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MERITÍSSIMO JUÍZO DA VARA FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE

ARAPIRACA – AL.

EDIVANIA SILVA SOARES LIMA, brasileira, viúva, agricultora, portadora


do CPF 553.739.254-20 e RG N° 981966, residente e domiciliado no Pov. Saúde de
Baixo, S/n, Zona Rural, Batalha/AL - CEP 57420-000, por meio de seu procurador, perante Vossa
Excelência, propor

AÇÃO PREVIDENCIÁRIA DE CONCESSÃO DE APOSENTADORIA POR IDADE RURAL

em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL (INSS), autarquia


federal, com Superintendência neste Estado, à rua da Praia, s/n, Maceió – AL, pelos seguintes
fundamentos fáticos e jurídicos:

I – DOS FATOS

A autora, nascida em 14/11/1965 (carteira de identidade anexa), contando atualmente com


66 anos, laborou na atividade rural, em regime de economia familiar, em terras situadas no
Munícipio de Batalha/AL e apresenta documentos comprobatórios a partir do ano de om
comprovação documental a partir de no mínimo 06 de junho 1997, Destaca-se que as lides do
campo foram exercidas em regime de economia familiar, há pouco mais de 25 anos, em terras de
1,2 (duas) tarefas, denominado POVOADO SITIO SAUDE DE BAIXO, de sua propriedade,
reconhecido através de ação de USUCAPIÃO, conforme anexo, situado no município de
Batalha/AL, realizando a plantação de milho e feijão. Além disso, recebe pensão por morte rural,
sob o n° 159.529.180-3, concedido na via administrativa em 24/04/2012.
Nesse contexto, a autora pleiteou ao INSS, no dia 12/07/2022, o benefício da aposentadoria
por idade rural, o qual foi indeferido sob a justificativa de que Falta de comprovação de atividade
rural em números de meses idênticos à carência do benefício, além disso, em seu relatório, o INSS
informa que existiu dados divergentes em um requerimento de aposentadoria rural do seu falecido
esposo. O ônus da prova é de quem pretende provar os fatos alegados, de modo que a parte autora
sempre exerceu atividade em regime de economia familiar, porém como não tinha a documentação
para a comprovação desse período MENCIONADO, logo, não tinha como provar tal período,
como o INSS detém em sua posse esses documentos, requer a inversão do ônus da prova, onde
consta a entrevista rural do seu falecido esposo que informa que parte autora exerceu atividade
rural em regime de economia familiar. Ou seja, a atividade rural da autora é matéria incontroversa.

Tal decisão indevida motiva a presente demanda.

II – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

A pretensão da autora está fundamentada no art. 201, I, da Constituição Federal, e nos arts.
39, 48 e 142 da Lei 8.213/91 (LBPS), encontrando-se presentes os requisitos exigidos para a
concessão da aposentadoria rural por idade, a saber: atividade rural pelo período idêntico à
carência do benefício e a idade de 60 anos para os homens.

Por outro lado, não é necessário que o desempenho da atividade rural seja contínua, mas
apenas que o segurado esteja trabalhando no campo no momento da aposentadoria, ou na data em
que satisfaz todos os requisitos para a concessão do benefício. Assim determina a Instrução
Normativa do INSS nº 77/2015 (grifos acrescidos):

Art. 231. Para fins de aposentadoria por idade prevista no inciso I do art.
39 e caput e § 2º do art. 48, ambos da Lei nº 8.213, de 1991 dos segurados
empregados, contribuintes individuais e especiais, referidos na alínea "a"
do inciso I, na alínea "g" do inciso V e no inciso VII do art. 11, todos do
mesmo diploma legal, não será considerada a perda da qualidade de
segurado nos intervalos entre as atividades rurícolas, devendo, entretanto,
estar o segurado exercendo a atividade rural ou em período de graça na
DER ou na data em que implementou todas as condições exigidas para
o benefício.

No caso em tela, a idade mínima foi implementada em 14/11/2020, no que tange ao


período de atividade rural, também se constata a sua implementação, haja vista que a autora
comprova o exercício da atividade rural durante pelo menos 25 anos, isto é, superior ao requisito
legal de 180 meses.

Destarte, restam cumpridos os requisitos ensejadores do benefício de aposentadoria por


idade rural indevidamente negado no âmbito administrativo, conforme passa a expor.

DO SEGURADO ESPECIAL

Conforme dispõe o art. 11, inciso VII, da Lei 8.213/91, é segurado especial
aquele que:
Art. 11. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes
pessoas físicas: (Redação dada pela Lei nº 8.647, de 1993) [...] VII –
como segurado especial: a pessoa física residente no imóvel rural ou
em aglomerado urbano ou rural próximo a ele que, individualmente
ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual
de
terceiros, na condição de: (Redação dada pela Lei nº 11.718, de 2008)
a) produtor, seja proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado,
parceiro ou meeiro outorgados, comodatário ou arrendatário rurais,
que explore
atividade: (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008) agropecuária em área
de até 4 (quatro) módulos fiscais; (Incluído pela Lei nº11.718, de
2008)

Nesse aspecto, registre-se que o Segurado desempenha a atividade rurícola em


regime de economia familiar, em área com cerca de 1,2 tarefas.
A atividade laborativa desempenhada pela Segurada é indispensável para o seu
sustento, de forma que dedicou toda sua vida para o campo! Assim, retirar os efeitos do
seu trabalho seria tamanha injustiça.

Nesse sentido, conforme bem leciona Jane Lucia Wilhelm Berwanger, o


vínculo previdenciário de qualquer segurado se dá pelo trabalho e não pela renda.
É o trabalho que o liga à Previdência. E a necessidade de afastamento do trabalho
que faz surgir, em regra, o benefício (incapacidade, invalidez, morte, idade
avançada, reclusão...).
Pelo narrado, para fins de comprovação do tempo de serviço rural a Segurada
apresenta os seguintes documentos:
. REGISTRO DE IMOVEL RURAL ATRAVES DE SENTENÇA HOMOLOGATORIA DE
USUCAPIÃO RURAL;
. SENTENÇA RECONHECENDO O PERIODO DE MAIS DE 19 ANOS DA PROPRIEDADE
DA AUTORA;

. OFICIO JUDICIAL COM A PROFISSÃO DE AGRICULTORA COM DATA EM 20/05/2013;


. FICHA DE POSTO MUNICIPAL DATADO DESDE 1997;
. CARTA DE CONCESSÃO DE PENSÃO POR MORTE RURAL EM 2012;
. ITR EM SEU NOME;
. CAR RURAL DE PROPRIEDADE EM SEU NOME.

Sobre o assunto, o enunciado da Súmula 34 da Turma Nacional de Uniformização dos


Juizados Especiais Federais (TNU) elucida:
“Para fins de comprovação do tempo de labor rural, o início de prova material deve
ser contemporâneo à época dos fatos a provar”.
Segundo Súmula da Turma de Uniformização das Decisões das Turmas Recursais
dos Juizados Especiais Federais – SUMTUJEF, especialmente a de número 06, claro
sedenota que a documentação apresentada pela autora guarnece o seu direito, prova essa
que pode ser complementada por prova testemunhal, sendo necessária, senão vejamos:

Súmula 06 – COMPROVAÇÃO DE CONDIÇÃO RURÍCULA – A


certidão de casamento ou outro documento idôneo que evidencie a
condição de trabalhador rural do cônjuge constitui início razoável de
prova material da atividade rurícula.
Neste mesmo sentido, só que com amplitude maior, vem a súmula 14, emanada
da mesma Turma, que se coaduna com o caso em apreço, se reporta a aposentadoria por
idade que prescreve:

Súmula 14 – Para a concessão de aposentadoria rural por idade, não se exige que o início de
prova material, corresponda a todo o período equivalente a carência do benefício.
Primeiramente, destaca-se que a atividade rural desempenhada pela parte Autora e sua
família está em estrita consonância com o conceito de “atividade desenvolvida em regime de
economia familiar” constante no § 1 º do art. 11, inciso VII da Lei 8.213/91:

§1o Entende-se como regime de economia familiar a atividade em que


o trabalho dos membros da família é indispensável à própria
subsistência e ao desenvolvimento socioeconômico do núcleo familiar
e é exercido em condições de mútua dependência e colaboração, sem a
utilização de empregados permanentes.

O início de prova material anexado, demonstrando que a autora possui vocação


campesina, dedicando-se, efetivamente, às lides campestres durante o período em questão,
em área de aproximadamente 1,2 tarefa, localizada no lugar denominado SITIO SAUDE DE
BAIXO, DE SUA PROPRIEDADE.

De acordo com o art. 116 de instrução normativa 128 de março de 2022:


Art. 116, § 2º A análise da contemporaneidade deverá ser
realizada com base nos seguintes critérios:
II - no caso de aposentadoria do trabalhador rural, o
documento anterior ao período de carência será considerado se
contemporâneo ao fato nele declarado, devendo ser complementado
por instrumento ratificador contemporâneo ao período de carência e
qualidade de segurado, não havendo elemento posterior que
descaracterize a continuidade da atividade rural;
III - os documentos de caráter permanente, como
documentos de propriedade, posse, um dos tipos de outorga,
dentre outros, são válidos até sua desconstituição, até mesmo
para caracterizar.

Por conseguinte, resta evidente que as prova é uníssona e convergente com as alegações da
parte Autora no sentido de que exerceu atividade rural, além disso, teve sua propriedade rural
reconhecida através de ação de usucapião em que se reconhece a posse da propriedade por
mais de 19 anos.
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE RURAL.
REQUISITOS. AÇÃO DE USUCAPIÃO. INÍCIO DE PROVA
MATERIAL. JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA. LEI Nº 11.960/09.
CRITÉRIOS DE ATUALIZAÇÃO. DIFERIMENTO PARA A FASE
PRÓPRIA (EXECUÇÃO). CUMPRIMENTO IMEDIATO DO
ACÓRDÃO. 1. O tempo de serviço rural, cuja existência é
demonstrada por testemunhas que complementam início de prova
material, deve ser reconhecido ao segurado em regime de economia
familiar. 2. Ação de usucapião do imóvel utilizado para a exploração
agrícola, quando fundada em documentos e prova testemunhal,
constitui início de prova material, apto à comprovação de tempo de
atividade rural como segurado especial. (grifei) 3. Uma vez completada
a idade mínima (55 anos para a mulher e 60 anos para o homem) e
comprovado o exercício da atividade agrícola no período correspondente
à carência (art. 142 da Lei nº 8.213/1991), é devido o benefício de
aposentadoria por idade rural.4. Deliberação sobre índices de correção
monetária e taxas de juros diferida para a fase de cumprimento de sentença,
de modo a racionalizar o andamento do processo, e diante da pendência,
nos tribunais superiores, de decisão sobre o tema com caráter geral e
vinculante. Precedentes.(TRF4, APELREEX 0012562-
43.2015.4.04.9999, SEXTA TURMA, Relatora SALISE MONTEIRO
SANCHOTENE, D.E. 08/11/2016)

Importa salientar que o início de prova material não deve, necessariamente, abranger todo
o período de exercício da atividade rural, basta ser contemporâneo ao lapso temporal a ser
comprovados, como ocorre no presente caso. Nesse sentido, o entendimento já sumulado do STJ:

Súmula 577: É possível reconhecer o tempo de serviço rural anterior ao


documento mais antigo apresentado, desde que amparado em
convincente prova testemunhal colhida sob o contraditório.

Ademais, o CNIS da demandante não apresenta qualquer vínculo de trabalho urbano


significante durante o período equivalente ao da carência, o que reforça a conclusão de dedicação
ao trabalho de roça.

Portanto, a autora faz jus a aposentadoria por idade rural por cumprir todas as exigências
legais.

V – DOS PEDIDOS

EM FACE DO EXPOSTO, requer:

1. A concessão do benefício da Gratuidade da Justiça, tendo em vista que a parte autora não
possui recursos financeiros suficientes para custear as despesas do processo;
2. A citação do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS na pessoa de seu(s)
representante(s) legal(is), no endereço nomeado, para responder a presente, sob pena de
Confissão;

3. A produção de todos os meios de prova em direito admitidos, especialmente o documental.


Caso Vossa Excelência entenda necessário, poderá ser produzida prova testemunhal;

4. O Autor renúncia a quantia excedente ao valor máximo permitido, de conformidade com


o que preceitua o Artigo 3º da Lei 10.259, de 12 de julho de 2001.

5. Ao final, julgar procedentes os pedidos formulados na presente ação, condenando o


Instituto Nacional do Seguro Social a:

1. Conceder à parte Autora a APOSENTADORIA POR IDADE


RURAL NB: 203.406.196-3 com a condenação ao pagamento das prestações em
atraso a partir da implantação dos requisitos, em 14/11/2020, corrigidas na forma
da lei, acrescidas de juros de mora desde quando se tornaram devidas as prestações.

Dá à causa o valor de R$ 28.646,84 (vinte e oito mil seiscentos e quarenta e seis reais e oitenta e
quatro centavos)

Nesses termos

Pede Deferimento.

Batalha/AL, 29 de agosto de 2022.

Wilson Tenório dos Santos


OAB/AL 19154

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