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USUCAPIÃO Nº 5010455-28.2021.8.24.0011
AUTORES: LURDETE MARIA REITZ E BRAZ REITZ
RÉUS: ESPÓLIO DE WALMOR JOSÉ REITZ E AUGUSTA TEIXEIRA REITZ E
OUTROS
I - DOS FATOS
Os Autores requerem a tutela jurisdicional visando à declaração de
propriedade por usucapião de um terreno rural, dotado de 1.086,31 m², localizado no
lado esquerdo da Rua Otaviano Rosa, s/n, Bairro São João, na cidade de Brusque. O
referido terreno estaria inserido em uma área maior, correspondente à matrícula de nº
60.913 do Ofício de Registro de Imóveis de Brusque, de titularidade do espólio de
Walmor José Reitz e Augusta Teixeira Reitz e dos demais Réus.
Segundo consta na petição inicial, os Autores vem mantendo há 39 anos a
posse mansa, pacífica, sem qualquer oposição ou interrupção e com animus domini do
já citado terreno rural de 1.086,31 m². A posse teria como termo inicial o ano de 1982,
“[...] momentos após o casamento da Requerente Lurdete com o Requerente Braz,
filho dos proprietários registrais já falecidos [...]”. Para os Autores, eles poderiam
pleitear o reconhecimento da prescrição aquisitiva do citado imóvel em seu favor “[...]
já no ano de 1998 [...]”, eis que sempre teriam residido no imóvel “[...] sem oposição
dos então proprietários registrais [...]”.
O pedido deve ser julgado improcedente, uma vez que não restam atendidos
os requisitos para aquisição da propriedade pela usucapião.
II - DO DIREITO
II.1 - PRELIMINARMENTE
8ª CÂMARA CÍVEL
Usucapião extraordinária. Prova insuficiente do exercício da posse com animus domini e pelo
lapso temporal do art. 1.238 do CC. Comprovação indispensável, ainda que na hipótese de
revelia. Improcedência mantida. Recurso improvido.
s documentos acostados pelos demandados, de outra parte, evidenciam serem eles os únicos
proprietários e possuidores do imóvel litigioso, havendo então emprestado aos demandantes,
a título gratuito, parte do terreno recém adquirido, a fim de que lá fosse edificada a moradia
do filho e da nora.
Tem-se, portanto, a partir dos elementos de prova contidos nos autos, que a posse
exercida pelos apelantes é, desde o princípio, precária, exatamente porque fundada em atos
de mera tolerância e liberalidade de seus pais e sogros, estes legítimos proprietários da
integralidade do imóvel tanto perante o registro de bens quanto perante a comunidade que
lhe cerca.
E sendo a posse precária, como se explanou no exórdio deste voto, inábil à aquisição da
propriedade por intermédio da usucapião (CC art. 1.240), mostra-se acertada a sentença
objurgada, na qual se rejeitou o pedido formulado na peça exordial.
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DAS COISAS. AÇÃO DE USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA.
INACOLHIMENTO DO PEDIDO PELA SENTENÇA. IMÓVEL DE PROPRIEDADE DOS GENITORES E
SOGROS DOS AUTORES, RESPECTIVAMENTE. PRETENDIDO CÔMPUTO DO TEMPO EM QUE
RESIDIRAM NO BEM JUNTAMENTE COM OS PROPRIETÁRIOS. AUSÊNCIA, TODAVIA, DE ANIMUS
DOMINI. POSSE PRECÁRIA, NESSE PERÍODO, CARACTERIZADA PELA MERA TOLERÂNCIA E
PERMISSIBILIDADE DESSES FAMILIARES. EXERCÍCIO DE POSSE QUE, ADEMAIS, PARA VALER EM
FACE DOS DEMAIS CONDÔMINOS, DEVE SER PRATICADO À SUA EXCLUSÃO. PRAZO
PRESCRICIONAL NÃO DEMONSTRADO (CC ART. 1238). DECISÓRIO INCENSURÁVEL. RECURSO
DESPROVIDO. 1. "É possível ao condômino usucapir parcela ou o todo da área em condomínio
desde que se diga possuidor qualificado do bem-objeto. Isso porque seus atos são tidos como
praticados não em nome da coletividade, mas sim no interesse próprio, persistindo a
comunhão apenas de direito, tendo a situação fática deixado de existir - tudo a partir das
diretrizes da teoria da asserção. Em hipóteses tais, juridicamente possível é o pedido, legítimo
é o condômino e configurado resta o interesse processual." (AC n. 2014.001693-4, de Araquari,
Quinta Câmara de Direito Civil, rel. Des. Henry Petry Junior, j. 13.03.2014). 2. Nesse caso
específico, todavia, somente com a constituição do condomínio - na hipótese, com a abertura
da sucessão (CC art. 1.784) - é que podem ter início os atos de posse próprios do interessado
(condômino) em usucapir, e que, dotado de animus domini, passe a se contrapor à composse
dos demais herdeiros. (TJSC, Apelação Cível n. 2014.095012-4, de Orleans, rel. Eládio Torret
Rocha, Quarta Câmara de Direito Civil, j. 13-08-2015).
Contudo, no caso em exame a pretensão esbarra nas exigências impostas, pelo Código Civil, à
aquisição da propriedade por intermédio da usucapião (CC art. 1.238), vez que precária a
posse exercida pelos autores enquanto viva a proprietária Martinha Vitório Mateus.
E isto porque até o falecimento de Martinha, ocorrido em 10.08.2009 (fl. 12), os atos
praticados pelos apelantes no uso do imóvel - a exemplo do mútuo contratado para aquisição
de materiais de construção (fls. 18/25) - não contraditavam a propriedade registral, mas se
traduziam, em verdade, em simples permissibilidade e tolerância da proprietária, não
servindo, em absoluto, para caracterizar o exercício da posse com ânimo de dono. Inclusive,
como enfatiza Benedito Silvério Ribeiro, "O conhecimento do domínio alheio faz com que a
posse seja exercida sem animus domini" (Tratado de Usucapião, v. 1, 6ª ed., São Paulo: Editora
Saraiva, 2008. p. 712).
Dessa forma, somente após o falecimento de Custódio e Martinha tiveram início, com a
abertura da sucessão (CC art. 1.784), os atos de posse própria dos apelantes, e que, dotados
de animus domini, se opõem à composse dos demais herdeiros.
- Evidenciada nos autos que a posse exercida no imóvel objeto de herança, ainda que com
exclusividade, é decorrente de mera permissão, resta ausente o animus domini, devendo ser
julgado improcedente o pedido de declaração de aquisição da propriedade por meio do
usucapião. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.22.215022-9/001, Relator(a): Des.(a) Rinaldo
Kennedy Silva , 16ª Câmara Cível Especializada, julgamento em 12/12/2022, publicação da
súmula em 13/12/2022)
- Diante da ausência de provas de que o requerente esteve na posse do imóvel objeto da ação
com animus domini, tendo em vista compartilhar com seus genitores a posse do bem que
pertencia a eles, deve ser julgado improcedente o pedido de declaração de aquisição da
propriedade por meio do usucapião. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.22.159149-8/001,
Relator(a): Des.(a) Rinaldo Kennedy Silva , 16ª Câmara Cível Especializada, julgamento em
17/08/2022, publicação da súmula em 18/08/2022)
Assim, verifico que ao contrário do alegado pelo apelante, restou comprovado que ele sempre
morou no imóvel que pertencia aos seus genitores, e moravam juntos em razão de relação
familiar, motivo pelo qual é possível concluir pela inexistência de animus domini, diante da
precariedade da posse exercida, incidindo, no caso, o disposto no art. 1.208 do Código Civil,
que estabelece:
"Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não
autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a
violência ou a clandestinidade".