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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LSRR
Nº 70060841889 (N° CNJ: 0276751-49.2014.8.21.7000)
2014/CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL. INVENTÁRIO. NULIDADES.


NOMEAÇÃO DE CURADOR Á MENOR E
ILEGITIMIDADE DO TESTAMENTEIRO PARA
FIRMAR ACORDO ACERCA DA NULIDADE DO
TESTAMENTO.
1. Necessária a nomação de Curador para defender os
interesses da parte quando esta for incapaz, no caso
de abandono ou desistência da ação por parte do seu
representante legal, conforme o disposto no art. 9º,
inc. I, do CPC.
2. É dever do testamenteiro zelar pelo testamento, e
garantir o cumprimento das suas disposições, não
podendo transacionar, como ocorreu aqui.
RECURSO PROVIDO. SENTENÇA
DESCONSTITUÍDA.

APELAÇÃO CÍVEL SÉTIMA CÂMARA CÍVEL

Nº 70060841889 (N° CNJ: 0276751- COMARCA DE JÚLIO DE


49.2014.8.21.7000) CASTILHOS

JULIANA MANZONI VIELMO APELANTE

GUILHERME MANZONI VIELMO APELANTE

MARA REGINA LEAL MANZONI APELADO

MAISE MANZONI OLIVEIRA INTERESSADO

VILMA LEAL MANZONI INTERESSADO

SUCESSAO DE OMAR ITALO INTERESSADO


MANZONI NETO

MARIA DE FATIMA FERREIRA INTERESSADO

Vistos.
Trata-se de apelação de GUILHERME E JULIANA M. V.,
pretendendo a reforma da sentença das fls. , que, em AÇÃO ANULATÓRIA
DE TESTAMENTO ajuizada por MARA R. L. M. em desfavor da
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testamenteira MARIA DE FÁTIMA e OUTROS, homologou o acordo das fls.


82/84, entabulado entre a autora, representada por seu procurador, e as
requeridas Maria de Fátima e Vilma (fl. 93).
Alegam, a princípio, a ausência de legitimidade da testadora e
da viúva meeira para transacionar direitos de terceiros, destacando que não
podem ser objeto de transação os direitos não patrimoniais, como os de
família, ou as matérias de ordem pública. Invocam, também, a necessidade
de nomear curador especial à menor Maíse, filha da autora da ação,
salientando que a invalidação do testamento acarretará enorme prejuízo
material à incapaz. Sustentam ter havido violação ao princípio da boa-fé
objetiva e contrariedade ao art. 1.137, inciso II, do CPC em razão de a
testamenteira, após contestar a ação, convicta de seu papel na confecção
dos instrumentos particulares e na defesa dos interesses do testador, adotar
posição contraditória, e reconhecer, em acordo firmado com a apelada, a
nulidade do testamento.
Por fim, asseveram a validade da disposição de última vontade,
não sendo hipótese de testamento conjuntivo, por não haverem os cônjuges
se beneficiado mutuamente, nem ter sido lavrado o mesmo instrumento por
dois testadores.
Pedem, por isso, o provimento do recurso ao efeito de ser
desconstituída a sentença e, com fulcro no art. 515, §3º, do CPC, julgado
improcedente o pedido ou, sucessivamente, determinada a remessa dos
autos à origem para nomeação de curador especial à menor, prolatando-se
nova decisão (fls. 95/107).
Foram apresentadas contrarrazões pela autora (fls. 124/33) e
pela testamenteira (fls. 146/50).
Manifesta-se o Ministério Público pela desconstituição da
sentença, com nomeação de curador especial à menor, e, ainda, pelo

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acolhimento da preliminar de ilegitimidade das acordantes, e, no mérito, pelo


parcial provimento do recurso (fls. 154/8)
É o relatório.
Como se vê, do contido nos autos, em 9 de outubro de 2003, o
falecido Omar dispôs em testamento uma área de terras contendo 762,63
hectares, legando em favor dos netos Guilherme e Juliana a fração de
417,25 hectares, e em favor dos netos Omar e Maíse a fração de 345,37
hectares, conforme documento particular acostado nas fls. 08/10.
No mesmo dia, a esposa de Omar, Vilma, com quem o de cujus
estava casado pelo regime da comunhão universal de bens, dispôs em
testamento a mesma área de terras contendo 762,63 hectares, legando em
favor dos netos Guilherme e Juliana a fração de 417,25 hectares, e, em
favor dos netos Omar e Maíse, a fração de 345,37 hectares, conforme
documento particular acostado nas fls. 13/15.
Visa, então, esta a anulação dos testamentos particulares
deixados por Omar e Vilma, casados entre si pelo regime da comunhão
universal de bens, em favor dos netos Guilherme, Juliana, Omar e Maíse,
sob a alegação de que são proibidos pelo teor do art. 1.863 do Código Civil.
Ocorre, porém, a necessidade, na hipótese, de nomeação de
curador especial à menor MAISE, nascida em 25/6/2002 (certidão da fl. 27),
filha da autora da ação, e uma das beneficiadas pelos testamentos.
Conforme ressalta a Dra. Procuradora de Justiça, “não
obstante a menor esteja sendo representada pelo genitor, Sérgio, conforme
certidão aposta no verso da fl. 31, e não pela mãe da incapaz, Mara Regina,
entende-se que o fato de o pai de Maíse não haver apresentado defesa, na
forma certificada na fl. 52, constitui indicativo de que não está bem
representando os interesses da menor.

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Outrossim, eventual invalidação do testamento, além de


acarretar enorme prejuízo material à incapaz, por certo interessa ao genitor
dela ante a possibilidade de Sérgio, atual companheiro da mãe da menor, vir
a beneficiar-se, nessa condição, da herança deixada pelos genitores de
Mara Regina” (fl. 155).
Ora, com o apontado abandono do processo de parte do
representante da menor, deve haver a nomeação de Curador Especial, a
quem compete a defesa dos seus interesses, que são indisponíveis.
Nesse sentido, referindo a necessidade de ser nomeado
Curador para defender os interesses da parte quando esta for incapaz, no
caso de abandono ou desistência da ação por parte do seu representante
legal, importa destacar o disposto no art. 9º, inc. I, do CPC, que dispõe:
Art. 9o O juiz dará curador especial:
I - ao incapaz, se não tiver representante legal, ou se os interesses
deste colidirem com os daquele;

Assim, havendo flagrante conflito entre interesses de Sérgio e


de Maíse, imprescindível a nomeação de curador especial.
Este é o entendimento desta Câmara:
INVENTÁRIO. NOMEAÇÃO DE CURADOR
ESPECIAL AOS FILHOS. Havendo claro conflito
entre interesses da inventariante, que é a
representante legal dos filhos menores, e o dos
filhos, que são herdeiros, imperiosa a nomeação
de curador especial para representar os
menores no inventário. Incidência do art. 9º, inc.
I, do CPC. Recursos providos (APELAÇÃO
CÍVEL N. 70056792013)

Ainda, pretendem os apelantes a desconstituição da sentença


que, nos autos da demanda de nulidade de testamento, homologou acordo
firmado entre a autora, a viúva e a testamenteira onde reconhecem a
nulidade do testamento (fl. 84).

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Procede, igualmente, a inconformidade, pois, de acordo com


os arts. 1980 e 1981, do CCB, é dever do testamenteiro zelar pelo
testamento, e garantir o cumprimento das suas disposições, não podendo
transacionar, como ocorreu aqui.
Art. 1980: O testamenteiro é obrigado a cumprir as
disposições testamentárias, no prazo marcado pelo
testador, e a dar contas do que recebeu e despendeu,
subsistindo sua responsabilidade enquanto durar a
execução do testamento.
Art. 1981: Compete ao testamenteiro, com ou sem o
concurso do inventariante e dos herdeiros instituídos,
defender a validade do testamento.

Do exposto, com fundamento no art. 557 do CPC, dou


provimento ao recurso, desconstituída a sentença.
Intimem-se.
Porto Alegre, 22 de agosto de 2014.

DES.ª LISELENA SCHIFINO ROBLES RIBEIRO,


Relatora.

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