primeiras medidas para resguardar o direito de manutenção da
posse e propriedade de referido imóvel, posto que o primeiro contato com a CAJ-I da DPE
data de 30/05/2016.

Assim, a documentação acostada a este petitório, quais sejam, cópias de notas fiscais,
de recibos, de extratos bancários, de correspondências, de faturas da Coelba, da Embasa e de
Cartão de Crédito, comprovantes de residência, declaração de testemunha, pode atestar a
veracidade das informações ora prestadas.

Os comprovantes de residência e todos os demais documentos apresentados nesta


oportunidade comprovam que o Autor reside no imóvel desde 1999.

O direito do Autor encontra-se devidamente lastreado nos dispositivos legais do


Código Civil abaixo descritos:

Art. 1.196: Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício,
pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.
Art. 1.204: Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o
exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à
propriedade.
Art. 1.206: A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor
com os mesmos caracteres.
Art. 1.210: O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de
turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver
justo receio de ser molestado.

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Também em perfeita harmonia com o Art. 560 do Código de Processo Civil, o qual
dispõe que “o possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação e reintegrado
em caso de esbulho. ”.

É sabido que o Supremo Tribunal Federal reconhece a união estável homoafetiva,


equiparando as relações entre pessoas do mesmo sexo às uniões estáveis entre homens e
mulheres, reconhecendo, assim, a quarta família brasileira, já que a Constituição Federal já
previa três enquadramentos de família: a decorrente do casamento, a família formada com a
união estável e a entidade familiar monoparental (quando acontece de apenas um dos
cônjuges ficar com os filhos). Assim, a união homoafetiva deve ser considerada como uma
autêntica família, com todos os seus efeitos jurídicos.

Segue a decisão do STF a respeito:

1. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO


FUNDAMENTAL (ADPF). PERDA PARCIAL DE OBJETO.
RECEBIMENTO, NA PARTE REMANESCENTE, COMO AÇÃO
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. UNIÃO HOMOAFETIVA
E SEU RECONHECIMENTO COMO INSTITUTO JURÍDICO.
CONVERGÊNCIA DE OBJETOS ENTRE AÇÕES DE NATUREZA
ABSTRATA. JULGAMENTO CONJUNTO. Encampação dos fundamentos
da ADPF nº 132-RJ pela ADI nº 4.277-DF, com a finalidade de conferir
“interpretação conforme à Constituição” ao art. 1.723 do Código Civil.
Atendimento das condições da ação. 2. PROIBIÇÃO DE
DISCRIMINAÇÃO DAS PESSOAS EM RAZÃO DO SEXO, SEJA NO
PLANO DA DICOTOMIA HOMEM/MULHER (GÊNERO), SEJA NO
PLANO DA ORIENTAÇÃO SEXUAL DE CADA QUAL DELES. A
PROIBIÇÃO DO PRECONCEITO COMO CAPÍTULO DO
CONSTITUCIONALISMO FRATERNAL. HOMENAGEM AO
PLURALISMO COMO VALOR SÓCIO-POLÍTICO-CULTURAL.
LIBERDADE PARA DISPOR DA PRÓPRIA SEXUALIDADE,
INSERIDA NA CATEGORIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DO
INDIVÍDUO, EXPRESSÃO QUE É DA AUTONOMIA DE VONTADE.
DIREITO À INTIMIDADE E À VIDA PRIVADA. CLÁUSULA PÉTREA.
O sexo das pessoas, salvo disposição constitucional expressa ou implícita em
sentido contrário, não se presta como fator de desigualação jurídica.
Proibição de preconceito, à luz do inciso IV do art. 3º da Constituição
Federal, por colidir frontalmente com o objetivo constitucional de
“promover o bem de todos”. Silêncio normativo da Carta Magna a respeito
do concreto uso do sexo dos indivíduos como saque da kelseniana “norma
geral negativa”, segundo a qual “o que não estiver juridicamente proibido,
ou obrigado, está juridicamente permitido”. Reconhecimento do direito à
preferência sexual como direta emanação do princípio da “dignidade da
pessoa humana”: direito a auto-estima no mais elevado ponto da consciência
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do indivíduo. Direito à busca da felicidade. Salto normativo da proibição do
preconceito para a proclamação do direito à liberdade sexual. O concreto uso
da sexualidade faz parte da autonomia da vontade das pessoas naturais.
Empírico uso da sexualidade nos planos da intimidade e da privacidade
constitucionalmente tuteladas. Autonomia da vontade. Cláusula pétrea. 3.
TRATAMENTO CONSTITUCIONAL DA INSTITUIÇÃO DA FAMÍLIA.
RECONHECIMENTO DE QUE A CONSTITUIÇÃO FEDERAL NÃO
EMPRESTA AO SUBSTANTIVO “FAMÍLIA” NENHUM
SIGNIFICADO ORTODOXO OU DA PRÓPRIA TÉCNICA
JURÍDICA. A FAMÍLIA COMO CATEGORIA SÓCIO-CULTURAL
E PRINCÍPIO ESPIRITUAL. DIREITO SUBJETIVO DE CONSTITUIR
FAMÍLIA. INTERPRETAÇÃO NÃO-REDUCIONISTA. O caput do art.
226 confere à família, base da sociedade, especial proteção do Estado.
Ênfase constitucional à instituição da família. Família em seu coloquial ou
proverbial significado de núcleo doméstico, pouco importando se formal ou
informalmente constituída, ou se integrada por casais heteroafetivos ou por
pares homoafetivos. A Constituição de 1988, ao utilizar-se da expressão
“família”, não limita sua formação a casais heteroafetivos nem a formalidade
cartorária, celebração civil ou liturgia religiosa. Família como instituição
privada que, voluntariamente constituída entre pessoas adultas, mantém com
o Estado e a sociedade civil uma necessária relação tricotômica. Núcleo
familiar que é o principal lócus institucional de concreção dos direitos
fundamentais que a própria Constituição designa por “intimidade e vida
privada” (inciso X do art. 5º). Isonomia entre casais heteroafetivos e pares
homoafetivos que somente ganha plenitude de sentido se desembocar no
igual direito subjetivo à formação de uma autonomizada família. Família
como figura central ou continente, de que tudo o mais é conteúdo.
Imperiosidade da interpretação não-reducionista do conceito de família
como instituição que também se forma por vias distintas do casamento civil.
Avanço da Constituição Federal de 1988 no plano dos costumes. Caminhada
na direção do pluralismo como categoria sócio-político-cultural.
Competência do Supremo Tribunal Federal para manter, interpretativamente,
o Texto Magno na posse do seu fundamental atributo da coerência, o que
passa pela eliminação de preconceito quanto à orientação sexual das pessoas.
4. UNIÃO ESTÁVEL. NORMAÇÃO CONSTITUCIONAL REFERIDA A
HOMEM E MULHER, MAS APENAS PARA ESPECIAL PROTEÇÃO
DESTA ÚLTIMA. FOCADO PROPÓSITO CONSTITUCIONAL DE
ESTABELECER RELAÇÕES JURÍDICAS HORIZONTAIS OU SEM
HIERARQUIA ENTRE AS DUAS TIPOLOGIAS DO GÊNERO
HUMANO. IDENTIDADE CONSTITUCIONAL DOS CONCEITOS DE
“ENTIDADE FAMILIAR” E “FAMÍLIA”. A referência constitucional à
dualidade básica homem/mulher, no § 3º do seu art. 226, deve-se ao centrado
intuito de não se perder a menor oportunidade para favorecer relações
jurídicas horizontais ou sem hierarquia no âmbito das sociedades
domésticas. Reforço normativo a um mais eficiente combate à renitência
patriarcal dos costumes brasileiros. Impossibilidade de uso da letra da
Constituição para ressuscitar o art. 175 da Carta de 1967/1969. Não há como
fazer rolar a cabeça do art. 226 no patíbulo do seu parágrafo terceiro.
Dispositivo que, ao utilizar da terminologia “entidade familiar”, não
pretendeu diferenciá-la da “família”. Inexistência de hierarquia ou diferença
de qualidade jurídica entre as duas formas de constituição de um novo e
autonomizado núcleo doméstico. Emprego do fraseado “entidade familiar”
como sinônimo perfeito de família. A Constituição não interdita a formação
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de família por pessoas do mesmo sexo. Consagração do juízo de que não se
proíbe nada a ninguém senão em face de um direito ou de proteção de um
legítimo interesse de outrem, ou de toda a sociedade, o que não se dá na
hipótese sub judice. Inexistência do direito dos indivíduos heteroafetivos à
sua não-equiparação jurídica com os indivíduos homoafetivos.
Aplicabilidade do § 2º do art. 5º da Constituição Federal, a evidenciar que
outros direitos e garantias, não expressamente listados na Constituição,
emergem “do regime e dos princípios por ela adotados”, verbis: “Os direitos
e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do
regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em
que a República Federativa do Brasil seja parte”. 5. DIVERGÊNCIAS
LATERAIS QUANTO À FUNDAMENTAÇÃO DO ACÓRDÃO. Anotação
de que os Ministros Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Cezar Peluso
convergiram no particular entendimento da impossibilidade de ortodoxo
enquadramento da união homoafetiva nas espécies de família
constitucionalmente estabelecidas. Sem embargo, reconheceram a união
entre parceiros do mesmo sexo como uma nova forma de entidade familiar.
Matéria aberta à conformação legislativa, sem prejuízo do reconhecimento
da imediata auto-aplicabilidade da Constituição. 6. INTERPRETAÇÃO DO
ART. 1.723 DO CÓDIGO CIVIL EM CONFORMIDADE COM A
CONSTITUIÇÃO FEDERAL (TÉCNICA DA “INTERPRETAÇÃO
CONFORME”). RECONHECIMENTO DA UNIÃO HOMOAFETIVA
COMO FAMÍLIA. PROCEDÊNCIA DAS AÇÕES. Ante a possibilidade de
interpretação em sentido preconceituoso ou discriminatório do art. 1.723 do
Código Civil, não resolúvel à luz dele próprio, faz-se necessária a utilização
da técnica de “interpretação conforme à Constituição”. Isso para excluir do
dispositivo em causa qualquer significado que impeça o reconhecimento da
união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como
família. Reconhecimento que é de ser feito segundo as mesmas regras e com
as mesmas consequências da união estável heteroafetiva. (ADI 4277 DF,
Orgão Julgador: Tribunal Pleno, Relator: Min. AYRES BRITTO,
Publicação: DJe-198 DIVULG 13-10-2011 PUBLIC 14-10-2011 EMENT
VOL-02607-03 PP-00341)

Ainda, observe que o Autor tem o direito real de habitação no que se refere ao imóvel
supracitado, inclusive tal entendimento depreende-se da interpretação da legislação pátria
sobre o assunto, devendo-se atentar, inclusive, para as disposições do Art. 7º, parágrafo único
da Lei nº 9.278/1996, ao disciplinar o Art. 226 da Constituição da República, cujo instituto foi
estendido ao companheiro supérstite. In verbis, o referido dispositivo versa que:

dissolvida a união estável por morte de um dos conviventes, o sobrevivente


terá direito real de habitação, enquanto viver ou não constituir nova união ou
casamento, relativamente ao imóvel destinado à residência da família.

Inclusive, o Superior Tribunal de Justiça determinou que o direito real à habitação


garante que viúvos/viúvas ou companheiros/companheiras permaneçam no local de forma

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vitalícia, desde que não constituam nova família, ratificando o entendimento de que o direito
real de habitação se sobrepõe à partilha.

Assim, vê-se que o usufruto do imóvel vale mais que o direito à fração daquele,
deixando claro como direito prioritário o real de habitação, que garante ao cônjuge ou
companheiro o usufruto do imóvel em que morava com a outra parte, o qual sobrepõe-se ao
direito de propriedade sobre fração desse mesmo imóvel.

Assim, é indiscutível o direito real de habitação do Autor sobre o imóvel no qual


residia com o falecido, direito que existirá enquanto viver ou até quando constituir nova união
ou casamento.

Inclusive, é perfeitamente possível a arguição do direito real de habitação para fins


exclusivamente possessórios, havendo ou não o seu reconhecimento anterior em ação própria
declaratória de união estável.

E, ainda, embora não haja previsão expressa no Código Civil sobre o direito real de
habitação aos companheiros quanto ao regime sucessório específico, muito menos havendo
previsão a respeito do tema no art. 1.831 do mesmo Código, o Superior Tribunal de Justiça
tem entendido pela aplicabilidade, devendo-se considerar, inclusive, que a interpretação literal
das normas levaria à conclusão de que o cônjuge estaria em situação privilegiada em relação
ao companheiro, o que deve ser rechaçado pelo ordenamento jurídico.

Ainda, quanto ao tema, veja o julgamento do Tribunal de Justiça do Rio Grande do


Sul:

UNIÃO ESTÁVEL. DIREITO REAL DE HABITAÇÃO. PROVA. 1. O


direito real de habitação é deferido ao companheiro independentemente de
qualquer condição pessoal, social ou econômica, e ainda que possua outros
imóveis, pois a única limitação legal para o exercício desse direito é que
poderá ser exercido apenas "enquanto durar a viuvez". 2. Considerando que,
na escritura pública de inventário, foi reconhecido que a ré era companheira
do falecido e convivia com ele no imóvel objeto do litígio, mostra-se
descabida a concessão de tutela antecipada para a desocupação do imóvel,
até que seja esclarecido se ela efetivamente foi coagida a abrir mão do
direito real de habitação. Inteligência do art. 7º, parágrafo único, da Lei nº
9.278/96. Recurso provido. (Agravo de Instrumento, Nº 70072917263,
Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando
de Vasconcellos Chaves, Julgado em: 26-07-2017)

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3. DA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA DE NATUREZA ANTECIPADA

Visando amenizar os nefastos efeitos do tempo no processo e repartir o ônus dos


males do tempo entre as partes, o legislador criou uma importante técnica processual,
chamada de antecipação provisória dos efeitos finais da tutela definitiva, através da qual se
permite o gozo imediato e antecipado dos efeitos típicos de uma tutela definitiva (satisfativa
ou cautelar)1.

Como apenas a tutela definitiva pode ser concedida provisoriamente, as espécies de


tutela definitiva são também as espécies de tutela provisória. Assim, a tutela provisória pode
ser satisfativa (“antecipada”) de urgência e/ou evidência, mas também pode apresentar
natureza cautelar (de urgência)2.

O Art. 294 do CPC reproduz este entendimento, ao dispor que:

Art. 294. A tutela provisória pode fundamentar-se em urgência ou evidência.


Parágrafo único. A tutela provisória de urgência, cautelar ou antecipada,
pode ser concedida em caráter antecedente ou incidental.

In casu, considerando as peculiaridades do caso concreto, necessário analisar a tutela


provisória sob o viés da urgência, de modo que o que se pretende através desta antecipação
dos efeitos da tutela principal é a obtenção de uma tutela provisória satisfativa (antecipada) e
não meramente de evidência.

Por seu turno, Art. 300 do CPC dispõe que a tutela de urgência será concedida quando
houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo.

A probabilidade do direito a ser provisoriamente satisfeito/realizado ou acautelado é a

1
Didier Jr., Fredie; Oliveira, Rafael; Braga, Paula Sarno. Curso de Direito Processual Civil: teoria da prova,
direito probatório, ações probatórias, decisão, precedente, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela. 10º
edição. Salvador: Ed. Juspodivm, 2015, p.567.
2
Didier Jr., Fredie; Oliveira, Rafael; Braga, Paula Sarno. Curso de Direito Processual Civil: teoria da prova,
direito probatório, ações probatórias, decisão, precedente, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela. 10º
edição. Salvador: Ed. Juspodivm, 2015, p. 569.
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plausibilidade de existência desse mesmo direito, ou seja, o magistrado precisa avaliar se há
elementos que evidenciem a probabilidade de ter ocorrido o fato narrado e quais as chances
do Demandante.3

Trata-se da verossimilhança fática (grau de plausibilidade em torno da narrativa fática)


e plausibilidade jurídica (provável subsunção dos fatos à norma invocada).

No caso em testilha, a probabilidade do direito encontra-se devidamente evidenciada


nos autos, não apenas por todas as declarações já esposadas neste petitório, como também por
todo o arcabouço probatório já colacionado e ora juntados, quais sejam: cópias de notas
fiscais, de recibos, de extratos bancários, de correspondências, de faturas da Coelba, da
Embasa e de Cartão de Crédito, comprovantes de residência, declaração de testemunha.

Noutro giro, a tutela provisória de urgência pressupõe, igualmente, a existência de


elementos que evidenciem o perigo que a demora na prestação jurisdicional representa para a
efetividade da jurisdição e a eficaz realização do direito. 4

Veja que o receio na demora da prestação jurisdicional que justifica o pedido de tutela
provisória de urgência é aquele que se assenta não apenas no risco de dano irreparável ou de
difícil reparação, mas também no risco de um ilícito (inibitória) e o risco que a demora
representa ao resultado útil do processo.

No presente caso, o não deferimento da tutela acarretará dano irreparável, vez que,
face a iminência de concretização de desocupação do imóvel, como já tentado anteriormente
pelo Réu e acima relatado, o Autor pode PERDER DE FORMA INJUSTA E ILEGAL, sem
exercer o seu direito constitucional ao contraditório e à ampla defesa, a posse do supracitado
imóvel.

Igualmente preenchido o requisito previsto no § 3º. do Art. 300 do CPC, uma vez que

3
Didier Jr., Fredie; Oliveira, Rafael; Braga, Paula Sarno. Curso de Direito Processual Civil: teoria da prova,
direito probatório, ações probatórias, decisão, precedente, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela. 10º
edição. Salvador: Ed. Juspodivm, 2015, p.595.

4
Didier Jr., Fredie; Oliveira, Rafael; Braga, Paula Sarno. Curso de Direito Processual Civil: teoria da prova,
direito probatório, ações probatórias, decisão, precedente, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela. 10º
edição. Salvador: Ed. Juspodivm, 2015, p.597.

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o acolhimento do pedido de tutela de urgência antecipada não trará perigo de
irreversibilidade.

A imperiosidade da concessão do presente pedido encontra respaldo legal no Art. 300


do Novo Código de Processo Civil, uma vez que estão presentes e devidamente delineados no
presente caso os requisitos para a concessão de tutela de urgência.

A documentação acostada atesta a probabilidade do direito à posse e propriedade do


Autor, e a iminência de efetivação da desocupação do imóvel caracteriza o perigo de dano
irreparável, sendo imprescindível o acolhimento do pleito ora formulado.

4. DOS PEDIDOS

Isto posto, requer:

a) A concessão dos benefícios da Assistência Judiciária Gratuita;

b) O acolhimento do pedido de tutela provisória de urgência com arrimo no Art. 300 do


CPC, inaudita altera pars, para determinar a imediata manutenção do Autor na posse do
imóvel supracitado, ou, ainda, caso esse não seja o entendimento do Juízo, que seja designada
a audiência de justificação prévia, sob pena de sofrer multa diária, a ser sugerida, no valor de
R$ 1.000,00 (mil reais), sem prejuízo da configuração do crime de desobediência;

c) A citação do Réu, para, querendo, contestar o presente pedido, sob pena de, não o
fazendo, serem aceitos como verdadeiros os fatos articulados pelo Autor na petição inicial;

d) A cominação de pena pecuniária, a ser fixada por Vossa Excelência, caso o Réu volte a
molestar a posse do Autor;

e) A PROCEDÊNCIA DO PEDIDO, determinando que o Autor seja mantido


definitivamente na posse do imóvel descrito supracitado;

f) A produção de todos os meios de prova em Direito admissíveis, especificadamente, a


pericial, a juntada de documentos, o depoimento pessoal da parte contrária, e a oitiva de
testemunhas, consoante rol anexo, que deverão ser pessoalmente intimadas, nos termos do

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Art. 455, § 4º, IV do CPC, bem como quaisquer outras providências que esse Juízo julgue
necessárias à perfeita resolução do feito, ficando tudo de logo requerido;

g) A condenação do Réu ao ônus da sucumbência, observando o que dispõe a Lei


Complementar Estadual nº. 26/06 quanto à reversão das verbas respectivas à Defensoria
Pública do Estado, devendo o pagamento das custas processuais e honorários advocatícios ser
feito em favor do FUNDO DE ASSISTÊNCIA JURÍDICA DA DEFENSORIA PÚBLICA DO
ESTADO DA BAHIA, a serem depositados/recolhidos na conta corrente nº. 992.831-6,
agência nº. 3832-6, do Banco do Brasil, nos termos da Lei Estadual nº. 11.045/2008;

h) A observância do cumprimento das prerrogativas de intimação pessoal do(a)


Defensor(a) Público(a) com atuação no feito, e a contagem em dobro de todos os prazos
processuais.

Dá-se a causa o valor de R$ 937,00 (novecentos e trinta e sete reais).

Nestes termos, pede deferimento.

Salvador/BA, 7 de maio de 2023.

(nome dx defensorx púlicx)


DEFENSORX PÚBLICO

ROL DE TESTEMUNHAS

1 – (NOME), residente à (ENDEREÇO;


2 – (NOME), residente à (ENDEREÇO;

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