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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DO JUIZADO ESPECIAL

PREVIDENCIÁRIO DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE CIDADE-UF.

NOME DA PARTE, parte já cadastrada eletronicamente,


vem com o devido respeito perante Vossa Excelência,
por meio de seu procurador, propor

AÇÃO PREVIDENCIÁRIA DE CONCESSÃO DE


BENEFÍCIO POR INCAPACIDADE RURAL

Em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO


SOCIAL (INSS), pelos seguintes fundamentos fáticos e
jurídicos que passa a expor:

1. DOS FATOS:

A Demandante apresentou, junto à Autarquia Previdenciária, requerimento


de benefício por incapacidade (NB: XXXXXXXXXXXX), em XX/XX/XXXX, na
condição de segurada especial rural, sendo este indeferido sumariamente,
conforme comunicado de decisão anexo.

A razão do indeferimento se deu em virtude de alegada inexistência de


qualidade de segurada especial, sustentando que a Requerente não logrou êxito
em sua comprovação. Contudo, data vênia, aponta-se no caso em tela erro
administrativo, vez que a mesma preenche todos os requisitos para a concessão
do benefício pleiteado, tendo inclusive gozado da mesma benesse no ano de XXXX
nesta condição (vide extrato do Cadastro Nacional de Informações Sociais anexo).

Importa referir que na data do requerimento administrativo a Requerente foi


submetida a perícia médica, na qual foi constatada sua incapacidade para o
trabalho, vez que é portadora de XXXXXXXXXXXXXXXXXXX, doença cadastrada
no CID 10: XXXX.

Tal informação é verificada ao item XX do Despacho Decisório datado de


XX/XX/XXXX, acostado aos autos, de maneira que não possui condições salutares
de realizar suas atividades habituais, nem logra meios de prover seu sustento,
motivo pelo qual ajuíza a presente demanda.

2. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS:

Conforme já elucidado, a parte Autora preenche todos os requisitos que


autorizam a concessão de benefício por incapacidade na condição de segurada
especial, porquanto, não possui condições de executar suas atividades laborativas,
bem como, enquadra-se de pleno nas regras impostas pelo art. 11, inciso VII, da
Lei 8.213/91.

Da Incapacidade Laborativa:

A Requerente é portadora XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX, patologia isenta


de carência, nos termos do art. 151, da Lei 8.213/91 c/c. Portaria Instrumental
MPAS/MS nº 2.998/2001, conforme faz prova o atestado médico expedido pelo Dr.
XXXXXXXXXXXXXXX (CRM XXXXX).
Insta repisar que a Demandante teve sua incapacidade reconhecida
administrativamente pela Autarquia Previdenciária, restando inconteste o
critério médico pertinente aos benefícios por incapacidade.

Caso venha a ser apontada sua total e permanente incapacidade, postula a


concessão/conversão em aposentadoria por invalidez, a partir da data de sua
efetiva constatação. Nessa circunstância, importante se faz a análise das situações
referentes à majoração de 25% sobre o valor do benefício, arroladas no anexo I do
Regulamento da Previdência Social (decreto nº 3.048/99).

Ainda, na hipótese de restar provado nos autos processuais que a patologia


referida tão somente gerou limitação profissional à parte Requerente, ou seja, que
as sequelas implicam em redução da capacidade laboral e não propriamente a
incapacidade sustentada, postula a concessão de auxílio-acidente, com base no
art. 86 da Lei 8.213/91.

Da Qualidade de Segurada:

Dispensada a carência na presente demanda, restou controvertido o


preenchimento do requisito de qualidade de segurada especial inerente à Autora.

Insurgiu-se o INSS com relação a condição de segurada especial da


Requerente, haja vista que seu esposo encontra-se inscrito no Regime Geral de
Previdência Social na condição de contribuinte individual, tendo como profissão
XXXXXXXXXXX.

No que se refere ao exercício de atividade urbana pelo esposo da


Requerente, nota-se evidente que dentro de um contexto familiar, o fato de um dos
integrantes desempenhar atividade de natureza urbana não implica por si só, em
prejuízo do reconhecimento da condição de segurado especial de outro membro da
família.

De acordo com as informações prestadas em Entrevista Rural, junto ao


INSS, a parte Autora e seu esposo são arrendatários de propriedade localizada no
XXXXXXXXXXXXXXXX, residindo no local há, aproximadamente, XX anos.

Desde então, a Requerente e o esposo sempre realizaram atividade de


natureza rurícula, no regime de economia familiar, sem o auxílio de empregados,
até o ano de XXXX, quando o varão passou a auxiliar nas despesas da família
como XXXXX.

Não obstante a isso, a Demandante deu continuidade as atividades rurais,


trabalhando na XXXXXXXXXXXXXXX, contribuindo com a economia doméstica
dentro de suas possibilidades e instrução, visando, não só aumentar a renda
da família, mas sentir-se incluída e participativa no contexto econômico da
mesma.

Neste sentido, é pacífico o entendimento de que, quando o segurado


especial exerce suas atividades em regime individual, não apresenta importância a
circunstância de outro membro da família exercer atividade remunerada de caráter
rural ou urbano.

Ademais, tal matéria já foi devidamente esclarecida pelo Juiz Federal


Antônio Savaris, nos autos do Processo nº 2004.81.10.00.1832-5:

“Como não se trata de regime de economia familiar, o vínculo


de cooperação do grupo familiar para subsistência pela
via do trabalho rural é dispensável. O fechamento do
direito a essa realidade implicaria o isolamento das
populações de menores rendas”. (Grifou-se).
De mesma banda, a Lei nº 8.213/91 é fulgente quanto à possibilidade de
configuração da qualidade de segurado especial em regime individual:

Art. 11. São segurados obrigatórios da Previdência Social as


seguintes pessoas físicas:
(...)
VII – como segurado especial: a pessoa física residente no
imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo
a ele que, individualmente ou em regime de economia
familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros, na
condição de:

a) produtor, seja proprietário, usufrutuário, possuidor,


assentado, parceiro ou meeiro outorgados, comodatário
ou arrendatário rurais, que explore atividade:

1. agropecuária em área de até 4 (quatro) módulos fiscais;


... omissis. (Grifou-se).

Percebe-se, assim, que é perfeitamente possível a figuração da


Demandante como segurada especial, porquanto realiza atividade de agricultura
em regime individual, cumprindo impecavelmente as exigências impostas pela
legislação, ao passo em que esta faculta que tal atividade seja realizada
individualmente ou em regime de economia familiar!

E nesta baila posicionou-se o Relator Celso Kipper quando da decisão


infra:

PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE


RURAL. REQUISITOS. ATIVIDADE RURAL. INÍCIO DE
PROVA MATERIAL. BÓIA-FRIA. QUALIFICAÇÃO COMO
DOMÉSTICA. PERCEPÇÃO DE BENEFÍCIO
PREVIDENCIÁRIO POR MEMBRO DA FAMÍLIA. LABOR
URBANO. DESCONTINUIDADE. 1. Remessa oficial tida por
interposta. 2. O tempo de serviço rural pode ser comprovado
mediante a produção de prova material suficiente, ainda que
inicial, complementada por prova testemunhal idônea. 3. Em
se tratando de trabalhador rural "bóia-fria", a exigência de
início de prova material para efeito de comprovação do
exercício da atividade agrícola deve ser interpretada com
temperamento, podendo, inclusive, ser dispensada em casos
extremos, em razão da informalidade com que é exercida a
profissão e a dificuldade de comprovar documentalmente o
exercício da atividade rural nessas condições. Precedentes
do STJ. 4. A qualificação da mulher como "doméstica" ou "do
lar" na certidão de casamento não desconfigura sua condição
de segurada especial, seja porque na maioria das vezes
acumula tal responsabilidade com o trabalho no campo, seja
porque, em se tratando de labor rural desenvolvido em regime
de economia familiar, a condição de agricultor do marido
contida no documento estende-se à esposa. 5. O fato de o
marido da autora ser aposentado pela área urbana ou
desempenhar atividade urbana não constitui óbice, por si
só, ao enquadramento dela como segurada especial, na
medida em que o art. 11, VII, da Lei n. 8.213/91, conferiu
ao produtor rural que exerça a atividade agrícola
individualmente o status de segurado especial.
Precedentes desta Corte. 6. O exercício de labor urbano por
ínfimo período durante o intervalo equivalente à carência não
impede o deferimento da aposentadoria por idade rural,
porquanto se enquadra na autorização do art. 143 da Lei de
Benefícios à descontinuidade do trabalho campesino. 7.
Implementado o requisito etário (55 anos de idade para
mulher e 60 anos para homem) e comprovado o exercício da
atividade agrícola no período correspondente à carência (art.
142 da Lei n. 8.213/91), é devido o benefício de aposentadoria
por idade rural, a partir do ajuizamento, ante a ausência de
requerimento administrativo. 8. Os honorários advocatícios
devem ser fixados em 10% sobre o valor das parcelas
vencidas até a data da sentença, a teor das Súmulas 111 do
STJ e 76 desta Corte. (TRF4, AC 2006.70.99.000666-2,
Quinta Turma, Relator Celso Kipper, D.E. 03/05/2007).
(Grifou-se).

Outrossim, a Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais


também já se manifestou à Súmula nº 41, no sentido de não descaracterizar a
qualidade de segurado especial àqueles que possuem integrantes do núcleo
familiar desempenhando atividade urbana.

SÚMULA 41 – TNU: A circunstância de um dos integrantes do


núcleo familiar desempenhar atividade urbana não implica,
por si só, a descaracterização do trabalhador rural como
segurado especial, condição que deve ser analisada no caso
concreto. (Grifou-se).

E ainda, a Súmula 41 é utilizada como parâmetro para o julgamento dos


incidentes de uniformização julgados:

VOTO / INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE


JURISPRUDÊNCIA. INADMISSIBILIDADE. AUSÊNCIADE
SIMILITUDE FÁTICA ENTRE ACÓRDÃO PARADIGMA E
ACÓRDÃO RECORRIDO. FALTADE DEMONSTRAÇÃO DE
DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. ATIVIDADE
URBANADO CÔNJUGE. DESCARACTERIZAÇÃO DA
QUALIDADE DE SEGURADO ESPECIAL
DOTRABALHADOR RURAL.1. O acórdão recorrido
considerou que a existência de vínculo empregatício urbano
em nome do cônjuge, por si só, não é suficiente para afastar
a sua condição de segurado especial.2. O INSS interpôs
incidente de uniformização de jurisprudência alegando que
consta no CNIS informação de que a esposa do autor exerceu
cargo público em prefeitura em dois intervalos de tempo
compreendidos dentro do período equivalente à carência da
aposentadoria do autor.3. Arguiu-se divergência com acórdão
da 2ª Turma Recursal de Santa Catarina. Entretanto, o
acórdão paradigma não foi nem sequer transcrito no corpo da
petição do incidente.4. Também se arguiu divergência com
acórdão da Turma Regional de Uniformização de
Jurisprudência da 1ª Região, que negou direito a
aposentadoria por idade de trabalhador rural apenas com
base no fato de demonstrativo do CNIS registrar vínculos
trabalhistas urbanos dentro do período de carência, ainda que
entremeados de períodos de trabalho rural.5. O acórdão
paradigma tratou de caso em que o próprio requerente –e não
o seu cônjuge -exerceu atividade urbana durante alguns
períodos dentro do interstício imediatamente anterior ao
requerimento de aposentadoria. Logo, falta similitude fática
entre os julgados confrontados.6. O acórdão recorrido não
diverge da jurisprudência pacificada TNU. Nos termos da
Súmula nº 41, a TNU não admite que o simples fato de um
dos membros da família exercer atividade urbana seja
invocado para genérica e invariavelmente descaracterizar
a qualidade de segurado especial de quem exerce
exclusiva atividade rural. Aplica-se a Questão de Ordem nº
13 da TNU: "Não cabe Pedido de Uniformização, quando a
jurisprudência da Turma Nacional de Uniformização de
Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais se firmou no
mesmo sentido do acórdão recorrido".7. Incidente não
conhecido. (5016865120084058103 , Relator: JUIZ
FEDERAL ROGÉRIO MOREIRA ALVES, Data de
Julgamento: 29/02/2012, Data de Publicação: DOU
30/03/2012) (Grifou-se).

A pretensão exordial vem amparada nos arts. 42, 59 e 86 da Lei 8.213/91 e


a data de início do benefício deverá ser fixada nos termos dos arts. 43 e 60 do
mesmo diploma legal.

3. DA TUTELA DE URGÊNCIA:

Em primeiro plano, entende a parte Autora que a análise da medida


antecipatória poderá ser melhor apreciada em sentença.

A Requerente necessita da concessão do benefício em tela para custear a


sua vida, tendo em vista que não reúne condições de executar atividades
laborativas e, conseqüentemente, não pode patrocinar a própria subsistência.

Assim, após a realização da perícia pertinente ao caso, ficará claro que a


parte Autora preenche todos os requisitos necessários para o deferimento da
Antecipação de Tutela, tendo em vista que o laudo médico fará prova inequívoca
quanto à incapacidade laborativa, tornando, assim, todas as alegações
verossímeis. O periculum in mora se configura pelo fato de que se continuar privada
do recebimento do benefício, a Demandante terá seu sustento prejudicado.

De qualquer modo, a moléstia incapacitante e o caráter alimentar do


benefício traduzem um quadro de urgência que exige pronta resposta do Judiciário,
tendo em vista que nos benefícios por incapacidade resta intuitivo o risco de
ineficácia do provimento jurisdicional final, exatamente em virtude do fato da parte
estar afastada do mercado de trabalho e, conseqüentemente, desprovida
financeiramente, motivo pelo qual se tornará imperioso o deferimento deste pedido
antecipatório.

4. DO PEDIDO:

FACE AO EXPOSTO, requer a Vossa Excelência:

1) A concessão do benefício da Assistência Judiciária Gratuita, pois a parte Autora


não tem condições de arcar com as custas processuais sem o prejuízo de seu
sustento e de sua família;
2) O recebimento e o deferimento da presente petição inicial;
3) A citação do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, para, querendo,
apresentar defesa no prazo legal;
4) A produção de todos os meios de prova, principalmente pericial, documental e
testemunhal;
5) O deferimento da Antecipação de Tutela, com a apreciação do pedido de
implantação do benefício em sentença;
6) O julgamento da demanda com TOTAL PROCEDÊNCIA, condenando o
INSS a:

6.1) Subsidiariamente:

6.1.1) Conceder aposentadoria por invalidez e sua majoração de 25%


em decorrência da incapacidade da parte Autora, a partir da data da
efetiva constatação da total e permanente incapacidade;

6.1.2) Conceder o benefício de auxilio doença à parte Autora, a partir


da data da efetiva constatação da incapacidade;

6.1.3) Conceder auxílio-acidente, na hipótese de mera limitação


profissional;
6.2) Pagar as parcelas vencidas e vincendas, monetariamente corrigidas desde
o respectivo vencimento e acrescidas de juros legais e moratórios, incidentes
até a data do efetivo pagamento.

6.3) Em caso de recurso, ao pagamento de custas e honorários advocatícios,


eis que cabíveis em segundo grau de jurisdição, com fulcro no art. 55 da lei
9.099/95 c/c art. 1º da Lei 10.259/01.

Nesses Termos,
Pede Deferimento.

Dá à causa o valor de R$ XXXXXXXXXXXXXXXXX

Local e Data.

Advogado
OAB/UF

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