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-N.º 23/2006, DE 10-01; N.º 401/2011, DE 22-09; N.º 24/2012, DE 17-01; N.º 309/16, DE 18-05; N.º
424/2016, DE 06-07, TODOS DISPONÍVEIS EM WWW.TRIBUNALCONSTITUCIONAL.PT .
Sumário :
I- O direito a instaurar a ação de investigação de paternidade (art. 1873º
do CC) não é, por natureza, imprescritível.
II- O preceituado no art. 3º da Lei nº 14/09, de 01.04, não consubstancia
retroatividade autêntica, antes simples retrospetividade ou retroatividade
inautêntica, porquanto não afeta posições jusfundamentais já
estabelecidas no passado ou, mesmo, esgotadas.
III- O mesmo preceito legal não afeta, considerando o consignado em I, o
princípio da confiança ínsito no princípio do Estado de direito
democrático (art. 2º da CRP), “maxime” estando em causa uma ação
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08/11/2020 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
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situações pretéritas;
19ª - Ora, de acordo com o art. 18º, nº 3 da CRP, as leis restritivas de
direitos, liberdades e garantias não podem ter efeito retroativo, sem
necessidade de averiguar se houve uma efetiva lesão do princípio da
confiança, a qual é dada por assente pelo legislador constituinte;
20ª - Com o que o art. 3º da Lei 14/2009, 01 de abril é materialmente
inconstitucional porque viola o art. 18º, nº3 da CRP, como, aliás foi já
decidido pelo Tribunal Constitucional no acórdão 161/2011, de 24 de
março e no acórdão nº 24/2012 do Plenário do TC de 17 de Janeiro de
2012 que decidiram “julgar inconstitucional a norma constante do artigo
3.º da Lei n.º 14/2009, de 1 de abril, na medida em que manda aplicar, aos
processos pendentes à data da sua entrada em vigor, o prazo previsto na
nova redação do artigo 1817º nº 1, do Código Civil, aplicável por força do
artigo 1873º do mesmo Código”;
21ª - A redação do art. 18º, nº3 da CRP é clara - o sujeito gramatical é a
lei restritiva de direitos, liberdades e garantias, não curando o legislador
de saber se a restrição apresenta ou não um carácter inovador e se é ou
não mais favorável;
22ª - Sem prescindir, a restrição dos direitos fundamentais operada pela
Lei nº14/2009, de 01 de abril é efetivamente nova ou, pelo menos, assim
tem de ser considerada pelo julgador;
23ª - Para todos os efeitos legais, o prazo de caducidade de 2 anos dentro
do qual teria a ação de investigação ser instaurada é como se nunca
tivesse existido, porque a lei que o estipulava foi banida do nosso
ordenamento jurídico desde a sua entrada em vigor, por efeito da
declaração da sua inconstitucionalidade com força obrigatória geral;
24ª - Donde, contrariamente ao que se defende no acórdão sob recurso, o
artigo 3º da Lei 14/2009, de 01 de abril é materialmente inconstitucional
por violação do artigo 18º, nº3 da CRP, não podendo pois considerar-se
que o prazo de caducidade de 10 anos é mais favorável que a inexistência
de qualquer prazo, já que o prazo de 2 anos, atento o disposto no artigo
282º, nº1 da CRP, nunca existiu no nosso ordenamento jurídico;
25ª - O acórdão proferido pelo Tribunal da Relação de …, ao considerar
que a ação de investigação da paternidade apenas seria tempestiva se
instaurada até maio de 1968, ignora por completo os efeitos decorrentes
da declaração de inconstitucionalidade com força obrigatória geral do
artigo 1817º, nº1 do CC pelo acórdão do Tribunal Constitucional nº
23/2006, de 10 de janeiro;
26ª - Como se referiu, a previsão expressa de proibição da retroatividade
das leis restritivas de direitos, liberdades e garantias dispensa o intérprete
de averiguar se houve uma efetiva violação das legítimas expectativas do
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34ª - Não pode agora o Tribunal vir proceder a essa arbitrária distinção,
como pretendem os apelantes, porque semelhante solução equivaleria a
desconsiderar os efeitos da declaração de inconstitucionalidade com força
obrigatória geral;
35ª - Acresce que, não seria justo que a celeridade processual (ou a falta
dela) determinasse soluções jurídicas diversas quando a protecção da
confiança do investigante que instaurou a acção antes de 2006, também
veio a ser reforçada pelos efeitos do Ac. nº 23/2006 do Tribunal
Constitucional;
36ª - Essa distinção, à margem dos efeitos da declaração de
inconstitucionalidade com força obrigatória geral do art. 1817º, nº1 e do
definido no Ac. do TC 164/2011, implicaria que o desfecho das acções
pendentes fosse ditado pela álea, o que é de todo inadmissível;
37ª - Se a presente acção, tivesse sido julgada em 2008, o Tribunal
determinaria a sua procedência em face do vazio legislativo; mas, sendo-o
em 2014, no entendimento dos apelantes, o Tribunal já terá de a julgar
improcedente, não obstante as partes estarem seguras de que nenhum
prazo de caducidade se aplicaria à sua situação e de onze anos constituir
um prazo que ultrapassa o razoável para que uma causa seja julgada nos
tribunais portugueses;
38ª - A presente ação foi e é tempestiva, como doutamente considerou a
douta sentença recorrida e considerou a Veneranda Desembargadora da
Relação no douto voto de vencido que exarou, improcedendo,
consequentemente, a invocada excepção de caducidade e tudo quanto a
esse propósito os apelantes ora alegam.
Termos em que, em face do exposto e do mais que por certo não deixará
de ser por VV. Exas. doutamente suprido, deve a presente revista ser
concedida, revogando-se o acórdão da Relação de Coimbra, mantendo-se
a douta sentença de 1ª instância, com o que uma vez mais este Venerando
Supremo Tribunal de Justiça fará JUSTIÇA.
Contra-alegando, defendem os recorridos a manutenção do julgado.
Corridos os vistos e nada obstando ao conhecimento do recurso, cumpre
decidir.
/
2 - Com relevância para a apreciação e decisão do recurso, mostram-se
provados os seguintes factos:
/
1 - O A., AA, nasceu no dia 00 de ... de 1934;
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- “Se este novo figurino não permite que possamos qualificar a Lei
nº14/09, de 01.04, como uma lei interpretativa…, seguramente que ele
não veio introduzir novas restrições, anteriormente não previstas, nem
procedeu ao alargamento ou agravamento de restrições já consagradas por
lei prévia ao direito ao reconhecimento judicial da paternidade, mas, pelo
contrário, desagravou significativamente a severidade do sistema de
prazos de caducidade que vigorava anteriormente à sua aprovação”;
--- Do Ex. mo Cons. Sousa Ribeiro:
- “…Não era de afastar” - após a prolação do Ac. nº 23/06, do Tribunal
Constitucional - “a hipótese de o operador judiciário, perante um sistema
de regras de determinação da filiação onde continuaram em vigor prazos
de caducidade (inclusivamente no âmbito do mesmo art. 1817º, para as
ações de investigação) considerasse que estávamos perante um transitório
vácuo legislativo, a preencher dentro do «espírito do sistema». Nessa
medida, e no contexto muito particular desta concreta sucessão de leis no
tempo, não será líquido que tenha havido uma mutação desfavorável da
ordem jurídica, quando, pelo contrário, é certo que o legislador introduziu
um regime de prazos mais favorável do que o anteriormente fixado no art.
1817, e não apenas no que se refere ao prazo-regra do nº1”.
*
7 - Deflui de quanto ficou considerado que, face à não
inconstitucionalidade do preceituado no art. 3º da Lei nº 14/09, de 01.04 e
visto o disposto no art. 19º do DL nº 47344, de 25.11.1966 - que aprovou
o vigente CC -, tendo o A. nascido em 13.12.1934, só poderia, com
referência ao preceituado no art. 1817º, nº1, do CC, na redação
introduzida pelo art. 1º daquela Lei, ter instaurado a presente ação até
31.05.1968.
Assim, tendo a ação sido instaurada apenas em 12.12.02, procede a
deduzida exceção perentória da caducidade do direito ao visado
reconhecimento judicial da paternidade do A., com a inerente
improcedência da ação por si instaurada, sendo, pois, de manter, com a
aduzida fundamentação, o acórdão recorrido.
*
8 - Na decorrência do exposto, acorda-se em negar a revista.
/
Custas, aqui e nas instâncias, pelo recorrente.
Lx 08/11/2016
Fernandes do Vale – Relator
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