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Poder Judiciário

JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária do Rio de Janeiro
9º Juizado Especial Federal do Rio de Janeiro
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PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL Nº 5007117-


79.2023.4.02.5101/RJ
AUTOR: MARIA APARECIDA DA SILVA
RÉU: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS

SENTENÇA

Trata-se de ação em que pretende a parte autora obter provimento


jurisdicional que condene o demandado, INSS, a conceder-lhe benefício de
PENSÃO POR MORTE, cumulado com pedido de pagamento de retroativos, em
razão do falecimento de JOSÉ PEREIRA DA SILVA, ocorrido em 24/12/2020 (ev.
01, it. 05).

Em sede de contestação (ev. 07, it. 01), pretende o INSS a


improcedência dos pedidos autorais, ao argumento de que não restou provada a
união estável. Não foram suscitadas questões preliminares ou prejudiciais.

De antemão, cumpre informar que, quando há alegação da parte autora


sobre a existência de União Estável com o segurado instituidor à época do óbito,
este Juizado, como regra, procede à realização de audiência para fins de
comprovação do vínculo de companheirismo e consequente relação de dependência
para fins de percepção de benefício.

Todavia, em atenção às disposições do art. 22 § 3º c/c arts. 142 e 143 e


seus §§ do Decreto 3.048/99, observa-se que apenas haveria a necessidade de
justificação administrativa (JA) nos casos em que há início de prova material (arts.
142 e 143), mas a prova material resta insuficiente como prova plena.

A prova plena, por sua vez, é tratada pelo art. 22 § 3º do Decreto e art.
135 da IN 77/2015, de modo que a comprovação se dá quando apresentados, no
mínimo, 3 documentos dentre os listados nos aludidos dispositivos. Em resumo, o
próprio servidor do INSS deve conceder, com base em análise estritamente
documental, o benefício de pensão por morte, quando apresentados 3 dos
documentos elencados nas normas reguladoras.

Nesse diapasão, não há razão para que, na esfera judicial, haja


designação de audiência quando vêm o processo instruído com ao menos 3 provas
documentais e não é levantada qualquer dúvida razoável por parte do INSS quanto à
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veracidade dos documentos ou alguma contradição lógica com base nas informações
documentais submetidas ao contraditório.

É o caso dos autos, conforme se verá adiante, de modo que, apesar da


regra ser a marcação de audiência para oitiva das testemunhas, essa fica plenamente
dispensada no caso concreto, em razão da existência de acervo probatório material
que, nos moldes acima, deveria, de plano, conduzir o INSS à concessão do
benefício.

Passo ao exame do mérito.

Quanto ao direito aplicável à espécie, importa afirmar que o benefício


de pensão por morte independe de carência (art. 26, inciso I, da Lei 8.213/91). No
caso específico dos autos, tendo o óbito ocorrido em 24/12/2020 (ev. 01, it. 05), ou
seja, depois da vigência da Lei 13.135/15, resta afastada a aplicação da carência
prevista na redação original da MP 664/14. Deste modo, para o deferimento do
benefício, é necessária a comprovação de dois requisitos: que falecido preservava a
qualidade de segurado na data do óbito e que a requerente era sua dependente.

A qualidade de segurado presume-se, vez que o indeferimento


administrativo se deu em razão da não constatação de dependência econômica da
parte autora e não por ausência de vinculação do falecido com o RGPS (ev. 07, it.
06, fl. 42). Ademais, há elementos nos autos que comprovam de forma substancial a
condição de segurado, uma vez que o instituidor da pensão se encontrava em gozo
de benefício previdenciário quando do óbito, o que se pode notar no ev. 07, it. 06, fl.
28.

Quanto ao requisito da dependência econômica, é necessário enfatizar


entre cônjuges ou companheiros é presumida, nos termos do artigo 16 da lei
8.213/91. Deste modo, em se tratando de companheiros, uma vez constatada a
existência de União Estável, por decorrência imediata infere-se a dependência.

No presente caso, destaco as seguintes provas materiais apresentadas


nos autos:

- Coabitação: há comprovantes de residência tanto da parte autora


quanto do falecido com o mesmo endereço (Travessa da Pedreira /
Estrada do Colégio, Rio de Janeiro/RJ). Em relação a esse endereço,
vê-se que o número é sempre o mesmo, apesar da variação de Travessa
e Estrada, em razão de se tratar de endereço no interior de comunidade.

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= Parte autora: Nota Fiscal emitida em seu nome em 02/2018 (ev. 07,
it. 06, fl. 10); Declaração de 03/2019 (ev. 19 - it. 5 - fl. 1); CNIS (ev. 7
- it. 6 - fl. 32).

= De Cujus: Notas Fiscais emitidas em seu nome em 08/2018 (ev. 19,


it. 05, fl. 02) e 12/2019 (ev. 07, it. 06, fl. 11);

- Autora em posse do RG do falecido (ev. 07, it. 06, fl. 07/08);

- Declarações de conhecidos afirmando a união estável (ev. 07, it. 06,


fls. 12/13; ev. 08, it. 02; e ev. 19, it. 02, fl. 01);

- Declaração firmada em 19/06/23 por representante do Hospital


Municipal Francisco da Silva Telles (ev. 19 - it. 4) informando que, em
entrevista social realizada na data de 14/06/2018, pela Assistente
Social Sra. Patrícia Ribeiro (CRESS 14136), o falecido relatou união
com a autora por mais de 10 anos;

- Postagens em redes sociais de 2016 a 2019 (ev. 1 - it. 11).

- Carteira do SUS em nome do falecido e da autora (ev. 19, it. 06).

Observo, ainda, quanto à coabitação, que a autora foi capaz de


esclarecer nos autos a existência de comprovantes de residência em seu nome e em
nome do falecido com endereço diverso daquele constante na certidão de óbito,
notadamente à Rua das Laranjeiras, Rio de Janeiro/RJ, a exemplo dos boletos com
vencimento nos anos de 2017, 2020 e 2021 de ev. 19, it. 02, fls. 03 e 02/05 e do
CNIS atualizado do falecido no ev. 07, it. 06, fl. 25.

Trata-se de endereço do seu trabalho, utilizado por ela e pelo falecido


para recebimento de correspondências, haja vista o endereço verdadeiro do casal se
tratar de comunidade de difícil acesso. Ou seja, mais uma prova bastante robsta
sobre a união, eis que ambos usavam o endereço profissional dela para receber
correspondências.

Reverberam a explicação apresentada pela autora a cópia de sua CTPS


assinada pelo empregador com endereço de Laranjeiras (ev. 19, it. 03, fl. 03) e o
CNIS atualizado (ev. 07, it. 06, fl. 31).

Com efeito, cotejadas todas as provas colhidas, entendo que resta


comprovada a convivência more uxório entre demandante e falecido no momento do
óbito, devendo-se reconhecer e confirmar a união estável, com a respectiva
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dependência econômica, para fins previdenciários.

Com relação ao tempo de duração do benefício, importa verificar que


as modificações introduzidas na Lei 8.213/91 pela Medida Provisória 664/14,
convertida na Lei 13.135/15, fizeram com que o benefício de pensão por morte não
seja necessariamente vitalício, como antes. Deste modo, quando o óbito do
instituidor ocorre após 01/03/2015 (início da vigência das regras instituídas pela MP
664/14, conforme seu art. 5º, inciso III), aplica-se a nova redação do art. 77, § 2º, V,
alíneas “b” e “c”, e § 2º-A da Lei 8.213/91.

Neste diapasão, quatro fatores passam a ser relevantes para a definição


da duração do benefício: a idade do beneficiário, o tempo de união estável, a
quantidade de contribuições do instituidor e se a morte decorreu de acidente.

No caso dos autos, o instituidor apresenta mais de 18 contribuições


anteriores ao óbito e o início da união estável antecedeu em mais de 2 anos o
falecimento, conforme as provas já mencionadas anteriormente, o que conduz à
aplicação da tabela de duração prevista no art. 77, § 2º, V, alínea 'c', da Lei 8.213/91:

- duração de 3 anos, para beneficiários com menos de 21 anos de


idade;

- duração de 6 anos, para beneficiários entre 21 e 26 anos de idade;

- duração de 10 anos, para beneficiários entre 27 e 29 anos de idade;

- duração de 15 anos, para beneficiários entre 30 e 40 anos de idade;

- duração de 20 anos, para beneficiários entre 41 e 43 anos de idade;

- vitalícia, para beneficiários com 44 ou mais anos de idade.

Tendo em vista que a parte autora contava 46 anos de idade quando


ocorreu o falecimento do instituidor, há de se concluir que o benefício deverá ser
concedido de forma vitalícia.

Considerando que o benefício for requerido administrativamente em


09/08/2022 (ev. 07, it. 06, fl. 01), passados mais de 90 dias do óbito, deverá a data
de início do benefício ser fixada no momento do requerimento, nos termos do art.
74, inciso II, da Lei 8.213/91, com a redação da Lei 13.183/15.

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Tratando-se de óbito ocorrido em momento posterior à EC 103/19
(promulgação em 12/11/2019, com publicação e vigência em 13/11/2019), deverão
ser aplicadas, ao caso concreto, as regras instituídas pela denominada Reforma da
Previdência. Desse modo, o valor total da pensão deixada pelo instituidor dependerá
do número de dependentes habilitados, ou seja, deve ser utilizado o coeficiente de
50% do salário de benefício, com acréscimo de 10% na RMI (Renda Mensal Inicial)
por dependente (art. 23 da EC 103/19). Uma vez calculado o coeficiente global e
aplicado sobre o salário de benefício, a cada dependente habilitado caberá a sua
respectiva cota parte sobre este total.

Diante de todo o exposto, JULGO PROCEDENTE O PEDIDO, nos


termos do art. 487, I, do CPC, para condenar o INSS a incluir a parte autora, como
beneficiária da pensão por morte cujo instituidor é JOSÉ PEREIRA DE SOUZA, a
partir de 09/08/2022 (DER).

Conforme disposto na fundamentação, o benefício terá caráter vitalício


e deverão ser aplicadas as inovações legislativas trazidas pela EC 103/19.

Os atrasados deverão ser calculados conforme os critérios de


atualização e juros dispostos no Manual de Cálculos da Justiça Federal, alterado pela
Resolução CJF 784/2022.

Sem custas e honorários conforme artigos 54 e 55 da Lei 9.099/95.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Documento eletrônico assinado por MARCOS PAULO SECIOSO DE GÓES, Juiz Federal Substituto, na
forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 2ª Região nº 17, de
26 de março de 2018. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico
https://eproc.jfrj.jus.br, mediante o preenchimento do código verificador 510011193576v4 e do código CRC
c53b4c93.

Informações adicionais da assinatura:


Signatário (a): MARCOS PAULO SECIOSO DE GÓES
Data e Hora: 19/8/2023, às 13:44:27

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