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EXMO. DR.

JUIZ FEDERAL DA VARA FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE


TRÊS RIOS - RJ

SEBASTIÃO DA SILVA BATISTA e sua esposa DULCE SOARES, brasileiros,


casados, ele produtor rural inscrito sob o CPF n 020928867-11, portador do
documento de identidade n 113110146, ela produtora rural inscrita sob o CPF n
092129787-46, portadora do documento de identidade n 06.850.286-3
DETRAN RJ, residentes e domiciliados na Estrada União Industria, km 146, nº
953, Mont Serrat – Comendador Levy Gasparian propriedade denominada
SÍTIO NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS, vem à presença de V. Ex.ª com
fulcro no art. 191 da Constituição Federal e art. 1.239 do Código Civil propor a
presente

AÇÃO DE USUCAPIÃO

DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA:

Os autores são assistidos pelo Núcleo de Prática Jurídica da Universidade


Federal Rural do Rio de Janeiro e não possuem meios para o pagamento das
custas e de honorários advocatícios sem prejuízo de seu sustento, sendo
hipossuficientes. Portanto, conforme artigo 5º, inc. LXXIV da Constituição
Federal e art.98 do CPC, requerer a concessão do benefício da assistência
judiciária.

DOS FATOS:

Os autores, conviventes há 41 anos em regime de comunhão parcial de bens,


residem no sítio denominado SÍTIO NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS, com
área total de x m², cuja propriedade é registrada em nome de Wilhelm
Lieberenz e Alvira de Almeida Souza Lieberenz, onde exercem atividade rural
como produtor de leite.

O imóvel localizado a Estrada União Industria, km 146, nº 953, Mont Serrat –


Paraibuna, está sob o domínio de DULCE desde seu nascimento sendo a
posse mansa, pacífica e ininterrupta, com animus domini, sem que houvesse
qualquer litígio, contestação ou impugnação por parte de terceiros. Além do
mais, é certo que o imóvel objeto da petição é utilizado para única moradia dos
autores e também para o exercício da produção rural (produção leiteira) da
qual os autores auferem sua única fonte de renda para o sustento de sua
família, fatos que lhes garantem a aquisição da propriedade e serão
corroborados pelo conjunto probatório anexo à presente peça inaugural, bem
como pela produção superveniente de todas as provas admitidas em direito.

Diante dos fatos, vem os requerentes pleitear em juízo a posse de direito por
meio do usucapião conforme fundamentação jurídica.

DO DIREITO:

Os Autores satisfazem os requisitos de usucapião rural nos termos da lei. Logo,


os requerentes detêm a posse da coisa como sua, sem interrupção, nem
oposição com “animus domini", sem oposição do proprietário registral durante o
lapso temporal da prescrição aquisitiva da usucapião daqueles e extintiva
desse, buscando-se assim cumprimento à função social da propriedade
previsto no ART. 5°, XXIII da CF/88.

Outrossim, sendo imóvel rural e produtivo pelo usucapiente como fonte


econômica primária de subsistência da família além de abrigar sua única
residência, aplica-se também à lide à usucapião especial rural (pro labore),
conforme disposto no art. 191 da CRFB/88 e ART. 1239 CC/2002, os quais
preveem 5 anos para a prescrição aquisitiva com os pressupostos do
usucapiente não possuir outro imóvel urbano ou rural, o que se aplica à família
suplicante.
Usucapião especial rural (pro labore), conforme art. 1.239 do CC/02:

Art. 1.239 - Aquele que, não sendo proprietário de imóvel


rural ou urbano, possua como sua, por cinco anos
ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural
não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva
por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua
moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.

Portanto, ratifica que os requerentes têm por direito e totalmente amparado em


lei que o bem é de fato seu, configurando assim a aquisição da propriedade do
bem usucapiendo. No que resta comprovado nesta petição por um farto
conjunto probatório composto por:

1- Recibos de conta de luz da empresa LIGHT em nome de DULCE SOARES;

2 - Fotos da família morando e progredindo cronológica e


temporalmente no imóvel;

3 – Declaração de cadastro na Defesa Agropecuária do Estado do Estado do


Rio de Janeiro, Ficha sanitária de propriedade rural com cadastramento desde
2012;

4- Recibos e demais notas fiscais advindos da produção de leite;

5 - Relatórios de fornecimento da produção leiteira à cooperativa de


produtores; comprovantes vacinais do rebanho;

7 – Declarações escritas e assinadas por vizinhos e conhecidos.

Sustentada na doutrina e na jurisprudência ratificando a fundamentação da


ação temos:

- TJ-RS - AC: 70080638570 RS, Relator: Glênio José Wasserstein Hekman

Data da publicação: 11/04/2019

APELAÇÃO. AÇÃO DE USUCAPIÃO.


ART. 1.239 DO CC. ÁREA INFERIOR AO MÓDULO
RURAL. PRESENÇA DAS CONDIÇÕES DA AÇÃO.
INTERESSE PROCESSUAL E POSSIBILIDADE
JURÍDICA DO PEDIDO. SENTENÇA REFORMADA.
APLICAÇÃO DO ART. 1.013, § 3º, do CPC/2015.
PREENCHIDOS OS REQUISITOS DA USUCAPIÃO NA
MODALIDADE ESPECIAL URBANA. I. O feito encontra-
se apto ao julgamento na forma do artigo 1.013, § 3º,
do CPC/2015. Observados os princípios processuais do
devido processo legal, do contraditório e da ampla
defesa. II. Não se pode negar à parte o direito de buscar
o Poder Judiciário para declarar sua eventual
propriedade sobre bem imóvel descrito na inicial,
reputando-se legítima a escolha da via da ação de
usucapião para alcançar a declaração de domínio. No
caso, o imóvel está localizado dentro do todo maior,
possuindo dimensão menor que o módulo rural da
região. Existência de jurisprudência que ampara a
pretensão da autora. Precedentes jurisprudenciais. III.
Vencida a questão da limitação da área, o conjunto
probatório do feito demonstra, com segurança, que a
apelante preenche os requisitos necessários a
declaração de domínio do imóvel descrito na inicial, na
modalidade do art. 1.239 do CC. É reconhecida como
proprietária da fração rural, nele residindo desde 2005.
Mantém o imóvel cercado, sendo que, da... fração de
terras rurais retira seu sustento e de sua família, uma
vez que vive do que produz nas terras, além de possuir
criação de animais. Além do mais, esse é seu único
imóvel. Apelação provida. (Apelação Cível Nº
70080638570, Vigésima Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Glênio José Wasserstein
Hekman, Julgado em 27/03/2019).

(TJ-RS - AC: 70080638570 RS, Relator: Glênio José Wasserstein Hekman, Data de
Julgamento: 27/03/2019, Vigésima Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do
dia 11/04/2019)

No ensino sobre a Usucapião especial rural (pro labore) Caio Mário da Silva
Pereira diz:

“As características fundamentais desta categoria especial


de usucapião baseiam-se no seu caráter social. Não
basta que o usucapiente tenha a posse associada ao
tempo. Requer-se, mais, que faça da gleba ocupada a
sua moradia e torne produtiva pelo seu trabalho ou seu
cultivo direto, garantindo desta sorte a subsistência da
família, e concorrendo para o progresso social e
econômico. Se o fundamento ético da usucapião
tradicional é o trabalho, como nos parágrafos anteriores
deixamos assentado, maior ênfase encontra o esforço
humano como elemento aquisitivo nesta modalidade
especial. (PEREIRA, 2017, p. 152)”

Para Washington de Barros Monteiro e Carlos Alberto Dabus Maluf:

“A usucapião especial rural não se contenta com a


simples posse. O seu objetivo é a fixação do homem no
campo, exigindo ocupação produtiva do imóvel, devendo
neste morar e trabalhar o usucapiente. Constitui a
consagração do princípio ruralista de que deve ser dono
da terra rural quem a tiver frutificado com o seu suor,
tendo nela a sua morada e a de sua família.
(MONTEIRO, MALUF, 2015, p. 128).”

Com fulcro no art. 1239 do Código Civil e no art. 191 da CRFB de 1988,
suplica-se a sentença de declaração.

DOS PEDIDOS:

1) Requer a concessão do benefício da gratuidade de justiça;


2) Requer seja declarada a aquisição da propriedade por usucapião do
imóvel rural denominado Sítio ________________________________.
3) Seja intimado o Ministério Público, para que intervenha nos autos do
processo.
4)  Que a sentença seja transcrita no registro de imóveis, mediante
mandado, por constituir esta, título hábil para o respectivo registro junto
ao Cartório de Registro de Imóveis.

Dá-se à causa o valor de R$ (valor).

Nestes Termos, Pede e Espera Deferimento.

Três Rios, _____________________

Advogado

OAB

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