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Nº CNJ : 0016748-71.2012.4.02.

9999
RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO ESPIRITO SANTO
APELANTE : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
PROCURADOR : JULIANA YURIE ONO
APELADO : LORENA DA SILVA ROCHA REP/ P/ ELIANA VALE DA
SILVA OLIVEIRA E OUTROS
ADVOGADO : DEFENSORIA PUBLICA-RJ
REMETENTE : JUIZO DE DIREITO DA 1 VARA DE PATY DO ALFERES
RJ
ORIGEM : 1 VARA JUSTIÇA ESTADUAL PATY DO ALFERES/RJ
(00066959420108190072)

RELATÓRIO

Trata-se de Remessa e de recurso de Apelação Cível interposto pelo


INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS em face da
sentença (fls. 448/451), que, com fulcro no art. 269, I, do CPC, julgou
PROCEDENTE o pedido, mantendo a antecipação da tutela (fl. 275), para
condenar o INSS ao pagamento do benefício de pensão por morte de
Aurimar da Rocha Oliveira às autoras, devidamente atualizado desde a data do
protocolo de requerimento administrativo, em 03/03/2008 (fl. 26), ressalvado
o desconto de eventual pagamento já efetuado na esfera administrativa.
Condenado o INSS no pagamento de custas e de honorários advocatícios, na
base de 10% (dez por cento) sobre o valor da causa.

No caso dos autos, as menores LORENA DA SILVA ROCHA, ARIANA DA


SILVA ROCHA, devidamente representadas por sua genitora, ELIANA
VALE DA SILVA OLIVEIRA, também autora, ajuizaram demanda com o
fito de obter o benefício de pensão por morte de Aurimar da Rocha Oliveira,
cujo óbito ocorreu em 19/12/2007 (fl. 44), do qual dependiam
financeiramente.

Como causa de pedir, em breve síntese, sustentam que o de cujus exerceu


atividade rural, em regime de economia familiar, e que ingressaram com
pedido administrativo de pensão por morte perante a Autarquia ré, o qual,
entretanto, foi negado, ao argumento de que não foi comprovado o período em
que o falecido segurado foi trabalhador rural.

Em sua apelação (fls. 452/461), a Autarquia Previdenciária requer a reforma


da r. sentença, sustentando, em resumo, a falta de qualidade de segurado do
potencial instituidor do benefício em testilha, eis que não houve a
comprovação de sua condição de segurado especial mediante o exercício de
atividade rural em regime de economia familiar.
Nesse passo, aduz que o tamanho da propriedade do de cujus (em torno de 73
hectares), e sua qualificação profissional como agricultor revelam seu
enquadramento não como segurado especial (lavrador), mas, sim, em
categoria diversa, qual seja a de contribuinte individual, a qual exige o
recolhimento de contribuições previdenciárias para fins de vinculação ao
Regime Geral da Previdência Social, concluindo, pois, que, na verdade, o
falecido era empresário rural, proprietário de extenso imóvel rural, e que
contratava mão-de-obra para laborar em suas terras.

Contrarrazões às fls. 468/473.

Remetidos os autos a este Tribunal, deles teve vista o Ministério Público


Federal, que opinou pelo improvimento do apelo interposto pelo INSS e
conseqüente manutenção da r. sentença (fls. 477/481).

É o relatório.

Rio de Janeiro, 14 de dezembro de 2012.

DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO ESPIRITO SANTO

Relator

VOTO

Assiste razão ao Apelante.

Segundo a orientação jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça, deve-se


aplicar, para a concessão de benefício de pensão por morte, a legislação
vigente ao tempo do óbito do instituidor (AgRg no REsp 778.012/MG, Rel.
Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, julgado em
20/10/2009, DJe 09/11/2009).

Na hipótese vertente, o de cujus faleceu em 19/12/2007 (fl. 44), ou seja, na


vigência da Lei n. 9.528/97 que alterou dispositivos da Lei 8.213/91,
consoante certidão de óbito de fl. 12.
Nos termos do art. 74 da legislação de regência, o benefício de pensão por
morte será devido ao conjunto dos dependentes do segurado que falecer,
aposentado ou não, a contar da data: I) do óbito, quando requerida até trinta
dias depois deste; II) do requerimento, quando requerida após o prazo previsto
no inciso anterior; III) da decisão judicial, no caso de morte presumida.

O art. 16 da Lei nº 8213/91 indica, por sua vez, quem são os dependentes do
segurado, relacionando no inciso I, “o cônjuge, a companheira, o
companheiro, e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21
(vinte e um) anos ou inválido”, sendo que a dependência econômica dessas
pessoas é presumida, a teor do § 4º do mencionado artigo.

Restringe-se a lide em saber se o potencial instituidor do benefício em tela,


Aurimar da Rocha Oliveira, ostentava, ao tempo de seu falecimento, a
qualidade de segurado especial da Previdência Social, requisito indispensável
para que os dependentes façam jus à percepção da pensão por morte em
testilha.

A análise do caso concreto conduz à conclusão de que a sentença merece total


reforma, haja vista o conjunto probatório não favorecer a parte autora, diante
de não comprovação da condição de segurado especial do potencial instituidor
da pensão por morte, como será demonstrado.

A respeito da condição de segurado especial da Previdência Social, o artigo


11, inciso VII, da Lei nº 8.213/91, assim dispõe:

“Art. 11. São segurados obrigatórios da Previdência Social as


seguintes pessoas físicas:

(...)

VII - como segurado especial: o produtor, o parceiro, o meeiro e


o arrendatário rurais, o garimpeiro, o pescador artesanal e o
assemelhado, que exerçam suas atividades, individualmente ou
em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio
eventual de terceiros, bem como seus respectivos cônjuges ou
companheiros e filhos maiores de 14(quatorze) anos ou a eles
equiparados, desde que trabalhem, comprovadamente, com o
grupo familiar respectivo.

§ 1º Entende-se como regime de economia familiar a atividade


em que o trabalho dos membros da família é indispensável à
própria subsistência e é exercido em condições de mútua
dependência e colaboração, sem a utilização de empregados.”
Da leitura do citado artigo depreende-se que a atividade rural deve ser
exercida em regime de economia familiar, sem a utilização de empregados.

Noutro giro, embora a Lei nº 8.213/91 estabeleça que o segurado especial se


configure naquele que explora atividade campesina em área de até 4 (quatro)
módulos fiscais, a jurisprudência vem admitindo a flexibilização do aludido
dispositivo legal, argumentando que o fato de o imóvel ser superior àquela
dimensão não afasta, por si só, a qualificação de seu proprietário como
segurado especial. Entretanto, não se vislumbra a aplicação, no caso em
testilha, de tal entendimento pretoriano, haja vista que sua propriedade, de 16
módulos fiscais (73 hectares - fl. 321) ultrapassa, em muito, a dimensão
permitida por lei, cabendo ressaltar, ainda, que o próprio falecido se
inscreveu, em 23/01/2001, junto ao INSS, como contribuinte individual, na
condição de produtor rural (fl. 298). Assim, a conjugação de tais fatores já
afasta a qualidade de segurado do falecido Aurimar da Rocha Oliveira.

O regime de economia familiar revela-se incompatível com a exploração de


médias e grandes propriedades, justamente por tais propriedades demandarem
a ajuda de empregados, como é o caso em tela.

Nesse sentido, cumpre observar que os testemunhos colhidos pelo juízo de


origem não foram unânimes em afirmar que a parte autora tenha exercido
atividade rural em regime de economia familiar, tendo em vista que uma das
testemunhas ouvida em juízo (Luiz Pereira de Souza) revelou que o falecido
arrendava a sua terra para meeiros, fato esse que apontaria para o
desenvolvimento de uma atividade empresarial, a qual extrapola o âmbito da
subsistência.

Além disso, observa-se que a atividade desenvolvida pelo de cujus consistia


na produção de hortaliças (tomate, pimentão, repolho e maxixe - fl. 28)
visando à comercialização, não se confundindo com o plantio de pequenas
hortas em pequenas áreas. A corroborar tal fato, a testemunha José de Sousa
informou ter conhecido o de cujus no CEASA, onde comprava as mercadorias
produzidas pelo falecido em sua fazenda.

Destarte, não restou comprovada a qualidade de segurado especial do


instituidor do benefício requerido, tratando-se o caso de contribuinte
individual, na forma do art. 11, inciso V, alínea “a”, da Lei nº 8.213/91, e
verificando-se que o mesmo não ostentava a qualidade de segurado ao tempo
de seu passamento (19/12/2007 - fl. 44), em razão da ausência total de
recolhimento de contribuições previdenciárias, impõe a reforma do decisum
monocrático, para julgar improcedente o pleito autoral.

Diante do exposto, DOU PROVIMENTO à Apelação do INSS e à Remessa,


para, reformando-se a r. sentença, julgar improcedente o pedido autoral.
Condeno a parte autora em custas e honorários advocatícios que fixo em 5%
(cinco por cento) sobre o valor da causa, a teor do § 4º do art. 20 do CPC,
cuja exigibilidade deverá ficar suspensa em razão do deferimento da
gratuidade de justiça, nos termos do art. 12 da Lei nº 1.060/50.

É como voto.

Rio de Janeiro, 14 de dezembro de 2012.

DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO ESPIRITO SANTO

Relator

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. APELAÇÃO DO INSS E REMESSA. PENSÃO


POR MORTE. RURAL. EXTENSÃO DA PROPRIEDADE RURAL.
AUXÍLIO DE MEEIROS. REGIME DE ECONOMIA FAMILIAR NÃO
CARACTERIZADO. APELO DO INSS E REMESSA PROVIDOS.

- Embora a Lei nº 8.213/91 estabeleça que o segurado especial se configure


naquele que explora atividade campesina em área de até 4 (quatro) módulos
fiscais, a jurisprudência vem admitindo a flexibilização do aludido dispositivo
legal, argumentando que o fato de o imóvel ser superior àquela dimensão não
afasta, por si só, a qualificação de seu proprietário como segurado especial.

- Entretanto, não se vislumbra a aplicação, no caso em testilha, de tal


entendimento pretoriano, haja vista que sua propriedade, de 16 módulos
fiscais (73 hectares) ultrapassa, em muito, a dimensão permitida por lei,
cabendo ressaltar, ainda, que o próprio falecido se inscreveu, em 23/01/2001,
junto ao INSS, como contribuinte individual, na condição de produtor rural.

- Observa-se que a atividade desenvolvida pelo de cujus consistia na produção


de hortaliças (tomate, pimentão, repolho e maxixe) visando à comercialização,
não se confundindo com o plantio de pequenas hortas em pequenas áreas. A
corroborar tal fato, a testemunha José de Sousa informou ter conhecido o de
cujus no CEASA, onde comprava as mercadorias produzidas pelo falecido em
sua fazenda.

- Não restando comprovada a qualidade de segurado especial do instituidor do


benefício requerido, tratando-se o caso de contribuinte individual, na forma do
art. 11, inciso V, alínea “a”, da Lei nº 8.213/91, e verificando-se que o mesmo
não ostentava a qualidade de segurado ao tempo de seu passamento, em razão
da ausência total de recolhimento de contribuições previdenciárias, impõe a
reforma do decisum monocrático, para julgar improcedente o pleito autoral.

- Apelação do INSS e Remessa Necessária providas.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima


indicadas, acordam os Desembargadores da Primeira Turma Especializada do
Tribunal Regional Federal da 2ª Região, por unanimidade, dar provimento à
apelação e à remessa, nos termos do Voto do Relator.

Rio de Janeiro,14 de dezembro de 2012.

DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO ESPIRITO SANTO

Relator e Presidente da Turma

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