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Processo Civil I – 3º Período

Prof.ª: Ana Chrystinne Souza Lima

CASO PRÁTICO 05

BRUNA SILVA e NICODEMOS BORGES, casados pelo regime da comunhão


parcial de bens em 08/09/1990, decidiram pôr fim ao casamento. Não tiveram
filhos, no entanto, durante o matrimônio o casal adquiriu 01 casa no valor de R$
150.000,00 (cento e cinquenta mil reais) e um carro no valor de R$ 80.000,00
(oitenta mil reais), ambos quitados. /ambos ainda estão residindo sob o mesmo teto,
trabalham e cada um tem seu próprio sustento, não necessitando de pensão
alimentícia e não há alterações de nome a serem feitas. O casal não entrou em
consenso quanto à partilha dos referidos bens e NICODEMOS procura o seu
escritório, a fim de propor a medida cabível para promover o divórcio e a partilha
dos referidos bens.

1. CABIMENTO
Não sendo possível a obtenção do divórcio consensual, qualquer dos cônjuges pode requerê-lo
individualmente por meio da “ação de divórcio litigioso”.
Considerando o longo histórico desta ação, é conveniente registrar que atualmente a lei não
impõe qualquer requisito prévio ao requerente; ou seja, não é necessária prévia separação
judicial nem separação fática por certo tempo; como se disse, basta a vontade, o desejo, do
requerente.
Embora o autor, ou autora, da ação possa declarar na petição inicial os motivos do seu pedido,
isso não constitui requisito legal e dificilmente o juiz irá manifestar qualquer juízo de valor
quanto a esse fato, salvo se ele for relevante para arrimar decisão sobre algum outro aspecto do
divórcio, como, por exemplo, quem ficará com a guarda dos filhos menores ou a concessão ou
não de pensão alimentícia para um dos cônjuges. Com efeito, para a realização do casamento
bastou a vontade do casal, agora também para se obter o divórcio basta a vontade, nesse caso,
de uma das partes.
No bojo da ação de divórcio litigioso, o requerente, quando a situação o estiver a exigir, pode
requerer a separação de corpos (art. 1.562, CC); pode, ainda, consoante recente jurisprudência
do STJ, requerer a aplicação das medidas protetivas previstas na Lei nº 11.340/2006, como, por
exemplo, ordem para que o agressor não se aproxime da vítima.

2. BASE LEGAL
O direito de requerer o divórcio, sem prévia separação judicial ou fática, encontra respaldo no
art. 226, § 6º, da Constituição Federal, com a redação que lhe deu a Emenda Constitucional nº
66/2010.
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3. PROCEDIMENTO
De acordo com o art. 34 da Lei nº 6.515/77-LDi, a ação de divórcio litigioso deve seguir o rito
comum ordinário, hoje simplesmente “procedimento comum” (arts. 318 a 512, CPC); há,
ademais, que se observar as normas especiais lançadas no capítulo que trata “das ações de
família” (arts. 693 a 699, CPC).
Partindo destas diretrizes, forneço a seguir pequeno esboço do procedimento comum, com as
alterações previstas nos citados arts. 693 a 699 do CPC:
I – petição inicial (arts. 319 e 320, CPC):
Obs.:
a) formados os autos, esses vão conclusos para o juiz, que poderá: (1) determinar que o autor
emende a inicial no prazo de 15 (quinze) dias (art. 321, CPC); (2) não recebê-la, extinguindo o
feito sem julgamento de mérito (arts. 330 e 485, CPC); (3) recebê-la, julgando liminarmente
improcedente o mérito (art. 332, CPC); (4) recebê-la, designando audiência de conciliação ou
mediação e determinando a citação do réu (art. 324, CPC);
b) além das medidas referidas, o juiz deverá apreciar eventuais pedidos de “tutela provisória”
(art. 300, CPC), tais como: pedido de separação de corpos; pedido de aplicação das medidas
protetivas previstas na Lei nº 11.340/2006; pedido de guarda e alimentos provisórios;
arrolamento de bens etc.
II – citação (arts. 238 a 259, CPC):
Obs.:
a) o mandado de citação deve conter apenas os dados necessários à audiência, sem cópia da
petição inicial (art. 695, § 1º, CPC);
b) tratando-se de ação de estado, a citação deve ser feita pessoalmente (art. 247, I, CPC), com
antecedência mínima de 15 (quinze) dias da audiência de conciliação (art. 695, § 2º, CPC),
observando-se que o prazo para oferecimento de contestação só começa a correr “da audiência
de conciliação ou de mediação, ou da última sessão de conciliação, quando qualquer parte não
comparecer ou, comparecendo, não houver autocomposição” (art. 335, I, CPC).
III – audiência de conciliação ou de mediação (art. 334, CPC):
Obs.: esta audiência só não será realizada se as partes manifestarem o seu desinteresse (art. 319,
VII, CPC); não sendo este o caso, a falta injustificada será considerada ato atentatório à
dignidade da justiça, sujeitando o infrator a multa de até 2% (dois por cento) da vantagem
econômica pretendida ou do valor da causa (art. 334, § 8º, CPC); comparecendo as partes, o
conciliador ou mediador, onde houver, tentará a conciliação que, se frutífera, será reduzida a
termo e homologada por sentença.
IV – das providências preliminares (arts. 347 a 353, CPC):
Obs.: nesta etapa, o juiz manda ouvir o autor quanto a eventuais preliminares (art. 337) ou fatos
impeditivos, modificativos ou extintivos levantados pelo réu; na hipótese de o réu não
apresentar contestação, o juiz determinará ao autor, verificando a inocorrência do efeito da
revelia (art. 344, CPC), que especifique as provas que pretenda produzir.
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V – do julgamento conforme o estado do processo (arts. 354 a 356, CPC):


Obs.: o juiz deve verificar se ocorre qualquer das hipóteses que possibilitam o julgamento do
feito no estado (arts. 354, 355, 485, 487, II e III, CPC), podendo sentenciar total ou
parcialmente os pedidos formulados (art. 356, CPC); no caso, por exemplo, de as partes estarem
de acordo com o divórcio, havendo divergência somente quanto a partilha dos bens, o juiz pode
homologar o divórcio e determinar que o feito continue apenas quanto a partilha, obedecendo-se
o rito previsto nos arts. 647 a 658 do CPC.
VI – do saneamento e da organização do processo (art. 357, CPC):
Obs.: não sendo o caso de julgamento conforme o estado do processo, o juiz proferirá decisão
de saneamento e organização do processo, resolvendo questões processuais pendentes e
delimitando as questões controvertidas, assim como distribuindo o ônus da prova. Se a causa
apresentar complexidade em matéria de fato ou de direito, o juiz pode designar audiência para o
saneamento do feito. No caso de ser necessária a produção de prova testemunhal, o juiz
designará audiência de instrução e julgamento, fixando prazo para que as partes apresentem rol
de testemunhas.
VII – da audiência de instrução e julgamento (arts. 358 a 368, CPC):
Obs.: nesta audiência, o juiz, após tentar novamente a conciliação, deverá colher o depoimento
do perito e dos assistentes técnicos, se houverem, depois, se requerido, o depoimento pessoal
das partes (autor primeiro, depois o réu), e proceder com a oitiva das testemunhas
eventualmente arroladas (primeiro ouvindo as testemunhas do autor, depois do réu), abrindo, em
seguida, oportunidade às partes (autor, réu, Ministério Público) para apresentação das alegações
finais pelo prazo de 20 (vinte) minutos, prorrogáveis por mais 10 (dez) minutos. Quando a causa
apresentar questões complexas de fato ou de direito, o debate oral poderá ser substituído por
razões finais escritas, com prazo de 15 (quinze) dias para cada parte (autor, réu, MP).
VIII – sentença (art. 366, e arts. 485 a 495, CPC):
Obs.: o juiz poderá proferir a sentença na própria audiência de instrução e julgamento ou no
prazo de 30 (trinta) dias.

4. FORO COMPETENTE
Segundo o art. 53, I, do CPC, a ação de divórcio deve ser proposta no
foro: (I) do domicílio do guardião de filho incapaz; (II) do último domicílio do casal, caso não
haja filho incapaz; (III) do domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio
do casal.

Registre-se que se trata de competência relativa; ou seja, o juiz não pode


declinar sua competência de ofício, sendo necessário que o interessado levante a questão em
preliminar na contestação. (Súmula nº 33 do STJ: “A incompetência relativa não pode ser
declarada de ofício”).
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5. QUESTÕES A SEREM RESPONDIDAS


Com o escopo de viabilizar o melhor resultado possível para o constituinte, o Advogado deve
conversar com ele sobre o caso, procurando obter respostas para as seguintes questões, entre
outras:
•o casal está separado de fato? Há quanto tempo?
•há filhos? Quem ficará com a guarda? Como ficará o direito de visitas?
•deseja a fixação da pensão alimentícia?
•quais são os custos dos menores?
•há despesas especiais? Quais?
•qual a profissão do réu? Sabe informar o seu salário?
•há bens? Onde estão? Quanto valem? Qual a proposta de partilha?
•há débitos em aberto? Quais?
•o cônjuge autor deseja pensão para si? Qual a razão?
•a cônjuge mulher voltará a usar o nome de solteira?

6. DOCUMENTOS
O interessado deve ser orientado a fornecer ao advogado cópia dos seguintes documentos, entre
outros que o caso em particular estiver a exigir:
•documentos pessoais (RG, CPF, certidão de casamento, comprovante de residência, número de
telefone e endereço eletrônico – e-mail);
•certidão de nascimento dos filhos;
•pacto antenupcial (quando for o caso);
•certidão de propriedade atualizada e/ou contrato de compra e venda de bens imóveis (no caso
de o casal ser proprietário com título registrado de bem imóvel é fundamental a juntada de
certidão de propriedade atualizada, a fim de possibilitar a futura averbação do acordo junto ao
Cartório de Registro de Imóveis);
•carnê do IPTU atual dos bens imóveis (tirar cópia da folha onde constem os dados do imóvel e
o seu valor venal);
•documentos de propriedade de bens móveis, tais como: veículos, barcos, aviões, joias, quadros,
títulos, ações etc. (por exemplo: notas fiscais de compra, cártula de títulos, registros, extratos
etc.);
•no caso de bens móveis, documentos que demonstrem o seu valor de mercado ao tempo da
separação, por exemplo: tabela FIPE, jornais, avaliações, cotações etc. (estes documentos são
fundamentais para fins de regularização de obrigações fiscais);
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•extrato de contas-correntes e/ou investimentos;


•contratos de obrigações em aberto, tais como empréstimos pessoais e financiamentos diversos
(se possível, seria proveitoso juntar-se extrato atualizado destes compromissos);
•rol de testemunhas: nome, endereço, telefone, e-mail e profissão de ao menos três pessoas que
possam depor sobre os fatos fundamentais da causa (lembre-se, no divórcio não se discute mais
a causa do fim do casamento, ou seja, eventuais testemunhas deverão depor sobre bens,
capacidade de pagamento e qualificação para ser titular da guarda dos filhos).

7. PROVAS
Além de cópia da certidão de casamento, dos documentos pessoais, da certidão de nascimento
de eventual prole, o requerente deve juntar os documentos referentes aos bens do casal, assim
como prova quanto aos seus valores de mercado quando do divórcio (v. g., IPTU, tabela do
jornal do carro, extrato de cotação de ações etc.); essa precaução irá facilitar as providências que
posteriormente deverão ser tomadas para se regularizar a situação desses bens em Cartórios,
Receita Federal e Banco.
De regra, não há mais necessidade de se provar os motivos do pedido e eventual separação
fática do casal.

8. VALOR DA CAUSA
Havendo bens a serem partilhados pelos cônjuges, o valor da causa, na ação de divórcio, deve
ser a somatória dos valores dos referidos bens. Não havendo bens e cientes da obrigatoriedade
de atribuição de um valor (art. 291, CPC), os autores têm autonomia para fixar o valor da causa
segundo critérios subjetivos próprios, desde que compatível com as circunstâncias gerais do
caso. Tenho como norma pessoal atribuir a causas desse tipo, divórcio sem bens, valor
equivalente a dois ou três salários mínimos; porém, como já dito, cabe aos autores, por meio de
seus Advogados, analisar as circunstâncias pessoais do caso antes de decidir.

9. DESPESAS
Não constando da petição inicial requerimento de justiça gratuita (art. 99,
CPC), o autor, antes de ajuizar a ação, deve proceder ao reconhecimento das custas processuais,
que, de regra, envolvem a taxa judiciária, o valor devido pela juntada do mandato judicial e as
despesas com diligências do Oficial de Justiça. Os valores dessas custas variam de Estado para
Estado;

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