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EXMO. DR.

JUIZ FEDERAL DA VARA FEDERAL DA SUBSEÇÃO


JUDICIÁRIA DE TRÊS RIOS - RJ

FERNANDO ESTEVES PORTUGAL e sua esposa ZILMA LOPES MELLO


PORTUGAL, brasileiros, casados, ele produtor rural inscrito sob o CPF n 956-
016 357-49, portador do documento de identidade n 06729558-4 IPF-RJ, ela do
Lar escrita sob o CPF n 980.527.307-59, portadora do documento de
identidade n 069472991 IPF-RJ, residentes e domiciliados na BR 393, Antiga
Estrada Rio/Bahia, km 21, Bemposta, Três Rios, Sítio Porto Velho, vem à
presença de V. Ex.ª com fulcro no art. 191 da Constituição Federal e art. 1.239
do Código Civil propor a presente

AÇÃO DE USUCAPIÃO

AGOSTINHO MIGUEL GOMES, português, divorciado sob o RG n RNE-


W400547-3, expedida pelo SE/DPMAF, sob CPF n° 015.254.847-53, residente
e domiciliado na Fazenda Bemposta, Região de Bemposta, Três Rios, Rio de
Janeiro; UNIÃO FEDERAL, pessoa jurídica de direito público, representada
pelo membro da União, situado à Avenida Presidente Antônio Carlos, nº 375, 5º
andar, sala 514 – Castelo, Rio de Janeiro; FURNAS CENTRAIS ELÉTRICAS
S.A., empresa concessionária de serviço público federal de eletricidade,
subsidiária das Centrais Elétricas Brasileira S.A. Eletrobrás, com endereço
eletrônico sg@furnas.com.br, com sede na Rua Real Grandeza n°219,
Botafogo, Rio de Janeiro, CEP 22.281-900, sob CNPJ n° 23274194/0001-19;
K-INFRA RODOVIA DO AÇO S/A, sociedade anônima aberta, inscrita sob o
CNPJ 09.414.761/0001-64, com endereço eletrônico
controladoria@rodoviadoaco.com.br, com escritório localizado na Rodovia BR-
393 km 233+600, 61.701 - Carvalheira, Vassouras - RJ, 27700-000 e
AGÊNCIA NACIONAL DE TRANSPORTES TERRESTRES (ANTT), pessoa
jurídica de direito público, inscrita no CNPJ sob o nº 04.898.488/0001-77, com
sede no endereço Setor de Clubes Esportivos Sul - SCES, trecho 03, lote 10,
Projeto Orla Polo 8 - Brasília - DF, Cep: 70.200-003.
DO RÉU AGOSTINHO:
O réu Agostinho Miguel Gomes é o proprietário registral do imóvel objeto da
presente ação de usucapião, conforme consta na certidão do Cartório do RGI
em anexo. Pelo documento de identificação do referido réu é possível verificar
que o mesmo nasceu no ano de 1907 e teria 115 anos. Ocorre que, como esta
lide já foi discutida em processo anterior, a citação do réu pela regra do CPC
não obteve êxito.
Portanto, com base nos princípios de economia e celeridade processual,
acredita-se que a forma mais viável para a formação do polo passivo da
presente demanda, no que diz respeito ao réu mencionado, é a citação por
edital, com base no art. 238 do CPC/215.

DOS CONFRONTANTES:
O imóvel usucapiendo tem como confrontantes:

DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA:
Os autores são assistidos pelo Núcleo de Prática Jurídica da Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro e não possuem meios para o pagamento das
custas e de honorários advocatícios sem prejuízo de seu sustento,
demonstrando sua hipossuficiência através dos documentos em anexo
(Declaração de IRPF), motivo pelo qual vem requerer os benefícios da
gratuidade de justiça nos termos do art. 98 do CPC.

DOS FATOS:
Cumpre informar que os autores ajuizaram, no ano de 2009, ação de
usucapião do mesmo imóvel objeto da presente demanda, inicialmente perante
a Justiça Estadual, registrada sob o n.º 0000254-61.2009.8.19.0063
(2009.063.000298-4), cuja competência fora posteriormente declinada para a
Justiça Federal, registrada sob o nº. 0500141-58.2017.4.02.5113, entretanto a
ação foi extinta por inércia no cumprimento de decisão judicial que determinava
a adequação do polo passivo para seu devido prosseguimento, motivo pelo
qual os autores não têm outra alternativa a não ser ajuizar novamente ação a
fim de obterem a declaração de sua propriedade sobre o referido imóvel.
Os autores residem há mais de 30 anos no imóvel rural denominado Sítio Porto
Velho, com área total de 295.856,73 m² (29,59 hectares), cuja propriedade é
registrada em nome do réu Agostinho Miguel Gomes, exercendo desde então a
posse mansa, pacífica e ininterrupta, com animus domini, sem que houvesse
qualquer contestação, impugnação ou oposição por parte de terceiros ou
mesmo do réu, sendo certo que o imóvel usucapiendo é utilizado para, além de
única moradia dos autores, a produção rural (produção leiteira) da qual os
autores auferem sua única fonte de renda para o sustento de sua família, fatos
esses que lhes garantem a aquisição da propriedade e serão corroborados
pelo conjunto probatório anexo à presente peça inaugural, bem como pela
produção superveniente de todas as provas admitidas em direito.

DO DIREITO:
Os Autores satisfazem os requisitos à prescrição aquisitiva aplicável ao imóvel
desta petição por meio da Usucapião – modo autônomo de aquisição da
propriedade móvel e imóvel mediante a posse qualificada da coisa pelo prazo
legal. Neste viés, os autores detêm a posse da coisa como sua, sem
interrupção, nem oposição "cum animus domini", sem oposição do réu
proprietário registral durante o lapso temporal da prescrição aquisitiva da
usucapião daqueles e extintiva desse, buscando-se assim cumprimento à
função social da propriedade previsto no ART. 5°, XXIII da CF/88.
Ademais, por ser imóvel rural e ter se tornado produtivo pelo usucapiente e ser
fonte econômica primária de subsistência da família e local de sua residência
que foi construída pelos mesmos, aplicando-se assim também à lide à
usucapião especial rural (constitucional pro labore), conforme disposto no ART.
191 da CRFB/88 e ART. 1239 CC/2002, os quais preveem 5 anos para a
prescrição aquisitiva com os pressupostos do usucapiente não possuir outro
imóvel urbano ou rural, o que se aplica à família suplicante.
Usucapião especial rural (pro labore), conforme art. 1.239 do CC/02:
Art. 1.239 - Aquele que, não sendo proprietário de imóvel
rural ou urbano, possua como sua, por cinco anos
ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural
não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva
por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua
moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.
Portanto, mais uma vez é notório que os Requerentes têm por direito e
totalmente amparado em lei que o bem é de fato seu, configurando assim a
aquisição da propriedade do bem usucapiendo. No que resta comprovado
nesta petição por um farto conjunto probatório composto por:
1- Comprovantes de pagamento do imposto territorial rural (ITR), que provam o
justo período da prescrição aquisitiva;
2 - Fotos da família morando e progredindo cronológica e temporalmente no
imóvel;
3 - Benfeitorias;
4 - Recibos diversos como Luz, Telefone e outros;
5 - Relatórios de fornecimento da produção leiteira à cooperativa de
produtores; comprovantes vacinais do rebanho;
6 - Documento de certidão (citação extrajudicial de FURNAS CENTRAIS
ELÉTRICAS) que reconhece por esse órgão federal a legitimidade de
"titularidade" da posse precária do imóvel,fazendo jus ao recebimento de
indenização pelos FRUTOS do imóvel –já pagos ao casal pelo órgão federal –.
7 - Oitivas e ou, declarações dos vizinhos e confrontante.
Buscando repisar na doutrina e na jurisprudência acerca da fundamentação à
petição temos:
No ensino sobre a Usucapião especial rural (pro labore) Caio Mário da Silva
Pereira diz:
“As características fundamentais desta categoria especial
de usucapião baseiam-se no seu caráter social. Não
basta que o usucapiente tenha a posse associada ao
tempo. Requer-se, mais, que faça da gleba ocupada a
sua moradia e torne produtiva pelo seu trabalho ou seu
cultivo direto, garantindo desta sorte a subsistência da
família, e concorrendo para o progresso social e
econômico. Se o fundamento ético da usucapião
tradicional é o trabalho, como nos parágrafos anteriores
deixamos assentado, maior ênfase encontra o esforço
humano como elemento aquisitivo nesta modalidade
especial. (PEREIRA, 2017, p. 152)”

Ainda segundo Lisboa (2005, p. 95):


“O desempenho de uma atividade de trabalho passou a
ser privilegiado pela legislação brasileira, conferindo um
tratamento distintivo da posse comum (caracterizada tão
somente pela fixação da pessoa na terra), reconhecendo
a posse produtiva, conseguida por uma pessoa com a
intenção de realizar determinada atividade de trabalho no
imóvel, para efeito da Usucapião Pro Labore, observando
que: é pela posse-trabalho que a pessoa confere alguma
função social ao imóvel, beneficiando-se dela a
coletividade em geral”.
Para Washington de Barros Monteiro e Carlos Alberto Dabus Maluf:
“A usucapião especial rural não se contenta com a
simples posse. O seu objetivo é a fixação do homem no
campo, exigindo ocupação produtiva do imóvel, devendo
neste morar e trabalhar o usucapiente. Constitui a
consagração do princípio ruralista de que deve ser dono
da terra rural quem a tiver frutificado com o seu suor,
tendo nela a sua morada e a de sua família.
(MONTEIRO, MALUF, 2015, p. 128).”
Já Pedro Nunes conceitua a usucapião:
“É a prescrição aquisitiva, construtiva ou positiva da
propriedade e de certos direitos reais, pela posse
ininterrupta durante determinado prazo, sob as condições
legais que lhe são inerentes; é um meio de aquisição ou
consolidação do domínio da coisa, que se apoia
principalmente na negligência ou prolongada inércia do
seu proprietário com o non usus dela. (NUNES, 2000, p.
67).”
José Carlos Cordeiro (2011, p. 67) conceitua a usucapião como: “Um modo de
adquirir a propriedade pela posse, continuada durante lapso de tempo com os
requisitos pré-estabelecidos em lei”.

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE USUCAPIÃO ESPECIAL


RURAL. COMPROVAÇÃO DE TODOS OS
REQUISITOS. RECURSO JULGADO PROCEDENTE.
DECISÃO UNÂNIME. Aquisição do bem com o ânimo
definitivo de estabelecer residência no sítio objeto da lide.
O fato de se passar muito tempo na capital para
tratamento de saúde da esposa é transitório, não
desvirtuando o local de seu domicílio. Intenção dos
apelantes de possuírem o bem como se proprietários
fossem decorre dos investimentos efetuados no imóvel. É
evidente que quem explora o bem por meio de cultivos e
plantações, construindo casa para moradia age com
intenção de dono. Quanto aos demais requisitos
necessários para a configuração da usucapião especial,
verifica-se que não há controvérsia a respeito da posse
ininterrupta, do tamanho do imóvel usucapiendo e do
transcurso do prazo de 5 (cinco) anos, pelo que se
devem presumir verdadeiros tais fatos (art. 302, caput, do
CPC). Recurso provido. (TJ-PE - APL: 2959619 PE,
Relator: Eurico de Barros Correia Filho, Data de
Julgamento: 18/07/2013, 4ª Câmara Cível, Data de
Publicação: 24/07/2013).

EMENTA: USUCAPIÃO ESPECIAL RURAL. Presença


dos requisitos. Procedência do pedido. Prova dos autos.
Exame do contexto probatório. Posse mansa, contínua e
pacífica por mais de 5 anos. Imóvel com superfície
inferior a 50 Ha. Imóvel tornado produtivo por quem não
dispunha de outro imóvel. Parecer do custos legis. Apelo
IMPROVIDO.” (Tribunal de Justiça do Estado do Rio
Grande do Sul – Décima Nona Câmara Cível/ Apelação
Cível Nº 70030041297/ Rel. Desembargador José
Francisco Pellegrini/ Julgado em 29.09.2009).
O Desembargador Marcos Lincoln, em sua decisão, aponta com firmeza o
preenchimento dos requisitos essenciais para a usucapião especial rural:
“Ementa: Usucapião Especial de Imóvel Rural – Art. 191
da CF/88 – Requisitos – Preenchimento – Procedência
do Pedido. Constituem requisitos para aquisição de
domínio rural por meio de usucapião especial: a) posse
ininterrupta, sem oposição e com ‘animus domini’ pelo
prazo de 5 (cinco) anos; b) imóvel rural de no máximo 50
hectares; c) exploração do imóvel para sustento da
família, servindo de moradia ao possuidor; d) não ser o
possuidor proprietário de outro imóvel, rural ou urbano.
Preenchidos tais requisitos, deve-se declarar a aquisição
da propriedade pela parte requerente. Apelação provida.
(Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais – Décima
Câmara Cível/ Apelação Cível Nº. 1.0388.02.000871-
9/001/ Rel. Desembargador Marcos Lincoln/ Julgado em
19.08.2008/ Publicado em 05.09.2008)”

“Tribunal de Justiça de Pernambuco TJ-PE- Apelação:


APL 0002485-07.2015.8.17.0710 PE. Data da publicação:
12/06/2019. Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO
PROCESSUAL CIVIL. USUCAPIÃO ESPECIAL RURAL
EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DE
MÉRITO AUSÊNCIA DE DOCUMENTO
INDISPENSÁVEL AO JULGAMENTO DA LIDE.
CERTIDÕES VARAS CÍVEIS. INFORMAÇÃO SOBRE
AÇÕES POSSESSÓRIAS QUE ENVOLVAM AS
MESMAS PARTES DESTE PROCESSO. A PETIÇÃO
INICIAL NÃO SE CONSTATA A AUSÊNCIA DOS
REQUISITOS PREVISTOS NOS ARTIGOS 319 E 320
DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. RECURSO
PROVIDO. À UNANIMIDADE.”

Com fulcro no ART. 1239 do CC/02 e no ART. 191 da CRFB de 1988.


SUPLICA-SE a sentença de declaração.

DOS PEDIDOS:
1) Requer sejam concedidos os benefícios da gratuidade de justiça;
2) Requer a citação do réu agostinho por edital;
3) Requer a intimação dos confrontantes para tomar ciência da ação de
usucapião;
4) Requer seja declarada a aquisição da propriedade por usucapião do
imóvel rural.

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