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EXMO. SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DA VARA ÚNICA DA COMARCA DE


BANDEIRANTES/MS.

Autos n. 0800743-57.2021.8.12.0025
AUTOR: EMILIA ALMEIDA SANTOS ALVES
RÉU: INSTITUTO NACIONAL DA SEGURIDADE E PREVIDÊNCIA
SOCIAL

EMILIA ALMEIDA SANTOS ALVES, já qualificada nos


autos acima referidos, proposto em face do INSTITUTO
NACIONAL DA SEGURIDADE E PREVIDÊNCIA SOCIAL, vem, perante
Vossa Excelência, por intermédio de sua advogada que esta
subscreve, interpor o presente

RECURSO DE APELAÇÃO

por não se conformar com a r. sentença exarada por esse


Juízo, pelos motivos de fato e de direito que em anexo
passa a deduzir.

Requer na oportunidade, sejam recebidas as razões do


recurso de APELAÇÃO e seja remetida ao TRF3 para ser
processado e julgado.

Termos em que pede deferimento.

Bandeirantes/MS, 23 de setembro de 2022.

Rafaela Cristina de Assis Amorim


OAB/MS n° 15.387
EGRÉGIO TRIBUNAL DE RGIONAL FEDERAL DA TERCEIRA
REGIÃO

Comarca de Origem: Bandeirantes/MS


Autos n. 0800743-57.2021.8.12.0025
AUTOR: EMILIA ALMEIDA SANTOS ALVES
RÉU: INSTITUTO NACIONAL DA SEGURIDADE E PREVIDÊNCIA
SOCIAL

COLENDA TURMA

DOUTO RELATOR

Em que pese a respeitável sentença prolatada pelo


Juízo da Vara Única da Comarca de Bandeirantes-MS, que
julgou improcedentes os pedidos formulados na inicial, da
ação ajuizada pela parte Autora, ora Apelante, contra o
INSTITUTO NACIONAL DA SEGURIDADE E PREVIDÊNCIA SOCIAL-
INSS, vem, através de sua procuradora que subscreve, não
se conformando com a decisão exarada, interpor suas
RAZÕES DE APELAÇÃO

com a qual pretende ver REFORMADA a r. Sentença de fl.


104-108.

1. DA SINTESE FÁTICA
Em apertada síntese, a apelante aviou a presente
ação para após uma vida de trabalho, se aposentar por
idade, na qualidade de trabalhadora rural.
Em sentença, o Magistrado Singular, equivocadamente,
entendeu que a Autora ´não se enquadra como segurada
especial rural e julgou improcedentes os pedidos da
inicial.

É o relato do necessário.

2. DO MÉRITO

a) SOBRE INFORMAÇÕES RELACIONADAS AO ANO DE 2003

Colenda Turma, o Magistrado Singular apesar de seu


vasto conhecimento jurídico, decidiu de forma equivocada.

Na sua decisão que adiante segue, o Magistrado


evidentemente equivocado, julgou improcedente o pedido da
Autora, motivando a sua decisão na falsa afirmação de que
a mesma reside na capital deste estado Sul-mato-
grossense.

(...)
Em primeiro lugar, deve ser considerado que a
parte autora, em seu depoimento pessoal, afirmou
que possui 67 anos de idade e é casada com o Sr.
Valdeir Miguel Alves, sendo que o casal adquiriu
no ano de 1999 uma chácara no município de
Bandeirantes, com aproximadamente seis hectares,
para atividades de leite, queijo, plantio de
mandioca e cuidado de galinhas, bem como informou
que possui um veículo Fiat Uno e uma casa no
município de Campo Grande, que foi comprada há
três anos e fica à disposição do casal sempre que
vão para a capital do Estado.
Ademais, a parte autora qualificou-se na escritura
de compra e venda de uma área rural ocorrida no
dia 15/07/2003 como "comerciante", bem como
consignou que residia na Rua Cláudio Manoel da
Costa, 1035, Bairro Nova Lima, Campo Grande/MS,
como se infere da leitura da fl. 35.
Diante desse contexto, resta descaracterizada a
condição de segurado especial da parte autora,
sendo caso de improcedência do pedido alinhavado
na exordial.

Por tal razão, o legislador entendeu que a


aposentadoria por idade rural aqui discutida, é
voltada somente aos hipossuficientes do campo
(segurados especiais, boias frias, pescadores) que
nunca contribuíram para a Previdência Social, e
que sempre viveram no campo à margem da sociedade.
Tal benefício se equipara muito mais a um
benefício assistencial (como o LOAS) que
propriamente a um benefício previdenciário.
Portanto, se trata de um benefício excepcional,
voltado a população carente do campo, o que não é
o caso presente.

A propósito:

E M E N T A. DIREITO PROCESSUAL CIVIL.


PREVIDENCIÁRIO.APOSENTADORIA POR IDADE RURAL.
REQUISITOS LEGAIS NÃO PREENCHIDOS. HONORÁRIOS. - É
assegurado o benefício da aposentadoria por idade
aos trabalhadores rurais, na forma da Lei n.
8.213/91, ao segurado que completar 60 (sessenta)
anos de idade, se homem ou 55(cinquenta e cinco)
anos, se mulher mediante a comprovação do
exercício da atividade rural, ainda que de forma
descontínua, no período equivalente à carência
exigida, nos termos do art. 26, III, e art. 142 do
referido texto legal. -A parte autora não
preencheu os requisitos necessários à concessão do
benefício, vez que se enquadra, atualmente, na
categoria de contribuinte individual, consoante o
disposto no art. 11, V, a, da Lei n. 8.213/91 e
competia-lhe comprovar que verteu ao Regime Geral
de Previdência Social as respectivas
contribuições, tendo em vista o caráter
contributivo do sistema, a fim de possibilitar o
gozo dos benefícios previdenciários, ante as
exigências do disposto nos artigos 21 e 30, II, da
Lei n. 8.212/91. -Honorários advocatícios
majorados ante a sucumbência recursal, observando-
se o limite legal, nos termos do §§ 2º e 11 do
art. 85 do CPC/2015, suspensa sua exigibilidade,
por ser a parte autora beneficiária da assistência
judiciária gratuita, nos termos dos §§2º e 3º do
art. 98 do CPC. - Recurso desprovido.
(TRF 3ª Região, 9ª Turma, ApCiv - APELAÇÃO CÍVEL -
5322523-95.2020.4.03.9999, Rel. Desembargador
Federal GILBERTO RODRIGUESJORDAN, julgado em
25/02/2021, DJEN DATA: 03/03/2021)

Descaracterizado, portanto, o regime de economia


familiar, não se aplica, ao caso concreto, o
entendimento consagrado no âmbito do REsp
1352721/SP, julgado sob a sistemática de recursos
repetitivos.

Diante do exposto, julgo improcedente o pedido


formulado pela parte autora, nos termos do art.
487, I, do CPC.
(...)” (fls. 107-108)

Como se observa, o Juiz de primeiro grau afirma que


a Autora não é trabalhadora rural pois, no ano de 2003
qualificou-se como comerciante no contrato de compra e
venda do sítio em que exerceu o labor rural que, agora,
justifica sua aposentadoria.
Óbvio, Colenda Turma, que até o dia de comprar seu
sítio, a Autora não era residente no mesmo e não exercia
atividade rurais, afinal, passou a faze-las, quando
ingressou na propriedade que adquirira.

Os pontos apontados pelo julgador como não


caracterizadores da atividade rural, ocorreram antes da
apelante iniciar suas atividades rurais, ou seja, antes
de comprar a propriedade em que as exerceu.

Vale mencionar que a apelante realizou o pedido de


aposentadoria na Autarquia ré no ano de 2021, ou seja, o
período de prova da atividade rural para a conceção do
benefício são os 180 meses imediatos ao requerimento
(2005 – 2021) não podendo seu endereço de 2003
descaracterizar sua atividade campesina.

Ainda, é válido mencionar que o fato da apelante e


seu esposo possuírem um Fiat Uno (um dos carros mais
baratos do Brasil) e uma casa humilde no Bairro Nova Lima
(um dos bairros mais pobres da capital), não
descaracterizam, sob nenhuma hipótese, a condição de
rurícola da apelante.

Este é o entendimento jurisprudencial pacífico.

PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA RURAL POR IDADE.


TRABALHADOR RURAL. REGIME DE ECONOMIA FAMILIAR.
REQUISITOS LEGAIS. COMPROVAÇÃO. TRABALHO URBANO DO
CÔNJUGE. TRABALHO URBANO DA AUTORA. RESIDÊNCIA NA
ZONA URBANA. VEÍCULO AUTOMOTOR HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. 1. Procede o
pedido de aposentadoria rural por idade quando
atendidos os requisitos previstos nos artigos 11,
VII, 48, § 1º, e 142, da Lei nº 8.213/1991. 2.
Comprovado o implemento da idade mínima (60 anos
para homens e 55 anos para mulheres), e o
exercício de atividade rural por tempo igual ao
número de meses correspondentes à carência
exigida, ainda que a comprovação seja feita de
forma descontínua, é devido o benefício de
aposentadoria rural por idade à parte autora. 3.
Não é necessário que a prova material tenha
abrangência sobre todo o período que se pretende
comprovar o labor rural, ano a ano, bastando
apenas um início de prova material, complementada
por prova testemunhal idônea. 4. Considera-se
comprovado o exercício de atividade rural havendo
início de prova material complementada por prova
testemunhal idônea, sendo dispensável o
recolhimento de contribuições para fins de
concessão do benefício. 5. O fato do cônjuge ter
vínculo urbano, por si só, não descaracteriza a
qualificação de segurada especial da autora. 6. O
exercício de atividade urbana pela parte autora
por um curto período de tempo e fora do período de
carência, por si só, não desqualifica uma vida
inteira dedicada ao labor rural, comprovado por
inicio de prova material, que foi corroborada por
prova testemunhal consistente e idônea. 7. O fato
de a autora residir na cidade não descaracteriza a
sua condição de segurada especial, porquanto o que
define essa condição é o exercício de atividade
rural independentemente do local onde o
trabalhador possui residência. 8. A propriedade de
veículo automotor não é suficiente para
descaracterizar o enquadramento na condição de
segurado especial. 9. Mantida a antecipação dos
efeitos da tutela concedida na sentença.

(TRF-4 - AC: 50217792020184049999 5021779-


20.2018.4.04.9999, Relator: LUIZ FERNANDO WOWK
PENTEADO, Data de Julgamento: 26/03/2019, TURMA
REGIONAL SUPLEMENTAR DO PR)
Assim, não há que se falar em descaracterização da
atividade rurícola pela família da Autora ter um carro
popular de baixo valor, bem como uma residência em região
de periferia.

b) DA PROVA MATERIAL CORROBOADA PELA TESTEMUNHAL


Ultrapassada a questão anterior, é necessário
discorrer sobre a prova testemunhal produzida.

Foram ouvidas três testemunhas, José Souza Martins,


Sutério Rocha Medina e Wanderley Rosa de Queiroz, todos
vizinhos da Autora no assentamento onde mora e trabalha.

Todas as testemunhas foram uníssonas quanto ao fato


da Autora residir na chácara, trabalhar na mesma e viver
desta atividade, de forma simples e módica.

Aqui, transcrevo trechos do depoimento de Wanderley


Rosa de Queiroz, sendo certo que todas as testemunhas,
com suas palavras, disseram, basicamente, o mesmo.

Advogada: Em qual contexto o senhor conheceu a


Dona Emília, em qual situação?
Testemunha: A conheci no assentamento quando ela
chegou lá.
Advogada: o senhor sempre passa em frente ao lote
dela, pode descrever o que tem lá?
Testemunha: lá te galinha, tem gado ela mexe com
"leitinho", (...) umas oito cabeças de gado.
(...)
Testemunha: Ela mexe com horta, faz queijo.
Advogada: em sua percepção pessoal, o senhor vê
ela como?
Testemunha: Só trabalhando, na chácara.

A prova documental, apesar da pouca robustez, atente


ao requisito legal, “INÍCIO DE PROVA MATERIAL”,
corroborada fielmente pela prova testemunhal.
Resta claro e evidente que no ano de 2003 a Autora e
seu esposo compraram um sítio no Assentamento Roda Viva,
antiga Fazenda Jatobazinho, loteada na reforma agraria,
de 6 hectares e lá, desde essa época, exerce atividade
rural em regime de economia familiar.

3. CONCLUSÃO

Não restam dúvidas de que a sentença de instância


singela, em que pese o vasto saber jurídico de seu
prolator, não fez justiça para com a Apelante.

Destarte, é imprescindível que seja reformada para


devolver a dignidade à vida da Apelante, condenando a
Autarquia ré a concede-la Aposentadoria por Idade Rural,
desde o requerimento administrativo.

4. DO PEDIDO:

Frente aos fatos acima expostos e pelas razões


narradas, e não tendo o Apelado demonstrado qualquer fato
que afastasse o direito da Apelante, requer-se o
conhecimento do presente recurso, bem como o provimento
do mesmo, reformando a sentença e condenando a Autarquia
ré a concede-la Aposentadoria por Idade Rural, desde o
requerimento administrativo, bem como, revertendo a
condenação sucumbencial de primeiro grau e majorando-a em
segundo grau em 20% sobre o valor da causa devidamente
atualizado.

Termos em que pede deferimento.


Bandeirantes – MS, 23 de setembro de 2022.

Rafaela Cristina de Assis Amorim


OAB/MS n° 15.387

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