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Inteiro Teor

Número do 1.0019.07.015436- Númeração 0154364-


processo: 4/001(1) Única: 89.2007.8.13.0019
Relator: MÁRCIA DE PAOLI BALBINO
Relator do Acórdão: MÁRCIA DE PAOLI BALBINO
Data do Julgamento: 02/08/2007
Data da Publicação: 21/08/2007
Inteiro Teor:
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE
REINTEGRAÇÃO DE POSSE - CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS - PARTILHA
PENDENTE - COMPOSSE - LIMINAR POSSESSÓRIA - NÃO CABIM ENTO -
RECURSO NÃO PROVIDO. É defeso ao herdeiro que detém a posse de coisa
comum e indivisa, oriunda de direitos hereditários, pretender excluir a posse de
outro co-possuidor mediante ação de reintegração de posse. Recurso não
provido.

AGRAVO N° 1.0019.07.015436-4/001 - COMARCA DE ALPINÓPOLIS -


AGRAVANTE(S): ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA E SUA MULHER -
AGRAVADO(A)(S): JOSÉ TARSO DE OLIVEIRA E SUA MULHER, GERALDA DE
FATIMA VILELA OLIVEIRA - RELATORA: EXMª. SRª. DESª. MÁRCIA DE PAOLI
BALBINO

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 17ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do


Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade
da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM
NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO.

Belo Horizonte, 02 de agosto de 2007.

DESª. MÁRCIA DE PAOLI BALBINO - Relatora

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

A SRª. DESª. MÁRCIA DE PAOLI BALBINO:

VOTO

Trata-se de recurso de Agravo de Instrumento interposto contra a decisão do


MM. Juiz, que nos autos da ação de Reintegração de Posse com Pedido Liminar,
ajuizada pelos agravantes contra os agravados, indeferiu o pedido liminar.

Cópia da decisão agravada consta à f. 48-TJ.

Argumentaram os agravantes, em síntese, que são legítimos cessionários de


direitos hereditários e possuidores diretos de uma gleba de terras localizada em
local denominado Fazenda Volta do Brejo.

Sustentaram que no total seriam 08 (oito) herdeiros, mas que adquiriram,


mediante termo de cessão hereditária, as cotas dos demais herdeiros, menos a
parte dos agravados, que estariam utilizando as partes do imóvel que agora
pertencem aos agravantes.

Aduziram que sofreram esbulho por parte dos agravados, e que sem a
indispensável aquiescência dos agravantes realizaram um corte na cerca de
propriedade deles, fazendo com que várias rezes de propriedade dos agravados
adentrassem na área pertencente aos agravantes.

Afirmaram que têm o legítimo direito de serem reintegrados na posse do imóvel


esbulhado.

Alegaram que a posse, no caso, é pro diviso, vez que cada qual dos herdeiros
possui área certa e delimitada, mesmo ausente a partilha judicial, pois já teria
havido divisão cômoda pelos herdeiros.

Ao final, após apresentadas suas razões de inconformismo, os agravantes


requereram o provimento do recurso para que seja reformada a r. decisão
hostilizada.

Da análise do pedido de efeito suspensivo constou às. f. 61-TJ:

"Ausente o requisito da aparência do bom direito, porquanto, em princípio,


verifica-se que há composse de terreno rural ainda não oficialmente dividido,
INDEFIRO O PEDIDO DE LIMINAR RECURSAL, DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE.

Dispenso informações do MM. Juiz.

Intimar os agravados para contraminuta".

Regularmente intimados, os agravados apresentaram contraminuta às f. 64/65,


pedindo o não provimento do recurso para que seja mantida a r. decisão.

É o relatório.

JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE

Conheço do recurso porque presentes os requisitos de admissibilidade.

PRELIMINAR

Não foram argüidas preliminares no presente recurso.

MÉRITO

Consta dos autos que os agravantes ajuizaram ação de reintegração de posse


com pedido de liminar contra os agravados alegando terem sofrido a prática de
esbulho possessório por parte dos agravados.

Cinge-se o presente recurso ao inconformismo acerca da decisão do MM. Juiz de


f. 48-TJ, que indeferiu a liminar pleiteada pelos autores, ora agravante.

Constou da decisão:

"Trata-se de pedido de liminar feito em sede de ação de reintegração de posse.

Pela análise dos autos entendo que o direito não ampara a pretensão do
requerente.

Com efeito, aduz o autor na inicial que conjuntamente com o requerido, seu
irmão, herdou uma gleba de terra de seu falecido genitor. No total seriam oito
herdeiros, sendo que o autor adquiriu dos, mediante termo de cessão
hereditária as cotas dos demais herdeiros, menos a parte que tocou para o
requerido, o qual estaria utilizando partes do imóvel que teria ficado para o
autor, por força de uma divisão "cômoda" realizada pelos herdeiros.

Ora, o requerido não concordou com a divisão feita pelos demais herdeiros
segundo informou na audiência de justificação. Então, há de se perguntar: Para
quem foi cômoda a divisão realizada? Talvez tenha sido para os sete herdeiros,
mas não para o requerido, pois, caso contrário, já haveriam, inclusive, realizada
a partilha de forma amigável.

Sendo assim, nos precisos termos do artigo 1791 e seu parágrafo único do CC,
e mais artigos 1.793 parágrafo 2º, tem se que os herdeiros possuem apenas
parte ideal da herança até a realização da partilha judicial, ou, da amigável
homologada pelo Juiz, mas não em partes individualizadas conforme informa o
autor na inicial. Todos os herdeiros possuem o direito sobre o espólio como um
todo, situação que somente terá fim com a partilha, conforme acima dito. Sendo
assim, o requerido não poderia estar usurpando ou esbulhando a própria posse.

Portanto, inexiste, a meu ver o "fumus boni juris" para o deferimento da


liminar"

Em sua irresignação, os agravantes sustentaram que têm o legítimo direito de


serem reintegrados liminarmente na posse do imóvel esbulhado ao argumento
de que a posse, n o caso, é pro diviso, vez que cada qual dos herdeiros possui
área certa e delimitada, mesmo face à ausência de partilha judicial.

Para a obtenção de liminar em ação de reintegração de posse o artigo 927 do


Código de Processo Civil dispõe e exige:

"incumbe ao autor provar:

I - a sua posse;

II - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;

III - a data da turbação ou do esbulho;


IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção; a perda
da posse, na ação de reintegração.

Tenho que razão não assiste aos agravantes.

Na lição de Orlando Gomes:

"O objeto da posse há de ser exclusivo. A posse in solidum da mesma coisa é


contra a natureza, se entendida como poder físico imediato, pois duas pessoas
não podem ter uma coisa ao mesmo tempo. Todavia, essa dificuldade
desaparece em face do conceito segundo o qual a posse é o exercício da
propriedade. Se o domínio pode ser comum, também pode ser pro indiviso.
Admite-se, com efeito, que diversas pessoas possam ser possuidoras de uma só
e mesma coisa. A posse em comum da mesma coisa, no mesmo grau, chama-se
composse. (Direitos Reais, 12ª ed., Rio de Janeiro: Ed. Forense, 1.996, p. 38).

Na composse duas ou mais pessoas têm a posse sobre a mesma coisa, no


mesmo grau, no mesmo plano jurídico, o que, em princípio, é a hipótese
comprovada nestes autos, e somente cessa a composse pela divisão da coisa
comum.

Roberto De Ruggiero, in "Instituições de Direito Civil" (vol II, Bookseller Editora,


1ª edição - 1999 - tradução de Paolo Capitanio, páginas 737/738 e 758),
leciona:

Pode a posse pertencer a várias pessoas ao mesmo tempo e tem-se então a


figura especial da compossio, que se equipara ao condomínio. Tal como sucede
quanto ao domínio, assim é inconcebível que a posse pertença a várias pessoas
integralmente (in solidum e isto já o tinham reconhecidos os jurisconsultos
romanos. Deve pois entender-se, em analogia com o condomínio, que cada um
possua a coisa ou o direito por partes iguais (possessio pro indiviso), de modo
que a quota represente a medida do poder de cada um, sem constituir uma
parte real e efetiva da coisa ou do direito sobre o qual a posse se exerce".

Ensina Caio Mário da Silva Pereira:

"Interesse maior, obviamente, reside na determinação das relações internas


entre compossuidores e fixação dos respectivos direitos.

A todos os compossuidores reconhece a lei iguais atributos, assegurando-lhes a


todos a utilização da coisa comum, contanto que não interfiram no exercício,
por parte dos outros, ou de qualquer deles, de iguais faculdades. Nenhum dos
compossuidores possui a coisa por inteiro (Lafayette), porém cada um tem-lhe a
posse por fração ideal, se, pois, um perturbar o desenvolvimento da composse,
poderá qualquer dos outros valer-se dos interditos, cujo alcance adstringe-se à
contenção do compossuidor no respeito à posse dos outros." (Instituições de
Direito Civil, 13ª ed.,Rio de Janeiro: Ed. Forense, 1.999, v.IV, p.28).

No caso, há condomínio da propriedade rural herdada, tendo direito a ela todos


os herdeiros, entre eles os agravantes e os agravados.

Não houve divisão oficial do terreno, quer de forma escrita amigável, quer por
divisão judicial.

No caso, não se cumpriu o requisito da posse exclusiva dos agravantes.

O que se verifica no caso é uma situação de condomínio e de composse, em


princípio, não podendo um possuidor excluir a posse do outro, enquanto não for
oficialmente dividida a propriedade rural.

Também não está cabalmente caracterizado o esbulho.

Luiz Rodrigues Wambier, Fávio Renato Correia de Almeida e Eduardo Talamini


ensinam que:

"Esbulho é a perda total da posse, ou seja, é a situação na qual a coisa sai


integralmente da esfera de disponibilidade do possuidor, ele deixa de ter
contato com ela, por ato injusto do molestador". (Curso Avançado de Processo
Civil, 3ª ed., São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2.000, v. 3, p. 190).

O fato de informalmente os agravantes terem obtido cessão de direitos


hereditários sobre parte do terreno não lhes dá direito a liminar possessória,
porque não está caracterizado o esbulho por prova inequívoca, em princípio não
verificável na hipótese de composse.

Nesse sentido os julgados oriundos deste Tribunal:

"REINTEGRAÇÃO DE POSSE - CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS -


COMPOSSE - LITÍGIO ENTRE HERDEIROS - IMPOSSIBILIDADE - É defeso ao
herdeiro que detém aposse de coisa comum e indivisa, oriunda de direitos
hereditários pretender excluir a posse de outro co-possuidor mediante ação de
reintegração de posse. - Apelo não provido" (TJMG) - 2.000.00.456901-9/000,
Relatora, Desembargadora Evangelina Castilho Duarte, DJ, 26/02/2005.

"REINTEGRAÇÃO DE POSSE - COMPOSSE - POSSE EXCLUSIVA DA ÁREA COMUM


- IMPOSSIBILIDADE - CARÊNCIA DA AÇÃO. Configurada a composse, um dos
condôminos ou possuidores não pode pretender a declaração de posse da
totalidade da área comum. Assim, a extinção do processo, sem julgamento do
mérito, por carência da ação (falta de interesse processual), configura-se
medida incensurável". (TJMG) - 2.000.00.469089-3/000, Relator,
Desembargador José Flávio de Almeida, DJ, 11/06/2005.

Veja-se que os agravantes também não fizeram prova suficiente da posse fática
deles na área em questão.

Em ação possessória não se discute domínio ou propriedade, e só o fato de os


agravantes terem documento de aquisição não autoriza a liminar pedida.

Incumbia, pois, aos agravantes provar sua posse, a perda da posse, e o esbulho
praticado pelos agravados.

Dessa forma, entendo que para a hipótese dos autos, não cabe a liminar pedida,
pois, não estará configurado o esbulho enquanto não resolvida amigavelmente
ou judicialmente a divisão da propriedade, sendo que, até o momento, em
princípio e aparentemente, justa se afigura a ocupação dos agravados.

DISPOSITIVO

Isso posto, nego provimento ao recurso.

Custas recursais pelos agravantes.

Votaram de acordo com o(a) Relator(a) os Desembargador(es): EDUARDO


MARINÉ DA CUNHA e IRMAR FERREIRA CAMPOS.

SÚMULA : NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

AGRAVO Nº 1.0019.07.015436-4/001

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