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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0515.12.010382-2/001 Númeração 0103822-


Relator: Des.(a) Otávio Portes
Relator do Acordão: Des.(a) Otávio Portes
Data do Julgamento: 18/09/2019
Data da Publicação: 27/09/2019

EMENTA: DIREITO CIVIL - APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO ANULATÓRIA DE


COMPRA E VENDA DE IMÓVEL POR AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO DO
CÔNJUGE C/C INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL - LEGITIMIDADE
PASSIVA DO ALIENANTE DO IMÓVEL - REGIME DE COMUNHÃO
PARCIAL DE BENS - OUTORGA UXÓRIA - NECESSIDADE - AUSÊNCIA
NO CASO - NULIDADE - EXISTÊNCIA - DANO MORAL - OCORRÊNCIA
DEVER DE INDENIZAR CONFIGURAÇÃO. 1) Diz-se legítima a parte que,
no polo ativo, seja, pelo menos aparentemente, titular do direito subjetivo
tutelado; e, no polo passivo, diz-se legítima a parte que deva suportar os
efeitos de eventual sentença de procedência do pedido inicial. 2) É nula a
alienação de imóvel pertencente ao casal por um dos cônjuges sem
autorização do outro, exceto quando unidos sob o regime da separação
absoluta de bens, conforme dispõe o art. 1.647, I, do Código Civil,
independentemente do fato de que o imóvel alienado tenha sido adquirido
pelo cônjuge alienante em sub-rogação de seus bens particulares e de que
tal bem não entraria em eventual partilha dos bens do casal, na forma dos
incisos I e II do art. 1.659 do Código Civil, pois, além de traduzir norma de
ordem pública por encontrar fundamento na proteção do patrimônio da
família, o primeiro dispositivo legal citado não faz referência à natureza
jurídica do patrimônio que necessite de anuência de ambos os cônjuges para
ser alienado ou gravado com ônus reais. 3) Quanto ao pedido de indenização
por danos morais, tenho que a situação causada pelos réus foi suficiente
para impor à autora sofrimento moral relevante e passível de indenização,
pois ela se viu enganada por inúmeras pessoas, em especial por seu
cônjuge. 4) A reparação do dano moral deve ser proporcional à intensidade
da dor, que, a seu turno, diz com a importância da lesão para quem a sofreu.
Não se pode perder de vista, porém, que à satisfação compensatória soma-
se também o

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sentido punitivo da indenização, de maneira que assume especial relevo na


fixação do quantum indenizatório a situação econômica do causador do
dano.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0515.12.010382-2/001 - COMARCA DE PIUMHI -


APELANTE(S): SOLANGE RENALDINI FRATONI - APELADO(A)(S):
KLAYTON MÁRCIO FRATORINI, ROSANA FURTADO FRATONI, WILMAR
APARECIDO FRATONI E OUTRO(A)(S), NATANAEL ALVES DE BRITO
JÚNIOR

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 16ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de


Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos,
em DAR PROVIMENTO AO APELO.

DES. OTÁVIO DE ABREU PORTES

RELATOR.

DES. OTÁVIO DE ABREU PORTES (RELATOR)

VOTO

Trata-se de recurso de apelação interposto por Solange Renaldini Fratoni


contra a r. sentença nas ff. 323/327, que, nos autos da ação de anulação de
negócio jurídico c/c danos morais por ela ajuizada em face de Wilmar
Aparecido Fratoni e outro(a)(s) visando à anulação de contrato de compra e
venda de imóvel rural vendido pelo primeiro réu (ex-marido da autora) ao
filho exclusivo deste, julgou extinto o processo sem resolução do mérito em
relação ao réu Natanael Alves

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de Brito Júnior, tendo em vista a sua ilegitimidade passiva, e improcedentes


os pedidos iniciais em face dos demais requeridos.

A autora apelou nas ff. 330/354, alegando, em apertada síntese, que não
houve sub-rogação, não havendo prova de que o imóvel rural litigioso
substituiu a outro, sendo tal prova indispensável no regime de comunhão
parcial de bens; que a prova da sub-rogação se dá por meio de registro no
título aquisitivo; que o art. 1.647 do Código Civil exige, como regra, a
autorização do cônjuge para prática de atos como a alienação e o gravame
de ônus real sobre imóveis; que a legislação dispõe que é necessária a
citada autorização para os casos que envolvem sub-rogação; que não é
possível concluir que após anos de labor do casal todo o patrimônio esteja
ligado a bens de propriedade exclusiva do 1º apelado; que os depoimentos
dos réus, ora apelados, corroboram com suas assertivas; que o réu Natanael
de Brito Júnior tem legitimidade para figurar no polo passivo da presente
demanda; que a venda da fazenda objeto da presente lide é um negócio
jurídico nulo; e que o dano moral deve ser sempre reparado por meio de
pecúnia.

Pelo exposto, requer a reforma da r. sentença no sentido de julgar


procedentes os pedidos iniciais.

A parte apelada ofertou contrarrazões nas ff. 356/362, pugnando pela


manutenção da r. sentença.

Do juízo de admissibilidade

Satisfeitos os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso de


apelação.

Da legitimidade passiva do segundo réu

Pois bem. Diz-se legítima a parte que, no polo ativo, seja, pelo menos
aparentemente, titular do direito subjetivo tutelado; e, no polo passivo, diz-se
legítima a parte que deva suportar os efeitos de eventual sentença de
procedência do pedido inicial.

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Assim, deve o sujeito ativo demonstrar ser titular do direito que pretende
fazer valer em juízo - legitimidade ativa, e ser o sujeito passivo quem esteja
obrigado a se submeter à sua vontade - legitimidade passiva.

No caso dos autos, o réu Natanael Alves de Brito Júnior, era o


proprietário do imóvel rural denominado Fazenda Água Limpa, comprado
pela autora e por seu ex-marido, o réu Wilmar Aparecido Fratoni, enquanto
eram casados, através do contrato de promessa de compra e venda de
imóvel nas ff. 98/98v., mas que, no final das contas, foi escriturado e
registrado em nome dos réus Klayton Márcio Fratoni e sua esposa Rosana
Furtunato Fratoni, respectivamente, filho e nora do ex-marido da autora, ora
apelante, conforme R.8.11.626 na escritura do referido imóvel rural na f. 101.

E como a autora, ora apelante, alega que o réu Natanael Alves de Brito
Júnior participou da simulação engendrada com os demais requeridos para
lhe prejudicar, ele é parte legítima para figurar no polo passivo da presente
ação anulatória c/c indenização por danos morais, mormente porque, em
caso de eventual procedência da pretensão autoral, como antigo proprietário
e alienante do imóvel rural, deverá restituir o valor recebido pelo imóvel e
indenizar o dano moral que aquela alega ter sofrido.

Pelo exposto, a sentença merece reforma neste quadrante, para que seja
reconhecida a legitimidade passiva do réu Natanael Alves de Brito Júnior.

Da invalidade da alienação do imóvel rural objeto da lide

Ressai dos autos que a ora apelante ajuizou a presente ação


pretendendo a anulação do negócio jurídico firmado entre os réus, que teve
por objeto a compra e a venda de uma gleba de terras situada na Fazenda
Água Limpa, além da condenação dos requeridos ao pagamento de
indenização por danos morais.

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O douto sentenciante julgou improcedentes os pedidos iniciais, sob o


fundamento, em suma, de que a prova documental confrontada com os
depoimentos não deixam dúvida que o 1º réu (ex-cônjuge da autora) possuía
patrimônio anterior ao casamento e que a aquisição do imóvel objeto da lide
se deu por sub-rogação, razão pela qual a sua alienação não seria nula, já
que desnecessária a autorização da autora, ex-cônjuge do 1º réu.

Irresignada, sustenta a apelante que tal conclusão se revela equivocada,


na medida em que a legislação dispõe que é necessária a autorização do
cônjuge, quando da constituição do título aquisitivo, mesmo para os casos
que envolvem sub-rogação; e que houve simulação entre os réus para que o
imóvel rural denominado Fazenda Água Limpa,comprado pelo casal na
constância do casamento, fosse transferido a terceiros, filho e nora do seu ex
-marido.

Pois bem. Cinge-se o cerne da controvérsia, portanto, em verificar a


ocorrência nulidade da alienação e registro do imóvel rural litigioso no CRI
para os réus Klayton Márcio Fratoni e sua esposa Rosana Furtunato Fratoni.

E após detida análise das provas constantes dos autos e do direito


aplicável à espécie, tenho que razão assiste à autora, ora apelante, senão
vejamos.

Como sabido, no regime de comunhão parcial, ao qual a apelante e o


primeiro apelado estavam submetidos, os bens do casal não entram na
partilha quando forem adquiridos com recursos de somente um dos cônjuges
em sub-rogação dos bens particulares. Trata-se de sub-rogação real, que
consiste na substituição de uma coisa por outra.

A respeito da sub-rogação real e do regime de comunhão parcial de


bens, cabe verificar o que dispõe o art. 1.659 do Código Civil:

"Art. 1.659. Excluem-se da comunhão:

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I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na


constância do casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em
seu lugar;

II - os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos


cônjuges em sub-rogação dos bens particulares";

Agora, vejamos o que prevê a norma do art. 1.647, I do Código Civil:

Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode,
sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta:

I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;

Assim, é nula a alienação de imóvel pertencente ao casal por um dos


cônjuges sem autorização do outro, exceto quando unidos sob o regime da
separação absoluta de bens, conforme dispõe o art. 1.647, I, do Código Civil,
independentemente do fato de que o imóvel alienado tenha sido adquirido
pelo cônjuge alienante em sub-rogação de seus bens particulares e de que
tal bem não entraria em eventual partilha dos bens do casal, na forma dos
incisos I e II do art. 1.659 do Código Civil, pois, além de traduzir norma de
ordem pública por encontrar fundamento na proteção do patrimônio da
família, o primeiro dispositivo legal citado não faz referência à natureza
jurídica do patrimônio que necessite de anuência de ambos os cônjuges para
ser alienado ou gravado com ônus reais.

Sobre o tema, vejamos a lição de Maria Berenice Dias:

"Fora tais exceções, mesmo em se tratando de bens particulares adquiridos


antes do casamento, vendê-los ou comprometê-los depende do
consentimento de ambos. (...)

Para alienar ou gravar de ônus real bens imóveis é necessário o que se


chama de vênia conjugal, ou seja, que ambos firmem o documento.

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Quando um dos cônjuges se nega a concordar com a alienação ou a


instituição do gravame, é possível buscar o suprimento judicial do
consentimento (CC 1.647 e CPC 74). (...)

Mesmo que se trate de bem particular, adquirido antes do casamento, a


outorga é necessária. (...)". (In Manual de Direito das Famílias, 11ª edição, p.
309. Editora Revista dos Tribunais, 2.016) (g.n.)

No mesmo sentido doutrina Milton Paulo de Carvalho Filho ao comentar o


art. 1.647 do Código Civil:

"O poder de administração dos cônjuges encontra limitações destinadas a


assegurar a harmonia e a segurança da vida conjugal e preservar o
patrimônio familiar. O CC enumera, nesse artigo, os atos que os cônjuges
não podem praticar sem a autorização do outro, quando casados sob o
regime de comunhão universal, comunhão parcial e participação final dos
aquestos, excluindo-se, neste último caso, a hipótese do art. 1.656 (v.
comentário). A norma é de ordem pública, não podendo os cônjuges
dispensar a outorga, por sua própria vontade (o rol de vedações é taxativo,
não comportando interpretação extensiva, uma vez que representam
limitações ao direito dos consortes), contudo, a regra é excepcionada pelo
art. 978 e pelo inciso I do art. 1.642 (veja comentários). A falta de autorização
para a prática dos atos enumerados no presente artigo importa anulabilidade,
nos termos do disposto no art. 1.642 (veja comentários). A falta de
autorização para a prática dos atos enumerados no presente artigo importa
anulabilidade, nos termos do disposto no art. 1.649 a seguir (v. comentários),
sendo que nas hipóteses dos incisos III e IV deste artigo, poderão ainda
gerar a rescisão dos contratos de fiança ou doação.

O inciso I impede a alienação (compra, venda, permuta, doação) ou


gravação de ônus reais dos bens imóveis. Consoante já mencionado no art.
1.642, supra, atualmente muitos bens móveis têm valor igual ou superior aos
bens imóveis, sendo recomendada a outorga uxória para a alienação ou a
gravação do patrimônio mobiliário de valor elevado (p. ex., ações de uma
grande empresa). O dispositivo em

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estudo não faz referência à natureza do patrimônio que necessite de


anuência de ambos os cônjuges para ser alienado ou gravado com ônus
reais, sendo certo, portanto, que a imposição abrange, também, os bens
particulares de cada cônjuge. A obrigatoriedade de outorga conjugal do
inciso I reflete aparente contradição com o art. 1.665, infra. Entretanto,
ambos os dispositivos deverão ser interpretados conjunta e harmonicamente
no sentido de que a administração e a disposição dos bens particulares
caberá ao cônjuge proprietário, que necessitará da anuência do outro para
aliená-los ou gravá-los". (g.n.) (Código Civil comentado: doutrina e
jurisprudência: Lei n. 10.406, de 10.01.2002 / coordenador Cézar Peluso. -
11. ed. rev. e atual. - Barueri, SP: Manole, 2017. p. 1759/1760)

No caso em tela, portanto, é irrelevante se houve ou não sub-rogação do


bem objeto do litígio, pois é incontroverso que a autora não deu autorização
para a alienação a terceiros do imóvel rural comprado pelo casal através de
contrato de promessa de compra e venda, impondo-se o reconhecimento da
nulidade da escrituração da compra e venda em nome de terceiros estranhos
a primitivo contrato.

Nesse sentido é a jurisprudência do STJ e deste TJMG:

AGRAVO INTERNO EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. NEGATIVA


DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO CONFIGURAÇÃO. AÇÃO DE
DIVISÃO. TÍTULO AQUISITIVO. NULIDADE. OUTORGA UXÓRIA.
AUSÊNCIA. 1. É nula a alienação de bem imóvel, na constância da
sociedade conjugal, sem a outorga uxória. Precedentes. 2. Agravo interno a
que se nega provimento. (AgRg no AREsp 390.800/MG, Rel. Ministra MARIA
ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 07/11/2017, DJe
20/11/2017) (g.n.)

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL. DIREITO FALIMENTAR.


PREJUDICIAL DE DECADÊNCIA REJEITADA. MASSA FALIDA.
TRANSFERÊNCIA DE IMÓVEL PARTICULAR DE CÔNJUGE PARA
INTEGRALIZAÇÃO DO CAPITAL SOCIAL. CASAMENTO SOB O REGIME
DE COMUNHÃO PARCIAL DE BENS. NECESSIDADE DE OUTORGA
CONJUGAL. ART. 1.647, INCISO I, DO CÓDIGO CIVIL. INVALIDADE DO

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NEGÓCIO JURÍDICO. ANULAÇÃO. - Nos moldes do art. 1.649 do Código


Civil, "a falta de autorização, não suprida pelo juiz, quando necessária (art.
1.647), tornará anulável o ato praticado, podendo o outro cônjuge pleitear-lhe
a anulação, até dois anos depois de terminada a sociedade conjugal".
Prejudicial de decadência rejeitada. - Ressalvada a obtenção de suprimento
judicial, nenhum dos cônjuges poderá, sem a autorização do outro, exceto no
regime da separação absoluta, alienar ou gravar de ônus real os bens
imóveis, ainda que particulares. - É anulável o negócio jurídico praticado pela
esposa, que transfere para a sociedade empresária, durante a constância do
matrimônio, submetido ao regime de comunhão parcial de bens, sem a
necessária concordância do marido, imóvel destinado à integralização do
capital social. (TJMG - Apelação Cível 1.0024.17.004220-4/004, Relator(a):
Des.(a) Ana Paula Caixeta , 4ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 08/11/2018,
publicação da súmula em 13/11/2018) (g.n.)

APELAÇÃO CÍVEL - ALIENAÇÃO DE IMÓVEL - AUSÊNCIA DE


AUTORIZAÇÃO DO CÔNJUGE - NULIDADE RECONHECIDA - IMISSÃO
NA POSSE - IMPOSSIBILIDADE. É anulável a alienação de bem imóvel, no
curso da sociedade conjugal, sem a autorização do cônjuge, salvo se os
cônjuges forem casados no regime da separação absoluta. Anulado o
negócio jurídico e, por conseqüência, o registro da transferência do imóvel,
tendo em vista a ausência de outorga uxória, incabível a imissão da posse do
comprador. (TJMG - Apelação Cível 1.0079.07.346877-3/001, Relator(a):
Des.(a) Estevão Lucchesi, 14ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 11/09/2014,
publicação da súmula em 19/09/2014) (g.n.)

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXECUÇÃO - ALIENAÇÃO


FIDUCIÁRIA DE BEM IMÓVEL EM GARANTIA - OUTORGA UXÓRIA -
AUSÊNCIA - LIMINAR - REQUISITOS LEGAIS - Para concessão de liminar
é indispensável a presença do perigo de dano para a parte e da aparência de
bom direito. A alienação de bem imóvel sem autorização do cônjuge
acarreta a anulabilidade do negócio jurídico, que poderá ser requerida pelo
cônjuge preterido. (TJMG - Agravo de Instrumento-Cv 1.0024.13.352477-
7/001, Relator(a): Des.(a) Evangelina Castilho

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Duarte, 14ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 27/03/2014, publicação da


súmula em 04/04/2014) (g.n.)

Da simulação

Acrescente-se que o registro do imóvel em nome de Klayton e Rosana,


respectivamente filho e nora do réu Wilmar, também é nulo em razão da
simulação levada a efeito pelos réus.

Ora, no caso, enquanto ainda eram casados, a apelante e o primeiro


apelado compraram o imóvel rural objeto da lide através do contrato de
promessa de compra e venda de imóvel nas ff. 98/98v.

Todavia, mesmo com a quitação do preço no momento da assinatura do


contrato, conforme nele consta, o imóvel não foi transferido para o casal,
sendo registrado em nome dos réus Klayton Márcio Fratoni e sua esposa
Rosana Furtunato Fratoni, respectivamente, filho e nora do ex-marido da
apelante, conforme R.8.11.626 na escritura do referido imóvel rural na f. 101.

O réu alienante do imóvel, Natanael Alves de Brito Júnior, afirmou em


sua contestação nas ff. 141/145 que, de fato, recebeu o preço pela venda do
imóvel litigioso ao ex-marido da apelante.

Todavia, ele não impugnou em sua defesa o fato de que na escritura do


imóvel constava o nome de outro comprador, presumindo-se, portanto, que
ele tinha ciência de que vendera o imóvel para uma pessoa mas o transferiu
para outra.

Quanto aos réus Klayton e Rosana, respectivamente filho e nora do réu


Wilmar, sequer podem alegar boa-fé na aquisição, posto que sabedores de
estarem adquirindo imóvel que não compraram.

Por fim, o réu Wilmar foi o maestro da simulação levada a cabo com a
finalidade única de prejudicar a sua ex-cônjuge.

De uma forma ou de outra, portanto, é nula a lavratura da

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escritura e do registro transmitindo o imóvel litigioso para os réus Klayton e


Rosana, respectivamente filho e nora do réu Wilmar.

Do cabimento da indenização por dano moral

Quanto ao pedido de indenização por danos morais, tenho que a situação


causada pelos réus foi suficiente para imprimir na autora sofrimento moral
relevante e passível de indenização, pois ela se viu enganada por inúmeras
pessoas, em especial seu cônjuge.

Acrescente-se, principalmente quando considerado o aspecto


pedagógico que, como regra, é ínsito à indenização por dano moral, deve ser
destacado que a alienação fraudulenta do imóvel esteve associada a intuito
malicioso dos réus, ora apelados, que objetivaram causar prejuízo ao
patrimônio da autora, ora apelada.

Portanto, o ilícito praticado pelos réus, ora apelantes, ultrapassou o


âmbito patrimonial, com repercussões diretas no âmbito extrapatrimonial,
motivo pelo qual se afigura cabível a indenização por dano moral.

Do valor da indenização por dano moral

Cumpre ressaltar que a reparação do dano moral deve ser proporcional à


intensidade da dor, que, a seu turno, diz com a importância da lesão para
quem a sofreu. Não se pode perder de vista, porém, que à satisfação
compensatória soma-se também o sentido punitivo da indenização, de
maneira que assume especial relevo na fixação do quantum indenizatório a
situação econômica do causador do dano.

A indenização deve ter para a vítima um efeito de terapia, quando não


para cessar em definitivo, pelo menos para amenizar ou auxiliar na
diminuição da dor moral. Do mesmo modo, é necessário que a condenação
tenha repercussão nas atitudes comportamentais do agente, especialmente
contra aquele, que fere como brasa a alma humana, como o dano moral, que
mesmo indenizado, conduz sequela

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psicológica que nunca cicatriza.

O quantum indenizatório de dano moral deve ser fixado em termos


razoáveis, para não ensejar a ideia de enriquecimento indevido da vítima e
nem empobrecimento injusto do agente, devendo dar-se com moderação,
proporcional ao grau de culpa, às circunstâncias em que se encontra o
ofendido e a capacidade econômica do ofensor.

Dito isso, no caso dos autos, tenho que a indenização por dano moral
deve ser fixada em R$ 10.000,00, pois tal valor não escapa dos parâmetros
acima citados.

Dispositivo

Com tais razões de decidir, DOU PROVIMENTO AO APELO, para


reformar a sentença, reconhecer a legitimidade passiva de Natanael Alves de
Brito Júnior, julgar procedentes os pedidos iniciais, declarar a nulidade do
registro do imóvel em nome dos réus Klayton Márcio Fratoni e sua esposa
Rosana Furtunato Fratoni, e condenar os réus a pagarem à autora, ora
apelante, solidariamente, indenização por dano moral no valor de R$
10.000,00 (dez mil reais), com correção monetária pelos índices da e.
CGJEMG desde a publicação do presente acórdão e juros de mora de 1% ao
mês a partir da citação do último réu.

Condeno os réus, ora apelados, no pagamento das custas processuais,


inclusive recursais, e no pagamento dos honorários de sucumbência, que fixo
em 20% sobre o valor atualizado da condenação a eles imposta.

É como voto.

DES. JOSÉ MARCOS RODRIGUES VIEIRA - De acordo com o(a)


Relator(a).

DES. PEDRO ALEIXO - De acordo com o(a) Relator(a).

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SÚMULA: "DERAM PROVIMENTO AO APELO"

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