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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) JUIZ (ÍZA) FEDERAL DA ___ VARA

FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE RONDÔNIA.

THALÍA LORENA CORREIRA DE ARAÚJO, brasileira, solteira, menor


impúbere, nascida em 10 de março de 1997, neste ato representada por sua genitora
Marinete Alves Correia, brasileira, convivente, camareira, portadora do RG nº 869249
SSP/RO e inscrita no CPF nº. 888.379.982-87, residente e domiciliada na Rua Centro-Oeste,
nº 5956, Bairro Castanheira, Porto Velho/RO, e,

LINDA YASMIM OTAVIANO DE ARAÚJO, brasileira, solteira, menor


impúbere, nascida em 13 de agosto de 1999, neste ato representadas por sua genitora
Ivanire Otaviano de Oliveira, brasileira, viúva, diarista, portadora do RG nº 872.650
SSP/RO e inscrita no CPF nº. 435.297.202-91, residente e domiciliada na Avenida dos
Imigrantes, nº 7131, Bairro Aponiã, Porto Velho/RO, vêm, por intermédio da
DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO DE RONDÔNIA, propor

AÇÃO DESTINADA À CONCESSÃO DE PENSÃO POR MORTE,

C/C PEDIDO LIMINAR,


em face do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, pessoa jurídica de direito público,
cuja Procuradoria situa-se na Rua José de Alencar, n. 2094, Centro, e cuja Gerência
Executiva situa-se na Av. Sete de Setembro, n. 1044, Centro, pelas razões de fato e de
direito a seguir expostas.
1. DA GRATUIDADEDE JUSTIÇA

De início, as demandantes requerem o benefício de gratuidade da


justiça, nos termos da Lei nº. 1060/50, por não possuírem condições de arcar com as
custas e despesas do processo sem prejuízo de seu sustento próprio e de sua família,
conforme declaração em anexo.

2. DOS FATOS E DO DIREITO

No dia 08/07/2011, a genitora da parte autora LINDA YASMIM


OTAVIANO DE ARAUJO requereu o benefício de pensão por morte (NB 156.067.687-3),
sendo indeferido pela Autarquia Previdenciária em razão da insuficiência de documentos.

O de cujus, Antônio Marcos Souza de Araújo, faleceu no dia 20/12/1999


deixando duas filhas, Thalía Lorena Correira de Araújo e Linda Yasmim Otaviano Serpa de
Araújo, e sua companheira Ivanire Otaviano de Oliveira, como atestam as certidões de
nascimento em anexo. Assim, resta comprovado a dependência em face do falecido por ser
filhas e menores.

No tocante à caracterização do falecido como segurado, segue anexo o CNIS,


comprovando que o de cujus trabalhava na época do óbito, como vigilante na empresa
NORSERVEL Vigilância Transportes e Valores S.A.

Afirma-se, assim, a qualidade de segurado empregado do falecido, por


ocasião do óbito.

Cabe observar, que a genitora de LINDA YASMIM OTAVIANO DE


ARAUJO não requereu o benefício anteriormente pelo fato de sua sogra, mãe do instituidor,
ter obstado a entrega dos documentos dele, bem como pela falta de conhecimento jurídico
para fazer o pedido no INSS.

Desta forma requer-se o pagamento dos retroativos desde o óbito do de cujus,


considerando-se que ambas as crianças são menores, contando com 15 (quinze) e 13 (treze)
anos de idade.

Por mais que o artigo 74 da Lei nº 8.213/91 estabeleça que “A pensão por
morte será devida ao conjunto dos dependentes do segurado que falecer, aposentado ou
não, a contar da data: I do óbito, quando requerida até trinta dias depois deste”, o
parágrafo único do artigo 103 traz o seguinte:

Prescreve em cinco anos, a contar da data em que deveriam ter sido


pagas, toda e qualquer ação para haver prestações vencidas ou
quaisquer restituições ou diferenças devidas pela Previdência Social,
salvo o direito dos menores, incapazes e ausentes, na forma do
Código Civil. (Incluído pela Lei nº 9.528, de 1997).

Como se vê, a lei previdenciária remete a regra ao Código Civil. Este, por sua
vez, estabelece que não corre prescrição aos menores absolutamente incapazes, ou seja:
menores de 16 anos (CC - Art. 198. Também não corre a prescrição: I - contra os incapazes
de que trata o art. 3º;).

Por sua vez, o art. 3º do mesmo Código Civil estipula que:

Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos


da vida civil:
I - os menores de dezesseis anos;
II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o
necessário discernimento para a prática desses atos;
III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua
vontade. (...)”Por sua vez, o art. 198 do mesmo Código Civil
determina que:

Desta feita, conforme expressa previsão da legislação de regência, não se


aplica aos autores menores a prescrição quinquenal do artigo supracitado, devendo ser
fixada a data de início do benefício em questão na mesma data do óbito do instituidor
(20/12/1999), com a produção de todos os efeitos financeiros a partir desta data.

De fato, não havendo o transcurso do prazo de 5 (cinco) anos desde a data em


que os autores (filhas e esposa do segurado) deixaram de ser absolutamente incapazes até a
data do requerimento administrativo do benefício, nenhuma das parcelas porventura devidas
foram atingidas pela prescrição quinquenal.

Assim, o termo inicial do benefício, em se tratando de absolutamente incapaz,


coincide com a data do óbito do instituidor, devendo ser pagas as prestações devidas a partir
de tal data.

Neste sentido inclusive, encontra-se a jurisprudência dos tribunais pátrios:

AGRAVO REGIMENTAL. ADMINISTRATIVO. REINCLUSÃO


DE EX-POLICIAL MILITAR POST MORTEM. PENSÃO.
MENOR IMPÚBERE. DEPENDÊNCIA ECONÔMICA.
AFRONTA AO ART. 165 DO CÓDIGO CIVIL. PRESCRIÇÃO.
NÃO OCORRÊNCIA. 1. Sendo o Autor absolutamente incapaz,
em face da sua menoridade, resta configurada causa impeditiva
da fluência do prazo prescricional, nos termos do art. 198, inciso
I, do atual Código Civil (antigo art. 169, inciso I, do Código Civil
de 1916). Precedentes. 2. Agravo regimental desprovido. (AGA
200901536177, LAURITA VAZ, STJ - QUINTA TURMA, DJE
DATA:03/05/2010.)

PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. TRABALHADOR


RURAL. AGRAVO RETIDO. NÃO CONHECIMENTO.
INTERESSE DE INCAPAZ. INTERVENÇÃO DO MINISTÉRIO
PÚBLICO. INÍCIO DE PROVA MATERIAL. PROVA
TESTEMUNHAL. TERMO INICIAL. CORREÇÃO
MONETÁRIA. JUROS DE MORA. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. CUSTAS PROCESUSAIS. 1. Não tendo sido
requerida, na apelação a apreciação do agravo retido, não há como
conhecê-lo, nos termos do art. 523, § 1º, do CPC. 2. A prescrição
qüinqüenal não corre contra os absolutamente incapazes (art.
198, inciso I do CC 2002 e art. 103, parágrafo único da Lei
8.213/91). Entretanto, a causa impeditiva do transcurso do prazo
prescricional somente ocorre até a relativização da incapacidade
do menor, ou seja, quando ele completa 16 anos de idade,
passando, a partir de então, a ter fluência para o requerimento
das parcelas vencidas. 3. Segundo a orientação jurisprudencial
do Superior Tribunal de Justiça e desta Corte, deve-se aplicar,
para a concessão de benefício de pensão por morte, a legislação
vigente ao tempo do óbito do instituidor (Súmula 304/STJ). 4. É
assegurada a pensão por morte ao cônjuge e filhos menores de
trabalhador rural, que, em decorrência de presunção legal, são
dependentes previdenciários, nos termos da lei de regência. (...)
(AC , DESEMBARGADORA FEDERAL MONICA SIFUENTES,
TRF1 - SEGUNDA TURMA, e-DJF1 DATA:04/10/2012
PAGINA:138.)

PREVIDENCIÁRIO. REMESSA OFICIAL. PENSÃO POR


MORTE. ÓBITO EM 26.02.2004, POSTERIOR À LEI Nº 9.528/97.
UNIÃO ESTÁVEL CONFIGURADA. MENOR IMPÚBERE.
PRESCRIÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. TERMO INICIAL. DATA
DO ÓBITO. JUROS DE MORA. CORREÇÃO MONETÁRIA.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. (...) 5. A prescrição
qüinqüenal não corre contra os absolutamente incapazes (art.
198, inciso I do CC 2002 e art. 103, parágrafo único da Lei
8.213/91). 6. Termo inicial do benefício para autora menor
impúbere: data do óbito. (...)(AC 200701990430005, JUIZ
FEDERAL CLEBERSON JOSÉ ROCHA (CONV.), TRF1 -
SEGUNDA TURMA, e-DJF1 DATA:17/08/2012 PAGINA:463.)

Dessa forma, cristalino se mostra o direito dos autores de receberem os


valores do benefício de pensão por morte a partir da data do óbito de seu genitor.

2.1 Da contextualização jurídica da pensão por morte

A finalidade precípua da Seguridade Social é a cobertura dos riscos sociais,


conferindo amparo social a segurados e dependentes que sofrem os encargos decorrentes de
infortúnios causados por doenças, acidentes ou mortes.
A proteção previdenciária é eficazmente visualizada na concessão da pensão
por morte um benefício de caráter substitutivo, que visa suprir, ou pelo menos atenuar, a
falta daqueles que proviam as necessidades econômicas dos dependentes.

Art. 26. Independe de carência a concessão das seguintes


prestações:
I - pensão por morte, auxílio-reclusão, salário-família e auxílio-
acidente;

Art. 102. A perda da qualidade de segurado importa em caducidade


dos direitos inerentes a essa qualidade.
§ 1º A perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à
aposentadoria para cuja concessão tenham sido preenchidos todos os
requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que estes
requisitos foram atendidos.

§ 2º Não será concedida pensão por morte aos dependentes do


segurado que falecer após a perda desta qualidade, nos termos do
art. 15 desta Lei, salvo se preenchidos os requisitos para obtenção da
aposentadoria na forma do parágrafo anterior.

No caso, o segurado instituidor estava vinculado à Previdência Social na data


do óbito.

Para que se obtenha uma solução justa e equânime no caso concreto, portanto,
é preciso que o judiciário engaje postura firme e arrojada, indispensável quando se tratar de
tutela dos direitos fundamentais.

3. DA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA

Pretende-se, liminarmente, que se implante, desde já, o benefício de pensão


por morte.
De fato, estão presentes os requisitos da antecipação dos efeitos da tutela,
previstos no art. 273 do CPC.

Há prova inequívoca da morte do segurado, haja vista a certidão de óbito.

Está provada a condição de dependentes das partes autoras, comprovadas


pelas certidões de nascimento anexas.

Há prova da condição de segurado do falecido, por ocasião do óbito,


conforme CNIS que segue anexo.

Em relação à urgência, acrescente-se que há perigo em não se implementar


liminarmente o benefício de pensão por morte, uma vez que se cuida de verba alimentar,
cujo imediato pagamento justifica-se para concretizar o direito humano à alimentação
adequada, examinado sob a ótica do direito de estar livre da fome, o qual conflui para
garantir a dignidade da pessoa humana.

Concretamente, a parte autora, Thalía Lorena Correira de Araújo, é estudante


e não trabalha, tem atualmente 15 anos; e Linda Yasmin Otaviano Serpa de Araújo, é
estudante e não trabalha, tem atualmente 13 anos, e são filhas do falecido Antônio Marcos
Sousa de Araújo.

Neste sentido, está a postular benefício que lhe garantirá o sustento na


ausência do segurado. Sem tal benefício, inevitavelmente perecerá.

Para o caso de se entender que a medida ora postulada é de natureza cautelar,


registre-se que, pelos motivos antes expostos, estão caracterizados o fumus boni iuris e o
periculum in mora que autorizam seu deferimento.
4. DOS PEDIDOS

Em face do exposto, requer-se:

a) liminarmente e inaudita altera parte, a imediata expedição de ordem, para


que, sob pena de pagamento de multa diária de R$ 500,00, o INSS implante o benefício de
pensão por morte em favor das autoras Thalía Lorena Correira de Araújo e Linda Yasmim
Otaviano de Araújo;

b) a concessão dos benefícios da justiça gratuita.

c) a intimação pessoal da Defensoria Pública da União de todos os atos e termos


do processo;

d) a citação do réu, para que, querendo, responda à presente ação, sob as


penas da lei, bem como sua intimação, para que junte todos os registros administrativos
relativos à parte autora;

e) seja o pedido julgado procedente, confirmando-se a liminar e condenando-


se o INSS à concessão do benefício de pensão por morte a partir do óbito (20.12.1999), e
ao pagamento das parcelas vencidas e vincendas, devendo incidir, em qualquer caso,
correção monetária e juros de mora de 1% ao mês, a contar do ajuizamento da ação;

f) a condenação do INSS no pagamento de honorários advocatícios em favor


da Defensoria Pública da União.

Requer-se a produção de todos os meios de prova em Direito admitidos.

Dá-se à causa o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais).

Termos em que pede deferimento.


Porto Velho, 16 de janeiro de 2014.

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