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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DO 2º

JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA DA CAPITAL – TURNO DA


MANHÃ – 07:00 às 13:00

Ref. Processo nº 0074730-13.2021.8.17.2001

SEVERINO CAMILO PEREIRA, já devidamente qualificado nos autos da ação para


concessão de pensão por morte c/c tutela provisória de urgência, que move contra o
Estado de Pernambuco, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, no
prazo legal, manifestar-se acerca do contido no Recurso Inominado, Id. 134866602, nos
seguintes termos:

BREVE RESUMO DA CONTROVÉRSIA

1. Após a morte de sua companheira, a Srª Mariluce Alves dos Santos, o autor requereu
a pensão por morte junto à FUNAPE, uma vez que era, nos termos da legislação em
vigor, o seu único dependente;

2. Inicialmente, teve o seu pedido negado pela FUNAPE, informando-lhe que carecia
documentos comprobatórios, apesar de tê-los apresentado;

3. Com a negativa pelo órgão estatal, o Sr. Severino Camilo Pereira ingressou com a
presente demanda judicial para que a FUNAPE fosse compelida ao cumprimento de sua
obrigação legal, qual seja: pagamento da pensão por morte de segurado ao seu
dependente.

4. O Juízo reconheceu como sendo válidas as documentações apresentadas pelo autor,


julgando procedente o pedido formulado na inicial;

5. Inconformado com a decisão, a ré impetrou recurso inominado, nitidamente


protelatório, posto que nada de novo traz para discussão do mérito perseguido,
conforme será detalhado adiante.

DAS ALEGAÇÕES IMPERTINENTES E PROTELATÓRIAS DA PARTE RÉ

XIV - dirigir a FUNAPE, praticando os atos administrativos próprios e inerentes ao seu


âmbito de competência funcional, inclusive interagindo com outras entidades (...) Art.
18, Inc. XIV do Estatuto da FUNAPE
DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

Da Pensão por Morte

Art. 48. A pensão por morte consistirá na importância mensal conferida aos dependentes
do segurado ativo ou inativo, quando do seu falecimento. (Lei Complementar 28/2000)

O magistrado entendeu que na época da morte da segurada, o Sr. Severino


Camilo Pereira era o único dependente dela, posto que a Declaração FUNAPE (id.
116197343), da lavra do servidor RÔMULO SOUZA, Matrícula 3164, não deixa
dúvidas de que o autor da demanda é dependente da segurada e faz jus a receber a
pensão por morte. Vale ainda salientar que, a documentação acima descrita foi
solicitada após o falecimento de D. Mariluce Alves dos Santos.

“Declaramos para os devidos fins que o Sr.(a) Mariluce Alves dos Santos, portador do
CPF 400.242.614-91, é titular da Assistência à Saúde dos Servidores do Estado de
Pernambuco (SASSEPE) e possui o Sr.(a) Severino Camilo Pereira, seu companheiro,
portador(a) do CPF 345.089.374-20, como dependente no rol dos contribuintes do
SASSEPE (...)”

O que se refletia em seu contracheque (id. 116197339):

Cód. 342 – SASSEPE TIT, REF. 6,20 – R$ 143,75

Cód. 354 – SASSEPE DEP, REF. 3,50 – R$ 81,15

Cabe ainda registrar de que a Instrução Normativa 001/2006, arguida como norma
regulamentadora para concessão de pensão por morte, carece de requisito de validade
dos atos administrativos, uma vez que não compete ao Diretor Presidente da FUNAPE
editar normas, cuja atribuição recai sobre o Conselho Administrativo do órgão, ex vi do
Art. 5º Inc. VI do Estatuto FUNAPE:

Art. 5º. O Conselho de Administração da FUNAPE é o órgão


competente de gerenciamento, normatização e deliberação superior,
para definir e estabelecer as diretrizes gerais e a política de atuação da
Fundação, competindo-lhe:

(...) omissis

VI - expedir resoluções e outros atos administrativos; (grifo nosso)

A vida em comum sob o mesmo teto, more uxorio, não é indispensável à caracterização
do concubinato. Súmula 382 do Supremo Tribunal Federal
PREVIDENCIÁRIO.CONCESSÃO DE PENSÃO POR MORTE DE
COMPANHEIRO(A). COMPROVAÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL. ESCRITURA
PÚBLICA. CONSECTÁRIOS. 1. Para a obtenção do benefício de pensão por morte
deve a parte interessada preencher os requisitos estabelecidos na legislação
previdenciária vigente à data do óbito, consoante iterativa jurisprudência dos Tribunais
Superiores e desta Corte. 2. Comprovada a união estável, presume-se a dependência
econômica (artigo 16, § 4º, da Lei 8.213/91), impondo-se à Previdência Social
demonstrar que esta não existia. No caso, a parte autora comprovou a existência de
união estável com o(a) instituidor(a) do benefício, fazendo jus, portanto, à pensão por
morte do(a) companheiro(a). 3. A Escritura Pública de União Estável não faz prova
plena do 4 companheirismo, configurando-se em início de prova material, que deve ser
confrontada com outros elementos probatórios, como, v.g., a prova testemunhal e o
depoimento pessoal. (TRF4, AC 5002570-89.2019.4.04.7102, SEXTA TURMA,
Relator JULIO GUILHERME BEREZOSKI SCHATTSCHNEIDER, juntado aos autos
em 20/05/2022).

Nesse sentido, bem frisou o magistrado, nos termos da sentença questionada de


que cabe ao demandado provar que inexistia a união à época do óbito. No entanto, este
não o fez.

Desse modo, resta claro que a parte ré não trouxe qualquer prova ou argumento
jurídico sustentável para reverter a respeitável sentença. Assim, pleiteia o autor o total
improvimento do recurso inominado formulado pelo réu, renovando-se os pedidos
pleiteados na inicial e já reconhecidos na D. sentença

A afirmação segundo a qual “somente ao Poder Judiciário cabe dizer


o direito em relação às ações de estado” não se aplica ao caso,
simplesmente porque não se está diante de uma ação de estado. Não
se procura aqui alterar o estado civil de quem quer que seja, mas
sim de reconhecer a qualidade de dependente de um postulante a
pensão por morte, algo que se insere no âmbito normal de
atividades da Administração, que deverá se cercar das cautelas
necessárias e proferir uma decisão administrativa depois da
produção das provas pertinentes. Tal decisão restringe-se ao objeto
do processo administrativo – concessão ou não de pensão por morte –,
não gerando outros efeitos civis. MS 300.008 STF – Relator: Ministro
Luís Roberto Barroso

Em complemento, não há qualquer requisito formal obrigatório


para que a união estável reste configurada, como a necessidade de
elaboração de uma escritura pública entre as partes ou de uma
decisão judicial de reconhecimento. A propósito, em importante
precedente, entendeu o Ministro Luís Roberto Barroso, do SFT, que
“não constitui requisito legal para concessão de pensão por morte à
companheira que a união estável seja declarada judicialmente, mesmo
que vigente formalmente o casamento, de modo que não é dado à
Administração Pública negar benefício com base neste fundamento.
(...). Embora uma decisão judicial pudesse conferir maior segurança
jurídica, não se deve obrigar alguém a ir ao Judiciário
desnecessariamente, por mera conveniência administrativa. O
companheiro já enfrenta uma série de obstáculos decorrentes da
informalidade de sua situação. Se ao final a prova produzida é idônea,
não há como deixar de reconhecer a união estável e os direitos daí
decorrentes” (...) (FLÁVIO TARTUCE, 2020, p. 384)

Ademais, conforme o Parecer da Unidade de Supervisão Jurídico-Previdenciária da


FUNAPE (ID 99192516, págs. 2 a 5), o requerimento administrativo de concessão da
pensão por morte foi indeferido porque o autor não levou 3 (três) dos documentos
elencados na IN da Funape nº 1, de 06/01/2006, art. 9 c/c art. 21, §1º. Entendeu que a
escritura pública da união estável e a declaração do Sassepe de que era dependente na
condição de companheiro da ex-servidora não seriam suficientes para comprovar
constância da união estável, sendo preciso comprovar domicílio em comum com a de
cujus. Extraído da SENTENÇA id. 133694060

(...) a lei não exige tempo mínimo nem convivência sob o mesmo
teto, mas não dispensa outros requisitos para identificação da união
estável como entidade ou núcleo familiar, quais sejam: convivência
duradoura e pública, ou seja, com notoriedade e continuidade, apoio
mútuo, ou assistência mútua, intuito de constituir família, com os
deveres de guarda, sustento e de educação dos filhos comuns, se
houver, bem como os deveres de lealdade e respeito” (STJ, Resp
1.194.059/SP, 3ª Turma, Rel. Min. Massami Uyeda, j. 06.11.2012, Dje
14.11.2012). (grifos nossos)

2) A coabitação não é elemento indispensável à caracterização da união estável. (Tema


2 – Jurisprudência em teses, Ed. 50, de 11 de fevereiro de 2016.

Diante da situação fragilíssima evidente do autor, requer se digne Vossa


Excelência a conceder, em caráter de urgência, a tutela provisória requerida na inicial,
uma vez que a pensão que ora se pleiteia tem CARÁTER ALIMENTAR. não podendo a
Fundação de Aposentadorias e Pensões do Estado de Pernambuco obstar o seu
pagamento. Posto que, a pretensão autoral vai além do direito invocado nesta
oportunidade, almeja-se proteção à vida, à saúde e à dignidade do autor. Visto que,
depende dos valores ora pleiteados para sobreviver dignamente o escasso tempo que lhe
resta.

3. DOS PEDIDOS
1. Em sede de preliminar, que toda documentação juntada pelas rés, em sede de
aditamento de Contestação, seja considerada nula, posto que juntada após a
apresentação da Peça Contestatória, evidenciando-se a preclusão consumativa;

2. Conceder, liminarmente, a tutela de urgência, para que o autor comece a receber os


valores devidos decorrentes da pensão deixada pela senhora Mariluce Alves dos Santos,
uma vez que foram preenchidos todos os requisitos legais para sua concessão, quais
sejam: o falecimento da segurada, bem como a qualidade de dependente do Autor, nos
termos da legislação pertinente.
3. Requer a aplicação de astreintes, nos casos de descumprimento da determinação
judicial, nos termos do art. 537 do CPC.

4. Julgar totalmente procedente os pedidos formulados na presente demanda,


confirmando a tutela deferida e ordenando à Fundação ré a conceder o pagamento da
pensão por morte, retroativo ao dia seguinte ao do falecimento (31/05/2021) da
segurada, sendo assim, os meses de junho/2021 até a presente data, tomando por base o
último vencimento percebido pela segurada, em favor do Autor, nos termos do Art. 49, I
da LC 28/2000 do Estado de Pernambuco.

5. Condenar a parte demandada ao pagamento das custas e demais encargos processuais,


em especial, os honorários advocatícios, nos moldes do § 2º e 3º do art. 85 do CPC

É o que tem a replicar.

Recife-PE, 29 de setembro de 2022

Mirko da Silva Neto – OAB/PE 51.962


Advogado

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